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sábado, 27 de outubro de 2012

Qual o Futuro do Homem para Lá do Túmulo?


Rodolfo Calligaris
Malgrado todos os espiritualistas cristãos (considerados como tais os que concebem a alma como um ser moral distinto do corpo físico, ao qual sobrevive) apontem as Escrituras Sagradas como base dos princípios fundamentais de sua fé, várias e contraditórias são as suas teorias acerca dessa magna questão.
Na opinião de uns, a sorte das almas decide-se no próprio instante da morte. As "eleitas" vão imediatamente para o céu, e as "rejeitadas", para o inferno. Isso até o dia do juízo universal, ocasião em que voltarão a unir-se a seus corpos ressurretos, sem os quais (dizem) nem aquelas conseguem ser completamente felizes, nem estas podem ser convenientemente castigadas.
Segundo outra concepção, além do céu e do inferno, existiria uma estância intermediária: o purgatório, lugar de expiação para as almas que, não estando inteiramente livres do pecado, tenham algumas penas a descontar antes de serem recebidas no céu. Também para os partidários desta crença, haverá, no juízo universal, uma religação das almas a seus antigos corpos para que, juntos, recebam sua sentença de glória ou de condenação.
No entender de outros, ocorrendo à morte, as almas trespassadas perdem a consciência de tudo e ficam como que em sono profundo, até o evento do juízo. Somente nesse dia é que os justos ressuscitarão para a vida eterna, sendo que os considerados maus ou serão destruídos ou descerão para as regiões onde há choro e ranger de dentes.
Há ainda quem afirme que o céu já está lotado por um número certo de almas santificadas, não havendo lá mais vaga para ninguém. No final dos tempos, os que merecerem a graça da salvação, terão seu futuro "habitat" aqui mesmo na Terra, que, devidamente expurgada, transformar-se-á em delicioso paraíso.
Essas doutrinas só se põem inteiramente de acordo em um ponto. E' quando dogmatizam que o homem vive apenas uma vez (ainda que, em certos casos, por apenas alguns minutos), depois do que sua boa ou má sorte será definitivamente selada, sem que lhe seja possível, além sepultura, arrepender-se e emendar-se.
Ora, o que se vê neste mundo é que, do selvagem ao civilizado, os dons se evidenciam assaz desproporcionados, o mesmo acontecendo com o nível de moralidade. Nem mesmo ao nascerem, as criaturas se apresentam igualmente dotadas. Assim, se o futuro de cada ser, na eternidade, dependesse realmente de uma só vida corpórea, então Deus devera ensejar a todos as mesmas aptidões e oportunidades de instruir-se, assim como igualar a duração da existência humana, porquanto premiar uns com deleites infinitos e condenar outros a torturas atrozes para todo o sempre, sem lhes haver assegurado uniformidade de condições para merecerem este ou aquele destino, constituiria a mais tremenda injustiça.
Outrossim, se os mortos não pudessem, mesmo, arrepender-se de seus erros, nem tomar novas resoluções, qual a utilidade da pregação do Evangelho feita a eles pelo próprio Cristo, corno se lê em I S. Pedro, 4 :6?
A Doutrina Espírita responde à indagação que serve de título a estas linhas dizendo que, como filhos de Deus, criados à Sua imagem e semelhança, todos os homens se destinam à perfeição, o que vale dizer, à felicidade.
Através das vidas sucessivas, todos hão de assenhorear-se da Verdade e, de progresso em progresso, vir a "amar o próximo como a si mesmos", conquistando destarte o "reino do céu", que é um estado (retidão de consciência) e não propriamente um lugar.
Com tal destinação, a alma deve caminhar sempre para frente e para o alto, crescendo em ciência e em virtude, rumo à Razão Infinita e ao Supremo Bem.
Cada uma das existências terrestres ou nos milhares de mundos que pontilham o Universo, não é senão um episódio da grande vida imortal. Em cada uma delas, vencemos um pouco da ignorância e do egoísmo que há em nós, depuramo-nos, fortalecemo-nos intelectuais e moralmente, até que, por merecimento próprio, adquiramos o acesso aos planos superiores da espiritualidade, moradas de eterna beleza, sabedoria e amor!
Leitor amigo: não é esta a doutrina que melhor se coaduna com a majestade e os excelsos atributos do Criador?
(Revista Reformador de março de 1964)

A autoridade paterna


Rodolfo Calligaris
O amor materno e autoridade paterna são dois elementos essenciais ao bom equilíbrio das relações familiares.
Releva frisar que mãe e pai não estão dissociados em suas funções. Pelo contrário, à mãe cabe também certa autoridade sobre os filhos, assim como nada impede que o pai manifeste ternura para com eles.
A separação que aqui se faz visa apenas enfatizar isto: o que o filho mais espera e precisa da mãe é o amor; do pai, a autoridade.
Autoridade é a palavra derivada de autor, deixando claro que essa prerrogativa é inerente ao autor. E o caso do pai, autor da vida do filho.
Pode ele delegar parte de sua autoridade a outras pessoas, durante algum tempo e no que tange a certos aspectos da educação do filho. Permanece, porém, a instância de apelo supremo.
Isto é verdadeiro, não apenas do ponto de vista jurídico, mas igualmente do ponto de vista psicológico. Deixe a criança de sentir acima dela a proteção da autoridade paterna e seu equilíbrio emocional será afetado, com prejuízo, inclusive, para a sua maturidade.
A criança detesta, quase sempre, aqueles que a tiranizam, pois gosta de ser tratada com moderação e justiça; mas, por outro lado, despreza e agride o pai frouxo e piegas cuja incapacidade a priva de um apoio que deseja e lhe é indispensável.
Sim, a par da liberdade, sem a qual não poderia auto afirmar-se, a criança necessita, também, da autoridade para que seja orientada nos seus julgamentos e saiba disciplinar a própria vontade.
Se contar com a preciosa ajuda da autoridade, ela evoluirá na fase inicial, instintiva, em que busca simplesmente o prazer através da satisfação de suas necessidades, para a outra fase, adulta, em que lhe caberá enfrentar as vicissitudes da vida, nem sempre isenta de dificuldades e sofrimentos.
Sem isso, manter-se-á em dependência infantil, sem conseguir ajustar-se aos grupos sociais em que será obrigada a viver, ou melhor, a conviver, criando a tudo instante condições de atrito com os semelhantes.
Pais existem que, ultrapassando os limites da autoridade, exercem um domínio absoluto e cruel sobre os filhos, não lhes permitindo a menor discussão a respeito de suas ordens, que exigem sejam cumpridas rigorosamente, valendo-se dos métodos repressivos da ameaça, da surra, da crítica mordaz e humilhante, das proibições sistemáticas, etc.
O máximo que conseguem com essa maneira de agir é uma submissão cega, sem consentimento interior, o que fará dos filhos indivíduos tímidos e gaguejantes, com fortes sentimentos de inferioridade, ou então revoltados, futuros tiranos da própria prole.
Outros, em contraposição, seja por comodismo, seja por fraqueza, não exercem a menor autoridade sobre os filhos: deixam-nos à solta, permitindo-lhes tudo, satisfazendo a todos os seus desejos, numa atitude de superindulgência que, longe de traduzir bondade, o que evidencia é falta de amor, ou, pelo menos, indiferença pela sua sorte.
Este tipo de educação, está provado, só pode tornar as pessoas incontestáveis, exigentes, egoístas, incapazes de oferecer a menor cooperação a quem quer que seja. Pior ainda: favorece os desregramentos e conduz à libertinagem, principais fatores da delinqüência em todos os tempos.
Autoridade legítima é o processo pelo qual o pai ajuda o filho a crescer e a amadurecer, para que chegue à autonomia sabendo que a liberdade tem um preço: a responsabilidade. É a maneira pela qual o pai conduz o filho à auto-realização, desenvolvendo-lhe as potencialidades, sem entretanto, exigir mais do que ele possa dar, respeitando-lhe as limitações.
É, sobretudo, força moral que o pai deve ter sobre o filho, baseada na admiração que lhe desperta, por se constituir um modelo digno de ser imitado.
Em suma, a verdadeira autoridade jamais se impõe pela violência. É uma decorrência natural das qualidades paternas, entre as quais se destacam as seguintes:
  1. Ser autêntico, isto é, conhecer o papel que lhe cabe no lar e exercê-lo com segurança e continuidade.
     
  2. Ser justo, tratando todos os filhos com igual solicitude, sem nunca demonstrar preferência ou aversão por nenhum.
     
  3. Ser um educador, castigando quando preciso, mas sabendo também desculpar, valorizar e incentivar.
     
  4. Ser coerente, mantendo seu ponto de vista acerca do que lhe pareça certo ou errado, evitando proibir um dia e deixar fazer no outro.
     
  5. Ser cordial, promovendo o afeto, a estima e a camaradagem entre os familiares.
     
  6. Ser compreensivo, superando os conflitos e mantendo seu amor ante os erros dos filhos.
     
  7. Ser clarividente, sabendo discernir entre o que é essencial e o que é secundário.
     
  8. Ser conciliador, acatando as opiniões do grupo familiar, ao invés de impor apenas as suas.
     
  9. Ter presença no lar, acompanhando de perto a vida dos filhos, por saber que o abandono moral é caminho para a delinqüência.
     
  10. Ter serenidade, evitando dar mostras de impaciência, irritação ou cólera.
     
  11. Ter firmeza, dando “sim” quando julgue que possa dá-lo, tendo a coragem de dizer e manter o “não”, sempre que isso se faça necessário.
     
  12. Ter espírito aberto, procurando estar sempre bem informado, para saber interpretar construtivamente os acontecimentos do mundo.
     
  13. Ter estabilidade emocional, evitando, quanto possível, as variações de humor e os inconvenientes que daí decorrem.
     
  14. Ter maturidade, aceitando as responsabilidades decorrentes de sua condição de chefe de família, especialmente as de pai.
     
  15. Ter prestígio, por seus exemplos de amor ao trabalho, hábitos sadios, civismo, gosto de ser útil ao próximo, etc.
***
Quantos pais são infelizes em seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração: depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.” (Allan Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. V, nº 4)
***
(De “A vida em família”, de Rodolfo Calligaris)

Escravo do Pecado


Rodolfo Calligaris
“Dizia Jesus aos judeus que nele creram: se permanecerdes na minha palavra sereis verdadeiramente meus discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.
Responderam eles: Somos descendentes de Abraão e em nenhum tempo fomos havia motivos para preocupar-se.
Chocado e envergonhado, o soberbo rapaz disse:
- Oh, cara, eu lamento muito.
- Então, em memória de minha filha, eu, orgulhosamente, também uso esta pequena faixa rosa. Através dela, tenho tido oportunidades de elucidar as pessoas. Agora, vá para casa e converse escravos de alguém; como dizes tu que viremos a ser livres?
Retorquiu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo, que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.”
(João, 8:31-34.)
Há quem imagine, baseado na letra de um ou outro texto escriturístico, que para salvar-se nenhuma outra coisa se faz necessária ao homem senão que ele creia em Jesus-Cristo.
“Crer em Jesus”, na opinião de tais criaturas, é aceitar como regra de fé que a “efusão do sangue generoso do Justo tem o poder de lavar todos os pecados do crente”.
Argumentam, conseqüentemente, que as boas obras são Jesus) não são filhos de Deus, mas sim filhos do Diabo, pré-condenados à perdição eterna, etc.
Quer-nos parecer, entretanto, que a lídima Doutrina Cristã é bem diferente.
Haja vista que, no lanço em epígrafe, Jesus se dirige a alguns dos que creram nele e, longe de acenar-lhes com privilégios especiais, diz-lhes claramente que só há um modo de se darem a conhecer como discípulos seus: “permanecerem na sua palavra”, isto é, seguirem-no fielmente imitando-lhe a vida de serviço em favor dos semelhantes.
Seus ensinos, calcados no amor a Deus ao próximo, são a mais pura expressão da Verdade. Conhecê-los e exercitá-los significa, pois libertar-nos da ignorância, da superstição e d egoísmo, que geram o sofrimento, ganhando aquele estado de alegria e de paz interior que caracteriza “o reino dos céus”.
A condição sine qua non para nos incluirmos entre aqueles definidos na segunda oração do versículo 31: “sereis verdadeiramente meus discípulos”, deu-a o Mestre na primeira: “SE permanecerdes na minha palavra”. Não há, por tanto, como sofismar: só é cristão, efetivamente aquele que permanece fiel à palavra do Nazareno, amando e servindo ao próximo, como que rena ser amado e servido.
A confirmação desta exegese, temo-la em profusão por todo o Evangelho, notadamente neste outro tópico de João (13:34-35), onde o Cristo nos diz: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros tanto como eu vos amei. NISTO (Em vos amardes uns aos outros) conhecerão todos que sois meus discípulos.”
Os recém-conversos não entenderam, porém, de pronto, a que tipo de libertação o Mestre se referia, e daí o lhe terem respondido daquele jeito: “nunca fomos escravos de ninguém; como, pois, nos dizes que seremos livres ?“
Ensinando-lhes, então, que “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado”, Jesus reafirma a Lei de Causa e Efeito, que caberia ao Espiritismo elucidar minuciosamente, segundo a qual cada um se faz responsável pelos maus atos que pratique, devendo expiá-los na medida exata dos agravos ou danos causados a outrem.
Somos livres na semeadura do Bem ou do Mal; todavia, uma vez feita a escolha, as boas ou más conseqüências serão a “colheita obrigatória” daquilo que houvermos feito.
Se a opção foi pelo Bem, ficamos com um crédito da mesma espécie, que se manifestará infalivelmente em nossa vida, em moedas de bênçãos e felicidades; se, entretanto, a opção foi pelo Mal, ficamos necessariamente em débito com a Justiça Divina (escravos do pecado cometido), sendo que, neste caso, o preço do resgate se expressará em dores e aflições proporcionais ao que fizemos sofrer.
Se isso não se der na mesma existência, dar-se-á em outra ou outras, mas, de forma nenhuma ficaremos impunes, eis que “aquilo que o homem semear, isso mesmo há-de colher”.
Assim, pois, o fato de alguém pertencer a esta ou àquela religião, não o isenta, absolutamente, do cumprimento das Leis de Deus; pelo contrário, quanto melhor as conheça e compreenda tanto maior sua obrigação de observá-las, porque “a quem mais foi dado, mais lhe será pedido”.
(Revista Reformador – janeiro de 1965)

Jesus Apazigua a Tempestade


Rodolfo Calligaris
“Jesus tomou em seguida a barca, acompanhado pelos discípulos. E eis que se levantou no mar um tempestade tão grande que as ondas cobriam a barca. Ele, entretanto, dormia.
Os discípulos então se aproximaram dele e despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos que perecemos.
Jesus lhes respondeu: Porque tendes medo, homens de pouca fé? E, levantando-se, mandou que o ventos e o mar se aquietassem, e grande bonança logo se fez.
Os homens, cheios de admiração, diziam: Quem é este a cujas ordens os ventos e o mar obedecem?"
(Mat, 8:23-27.)
Malgrado certas aparências em contrário, tudo, na Terra, obedece a leis naturais, concorrendo para um objetivo providencial: o aperfeiçoamento de suas condições de habitabilidade, simultaneamente, o progresso da Humanidade que a povoa.
A exemplo das incontáveis moradas do Pai celestial, disseminadas na incomensurabilidade do espaço, a Terra é governada e protegida por um Espírito perfeito, preposto de Deus: Jesus assessorado, se é que assim nos podemos exprimir, por falanges de entidades espirituais altamente evoluídas.
A essas entidades, como agentes da vontade divina, incumbe estabelecer e manter a harmonia das forças físicas da Natureza, em cujo mister contam com o concurso de enormes massas de Espíritos, dos quais uns dirigem e outros são dirigidos, como acontece entre nós.
Presidindo aos destinos deste mundo desde a sua formação, conforme nos instrui o evangelista João (1:9-10), Jesus tinha (como ainda tem) completo domínio sobre os que movimentam os elementos naturais, de sorte que, a uma manifestação de sua vontade potentíssima, tanto podia fazer cessar uma tempestade e serenar as ondas do mar, como promover outros fenômenos análogos, maravilhosos, sem dúvida, mas perfeitamente explicáveis, hoje, à luz do Espiritismo.
Sua ação no episódio em tela visava a despertar a fé, virtude preciosa, naqueles que o acompanhavam, pois, conhecedor profundo da psicologia humana, sabia que, sem o estímulo dessas demonstrações surpreendentes, poucos haveriam de perseverar no discipulado cristão.
Mas, que tais fatos não constituíam milagres, deu-o a entender o próprio Mestre ao afirmar: “Aquele que crer em mim (entenda-se: que se tornar uno comigo, em sabedoria e bondade, como eu o sou com o Pai) fará também as coisas que eu faço, e outras ainda maiores. (João, 14:12.)
Talvez nos objetem: como podem as tempestades, os furacões, as erupções vulcânicas, os terremotos e outros flagelos, concorrer para a evolução da Terra, como dissemos de início, se só causam destruição, desordem, sofrimento e morte?
E’ que nosso planeta, relativamente novo, ainda não alcançou as melhores condições de equilíbrio, e sendo, como é, um mundo de expiação e de provas, tais cataclismos, ao mesmo tempo que contribuem para aquele fim (embora não o percebamos, tão limitada é a nossa visão no tempo e no espaço), ensejam aos que são vitimados por eles o resgate de dívidas contraídas perante a Justiça Divina, sofrendo dores e aflições que a outrem fizeram sofrer. Servem, ainda, para que todos nós, no afã de prevenir­-lhes ou remediar-lhes os efeitos, nos desenvolvamos intelectualmente, e, pela compaixão que nos inspira, exercitemos o devotamento e a caridade para com o próximo.
Estejamos certos: nada ocorre no mundo à revelia de Deus, assim como nada, absolutamente nada, pode contrariar os seus altos e sábios desígnios.
As calamidades que atingem, ora um ora outro povo, têm, todas, uma razão justa, se bem que inacessível ao nosso pequenino grau de entendimento atual.
Portanto, quando venhamos a ser provados no sofrimento, lembremo-nos destas palavras das Escrituras: “Bem-aventurado o homem a quem Deus corrige, porque Ele dá o golpe, mas Suas próprias mãos operam a cura.” (Job, 5:17-18.)
(Revista Reformador de agosto de 1964)

O Endemoniado Geraseno


Rodolfo Calligaris
“Tendo atravessado o mar, desembarcaram no país dos gerasenos e, mal Jesus descera da barca, veio ter com ele um homem possuído do espírito imundo, homem esse que ninguém conseguia dominar nem mesmo com correntes, pois muitas vezes estivera com ferros aos pés e preso por cadeias, os quebrara. Vivia dia e noite nas montanhas e as sepulcros, a gritar e a flagelar-se com pedras. Ao ver Jesus, de longe, correu para ele e o adorou, exclamando em altas vozes: Que tens tu comigo, Jesus, filho de Deus Altíssimo? Eu te suplico, não me atormentes. Isso porque Jesus lhe ordenava:
Espírito imundo, sai desse homem. Perguntando-lhe Jesus: como, te chamas? - respondeu: Chamo-me Legião, porque somos muitos.
Ora, havia ali uma grande vara de porcos pastando na encosta do monte, e os demônios faziam a Jesus esta súplica: manda-nos para aqueles porcos, a fim de entrarmos neles. E como Jesus lhes desse permissão para isso, os Espíritos impuros, saindo do possesso, entraram nos porcos; toda a manada saiu a correr impetuosamente e foi precipitar-se no mar, onde se afogou.
Os que a apascentavam fugiram e foram espalhar na cidade e nos campos a notícia do que se passara. Logo acorreram muitos até onde estava Jesus e, encontrando o homem que ficara livre dos demônios sentado a seus pés, vestido e de perfeito juízo, se encheram de temor. Ouvindo, então, dos que presenciaram o fato, a narrativa do que sucedera ao possesso e aos porcos, todos pediram a Jesus que deixasse aquelas terras.”
(Dos EVANGELHOS.)
Temos aqui um caso impressionante de possessão, cuja vítima, subjugada por uma falange de Espíritos perversos, tornara-se o terror dos sítios em que vivia.
Pelo relato dos evangelistas, bem podemos imaginar-lhe a terrível figura: seminu e coberto de feridas sangrentas, olhos esfogueados, cabelos longos e em desalinho, pedaços de corrente a lhe penderem das pernas, mais haveria de parecer uma fera do que propriamente uma criatura humana.
Compadecido do infeliz, Jesus liberta-o de tão má influência, como que lhe restitui de pronto a razão, o domínio de si mesmo, e, convidando-o a sentar-se junto de si, põe-se a edificá-lo com seu verbo terno e esclarecedor, preparando-o para que viesse a ser mais um arauto da Boa Nova, e, ao voltar para a companhia dos familiares, ao contar-lhes que coisa estupenda o Senhor fizera por ele, estivesse habilitado anunciar-lhes também a doutrina de Amor, e Tolerância e de Justiça que estava sendo trazida ao mundo, cuja observância é o mais seguro remédio contra todos os males que afligem e infelicitam a Humanidade.
Quanto aos Espíritos obsessores, não entra nos porcos, como supuseram os circunstantes, coisa que hoje melhor se compreende; apenas se fizeram visíveis aos suínos e estes, espavoridos, se precipitaram do monte para baixo em tão desabalada carreira que, não podendo estacar ao chegarem à praia, introduziram-se no mar, perecendo afogados.
O episódio em tela, ao mesmo tempo que ressalta o extraordinário poder de Jesus (baseado na perfeição de seu caráter) e sua incomensurável piedade para com os sofredores, pôs em relevo, por outro lado, a mesquinhez de muitos homens, para os quais o interesse material a tudo sobreleva.
A cura daquele possesso que os trazia em sobressalto deveria ser, para os gera-se nos, motivo de se regozijarem e se mostrarem agradecidos àquele que operara tal maravilha. Ao invés disso, porém, só levaram em conta a perda de seus animais e, receosos de novos prejuízos pecuniários, despediram de suas terras, qual se fora um intruso indesejável, o próprio Filho de Deus que os honrara com sua augusta presença.
Agora meditemos.
Nós outros não estaremos agindo, ainda hoje, de igual maneira? Não continuamos colocando as conveniências mundanas acima dos galardões espirituais?
Conquanto nos pese reconhecê-lo, todas as vezes que contrariamos a Doutrina Cristã, porque seguir-lhe os preceitos nos custaria o sacrifício de algum lucro temporal, é como se, visitados pelo Mestre, o puséssemos para fora de nossa porta!
(Revista Reformador de fevereiro de 1966)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O "Pai Nosso" (VI)


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de todo o mal. Assim seja”.
Esta última parte do “Pai Nosso” envolve uma questão muito séria: a das tentações.
Seriam elas prejudiciais à sorte de nossas almas, ou, ao contrário, seriam experiências indispensáveis ao nosso desenvolvimento espiritual?
Para os que entendam sejam elas sinônimo de “instigação para o mal”, por obra de Satanás, seriam, sem dúvida, um fator de perdição. Nesse caso, quanto menos fôssemos tentados, tanto melhor, pois correríamos menor risco de “pecar” e, conseqüentemente, de ser condenados.
O sentido exato, entretanto, em que o Mestre usou o termo, na rogativa em epígrafe, não é esse, mas sim o de “ser posto à prova”.
Destarte, o que aí pedimos ao Pai Celestial não é o afastamento das provas, mas que não nos deixe cair (quando estivermos) em tentação, isto é, que nos dê forças para sairmos vitoriosos dos inúmeros e variados testes pelos quais temos que passar, em cada existência.
Espíritos assaz insipientes que somos, cumpre-nos viver uma série quase infinita de situações difíceis e antagônicas, para aprendermos a discernir as coisas, ganharmos tirocínio, tornarmo-nos inteiramente conscientes de nossas ações e prosseguirmos, cada vez mais seguros, nossa jornada rumo à perfeição.
As tentações a que somos submetidos constituem, assim, uma espécie de exame ou sistema de aferição de nosso adiantamento.
Os que vencem, esses adquirem novas forças e elevam-se a níveis superiores; os que sucumbem estacionam e vão repetindo as lições da vida, até que as aprendam suficientemente.
Se as tentações em si mesmas fossem danosas para as nossas almas, Deus, que é todo bondade e justiça, certamente não as permitiria; se as permite, é porque sabe serem elas proveitosas a todos os seres em relativa inferioridade.
Os que procuram escusar suas quedas em face das tentações, sejam elas de que natureza forem, atribuindo-as às fraquezas da carne, ou sofismam ou não sabem o que dizem.
Com efeito, sendo a carne destituída de inteligência e de vontade própria, não poderia, jamais, prevalecer sobre o Espírito, que é o ser pensante e livre; portanto, a este e não àquela é que cabe a responsabilidade integral de todos os atos.
Desregramentos, excessos, mau gênio, etc., não são determinados por disfunções orgânicas ou outros fatores que tais, mas tão-só e unicamente pelas más tendências anímicas de cada um.
O Espiritismo, com a revelação do mundo espiritual que nos envolve e das leis que o regem, fez novas luzes em torno do problema, permitindo-nos compreender melhor o mecanismo de muitas das tentações que nos assaltam, e como vencê-las.
Ele nos ensina que todo pensamento é vibração de tal ou qual freqüência, através da qual nos pomos em sintonia com os planos da espiritualidade.
Conforme sejam nossos pensamentos, o que equivale a dizer: nossos sentimentos – puros, idealistas, construtivos, pomo-nos em comunicação com os seres de elevada hierarquia, de cujo consórcio resulta para nós uma vida bem orientada, tranqüila, feliz e repleta de nobres realizações. Da mesma sorte, se a nossa mente só destila pensamentos impuros, mesquinhos, deprimentes, destrutivos, colocamo-nos automaticamente na mesma faixa vibratória dos espíritos menos evoluídos, que, consoante nossos pendores, procurarão manter-nos nos caminhos declivosos do vício, das paixões, do crime, e muitas lágrimas nos farão derramar.
Isso nos faz compreender a extensão da advertência do Cristo, quando dizia: “Orai e vigiai, para não cairdes em tentação”.
É preciso, pois, que apliquemos incessantes esforços contra tudo aquilo que nos deprime e avilta; essa atitude fará que as entidades trevosas se afastem naturalmente, porque nada podem fazer, e renunciam a qualquer tentativa junto aos puros de coração.
Ó Senhor, muito temos errado, contínuos têm sido os nossos fracassos, e isto nos demonstra quanto ainda somos fracos e imperfeitos e quanto devemos esforçar-nos para atingirmos o divino modelo, que é Jesus.
Amparai-nos em nossa debilidade, infundi-nos o desejo sincero de corrigir-nos e inspirai-nos sempre, pela voz de nossos anjos guardiões, a fim de que sejamos capazes de resistir às sugestões do mal, mantendo, inquebrantável, o propósito de só pensar, só almejar e só realizar o bem.
Assim seja!

O "Pão Nosso" (V)


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“Perdoai, Senhor, as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores”.
Nessa petição, Jesus, o Mestre por excelência, dá-nos a conhecer uma lei eterna e imutável, a cujos efeitos todos, sem exceção, estamos sujeitos.
Trata-se da lei do “dar e receber”, segundo a qual cada um recebe da Justiça Divina exatamente de acordo com o que dá ao próximo.
Há no Evangelho inúmeras referências a respeito. Sirvam de exemplo as seguintes: “Se perdoardes aos homens as ofensas que tendes deles, também vosso Pai Celestial vos perdoará vossos pecados; mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai Celestial vos perdoará”. (Mateus, 6:14-15) – “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoais e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á; qual for a medida de que usardes para os outros, tal será a que se use para vós”. (Lucas, 6:37-38). – “Aquele que semeia pouco, também colhe pouco; mas aquele que semear em abundância, também colherá em abundância”. (II aos Coríntios, 9:6).
Leiamos, ainda, a parábola do credor incompassivo (Mateus, 18:23-35), onde a referida lei é exposta com a máxima clareza e, se quisermos garantir nossa bem-aventurança futura, tratemos de observá-la, atentamente, em nossas relações com os que nos cruzam pelo caminho. Porque, se não formos capazes de perdoar àqueles que nos ofendem ou prejudicam, também não seremos perdoados das ofensas ou prejuízos com que tenhamos agravado os nossos semelhantes e, nesse caso, nenhuma Igreja, nenhum mentor religioso, nenhum sacramento, nenhuma indulgência, poderá valer-nos, de sorte a assegurar-nos a entrada no reino celestial.
Como nos explica Huberto Rohden (Metafísica do Cristianismo), “em todas as línguas a palavra perdoar é um composto de dar ou doar. De maneira que per-doar quer dizer doar completamente, abrir mão de si mesmo, dar ou doar o próprio Eu a outrem; neste caso, o ofensor. Em vez de imolar o ofensor a seu ódio, o perdoador imola-se a si mesmo, o ofendido, na ara do seu amor, abrindo assim de par em par as portas de sua alma ao influxo das torrentes divinas”.
Outrossim, ensinando-nos a dizer: “Perdoai, Senhor, as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores”, Jesus nega e renega a doutrina das penas eternas, porquanto, se não devêssemos esperar o perdão de Deus, inútil seria estar a pedi-lo.
Notemos, entretanto, e isso é importantíssimo: - esse perdão que ele nos acoroçoa a pedir, não é a remissão pura e simples da pena em que tenhamos incorrido. Não! O Mestre o condiciona à lei do “dar e receber”: ser-nos-á perdoado “assim como” perdoarmos, o que vale dizer que enquanto formos rancorosos e vingativos haveremos de estar sujeitos às sanções correspondentes, e só quando perdoarmos plenamente aos que ajam mal conosco é que as bênçãos celestiais haverão de envolver nossos corações, impregnando-os de paz e felicidade.
Ora, se Deus faz o esquecimento das ofensas uma condição absoluta, iria exigir de nós, fracos e imperfeitos, o que Ele, onipotente e infinito em perfeição, não fizesse?
Fosse Deus inexorável para o culpado e insensível ao arrependimento dos que O ofendem, negando-lhes por todo o sempre os meios convenientes para que empreendam a própria reabilitação, não seria misericordioso, e, não o sendo, deixarias de ser infinitamente bom.
Resultaria daí que o homem que perdoa aos seus ofensores e retribui-lhes o mal com o bem, seria melhor do que Ele, o que é inconcebível.
Sabendo, pois, que Deus é Amor, mas é igualmente Justiça, e que, pela Sua lei, “é dando que recebemos”, esforcemo-nos no sentido de vencer quaisquer ressentimentos ou propósitos inamistosos; antes de buscarmos o revide, cuja satisfação deixa sempre amargos ressaibos, bendigamos os que nos ferem e humilham, porque são instrumentos providenciais na lapidação de nossas almas, fatores preciosos de nosso progresso espiritual.
Perdoemo-nos uns aos outros, não “até sete vezes, mas até setenta vezes sete”, isto é, ilimitadamente (Mateus, 18:21-22). Assim o fazendo, também o Senhor terá complacência para conosco, cobrindo com Seu amor a multidão de nossas culpas.

O "Pai Nosso" (IV)


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje”.
O homem, ser complexo que é, constituído de corpo e alma, precisa de substâncias nutritivas que lhe sustentem o organismo e lhe forneçam energias para o trabalho, mas não prescinde de outras coisas mais transcendentes, ou seja, daquilo que favoreça o desenvolvimento de suas faculdades intelectuais e morais.
Nos primórdios de sua evolução, quando apenas vegeta, só carece de manter-se vivo; desse modo, a conquista da subsistência material é a razão de ser de toda a sua luta, de todos os seus esforços.
Posteriormente, entretanto, começa a sentir outras emoções e a alimentar outros desejos, eis que a simples conservação da vida já não o satisfaz. Uma sede de conhecimento exalta-lhe a mente, levando-o a pesquisar o “como” e o “porquê” dos fenômenos que ocorrem consigo e em derredor, ao mesmo tempo em que um ideal superior – a busca da Beleza e da Justiça – irrompe sob o impulso da lei de progresso que lhe preside ao destino, e passa a manifestar-se, insopitavelmente, nos íntimos refolhos de sua alma.
Esse “pão” que, na prece do Pai Nosso, Jesus ensina-nos a pedir ao Criador, não é, pois, apenas o alimento destinado à mantença de nosso corpo físico, mas tudo quanto seja indispensável ao crescimento e perfectibilidade de nossa consciência espiritual, o que vale dizer, à realização do reino dos céus dentro de nós.
Devendo conhecer, individualmente, o que é o bem, para cultivá-lo, assim como as conseqüências do mal, para evitá-lo; tendo, igualmente, de passar por toda espécie de experiências, provando, alternativamente, a alegria e a tristeza, a opulência e a miséria, a saúde e a enfermidade, o poder e a subordinação, porquanto só assim nos será possível formar um caráter reto e justo, cumpre-nos aceitar, de bom grado, com largueza de ânimo, o que a vida, como expressão da Providência, nos reserve, visto que, em última análise, tudo, o sofrimento inclusive, concorre para que nos enriqueçamos em saber e moralidade, e nos aproximemos, cada vez mais, daquele “estado de varão perfeito, segundo o padrão do Cristo”, a que se refere o apóstolo S. Paulo (Efésios, 4:13).
Assim, quando suceder que, apesar de nossa diligência e operosidade, não consigamos escapar à pobreza, aceitemo-la sem revolta, como justa expiação de faltas cometidas em existências anteriores, ou como uma prova a mais no processo de burilamento de nossas almas, convictos de que, sendo Deus infinitamente justo e bom, não nos imporia uma vida de privações se isso não fosse útil ao nosso adiantamento espiritual.
Jamais invejemos aqueles que possuem em abundância, que navegam na prosperidade; tampouco os amaldiçoemos se, se esquecem da lei da solidariedade que deve unir todos os homens, como nos ensina o Evangelho.
Curta é a existência corporal e efêmeros os gozos que ela proporciona. Mais vale, portanto, sofrer resignadamente uma sorte madrasta na Terra, e depois experimentar grandes alegrias no mundo espiritual, do que levarmos, aqui, uma vida nababesca, mas vazia de amor ao próximo, e acordarmos, depois, no além, abrasados de remorsos.
Por outro lado, quando a fortuna nos sorria, não nos esqueçamos de repartir pelo menos o supérfluo com aqueles que, impossibilitados de prover à própria subsistência, pela velhice ou pela doença, vejam-se obrigados a estender a mão à caridade pública, tremendo de vergonha e de fome.
Guardemo-nos ainda de, no ganho do “pão nosso”, avançarmos também no pão de outrem. Que, ao adquiri-lo para nós, não obremos com injustiça, de modo a termos em demasia, enquanto a outros falte o mínimo suficiente.
Compenetremo-nos, finalmente, de que é legítimo e muito natural almejarmos, para nós e os nossos entes queridos, uma situação de conforto e bem-estar; bom é, todavia, não olvidarmos aquela sábia resposta do Mestre, dada ao tentador: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de Deus”. (Mateus, 4:4).

O "Pai Nosso" (II)

rodolfo calligaris

Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“Venha a nós o vosso reino”.
Que devemos entender por “reino de Deus” ou “reino dos céus?”.
Em mais de uma dezena de parábolas, todas elas muito engenhosas e edificantes, Jesus focaliza os diversos aspectos que o caracterizam. Eis algumas delas: a do semeador, do joio e o trigo, do grão de mostarda, do fermento, do tesouro escondido, da pérola, da rede, do credor incompassivo, dos trabalhadores e as diversas horas do trabalho, dos dois filhos, dos lavradores maus, das bodas, das dez virgens, etc.
Um exame atento dessas parábolas deixa patente que “o reino de Deus” não é propriamente um “lugar” de delícias, nem uma organização cujos membros se identifiquem por uma determinada fé, mas algo que se verifica no íntimo de nós mesmos: a evolução, o aperfeiçoamento de nossas almas.
Segundo o apóstolo S. Paulo, “o reino de Deus não é comida, nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (consciência). (Romanos, 14:17).
Que precisamos fazer para nos tornarmos súditos desse reino?
Isso também foi explanado pelo Mestre com a máxima clareza, constituindo mesmo a idéia central de seus ensinos. Sirvam-nos de exemplo, entre inúmeros outros, os seguintes passos evangélicos: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai”. (Mateus, 7:21). – “Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era hóspede, e me recolhestes; estava nu, e me cobristes; estava enfermo, e me visitastes; estava no cárcere, e viestes ver-me. Na verdade vos digo que, quantas vezes fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes”. (Mateus, 25:34-36, 40). – “E eis que se levantou um doutor da lei e disse, para o tentar: Mestre, que hei de fazer para entrar na posse da vida eterna? Disse-lhe então Jesus: Que é o que está escrito na lei? Como a lês tu? Ele, respondendo, disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças, de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E Jesus lhe disse: Respondestes bem; faze isso e viverás”. (Lucas, 10:25-28).
Diante de textos tão cristalinos, parece não subsistir a menor dúvida de que nossa entrada no reino de Deus depende, não da simples aceitação de uns tantos dogmas religiosos, nem da submissão a este ou àquele sacramento, mas tão-somente de possuirmos aquelas qualidades morais que exortam o homem justo e bom.
Quando se estabelecerá entre nós esse reino?
Tal pergunta, igualmente, fora feita certa vez pelos fariseus, e a ela o Mestre deu a seguinte resposta, breve, mas profunda: “O reino de Deus não virá com aparência exterior, nem dirão: ei-lo aqui, ou ei-lo acolá; o reino de Deus está dentro de vós”. (Lucas, 17:20-21).
Meditemos bem nestas palavras: “O reino de Deus está dentro de vós!”. Não se trata, portanto, de um evento futuro, remoto, como muitos o imaginam, mas de um fato atual, presente.
Com efeito, se nossa alma é “imagem e semelhança de Deus”, como diz o Gênesis; se fomos gerados, não da carne, nem da vontade do varão, “mas de Deus”, como nos afirma João, o evangelista; se “dele (Deus), por ele e nele existem todas as coisas”, como nos revela S. Paulo, esse reino, inquestionavelmente, está dentro de nós, se bem que em estado latente, à semelhança da planta contida em potencial na semente.
Enquanto o homem ignora a natureza divina de sua alma e vai vivendo egoisticamente, embora o reino de Deus esteja nele, ele não está no reino de Deus e daí a sua inquietação e seus sofrimentos. Quando, porém, faz essa preciosa descoberta e passa a esforçar-se por desenvolver o seu Cristo interno, pautando os atos de sua vida por aquele ideal sublime que consiste em “fazer a vontade do Pai”, o reino de Deus entra a desenvolver-se dentro dele, cresce, expande-se, atinge a plenitude, e sua alma ganha então uma paz, uma tranqüilidade e uma alegria indescritíveis, que nada, vindo de fora, são capazes de destruir.
Posto que o reino de Deus, qual o havemos entendido, não pode ser implantado na Terra sem que antes seja uma realidade em cada ser humano que o habite, ajuda-nos, Senhor, a vencer nossa ambição desmedida, nosso orgulho insensato, nossa prepotência descaridosa, nossa vaidade tola, enfim, todos os sentimentos malsãos que ainda nos mantêm desunidos, dispersos e inimizados!
Dá, ó Pai, que cada um de nós compreenda o dever de cooperar para a civilização universal, sem barreiras de espécie alguma, e que todos sintamos o desejo de viver como irmãos, vinculados pelo amor!

O "Pai Nosso" (I)

rodolfo calligaris

Artigo Extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“ Assim, pois, é que haveis de orar:
Pai nosso que estais nos céus; santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino. Seja feita a vossa vontade, assim na terra como nos céus. O pão nosso de cada dia dai-nos hoje. Perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de todo mal. Assim seja”. (Mateus, 6:9-13).
A oração dominical é, sem dúvida, o mais perfeito modelo de prece que poderia ser concebido.
Concisa, simples e clara, “ela resume – como diz Allan Kardec – todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Encerra uma profissão de fé, um ato de adoração e de submissão, o pedido das coisas necessárias à vida e o princípio da caridade”.
Pena que muita gente, ao recitá-la em seus exercícios devocionais, não procure compreender a profunda significação de seu contexto, nem se aperceba das normas de bem viver que ela prescreve a todos.
Detenhamo-nos, pois, na análise de tão sublime oração, meditando um pouco sobre cada uma das partes que a compõem.
“Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome”.
A noção que tenhamos da Divindade reflete-se, inevitavelmente, em nosso modo de agir.
Nos primórdios da civilização, os homens faziam dos deuses um conceito mais ou menos uniforme, tomando-os por potências iradas, às quais era preciso agradar com a oferta de presentes, não só para desviar os dardos do seu furor, como também para granjear-lhes os favores e, com sua ajuda, conseguirem saúde, bem-estar e prosperidade.
Tais oferendas, a princípio, consistiam em frutos; depois começaram a ser oferecidos animais, que os próprios sacerdotes degolavam, sendo que entre muitos povos introduziu-se, por fim, o costume horrível de sacrificar criaturas humanas, especialmente crianças e mocinhas.
Abrimos o Velho Testamento e o Deus que ali deparamos – Jeová, o Senhor dos Exércitos, também se nos apresenta como um ser faccioso, violento, iníquo e vingativo, eis que “escolhe para si um povo no meio das nações”, cumulando-o de graças, enquanto aos demais só faz conhecer desgraças; que ordena as mais cruentas matanças, inclusive de crianças e de animais; que aconselha pilhagens dignas dos piores bandoleiros e ameaça com pragas repugnantes, todos quantos lhe não atendam às determinações.
Com tais idéias a respeito da Divindade, os homens de então não poderiam mesmo ser melhores, e daí o darem vazão aos seus instintos brutais, serem implacáveis em seus ressentimentos e mostrarem-se impiedosos para com os inimigos.
Um dia, porém, o Cristo desce à Terra e nos fala de um Deus diferente. Um Deus infinito em Suas perfeições, cuja onisciência e onipotência manifestam-se através das leis imutáveis e sábias que regem a Criação; um Deus sem favoritismos de espécie alguma; um Deus bastante amigo para compreender nossas fraquezas e bastante inteligente para saber corrigi-las e não apenas castigá-las; um Deus que não quer pereça uma só alma, mas que todas se salvem e participem de Sua glória; um Deus, enfim, a quem podemos dirigir-nos confiantemente, chamando-o pelo doce nome de Pai.
Notemos, entretanto, que, ao ensinar-nos a chamar-lhe Pai Nosso, Jesus deixa claro ser Ele pai de toda a grande família humana, e não apenas de uns poucos escolhidos.
Contrariamente, portanto, ao ensino de certas religiões, são filhos de Deus todos os homens espalhados por todas as longitudes e latitudes do globo; de todas as raças e civilizações; de todas as classes e de toda fé: católicos e protestantes, espíritas e budistas, muçulmanos e judeus, rosacrucianos e fetichistas, e até os ateus, apesar de pecadores, apesar de transviados, porque todos, absolutamente todos, são amados por Ele com igual e paternal solicitude e hão de ser procurados e salvos pelo divino pastor: Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por isso, ó Deus, porque sois todo Amor e Bondade, Justiça e Misericórdia, seja o vosso santo nome bendito e louvado por toda a Terra, assim como por todo o universo, nos astros mais remotos, nos espaços incomensuráveis, onde quer que a vida que provem de vós se haja manifestado, pois não há quem não pressinta a vossa existência e o fim ditoso para que nos criastes!

sábado, 29 de setembro de 2012

PARÁBOLA DA CANDEIA


"Ninguém, depois de acender uma cadeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram veja a luz. Porque não há coisa oculta que não venha a ser manifesta; nem coisa secreta que se não haja de saber e vir à luz. Vede, pois, como ouvis; porque ao que tiver, ser-lhe-á dado; e ao que não tiver, até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado".
(Lucas, VIII, 16-18)
"E continuou Jesus: Porventura vem a candeia para se pôr debaixo do módio ou debaixo da cama? Não é antes para se colocar no velador? Porque nada está oculto senão para ser manifesto; e nada foi escondido senão para ser divulgado. Se alguém tem ouvidos de ouvir, ouça. Também lhe disse: Atentai no que ouvis. A medida de que usais, dessa usarão convosco: e ainda se vos acrescentará. Pois ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem, até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado".
(Marcos, IV, 21-25
1 - CAIRBAR SCHUTEL
A luz é indispensável à vida material e à vida espiritual. Sem luz não há vida; a vida é luz quer na esfera física, quer na esfera psíquica. Apague-se o Sol, fonte das luzes materiais e o mundo deixará, incontinenti, de existir. Esconda-se a luz da sabedoria e da religião sob o módio da má fé ou do preconceito, e a Humanidade não dará mais um passo, ficará estatelada debatendo-se em trevas.
Assim, pois, tão ridículo é acender uma candeia e colocá-la debaixo da cama, como conceber ou receber um novo conhecimento, uma verdade nova e ocultá-la aos nossos semelhantes. Acresce ainda que não é tão difícil encontrar o que se escondeu porque "não há coisa oculta que não venha a ser manifesta". Mais hoje, mais amanhã, um vislumbre de claridade denunciará a existência da candeia que está sob o leito ou sob o módio, e que desapontamento sofrerá o insensato que aí a colocou!
A recomendação feita na parábola é que a luz deve ser posta no velador a fim de que todos a vejam, por ela se iluminem, ou, então, para que essa luz seja julgada de acordo com a sua claridade. "Uma árvore má não pode dar bons frutos"; e o combustível inferior não dá, pela mesma razão, boa luz. Julga-se a árvore pelos frutos e o combustível pela claridade, pela pureza da luz que dá. A luz do azeite não se compara com a do petróleo, nem esta com a do acetileno; mas todas juntas não se equiparam à eletricidade.
Seja como for, é preciso que a luz esteja no velador, para se distinguir uma da outra. Daí a necessidade do velador. No sentido espiritual, que é justamente o em que Jesus falava, todos os que receberam a luz da sua doutrina precisam mostrá-la, não a esconderem sob o módio do interesse, nem sob o leito da hipocrisia. Quer seja fraca, média ou forte; ilumine na proporção do azeite, do petróleo, do acetileno ou da eletricidade, o mandamento é: "Que a vossa luz brilhe diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras (que são as irradiações dessa luz) glorifiquem o vosso Pai que está nos Ceús".
Ter luz e não fazê-la iluminar, é colocá-la sob o módio é o mesmo que não a ter; e aquele que não a tem e pensa ter, até o que parece ter ser-lhe-á tirado. Ao contrário, "aquele que tem, mais lhe será dado", isto é, aquele que usa o que tem em proveito próprio e de seus semelhantes, mais lhe será dado. A chama de uma vela não diminui, nem se gasta o seu combustível por acender cem velas; ao passo que estando apagada é preciso que alguém a acenda para aproveitar e fazer aproveitar sua luz.
Uma vela acendendo cem velas, aumenta a claridade, ao passo que, apagada, mantém as trevas. E como temos a obrigação de zelar, não só por nós como pelos nossos semelhantes, incorremos em grande responsabilidade pelo uso da "medida" que fizemos; se damos um dedal não podemos receber um alqueire; se uma oitava, não podemos contar com um quilo em restituição, e, se nada damos, o que havemos de receber? A luz não pode permaner sob o módio, nem debaixo da cama. A candeia, embora, matéria inerte, nos ensina o que devemos fazer, para que a palavra do Cristo permaneça em nós, possamos dar muitos frutos e sejamos seus discípulos.
Assim, o fim da luz é iluminar e o do sal é conservar e dar sabor. Sendo os discípulos de Jesus luz e sal, mister se faz que ensinem, esclareçam, iluminem, ao mesmo tempo que lhes cumpre conservar no ânimo de seus ouvintes, de seus próximos, a santa doutrina do meigo Rabino, valendo-se para isso do Espírito que lhe dá o sabor moral para ingerirem esse pão da vida que verdadeiramente alimenta e sacia.
Assim como a luz que não ilumina e o sal que não conserva para nada prestam, assim, também, os que se dizem discípulos do Cristo e não cumprem os seus preceitos, nem desempenham a tarefa que lhes está confiada, só servem para serem lançados fora da comunhão espiritual e serem pisados pelos homens. A candeia sob o módio não ilumina; o sal insípido não salga, não conserva, nem dá sabor.
CAIRBAR SCHUTEL
2 - PAULO ALVES GODOY
O mundo já foi contemplado com três grandes revelações: a primeira, quando do advento de Moisés; a segunda, com a vinda de Jesus Cristo e, a terceira, com a revelação do Espiritismo, ou a vinda do Espírito Consolador.
Quando Moisés levou a cabo a primeira, aqueles que o sucederam aureolaram-na com tantos aparatos exteriores e com tantos formalismos inócuos, que os seus ensinamentos se tomaram obscuros. Por isso, Deus, em Seu infinito amor, enviou Seu próprio Filho para trazer a segunda revelação, nova luz que passou a iluminar os horizontes do mundo; contudo, segundo afirma o evangelista João, logo no início do seu Evangelho "os homens temeram a luz porque suas obras eram más".
O Pai de misericórdia e amor, condoído dos homens, que ainda e dessa vez impregnaram a Doutrina do Cristo com sistemas inócuos e incompatíveis com a verdade, enviou o Espírito de Verdade a fim de restaurar as primícias dos ensinamentos do Meigo Rabi da Galiléia.
Veio o Espiritismo e os homens devem agora difundir as luzes de que essa Doutrina dimana, pois a sua finalidade básica " de afugentar da Terra as trevas da ignorância e do obscurantismo, colocando a luz sobre o velador, para que ela, como uma cidade edificada sobre uma montanha, seja vista por todos.
Não se deve jamais, consoante a recomendação de Jesus, acender uma lâmpada e colocá-Ia sob um vaso, porém, deve-se colocá-la sobre o velador, de forma a poder ser vista por todos.
Esse ensino de Jesus objetiva esclarecer que, qualquer pessoa que adquirir conhecimentos em torno de uma verdade, ainda que seja em pequena escala, não deverá guardar a luz desse conhecimento apenas para si, mas procurar divulgá-lo a fim de que todos venham a haurir dos seus benefícios.
Corroborando ainda mais a parábola, em outra parte do Evangelho, afirmou Jesus: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus". (Mateus 5: 16)
Assim como não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte, também resplandecerá a sua luz sobre a Terra, e sobressairá o homem compenetrado dos seus deveres, que se edificou moral e espiritualmente. Por isso, disse Jesus: "Vós sois a luz do mundo", referindo-se aos apóstolos, no entanto, tendo Ele dito que deveríamos nos tornar perfeitos, como perfeito é o Pai Celestial, é óbvio que todos nós temos o potencial para nos transformar em luzes do mundo.
Na Parábola da Candeia, Jesus Cristo preceituou a necessidade de darmos guarida às Suas recomendações, tornando-nos obreiros atuantes e de decisão inquebrantável, projetando-nos, não apenas pelas palavras, mas sobretudo pelos atos. É importante saber, entretanto, que para adquirirmos essa luz interior, há necessidade de nos desvencilharmos das viciações contraídas no desenrolar das vidas pretéritas e, isso se fará, através das reencarnações sucessivas que Deus, por excesso de misericórdia, nos concede.
Existe muita gente guardando, avarentamente, apenas para si, os conhecimentos que adquirem, não tolerando qualquer idéia de espargí-los. Isso sucede com os homens, em todos os campos de atividades humanas. Muitos passam seus conhecimentos apenas para seus filhos ou familiares, não concebendo a idéia de transferi-los a um estranho.
Guardar um ensinamento de ordem espiritual apenas para si, incita danos para o Espírito, uma vez que o Mestre preceituou na parábola que "não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz". De nada adianta uma pessoa que conheceu determinada verdade, guardá-la somente para si, pois o tempo se encarregará de fazer com que ela seja manifesta para todos.
Nos séculos passados, muitas coisas erradas foram apregoadas como verdades fundamentais, e muitos mentores religiosos, com o objetivo de emprestar-Ihes maior autoridade não trepidaram em rotulá-las como "revelação do Espírito santo". Eram condenados às fogueiras os que ousavam delas discordar. Nos tempos modernos, com a ampliação dos sistemas de comunicação, já não poderá prevalecer essa sistemática, imposta pelo processo do "ferro e fogo".
Jesus Cristo veio trazer à Terra um manancial de verdades irretorquíveis, entretanto, essas verdades atentavam contra as inverdades apregoadas pelos doutores da Lei de sua época, e Ele teve que carregar pesada cruz até o cimo do Calvário, onde foi crucificado.
Deveremos, pois, propugnar para que as luzes dos nossos conhecimentos sejam manifestas a todos. Importa sermos como uma cidade edificada sobre um monte, para que as virtudes e a luz, que espargem de nós, sejam vistas e passem a beneficiar a todos.
Complementando os ensinamentos contidos na parábola da Candeia, ensinou-nos o Mestre: "Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grande serão essas trevas. A candeia do corpo são os olhos, de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Os vossos olhos refletem as trevas ou as luzes que residem dentro de vós".
Os nossos olhos, por sua vez, refletem tudo aquilo que reside no recesso de nossas almas e, como decorrência, devemos procurar nos enquadrar nos ensinamentos dos Evangelhos, processando dentro de nós a REFORMA ÍNTIMA, que Jesus Cristo simbolizou como sendo a conquista do Reino dos Céus.
Paulo Alves de Godoy
3 - RODOLFO CALLIGARIS
Estas palavras de Jesus: "não se deve pôr a candeia debaixo da cama, mas sobre o velador, a fim de que todos os que entrem, vejam a luz", dão-nos a entender, claramente, que as leis divinas devem ser expostas por aqueles que já tiveram a felicidade de conhecê-las, pois sem esse conhecimento paralisar-se-ia a marcha da evolução humana.
Não espalhar os preceitos cristãos, a fim de dissipar as trevas da ignorância que envollvem as almas, fora esconder egoisticamente a luz espiritual que deve beneficiar a todos.
Manda a prudência, entretanto, que se gradue a transmissão de todo e qualquer ensinamento à capacidade de assimilação daquele a quem se quer instruir, de vez que uma luz intensa demais o deslumbraria, ao invés de o esclarecer.
Cada idéia nova, cada progresso, tem que vir na época conveniente. Seria uma insensatez pregar elevados códigos morais a quem ainda se encontrasse em estado de selvageria, tanto quanto querer ministrar regras de álgebra a quem mal dominasse a tabuada.
Essa a razão por que Jesus, tão frequentemente, velava seus ensinos, servindo-se de figuras alegóricas, quando falava aos seus contemporâneos. Eram criaturas demasiado atrasadas para que pudessem compreender certas coisas. Já aos discípulos, em particular, explicava o sentido de muitas dessas alegorias, porque sabia estarem eles preparados para isso.
Mas, como frisa a parábola em tela, "nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente". À medida que os hoomens vão adquirindo maior grau de desenvolvimento, procuram por si mesmos os conheciimentos que lhes faltam, no que são, aliás, auxiliados pela Providência, que se encarrega de guiá-los em suas pesquisas e lucubrações, projetando luz sobre os pontos obscuros e desconhecidos, para cuja inteligência se mostrem amadurecidos.
Os que, por se acharem mais adiantados, intelectual e moralmente, forem sendo iniciados no conhecimento das verdades superiores, e se valham delas, não para a dominação do próximo em proveito próprio, mas para edifiicar seus irmãos e conduzi-los na senda do aperfeiçoamento, maiores revelações irão tendo, horizontes cada vez mais amplos se lhes descortinarão à vista, pois é da lei que, "aos que já têm, ainda mais se dará."
Quanto aos que, estando de posse de umas tantas verdades, movidos por interesses rasteiros fazem disso um mistério cujo exame proíbem,- o que importa "colocar a luz debaixo da cama", nada mais se lhes acrescentará, e "até o pouco que têm lhes será tirado", para que deixem de ser egoístas e aprendam a dar de graça o que de graça hajam recebido.
A vida nos planos espirituais, questão que interessa profundamente os sistemas filosóficos e religiosos, por muitos e muitos séculos permaneceu como um enigma indevassável chegou, porém, o momento oportuno em que deveria "aparecer publicamente", e daí o advento do Espiritismo.
Rasgaram-se, então, os véus que encobriam esse imenso universo, tão ativo e real quanto o em que respiramos, e, à luz dessa nova revelação, a sobrevivência da alma deixa de ser apenas uma hipótese ou uma esperança, para firmar-se como confortadora e esplêndida reaalidade.
Rodolfo Calligaris

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Construamos sobre a rocha


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

Ao concluir os ensinamentos do maravilhoso Sermão da Montanha, empregou Jesus a seguinte ilustração:
Todo aquele que ouve estas minhas palavras, e as observa, será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. Veio a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos, e combateram aquela casa, e ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha.
E todo aquele que ouve estas minhas palavras, mas não as observa, se assemelha a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. Quando a chuva caiu, os rios transbordaram, os ventos sopraram e a vieram açoitar, ela foi derribada e grande foi a sua ruína”. (Mateus, 7:24-27).

Essa advertência do Mestre tinha endereço certo: buscava penetrar a consciência dos que o ouviam; tocá-los, despertá-los e fazê-los sentir a necessidade de uma reforma de seus hábitos, pois sabia que, trabalhados, gerações pós-gerações pelo farisaísmo, se haviam esquecido do Decálogo que lhes fora dado no Sinai, tendo-se acostumado a observar tão-somente umas tantas práticas e cerimônias exteriores, persuadidos de que isso era o bastante para torná-los irrepreensíveis aos olhos do Senhor.
Ainda hoje, infelizmente, muitos existem, em todas as organizações religiosas, que incidem no mesmo erro. Invertendo a hierarquia dos valores, demonstram zelo extremado pelo que é secundário, negligenciando por completo aquilo que é essencial.
Também entre os espíritas – forçoso é reconhecê-lo – é grande, até agora, o número dos que se aferram às chamadas “sessões práticas”, nem sempre bem conduzidas, e não saem disso, esquecendo-se do estudo metódico e profundo da Doutrina, em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso, a fim de, com esse preparo, poderem auxiliar, eficazmente, tanto os desencarnados, nos trabalhos de esclarecimento e desobsessão, como os encarnados que careçam de melhor orientação na vida.
Outro engano comum a muitos que se têm na conta de cristãos, é o suporem que a memorização das Escrituras, o conhecimento teórico de princípios religiosos corretos ou a concordância com certos dogmas teológicos seja suficiente para a salvação de suas almas.
O mero assentimento intelectual à Verdade, entretanto, não constitui, por si só, mérito algum e será de todo inútil se não fizer que os homens produzam frutos de bondade e justiça no trato com os semelhantes.
Aliás, sabem-no todos, os crimes mais abomináveis que enegrecem as páginas da História foram praticados por criaturas que se vangloriavam de ser oráculos da Divindade, como há, ainda nos dias que correm, não poucos representantes da pretendida ortodoxia religiosa, cujos atos são de estarrecer.
Jesus veio revelar-nos que a Religião pura e genuína consiste, não apenas em satisfazer a formalismos cultuais, mas em cumprir os mandamentos da Lei, o que exige de cada um esforços constantes no sentido de vencer suas imperfeições e, ao mesmo tempo, em desenvolver aquelas virtudes que o levem a “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Então, semelhantemente ao homem sábio que edificou sua casa sobre a rocha, tomemos os preceitos divinos expostos pelo Mestre como fundamento de nossa norma de vida, e não simplesmente de nosso credo.
Sim, porque aqueles que pregam e ensinam tais preceitos, mas não testemunham aquilo que pregam e ensinam, assim os que confiam na eficácia dos sacramentos de sua igreja, mas não tratam de modelar seu caráter pelo do excelso modelo – o Cristo, estão construindo sobre a areia e, portanto, a si mesmos se reservam grandes amarguras e terríveis desilusões.

Rodolfo Calligaris

sábado, 11 de agosto de 2012

Se os teus olhos forem bons...

Se os teus olhos forem bons...

Artigo extraído do Livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989. Rodolfo Calligaris

“Os teus olhos são a luz do teu corpo. Se eles forem bons, todo o teu corpo terá luz; mas, se eles forem maus, todo o teu corpo será tenebroso. Se, pois, à luz que há em ti são trevas, quão grandes não serão essas mesmas trevas!” (Mateus, 6:22-23).
Diz um refrão popular que “os olhos são o espelho da alma”. Isso quer dizer que nossas qualidades anímicas expressam-se ou dão-se a conhecer pela simplicidade ou má índole com que olhamos e consideramos os outros, as coisas e os acontecimentos.
Pessoas há que só têm olhos para enxergar o lado mau de tudo.
Desconfiadas, vivem com medo de serem ludibriadas em seus afetos ou prejudicadas em seus interesses; maliciosas, não confiam em ninguém e estão sempre a fazer mau juízo do próximo; pessimistas, encaram os fatos da existência invariavelmente pelos seus aspectos menos felizes, e, quando solicitadas a opinar sobre a conveniência de qualquer realização, só sabem desencorajar, desmerecer, demolir.
Vendo unicamente o mal onde quer que pousem suas vistas, esperando constantemente o pior de qualquer evento, essas pessoas mantêm-se em sintonia com o astral inferior, envolvem-se em trevas cada vez mais densas, caem num estado de alma mórbido e desgraçado, acabando, geralmente, em deplorável ruína.
Tornam-se, assim, vítimas daquilo que admitem, criam e nutrem persistentemente em si mesmas.
É de suma importância que aprendamos a ver o bem em todos e em toda parte, para que o bem se manifeste e cresça em nossa vida.
Acreditando no bem, mentalizando o bem e esperando apenas o bem, nossos dias transcorrerão tranqüilos e ditosos, pois, como disse o Mestre, “o que buscarmos acharemos”.
Em verdade, sendo o universo, criação de Deus, o Supremo Bem, tudo é bom, tudo obedece a uma finalidade justa, útil e necessária. Até mesmo o que nos fere e faz sofrer e, por isso, “parece” ser um mal, converte-se em benefício para nossas almas, pois fá-las exercitar as virtudes que lhes faltam (a paciência, a resignação, a fé, etc.), preparando-as para um futuro melhor.
Não percamos tempo, portanto, na identificação do mal, ainda que a pretexto de fugirmos dele.
Abramos os olhos e estejamos atentos, isto sim, para nos apercebermos das centenas de oportunidades que se nos oferecem, diariamente, para a prática do bem.
Ajamos sempre com sinceridade de propósito e, onde estivermos: no lar, na rua ou no trabalho, procuremos ser solícitos para com os que nos rodeiam, ajudando-os como e quanto nos seja possível.
Se contrairmos esse hábito, não deixando passar uma só ocasião de servir, se mantivermos aceso o ideal de tornar-nos um instrumento pelo qual o Amor de Deus possa chegar aos nossos irmãos, todo o nosso ser se tornará luminoso, irradiando simpatia, calor humano e felicidade.
Teremos alcançado, então, a glória de ser considerados “filhos da Luz”.

sábado, 4 de agosto de 2012

Buscai e Acharei



Autor: Rodolfo Calligaris

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á;
porque todos os que pedem, recebem; os que buscam, acham;e a quem bate, se abre."

(Mateus, 7:7-8.)


Com essas palavras, Jesus exortou à oração e à confiança em Deus, na certeza de que Ele não deixará, jamais, de atender às nossas necessidades, sejam elas coisas materiais ou espirituais, desde que façamos a nossa parte, diligenciando por obtê-las.

Para não deixar a menor dúvida sobre esse ponto, após fazer aquela tríplice referência à solicitude com que devemos conduzir-nos, para que o céu nos ajude, o Mestre repete-a, afirmando, categoricamente, que "todos os que pedem, recebem; os que buscam, acham; e a quem bate, se abre".

Muitos homens supõem que, sendo Deus onisciente, sabe perfeitamente o de que carecemos e tudo fará por nós sem que precisemos pedir-Lhe nada, nem dar-nos a qualquer incômodo.

Demonstram, com essa atitude, que não compreenderam as promessas do Evangelho.

Primeiramente, a razão do "pedir" não é informar a Deus do que havemos mister, nem lembrá-Lo de algo que, porventura, tenha esquecido, porque, de fato, Ele sabe de tudo a nosso respeito e não é de Sua natureza fazer-se rogado para derramar-nos as Suas bênçãos.

Com o "pedir", confessamos nossa indigência, nossa fraqueza, e, com esse ato de humildade e de fé, teríamos aquelas condições de receptividade indispensáveis para que a graça divina possa atuar sobre nós, fortalecendo-nos o ânimo, de modo a levarmos a bom termo os nossos empreendimentos, inspirando-nos soluções adequadas aos problemas que nos aflijam, assim como infundindo-nos paciência e resignação, quando se trate de vencermos uma prova difícil.

Não basta, porém, pedir. É preciso, em complemento, "procurar" e "bater", isto é, que nos mexamos, que trabalhemos persistentemente, até atingirmos o objetivo colimado.

Assim, quer almejemos a conquista de uma situação mais confortável, quer desejemos vencer nossas inferioridades morais a fim de formarmos um caráter reto, seja o benefício que for, os esforços próprios são absolutamente necessários.

Esperar que Deus nos dê esses bens, dispensando-nos de qualquer colaboração, fora insensatez, porquanto, neste ou naquele terreno, "o progresso é filho do trabalho".

Há outra classe de homens que, igualmente, nada pedem a Deus. É a dos auto-suficientes, que, confiando apenas em si mesmos, julgam tudo poderem conseguir só com os recursos de sua inteligência e operosidade.

A esse Deus não castiga, como erroneamente se afirma por aí, mas abandona-os às próprias forças. As quedas e frustrações que, na certa, virão a sofrer, incumbir-se-ão de abater-lhes o orgulho, fazendo que reconheçam suas limitações e se voltem para o Alto.

Não sejamos, portanto, nem dos que se mantêm apáticos, inertes, esperando que Deus preveja e proveja tudo para eles; nem destes outros, arrogantes, presunçosos, que acreditam poderem prescindir do auxílio de Deus.

Oremos, confiantes, e trabalhemos, perseverantes; assim procedendo, sempre acharemos quem nos estenda mãos amigas, e todas as portas abrir-se-nos-ão, pois não há obstáculos que não sejam removidos ante o empenho de uma vontade inquebrantável, aliada a uma fé viva e operante.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Não resistais ao que vos fizer mal


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

A ocupação da Palestina, naquele tempo, ensejava constantes motivos de irritação para os judeus.
É que ali, como em todas as regiões que havia conquistado, a soldadesca romana impunha aos vencidos uma dependência odiosa e intolerável, tantas as humilhações e os vexames por que os faziam passar.
Era comum, por exemplo, um oficial romano dirigir-se de um ponto a outro da Judéia ou da Galiléia e, nessas viagens, obrigar os camponeses judeus que trabalhavam no campo a interromperem seus afazeres para carregar-lhe pesados fardos.
Da mesma sorte, quem saísse de casa com um destino qualquer, nunca poderia ter a certeza de que chegaria ao local desejado, pois, se lhe acontecesse encontrar pelo caminho algum representante das autoridades dominantes, poderia ser obrigado a retroceder ou a mudar completamente de direção, para prestar qualquer serviço que lhe fosse exigido.
Tentasse alguém reagir contra essas arbitrariedades e conheceria logo o preço de sua ousadia: o sarcasmo e crueldades inomináveis.
É de calcular-se, portanto, a amargura com que os judeus tinham de curvar-se em homenagem às bandeiras romanas, sempre que as viam passar conduzidas pelas tropas de César, e com que ardor aguardavam o dia em que pudessem sacudir o jugo do opressor.

***
Achava-se Jesus ensinando ao povo, nas cercanias de uma cidade que era sede de uma guarnição romana, quando a vista de uma companhia de soldados fez que seus ouvintes evocassem a lembrança do infortúnio que pesava sobre o povo israelita.
O Mestre relanceou o olhar pelos que o circundavam e, em suas faces, viu estampado, de forma indisfarçável, o ensaio de vingança que se aninhava em cada coração.
Percebendo que todos o fitavam ansiosamente, esperando fosse ele Aquele que houvesse de lhes dar o poder, a fim de esmagarem seus dominadores, contristou-se, pois bem diferente era a sua missão, e, retomando a palavra, disse-lhes com brandura:
“Tendes ouvido o que foi dito: olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao que vos fizer mal. Se alguém te ferir na face direita, oferece-lhe também a outra; ao que quer demandar contigo em juízo, para tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e se qualquer te obrigar a caminhar com ele mil passos, vai com ele ainda mais outros dois mil”. (Mateus, 5:38-41).
Expressando-se dessa maneira, é claro que Jesus não estava a endossar as violências com que a tirania militar da época acostumara-se a supliciar os subjugados. Longe disso.
O que ele quis ensinar nessa oportunidade, como, aliás, o fez durante toda a sua vida terrestre, foi que, malgrado a regra estatuída por Moisés – “olho por olho e dente por dente”, a Lei do Amor que viera revelar proibia terminantemente as desforras, as vinditas, não sendo lícito a ninguém vingar-se a si mesmo.
Unicamente a Deus pertence punir, assim os indivíduos como as nações que transgridam os mandamentos de Sua lei. Melhor do que nós, sabe Ele como obrigar os que erram a corrigir o erro cometido contra os semelhantes.
A oportunidade e a importância desses princípios estabelecidos pelo Mestre incomparável ressaltam ainda hoje. Fosse permitido a cada qual fazer justiça por suas próprias mãos, agindo ao sabor de sua vontade pessoal, e a vida em sociedade seria muito difícil, tais os desmandos e excessos que se verificariam.
Talvez se indague: pessoalmente, teve o Cristo ocasião de exemplificar tão sublime ensinamento?
Sim! Foi oprimido e não teve uma expressão de revolta; cuspiram-lhe na face e não revidou o ultraje; teve as costas lanhadas, sem malquerer os que o feriam, e, através dos séculos, chega até nós, da cruz do Calvário, a oração que proferiu por aqueles que lhe davam a morte: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!”.

Pelos seus frutos os conhecereis


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos os conhecereis. Porventura os homens colhem uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa dá bons frutos, e a má árvore dá maus frutos. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos. Toda árvore que não dá bom fruto será cortada e metida no fogo. Assim, pois, pelos frutos deles os conhecereis”. (Mateus, 7:15-20).
Que se deve entender por profeta?
Em sentido restrito, profeta é aquele que adivinha, prevê ou prediz o futuro.
No Evangelho, entretanto, esse termo tem significação mais extensa, aplicando-se a todos os enviados de Deus com a missão de edificarem os homens nas coisas espirituais, mesmo que não façam profecias.
Cada uma das centenas de religiões denominacionais em que se fragmentou o primitivo Cristianismo, ao fazer a exegese do texto acima, classifica como “falsos profetas” quantos esposem e ensinem doutrinas diferentes da sua, suposta a única verdadeira e a única com poderes de salvação.
É um erro, pois o Mestre nos diz claramente que a distinção entre os autênticos e os falsos profetas deve fundamentar-se, não propriamente naquilo que propaguem, mas na observância ou não dos princípios que aconselhem.
Destarte, falsos profetas são os que, em toda e qualquer facção religiosa, apenas se limitam a pregar boas normas de conduta, sem exercitá-la no trato com seus irmãos; são os que invocam constantemente o santo nome de Deus, com palavras melífluas, mas na realidade são servis adoradores de Mamon; são os que fingem ser mansos, humildes e caridosos, mas que, no íntimo, são o reverso do que aparentam.
Quem esteja, efetivamente, a serviço de elevada missão, quem seja mesmo um enviado de Deus, não precisará apregoá-lo para ser acreditado como tal; dar-se-á a conhecer “pelos seus frutos”, isto é, impor-se-á pela excelência das virtudes que exemplifique, pelos atos de altruísmo que pratique.
Os espíritas, mais que quaisquer outros, têm sido apontados como falsos profetas, e até mesmo anticristos, por rejeitarem certos dogmas engendrados pela Teologia tradicional.
Aplique-se-lhes, porém, o método de aferição preconizado pelo Mestre, e ver-se-á que, conquanto possa existir entre eles, como de fato existem, alguns “lobos camuflados com pele de ovelha”, sua influência na sociedade tem sido benéfica e salutar, não só pela gigantesca obra assistencial que realizam em favor da infância desvalida, da velhice desamparada, dos enfermos, enfim, dos desgraçados de todos os matizes, como também pelo esforço que empreendem no sentido do auto-aperfeiçoamento, buscando, cada qual, pela noção que tem de sua responsabilidade pessoal, tornar-se um cidadão útil a si próprio, à família, à pátria e à Humanidade.
Ora, “não podendo a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos”, se os frutos produzidos pelos espíritas são de boa espécie, segue-se que eles não são demônios nem endemoninhados, mas filhos de Deus, tão dignos de respeito e consideração quanto os demais.
Portanto, ao invés de tacharmo-nos uns aos outros de falsos profetas, por motivo de divergência religiosa, tratemos, todos, de operar o bem, para não termos a mesma sorte das árvores estéreis que, um dia, serão cortadas e lançadas ao fogo.
Se não dermos bons frutos, poderemos, ao se fechar o presente ciclo evolutivo da Terra, ser banidos para um mundo inferior e, ali, provarmos o fogo depurador das mais tristes e dolorosas expiações.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Só entrarão no reino dos céus...

Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB -
 

 7ª Edição - 6/1989.

“Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus; apenas entrarão aqueles que fazem a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E eu então lhes direi em voz muito inteligível: nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que obrais a iniqüidade”. (Mateus, 7:21-23).
O texto em epígrafe, vazado em linguagem clara e precisa, não deixa a menor dúvida que a entrada no reino dos céus é uma questão de observância das leis divinas e não de filiação a esta ou àquela organização eclesiástica, de nada valendo as cerimônias ritualísticas, os exercícios religiosos, ou as confissões de fé que não se façam acompanhar de boas obras.
Os que dizem: “crede, e sereis salvos”; ou: “crede, e não precisareis guardar a lei”, coitados! – são cegos condutores de cegos.
Jesus sempre condenou com veemência as práticas meramente formalistas de religiosidade, e jamais acoroçoou a idéia de que seja suficiente a aceitação deste ou daquele “credo”, para que alguém tenha assegurado sua entrada nas mansões celestiais.
É a obediência aos mandamentos que prova a sinceridade de nossas convicções e a excelência da doutrina que aceitamos.
Quando essa doutrina é de molde a transformar-nos, erradicando de nós as características do “homem velho”, repleto de imperfeições, vícios e mazelas, para substituí-las pelas do “homem novo”, fazendo que em nossa vida se manifestem a honestidade, a brandura, a tolerância e a alegria de fazer o bem, então podemos saber que estamos trilhando o caminho certo, pois “é pelos frutos que se conhece a qualidade da árvore”.
Serão dignos do nome de cristão, os que se limitam a pregar os ensinamentos do Cristo (profetizar em seu nome), mas cujo caráter não se modifica para melhor, e não se mostram nem mais solícitos nem mais fraternos para com os outros? Não!
Os que, segundo os processos kardecistas ou umbandistas, doutrinam Espíritos obsessores, afastando-os daqueles que lhes sofriam o assédio, mas não se doutrinam a si mesmos, continuando com as mesmas fraquezas morais e a mesma falta de caridade no trato com seus semelhantes? Tampouco!
Os que fazem promessas, impondo-se penosas macerações, em demonstrações prodigiosas de fanatismo religioso (que a ninguém beneficiam), mas só cuidam da própria salvação, indiferentes à miséria e ao sofrimento do próximo? Também não!
À semelhança dos fariseus, os quais o Mestre comparou a sepulcros branqueados, formosos por fora, mas que por dentro estão cheios de asquerosidade, esses tais têm piedade apenas nos lábios, pois em seus corações o que há, realmente, é só frieza e hipocrisia.
Batendo na mesma tecla, disse Jesus de outra feita:
“Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus; mas, ao que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante de meu Pai que está nos céus”. (Mateus, 10:32-33).
Portanto, chamar Jesus Cristo de Nosso Senhor ou Nosso Salvador, entoar-lhe hinos e louvores, será de todo inútil se lhe não seguirmos os preceitos.
Sim, porque “confessar o Cristo diante dos homens” tem o sentido de proceder de conformidade com sua doutrina; significa devotar-se ao auxílio da Humanidade, sem exceção de espécie nenhuma, amparando, ensinando e servindo sempre, tornando-se um veículo da manifestação do Amor e da Verdade no mundo.
Enquanto formos movidos pelo egoísmo e pela vaidade, vivendo tão-somente para a exaltação do próprio “eu”; enquanto nos mantivermos insensíveis à má sorte de nossos irmãos, conquanto nos proclamemos seguidores do Cristo, estaremos negando-o diante dos homens, pois “amando-nos uns aos outros” é que nos daremos a conhecer como verdadeiros discípulos seus. E como “o amor é o cumprimento da Lei”, só quando soubermos amar é que faremos jus ao galardão celestial.