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quinta-feira, 28 de março de 2013

Muito Será Perdoado a Quem Muito Amou

Muito Será Perdoado a Quem Muito Amou

Artigo publicado no jornal "Unificação" - Ano XIV - Agosto de 1966 - Número 161

E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento.
E, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugá-los com os cabelos; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhes com o ungüento.
Quando isto viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora.
E respondendo, Jesus, disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre.
Um certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos dinheiros, e o outro cinqüenta.
E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois: qual deles o amara mais?
E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele disse: julgaste bem.
E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas e me enxugou com os seus cabelos.
Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés.
Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com ungüento.
E por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou: mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama”.
(Lucas, 7:37-47).

Os evangelistas Mateus e Marcos, narrando a mesma ocorrência, afirmaram que os apóstolos de Jesus, ali presentes, se indignaram com aquele desperdício de ungüento, ponderando que o melhor seria vendê-lo por bom preço, fazendo com que o produto da venda fosse revertido em favor dos pobres. O Mestre, discordando desse modo de pensar dos seus discípulos esclareceu: “ela fez uma boa ação. Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. Em verdade vos digo que, onde quer que este Evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua”.
Os apóstolos não sentiam, em toda a sua extensão, o que se passava no coração de Maria de Betânia, e, em vez de compreender o significado daquele gesto, preferiram antes criticar a perda daquele ungüento de alto valor.
A virtude coexiste com o amor. Aquela mulher, em cujo coração existia o amor em potencial, começava a aninhar no recesso de sua alma uma forma de virtude que não podia ser vista ou sentida, nem pelos apóstolos, nem pelo fariseu Simão, dada a montanha de preconceitos que mantinham dentro de si, mas que o olho bom do Divino Pastor via e compreendia em toda a sua plenitude.
Os espíritos nos ensinam que o ser encarnado se depara com duas alternativas nos tramites da sua evolução espiritual, para cujo discernimento goza do livre-arbítrio; ou faz com que sua evolução se processe normalmente pelas pautas do amor, ou terá que fazê-lo, violentamente, sob o guante da dor.
A lei inflexível do progresso não permite que o espírito permaneça indefinidamente na ociosidade, menosprezando as dádivas generosas que a Justiça Divina, por excesso de misericórdia lhe concede, e que representam inequívoca demonstração do exuberante amor de Deus para com suas criaturas. O espírito terá que demandar, inexoravelmente, as culminâncias dos planos espirituais, através dos renascimentos sucessivos na carne.
A sublimidade do gesto daquela mulher, ungindo os pés de Jesus, retratava, em toda a sua profundeza, os anseios por uma vida pautada nos maravilhosos preceitos daquele manso Cordeiro de Deus, que percorria as províncias da Judéia sugerindo aos homens que porfiassem em entrar pela porta estreita das responsabilidades e da observância das leis morais recebidas por Moisés, no alto do Sinai, e ratificadas por Jesus Cristo, repelindo o acesso à porta larga das satisfações dos gozos mundanos.
Dirigindo-se à mulher, e afirmando que “os seus muitos pecados lhe eram perdoados”, não estava, logicamente, nas cogitações do Mestre, dar demonstração de uma exceção na lei ou de um tratamento unilateral no quadro da Justiça Divina.
É óbvio que, procedendo daquela forma, o Cristo não derrogou qualquer lei divina e nem premiou um espírito em quem não havia mérito.
No desenvolvimento daquela passagem evangélica, o Senhor deixou bem patenteado que os sofrimentos inenarráveis daquela criatura, retemperada pelo remorso, haviam transmudado os seus sentimentos, assim como o fogo aplicado ao cadinho faz com que o ferro se derreta e adquira novas formas. Os seus padecimentos físicos e morais, sob a influência do remorso retificador, fizeram com que todos os sentimentos inferiores que haviam se aninhado no recôndito da sua alma, cedessem lugar a uma forma irrestrita de amor, que foi enaltecida por Jesus.
O Senhor sondava as profundezas dos corações humanos e, no caso específico daquela mulher via retratado, em seu íntimo, todo um mundo de dor querendo tomar a configuração de um sentimento nobre. O amor havia coberto toda uma multidão de pecados, e Maria de Betânia produzindo aquele fato grandioso de ungir os seus pés, derramar neles as suas lágrimas e enxugá-los com os seus cabelos, deu efusiva demonstração do seu estado de alma.
Eis aí o poder maravilhoso do Evangelho, que opera as transformações mais inconcebíveis para o gênero humano: fazendo com que, na mesma existência física, uma criatura deixe de se chafurdar nos vícios para dar inicio a um processo de auto-reforma.
Maravilhosa explosão de fé propiciada por uma mulher pecadora, que sentia no recesso da sua alma toda a iniqüidade reinante nos corações dos homens e se predispunha a procurar aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida, a fim de que ele lhe desse uma certeza de que nem tudo estava perdido. Procedendo daquela maneira, a mulher procurava fazer ressaltar a sublime sinceridade do seu arrependimento e a sua firme disposição de lutar pela sua própria reabilitação.
A reforma de Maria foi decisiva e a comprovação da mesma temo-la em um fato ocorrido posteriormente e narrado em Lucas 11:38-41, onde está descrito que Jesus, visitando a casa de Lázaro, Maria se pôs a zelar pelas aparências do lar, e como Maria se comprazia unicamente em ouvir os ensinos do Mestre, Marta obtemperou: Mestre não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? A que o Senhor respondeu: Marta, Marta está ansiosa e afadigada com muitas coisas. Mas uma só é necessária: e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.
A falência da alma é transitória e dura apenas o suficiente para um adequado amadurecimento da razão, pois, quando o espírito encarnado aquilata o quanto perde por transigir com o erro, e vê, de relance, toda a majestosidade de um plano de progresso incessante, onde os espíritos bons são os despenseiros da vontade de Deus, deixa de lado todas as formas de viciações, de inércia, de titubeações, para se integrar, de uma vez para sempre, no sistema que leva a criatura ao Criador de um modo eficiente.
Assim como a ovelha transviada ouve a voz de seu pastor, Maria de Betânia ouviu a voz do Mestre apregoando em sua cidade e anunciando o reino de Deus. Como decorrência decidiu palmilhar o caminho por ele ensinado, todo ele entrecortado de promessas vivas de um Pai generoso e bom que não quer a perda de nenhuma de suas ovelhas, e que através dos ensinos propiciados pela parábola do filho pródigo, deseja que todas as ovelhas voltem para o redil, para que um dia, no decurso dos séculos, haja um só rebanho e um só pastor, em cujo seio imperará a paz, a concórdia, a fraternidade e o amor em suas expressões mais sublimadas, e onde reinará a certeza de que não haverá mais quedas e que todas as lágrimas serão enxugadas.

Não andeis cuidadosos de vossa vida...

Não andeis cuidadosos de vossa vida...

Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“ Não andeis cuidadosos de vossa vida, pelo que haveis de comer, nem do vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é mais a alma que a comida, e o corpo mais que o vestido?
Olhai para as aves do céu, que não semeiam nem segam, nem fazem provimento nos celeiros, e, contudo vosso Pai Celestial as sustenta. Porventura não sois muito mais do que elas?
E por que andais solícitos pelo vestido? Considerai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem fiam; entretanto, nem Salomão em toda a sua glória se cobriu jamais como um deles.
Pois se ao feno do campo, que hoje existe e amanhã é lançado no forno, Deus veste assim, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
Não vos aflijais, pois, dizendo: que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos cobriremos? Por que os gentios é que se cansam por essas coisas. Vosso Pai sabe que tendes necessidade de todas elas”. (Mateus, 6:25-32).
O texto que encima estas linhas, longe do que possa parecer à primeira vista, não é uma exaltação à ociosidade. Interpretá-lo “ao pé da letra”, supondo nos seja lícito cruzar os braços, à espera de que a Providência nos forneça tudo o de que precisamos, sem qualquer esforço de nossa parte, fora grande estultícia.
O trabalho é o instrumento de nossa auto-realização: o suprimi-lo equivaleria a sustar o progresso individual e, conseqüentemente, a evolução da Humanidade.
Além disso, é ordenação divina que “o homem deve prover ao seu sustento com o suor do seu rosto”, chegando o apóstolo Paulo a declarar que “quem não trabalha não deve comer”.
Essas palavras de Jesus são, pois, isto sim, um incitamento a que tenhamos fé em Deus, nosso Pai Celestial, confiemos em Sua bondade infinita e não invertamos a hierarquia dos valores, preocupando-nos mais (ou só) com a conquista dos bens materiais, sem dar a devida atenção à nossa edificação espiritual.
De fato, Aquele que nos deu a vida sabe que precisamos de alimentos para a subsistência de nosso corpo, assim como de vestimenta para cobri-lo e resguardá-lo das intempéries.
E porque nos tem amor maior do que o amor que temos a nós próprios, não se limita a prover-nos meramente de quanto nos seja indispensável à existência, mas esparge a mancheias, por toda parte, traços de beleza e cânticos de alegria, a fim de que nossa jornada neste mundo se torne mais suave e mais prazerosa.
As flores gráceis e perfumadas, as árvores frondosas e amigas, as aves com suas plumagens policrômicas e álacres gorjeios, são bênçãos maravilhosas com que Deus envolve a todos os Seus filhos, para ensinar-nos que assim também devemos proceder uns com os outros, fazendo cada qual quanto lhe seja possível para a alegria e a felicidade de todos.
Aprofundando a explicação, Jesus nos esclarece: “Olhai as aves do céu, que não semeiam nem ceifam, não amontoam nos celeiros e, no entanto, o Pai Celestial as alimenta. Não valeis muito mais do que elas?”.
É como se nos dissesse:
Por que tanto vos inquietais com “o vosso futuro?” Por que a obsessão de acumular mais do que podeis consumir? Não percebeis que aquilo que retendes, em demasia, vai causar a fome e a miséria de vossos irmãos? Não notastes ainda que o egoísmo é a fonte de quase todos os males que perturbam e afligem a Humanidade?
Vivei como os pássaros: joviais e despreocupados, na certeza de que, seguindo o preceito evangélico do “buscai e achareis”, sempre obtereis o de que precisais.
Não vos convencestes ainda da munificência divina? Contemplai, então, os lírios do campo: “Eles não trabalham nem fiam; não obstante, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu com tanta graça e formosura”.
Crede: Deus é nosso Pai, e, se demonstra cuidado com as aves e as flores, que, na escala evolutiva, estão muito abaixo de vós, quanto mais desvelo, quanto mais carinho, não há de ter para convosco?
Não vos martirizeis, portanto, pelo que haveis de comer ou beber, nem pelo que haveis de vestir, porque não fostes colocados na Terra apenas para isso, mas para que aprendais a viver segundo as leis da bondade e da justiça...
Tal – assim nos parece – o verdadeiro sentido desta preciosa lição do Mestre dos mestres.

quarta-feira, 27 de março de 2013

União e Unificação

União e Unificação

Filhas e filhos da alma, que Jesus nos abençoe!

A união dos espíritas é ação que não pode ser postergada e a unificação é o laço de segurança dessa união.
A união vitaliza os ideais dos trabalhadores, mas a unificação conduz com equilíbrio pelas trilhas do serviço.
A união demonstra a excelência da qualidade da Doutrina Espírita nos corações, mas a unificação preserva essa qualidade, para que passe à posteridade conforme recebemos do ínclito Codificador.
Em união somos felizes. Em unificação estamos garantindo a preservação do Movimento Espírita aos desafios do futuro.
Em união teremos resistência para enfrentar o mal que existe em nós e aquele que cerca o nosso caminho, tentando impossibilitar-nos o avanço. Em unificação estaremos consolidando as atividades que o futuro coroará de bênçãos.
Em união marcharemos ajudando-nos reciprocamente. Em unificação estaremos ampliando os horizontes da divulgação doutrinária em bases corretas e equilibradas.
Com união demonstraremos a nós mesmos que é possível amar sem exigir nada. Com unificação colocaremos as ideias pessoais em planos secundários, objetivando a coletividade.
Com união construiremos o bem, o belo e o nobre. Com Unificação traremos de volta o pensamento do Codificador, preservando a unidade da Doutrina e do Movimento Espírita. Com união entre os companheiros encarnados, tornaremos mais fácil o intercâmbio entre nós outros, os que os precedemos na viagem de volta, e eles, que rumam pela estrada difícil. Com unificação estaremos vivenciando o Evangelho de Jesus quando o Mestre assevera: Um só rebanho , um só pastor.
Unindo-nos, como verdadeiros irmãos, estabeleceremos o laço de identificação com os propósitos dos Mentores da Humanidade, que esperam a influência que o Espiritismo provocará no mundo, à medida que seja conhecido e adotado nas áreas da ciência, das artes, do pensamento filosófico e das religiões.
União para unificação, meus filhos, é o desafio do momento.
Rogando a Jesus que nos abençoe e nos dê a sua paz, o servidor humílimo e paternal de sempre,
Bezerra

Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, por ocasião do encerramento do 1º Congresso Espírita do Estado do Rio de Janeiro, na manhã de 25.01.2004, na sede da Federação Espírita do Rio de Janeiro, em Niterói, RJ.
Em 29.12.2009.
 
   

Embaixadores do Reino



A sinfonia da Boa Nova encontrava-se no auge da sua musicalidade, enternecendo os corações antes em angústia e confortando as mentes que se encontravam desarvoradas.
Em toda parte, no abençoado solo de Israel, o doce canto penetrava a acústica das almas, da mesma forma que o sândalo suavemente é absorvido por qualquer superfície porosa.
Tratava-se de uma epopeia que atingia o clímax e nunca mais se repetiria na Terra, jamais igualada em todo o seu esplendor.
A passagem iridescente por onde Ele deambulava, enriquecia-se de belezas espirituais e uma permanente aragem de esperança e de paz permaneceria assinalando as ocorrências ditosas.
Em madrugada que se fazia bordada de luz, Ele reuniu os Seus, em Cafarnaum, às margens do mar-espelho, e lhes explicou ternamente como seria o programa de engrandecimento moral que estava traçado para toda a Humanidade.
Era necessário empreender a desafiadora façanha de informar às gentes de todo lugar o seu conteúdo invulgar.
Na Sua condição de rei, deveria visitar as regiões bravias e difíceis de comunicação, nas quais necessitava instalar os alicerces do reino, para tanto, enviaria embaixadores que se encarregariam de anunciá-lO, de abrir clareiras nas selvas dos sentimentos devastados pelas paixões primárias, proporcionando espaços para a fixação dos pilotis do amor e da compaixão, sobre os quais seria erguido o altar da caridade.
Aqueles eram dias de egoísmo, de soberba, de intérminas batalhas nas quais predominavam os ódios e as rixas perversas.
O ser humano era escravo dos dominadores mais astutos e impiedosos, que os submetiam ao talante das suas misérias morais interiores.
Não brilhava o sol da esperança e muito menos a doce possibilidade de compaixão.
A miséria espiritual transbordava, e as pessoas encontravam-se submetidas aos preconceitos, às situações, de penúria e de abandono.
De certo modo, ainda hoje é quase assim...
O processo da evolução íntima do Espírito, que deve abandonar o primarismo de onde procede, na busca dos alcantis do infinito, é longo e penoso...
Envolvendo os discípulos selecionados para o mister especial, tocou-os, um a um, transmitindo-lhes a santificada energia que O caracterizava, e esclareceu:
-Ide em paz e com irrestrita confiança no Pai.
Nunca temais, seja o que for, porquanto estais investidos do mandato superior e conseguireis avançar imunes às agressões, às picadas dos escorpiões e das serpentes que ficarão esmagados sob vossos pés, enquanto as vossas vozes calarão a agressão dos Espíritos perversos, zombeteiros e causadores do pânico nas multidões desavisadas...
Seguireis amparados pelas legiões angélicas, encarregadas de trabalhar a Humanidade e nela renascer através dos séculos para recordar e ampliar as sublimes propostas que apresentareis.
Inspirar-vos-ão e ouvir-vos-ão, num contínuo intercâmbio de amor.
Ninguém terá como silenciar-vos as vozes, e todos se vos submeterão ao canto incomparável com as revelações da verdade...
Depois, eu próprio vos seguirei, fixando as estrelas do Evangelho no zimbório das almas em escuridão.
Abençoo-vos em nome de meu Pai e despeço-me em paz.
*   *   *
Eram setenta discípulos preparados para a propaganda e difusão da Sua mensagem insuperável. Estavam assinalados pela autoridade moral e identificados pelo profundo sentimento de fraternidade.
Haviam renascido para participar da grandiosa envergadura espiritual e deveriam trabalhar enriquecidos pela alegria inaudita do bem fazer.
Quando o Sol diluía nas águas doces e transparentes do mar os seus raios de ouro disparados com certeira pontaria, eles partiram em cânticos de júbilos...
*   *   *
A partitura imensa, na qual estavam grafadas as harmonias da Boa Nova, alcançava aldeias humildes e cidades orgulhosas, perpassavam pelos caminhos impérvios e se expandia pelas estradas bem cuidadas, em perfeita identificação com o Cantor, onde quer que se encontrasse.
A sociedade terrestre sempre aflita e sofrida, que transpirava horror e decomposição espiritual, passou a receber o bálsamo sarador e a força revigorante para que pudesse superar a difícil conjuntura do seu estágio primitivista.
Ele inaugurava, naqueles dias, a era das provas e expiações, proporcionando os recursos valiosos para que se pudessem suportar as dificuldades da evolução.
O largo período de selvageria e impiedade cederia lugar lentamente a uma fase nova de esperança e de certeza de paz.*
Os dias correram céleres na ampulheta do tempo e os embaixadores desincumbiram-se da responsabilidade que lhes foi concedida.
Num entardecer de sol desfiando plumas de luz de cor variada, eles retornaram exultantes.
Diante da multidão, na mesma praia de Cafarnaum, de onde saíram, eles se apresentaram e depuseram:
Em toda parte proclamamos a Era Nova, explicando que um reino de paz se acercava, iniciando-se no coração do ser humano, e que avançará ditoso no rumo do futuro feliz.
Desafiados por saduceus hipócritas e pretorianos insensíveis, perseguidos por fariseus fanáticos e cínicos, assim como pela malta sempre revoltada, demonstrando o poder que nos foi conferido, curamos as suas mazelas em nome do nosso Rei, submetemos Espíritos vingativos, saramos feridas, restituímos visão aos cegos, audição aos surdos, movimentos aos paralíticos e alegria aos tristes em momentos de inconfundível ligação com Deus.
Nenhum mal nos aconteceu, e sempre conseguimos anunciar o amanhecer de um novo tempo com os olhos iluminados pela alegria e os corações pulsando felicidade.
Algumas cidades de prazer e de loucura gargalharam das nossas palavras, mas sempre encontramos infelizes à espera de compaixão e de ajuda.
Vimos rostos desfigurados pela lepra sorrir de alegria e vidas despedaçadas recompor-se ao toque da esperança.
A vossa palavra em nossas bocas soava como cânticos nunca dantes enunciados ou ouvidos e nossas presenças tornaram-se fortaleza para os fracos e apoio para os oprimidos.
Estão lançadas as balizas do reino que Vos pertence, Senhor!
Jubiloso,o Rabi sábio novamente os abençoou, e dirigindo-se à massa em expectativa emocionada, lamentou:
Ai de ti, Corazim! Ai de ti Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidon se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, assentadas em pano de saco e cinza.
Contudo, no juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidon, do que para vós outras.
Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até o céu? Descerás até o inferno?
Leve palor tomou-Lhe a bela face, como resultado da percepção de que as grandiosas Corazins e Betsaidas do futuro, por largo período prefeririam o bezerro de ouro àave de luz do Seu amor.
*
Passaram-se muitos séculos. Seus embaixadores continuam renascendo em todas as épocas, proclamando a Boa Nova, e os ouvintes permanecem moucos com os sentimentos enregelados nas paixões vergonhosas.
Em consequência, acumulam-se as nuvens borrascosas na imensa Galileia moderna, a Sua voz continua chamando vidas para o Seu reino, enquanto o corcel rápido da fantasia e da luxúria, é conduzido pelos seus cavalgadores na direção dos abismos...
Ai de vós, que tendes ouvido e visto o amanhecer de bênçãos e optais pela triste noite de pesadelos e de horror!
Os embaixadores estão ao vosso lado: cuidai de ouvi-los, quando se inicia o período de regeneração da Humanidade!
Amélia Rodrigues
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião da noite de 16 de
julho de 2012, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
Em 2.1.2013

Parábolas e símbolos



Pergunta-se, frequentemente, por qual razão falava Jesus por parábolas.
A interrogação pode ser respondida após breve e cuidadosa reflexão.
Desejando que a Sua mensagem ultrapassasse o tempo em que era enunciada e o lugar em que se fazia ouvida, não poderia ficar encerrada nas formulações verbais vigentes, pela pobreza da própria linguagem.
Se assim fora, à medida que o tempo avançasse, ficaria superada em razão da maneira como fora formulada.
Utilizando-se, porém, da parábola, do conhecimento dos símbolos, deu-lhe caráter de permanência em todas as épocas.
A Semiótica ou disciplina que estuda os símbolos, demonstra a facilidade que os mesmos representam para o entendimento de tudo quanto é transcendental ou subjetivo, tornando-o de fácil identificação. Talvez o símbolo seja o recurso mais recurso de comunicação entre os seres humanos.
Especialistas em paleontologia encontraram-nos gravados em cascas de ovos há mais de sessenta mil anos, o que confirma a sua perenidade.
Todo símbolo reveste-se de um significado, não somente num como em todos os lugares, em qualquer idioma ou dialeto, facilitando o entendimento da sua representação.
Demais, uma narrativa amena, em forma de parábola, facilmente é entendida, ao mesmo tempo, memorizada, e quando é narrada, embora se alterem as palavras, o símbolo nela incluído ressalta e preserva-lhe o significado.
Convivendo com mentes pouco esclarecidas culturalmente, numa época de obscurantismo e de graves superstições, deveria superar os limites de então e coroar as futuras conquistas do conhecimento intelectual.
Concomitantemente, o seu objetivo era o de insculpir o pensamento no imo das emoções, e as parábolas, por centrarem o seu significado nos símbolos, jamais seriam olvidadas ou adulteradas.
Caberia à psicologia do futuro penetrar nos arcanos do inconsciente humano, no qual se arquivam todos os acontecimentos e se transformam em símbolos, que se fazem decompostos à medida que são liberados em catarse espontânea...
Uma figueira brava e uma rede de pescar, uma pérola e uma semente de mostarda em qualquer idioma e em todas as épocas preservam a sua realidade, facilitando o entendimento da narrativa na qual comparecem.
Desejando apresentar o reino dos Céus de forma inconfundível como deveria ser, totalmente desconhecido então, explicitado num símbolo adquiria fácil compreensão dos ouvintes e mais acessível assimilação emocional.
A moderna psicologia analítica, assim como a psicanálise penetram nos símbolos para interpretar os arquétipos, as heranças ancestrais, os mitos e contos de fadas, que se encontram arquivados nos recessos profundos do inconsciente humano.
Recorrem aos sonhos e às associações, para desvelar as imagens sombreadas e guardadas em símbolo que, interpretados, facultam trabalhar-se os conflitos, a fim de dilui-los.
Jesus foi e permanece sendo o mais qualificado psicoterapeuta da Humanidade, antecipando as doutrinas psicológicas, a fim de iluminá-las quando surgissem.
*   *   *
Todos os seres humanos têm no seu jornadear conflitos semelhantes aos do filho pródigo, que foge do lar, atraído pela ilusão do prazer e, tombando na realidade angustiante que desconhecia, retorna à segurança do pai generoso...
Como expressar em profundidade excepcional a lição do bom samaritano, propondo o amor ao inimigo em forma de caridade compassiva, senão conforme o fez Jesus?
A reflexão em torno das virgens loucas, insensatas e das prudentes, que se preservaram, teoriza,  de forma segura, o significado da fidelidade ao dever de maneira muito especial.
O pastor que vai em busca da ovelha extraviada, assim como a mulher que procura a dracma perdida, são especiais e inesquecíveis ensinamentos sobre a valorização e a dedicação pessoal.
As extraordinárias imagens simbólicas de     que Ele se utilizou para ser compreendido e dizer da Sua grandeza sem autoencômios nem relevações desnecessárias, refletem-Lhe a sabedoria:
- Eu sou a luz do mundo...
- Eu sou a porta das ovelhas...
- Eu sou o caminho, a verdade e a vida...
- Eu sou o pão da vida...
- Eu sou a videira...
-Aquele que beber da água que eu lhe der...
Nas admoestações, os Seus célebres ais ainda convidam à meditação:
- Ai de vós os ricos!...
-Ai de ti Corazim! Ai de ti Betsaida!...
-Ai do homem pelo qual vem o escândalo...
-Ai de vós escribas e fariseus...
-Ai de vós, porque sois semelhantes aos túmulos...
Não menos enriquecedores são os postulados de amor e de promessa de plenitude em favor daqueles que Lhe forem fiéis:
- O que fizerdes a um destes em meu nome...
- Eu vos apresentarei a Meu Pai...
-Eu vos mando como ovelhas mansas...
-Eu os aliviarei...
As canções de exaltação penetram, ainda hoje, a acústica de todas as almas, que Lhe ouvem os enunciados incomparáveis:
- Um homem tinha dois devedores...
- Ide convidar os estropiados, os excluídos, os infelizes...
- O Reino dos Céus é semelhante a um homem que...
-Eu estarei convosco para sempre...
*   *   *
As suaves parábolas de Jesus são o coroamento melódico da sinfonia das bem-aventuranças que a Humanidade jamais olvidará.
Todos os seres humanos estão incluídos no sermão do monte, quando o amor se transforma na fonte inexaurível da trajetória evolutiva dos Espíritos.
Por fim, Ele exclamou:
- O Reino dos Céus está dentro de vós...
Exultai!
 
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião
mediúnica de 6 de novembro de 2012, no Centro Espírita  Caminho da
Redenção, em Salvador, Bahia.
Em 11.3.2013.

domingo, 24 de março de 2013

01 - JESUS E DESAFIOS

01 - JESUS E DESAFIOS
JESUS E DESAFIOS
O processo de evolução constitui para o Espírito um grande desafio.

Acostumado às vibrações mais fortes no campo dos sentidos físicos, somente quando a dor o visita é que ele começa a aspirar por impressões mais elevadas, nas quais encontre lenitivo, anelando por conquistas mais importantes.

Vivendo em luta constante contra os fatores constringentes do estágio em que se demora, vez por outra experimenta paz, que passa a querer em forma duradoura.

No começo, são as dores com intervalos de bem-estar que o assinalam, até conseguir a tranquilidade com breves presenças do sofrimento, culminando com a plenitude sem aflição.

De degrau em degrau ascende, caindo para levantar-se, atraído pelo sublime tropismo do Amor.
Conseguir o estágio mais alto, significa-lhe triunfar.

Aturdido e inseguro, descobre uma conspiração quase geral contra o seu fatalismo. São as suas heranças passadas que agora ressurgem, procurando retê-lo na área estreita do imediatismo, em nível inferior de consciência, onde apenas se nutre, dorme e se reproduz, com indiferença pelas emoções do belo, do nobre, do sadio.

Anestesiado pelas necessidades vegetativas, busca apenas o gozo, que termina por causar-lhe saturação, passando a um estado de tédio que antecipa a necessidade premente de outros valores.

Lentamente desperta para realidades que antes não o sensibilizavam e, de repente, passam a significar-lhe meta a conseguir, sentindo-se estimulado a abandonar a inoperância.

O psiquismo divino, nele latente, responde ao apelo das forças superiores e desatrela-se do cárcere celular, qual antena que capta a emissão de mensagens alcançadas somente nas ondas em que sintoniza.

O primeiro desafio, o de penetrar emoções novas, o atrai, impelindo-o a tentames cada vez mais complexos, portanto, mais audaciosos.

Experimentando este prazer ético e estético, diferente da brutalidade do primarismo, acostuma-se com ele e esforça-se para novos cometimentos que, a partir de então, já não cessam, desde que, encerrado um ciclo, qual espiral infinita, outro prazer se abre atraente, parecendo-lhe cada vez mais fácil.

Tudo na vida são desafios às resistências.

A "lei de entropia" degrada a energia que tende à consumpção, para manter o equilíbrio térmico de todas as coisas.

O envelhecimento e a morte são fenômenos inevitáveis no cosmo biológico e no universo.

Os batimentos cardíacos são desafios à resistência do músculo que os experimenta; os peristálticos são teste constante para as fibras que os sofrem; a circulação do sangue é quesito essencial para a irrigação das células; a respiração constitui fator básico, sem o qual a vida perece. Tudo isso e muito mais, na área dos automatismos fisiológicos, a interferir nos de natureza psicológica.

É natural que o mesmo suceda no campo moral do ser, que nunca retrocede e não deve estacionar sob pretexto algum.
No progresso, a evolução é inevitável. A felicidade é o ponto final.
Não cabe ao homem retroceder na luta, senão para reabastecer-se de forças e prosseguir nos embates.

O crescimento de qualquer ideal é resultado dos estágios inferiores vencidos, das etapas superadas, dos desafios enfrentados.

A sequóia culmina a altura e o volume máximos, célula a célula.

O universo se renova e prossegue, molécula a molécula.

Facilidade é perda de estímulo com prejuízo para a ação.

Toda a vida do Mestre foi um suceder incessante de desafios.

Embates no Seu meio social e familial constituíram-Lhe os primeiros impedimentos, que foram ultrapassados, em razão da superior finalidade para a qual viera.

Ele não aceitou carregar o fardo do mundo em caráter de redenção dos outros, mas ensinou cada um a conduzir o seu próprio compromisso em paz de consciência; não assumiu as tarefas alheias, nem deixou de demonstrar como fazê-las; no entanto, altaneiro, sem presunção, tampouco sem submissão covarde.

Os desafios da sociedade injusta e arbitrária chegaram-Lhe provocadores, mediante situações, pessoas e circunstâncias; apesar disso, sem deter-se, Ele continuou íntegro, enfrentando-os sem ira ou medo.

Passou aquele tempo; todavia, permanecem os resíduos doentios.

Alterou-se a paisagem, não os valores, que prosseguem relativamente os mesmos, gerando obstáculos e insatisfações.

Enfrenta os desafios da tua vida, serenamente.

Não aguardes comodidades que não mereces.

Realiza a tua marcha, indômito, preservando os teus valores íntimos e aumentando-os na ação diária.

Quem teme a escuridão, perde-se na noite.

Sê tu aquele que acende a lâmpada e clareia as sombras.

Desafiado, Jesus venceu. Segue-0 e nunca te detenhas ante os desafios para o teu crescimento espiritual.
Joanna de Ângelis
Livro : Jesus e Atualidade

REABILITAÇÃO DE UM CULPADO."...Lembremos por fim, que Jesus veio chamar os pecadores e não os justos. Por isso jamais se defendeu das injúrias e ataques dirigidos à sua pessoa. Contra outra espécie de traidores, ele se insurgiu: os traficantes da fé, os impostores que exploravam o alheio sentimento. A este exprobrou em termos enérgicos. Seu gesto de revolta se verificou, quando expulsava do templo os vendilhões, dirigindo-lhes a seguinte apóstrofe: Fizestes da casa de meu Pai, que é casa de oração, covil de salteadores. Para os algozes que o cravaram na cruz, assim como para a plebe ignara que, aparvalhada, assistia ao seu sacrifício, teve esta frase lapidar: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem...."


Depois de termos falado sobre a Justiça, pratiquemos um ato que a objetive. Tenhamos a precisa coragem moral de, arrostando preconceitos, propugnar pela reabilitação de um culpado, cujo delito, de há muito, foi devidamente reparado, mediante a consumação da justiça imanente, que reponta dos mesmos erros e delitos, como processo expurgador, conducente à regeneração.

Queremos nos referir 'coram populo' a Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos do Senhor. Bem sabemos que esse nome tem sido execrado, atravessando os séculos coberto de opróbrio e de ignomínia. Mas é precisamente por isso que, em nome da justiça e, particularmente, em nome do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, ousamos empreender esta tarefa, para o desempenho da qual imploramos o auxílio da luz que vem de cima.

Encaremos o crime de Judas com a devida calma, desapaixonadamente. Raciocinemos e argumentemos com o critério que a gravidade do caso requer. Comecemos levantando esta preliminar: Como foi Judas ter ao apostolado? Por solicitação própria? Não. Foi chamado, conforme peremptória declaração de Jesus, dirigida aos doze: Eu vos escolhi a vós; no entanto, um de vós é demônio. Daqui ressalta outro ponto importante. Jesus sabia que Judas ia cometer o ato delituoso ao qual se referiu por
ocasião da última páscoa, dizendo: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair.
E eles, entristecendo-se muito, começaram cada um a perguntar-lhe: Serei eu, Senhor? E Jesus retrucando, acrescentou: o que mete a mão no prato comigo, esse me trairá. Judas, então, disse: Porventura sou eu, Rabi? O Senhor retorquiu: — Tu o disseste. Em verdade, o Filho do homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele por quem o Filho do homem é traído! Bom seria a esse indivíduo, se não houvera nascido. De posse destes dados, extraídos dos Evangelhos, portanto dignos de fé, passemos à ordem dos argumentos.

Jesus veio à terra no desempenho de missão redentora. Para consumá-la se fazia mister tornar-se conhecido dos homens, através de exemplos vivos que testemunhassem o seu acrisolado amor pelos míseros pecadores, mostrando-lhes a estrada da salvação e conduzindo por ela, como guia, toda a humanidade. Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.

As velhas profecias vaticinaram os acontecimentos que haviam de se desenrolar no decurso da passagem do Filho de Deus por este orbe. Tudo estava previsto. Jesus se achava perfeitamente enfronhado do que o esperava. Marchou, todavia, resoluto e varonil ao encontro do sacrifício. Pai, afasta de mim este cálice; todavia faça-se a tua vontade, e não a minha.

Iniciando a ingente tarefa, Jesus começa reunindo os que deviam colaborar com Ele na obra da libertação humana. Chega-se a uns pescadores e, sem mais preâmbulos, vai dizendo assim: Acompanhem-me, pois, doravante, sereis pescadores de almas. E tais indivíduos, como que premidos por mola invisível, deixam seus barcos, redes e demais petrechos do ofício e seguem o Senhor. Da mesma forma, com relação a Mateus, portageiro da alfândega, que, abandonando o emprego, se põe ao lado dos demais escolhidos. Deste fato concluímos que aquelas pessoas tinham vindo a este mundo já comissionadas, já designadas a desempenhar certas incumbências junto ao Redentor da Humanidade. Do contrário é inexplicával a facilidade com que todos anuíram ao chamado que lhes foi dirigido por um homem desconhecido, com quem jamais haviam tido qualquer entendimento, e que viram pela primeira vez.
O compromisso, portanto, fora tomado antes, noutro plano da vida. Ora, Judas foi, a seu turno, solicitado a acompanhar Jesus. Anuiu, como os demais, ao chamamento. Veio, pois, a este mundo para fazer parte do ministério apostólico. Nesse caso, acode-nos à mente a seguinte consideração: se Judas ia fracassar desastrosamente, como fracassou, na qualidade de apóstolo; se as profecias previram o acontecimento; se, finalmente, Jesus estava ciente do desastre que esperava aquele discípulo, achando até que melhor fora ele não ter nascido, isto é, não ter vindo ao mundo, então por que o incluiu no apostolado? Não seria preferível afastá-lo, na hipótese de haver partido dele o desejo de participar da obra messiânica? Como, pois, se compreende ter sido ele chamado?
Não será lícito estranharmos semelhante procedimento por parte daquele que veio dar a vida pela redenção dos pecadores? Como, então, contribuir para a perdição precisamente de um dos seus escolhidos? Eis a questão que parece inextricável. Mas o Evangelho diz que não há nada encoberto que não seja descoberto, e nada oculto que não venha a ser revelado. Portanto, meditemos.

Jesus não podia consentir na perdição de Judas, ao incorporá-lo no colégio apostólico, prevendo a sua ruína. Atribuir-se ao Senhor semelhante cometimento seria rematada heresia. Há, portanto, uma razão que o levou a agir como agiu. Para descobri-la temos que, preliminarmente, estudar o caráter de Judas. Qualifiquemo-lo, tal como se faz aos réus. Judas, além de ambicioso, amigo do dinheiro, sumamente egoísta, era cínico. Este mal, quando empolga os Espíritos, os torna por assim dizer impermeáveis à luz, à verdade e a todas as sugestões e inspirações boas e salutares. Ficam impassíveis às emoções e às influências de ordem moral. Sua sensibilidade se embota, sua consciência se cauteriza, sua razão se obnubila.
Mergulhados na voragem da materialidade, só aspiram à satisfação dos apetites, debaixo dos seus múltiplos aspectos. Acovardados fogem das lutas, acocoram-se no comodismo, evitando tudo quanto possa perturbar-lhes o antegozo dos seus desejos e dos seus pendores inconfessáveis. Ficam, por assim dizer, cristalizados na esfera bastarda do sensualismo. E aí permaneceriam eternamente se o 'surge et ambula' não constituísse a lei soberana que rege o destino das criaturas de Deus. Sim, tal categoria de indivíduos ficaria estacionária se pudesse furtar-se à influência incoercível da evolução.
De repente, surge um imprevisto que os atira para a correnteza das provas. Então, como que arrastados pelas torrentes caudalosas de profundo rio, vão, sacudidos pelas ondas, batendo-se contra os rochedos ásperos e arestosos até que, precipitados no pélago das águas, ao rumor das quais despertam para a realidade, abrem os olhos para a luz, acordam-se-lhe a razão e a consciência, raiando a aurora de uma vida de reparação, era das reabilitações.

Eis aí o que sucedeu a Judas. Era necessário que essa alma fosse profundamente abalada, fosse sacudida até os seus fundamentos, suportasse um tremendo choque, passasse por um verdadeiro cataclismo, para que despertasse. Jesus não viu somente a queda de Iscariotes; viu também a sua redenção, após a prática do ato ignominoso. Por isso consentiu em incluí-lo no número dos apóstolos. Foi dura, foi tremenda a sua expiação, porém era esse o meio de chamá-lo à razão. Seu estado reclamava um drástico enérgico. Esse medicamento lhe foi propinado.

Cumpriu-se a Justiça, de cuja consumação emerge a misericórdia como seu complemento. Pela dor e pelo amor! Uma vez a lei satisfeita, soa a hora da graça. Lei e graça, justiça e misericórdia se entrelaçam na sábia urdidura da obra redentora do Espírito. Prossigamos, no entanto, no esclarecimento e justificação da nossa campanha em prol da reabilitação do grande delinquente. Judas foi tentado. Jesus o afirma, dizendo que Satanás o havia possuído. Se é certo que a influência da tentação não dirime o delito, contudo é inegável que constitui atenuante em favor do criminoso.
As circunstâncias atenuantes estão previstas até nos códigos terrenos, apesar das inúmeras lacunas de que eles se ressentem. A culpabilidade de Iscariotes deve ser julgada através dessa circunstância. O Tentador o dominou, agindo através dos dois principais defeitos do malsinado apóstolo: cinismo e grande apego ao dinheiro. Essas duas falhas acentuadas do seu caráter têm as suas raízes mergulhadas no egoísmo. Com dinheiro se compram prazeres e deleites que gratificam os sentidos. Com cinismo o indivíduo faz ouvidos de mercador aos protestos da consciência.
Que Judas se fascinava pelo dinheiro, di-lo claramente João Evangelista, reportando-se às suas ladroíces como tesoureiro da comunidade. Que era um cínico e simulador atesta-o eloquente o seu gesto, na última ceia, interrogando o Mestre sobre aquele que ia traí-lo metendo a mão no prato com Jesus, após este haver declarado que tal importaria o sinal denunciador daquele que o havia de trair. Os maus pendores facilitaram a tarefa do traidor ou talvez, dos Espíritos das trevas.

Consideremos, agora, outras particularidades dignas de meditação. A missão de Jesus não foi compreendida pelos homens do seu tempo, inclusive pelos próprios discípulos e apóstolos. Estes, só depois do dia de Pentecostes, é que a perceberam e assimilaram. Todos viam no Enviado celeste o libertador do povo de Deus das garras de César. Supunham que Jesus empregaria processos e meios miraculosos para vencer o despotismo romano, expulsando os invasores da Palestina. Aguardavam ansiosamente esse momento. A mente humana, acanhada e regionalista, não abarcava a grandiosidade da obra messiânica. Ninguém pensava na libertação do Espírito da servidão dos vícios e das paixões com sede na carne. Esta questão era demasiadamente transcendental para os homens daquele século.

Judas via em Jesus um místico, com poderes supranormais extraordinários, aguardando o momento oportuno para utilizá-los em favor do seu povo oprimido. Naturalmente, ao negociar com os sacerdotes judaicos a entrega de seu Mestre, Judas supunha que Ele jamais pereceria às mãos dos seus inimigos. Estaria, talvez, convencido de que, na ocasião azada, Jesus os destroçaria, manejando faculdades que tanto o distiguiam, e que Judas tanto invejava. Vários episódios teriam contribuído para alicerçar na mente do grande culpado aquela hipótese.
Ele presenciou o Senhor, quando os judeus tentaram aprisioná-lo. Estava habituado a vê-lo aparecer inesperadamente entre os discípulos e ausentar-se, sem que se soubesse para onde teria ido. No Jardim das Oliveiras, Jesus, apresentando-se aos beleguins romanos guiados pelo mesmo Judas, se transfigura diante deles, deixando irradiar a luz refulgente do seu Espírito. Diante deste fenômeno insólito, a soldadesca, aturdida e confusa, cai por terra. Estas ocorrências todas corroboraram o conceito de Iscariotes, animando-o a executar o plano que arquitetara.
Quando, porém, acompanhando com interesse a sucessão dos acontecimentos, viu que Jesus caminha para o suplício, sem opor embargos aos seus verdugos, e que, finalmente, sucumbiu no madeiro infamante. Judas estremeceu! Experimentou dentro de si o rugir duma tormenta, o desabar de um medonho e inconcebível furacão. O que se teria passado com ele, em tão trágico lance, a linguagem humana não possui expressões bastante para relatar. São desses transes que se imaginam, porém não se descrevem. Perpassou-lhe pela mente o quadro da sua vida ao lado do Mestre. Lembrou-se das palavras que ouvira dele; da sua bondade e doçura; da sua dedicação pelos sofredores; dos benefícios que espalhou por toda parte onde esteve; do caso da viúva de Naim cujo filho redivivo, restituído a mãe, transformou o seu pranto em alegria; e daquele filha voltar à vida, quando todos a consideravam morta; e, mais outro ainda, o de Lázaro, cujas irmãs e amigos pranteavam a morte, ressuscitado pelo Senhor e entregue ao afeto dos que o amavam. Essas maravilhas todas, de alta benemerência, e tudo o mais que observara 'de visu', acompanhando o Mestre em sua peregrinação terrena, se desenharam ao vivo no delírio febril da sua imaginação.

Sabe-se pela experiência dos que se encontram em perigo iminente de morte que nesses indivíduo se escoa em sua mente, que nestes instante, todo o passado do indivíduo se escoa em sua mente de um modo vertiginoso, porém perfeitamente compreensível. Todo o bem e todo o mal praticado, as conjunturas alegres ou tristes, os atos dignos ou inconfessáveis, tudo, enfim, num esforço rápido e vivo, é percebido e sentido naqueles fugazes momentos. Foi o que se teria verificado com o grande pecador. Sua alma então desperta; as cordas do seu sentimento habituadas à inação vibram agora desusada e descompassadamente. Lavram em seu interior as labaredas rubras do remorso. Sua razão, ora acordada, lhe mostra a vileza e a monstruosidade do seu crime. Judas se contorce no paroxismo da dor, no estertor horrendo da exprobração da consciência revivida, no tormento dantesco do criminoso vergado ao peso da condenação!

Judas enlouquece, Judas suicida-se! Detenhamo-nos aqui. Não tentemos avançar mais para dentro da sua dor, porque há dores cujo abismo causa vertigem aos que delas se aproximam. Descubramo-nos diante da sua grande, imensa e incomensurável tortura; deixemos que esta opere a sua obra de purificação. Executou-se a lei. A lei que pontifica no interior de cada homem, onde ele é juiz de si mesmo. Quanto tempo ficaria o espírito do grande delinquente no estado de desespero em que partiu deste mundo? Não sabemos. O importante é que ele se arrependeu. Deu, portanto, o primeiro passo no caminho da reparação. Após a Justiça consumada, soa, como já o dissemos, a hora da misericórdia.
À lei sucede a graça, Judas é um regenerado. Para afirmá-lo, nos baseamos na doutrina que nos foi revelada pela sua vítima. Jesus estendeu, de há muito, a sua destra benfazeja, amparando e acolhendo o apóstolo transviado. Perdoou-lhe, como perdoou a Pedro e a Paulo, que também pecaram. Todos, depois de suportarem a consequência dos erros praticados, se reabilitaram. Por que Judas não se teria reabilitado também? — Reabilitou-se, sim, no-lo diz o mesmo Jesus, através destes preceitos seus: Amai aos vosso inimigos. Fazei bem aos que vos fizerem mal. Orai pelos que vos perseguem e caluniam. Perdoai e sereis perdoados. Não julgueis, não condeneis. Com a medida com que medirdes, com essa sereis medidos. Quem predicou assim não podia abandonar um pecador que deu visíveis provas de contrição. Jesus é aquele cuja escola é Ele mesmo, cujas teorias são os seus exemplos, cujas doutrinas são a sua vida.
Portanto, é Ele quem nos dá autoridade para propugnarmos no sentido de apagar o estigma aviltante que envolve a memória de Judas. A gravidade da culpa depende da previsibilidade do evento criminoso. Ora, Judas não teve a previsão das consequências do delito que praticou. Só depois de consumado é que ele mediu o seus efeitos. Não cabe na mente do egoísta que alguém, dispondo de força excepcionais e singulares, deixe de utilizá-las em defesa própria. Renúncia e sacrifício são expressões que carecem de sentido para as mentalidades imbuídas do egoísmo.

Demais, cumpre acentuar ainda uma particularidade muito curiosa no ato pecaminoso de Iscariotes. O seu crime não foi propriamente de traição. Falta circunstância para que se capitule naquela rubrica: a circunstância da surpresa da vítima. Não pode haver traição, sem que se verifique o sobressalto, o inopinado, o imprevisto. Ora, Jesus, a vítima, estava a par de tudo, vinha acompanhando os passos de seu discípulo, ciente de toda a trama que ele urdira. Onde, pois, a traição?

É verdade que este pormenor não altera, do ponto de vista moral, a natureza do delito ora em apreço. Seja, porém, como for, o fato é que Judas resgatou a sua grande culpa no cadinho de uma imensa dor. As 30 moedas, preço de sua perfídia, ali fundidas, caíram, gota a gota, em seu atribulado coração.

Lembremos por fim, que Jesus veio chamar os pecadores e não os justos. Por isso jamais se defendeu das injúrias e ataques dirigidos à sua pessoa. Contra outra espécie de traidores, ele se insurgiu: os traficantes da fé, os impostores que exploravam o alheio sentimento. A este exprobrou em termos enérgicos. Seu gesto de revolta se verificou, quando expulsava do templo os vendilhões, dirigindo-lhes a seguinte apóstrofe: Fizestes da casa de meu Pai, que é casa de oração, covil de salteadores. Para os algozes que o cravaram na cruz, assim como para a plebe ignara que, aparvalhada, assistia ao seu sacrifício, teve esta frase lapidar: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Os pecadores confessos e contritos encontraram nele refúgio, consolo e salvação. Duas almas tiveram a primazia na obra de redenção consumada no Calvário: a primeira foi Dimas, o bom ladrão crucificado à direita do Cristo de Deus; a segunda foi Judas, o suicida, na demência do remorso.
Vinícius

O CÁLICE DA AMARGURA (...)"Deste modo, podemos afirmar que nem todos os nossos apelos dirigidos ao Alto podem ser atendidos, uma vez que qualquer desvio em nossa vida poderá representar séculos de retardamento. A satisfação dos nossos desejos representaria postergação de fatores que são imprescindíveis à nossa reforma espiritual....


"Prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu pai; se é possível,
passe de mim este cálice" todavia, não seja feito como eu quero, mas como tu
quiseres." (Mateus, 26:39)
Afirma o evangelista Mateus que Jesus Cristo formulou veemente rogativa a Deus no sentido de passar dele a necessidade de tragar o cálice de amargura, simbolizado no sacrifício que se cumpriria no alto do Calvário. Após repetir a sua prece por trê vezes consecutivas, não houve um deferimento favorável, e o drama da crucificação se cumpriu em todos os detalhes.
O Mestre, que havia preceituado: "Pedi e dar-se-vos-á, buscai e achareis e batei e abrir-se-vos-á" ali estava advogando o cancelamento do martírio na cruz, entretanto não deixou de condicionar a sua vontade à soberana vontade de Deus. Nos desígnios do Pai o sacrifício do Calvário era um imperativo, sem o qual a doutrina que o Mestre viera trazer, não triunfaria na face da Terra, ao ponto de, em três séculos apenas, causar a derrocada do Paganismo, solapando as precárias bases em que se fundamentava a religião dos povos mais poderosos da Terra.
Devemos nos lembrar que todos nós, em maior ou menor escala, temos um Calvário em nossa vida, por isso tanto em relação a nós o Criador não modifica a cada instante os desideratos superiores. Muitas das rogativas que erguemos não são aceitas porque assumimos compromissos espirituais importantes antes da nossa encarnação terrena, e se modificando o curso da nossa vida ao sabor da nossa vontade, é óbvio que ocorreria uma estagnação e dificilmente colimaríamos o nosso aprimoramento espiritual.
O advento de Jesus Cristo na Terra indubitavelmente exigiu intensa preparação espiritual, principalmente nos séculos que antecederam a sua integração no ambiente terreno. Se João Batista foi o seu precursor imediato, lembremo-nos de que muitos profetas de Israel também cooperaram para a sua vinda, fornecendo detalhes minuciosos sobre a sua inconfundível personalidade e esboçando, em linhas gerais, a razão primária da sua missão no seio da Humanidade.
A tarefa desenvolvida entre nós por Jesus Cristo não foi mera caminhada pelas estradas da Galiléia. Não foi também uma peregrinação com o objetivo de curar alguns paralíticos, restaurar a vista a alguns cegos, limpar alguns leprosos ou expelir alguns maus Espíritos. O advento de Jesus foi algo sublime demais, pois ele trouxe para a Humanidade uma mensagem de vida eterna, uma doutrina suscetível de impulsionar o gênero humano para os seus verdadeiros objetivos, um código de moral que serviria de fundamento para a reforma moral dos indivíduos. O Messias veio para curar os doentes da alma e levantar aqueles que estão alquebrados pelas tribulações da vida terrena. Veio também para convocar aqueles que malbaratam os "alores que Deus, por excesso de misericórdia, lhes concedeu, despertando-os de uma inércia incompatível com a necessidade de reforma interior.
Se a missão desempenhada por Jesus Cristo demanda séculos de preparação, devemos também convir que a tarefa de muitos Espíritos que encarnam na Terra, também exige preparação, planejamento e sobretudo obedecem a desígnios superiores, previamente estabelecidos.
Deste modo, podemos afirmar que nem todos os nossos apelos dirigidos ao Alto podem ser atendidos, uma vez que qualquer desvio em nossa vida poderá representar séculos de retardamento. A satisfação dos nossos desejos representaria postergação de fatores que são imprescindíveis à nossa reforma espiritual.
Sendo a Terra uma imensa escola, na qual os nossos Espíritos se aprimoram, despojando-se de suas imperfeições, é lógico que deveremos assimilar todas as lições que nos são propiciadas pois, se protelarmos o nosso aprendizado, além de adiarmos nossa evolução, estaremos também contribuindo para o atravancamento do progresso espiritual da Humanidade, causando o retardamento no advento de uma nova era, quando o mundo será mai, espiritualizado, mais moralizado e sobretudo mais evangelizado.
Paulo A. Godoy

UM MÉDIUM CHAMADO ÁGABO


"E chegou da Judéía um profeta por nome Ágabo. E vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo,
e, ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito: Assim ligarão os judeus em
Jerusalém o varão de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios. " (Atos, 21:10-11)
Esta narrativa dos Atos dos Apóstolos confirma, uma vez mais, que os primitivos cristãos se escudavam na orientação dos Espíritos, quando tinham necessidade de tomar determinadas atitudes.
Paulo, com alguns dos seus companheiros, hospedou-se na casa de Filipe, o evangelista, pai de quatro moças que possuíam faculdades mediúnicas e que, obviamente, serviam de instrumento para que seu pai e os cristãos que costumeiramente se abrigavam em sua casa, entrassem em comunicação com o plano espiritual.
Chegou também ali um médium chamado Ágabo, o mesmo que, segundo os Atos dos Apóstolos (11:28), havia vaticinado que haveria grande fome na face da Terra: "E levantando-se um deles de nome Ágabo, dava a entender, pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César". Ágabo, sem conhecer Paulo, fez uso da sua mediunidade de psicometria; "tomou o cinto do apóstolo e profetizou tudo aquilo que lhe iria acontecer, inclusive a sua prisão por meio de correias e subseqüente entrega a um governador gentio".
Em seguida a essa profecia, os amigos de Paulo intercederam para que ele não subisse a Jerusalém, porém o Converso de Damasco repeliu a idéia, dizendo peremptório: "Que fazeis "Vós, chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto, não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém, pelo nome do Senhor Jesus" .
Os Atos dos Apóstolos narram que Paulo subiu a Jerusalém e ali, pregando no templo, foi reconhecido por alguns judeus da Ásia, os quais deram início a surda rebelião contra os seus ensinamentos, agitando assim todo o povo. O tribuno Cláudio Lysias, vendo que a população estava em pânico, mandou que Paulo fosse atado com correntes e levado à Fortaleza. Na escadaria da prisão o apóstolo tentou um discurso em sua defesa, porém foi veementemente repelido pela turba fanática. O tribuno ordenou, posteriormente, que ele fosse conduzido ao Sinédrio, onde foi inquerido.
Nessa altura dos acontecimentos, Paulo foi avisado, por um seu sobrinho, que cerca de quarenta judeus planejavam uma conspiração e juraram que não comeriam nem beberiam, enquanto não o matassem, tudo isso sob os olhares complacentes do Sinédrio pois os conjurados pediram aos membros do Conselho que solicitassem ao tribuno que lhes enviasse novamente o apóstolo para maiores inquirições. O plano consistia em abatê-lo no trajeto entre a fortaleza e o templo.
O tribuno, sendo informado dessa conspiração, mandou, preparar uma tropa composta de duzentos soldados, duzentos arqueiros e sessenta cavalarianos e deu ordens para que Paulo fosse levado a Cesaréia antes da madrugada, onde o apóstolo foi entregue ao governador Felix. Após interrogatório levado a efeito pelo governador, Paulo foi atado com correias, cumprindo-se assim a profecia de Ágabo.
Paulo esteve detido pelo governador gentio por mais de dois anos, até que, no governo de Pórcio Festo, apelou ser julgado por um tribunal romano: "Apelaste para César, para César irás, asseverou o governador.
No seio das primitivas comunidades cristãs, o intercâmbio com o plano espiritual servia de bússola para todas as decisões, por isso vemos que, logo após a primeira profecia de Ágabo em torno da fome que assolaria a Terra, os apóstolos se reuniram e resolveram mandar provisões e socorro para os irmãos que habitavam a Judéia; na segunda profecia, intercederam junto a Paulo para que não subisse a Jerusalém, no que não foram atendidos, pois o Apóstolo dos Gentios desejava, ardentemente, dar testemunho de Jesus em todo o mundo, a todos povos.
A comunicação com o mundo espiritual era prática comum entre os seguidores de Jesus Cristo, prática essa que se prolongou por muitos séculos, até que, com a oficialização da religião pelo imperador Constantino, teve início o milenar processo de degenerescência da Doutrina Cristã, as comunicações passaram a ser coibidas, pois elas vinham prejudicar os planos adredemente preparados pelas trevas, de consolidar o conluio entre os poderes temporais e espirituais, pois só assim poderiam fazer com que a singela e meiga Doutrina, legada pelo Rabi da Galiléia, sofresse o impacto dos interesses mundanos, deixando de consolar os pequeninos e sofredores, para servir de esteio para os interesses mundanos dos grandes e potentados.
Ágabo era um autêntico médium, por isso Paulo aceitou plenamente o seu vaticínio e não trepidou em considerá-lo como verdadeiro, pois em Atos (20:23) vemo-lo proclamar: "E agora, eis que ligado eu pelo Espírito vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer, senão o que o Espírito, de cidade em cidade, me revela, dizendo: que me esperam prisões e tribulações".
Paulo A. Godoy

A CABEÇA DO PROFETA. (...)"Ninguém tem o direito de tirar a vida do seu semelhante. O profeta Elias poderia ter demonstrado a excelência do seu Deus, sem contudo ordenar a matança dos sacerdotes politeístas de Baal. O fato de ter João Batista sido o precursor de Jesus Cristo, desempenhando, portanto, importante papel no seu Messiado, seria o suficiente para ter anulado aquele delito; no entanto, vemos que o seu Espírito teve necessidade de se ajustar com a Lei Divina, por isso sua cabeça rolou, a pedido de Herodias"...


"E trouxeram-lhe, numa bandeja, a cabeça de João Batista." (Mateus, 14:11)
Herodias, pretendendo vingar-se de João Batista, pelo fato de ele ter, de público, verberado o seu procedimento imoral, instigava sua filha Salomé a solicitar a sua cabeça numa bandeja. O rei Herodes, não querendo voltar atrás em sua promessa, ordenou que assim fosse feito.
Esta passagem evangélica nos propicia uma eloqüente prova de reencarnação, de ajuste com a justiça divina, e tudo leva a crer que nessa ocorrência também houve a consumação de um juramento de vingança.
A reencarnação do Espírito de Elias, na pessoa de João Batista foi sobejamente confirmada pelo próprio Jesus Cristo (Mateus, 11:13- 14 e 17:11-13): "E se quereis dar crédito, este é o Elias que havia de vir. E então os discípulos entenderam que falava de João Batista.
A narração contida no I livro dos Reis (I Reis, capítulos 18 e 19), afirma que Elias, após fazer uma demonstração patética, convincente de que o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó era o Deus verdadeiro, ordenou a decapitação de 450 sacerdotes de Baal. O rei Acab, de Israel, comunicou o fato à rainha Jezabel, sua esposa, filha do rei dos sidônios, a qual não era israelita e adorava também o deus Baal.
Jezabel, face àquele fato consumado, jurou solenemente "Assim me matem também os deuses, e façam comigo coisas piores se até amanhã, a estas horas, não liquidar a vida de Elias, do mesmo modo como ele fez com os profetas".
Elias fugiu para Berseba, onde não foi encontrado pelos emissários da rainha. Com o desenrolar dos tempos, ambos desencarnaram, sem que o juramento de vingança fosse cumprido.
Quando nascido na pessoa de João Batista, embora Jesus tivesse afirmado que "ele era mais do que profeta" e que "era o maior dentre os nascidos de mulher", ele não pôde subtrair-se às conseqüências da lei de causa e efeito, tendo que quitar-se com a Justiça Divina.
Inspirada por Herodias, Salomé pediu sua cabeça numa bandeja. Isso ocorreu nove séculos após Elias ter ordenado a decapitação dos sacerdotes de Baal. É bem provável que Herodias também tenha sido a reencarnação de Jezabel, pois são pródigos os ensinamentos dos Espíritos em torno de sentimentos de vingança que perduram séculos e acompanham os Espíritos no decurso de muitas reencarnações. É provável que, não tendo ela se vingado de Elias, 24 horas após, conforme pretendia, o tenha feito 900 anos após, na pessoa de João Batista, que era o Elias reencarnado.
Muitos poderão achar que este período de tempo é demasiado longo. No entanto, os benfeitores espirituais nos revelam, principalmente através dos livros recebidos pela psicografia de Chico Xavier, que muitos Espíritos, animados de sentimentos inferiores, permanecem séculos e séculos na erraticidade ou em planos menos evoluídos. Nove séculos não são exagerados no ciclo evolutivo de um Espírito, e isso não significa que o Espírito de Jezabel não tenha tido outras reencarnações intermediárias, nas quais não conseguiu apagar do seu coração os sentimentos de desforra.
Ninguém tem o direito de tirar a vida do seu semelhante. O profeta Elias poderia ter demonstrado a excelência do seu Deus, sem contudo ordenar a matança dos sacerdotes politeístas de Baal.
O fato de ter João Batista sido o precursor de Jesus Cristo, desempenhando, portanto, importante papel no seu Messiado, seria o suficiente para ter anulado aquele delito; no entanto, vemos que o seu Espírito teve necessidade de se ajustar com a Lei Divina, por isso sua cabeça rolou, a pedido de Herodias. É a aplicação pura e simples da lei de Causa e Efeito. "É o quem com ferro fere, com ferro será ferido", do ensinamento evangélico.
Paulo A. Godoy