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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ENTREVISTA COM DIVALDO FRANCO / Atendimento Fraterno 1a Parte

1

José Ferraz: — Qual a utilidade doutrinária do serviço de Atendimento
Fraterno na Casa Espírita?
Divaldo: — Receber as pessoas, orientando-as quanto às possibilidades
de que a Casa dispõe em forma de recursos que são colocados às ordens
daqueles que vêm até ao núcleo de iluminação espiritual, encaminhando os
que têm problemas para receberem as respostas pertinentes às suas
necessidades e, por fim, fazendo o trabalho educativo e fraternal de bem
conduzir todos aqueles que batem às portas da Instituição Espírita.
João Neves: — É benéfico para as pessoas que recorrem à terapia dos
passes serem, antes, assistidas e orientadas
(*) A presente Entrevista foi proposta e realizada no transcurso de
reunião pública do Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador,
Bahia.
pelo atendente fraterno?
Divaldo: O Atendimento Fraterno é uma psicoterapia que modifica a
estrutura do problema no indivíduo que se acerca da Casa Espírita com idéias
que não correspondem à realidade.
Pode-se dizer que, desse contato pessoal que antecipa o passe, muitas
vezes o cliente já se beneficia, sendo até mesmo desnecessária a aplicação da
bioenergia.
Vivemos numa sociedade que padece conflitos psicossociais, sócioeconômicos,
comportamentais, cujos individuos têm necessidade de fazer
catarse. Como o atendimento psicanalítico é muito caro e muito prolongado, no
Atendimento Fraterno o indivíduo tem a oportunidade de abrir a alma ao bom
ouvinte, que o pode orientar com segurança e demitizar o significado do passe.
Como é natural, a desinformação atribui ao passe um caráter de natureza
miraculosa, o que tem levado algumas pessoas menos esclarecidas a
estabelecer o número deles para a solução de certos problemas, o que não
deixa de ser um equívoco, porque se poderá aplicá-los em número infinito e, se
o paciente não se transformar interiormente, de nada adiantará a terapêutica.
Se ele não se abrir para assimilar as energias, faz-se semelhante a uma pedra
granítica que, apesar de estar mergulhada em águas abissais por milhões de
anos, ao ser arrebentada encontra-se seca interiormente.
José Ferraz: — Quais são os requisitos indispensáveis para que uma
pessoa, na função de atendente fraterno, possa sintonizar com os Bons
Espíritos?
Divaldo: — A condição essencial é a boa moral. Do ponto de vista espiritista o requisito moral do indivíduo é relevante,
imprescindível. Utilizamo-nos de um brocardo popular: “Diz-me quem és e eu te
direi com quem andas; diz-me com quem andas e eu te direi quem és”.
Ir a Deus através da prece é outra condição, pois se abrem os canais
psíquicos para uma perfeita sintonia com o Mundo Espiritual que nos assiste no
atendimento às criaturas da Terra.
Além desses caracteres essenciais, além dos valores morais, é
imprescindível o conhecimento da Doutrina Espírita.
Não se pode propiciar um bom atendimento fraterno na Casa Espírita, sem
que se conheça o Espiritismo, o que seria paradoxal, falando-se de uma coisa
com a qual não se está identificado.
O conhecimento amplo da Doutrina Espírita é um requisito que tem caráter
primacial, porque a pessoa irá falar a respeito daquilo que é a essência da
Doutrina a fim de que o cliente recém-chegado se inteire do que pode
conseguir.
Um bom tato psicológico é necessário. A capacidade de saber ouvir é
valiosa, porque o cliente, normalmente, quer falar. Na maioria das vezes, não
deseja ouvir respostas, quer “desabafar”, como muitos o afirmam, porque, na
falta de uma resposta para o problema, ele necessita de alguém que o ouça.
Então, o atendente deve possuir esse tato psicológico para dar oportunidade ao visitante de
liberar-se do conflito. Evitar, quanto possível, que ele fale de questões íntimas,
de que se arrependerá depois, quando passar o problema.
O Atendimento Fraterno não é um confessionário. Como o próprio nome
diz, é um encontro, no qual se atende fraternalmente àquele que tem qualquer
tipo de carência.
Com tato psicológico pode-se desviar, no momento oportuno, uma questão
que seja inconveniente e interromper o cliente na hora própria, a fim de que
não se alongue demasiadamente, gerando um “élan” de afinidades entre o
terapeuta do atendimento e aquele que o busca, evitando produzir-se o que, às
vezes, ocorre entre o psicoterapeuta convencional e o seu paciente.
O atendente fraterno deve manter-se em condição não preferencial por
pessoas, numa neutralidade dinâmica, como diria Joanna de Ângelis, porque
todos são iguais — diz a Justiça — perante a Lei. A todos, então, que tem
problemas e nos buscam, deveremos atender com carinho, sem preferências,
sem excepcionalidades e sem absorvermos o seu problema, para que ele não
se torne um paciente nosso e não transfira todos os seus desafios para nossa
residência. Não poucas vezes, o mesmo perguntará: — Quando eu tiver um
problema posso telefonar-lhe? — Não — será a resposta — em casa eu tenho
outros compromissos; você virá quando necessitar, aqui ao Atendimento.
João Neves: — Pessoas há, que embora interessadas nas orientações do
Atendimento Fraterno, estão tão presas às idéias fixas, que dificultam a absorção da orientação. Como fazer, para
ajudá-las a desviar essas fixações?
Divaldo: — Deixar, primeiro, que falem. O primeiro encontro é sempre
muito difÍcil. A pessoa vem com muitas idéias que não correspondem à
realidade; ou vem céptica, e fala com certa indiferença; ou vem fascinada pela
hipótese de ter o problema resolvido no primeiro encontro. Então acha que pelo
fato de estar numa Casa Espírita, os seus problemas já não mais irão afligi-la.
Essa pessoa, no momento em que começa a falar, deveremos deixá-la
expor a sua dificuldade por alguns instantes e, logo depois, interrompê-la,
informando-a: — Agora você vai me ouvir.
Se a pessoa insistir, afirmaremos: — Você não veio para me doutrinar,
mas sim para pedir conselhos, que eu vou lhe dar. Agora vai depender de você
aceitá-los ou não — evitando assim, que a pessoa transforme o Atendimento
Fraterno num rosário de queixas. Poderemos dizer também: — Até aqui a sua
vida foi dessa forma; neste momento abre-se-lhe uma etapa nova. É
necessário que voce me ouça, para poder ver as possibilidades que estão ao
seu alcance. Agora pare, e ouça as sugestões que tenho e que são induções
simples. Joanna de Ângelis, a nossa Mentora, diz o seguinte: — Tudo começa
no pensamento. Toda vez que um pensamento for perturbador, substitua-o por
outro que seja positivo.
Se a criatura disser: — Mas, eu não posso...
Responderemos: — Você não quer quer; mas é o quanto nós lhe podemos dar;
além disso, não lhe prometemos nada. Não lhe oferecemos aquilo que não podemos doar, porqüanto não
estamos aqui para enganar as pessoas.
Evitar-se, ao máximo, essas expressões de natureza prodigiosa, que
martirizam o paciente, dando-lhe informações que ele não tem capacidade para
digerir.
Diante de uma pergunta: - Será que eu sou obsidiado? — responda-se
com honestidade: — Não sei.
— Será que existem comigo obsessores?
— Eles só estão em contato conosco, porque estamos em sintonia com
eles...
Evite-se, tanto quanto possível, aumentar-lhe a carga de aflições com
informações indevidas ou que podem não corresponder à realidade.
José Ferraz: — Os bons Espíritos ajudam as pessoas que buscam o
Atendimento Fraterno? De que forma? Fale, particularmente, sobre a
desobsessão na nossa Casa.
Divaldo: — Todo aquele que sobe a um planalto, mesmo que não se dê
conta, aspira oxigênio puro; quem desce ao vale, onde existem pântanos e
matéria em decomposição, mesmo que o não perceba impregna-se de
miasmas. A Casa Espírita é o planalto no qual podemos comungar com Deus.
É o oásis refrescante na severidade adusta da terra sáfara. É a ilha generosa
no oceano tumultuado das paixões. Quando alguém se adentra pela Casa
Espírita — e aqui fazemos uma generalização, estendendo a qualquer templo de fé religiosa — é amparado pelos Espíritos que têm ali a tarefa de preservar o nome de Deus, o Seu valor diante das almas e, no caso
específico do Cristianismo, a presença de Jesus, que prometeu nunca nos deixar órfãos.
Quando chegamos à Casa Espírita, as Entidades benevolentes e caridosas
dispõem de Espíritos outros que se encarregam de vigiar, de proteger o recinto
humano e o espiritual. Fazem programas, utilizando-se de Entidades com capacidades magnéticas para impedir a entrada de outras, perturbadoras, obsessoras, assim também de pessoas que causam transtorno, tumulto e generalizam desequilíbrios, o que é patente em nossas Casas, como noutras congêneres.
A nossa Instituição tem as portas abertas a quem quer que sej a, e todos somos testemunhas de que jamais aconteceu qualquer coisa desagradável, face à massa que a freqüenta, e que pode trazer psicopatas, dependentes químicos de drogas, de álcool, desajustados, porque as defesas magnéticas
estabelecidas, de alguma forma impedem-lhes a entrada, da mesma forma que as defesas espirituais impossibilitam a penetração de Espíritos perversos que, às vezes, estão acompanhando os seus hospedeiros. Eis porque, aí já começa a desobsessão...
A presença dos bons Espíritos e o atendimento que fazem logo modifica a
estrutura psíquica dos pacientes, afastando as Entidades malévolas que os irão
aguardar àsaída, fora dessas defesas magnéticas.
Quando os visitantes saem tumultuados, ansiosos para voltar a casa e recuperar os pensamentos negativos com os quais vieram — e momentaneamente os deixaram, ouvindo a palestra ou recebendo a orientação — volvem às viciações psíquicas, e assim atraem,
de retorno, os seus comparsas, prosseguindo o problema.
Essa é uma desobsessão coletiva.
Nas conferências, nas aulas, em quaisquer instruções dignificantes, enquanto o público se concentra na proposta elevada, os bons Espíritos aplicam energias corretivas, libertadoras, naqueles que estão vinculados à idéia superior, realizando, desse modo, igualmente, a terapêutica desobsessiva.
Em nossa Casa, em particular, e em outras, no sentido genérico, os Benfeitores, ao verem o paciente que veio para o Atendimento Fraterno, observando a sua carência real, a sua angústia, a sua honesta necessidade de mudar, anotam quais os perseguidores que os afligem, e trazem-nos, em particular e discretamente, às sessões mediúnicas para tratamento desobsessivo.
Eles me apresentam verdadeiros livros onde registram os endereços das
pessoas que pedem visitas, e as atendem. Determinam Espíritos que acompanham aquelas que pediram socorro, e que permanecem por longo período ao lado delas. Mesmo que qualquer uma mude de idéia, o seu acompanhante continua dando-lhe assistência até o momento em que o quadro se modifique.
Aquele Espírito assistente torna-se o comunicador das Entidades que mourejam na Casa Espírita e que passam a ter conhecimento de como vai o processo de recuperação do cliente, que antes veio pedir socorro
Isso começa, portanto, quando nos adentramos na Casa Espírita ou noutro templo de fé, mais particularmente quando nos encontramos em atendimento fraterno, porque os bons Espíritos estão
acompanhando-nos e, percebendo a gravidade, maior ou menor, de nosso problema, removem aqueles Espíritos perturbadores e os trazem à doutrinação.
Ocorre, com muita freqüência entre nós, essa doutrinação sem a presença do paciente, o que é perfeitamente compreensível. Estar ali participando não é necessário para a sua recuperação, impondo-lhe assistência à reunião mediúnica.
Desse modo, o Atendimento Fraterno também tem o caráter de desobsessão lúcida, porque o atendente funciona como doutrinador e o paciente como beneficiário.
João Neves: — Na sua experiência tão vasta de atendente fraterno, quais as causas preponderantes que desencadeiam as aflições humanas?
Divaldo: — O egoísmo, seria a resposta de Allan Kardec.
O egoísmo é o câncer da sociedade, porque é ele que desencadeia outros distúrbios em nossa área espiritual. Éo egoísmo que responde pela nossa agressividade, porque ele nos leva ao egocentrismo, ao direito de crer que somos o centro do Universo, e de merecermos tudo e todos, tornando-nos soberbos. O ciúme também é causa infeliz, porque nos faz pensar que somos
proprietários uns dos outros, dos objetos, das ocasiões e das circunstâncias; o ódio a todo
aquele que não concorda conosco e nos agride é fator dissolvente e
desprezível; a revolta e, conseqüentemente, a cólera fulminante, que abre espaço ao ódio, constituindo-se elemento pernicioso.
Graças a esses fatores, as enfermidades se nos alojam com mais facilidade, porqüanto o egoísmo produz enzimas destrutivas, que vêm perturbar o metabolismo e facultam campo para a instalação de doenças degenerativas.
Ao mesmo tempo, torna-nos distônicos, e passamos a ter problemas psicológicos, abrindo ensejo para a vinculação com as Entidades perversas, malévolas, tendo início aí os processos de obsessão.
A Psico-neuro-imunologia identificou que possuimos na saliva uma enzima que protege o nosso organismo de infecções viróticas — a imunoglobulina.
O egoísta é introspectivo, apaixonado, indiferente aos problemas alheios.
Produz toxinas que impedirão a fabricação da imunoglobulina, deixando-o a mercê das doenças.
Por isso, Jesus ofereceu como terapia fundamental o amor, porque,
quando se ama, sai-se de si para poder tornar-se ütil; o individuo esquece seus próprios problemas para contribuir pela diminuição dos alheios.
Quando começamos a amar, a vida iridesce a paisagem, que se apresenta
enriquecida, e as nossas pequenas dores tornam-se menores diante do volume
de aflições que desgovernam o mundo.
Jesus sintetizou tudo isso de uma forma muito bela, quando os discípulos afirmaram que Ele sempre atendia as criaturas tomado por compaixão. Não esse sentimento de piedade vulgar, mas, com a paixão de ternura, com o desejo veemente de modificar aquela situação. É esse sentimento de amor que ajuda e faz que se entesoure os recursos para diminuir os sofrimentos humanos.
José Ferraz: Esta pergunta foi elaborada por Suely Caldas Schubert:
Como conduzir a orientação a uma pessoa que já tentou o suicídio algumas vezes e persiste na mesma idéia? Deve-se, de alguma forma, dizer lhe quais as conseqüências funestas do seu ato infeliz ou ser-lhe compreensivo e consolador?
Divaldo: — A melhor maneira de consolar é advertir quanto aos riscos que advêm como conseqüências dos nossos atos impensados.
Consola-se, quando se esclarece.
A melhor forma de consolar alguém é arrancá-lo da ignorância, educá-lo.
Allan Kardec faz uma abordagem, em “O Livro dos Espíritos”, que é
excelente, ao referir-se à tarefa da educação, elucidando que os males humanos decorrem da predominância dos instintos agressivos, que se sentem repelidos, como diria o psicanalista Alfredo Adier, e devem ser superados através dos métodos morais disciplinadores. Allan Kardec se reporta à educação moral. É necessário dizer ao paciente que ele tem o direito de interromper a vida física, mas que esse ato lhe trará tais e quais conseqüências inevitáveis.
Ele está sofrendo hoje angústia, desesperação, sente soledade, incompreensões, como colheita dos atos imprevidentes de ontem. Se complicar a atual existência com uma atitude de revolta contra Deus, a sociedade e a si mesmo, as suas penas e aflições serão muito maiores. É, portanto,
perfeitamente lícito e necessário dizer-se com doçura, para não parecer que lhe estamos prometendo um castigo — como fazem algumas doutrinas do Deus terror — que o agora é colheita de uma sementeira infeliz, e que ele está tendo a opção de superar o drama ao invés de entregar-se ao suicídio, uma opção cujas conseqüências serão muito mais funestas.
João Neves: — Diga-nos uma postura adequada a assumir diante das pessoas que se vêem assinaladas por desvios da sexualidade, conflitadas com essa problemática.
Divaldo: — A postura da bondade, mas não da intimidade; compreensão, mas não conivência; espírito fraternal, mas sem estímulo ao prosseguimento do comportamento que não corresponde à ética estabelecida pela Doutrina Espírita.
O indivíduo tem direito à sua opção sexual ou a qualquer outra, pois este é seu livre-arbítrio, mas não tem o de nos obrigar a concordar com ele, de exigir que estejamos ao seu lado, a fim de que tenha uma escusa para continuar no vício.
A proposta do Espiritismo é erguer, jamais de contribuir para que se venha permanecer numa atitude cômoda, sem esforço, e de grandes prejuízos para o ser espiritual que somos, na jornada carnal em que estamos.
A continência e a fidelidade aos outros; o que não gostaríamos que nos fizessem, não lhes façamos.
Assim, a melhor atitude para acabar com o erro, é a conservação da virtude.
O melhor caminho para fazer cessar a agressividade social, é a paz de espírito, que luariza a violência e modifica a estrutura do agressor.
Seja qual for, portanto, o tipo de desvio do comportamento sexual, moral, ético, espiritual, que nos seja apresentado, a nossa atitude é terapêutica, sem conivência, repito, sem anuência, sem reproche, porque o indivíduo tem o direito de fazer da sua vida o que lhe aprouver; mas temos o dever de mostrar lhe
o caminho correto que deve seguir.
José Ferraz: — É recomendável sugerir tratamentos médico ou psicológico para o atendido? Em que circunstâncias?
Divaldo: — Quando o paciente traz um problema na área da saúde, a primeira pergunta deve ser: — Está recebendo assistência médica? — Porque
o Espiritismo não é uma Doutrina que combate a Medicina, como muita gente pensa, e como durante um largo período os médicos supuseram, face ao comportamento irrelevante de alguns indivíduos que se
diziam espíritas ou curadores e ficariam melhor colocados como curandeiros.
Allan Kardec escreveu que: “O Espiritismo marcha ao lado do progresso, aceita tudo quanto ele comprova, mas não se detém onde a Ciência pára, porque a Ciência estuda os efeitos e o Espiritismo remonta às causas”.
A função do Espiritismo não é curar corpos, mas animar o homem, a fim de que se autocure espiritualmente, e a saúde seja-lhe uma conseqüência da própria transformação moral.
Daí, é perfeitamente válido, e mesmo compreensÍvel, que o atendente
pergunte: — Tem recebido assistência médica? — quando o mesmo se
encontre enfermo — e dizer-lhe mais: — Não abandone o seu médico, porque o Espiritismo irá também ajudá-lo, através dele, a resolver o problema.
Nos casos de natureza psicológica, nos distúrbios comportamentais, nos
transtornos neuróticos e psicóticos, é justo que se pergunte também: — Já
consultou o especialista? — Porque pessoas há, que ficam muito magoadas
quando falamos as palavras psiquiatra e psicólogo.
Se ele indagar: — De que especialidade?
Responder-se-á: — Do problema que o está afligindo: o psicólogo, o
psicanalista, o psiquiatra, porque, hoje a Psiquiatria, a Psicologia e a
Psicanálise não têm somente a exclusiva finalidade de tratar doentes, mas de
evitar as doenças que lhes são pertinentes.
Sendo possível, todos deveremos, periodicamente,consultar um psicólogo, um psiquiatra. Da mesma forma como realizamos um “check-up” para o organismo fÍsico, deveríamos fazê-lo também para o
comportamental, o psicológico, o psíquico, evitando determinados distúrbios que começam sutilmente e que se podem agravar, até mesmo na área da senilidade, quando ultrapassamos determinada faixa de idade.
É válido que se sugira assistência médica, mesmo porque, em caso de agravamento do problema, ninguém pode culpar-nos de havermos negligenciado com os deveres da assistência especializada.
João Neves: No Atendimento Fraterno temos observado um medo acentuado nas criaturas humanas: medo de doença, medo da morte, medo de feitiço, medo de assumir compromissos mediúnicos em clima de
respeitabilidade. Fale-nos um pouco sobre isso.
Divaldo: — A desinformação é inimiga do progresso. A desinformação é pior do que a ignorância total, porque a informação equivocada, a meia verdade são mais perigosas do que a mentira. Infelizmente, grassa em nossos arraiais a meia verdade. Existem aqueles que se comprazem em transformar a mediunidade em um instrumento divinatório, O fato de ser médium dar-lhe-ia o
poder de saber tudo, de entender tudo e de resolver tudo. E uma meia verdade, O médium, como o nome diz, é instrumento, aquele que se encontra no meio.
Quando assimila a informação de que se faz objeto, torna-se instrumento lúcido; quando apenas transmite sem consciência, é instrumento automático que não lucra, que não se beneficia com a oportunidade de que desfruta.
Alguém, um dia, me disse: — Conversando com Chico Xavier, notei que ele é muito culto, que fala escorreitamente, que não comete erros gramaticais nem prosódicos, e que tem informações muito seguras; no entanto, dizem que ele tem apenas o curso primário.
Respondi-lhe: — É verdade. Ele fez o curso primário dentro da proposta convencional, mas consideremos que, desde criança, ele dialoga com os Mestres, os Espíritos nobres que vêm à Terra, e não apenas se expressando na língua brasileira, porque viveram aqui no país, mas também Espíritos de
escol nas áreas da Ciência, da Filosofia, das Artes... É toda uma existência de constante aprendizagem. Quando psicografa, filtra a mensagem dos Espíritos, depois a lê, a datilografa, relê, envia-a em livro, que termina por receber, voltando a inteirar-se do seu conteúdo. É natural que aprenda.
Ele não pode ser tão rústico quanto nós. Se aprendemos o que os Espíritos escrevem por seu intermédio, lendo-lhe os livros, é óbvio que ele próprio os lendo muitas vezes, conhece-os mais do que nós. Ademais, ele interroga aos Autores, que lhe apresentam adenda, que lhe trazem esclarecimentos mais complexos, e que lhe dizem coisas que não estão escritas. Desse modo, Chico
Xavier não é somente uma pessoa bem informada, é um sábio, porque oculta a sua sabedoria, evitando constranger a nossa ignorância.
É natural, portanto, que nesse trabalho do Atendimento Fraterno procuremos iluminar a própria consciência, quanto possível, oferecendo aos indivíduos uma visão qualitativa, principalmente do que a Doutrina Espírita é, do que lhes está reservado, para que, naturalmente, esclarecidos, mudem de comportamento para melhor.
Essa conquista iluminativa podemos haurir no estudo da Doutrina, na convivência com os Bons Espíritos, nos diálogos que mantemos uns com os
outros, e ademais, na sintonia permanente que deveremos preservar depois que o Atendimento Fraterno termina e vamos para casa.
José Ferraz: Como conduzir a orientação para uma senhora casada que adulterou e arrependeu-se; no entanto, o seu parceiro continua com a atitude persistente de dar continuidade à ligação irregular, inclusive, ameaçando-a de contar ao marido.
Divaldo: Todos desfrutamos do direito de errar, mas temos o dever de recuperarmo-nos. Se a pessoa não teve resistências e assumiu um compromisso extraconjugal, ao despertar do problema, que tome a atitude
rigorosa de interrompê-lo. O Evangelho fala com clareza que, caindo em si, Simão Pedro percebeu o grande erro de haver negado Jesus. Reabilitou-se entregando-Lhe toda a vida; e caindo em si, Maria de Magdala identificou oabismo em que se encontrava, e ergueu-se, tornando-se a grande mensageira
da ressurreição; e caindo em si, Judas não teve resistência, cometendo um crime pior: o suicídio...
A pessoa que caí em si, deve assumir as conseqüências do seu ato, e não voltar a tombar.
Não se trata de uma teoria; é uma terapia.
Se houver ameaça por parte do explorador, diga-se-lhe: - Muito bem, que a
cumpra, e se fique em paz, evitando-se prosseguir na fossa da degradação, pois que, o chantagista, além de venal, é perverso.
A mulher estava enganada e despertou, não mais entrando na sombra.
Nossos erros poderemos resgatá-los hoje, amanhã ou mais tarde. sempre é tempo de fazê-lo. Se o adúltero levar ao conhecimento do esposo, e ele cobrar, que ela tenha a lealdade de dizer: Infelizmente, é verdade até
determinado ponto; agora não é mais. — Tome ele a atitude que lhe convier,
porque ela já tomou a sua: mudar de vida para melhor, com o direito de reabilitar-se.
Se o ofendido a abandonar, o problema, agora, será dele.
Porque se esteja sob ameaça, não é justo continuar corrompendo-se mais.
João Neves: Como atender a uma pessoa que esteja no limiar entre a lucidez e o desequilíbrio? Têm acorrido à nossa Casa pessoas nas suas últimas resistências.
Divaldo: — Dizer que, quando queremos, podemos. Estimulá-la a mudar de paisagem mental.
Todo aquele que está fraquejando emocionalmente. fixa em demasia os seus conflitos, gerando uma psicosfera de autocompaixão. A autocompaixão é um drama tão grande, quanto a indiferença de sentimentos, porque, na autocomiseração o indivíduo somente vê a sua desgraça e não a contribuição dos valores que estão ao seu alcance, aguardando-o.
Na área da Psicologia, fala-se que há uma tendência muito maior de conservar a tristeza do que a alegria, a dor ao invés do bem-estar. E um comportamento masoquista.
As nossas alegrias são muito rápidas e as nossas tristezas muito demoradas, porque nós gostamos mais da tristeza. As nossas alegrias parecem que não nos saciam e queremos mais. Determinada coisa de impacto
ou de felicidade, algumas horas depois, já não nos preenche tão plenamente.
Mas, uma contrariedade, um insucesso, marca-nos tão profundamente que ficamos a reneti-lo mentalmente. o que faz que se imprima cada vez mais em nosso inconsciente profundo.
Quando passarmos a coletar as alegrias e a não dar valor aos desconfortos, às vicissitudes, enfrentaremos os problemas com mais naturalidade. Achamos, porém, que vida feliz é a daquele que tem dinheiro,
que vive o prazer. Isto, no entanto, é uma vida sensualista, no sentido de gozo
incessante.
Na hora em que compreendermos que gozo não é felicidade, e que prazer é uma questão que diz respeito às sensações, sendo felicidade aquilo que afeta às emoções profundas, encararemos as vicissitudes como acidentes de percurso, porque a nossa meta é a plenitude.
Marcam-nos mais a tragédia, o sofrimento, do que a felicidade e a harmonia.
Observe-se que o indivíduo,...
Continuação .....

Prefácio do Livro Atendimento Fraterno -Joana de Angelis

15 Atendimento Fraterno
PREFÁCIO
Terapia do amor
As patologias da alma — violência, ódio, ciúme, ressentimento, amargura,
suspeita, insatisfação, dentre outras muitas — respondem por incontáveis
aflições que aturdem o ser humano.
Alma encarnada, nela se encontram as matrizes do bem como do mal em
que se compraz, dando campo ao seu desenvolvimento.
Como efeito, as alegrias e as dores que se exteriorizam somente podem
ser erradicadas quando trabalhadas nas suas raízes causais.
Interpenetrando todas as células e assenhoreando-se dos equipamentos
orgânicos, que passa a comandar, a alma ou Espírito encarnado imprime nos
elementos físicos os conteúdos vibratórios que lhe são peculiares, característicos
do seu estágio de evolução.
Os sofrimentos humanos de qualquer tipo são manifestações dos
distúrbios profundos que remanescem no ser espiritual, desarticulando os
sensores emocionais e a harmonia vibratória que vige nas células, o que
faculta a instalação das enfermidades.
O ser humano é, em qualquer situação, aquilo a que aspira, a irradiação do que sente, os interesses que cultiva.
Aferrado à conduta primitiva, reagindo mais por instinto do que agindo pela
razão, permite que as deficiências internas se expressem em forma de
problemas que se exteriorizam perturbadores.
O valioso contributo da Medicina acadêmica, quando não acompanhado
por um bom relacionamento médico-paciente, resulta incompleto para atingir as
causas excruciantes das doenças e angústias.
Certamente, na maioria das vezes, minora a dor, aparentemente
vencendo-a; mas, porque não alcança a alma enferma, eis que ela reaparece
sob outras expressões, produzindo sofrimentos.
O conhecimento do ser imortal, da sua preexistência ao berço e
sobrevivência ao túmulo, torna-se indispensável para qualquer cometimento
terapêutico em relação aos problemas e dores humanos.
Por isso mesmo, a terapia do amor é de vital importância, envolvendo o
paciente em confiança e ternura, ao mesmo tempo esclarecendo-o quanto à
sua realidade e constituição espiritual.
*
O atendimento fraterno tem como objetivo primacial receber bem e orientar
com segurança todos aqueles que o buscam.
Não se propõe a resolver os desafios nem as dificuldades, eliminar as
doenças nem os sofrimentos, mas propor ao cliente os meios hábeis para a
própria recuperação.Apoiando-se nos postulados espíritas, o atendimento fraterno abre
perspectivas novas e projeta luz naqueles que se debatem nos dédalos das
aflições.
Mediante conversação agradável, evitando-se atitudes de confessionário,
o atendente fraternal deve saber desviar os temas que incidem nos vícios da
queixa, da lamentação, da autopunição, demonstrando que o momento de
libertação e paz está chegando, mas a ação para o êxito depende do próprio
paciente, que deve iniciar, a partir desse momento, o processo de autoterapia.
Concomitantemente, o atendimento fraterno, em razão dos propósitos que
persegue e das circunstâncias em que ocorre, faculta aos Espíritos nobres
adequado socorro ao cliente, que deverá permanecer receptivo ao mesmo.
Nessa ocasião, tem início a ação fluídica, o auxílio bio-energético, a
inspiração, que lhe propiciarão a mudança de clima mental, de psicosfera
habitual, facultando-lhe a transformação interior para melhor e a rearmonização
da alma que interagirá na aparelhagem orgânica.
Preparar-se bem, psicológica e doutrinariamente, faz-se imprescindível
para o desempenho correto do mister a que o atendente fraterno deseja
dedicar-se.
Ao lado desses requisitos cabe-lhe desenvolver o sentimento de amor,
embora vigiando-se para evitar qualquer tipo de envolvimento emocional,
jamais esquecendo a fraternidade gentil e caridosa como recurso hábil para a
desincumbência da tarefa a que se propõe.
O atendimento fraterno na Casa Espírita é de vital importância, para que todo aquele que lhe busque a ajuda, seja orientado com
equilíbrio, guiando-o para o labor de auto-iluminação.
*
Encontramos, neste livro, diretrizes sábias e cuidadosamente
estabelecidas para um correto desempenho da atividade fraternal no
atendimento aos necessitados e desconhecedores da Doutrina Espírita,
oferecendo-lhes apoio e esclarecimentos lúcidos para o autodescobrimento, a
autolibertação.
Confiamos que esta contribuição dos companheiros estudiosos que
constituem o Projeto Manoel Philomeno de Miranda, atinja a finalidade a que se
destina, auxiliando aos trabalhadores sinceros do Movimento Espírita, que se
candidatam a ajudar, na Instituição onde mourejam.
Salvador, 15 de dezembro de 1997
Joanna de Ângelis

ANTE O GRANDE RENOVADOR

ANTE O GRANDE RENOVADOR


Senhor, lembrando a Tua crucificação entre malfeitores, sacrificado em Teu ministério de amor universal, ouvimos apelos de vários setores religiosos do mundo presente, invocando-Te o nome para incentivar os movimentos tumultuários da renovação política que convulsiona o Planeta...

Asseguram-Te a posição de maior revolucionário de todos os tempos. Afirmam que abalaste os fundamentos sociais da ordem humana, que alteraste o curso da civilização, que transformaste os povos da Terra,

Quem Te negará, Senhor, a condição de Embaixador Celeste? Quem desconhecerá Teu apostolado de redenção?

Entretanto, divulgando a mensagem da Boa-Nova, jamais insultaste o governo estabelecido...

Amigo de todos os sofredores e necessitados, nunca congregaste os infelizes em sinistras aventuras de ódio ou indisciplina. Aproximavas-Te dos desamparados, curando-lhes as enfermidades, ensinando-lhes o caminho do bem, estendendo-lhes mãos benfeitoras e diligentes. Dirigindo-Te à massa anônima e desditosa, em nome do Eterno Pai, não preconizaste movimentos armados de desrespeito às autoridades legalmente constituídas. Ao invés do incitamento à revolta, recomendavas que a Lei de Moisés fosse respeitada, que os sacerdotes dignos fossem honrados, asseverando que o Reino de Deus não surgiria com aparências exteriores e, sim, com a elevação espiritual do homem de qualquer raça ou nacionalidade, sinceramente interessado em aproveitar os dons divinos.

Expondo princípios superiores ao coração popular, não disputaste lugar saliente, junto ao romano dominador, a pretexto de patrocinar a liberdade e, sim, aconselhaste acatamento a César com a obrigação de resgatar-se o tributo que se lhe devia.

Erguendo novas colunas no templo da fé viva, conclamando mãos limpas e corações puros ao serviço do Céu, não desprezaste a legião dos pecadores e criminosos, que se abeiravam de Ti, sedentos de transformação para a tarefa bendita... Não falaste a eles de uma tribuna dourada, acentuando fronteiras de separação. Comungaste com todos no caminho da vida, a pleno chão, abraçando leprosos e delinqüentes, avarentos e rixosos, bonecas e mulheres desventurados. Não impunhas, no entanto, qualquer compromisso que envolvesse a administrarão dos interesses públicos, nem traçavas, com astutas palavras, qualquer insinuarão ao desespero. Pedias tão somente renovassem o coração para que a Luz do Reino lhes penetrasse as profundidades do ser.

Sustentando o sublime ideal de obediência a Deus, nunca ordenaste morte ou punição aos companheiros menos corajosos. Suportaste as fragilidades dos discípulos mais queridos, confiando no futuro, certo de que se podiam faltar a Ti, nos instantes mais duros, não falhariam para com o Pai, nas grandes horas, desde que não te desanimasses na semeadura da fraternidade e proteção, pelo esforço da palavra e do exemplo no círculo educativo.

Se confiavas num mundo vasto, onde reinaria a solidariedade nas relações humanas, jamais tentaste apressar diretrizes absolutas pelo império da força. Começaste sempre a propaganda dos propósitos divinos em Ti mesmo, revelando o próprio coração, cultivando o trabalho e a esperança, com suprema fidelidade ao Poder Mais Alto que marcou estação adequada à semente e à germinação, à flor e ao fruto. Em momento algum mobilizaste a violência, alegando necessidades do serviço superior e, em todo o Teu apostolado, jamais desdenhaste o menor ensejo de amparar o próximo, edificando-o.

Para isso, abraçaste os velhos e os doentes, os deserdados e os tristes, os aleijados e as criancinhas...

Nunca disseste, Senhor, que os discípulos deveriam dominar em Roma para serem úteis na Judéia, nem prometeste primeiros lugares, nas Estradas da Glória, aos companheiros diletos, ainda mesmo em se tratando de João e Tiago que Te foram carinhosos amigos. Mas garantiste a vitória sublime a todos os homens que se fizessem devotados servos dos semelhantes por amor ao Pai Celestial.

Invariàvelmente, solicitaste socorro e proteção, desculpas e auxílios para os que Te perseguiam, gratuitamente, irônicos e ingratos...

Tua ordem era de amor e paz para que todo espírito se converta ao Infinito Bem...

Hoje, contudo, improvisam-se guerras sanguinolentas e sobram discórdias em Teu nome. Há companheiros que disputam situações de relevo, a fim de servirem à Tua causa, como se o sacrifício pessoal não constituísse a Tua senha na obra redentora. Outros Te recordam os ensinos para justificar a inconformação e a desordem.

Sim, foste, em verdade, o Grande Renovador, Transformaste os séculos e as nações, trabalhando e perdoando, ajudando e servindo, esperando e amando sempre!...

Um dia, na praça pública, quando ficaste a sós com humilde e infortunada irmã, que se vira fustigada pelo populacho ignorante, perguntaste -lhe, emocionadamente:

– Mulher, onde estão os perseguidores que te acusam?

Hoje, Mestre, lamentando embora o tempo que também perdi na Terra, iludido e envenenado quanto os outros homens, lembrando-Te ainda na cruz afrontosa, sozinho em Tua exemplificação de amar e renúncia, abnegação e martírio, ouso interrogar-Te, com as lágrimas de meu profundo arrependimento :

– Senhor, onde estão os renovadores que Te acompanham?



pelo Espírito Irmão X - Do livro: Luz Acima, Médium: Francisco Cândido Xavier.

Dissertações espíritas - Todos os Santos



(
Paris, 1º de novembro de 1862 - 
Médium: Sr. Perchet, sargento do 40º de linha, caserna do príncipe Eugênio; membro da Sociedade de Paris)

(Publicado na Revista Espírita de dezembro de 1862)
  
I

Meu caro irmão, neste dia de comemoração dos mortos, sinto-me feliz por poder entreter-me contigo. Não imaginas como é grande o prazer que experimento. Chama-me, pois, com mais frequência, e ambos lucraremos.
Aqui nem sempre posso vir a ti, porque muitas vezes estou junto às minhas irmãs, especialmente junto à minha filhinha, que quase não deixo, pois pedi a missão de ficar junto a ela. Não obstante, posso com frequência responder ao teu chamado e será sempre uma felicidade ajudar-te com meus conselhos.
Falemos da festa de hoje. Nesta solenidade cheia de recolhimento, que aproxima o mundo visível do invisível, há felicidade e tristeza.
Felicidade, porque une em piedoso sentimento os membros dispersos da família. Neste dia a criança vem junto ao seu túmulo encontrar sua terna mãe, que molha a pedra sepulcral com suas lágrimas. O anjinho a abençoa e mistura seus votos aos pensamentos que caem, gota a gota, com as lágrimas da mãe querida. Como são doces ao Senhor essas castas preces temperadas na fé e na lembrança! também sobem elas até os pés do Eterno, como o suave perfume das flores e, do alto do Céu, Deus lança um olhar de misericórdia sobre este pequeno recanto da Terra e envia um de seus bons Espíritos para consolar esta alma sofredora e lhe dizer: “Consolai-vos, boa mãe. Vosso filho querido está na mansão dos bem-aventurados, vos ama e vos espera.”
Eu disse: dia de felicidade, e o repito, porque aqueles a quem a religião da lembrança leva os da Terra a orar pelos que se foram, sabem que não é em vão, e que um dia irão rever os seres amados, dos quais se acham momentaneamente separados. Dia de felicidade, porque os Espíritos veem com alegria e ternura aqueles que lhes são caros merecerem, pela confiança em Deus, vir em breve participar da felicidade de que eles gozam.
Nesse dia de Todos os Santos, os mortos que corajosamente sofreram todas as provas impostas em vida, que se despojaram das coisas mundanas e educaram os filhos na fé e na caridade, esses Espíritos, repito, de boa vontade vêm associar-se às preces dos que deixaram, e lhes inspiram a firme vontade de marchar com perseverança pelo caminho do bem. Crianças, pais ou amigos, ajoelhados junto aos túmulos, experimentam íntima satisfação, porque têm consciência que os restos que lá estão, sob a lápide, não passam de uma lembrança do ser que eles encerraram e que agora se acha liberto das misérias terrenas.
Meu caro irmão, esses são os felizes. Até amanhã.

II

Meu caro irmão, fiel à minha promessa, venho a ti. Como havia dito ao deixar-te, ontem à noite, fui fazer uma visita ao cemitério. Lá examinei atentamente os vários Espíritos sofredores. Eles causam pena. Esse espetáculo chocante arrancaria lágrimas do mais duro coração.
Contudo, em grande número essas almas são aliviadas pelos vivos e pela assistência dos bons Espíritos, principalmente quando se arrependeram das faltas terrenas e fazem esforços por se despojarem de suas imperfeições, causa única de seus sofrimentos. Agora eles compreendem a sabedoria, a bondade, a grandeza de Deus, e pedem o favor de novas provas para satisfazerem à justiça divina, expiar e reparar suas faltas e conquistar um futuro melhor.
Orai, pois, caros amigos, de todo o vosso coração, por esses Espíritos arrependidos que acabam de ser esclarecidos por uma centelha de luz. Até agora eles não haviam acreditado nas delícias eternas porque, em sua punição, o cúmulo do tormento era não poderem esperar. Julgai sua alegria quando se rompeu o véu das trevas e o anjo do Senhor lhes abriu os olhos feridos de cegueira à luz da fé.
Eles são felizes, entretanto, em geral não têm ilusões quanto ao futuro. Muitos dentre eles sabem que devem sofrer terríveis provas. Assim, reclamam insistentemente as preces dos vivos e a assistência dos bons Espíritos, a fim de poderem suportar com resignação a tarefa difícil que lhes será imposta.
Digo-vos, ainda, e nunca seria demasiado repeti-lo para bem vos convencer desta grande verdade: Orai do fundo do coração por todos os Espíritos que sofrem, sem distinção de casta ou seita, porque todos os homens são irmãos e se devem mútuo auxílio.
Espíritas fervorosos, sobretudo vós, que conheceis a situação dos Espíritos sofredores e sabeis apreciar as fases da vida; vós, que conheceis as dificuldades que eles têm a vencer, vinde em seu auxílio. É uma bela caridade orar pelos pobres irmãos desconhecidos, muitas vezes por todos esquecidos, e cujo reconhecimento não sabeis avaliar, quando se veem assistidos. A prece é para eles o que o orvalho é para a terra calcinada pelo calor.
Figurai um desconhecido, caído em qualquer obscuro desvio de um caminho, em noite escura. Seus pés estão feridos pela longa caminhada. Ele sente o aguilhão da fome e uma sede ardente. Aos sofrimentos físicos juntam-se todas as torturas morais. O desespero está a dois passos. Em vão ele solta gritos dilacerantes aos quatro ventos, mas nenhum eco amigo responde ao apelo desesperado.
Então! Imaginai que no instante em que essa infeliz criatura chegou aos extremos do sofrimento, mão compassiva vem pousar suavemente em seu ombro e lhe trazer o socorro que sua situação reclama. Imaginai, antão, se possível, o contentamento desse homem, e tereis uma pálida ideia da felicidade dada pela prece aos Espíritos infelizes, que suportam a angústia da punição e do isolamento. Eles vos serão eternamente agradecidos porque, tende certeza, no mundo dos Espíritos não há ingratos como na vossa Terra.
Eu disse que Todos os Santos é uma solenidade surgida da tristeza, realmente uma grande tristeza, pois também chama a atenção para a classe desses Espíritos que, na existência terrena, se votaram ao materialismo, ao egoísmo; que não quiseram reconhecer outros deuses senão as miseráveis vaidades de seu mundo ínfimo; que não temeram empregar todos os meios ilícitos para aumentar suas riquezas e muitas vezes jogar gente honesta na miséria. Entre esses se acham os que interromperam a existência por uma morte violenta, bem como aqueles que durante sua vida arrastaram-se na lama da impureza.
Meu caro irmão, que horríveis tormentos para todos esses! É exatamente como diz a Escritura: “Haverá choro e ranger de dentes”. Eles serão mergulhados no abismo profundo das trevas. Esses infelizes são vulgarmente chamados os danados e, posto seja mais exato chamá-los os punidos, nem por isso sofrem menos as terríveis torturas que se atribuem aos danados em meio às chamas. Envoltos nas mais espessas trevas de um abismo que lhes parece insondável, posto não seja circunscrito, como vos ensinam, experimentam sofrimentos morais indescritíveis, até abrirem o coração ao arrependimento.
Alguns, por vezes, ficam durante séculos nesse estado, sem poderem prever o fim de seus tormentos, Assim, eles se dizem condenados por toda a eternidade. Essa opinião errônea, durante muito tempo encontrou guarida entre vós. É um erro grave, porque, mais cedo ou mais tarde, esses Espíritos se abrem ao arrependimento e então, Deus, apiedado de suas desgraças, lhes envia um anjo que lhes dirige palavras consoladoras e lhes abre um caminho tanto mais largo quanto mais tiverem para ele sido feitas preces aos pés do Eterno.
Irmão, vês que as preces são sempre úteis aos culpados, e se elas não alteram os desígnios imutáveis de Deus, nem por isso dão menos alívio aos Espíritos sofredores, trazendo-lhes o suave pensamento de ainda se acharem na lembrança de almas piedosas. Assim, o prisioneiro sente o coração pular de alegria quando, através de suas tristes grades, percebe o rosto de algum parente ou amigo que não esqueceu sua desgraça.
Se o Espírito sofredor for muito endurecido, muito material, para que a prece lhe atinja a alma, um Espírito puro a recolhe como um aroma precioso e a deposita nas ânforas celestes, até o dia em que elas puderem servir ao culpado.
Para que a prece dê frutos, não basta balbuciar as palavras, como faz a maioria das criaturas. A única prece agradável ao Senhor é a que parte do coração, a única que é considerada, e que alivia os Espíritos sofredores.
De tua irmã que te ama,
Marguerite


Pergunta (feita na Sociedade):

Que pensar da seguinte passagem desta comunicação, onde foi dito: “Eu vos asseguro que em nosso mundo não há ingratos como na vossa Terra?” Sendo as almas dos homens Espíritos encarnados, trazem consigo seus vícios e suas virtudes. As imperfeições dos homens vêm das imperfeições do Espírito, como suas qualidades vêm das qualidades adquiridas. Segundo essa ideia, e considerando-se que se encontram nos Espíritos os mais ignóbeis vícios, não se compreenderia que não se pudesse encontrar a ingratidão que frequentemente se encontra na Terra.
Resposta (por intermédio do Sr. Perchet):

Sem dúvida, há ingratos no mundo dos Espíritos, e podeis colocar em primeiro plano os obsessores e os maldosos, que fazem todos seus esforços por vos inculcar seus pensamentos perversos, a despeito do bem que lhes façais, orando por eles. Sua ingratidão, entretanto, é apenas momentânea, porque a hora do arrependimento soa para eles, mais cedo ou mais tarde. Então seus olhos se abrem à luz e seus corações também se abrem para sempre ao reconhecimento. Na Terra não é assim, e a cada passo encontrareis homens que, malgrado todo o bem que lhes façais, não pagam, até o fim, senão com a mais escura ingratidão.
A passagem que provocou essa observação não é obscura senão porque lhe falta extensão. Eu só encarava a questão do ponto de vista dos Espíritos abertos ao arrependimento, e aptos, por isso mesmo, a recolher imediatamente os frutos da prece. Estando esses Espíritos comprometidos com boa via, e não podendo o Espírito retrogradar, é claro que neles não poderia extinguir-se o reconhecimento.
Para não haver confusão, redigirei assim a frase que suscitou a observação: “Eles vos serão eternamente reconhecidos porque, tende certeza, entre os Espíritos, aqueles a quem tiverdes levado ao bom caminho não poderiam ser ingratos”.

Marguerite

OBSERVAÇÃO: Estas duas comunicações, como muitas outras de moralidade não menos elevada, foram obtidas pelo Sr. Perchet em sua caserna, onde ele conta com vários camaradas que partilham de suas crenças espíritas e a estas conformam sua conduta. Perguntaremos aos detratores do Espiritismo se esses militares receberiam melhores conselhos de moral no cabaré. Se aí está a linguagem de Satã, ele se fez eremita. É verdade que ele está muito velho!
Aproveitando o ensejo, perguntaremos ao Sr. Tony, o espirituoso e sobretudo muito lógico jornalista de Rochefort, que acredita que o Espiritismo é um dos males saídos da caixa de Pandora e uma dessas coisas malsãs estudadas pela higiene pública e a moral, nós lhe perguntaremos, íamos dizendo, o que há de malsão e de contrário à higiene nessa comunicação, e se esses militares perderam a moralidade e a saúde, ao renunciarem aos maus lugares em favor da prece.

MAMÃE, AQUI ESTOU




(Revista Espírita, janeiro de 1858 - Evocações particulares)

A Sra*** havia perdido, meses antes, a filha única, de catorze anos, objeto de toda a sua ternura e muito digna de seus lamentos, pelas qualidades que prometiam torná-la uma senhora perfeita. A moça falecera de longa e dolorosa enfermidade. Inconsolável com a perda, dia a dia a mãe via sua saúde alterar-se e repetia incessantemente que em breve iria reunir-se à filha. Informada da possibilidade de se comunicar com os seres de além-túmulo, a Sra*** resolveu procurar, na conversa com a filha, um alívio para a sua pena. Uma senhora de seu conhecimento era médium, mas pouco afeitas uma e outra a semelhantes evocações, principalmente numa circunstância tão solene, pediram-me assistência. Éramos apenas três: a mãe, a médium e eu. Eis o resultado dessa primeira sessão.

A mãe: Em nome de Deus Todo-Poderoso, Espírito de Júlia, minha filha querida, peço-te que venhas, se Deus o permitir.
Júlia: Mamãe, aqui estou!
A mãe: És tu, minha filha, que me respondes? Como posso saber que és tu?
Júlia: Lili.
(Era o apelido familiar, dado à moça em sua infância. Nem a médium o sabia, nem eu, pois há muitos anos só a chamam Júlia. Com este sinal, a identidade era evidente. Não podendo dominar sua emoção, a mãe rompeu em soluços).
Júlia: Mãe, por que te afliges? Sou feliz, muito feliz. Não sofro mais e vejo-te sempre.
A mãe: Mas eu não te vejo! Onde estás?
Júlia: Aqui ao teu lado, com a minha mão sobre a Sra. X (a médium) para que escreva o que te digo. Vê a minha letra (a letra era realmente a da moça).
A mãe: Dizes: minha mão. Então tens corpo?
Júlia: Não tenho mais o corpo que tanto me fez sofrer, mas tenho a sua aparência. Não estás contente porque não sofro mais e porque posso conversar contigo?
A mãe: Se eu te visse, te reconheceria, então?
Júlia: Sim, sem dúvida; e já me viste muitas vezes em teus sonhos.
mãe: Com efeito eu te revi nos meus sonhos, mas pensei que fosse efeito da imaginação, uma lembrança.
Júlia: Não. Sou eu mesma que estou sempre contigo e te procuro consolar; fui eu quem te inspirou a ideia de me evocar. Tenho muitas coisas a te dizer. Desconfia do Sr.***. Ele não é sincero.
(Esse senhor, conhecido apenas da mãe, citado assim espontaneamente, era uma nova prova de identidade do Espírito que se manifestava).
mãe: Que pode fazer contra mim o Sr.***?
Júlia: Não te posso dizer. Isto me é vedado. Posso apenas te advertir que desconfies dele.
mãe: Estás entre os anjos?
Júlia: Oh! ainda não. Não sou bastante perfeita.
mãe: Entretanto, não te conhecia nenhum defeito. Eras boa, meiga, amorosa e benevolente para com todos. Então isto não basta?
Júlia: Para ti, mãe querida, eu não tinha defeitos, e eu o acreditava, pois mo dizias tantas vezes! Mas agora vejo o que me falta para ser perfeita.
mãe: Como adquirirás essas qualidades que te faltam?
Júlia: Em novas existências, que serão cada vez mais felizes.
mãe: É na Terra que terás novas existências?
Júlia: Nada sei a respeito.
mãe: Desde que não fizeste o mal em tua vida, por que sofreste tanto?
Júlia: Prova! Prova! Eu a suportei com paciência, pela minha confiança em Deus. Hoje sou muito feliz por isto. Até breve, querida mamãe!

Ante fatos como este, quem ousará falar do nada do túmulo, quando a vida futura se nos revela, por assim dizer, palpável? Essa mãe, minada pelo desgosto, experimenta hoje uma felicidade inefável em poder conversar com a filha; entre elas não há mais separação; suas almas se confundem e se expandem na intimidade espiritual, pela troca de seus pensamentos.
Apesar da discrição em que envolvemos este relato, não o teríamos publicado se não tivéssemos tido autorização formal. Aquela mãe nos dizia: Possam todos quantos perderam suas afeições terrenas experimentar a mesma consolação que experimento!
Acrescentaremos apenas uma palavra aos que negam a existência dos bons Espíritos. Perguntaremos como poderiam provar que o Espírito desta jovem era um demônio malfazejo!


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A REGENERAÇÃO

Dissertações Espíritas

(MARCHA DO PROGRESSO)
(Paris, 20 de junho de 1869)
Desde longos séculos as humanidades prosseguem
uniformemente sua marcha ascendente através do tempo e do
espaço. Cada uma delas percorre, etapa por etapa, a rota do
progresso, e se diferem pelos meios infinitamente variados que a
Providência dispôs em suas mãos, são chamadas a se fundirem
todas, a se identificarem na perfeição, já que todas partem da
ignorância e da inconsciência de si mesmas para se aproximarem
indefinidamente do mesmo fim: Deus; para alcançarem a felicidade
suprema pelo conhecimento e pelo amor.
Há universos e mundos, como povos e indivíduos. As
transformações físicas da terra, que sustenta o corpo, podem
dividir-se em duas formas, assim como as transformações morais e
intelectuais que alargam o espírito e o coração.
A terra se modifica pela cultura, pelo arroteamento e
pelos esforços perseverantes dos seus possuidores e interessados;
mas, a esse aperfeiçoamento incessante devemos juntar os grandes
cataclismos periódicos, que são, para o regulador supremo, o que
são a enxada e a charrua para o lavrador.
As humanidades se transformam e progridem pelo
estudo perseverante e pela permuta de pensamentos. Instruindose
e instruindo os outros, as inteligências se enriquecem, mas os
cataclismos morais que regeneram o pensamento são necessários
para determinar a aceitação de certas verdades.
Assimilam-se sem abalos e progressivamente as
conseqüências de verdades aceitas. É preciso um concurso imenso
de esforços perseverantes para que se aceitem novos princípios.
Marcha-se lentamente e sem fadiga sobre um caminho plano, mas
é necessário reunir todas as suas forças para transpor um atalho
agreste e destruir os obstáculos que surgem. É então que, para
avançar, deve o homem quebrar necessariamente a corrente que o
liga ao pelourinho do passado, pelo hábito, pela rotina e pelo
preconceito; a não ser assim, o obstáculo fica sempre de pé, e ele
girará num círculo sem saída até que tenha compreendido que, para
vencer a resistência que obstrui a rota do futuro, não basta quebrar
armas envelhecidas e danificadas: é indispensável criar outras.
Destruir um navio que faz água por todos os lados,
antes de empreender uma travessia marítima, é medida de
prudência, mas será ainda necessário, para realizar a viagem, que se
criem novos meios de transporte. Entretanto, eis onde se encontra
atualmente certo número de homens de progresso, tanto no
mundo moral e filosófico, quanto nos outros mundos do
pensamento! Minaram tudo, tudo atacaram! As ruínas se espalham
por toda parte, mas eles ainda não compreenderam que sobre tais
ruínas é preciso edificar algo de mais sério que um
livre-pensamento e uma independência moral, independentes
apenas da moral e da razão. O nada em que se apóiam não é uma
palavra muito profunda somente por ser vazia. Assim como Deus já
não cria os mundos do nada, o homem não pode criar novas crenças
sem bases. Estas bases estão no estudo e na observação dos fatos.
A verdade eterna, como a lei que a consagra, não espera
para existir a aceitação dos homens; ela é e governa o Universo, a
despeito dos que fecham os olhos para não a ver. A eletricidade
existia antes de Galvani e o vapor antes de Papin, como a nova
crença e os princípios filosóficos do futuro existiam antes que os
publicistas e os filósofos os tivessem consagrado.
Sede pioneiros perseverantes e infatigáveis!... Se vos
chamarem de loucos como o fizeram a Salomão de Caus, se vos
repelirem como Fulton, marchai sempre, porque o tempo, esse juiz
supremo, saberá tirar das trevas os que alimentam o farol que deve,
um dia, iluminar a Humanidade inteira.
Na Terra, o passado e o futuro são os dois braços de
uma alavanca que tem no presente o seu ponto de apoio. Enquanto
a rotina e os preconceitos tiverem curso, o passado estará no
apogeu. Quando a luz se faz, a báscula balança, e o passado, que já
escurecia, desaparece para dar lugar ao futuro que irradia.
Allan Kardec

Um Espírito que não se acredita morto


Revista Espírita, dezembro de 1859
Um dos nossos assinantes, do departamento de Loiret, ótimo médium escrevente, escreveu o que se segue sobre vários fatos de aparição que lhe foram pessoais.
"Não querendo deixar no esquecimento nenhum dos fatos que vêm em apoio da Doutrina Espírita, venho comunicar-vos novos fenômenos, dos quais sou a testemunha e o médium, e que, como o reconhecereis, concordo perfeitamente com tudo o que publicastes em vossa Revista sobre os diversos estados dos Espíritos depois de sua separação do corpo.
"Há cerca de seis meses, ocupava-me de comunicações Espíritas com várias pessoas, quando me veio o pensamento de perguntar se, entre os assistentes, encontrava-se algum médium vidente. O Espírito respondeu afirmativamente e, designando-me, acrescentou: Tu já o és, mas num grau fraco, e somente durante teu sono; mais tarde teu temperamento se modificará de tal forma, que te tornarás um excelente médium vidente, mas pouco a pouco, e primeiro somente durante o sono.
"No curso deste ano, tivemos a dor de perder três de nossos parentes. Um deles, que era meu tio, apareceu-me, algum tempo depois de sua morte, durante meu sono; teve comigo uma longa conversa, e conduziu-me ao lugar que habita, e que me disse ser o último degrau conduzindo à morada da felicidade eterna. Tive a intenção de dar-vos a explicação do que admirei nessa morada incomparável, mas tendo consultado meu Espírito familiar a esse respeito, respondeu-me: A alegria e a felicidade que experimentastes poderiam influenciar o relato que farias das maravilhosas belezas que admiraste, e tua imaginação poderia criar coisas que não existem. Espera que teu Espírito esteja mais calmo. Detive-me, pois, para obedecer ao meu guia, e não me ocuparei senão de duas outras visões que são mais positivas. Reportar-vos-ei somente as últimas palavras de meu tio. Quando admirava aquilo que me era permitido ver, ele me disse: Vais agora retornar à Terra. Eu lhe supliquei conceder-me ainda alguns instantes. -Não, disse, são cinco horas, e deves retomar o curso de tua existência. No mesmo instante despertei, e cinco horas soaram no meu relógio.
"Minha segunda visão foi a de um dos dois parentes falecidos este ano. Era um homem virtuoso, amável, bom pai de família, bom cristão, e, embora doente há muito tempo, morreu quase que subitamente, e talvez no momento em que menos nisso pensava. Seu rosto tinha uma expressão indefinível, sério, triste e feliz ao mesmo tempo. Ele me disse: Expio minhas faltas; mas tenho uma consolação, continuo a viver no meio de minha mulher e de meus filhos, e lhes inspiro bons pensamentos; orai por mim.
"A terceira visão é mais característica, e me foi confirmada por um fato material; é a do terceiro parente. Era um excelente homem, mas vivo, violento, imperioso com os domésticos, e sobretudo dando outra medida aos bens deste mundo; demasiado cético, ocupava-se mais desta vida do que da futura. Algum tempo depois de sua morte, veio à noite e se pôs a sacudir minhas cortinas com impaciência, como para me despertar. Como, disse-lhe, estás? -Sim; vim procurá-lo, porque és o único que pode responder-me. Minha mulher e meus filhos partiram para Orléans; quis segui-los, mas ninguém quis me obedecer. Disse a Pierre para fazer meus pacotes, mas não me escutou; ninguém deu-me atenção. Se pudesses vir colocar os cavalos noutra viatura e fazer meus pacotes, me prestarias grande serviço, porque poderia ir reencontrar minha mulher em Orléans. - Mas não pode fazê-lo tu mesmo? - Não, porque não sou nada elevado', desde o sono que experimentei durante minha doença, mudei muito; não sei mais onde estou; tenho um pesadelo. - De onde vens? - De B... - É do castelo? - Não! Respondeu-me com um grito de horror, e levando a mão sobre a fronte, é do cemitério! - Depois de um gesto de desespero, acrescentou: Meu caro amigo, diga a todos os meus parentes para orarem por mim, porque sou muito infeliz! - A essas palavras foi-se, e o perdi de vista. Quando ele veio procurar-me e sacudir minhas cortinas com impaciência, sua figura exprimia uma horrível alucinação. Quando lhe perguntei o que fizera para agitar minhas cortinas, ele que nada podia levantar, respondeu-me bruscamente: Com o meu sopro!
"No dia seguinte soube que sua mulher e seus filhos, efetivamente, haviam partido para Orléans."
Esta última aparição é sobretudo notável naquilo que a ilusão, que leva certos Espíritos a se crerem ainda vivos, prolongou-se neste bem mais tempo do que em casos análogos. Muito comumente, ela não dura senão alguns dias, ao passo que aqui, depois de mais de três meses, ele não se acreditava ainda morto. De resto, a situação é perfeitamente idêntica à que observamos muitas vezes. Ele vê tudo como durante sua vida; quer falar, e fica surpreso por não ser escutado; ele vaga, ou crê vagar, em suas ocupações habituais. A existência do perispírito está aqui demonstrada de um modo marcante, abstração feita da visão. Uma vez que se crê vivo, ele se vê, pois, um corpo semelhante ao que deixou; esse corpo age como o outro o faria; para ele nada parece mudado; somente ainda não estudou as propriedades de seu novo corpo; ele o crê denso e material como o primeiro, e se espanta por nada poder levantar. Encontra, todavia, na sua situação, alguma coisa estranha da qual não se dá conta: crê estar sob o império de um pesadelo; toma a morte por um sono; é um estado misto entre a vida corpórea e a vida Espírita, estado sempre penoso e cheio de ansiedade, e que tem de um e de outro. Como dissemos alhures, é a conseqüência, quase constante, de mortes instantâneas, tais como as que ocorrem por suicídio, apoplexia, suplício, combate, etc.
Sabemos que a separação do corpo e do perispírito se opera gradualmente, e não de modo brusco; começa antes da morte, quando esta chega pela extinção natural das forcas vitais, seja pela idade, seja pela doença, e sobretudo naqueles que, quando vivos, pressentem seu fim, e se identificam pelo pensamento com sua existência futura, de tal sorte que no instante do último suspiro ela está quase completa. Quando a morte surpreende, de improviso, um corpo cheio de vida, a separação não começa senão neste momento, e não acaba senão pouco a pouco. Enquanto existir um laço entre o corpo e o Espírito, este estará na perturbação, e se entra bruscamente no mundo dos Espíritos, sente um abalo que não lhe permite reconhecer desde logo sua situação, não mais que as propriedades de seu novo corpo; é preciso que ele tente de algum modo, e é isso que o faz crer-se ainda deste mundo.
Além das circunstâncias de morte violenta, há outras que tornam mais tenazes os laços do corpo e do Espírito, porque a ilusão, da qual falamos, se observa igualmente em certos casos de morte natural, e é quando o indivíduo viveu mais da vida material do que da vida moral. Concebe-se que seu apego à matéria o retém ainda depois da morte, e prolonga assim a idéia de que nada tem a mudar para ele. Tal é o caso da pessoa que acabamos de falar.
Notemos a diferença que há entre a situação dessa pessoa e do segundo parente: um quer ainda comandar; crê ter necessidade de suas malas, de seus cavalos, de sua viatura, para ir reencontrar sua mulher; não sabe ainda que, como Espírito, pode fazê-lo instantaneamente, ou, melhor dizendo, seu perispírito é ainda tão material que ele o crê sujeito a todas as necessidades do corpo. O outro, que viveu a vida moral, que teve sentimentos religiosos, que se identificou com a vida futura, embora surpreendido com mais improviso que o primeiro, já está desligado; disse que vive no meio de sua família, mas sabe que é um Espírito; fala à sua mulher e aos seus filhos, mas sabe que é pelo pensamento; em uma palavra, não há mais ilusão, ao passo que o outro ainda está na perturbação e nas angústias. Ele tem de tal modo o sentimento da vida real, que viu sua mulher e seus filhos partirem, e que partiram com efeito no dia indicado, o que ignorava seu parente a quem apareceu. Por outro lado, notemos uma palavra muito característica de sua parte, e que pinta bem na sua posição. A esta pergunta: De onde vens? Respondeu primeiro pelo nome do lugar onde habitava; depois a esta É do castelo? Não! Disse com pavor, é do cemitério. Ora, isso prova uma coisa, é que, não estando completo o desligamento, uma espécie de atração existia, ainda, entre o Espírito e o corpo, o que fez dizer que veio do cemitério; mas nesse momento parece começar a compreender a verdade; a própria questão parece colocá-lo no caminho chamando sua atenção para os despejos, por isso pronunciou essa palavra com terror.
Os exemplos desta natureza são muito numerosos, e um dos mais tocantes é o do suicídio da Samaritana, que reportamos no nosso número de junho de 1858. Esse homem, evocado vários dias depois de sua morte, afirmava, também, estar ainda vivo, e dizia: Entretanto, sinto os vermes me roerem, como fizemos observar na nossa relação, isso não era uma lembrança, uma vez que durante a vida não era roído pelos vermes; era, pois, o sentimento da atualidade, uma espécie de repercussão transmitida do corpo ao Espírito, pela comunicação fluídica que ainda existia entre eles. Esta comunicação não se traduz sempre do mesmo modo, mas é sempre mais ou menos penosa, e como um primeiro castigo para aquele que muito se identificou, durante sua vida, com a matéria.
Que diferença com a calma, a serenidade, a doce quietude daqueles que morrem sem remorso, com a consciência de haver bem empregado o tempo de sua estada neste mundo, daqueles que não se deixaram dominar por suas paixões! A passagem é curta e sem amargura, porque a morte é para eles o retomo do exílio para a sua verdadeira pátria. Está aí uma teoria, um sistema? Não, é o quadro que nos oferecem, todos os dias, nossas comunicações de além-túmulo, quadro cujos aspectos variam ao infinito, é onde cada um pode haurir um ensinamento útil, porque cada um nele encontra exemplos que pode aproveitar, se quer se dar ao trabalho de consultá-lo; é um espelho onde pode se reconhecer quem não está cego pelo orgulho.

Um encontro real entre nós dois -Hermíni C. Miranda

Um encontro real entre nós dois




De repente você se dá conta, como eu, de que acaba de ingressar no clube dos macróbios. No meu caso, 90 anos. E aí começa a perceber que o mundo não é mais aquele que você conheceu, especialmente não mais estão ali as pessoas que conheceu e amou. Quase todas desapareceram na invisibilidade. Bem sei que é uma ausência temporária, pois lá estão na dimensão espiritual à nossa espera para as emoções do reencontro. Mas que umas tantas delas deixam aberto em nós um espaço maior, isso também é verdade.
Para mim a ausência mais doída é a da querida dona Helena, minha mãe.
Talvez você se lembre que eu abri para ela um capítulo especial no livro Nossos filhos são espíritos.
Ela partiu para o outro lado da vida em 1960, aos 66 anos. Eu tinha 40.
Portanto, já se passaram cinquenta anos. Ao longo desse tempo, muita coisa aconteceu, claro. Cerca de trinta deles, participando de trabalhos mediúnicos. Duas vezes ela me enviou mensagens psicografadas e uma vez falei com ela através de médium de minha confiança. Ela me proporcionou evidências indiscutíveis, citando fatos dos quais só ela e eu sabíamos.
Recentemente – cerca de um ano ou dois – tive com ela um sonho do qual só me ficou na memória de vigília um episódio marcante. No sonho, ela veio ao meu encontro e ajoelhou-se a meus pés.  Recuperado da impactante perplexidade que a cena me suscitou, ajoelhei-me também diante dela e o trocamos um beijo saudoso, aqueles que somente ocorrem entre mãe e filho.
Bem, a historinha ainda não ficou aí concluída. Uma semana depois, recebi um e-mail de outra amiga, médium com a qual trabalhei num grupinho doméstico, do qual, entre outros queridos amigos e amigas, Deolindo Amorim sentava-se à minha esquerda e ela, à direita.
A amiga frequentava uma instituição espírita no Rio.
Dizia-me naquela carta inesperada que ao encerrarem-se os trabalhos mediúnicos da casa, aproximara-se dela uma entidade – que ela descreveu sumariamente, mas não da qual não guardara o nome. “Diga ao Herminio – pediu ela – que não foi somente um sonho. Houve um encontro real entre nós dois.”
A amiga médium, em conversa posterior comigo, ao telefone, acrescentou um detalhe que não mencionara no e-mail: o gesto dela se reportava à remota existência minha, aí pela Idade Média, quando eu lhe proporcionara a grande alegria, tornando-me sacerdote católico, sonho dela não realizado nesta vida.
Pois é, leitor/leitora.
Acho que não preciso falar de minha emoção ante esse recado.
Falo agora, porém, para encerrar esta narrativa, repetindo uma frase que usei certa vez e que assim diz:
“Se você perceber neste papel que está lendo, a marca de uma lágrima, não se preocupe. É minha.”
 
Artigo do Correio Fraterno.

O meu único encontro com Herculano Pires




Cirso Santiago
Fui e sou admirador do professor José Herculano Pires, Acompanhei grande parte de seu trabalho através do rádio, da televisão, do livro e do jornal. Ainda hoje, quando já não o temos carnalmente entre nós, ampliando seu discurso, busco com renovado interesse suas obras para aprender, reciclar ou sedimentar conceitos. E a cada pesquisa descubro mais e mais sua grandeza. E dos escaninhos de minha memória saltam logo as palavras judiciosas do escritor Mário Graciotti:
"De que distância, de que regiões, de que época virá esse espírito que se instalou na engrenagem somática de um dos mais curiosos fenômenos intelectuais do Brasil nascente, o poeta, o jornalista, o escritor, o filósofo Herculano Pires?"
"A constante e invariável temática que flui de sua bela inteligência e de seu grande coração revela uma diretiva uniforme e impressionante, da qual podemos discordar, aqui ou ali, mas difícil se nos torna relegá-la a plano secundário." (1)
Foi no dia 9 de março de 1979, às 21hl5, que tombou esse Altaneiro Jequitibá do Espiritismo em terras brasileiras. Caiu seu corpo físico vitimado por um enfarto, mas sua essência, o Espírito Herculano Pires, continuou em pé, vibrante e dinâmico como dantes. Prova isto, sua manifestação mediúnica logo após seu desencarne, conforme registro na edição n.° 100 deste jornal. O Grupo Espírita Caírbar Schutel, que há anos funciona na casa da família Pires, estava reunido naquela noite e o professor ali compareceu testemunhando a continuidade da vida, a exemplo do que já fizeram outros espíritos de grande envergadura moral. Diz o articulista: "Alguns familiares, que não participavam da sessão, levaram o professor para o hospital, mas em silêncio, a fim de que o trabalho mediúnico prosseguisse. Terminada a sessão foram lidas duas mensagens psicografadas; uma, sem assinatura e que atribuímos a Caírbar Schutel (patrono do grupo) referia-se, claramente, ao desencarne e a outra do próprio Herculano Pires e dirigida à sua esposa, dona Virgínia." (grifei)
Faz 10 anos, portanto, que o professor Herculano Pires, a quem carinhosamente se atribui o cognome LÉON DENIS BRASILEIRO, partiu para outra dimensão: a dimensão cósmica do Espírito. E sua ausência no movimento espírita é e sempre será relevante.
Por falta de oportunidade, não gozei do seu convívio. Teria me enriquecido muito se isto tivesse sido possível, não há dúvida! Tivemos apenas um encontro. Mas este, por minha exclusiva culpa, foi prejudicado. Aconteceu há coisa de 20 anos, quando desabrochava em mim a mediunidade psicográfica. Com a natural insegurança do médium em desenvolvimento nascente, vivia à procura de quem pudesse ler e opinar sobre as páginas mediúnicas que recebia. Os que estavam à minha volta e que me poderiam prestar esse serviço, ou exageravam nas avaliações elogiosas ou negavam qualquer palavra com medo de melindrar-me ou, quem sabe, para não se comprometer com a minha "obsessão"...
Preocupado com o fenômeno que em mim se realizava e com a lisura doutrinária das páginas que me eram ditadas, continuava a buscar orientações. Fui à Federação Espírita do Estado de São Paulo. Ali, um conhecido confrade, depois de uma passada de olhos no escrito que levei, disse: "Procure o professor Herculano Pires!"
Soube mais tarde que o professor Herculano estaria, certo dia, palestrando e autografando livros num centro daqui do ABC paulista. Não perdi a oportunidade. Após a palestra, procurei falar-lhe. Mas os "vigilantes" não me permitiam aproximar. Comprei então um livro e entrei na fila para colher seu autógrafo e passar-lhe uma mensagem com um bilhete em anexo, em que lhe expunha o meu desejo. No último momento, um "vigilante" ainda tentou frustrar o meu intento. Insisti, intransigente... O professor não entendeu, e nem poderia entender, minha ansiedade. Levantou os olhos do trabalho que realizava e olhou-me com um ar mesclado de espanto e piedade que jamais se apagará de minha memória. Terá pensado numa obsessão? Talvez! O que tenho certeza é que não gostou, e com justa razão, da minha momentânea indisciplina. Percebendo, no entanto, o envelope que eu segurava na mão estendida, recolheu-o a um dos seus bolsos e meneou sua grande cabeça, como a me dizer: "Verificarei depois!"
Sai contente... Mas nunca recebi resposta do professor àquela minha solicitação. Talvez tenha sido por falta de tempo. Foi sempre um homem muito ocupado e, quem sabe, minha preocupação não seria das mais urgentes. Seja como for, perdi a oportunidade de sua abalizada opinião.
Mas hoje, depois de militar vários anos na Redação deste jornal, compreendo melhor a fuga daqueles a quem se pede uma crítica desapaixonada ao nosso trabalho. É que embora a sinceridade com que muitas vezes se formula esse desejo, são poucos ainda os que entre nós estão prontos para aceitar qualquer crítica à sua realização, mormente quando esta é mediúnica. É o professor Herculano sabia disso com muito mais lucidez do que a que suponho ter hoje. E por isso, certamente, considerou que sua opinião não seria bem absorvida por mim naquela altura (e hoje seria? Ah!... dúvida cruel). Silenciou, porque, embasado em sua larga experiência, sentiu que eu, como tantos, não estava apto para compreender que a crítica, independente do seu teor ser-nos favorável ou não, quando bem aproveitada pelo uso da razão, funciona sempre à maneira de um buril que, guiado por compenetrada inteligência, acaba por libertar, pouco a pouco, a preciosa gema da crosta desvaliosa.
Obrigado professor Herculano. Valeu o nosso único encontro. Valeu seu silêncio-crítico que me tem levado a raciocinar muito sobre as minhas tarefas com o desejo de acertar. Registrar esse fato foi à maneira que encontrei para prestar-lhe minha singela homenagem nesse marco de sua passagem para o "outro mundo".
Nota: (1) Texto constante do prefácio do livro Barrabás e o Relato de Judas, de J. Herculano Pires.

Correio Fraterno no 219  março de 1989
http://www.correiofraterno.com.br/acervo/decada-de-80/46-no219-mar-1989-no219-mar-1989-/158-o-meu-o-encontro-com-herculano-pires