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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

CONSTRUIR O REINO DE DEUS EM NOSSOS CORAÇÕES


O reino de Deus não vem com visível aparência (Lucas 17:.20): precisamos construí-lo pacientemente em nossos corações. O reino de Deus não é subjetivo, ou pertencente a um mundo estranho. Ele foi implantado na Terra, e está crescendo entre os homens e as nações de boa vontade.
Aditou Jesus que o reino de Deus será subtraído ao povo que se tornar infiel e dado a um outro que apresentar melhores condições de assimilação.
A razão primária do preparo do povo de Israel para a gloriosa missão que lhe estava reservada, residia no fato de ser a única comunidade monoteísta da época - o único povo que esposava a crença num Deus uno e indivisível -, tornando-se, como decorrência, a nação que apresenta, as melhores condições para receber em seu seio o Messias prometido.
Por essa razão fundamental, o povo judeu foi alvo de intensa preparação por parte de entidades espirituais, sob a égide do Espírito Jeová, sendo desta forma propiciado para o advento sucessivo de numerosos profetas e missionários, precursores da vinda de Jesus Cristo.
Não houve, entretanto, a ressonância devida: muitos profetas foram apedrejados e mortos e o Messias foi crucificado. Cumpriu-se, assim, o vaticínio de Jesus contido em Mateus (23:37-39) "Jerusalém, que matas os profetase apedrejamos que te são enviados. Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintainhos debaixo das asas, e não o quiseste! Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta. Pois eu vos digo que desde agora já não me vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor".
As hostes romanas de Tito invadiram a famosa cidade, no ano 69, destruindo-a e forçando o povo israelita a se dispersar pelo mundo, perdendo a sua própria pátria. A sua terra foi dada a um povo diferente.
O reino de Deus, entretanto, tem sido dado e retirado de outros povos. Muitas nações tiveram em suas mãos a viabilidade de disseminar o conhecimento desse reino, porém assoberbadas pela glória terrena, pelo orgulho e pela vaidade, pouco ou nada fizeram a fim de corresponder à expectativa do Alto .
A Espanha dos reis católicos, em cujos domínios jamais se deixava de ver o sol, experimentou glória e opulência. Poderia ter sido consolidado no mundo um reino de paz e solidariedade, no entanto, ofuscou-se com o fausto e com o orgulho. Muitos emissários do Alto foram devorados pelas suas fogueiras inquisitoriais e perseguidos pela sanha intolerante daqueles que tinham em suas mãos o cetro do poder. O reino de Deus não encontrou terreno adequado. A velha nação entrou numa fase de decadência e de expiação.
A França napoleônica, cujos domínios se estenderam a boa parcela do mundo, não soube levar a paz e a concórdia às nações conquistadas .. A vaidade e a presunção passaram a nortear os rumos dos seus governantes. A possibilidade de amoldar-se às normas evangélicas simbolizadas no reino de Deus não encontrou guarida.
O Reino de Deus se fundamenta na primazia dos ensinamentos do Evangelho. A sua lei básica é o Amor; a sua bandeira é a Justiça: o seu escudo é a Verdade; o seu símbolo é a Paz. Seu objetivo é irmanar o gênero humano de modo a haver "um só rebanho sob a égide de um só pastor". Não é um reino que se impõe, mas que expõe: que não quer vencer, mas convencer; que quer ação em vez de adoração: que pretende transformar os homens em lídimos herdeiros de um Pai soberanamente justo e bom. Suas guerras são apenas intelectuais feitas contra o egoísmo, o orgulho, a vaidade, a inveja, o ódio, o ciúme e outras formas de defeitos e ócios.
O reino de Deus pode ser subtraído das comunidades religiosas, quando elas se divorciam dos ditames evangélicos; quando se distanciam das massas sofredoras; quando se encastelam no orgulho e na vaidade: quando passam somente a cogitar das riquezas temporais, esquecidas do tesouro que o Mestre recomendou ser acumulado nos céus.
O reino de Deus é, também, tirado, temporariamente, de seio das famílias quando os seus componentes não vivem nas pautas da moral da compreensão, do amor recíproco, preferindo antes viverem chafurdados nos vícios e na intemperança, esquecidos da reforma interior.
O reino de Deus é tirado, provisoriamente, do coração do homem, quando este se torna avaro, assassino, perdulário, dissoluto: quando vive mergulhado nos vicíos terrenos; quando malbarata os seus deveres fundamentais no recesso do lar, aniquilando seus próprios valores morais e anulando os benefícios de mais uma vida terrena. Muitos homens de Israel se arroganm ao título de Filhos do Reino, por se considerarem mais puros que todos os outros homens, no entanto, o Mestre preceituou, enfático: "Os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, em que haverá choro e ranger de dentes" Mateus 8:12).
Somente através dos processos expiatórios as nações redimem-se, predispondo-se a novas experiências de adaptação ao reino de Deus. Somente pelos processos reencarnatórios as famílias e o homem podem fazer jus a novas experiências no tocante à reimplantação daquele reino em seus corações. Somente por intermédio da reforma de base, da derrocada dos dogmas, da adaptação aos postulados evangélicos, cingindo-se às práticas do amor e do apego à verdade, as religiões poderão atrair a si, novamente, o reino de Deus.
Paulo Alves Godoy
Os quatro Sermões

domingo, 30 de dezembro de 2012

A SIMPLICIDADE DE ESPÍRITO:"Jesus, abençoando as crianças e acariciando-as, mostrou que mais vale ser ignorante e simples, do que presumir de sábio sem simplicidade..."


"Traziam-lhe também as crianças para que as tocasse; e os discípulos, vendo isto, repreendiam aos que as traziam. Mas Jesus, chamando-as para junto de si, disse: Deixai vir os meninos, e não os impeçais; pois dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de maneira alguma entrará nele." (Lucas, XVIII, 15-17)

"Então lhe traziam alguns meninos para que os tocasse; e os discípulos repreenderam aos que os trouxeram. Mas Jesus, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os meninos, não os impeçais; porque dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de modo algum entrará nele. E abraçando os meninos, os abençoava, pondo as mãos sobre eles." (Marcos, X, 13-16)

Deus criou os Espíritos simples e ignorantes e lhes concedeu os meios de progresso e perfeição. É preciso que haja ignorância para que haja aperfeiçoamento, de cujo trabalho vem o mérito de cada um; e o aperfeiçoamento não se faz sem simplicidade. Os Espíritos simples são por isso bem-aventurados.

As bem-aventuranças são as remunerações da simplicidade. Os vaidosos, os arrogantes, não podem ter simplicidade, sendo por isso condenados por suas idéias preconcebidas.

Jesus usou as crianças como símbolo, ou antes, como personificação da simplicidade; elas são, quando em sua inocência,
a representação da simplicidade de espírito. Sabem que não sabem, e se esforçam para saber, perguntando, inquirindo aqui e ali. Não têm opinião preconcebida, nem se arrogam títulos de mestres e doutores; costumam respeitar as convicções, e, quando estas lhes parecem disparatadas, indagam os motivos e procuram tirar deduções, as que lhes pareçam justas.

A simplicidade de espírito é uma das grandes prerrogativas, indispensável à aquisição do Reino de Deus. Por que os escribas, os fariseus, os doutores da Lei, os religiosos de então repeliram a Doutrina de Jesus, chegando a ponto de pedir a morte do Filho de Deus?
Porque, sem nenhuma simplicidade de espírito, vaidosos dos seus conhecimentos, orgulhosos do seu saber, não percebiam a ignorância em que se achavam das coisas divinas e se julgavam possuidores de toda a verdade.

Jesus, abençoando as crianças e acariciando-as, mostrou que mais vale ser ignorante e simples, do que presumir de sábio sem simplicidade.
E assim como um "odre velho" não pode suportar um "vinho novo", por estar impregnado do velho licor, também é preciso que o homem se torne simples, isto é, ponha de lado as crenças avoengas que recebeu por herança, para analisar, sem preconceito, o Cristianismo que a ninguém veio impor os seus preceitos, mas apresentar-se a todos como a única Doutrina capaz de nos dar a perfeição, se a estudarmos e a compreendermos em espírito e verdade.

Nas passagens acima, de Lucas e Marcos, Jesus faz também uma ligeira alusão à reencarnação, como um dos meios de nos desembaraçarmos das idéias preconcebidas desde a infância, e nos tornarmos aptos para a boa recepção da Verdade, consubstanciada nos princípios redentores do Cristianismo.

De modo que "aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de maneira alguma entrará nele". Aquele que não receber o Reino de Deus com simplicidade, humildade e boa vontade de se aproximar de Deus, não entrará nele.
Cairbar Schutel

Livro: O Espírito do Cristianismo

Buscai primeiramente o reino de Deus


Não é preciso ser muito versado em psicologia para verificar que todas as ações humanas obedecem a um móvel, isto é, são determinadas por um ideal ou um desejo mais intenso.
Aquilo que o indivíduo coloca em primeira plana na vida exerce tal influência em sua conduta que, consciente ou inconscientemente, seus pensamentos, sua conversação, seus hábitos, etc... entram a girar em torno desse alvo, e todos os seus passos para ele convergem.
Por conhecer essa lei é que Jesus nos recomenda: "buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça" (Mateus, 6:33), querendo com isso significar que os cristãos devem colocar os valores espirituais acima de tudo, pois na aquisição deles é que havemos de encontrar a verdadeira felicidade.
Lamentavelmente, são poucos, ainda, os que vivem pelos ideais superiores.
Em geral, o que os homens querem e buscam sofregadamente é o reino da terra mesmo.
Para amealhar fortuna que lhes proporcione, depois, uma vivência faustosa e sem cuidados, ou conquistar destaque social que lhes lisonjeie o orgulho, não há incômodos, esforços, nem sacrifícios que não estejam dispostos a enfrentar.
Alguns, para conseguir esse objetivo utilitário, não hesitam em empregar processos ignominiosos: exploram o serviço dos semelhantes, organizam trustes e monopólios nefandos, engendram conciliábulos políticos, descem, enfim, a todas as vilanias e torpezas, sem atender a qualquer reclamo da própria consciência.
Esses tais avaliam o êxito na vida pela conta-corrente que tenham nos bancos ou pela posição adquirida na sociedade, e, em sua grosseira materialidade, consideram que seria uma desgraça verem-se privados desses elementos.
Esquecem-se, entretanto, de que, ao transporem as aduanas da morte, não só deixarão aqui os seus queridos tesouros, como ainda terão de responder, perante a Justiça Divina, pelos meios que empregaram para acumulá-los!
Olvidam, igualmente, que o prestígio mundano é algo de todo inútil no "lado de lá", onde os que se exaltam aqui na Terra serão humilhados, e os que são adulados poderão ser escarnecidos, senão relegados ao horror das trevas que o egoísmo houver adensado em volta de suas almas!
Compenetremo-nos, pois, de que tudo aquilo que só serve para a existência terrestre é mera vaidade, e, seguindo o conselho do Mestre, porfiemos no bem, para merecermos a glória de tornar-nos súditos do "reino de Deus".
Rodolfo Calligaris
Livro Sermão da Montanha

DEUS


"Pai, santificado seja o Teu nome, venha o Teu reino". - (Lucas, 11:2)
Como definir Deus? Escasseiam-nos as palavras, vagueiam-nos as expressões, deixando-nos sem possibilidade de confïgurá-Lo em toda a Sua grandeza, em toda a Sua Majestade.

Debalde os homens procuram defini-Lo, enaltecendo Seus atributos, destacando ser Ele eterno, imutável, onipotente, onisciente, soberanamente justo e bom, completando com um interminável cortejo de qualificativos, no qual se salienta ser Ele o Criador de todas as coisas e o Arquiteto do universo e da vida.

Entretanto, a despeito de todos esses atributos, falecem-nos meios de expressar tudo aquilo que Ele realmente é, pois a pobreza da linguagem humana carece de terminologia para propiciar uma visão ampla a clara de tudo o que aureola o Seu santo nome.

Os nossos antepassados, confundindo Jeová com Deus, emprestavam-Lhe caracteres profundamente humanos, afirmando inclusive que Ele havia criado os homens à sua imagem e semelhança. Os antigos hebreus viam em Jeová - uma deidade tribal - o deus do universo e da vida, porém, aureolavam-no com propensões de natureza humana: uma entidade repleta de rancor, de parcialidade, de sentimentos de vingança, tendo mesmo chegado a promovê-Lo a "Senhor dos Exércitos", sempre pronto a fulminar com o furor de sua ira os inimigos do povo judeu, esquecendo-se de que eles também eram Seus filhos.

Em passado menos longínquo, no negro período da Idade Média, "Deus", além de ser o "Senhor dos Exércitos", transformou-se num tirano que se deleitava com o cheiro de carne assada
das vítimas da chamada "Santa Inquisição", que se comprazia con as lutas fratricidas e sanguinolentas das chamadas "santas" cruzadas, ou com o massacre indiscriminado, de supostos hereges, com maior destaque aquele ocorrido na noite de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572), quando, na França, foram mortos cerca de 50.000 huguenotes (protestantes), dentre eles homens, mulheres e crianças.

Nos dias atuais, ainda prevalece a imagem de um "Deus" zeloso, parcial e vingativo, que continua a condenar Seus filhos às "penas eternas", a um clamoroso inferno, abominando Suas próprias criaturas, entregando-as ao domínio de um utópico Satanás chefe dos abismos infernais, como jamais o faria um pai terreno.

Debalde os materialistas apregoam que Deus não existe, pois a obra de Deus é manifesta em tudo o que existe no universo. Muitos homens dizem que Deus é a Natureza, esquecendo-se de que, na realidade, a Natureza é também uma obra de Deus.

A grandiosidade da obra de Deus se revela quando contemplamos o firmamento com os seus milhões e milhões de astros gravitando no espaço infinito, bem como a Sua criação dos reinos mineral, vegetal, animal e hominal.

Admiramos Deus quando nos revela o Seu incomensurável amor, fazendo descer à Terra o seu Filho amado, para nos trazer a imorredoura mensagem evangélica. O seu Ungido, a fim de poder consolidar, entre os homens, os Seus sublimes ensinamentos, deu a própria vida, no cimo do Calvário, abalando os corações humanos através dos séculos.

Afirmou Jesus Cristo que Deus faz o sol aquecer bons e maus,
e a chuva beneficiar justos e injustos, porque todos são Seus filhos amados, enredados num perene processo evolutivo.

Proclamou, também, o Mestre, que Deus simboliza o pai da Parábola do Filho Pródigo, sempre pronto a receber, de volta, a seu seio, o filho transviado, da mesma maneira como o bom pastor recebe com indescritível gozo as ovelhas perdidas que voltam ao aprisco.

Jesus Cristo nos revelou Deus como sendo o Pai generoso que veste os lírios dos campos e que sustenta os pássaros dos Céus, da mesma forma como provê as necessidades dos homens, que jamais devem duvidar da Sua justiça e do Seu amor paternal.

No célebre colóquio com a Mulher Samaritana, Jesus Cristo sustentou que o Pai quer ser adorado em espírito pelos verdadeiros adoradores, o que implica em dizer que as adorações exteriores, ou o culto externo, são pueris e inócuos, tendo pouco ou nenhum valor aos olhos do Criador.

Afirmou, ainda, o Mestre Nazareno que somente Deus é bom, o que significa dizer que mesmo o Mestre dos Mestres se considerava distanciado da Sua perfeição.

Alguns cristãos, do início da nossa era, não sabendo como definir Deus, nem conciliar com a verdade alguns ensinamentos de Jesus Cristo, outorgaram ao Criador um aspecto tríplice, sustentando ser Ele uma entidade trina, sendo simultaneamente Pai, Filho e Espírito Santo, mesclando, assim, o que é eterno, imutável, com o que é criado e sujeito à evolução.

Deus é o nosso Pai celestial, que cobre com os Seus amor incomensurável tudo aquilo que foi por Ele criado; e, em nosso modo de ver, não existem palavras que possam expressar toda a Sua grandeza e a extensão dos Seus poder e glória.
Paulo A. Godoy

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"Se a tristeza e o desânimo te procuram, acende a lanterna da coragem e resiste ao sopro frio do desalento..."

NA PREPARAÇÃO DO REINO DA LUZ
Emmanuel
Chamados a substancializar o Evangelho de Jesus no campo da vida
humana, decerto, nós outros, os espíritos encarnados e desencarnados, somos
constrangidos a levantar em nós mesmos os alicerces do Reino de Deus, adstritos à
verdade de que o Céu começa em nós mesmos.
Em razão disso, os antigos processos de construção palavrosa, através dos
quais o verbo, muita vez, pretende superar o nível do exemplo, não podem constituir
padrão às nossas atividades.
Também nós possuímos o tesouro do tempo, muito mais expressivo do que
a riqueza amoedada, e, por isso, ao invés de criticar o companheiro que padece a
obsessão da autoridade e do ouro, será mais justo operar com o nosso próprio trabalho a
lição da bondade incessante sem nos perder no vinagre da censura ou do nevoeiro da
frase vazia.
Nós, igualmente, guardamos conosco os talentos da fé raciocinada, muito
mais sólidos que os da crença vazada em cegueira da alma, competindo-nos, desse
modo, não a guerra de revide ou condenação aos que nos esposam os pontos de vista,
mas, sim, a prática da tolerância fraterna e da caridade genuína, pelas quais os nossos
companheiros de evolução e de experiência consigam ler a mensagem da Vida Maior,
abandonando naturalmente as grilhetas da ignorância.
Não nos bastará, dessa forma, a confissão labial da fé como entusiasmo de
quem se vê na iminência dos princípios superiores.
É necessário saibamos comungar a esperança e o sofrimento, a provação e
a dificuldade dos outros, abençoando os irmãos que nos partilham a marcha e
ensinando-lhes, pela cartilha de nossas próprias ações, o caminho renovador, suscetível
de oferecer-lhes a bênção da paz.
Sem dúvida, milhões de inteligências se agregam à ilusão e à crueldade,
descerrando aos homens resvaladouros calamitosos, preparando o domínio da morte e
fortalecendo o poder das trevas, todavia, a nós outros se roga o cérebro e o coração para
que o Cristo se manifeste em plenitude de sabedoria e de amor, nas vitórias do espírito,
por intermédio das quais a Humanidade ainda na sombra será, finalmente, investida na
posse da Eterna Luz.
Se a tristeza e o desânimo te procuram, acende a lanterna da
coragem e resiste ao sopro frio do desalento, prosseguindo no trabalho que a
vida te confiou.


Livro: Alvorada do Reino
Chico Xavier e Emmanuel

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

NÃO ESTÁS LONGE DO REINO DE DEUS


"E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus." (Marcos, 12:34)
Após ter tido uma disputa com alguns saduceus sobre a ressurreição, aproximou-se de Jesus um escriba e lhe fez a seguinte pergunta: "Qual é o primeiro de todos os mandamentos?'

O Mestre, então, lhe respondeu: o primeiro de todos os mandamentos é: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor."
"Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes."

O escriba, tomando a palavra, lhe disse: "Muito bem, Mestre, e como verdade disseste que há um só Deus, que não há outros, além dele. E amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo com a si mesmo é mais do que todos os holocaustos, todos os sacrifícios."

E Jesus, vendo que ele havia respondido sabiamente, disse-lhe: "Não estás longe do Reino de Deus."

O evangelista Mateus, discorrendo sobre o mesmo ensinamento (22:34-40), afirma que o Mestre corroborou, ainda mais, enfaticamente, o ensino supra, quando asseverou: "Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas." O que implica em afirmar que todas as leis estabelecidas anteriormente e todas as prescrições emanadas dos antigos profetas giravam em torno destes dois mandamentos principais: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo."

A Humanidade já foi presenteada com três Revelações básicas: a primeira personificada em Moisés, que se constituiu no princípio sobre o qual se assentaria, mais tarde, a segunda. A segunda, trazida por Jesus Cristo, consagrou toda a parte divina e moral da primeira, derrogando tudo o que tinha caráter transitório, que á havia sido superado no tempo e no espaço, evidenciando, em síntese, que nenhuma instituição religiosa poderia prevalecer, se não estivesse alicerçada sobre as leis do amor.
A terceira, cumprida com o advento da Doutrina Espírita, consubstancia todos os ensinamentos de Jesus, em cuja base granítica se assentou, com o objetivo de conduzir a Humanidade a seus nobilitantes objetivos, através do aprimoramento moral, da reforma intima e da assimilação e vivência dos postulados evangélicos, que gravitam em torno da aplicação das leis do amor, sem nenhuma limitação.

"Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo", eis a súmula de tudo o que constitui a preocupação máxima dos antigos profetas, que Jesus Cristo deixou bem caracterizada nas páginas dos Evangelhos, sendo, atualmente, uma das normas fundamentais incorporadas à Doutrina Espírita.

O escriba em apreço, conflitando com o modo de pensar da maioria dos doutores da lei de sua época, foi bastante categórico: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo vale mais que todos os holocaustos, todos os sacrifícios."

Aqui é conveniente analisar estas últimas palavras: "vale mais que todos os holocaustos, todos os sacrifícios". E evidente que o escriba não se referia ao sacrifício praticado, com desprendimento, em favor do próximo, o qual é altamente meritório aos olhos de Deus. Ele se referia aos sanguinolentos sacrifícios de animais e mesmo de criaturas humanas, como eram comumente praticados naquela época, e em tempos ainda mais remotos.

Jesus, vendo nele um homem de mente arejada, livre dos entraves, dos preconceitos e da observância de vãs tradições, sentenciou-lhe: "Não estás longe do Reino de Deus."

A Doutrina Espírita consagra o princípio de que os atos exteriores, nos quais os corações não tomam parte, são nulos em si mesmos, que somente o ato bom e generoso, praticado com desprendimento e fundamentado na caridade em sua mais sublime expressão, pode aureolar uma religião e fazer com que ela realmente oriente os seus prosélitos, na senda verdadeira da auto-reforma, assimilando as normas sadias da prática do amor e, desta forma, se encaminhando para Deus.

Qual o método mais eficiente para se aquilatar, quando se está perto ou longe do Reino de Deus? Tudo indica que o simples fato de portar um rótulo religioso não é o bastante. Crer em Deus, ou depositar fé em seu poder, também não é indicação segura de se estar aproximando dele.

Se uma pessoa praticar a caridade com desprendimento e desinteresse, amando o seu próximo como a si mesma, perdoando aos seus inimigos, fazendo tudo isso espontaneamente, como um impulso íntimo partido do fundo de seu coração, poderá ter a certeza de que se está aproximando cada vez mais do Criador.

Ao tempo de Moisés, o povo acreditava que determinada observância de formalidades religiosas mantinha aplacada a "fúria" de Jeová. Quando Jesus esteve entre nós, ainda se defrontou com resquícios dessas crenças, e os homens ainda mantinham apego a numerosas tradições inócuas, muito pouco fazendo em favor do seu aprimoramento moral e espiritual.

O Espiritismo recomenda que não se deve dar nenhum apreço aos meros formalismos exteriores, que sempre se constituíram no apanágio daqueles que preferem uma religião fácil, capaz de conduzi-los ao Céu com o dispêndio de pouco esforço e sem os pesados encargos oriundos de uma vida bem vivida, duma vivência nos moldes balizados nos Evangelhos de Jesus Cristo, cumprindo assim, com fidelidade a vontade de Deus.
Paulo A. Godoy
Casos Controvertidos do Evangelho

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O PROGRAMA DO SENHOR

01 - O PROGRAMA DO SENHOR
A frente da turba faminta, Jesus multiplicou os pães e os peixes, atendendo à necessidade
dos circunstantes.
O fenômeno maravilhara.
O povo jazia entre o êxtase e o júbilo intraduzíveis.
Fora quinhoado por um sinal do Céu, maior que os de Moisés e Josué.
Frêmito de admiração e assombro dominava a massa compacta.
Relacionavam-se, ali, pessoas procedentes das regiões mais diversas.
Além dos peregrinos, em grande número, que se adensavam habitualmente em torno do
Senhor, buscando consolação e cura, mercadores da Iduméia, negociantes da Síria,
soldados romanos e cameleiros do deserto ali se congregavam em multidão, na qual se
destacavam as exclamações das mulheres e o choro das criancinhas.
O povo, convenientemente sentado na relva, recebia, com interjeições gratulatórias, o
saboroso pão que resultara do milagre sublime.
Água pura em grandes bilhas era servida, após o substancioso repasto, pelas mãos robustas
e felizes dos apóstolos.
E Jesus, após renovar as promessas do Reino de Deus, de semblante melancólico e sereno
contemplava os seguidores, da eminência do monte.
Semelhava-se, realmente, a um príncipe, materializado, de súbito, na Terra, pela suavidade
que lhe transparecia da fronte excelsa, tocada pelo vento que soprava, de leve...
Expressões de júbilo eram ouvidas, aqui e ali.
Não fornecera Ele provas de inexcedível poder? não era o maior de todos os profetas? não
seria o libertador da raça escolhida?
Recolhiam os discípulos a sobra abundante do inesperado banquete, quando Malebel,
espadaúdo assessor da Justiça em Jerusalém, acercou-se do Mestre e clamou para a
multidão haver encontrado o restaurador de Israel. Esclareceu que conviria receber-lhe as
determinações, desde aquela hora inesquecível, e os ouvintes reergueram-se, à pressa,
engrossando fileiras, ao redor do Messias Nazareno.
Jesus, em silêncio, esperou que alguém lhe endereçasse a palavra e, efetivamente, Malebel
não se fez rogado.
– Senhor – indagou, exultante –, és, em verdade, o arauto do novo Reino?
– Sim – respondeu o Cristo, sem, titubear.
– Em que alicerces será estabelecida a nova ordem? – prosseguiu o oficial do Sinédrio,
dilatando o diálogo.

– Em obrigações de trabalho para todos.
O interlocutor esfregou o sobrecenho com a mão direita, evidentemente inquieto, e
continuou:
– Instituir-se-á, porém, uma organização hierárquica?
– Como não? – acentuou o Mestre, sorrindo.
– Qual a função dos melhores?
– Melhorar os piores.
– E a ocupação dos mais inteligentes?
– Instruir os ignorantes.
– Senhor, e os bons? Que farão os homens bons, dentro do novo sistema?
Ajudarão aos maus, á fim de que estes se façam igualmente bons.
– E o encargo dos ricos?
– Amparar os mais pobres para que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.
– Mestre – tornou Malebel, desapontado –, quem ditará semelhantes normas?
– O amor pelo sacrifício, que florescerá em obras de paz no caminho de todos.
– E quem fiscalizará o funcionamento do novo regime?
– A compreensão da responsabilidade em cada um de nós.
– Senhor, como tudo isto é estranho! – considerou o noviço, alarmado – desejarás dizer que
o Reino diferente prescindirá de palácios, exércitos, prisões, impostos e castigos?

– Sim – aclarou Jesus, abertamente –, dispensará tudo isso e reclamará o espírito de
renúncia, de serviço, de humildade, de paciência, de fraternidade, de sinceridade e,
sobretudo, do amor de que somos credores, uns para com os outros, e a nossa vitória
permanecerá muito mais na ação incessante do bem com o desprendimento da posse, na
esfera de cada um, que nos próprios fundamentos da Justiça, até agora conhecidos no
mundo.

Nesse instante, justamente quando os doentes e os aleijados, os pobres e os aflitos desciam
da colina tomados de intenso júbilo, Malebel, o destacado funcionário de Jerusalém, exibindo
terrível máscara de sarcasmo na fisionomia dantes respeitosa, voltou as costas ao Senhor, e,
acompanhado por algumas centenas de pessoas bem situadas na vida, deu-se pressa em
retirar-se, proferindo frases de insulto e zombaria...
O milagre dos pães fora rapidamente esquecido, dando a entender que a memória funciona
dificilmente nos estômagos cheios
, e, se Jesus não quis perder o contacto com a multidão,
naquela hora célebre, foi obrigado a descer também
.

Livro: Pontos e Contos /Irmão X por Francisco Candido Xavier

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O "Pai Nosso" (II)

rodolfo calligaris

Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“Venha a nós o vosso reino”.
Que devemos entender por “reino de Deus” ou “reino dos céus?”.
Em mais de uma dezena de parábolas, todas elas muito engenhosas e edificantes, Jesus focaliza os diversos aspectos que o caracterizam. Eis algumas delas: a do semeador, do joio e o trigo, do grão de mostarda, do fermento, do tesouro escondido, da pérola, da rede, do credor incompassivo, dos trabalhadores e as diversas horas do trabalho, dos dois filhos, dos lavradores maus, das bodas, das dez virgens, etc.
Um exame atento dessas parábolas deixa patente que “o reino de Deus” não é propriamente um “lugar” de delícias, nem uma organização cujos membros se identifiquem por uma determinada fé, mas algo que se verifica no íntimo de nós mesmos: a evolução, o aperfeiçoamento de nossas almas.
Segundo o apóstolo S. Paulo, “o reino de Deus não é comida, nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (consciência). (Romanos, 14:17).
Que precisamos fazer para nos tornarmos súditos desse reino?
Isso também foi explanado pelo Mestre com a máxima clareza, constituindo mesmo a idéia central de seus ensinos. Sirvam-nos de exemplo, entre inúmeros outros, os seguintes passos evangélicos: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai”. (Mateus, 7:21). – “Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era hóspede, e me recolhestes; estava nu, e me cobristes; estava enfermo, e me visitastes; estava no cárcere, e viestes ver-me. Na verdade vos digo que, quantas vezes fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes”. (Mateus, 25:34-36, 40). – “E eis que se levantou um doutor da lei e disse, para o tentar: Mestre, que hei de fazer para entrar na posse da vida eterna? Disse-lhe então Jesus: Que é o que está escrito na lei? Como a lês tu? Ele, respondendo, disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças, de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E Jesus lhe disse: Respondestes bem; faze isso e viverás”. (Lucas, 10:25-28).
Diante de textos tão cristalinos, parece não subsistir a menor dúvida de que nossa entrada no reino de Deus depende, não da simples aceitação de uns tantos dogmas religiosos, nem da submissão a este ou àquele sacramento, mas tão-somente de possuirmos aquelas qualidades morais que exortam o homem justo e bom.
Quando se estabelecerá entre nós esse reino?
Tal pergunta, igualmente, fora feita certa vez pelos fariseus, e a ela o Mestre deu a seguinte resposta, breve, mas profunda: “O reino de Deus não virá com aparência exterior, nem dirão: ei-lo aqui, ou ei-lo acolá; o reino de Deus está dentro de vós”. (Lucas, 17:20-21).
Meditemos bem nestas palavras: “O reino de Deus está dentro de vós!”. Não se trata, portanto, de um evento futuro, remoto, como muitos o imaginam, mas de um fato atual, presente.
Com efeito, se nossa alma é “imagem e semelhança de Deus”, como diz o Gênesis; se fomos gerados, não da carne, nem da vontade do varão, “mas de Deus”, como nos afirma João, o evangelista; se “dele (Deus), por ele e nele existem todas as coisas”, como nos revela S. Paulo, esse reino, inquestionavelmente, está dentro de nós, se bem que em estado latente, à semelhança da planta contida em potencial na semente.
Enquanto o homem ignora a natureza divina de sua alma e vai vivendo egoisticamente, embora o reino de Deus esteja nele, ele não está no reino de Deus e daí a sua inquietação e seus sofrimentos. Quando, porém, faz essa preciosa descoberta e passa a esforçar-se por desenvolver o seu Cristo interno, pautando os atos de sua vida por aquele ideal sublime que consiste em “fazer a vontade do Pai”, o reino de Deus entra a desenvolver-se dentro dele, cresce, expande-se, atinge a plenitude, e sua alma ganha então uma paz, uma tranqüilidade e uma alegria indescritíveis, que nada, vindo de fora, são capazes de destruir.
Posto que o reino de Deus, qual o havemos entendido, não pode ser implantado na Terra sem que antes seja uma realidade em cada ser humano que o habite, ajuda-nos, Senhor, a vencer nossa ambição desmedida, nosso orgulho insensato, nossa prepotência descaridosa, nossa vaidade tola, enfim, todos os sentimentos malsãos que ainda nos mantêm desunidos, dispersos e inimizados!
Dá, ó Pai, que cada um de nós compreenda o dever de cooperar para a civilização universal, sem barreiras de espécie alguma, e que todos sintamos o desejo de viver como irmãos, vinculados pelo amor!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A CHEGADA A JERUSALÉM


"Hosana ! Bendito o que vem em nome do Senhor !" - (Marcos, 11:9)
A despeito de ser o Rei dos Reis, o Mestre dos Mestres, Jesus Cristo não veio ao mundo, a fim de exercer um reinado efêmero, ou um poder temporal. A sua missão foi algo muito mais relevante. Ele veio, precipuamente, para libertar as consciências dos homens, rompendo os grilhões das superstições, do obscurantismo e do fanatismo.

Conforme esclarece o evangelista João: "Ele veio para o que era seu, mas os seus não o compreenderam", acrescentando, ainda: "Os homens temeram a luz, porque suas obras eram más."

Jesus Cristo não foi um Salvador, pois, para Deus, ninguém está perdido. Ele foi e é o Redentor, o Mestre incomparável, o bom pastor, que ama as suas ovelhas, a ponto de dar a vida por elas.

Longe dele, pois, a acanhada figura de um Rei dos Judeus. Ele representa o grande Enviado dos Céus, cujo escopo maior é de exercer o seu poder sobre toda a Humanidade, o que, obviamente, se dará, quando esta estiver suficientemente preparada, para assimilar a plenitude dos seus ensinamentos.

A chegada de Jesus a Jerusalém, poucos dias antes de ser preso e condenado, constituiu motivo de grande festividade. A multidão soltou gritos de júbilo por um visitante tão ilustre.

O barulho provocado pelo povo era tão estridente que alguns fariseus se acercaram dos apóstolos e lhes pediram que fizessem o povo calar, ao que os discípulos responderam: "Se estes se calarem as próprias pedras clamarão".
Quem era, no entanto, o personagem assim homenageado: o Messias Prometido, o Maior dos Profetas, o Médico das Almas, o Mestre dos Mestres, o fazedor de milagres, ou um provável libertador de Israel?

Dentre os gritos de alegria, partidos do meio do povo, houve um que dizia: "Bendito o reino do nosso pai Davi", o que indica que, pelo menos, alguns viam no Mestre um eventual libertador, que vinha abalar o poder político que Roma ali exercia.

No entanto, pelo menos parte dessa multidão, decorridos poucos dias, estava diante do Pretório, pedindo a crucificação do tão esperado Messias.

É óbvio que muitos encaravam Jesus com simpatia, com afeto e com amor, mas muitos viam nele o libertador político, que se insurgiria contra o Império Romano, devolvendo à nação o seu "status" de país livre.

O seu dizer "o meu reino não é deste mundo" fez com que se esfriasse a esperança de muitos, e isso foi um dos fatores que contribuíram para a indiferença e sentimentos negativos, demonstrados por um segmento da população que, diante do Pretório, preferiu a libertação do fascínora Barrabás e exigiu a crucificação de Jesus Cristo.

Muitos judeus aguardavam o advento do Messias, acreditando, porém, que Ele seria um guerreiro indômito, que colocaria sobre a sua cabeça a coroa outrora usada por Davi, e, com sua espada fulgurante, baniria os invasores romanos, dilatando, assim, as acanhadas fronteiras do reino de Israel.

No entanto, o Mestre veio à Terra nas condições as mais humildes, nascendo em uma cidade pacata e no meio de uma família despretensiosa, atestando, assim, a grandiosidade, a elevação do seu Espírito. O seu advento representou o desempenho de uma missão transcendental, pois Ele veio para empunhar o cetro de um poder espiritual, suscetível de impulsionar os homens para Deus, para que a glória do Criador fosse manifesta para todas as criaturas humanas.

E óbvio que os mais exaltados, que pediram a Pilatos que condenasse Jesus, foram adredemente preparados, foram instruídos pelo Sumo Sacerdote, pelos escribas e pelos fariseus.

Paulo A. Godoy

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O REINO DOS CÉUS


E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o Reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: o Reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou ei-lo ali, porque eis que o Reino de Deus está entre vós. (Lucas, 17:20-21) E dizia: a que é semelhante o Reino de Deus, e a que o compararei? E semelhante ao grão de mostarda que um homem, tomando-o, lançou em sua horta, e cresceu, e fez-se grande árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu. (Lucas, 13:18-19)

E disse outra vez: a que compararei o Reino de Deus? E semelhante ao fermento que uma mulher, tomando-o, escondeu em três medidas de farinha, até que tudo levedou. (Lucas, 13.20-21) O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu, e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo. (Mateus, 13:44) O Reino dos Céus é também semelhante a um homem negociante, que busca boas pérolas.
E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a . (Mateus, 13:45-46,) O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que apanha toda a qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a praia, e, assentando-se, apanham para os cestos os bons, os ruins, porém, lançam fora. (Mateus, 13:47-48,)
Nos trechos evangélicos citados, o Mestre deixou bem evidenciado que o Reino dos Céus não existe como lugar confinado, como mansão de repouso eterno nem plano de estagnação, de inércia, ou de contemplação beatífica. Asseverando que o Reino dos Céus virá sem nenhuma demonstração exterior, e, ainda mais, que o tão almejado Reino está perenemente entre nós, Jesus definiu, de modo inequívoco, como deveremos concebê-lo.

E evidente que, se um indivíduo vive em paz com sua consciência e é perseverante na observação dos ensinamentos evangélicos, estará obviamente, vivendo num estado de paz, de serenidade. Por outro lado, se o indivíduo apenas pratica iniqüidades e reluta em seguir as veredas do Bem, estará implicitamente, vivendo num verdadeiro inferno.

O Espiritismo proclama a existência de Planos Superiores da Espiritualidade, onde os Espíritos que bem desempenharam o aprendizado nas "muitas moradas da Casa do Pai" desfrutam das bem-aventuranças peculiares àqueles que souberam assimilar os preceitos da Lei do Amor. Porém essas regiões elevadas não são destinadas à inação, ao descanso eterno ou à contemplação beatífica, tampouco para servirem de reduto aos violentos e aos conspurcadores das Leis de Deus.

No nobre intuito de revelar aos seus pósteros a premente necessidade da preparação das almas para a dignificante tarefa de alcançar o Reino dos Céus, o qual, no dizer de Jesus, só se conquista com as boas obras e não com a violência, o Mestre fez várias comparações concludentes em torno do verdadeiro sentido daquele tão decantado Reino. Nessas maravilhosas demonstrações, o Reino dos Céus foi apresentado sob vários prismas, girando em torno do mesmo significado.
Comparou-o, Jesus, ao grão de mostarda, que, apesar de ser uma das menores sementes, produz enorme vegetação; ao fermento que, mesmo em pequena quantidade, é capaz de levedar grande quantidade de massa; ao tesouro escondido que, quando é achado por um indivíduo, este vende tudo o que tem para poder adquiri-lo; a uma pérola de grande valor, que, quando achada, serve de incentivo para quem a descobriu vender tudo quanto tem, a fim de adquiri-la, e, finalmente, a uma rede lançada ao mar, que, apanhando grande quantidade de peixes, uns são lançados fora, como ruins, e outros guardados como bons.

A máxima "Buscai antes o Reino de Deus e sua justiça e tudo vos será acrescentado", por si só é suficiente para demonstrar que, abrindo o coração para que nele se aninhe o sentimento do Bem, a criatura humana, de uma forma simbólica, estará recebendo a pequena semente que se transformará em sentimentos empolgantes e de grande amplitude, a ponto de essa criatura sentir-se em íntimo contato com as entidades generosas e puras da Espiritualidade Superior, ou seja, do Mundo Maior, as quais, em perfeita similitude com as aves dos céus, dela aproximar-se-ao, atraídas pelos vários ramos da virtude que se irradia da sua alma.

Aquele que sentir em seu interior o despertar para as coisas de Deus, deverá desvencilhar-se de todas as imperfeições, abandonando, de vez, todos os impulsos menos edificantes. Nesse caso, deverá agir como aquele indivíduo que, encontrando um tesouro escondido, uma pérola de grande valor, decidiu despojar-se de tudo quanto tinha, para adquirir aquilo que considerava de maior valor. O Ser que pressentir, em sua alma, que as primícias do Reino dos Céus o estão bafejando com seus influxos, dada a circunstância de desejar palmilhar o caminho do Bem, deverá relegar para plano secundário os vícios, os maus pendores e as preocupações menos puras, a fim de possuir aquele Bem maior.

Fazendo analogia entre o Reino dos Céus e uma rede cheia de peixes, da qual o pescador separará os bons, dos ruins, os bons, guardando na cesta, e atirando de volta ao mar aqueles que foram considerados ruins, Jesus nos legou um ensinamento velado, do qual devemos subtrair o Espírito que vivifica.

O Reino dos Céus é para todos os filhos de Deus. A rede generosa, da qual o Cristo fala em seu ensinamento, é lançada para toda a Humanidade, indistintamente, assim como Deus faz a chuva beneficiar bons e maus e o Sol brilhar sobre justos e injustos. Muitos, porém, não dão guarida ao excesso de misericórdia do Pai Celestial e, quando ultrapassarem o limiar do túmulo, ocorrerá a separação descrita no Evangelho, simbolizada no levantamento da rede e a consequente separação dos peixes; aqueles que se compenetraram dos seus deveres e apenas praticaram o Bem, sem mistura de mal, entrarão no gozo da essência dignificante do Espírito, e aqueles que perverteram suas obrigações, que apenas deram guarida ao mal, serão relegados aos planos umbralinos — os planos terra-a-terra — onde os Espíritos ociosos e maldosos curtirão as dores oriundas de um dever não-cumprido, de uma tarefa fracassada. No dizer do Cristo tais criaturas serão relegadas ao local onde "haverá choros e ranger de dentes".

Quando alguém nos disser que o Reino dos Céus está ali ou acolá, não devemos dar crédito. O tão aspirado Reino está dentro de nós, e sua penetração em nosso coração se fará sem nenhuma manifestação exterior, ou seja, será pela simples prática das boas obras, conforme nos ensinou Jesus.

Paulo A. Godoy

Casos controvertidos do Evangelho

sábado, 29 de setembro de 2012

Civilização e reino de Deus


José Argemiro da Silveira
de Ribeirão Preto, SP
"Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com aparências exteriores"
(Lucas, 17:20)
Não se pode negar o grande progresso da ciência e da tecnologia (esta como conseqüência daquela). Esse progresso superou, e muito, os inventores e idealistas de algumas décadas atrás, que sonhavam conseguir meios de comunicação e de transportes mais eficientes, e mais rápidos para todos. O automóvel, o avião, as viagens espaciais, em tempo relativamente pequeno, realizaram feitos muito além do que sonhavam os mais otimistas dos seus idealizadores. Nas diversas outras áreas da atividade humana, como na medicina, os inventos de máquinas e utensílios para o trabalho doméstico, na indústria, e nas atividades rurais, também experimentaram o mesmo progresso. Entretanto, apesar de todos esses avanços e descobertas, o ser humano da atualidade parece não viver mais feliz, nem melhor, do que o seu antepassado. Como entender o fenômeno?
No Livro dos Espíritos, questão 793, Allan Kardec pergunta: "Por que sinal se pode reconhecer uma civilização completa?" Resposta: "Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral, Acreditais estar muito adiantados por terdes feito grandes descobertas e invenções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os vossos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando houverdes banido da vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento não sereis mais do que povos esclarecidos, só tendo percorrido a primeira fase da civilização". Allan Kardec em comentário à resposta citada considera que "a civilização tem os seus graus, como todas as coisas, Uma civilização incompleta é um estado de transição que engendra males especiais, desconhecidos no estado primitivo, mas nem por isso deixa de constituir um progresso natural, necessário, que leva consigo mesmo o remédio para aqueles males. A medida que a civilização se aperfeiçoa, vai fazendo cessar alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão com o progresso moral".
A resposta esclarece bem a questão. Progredimos em determinados aspectos, mas ainda não realizamos o mesmo progresso no que se refere ao conhecimento sobre nós mesmos, e como nos relacionar uns com os outros. Ainda não nos conscientizamos que somos todos irmãos, filhos de um mesmo Pai, e que para sermos verdadeiramente civilizados e felizes precisamos nos respeitar mutuamente, cooperarmos pelo bem comum, destruindo o egoísmo e o orgulho que ainda nos dominam. Somos, pois, uma civilização incompleta. Evoluímos em parte, mas ainda não compreendemos que o mais importante é o próprio ser humano, Espírito imortal, temporariamente no plano físico em busca do seu próprio desenvolvimento. Como, disse alguém, o homem conhece mais o átomo do que a si próprio.
O Espiritismo considera de fundamental importância, para o progresso moral da humanidade, resgatar os ensinos de Jesus, em sua pureza e simplicidade primitivas. "Durante os dois mil anos que se seguiram à morte do Mestre e ao Cristianismo Primitivo, a Igreja procedeu, através de sínodos e concílios, a acréscimos de tal magnitude, que acabaram por desfigurar a doutrina original. Ela incorporou ritos, símbolos e idéias provindos do paganismo romano, do Zoroastrismo e do Mitraísmo (culto de Mitra, divindade solar persa, um dos gênios do Masdeísmo)".1 E o essencial para a nossa educação, para o desenvolvimento das potencialidades do Espírito, foi relegado a plano secundário, ou mesmo esquecido. Um exemplo disso é a lei de causa e efeito. Há várias passagens nos ensinos de Jesus, tratando desse tema: "A cada um segundo suas obras"; "Guarda a tua espada, pois todos os que pegaram na espada, da espada morrerão"; "Com a medida que medirdes os outros, sereis medidos". O apóstolo Paulo diz algo semelhante na Epístola aos Gálatas: "Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará".
Entretanto, para bem compreendermos a lei de causa e efeito, precisamos admitir e estudar outra lei importante - a reencarnação, pois só numa existência não conseguimos entender o mecanismo da lei. Daí a importância do estudo dos ensinos de Jesus, à luz da Doutrina Espírita, que nos permite melhor compreender a finalidade da vida, e o que fazer para edificação do reino de Deus em nosso íntimo.
1 - A Missão Maior do Movimento Espírita - Reformador, fevereiro/2001, pág. 24
(Jornal Verdade e Luz Nº 185 de Junho de 2001)

O EVANGELHO E O FUTURO


Um modesto escorço da História faz entrever os laços eternos que ligam todas as gerações nos surtos evolutivos do planeta.
Muita vez, o palco das civilizações foi modificado, sofrendo profundas renovações nos seus cenários, mas os atores são os mesmos, caminhando, nas lutas purificadoras, para a perfeição d'Aquele que é a Luz do princípio.
Nos primórdios da Humanidade, o homem terrestre foi naturalmente conduzido às atividades exteriores, desbravando o caminho da natureza para a solução do problema vital, mas houve um tempo em que a sua maioridade espiritual foi proclamada pela sabedoria da Grécia e pelas organizações romanas.
Nessa época, a vinda do Cristo ao planeta assinalaria o maior acontecimento para o munndo, de vez que o Evangelho seria a eterna mensagem do Céu, ligando a Terra ao reino luminoso de Jesus, na hipótese da assimilação do homem espiritual, com respeito aos ensinamentos divinos. Mas a pureza do Cristianismo não conseguiu manter-se intacta, tão logo regressaram ao plano invisível os auxiliares do Senhor, reencarnados no globo terrestre para a glorificação dos tempos apostólicos.
O assédio das trevas avassalou o coração das criaturas.
Decorridos três séculos da lição santificante de Jesus, surgiram a falsidade e a má-fé adaptando-se às conveniências dos poderes políticos do mundo, desvirtuando-se-lhe todos os princípios, por favorecer doutrinas de violência oficializada.
Debalde enviou o Divino Mestre seus emissários e discípulos mais queridos ao ambiente das lutas planetárias. Quando não foram trucidados pelas multidões delinqüentes ou pelos verdugos das consciências, foram obrigados a capitular diante da ignorância, esperando o juízo longínquo da posteridade.
Desde essa época, em que a mensagem evangélica dilatava a esfera da liberdade humana, em virtude da sua maturidade para o entendimento das grandes e consoladoras verdades da existência, estacionou o homem espiritual em seus surtos de progresso, impossibilitado de acompanhar o homem físico na sua marcha pelas estradas do conhecimento.
E' por esse motivo que, ao lado dos aviões poderosos e da radiotelefonia, que ligam todos os continentes e países da atualidade, indicando os imperativos das leis da solidariedade humana, vemos o conceito de civilização insultado por todas as doutrinas de isolamento, enquanto os povos se preparam para o extermínio e para a destruição. E' ainda por isso que, em nome do Evangelho, se perpetram todos os absurdos nos países ditos cristãos.
A realidade é que a civilização ocidental não chegou a se cristianizar . Na França temos a guilhotina, a forca na Inglaterra, o machado na Alemanha e a cadeira elétrica na própria América da fraternidade e da concórdia, isto para nos referirmos tão-somente às nações supercivilizadas do planeta. A Itália não realizou a sua agressão à Abissínia, em nome da civilização cristã do Ocidente? Não foi em nome do Evangelho que os padres italianos abençoaram os canhões e as metralhadoras da conquista? Em nome do Cristo espalharam-se nestes vinte séculos, todas as discórdias e todas as amarguras do mundo.
Mas é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos "ais" do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a Humanidade.
O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste século de declives da sua História; só ele pode, na sua feição de Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros caminhos.
No seu manancial de esclarecimentos, poder-se-á beber a linfa cristalina das verdades consoladoras do Céu, preparando-se as almas para a nova era. São chegados os tempos em que as forças do mal serão compelidas a abandonar as suas derradeiras posições de domínio nos ambientes terrestres, e os seus últimos triunfos são bem o penhor de uma reação temerária e infeliz, apressando a realização dos vaticínios sombrios que pesam sobre o seu império perecível.
Ditadores, exércitos, hegemonias econômicas, massas versáteis e inconscientes, guerras inglórias, organizações seculares, passarão com a vertigem de um pesadelo.
A vitória da força é uma claridade de fogos de artifício.
Toda a realidade é a do Espírito e toda a paz é a do entendimento do reino de Deus e de sua justiça.
O século que passa efetuará a divisão das ovelhas do imenso rebanho. O cajado do pastor conduzirá o sofrimento na tarefa penosa da escolha e a dor se incumbirá do trabalho que os homens não aceitaram por amor.
Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra. Os filhos da Jerusalém de todos os séculos devem chorar, contemplando essas chuvas de lágrimas e de sangue que rebentarão das nuvens pesadas de suas consciências enegrecidas.
Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e políticos, a superioridade européia desaparecerá para sempre, como o Império Romano, entregando à América o fruto das suas experiências, com vistas à civilização do porvir.
Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses acontecimentos espantosos.
Todavia, os operários humildes do Cristo ouçamos a sua voz no âmago de nossa alma:
"Bem-aventurados os pobres, porque o reino de Deus lhes pertence! Bem-aventurados os que têm fome de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os aflitos, porque chegará o dia da consolação! Bem-aventurados os pacíficos, porque irão a Deus!
Sim, porque depois da treva surgirá uma nova aurora. Luzes consoladoras envolverão todo o orbe regenerado no batismo do sofrimento. O homem espiritual estará unido ao homem físico para a sua marcha gloriosa no ilimitado, e o Espiritismo terá retirado dos seus escombros materiais a alma divina das religiões, que os homens perverteram, ligando-as no abraço acolhedor do Cristianismo restaurado.
Trabalhemos por Jesus, ainda que a nossa oficina esteja localizada no deserto das conciências.
Todos somos dos chamados ao grande labor e o nosso mais sublime dever é responder aos apelos do Escolhido.
Revendo os quadros da História do mundo, sentimos um frio cortante neste crepúsculo doloroso da civilização ocidental. Lembremos a misericórdia do Pai e façamos as nossas preces. A noite não tarda e, no bojo de sua sombras compactadas, não nos esqueçamos de Jesus, cuja misericórdia infinita, como sempre, será a claridade imortal da alvorada futura, feita de paz, de fraternidade e de redenção.
Emmanuel

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Amanhecer de esperanças

Os acontecimentos se precipitavam incontroláveis.
A região desértica e triste, que reverdecera sob a chuva de esperanças da palavra do Batista, seria o cenário de inusitadas ocorrências, preparando o amanhecer de uma nova e demorada Era - a do amor.
*
O amor ainda não abrasava os corações. Apenas em pequenos grupos vicejava, unindo familiares e greis que se prendiam a interesses recíprocos.
Raramente o sentimento de amor a Deus oferecia equipamentos para uma vida de confiança e irrestrita dedicação à fé.
Da mesma forma, o amor à Pátria esmaecera nos corações e o mercenarismo era o recurso legal para formar os exércitos e defensores da sociedade.
O sentimento de fraternidade espontânea quão desinteressada cedia lugar à mesquinhez moral do comportamento que assinalava pela traição, discórdia e realização do ego.
O amor começaria naquele momento a distender as suas raízes e desabrochar-se pela aridez das criaturas, alternando o comportamento humano.
Não se tratava de uma tarefa simples e fácil, porquanto iria alterar os conceitos da Filosofia hedonista, do imediatismo, ensejando uma transformação da sociedade, que só os lentos milênios conseguiriam materializar.
Para tanto, fazia-se inadiável começar; para isso veio Jesus.
*
As tribulações que Ele experimenta foram rudes.
Era necessário macerar-se, a fim de permanecer em Deus e o Pai nEle.
Por isso, o demorado jejum se fizera indispensável.
Tratava-se da preparação silenciosa, mortificadora, a fim de poder enfrentar a algaravia, o tumulto e as competições traiçoeiras que logo mais viriam.
As tentações foram rechaçadas pelo Seu caráter rigoroso e o momento havia chegado. João acabara de ser preso e os prognósticos eram sombrios.
Ele ousara desafiar Herodes Ântipas com o verbo flamejante, censurando-lhe a conduta reprochável da vida em concubinato com a cunhada Heroíades.
Os pigmeus morais, que se fazem grandes no mundo, não perdoamos gigantes da verdade, que os incomodam ou desconsideram as suas malezas.
Como parecera que João, ultrapassara os limites do suportável, seguindo pelo assassinato legal, eram as únicas maneiras de silenciar-lhe a voz.
Clamando no deserto, ele viera anunciar o Construtor do mundo novo, e lograra chamar a atenção das massas, que acorriam a escutá-lo, a fim de que estivessem vigilantes.
Seria naqueles dias, e a hora se fazia próxima.
Desse modo, o seu encarceramento, parecendo encerrar-lhe o ministério público, era o sinal
de mudança dos tempos.
Nesse momento, apareceu Jesus, na Galiléia, anunciando o novo panorama. Sua voz, clara
e doce, com matizes de sabedoria e força, começou a informar: - Completou-se o tempo e o
reino de Deus está perto: arrependei-vos e acreditai na Boa Nova. (*)
Os ouvidos e corações que aguardavam, escutaram-no e logo a multidão se reuniu para escutá-lo.
O verbo inflamava-se ao expor as bases das Mensagens e os objetivos transformadores de que se fazia portadora.
Não se tratava de mais um recurso salvacionista de ocasião, mas, de todo um portentoso,
trabalho de iluminação de consciência com a natural transformação moral, que lhe era
subseqüente para a renovação e felicidade da criatura e do mundo.
Não era fácil absorver-lhe de imediato os profundos conteúdos. No entanto, a poderosa
irradiação de beleza e ternura que dele se espraiava seduzia quantos lhes escutavam o convite.
Sorrisos confraternizavam com esperanças de melhores tempos, os de superação dos sofrimentos.
As criaturas não se apercebem que antes da colheita farta, é necessário cortar a terra, matar a semente, cuidar da planta com o contributo do suor e da constância para fruir a etapa final,
que é o recolher sazonado.
Mas isso, naquele tempo, não importava.
Havia sede e fome de paz, de justiça e de pão, e como Ele prometia Boas notícias em torno
do reino de amor e fartura, o que interessava era consegui-lo de imediato.
Estavam sendo, porém lançadas as primeiras balizas; tornava-se preciso reunir os obreiros,
aqueles que iriam trabalhar nas fundações da nova sociedade humana.
Ele saiu, portanto, após o primeiro discurso e rumou na direção das bandas do mar da
Galiléia.
Seria aquela região capital do reino na sua face terrestre.
Ali estavam as gentes simples, sofridas, necessitadas, mais fáceis de ser trabalhadas, mais
susceptível ao amor.
Logo viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
As criaturas humanas, mergulhadas no oceano das paixões, necessitavam de ser resgatadas. Desse modo, ele disse aos dois homens, que se detiveram a olhá-lo:
- Vinde após mim e farei de vós pescadores de homens.
Dominados pela voz e pela magia da Sua presença, sem qualquer discussão ou comentário,
eles, de imediato, deixaram as redes e seguiram-no.
Iniciava-se uma odisséia como jamais houvera antes e nunca mais volveria a acontecer.
Os convidados deixavam tudo e acompanhavam-no.
Pareciam conhecê-Lo e o conheciam. Sentiam-se amados e amavam apesar dos seus limites.
Logo após, a pequena distância, Ele viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que
estavam no barco a consertar as redes, e também os chamou.
A Sua voz penetrava a acústica da alma, e sem outra alternativa, como se O aguardassem,
eles deixando no barco seu pai com os assalariados seguiram-no e dirigiram-se a Cafarnaum.
Eles não conheciam qualquer plano ou projeto, como era a empresa e qual o seu desempenho nela nada sabiam...Apenas de seguiram-no.
Era original a Sua mensagem.
Os potentados do mundo, quando desejam algo, planejam-no, estudam-no e discutem os programas.
Os convidados a participar das suas empresas debatem os interesses, argumentam em defesa dos seus desejos, tomam e gastam tempo em considerações e diálogo infindáveis.
Com Ele, não, tudo era diferente, porque a Sua era uma proposta única, irrecusável, incomum.
Com quatro amigos, dois irmãos e mais dois, Ele iniciou a mais portentosa marcha
revolucionária da Humanidade: a construção do reino de Deus nos corações.
No sábado, Ele entrou na sinagoga e passou a ensinar, fundamentado na Tradição e no texto do dia, sem ter recebido informação prévia do tema para a discussão.
Sua palavra exteriorizava autoridade superior aos escribas e fariseus, facultando que todos se deslumbrassem ate os seus ímpares conceitos, jamais antes escutados.
De nenhuma Causa a humanidade tomara conhecimento com aquelas características.
*
Enquanto João amargava a prisão em Masquerus, na Peréia, Jesus vinha à luz na
verdejante e sorridente Galiléia.
Um período entrava em crepúsculo, em sombras e outro iniciava em amanhecer de lúculas
alvinitentes, iluminadoras.
(*) Marcos: 1 - 14 a 21.
Nota da Autora Espiritual

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ANTE O GRANDE RENOVADOR

ANTE O GRANDE RENOVADOR


Senhor, lembrando a Tua crucificação entre malfeitores, sacrificado em Teu ministério de amor universal, ouvimos apelos de vários setores religiosos do mundo presente, invocando-Te o nome para incentivar os movimentos tumultuários da renovação política que convulsiona o Planeta...

Asseguram-Te a posição de maior revolucionário de todos os tempos. Afirmam que abalaste os fundamentos sociais da ordem humana, que alteraste o curso da civilização, que transformaste os povos da Terra,

Quem Te negará, Senhor, a condição de Embaixador Celeste? Quem desconhecerá Teu apostolado de redenção?

Entretanto, divulgando a mensagem da Boa-Nova, jamais insultaste o governo estabelecido...

Amigo de todos os sofredores e necessitados, nunca congregaste os infelizes em sinistras aventuras de ódio ou indisciplina. Aproximavas-Te dos desamparados, curando-lhes as enfermidades, ensinando-lhes o caminho do bem, estendendo-lhes mãos benfeitoras e diligentes. Dirigindo-Te à massa anônima e desditosa, em nome do Eterno Pai, não preconizaste movimentos armados de desrespeito às autoridades legalmente constituídas. Ao invés do incitamento à revolta, recomendavas que a Lei de Moisés fosse respeitada, que os sacerdotes dignos fossem honrados, asseverando que o Reino de Deus não surgiria com aparências exteriores e, sim, com a elevação espiritual do homem de qualquer raça ou nacionalidade, sinceramente interessado em aproveitar os dons divinos.

Expondo princípios superiores ao coração popular, não disputaste lugar saliente, junto ao romano dominador, a pretexto de patrocinar a liberdade e, sim, aconselhaste acatamento a César com a obrigação de resgatar-se o tributo que se lhe devia.

Erguendo novas colunas no templo da fé viva, conclamando mãos limpas e corações puros ao serviço do Céu, não desprezaste a legião dos pecadores e criminosos, que se abeiravam de Ti, sedentos de transformação para a tarefa bendita... Não falaste a eles de uma tribuna dourada, acentuando fronteiras de separação. Comungaste com todos no caminho da vida, a pleno chão, abraçando leprosos e delinqüentes, avarentos e rixosos, bonecas e mulheres desventurados. Não impunhas, no entanto, qualquer compromisso que envolvesse a administrarão dos interesses públicos, nem traçavas, com astutas palavras, qualquer insinuarão ao desespero. Pedias tão somente renovassem o coração para que a Luz do Reino lhes penetrasse as profundidades do ser.

Sustentando o sublime ideal de obediência a Deus, nunca ordenaste morte ou punição aos companheiros menos corajosos. Suportaste as fragilidades dos discípulos mais queridos, confiando no futuro, certo de que se podiam faltar a Ti, nos instantes mais duros, não falhariam para com o Pai, nas grandes horas, desde que não te desanimasses na semeadura da fraternidade e proteção, pelo esforço da palavra e do exemplo no círculo educativo.

Se confiavas num mundo vasto, onde reinaria a solidariedade nas relações humanas, jamais tentaste apressar diretrizes absolutas pelo império da força. Começaste sempre a propaganda dos propósitos divinos em Ti mesmo, revelando o próprio coração, cultivando o trabalho e a esperança, com suprema fidelidade ao Poder Mais Alto que marcou estação adequada à semente e à germinação, à flor e ao fruto. Em momento algum mobilizaste a violência, alegando necessidades do serviço superior e, em todo o Teu apostolado, jamais desdenhaste o menor ensejo de amparar o próximo, edificando-o.

Para isso, abraçaste os velhos e os doentes, os deserdados e os tristes, os aleijados e as criancinhas...

Nunca disseste, Senhor, que os discípulos deveriam dominar em Roma para serem úteis na Judéia, nem prometeste primeiros lugares, nas Estradas da Glória, aos companheiros diletos, ainda mesmo em se tratando de João e Tiago que Te foram carinhosos amigos. Mas garantiste a vitória sublime a todos os homens que se fizessem devotados servos dos semelhantes por amor ao Pai Celestial.

Invariàvelmente, solicitaste socorro e proteção, desculpas e auxílios para os que Te perseguiam, gratuitamente, irônicos e ingratos...

Tua ordem era de amor e paz para que todo espírito se converta ao Infinito Bem...

Hoje, contudo, improvisam-se guerras sanguinolentas e sobram discórdias em Teu nome. Há companheiros que disputam situações de relevo, a fim de servirem à Tua causa, como se o sacrifício pessoal não constituísse a Tua senha na obra redentora. Outros Te recordam os ensinos para justificar a inconformação e a desordem.

Sim, foste, em verdade, o Grande Renovador, Transformaste os séculos e as nações, trabalhando e perdoando, ajudando e servindo, esperando e amando sempre!...

Um dia, na praça pública, quando ficaste a sós com humilde e infortunada irmã, que se vira fustigada pelo populacho ignorante, perguntaste -lhe, emocionadamente:

– Mulher, onde estão os perseguidores que te acusam?

Hoje, Mestre, lamentando embora o tempo que também perdi na Terra, iludido e envenenado quanto os outros homens, lembrando-Te ainda na cruz afrontosa, sozinho em Tua exemplificação de amar e renúncia, abnegação e martírio, ouso interrogar-Te, com as lágrimas de meu profundo arrependimento :

– Senhor, onde estão os renovadores que Te acompanham?



pelo Espírito Irmão X - Do livro: Luz Acima, Médium: Francisco Cândido Xavier.

sábado, 18 de agosto de 2012

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA -LIVRO : LUZ DO MUNDO-DIVALDO-AMÉLIA RODRIGUES


Apedrejar!

Transcorreram as Festas dos Tabernáculos e as gentes retornavam às cidades, aos povoados, aos campos, às atividades diárias.

Aqueles dias foram de júbilos e exaltação nos quais a alma de Israel se rejuvenescera, tomada do entusiasmo festivoque irrompera em Jerusalém naquela ocasião.

As comemorações evocativas dos dias passados, no deserto, sob tendas, após a saída do Egito, significavam a vitória do povo sobre o estigma do cativeiro e das rudes provações.

Aquela fora uma ceifa dadivosa.
Os peregrinos vinham de toda parte confundir os seres nos sorrisos generalizados e a capital se transformava na Casa de todos.

Naqueles dias de outubro já se conhecia a estranha e poderosa voz do Cantor
Diferente, delimitando as novas fronteiras do Reino de Deus. As multidões esfaimadas ouviam aquela Palavra e se entusiasmavam, acompanhando o singular Peregrino.

A fome de pão se misturava à necessidade da paz, e as massas angustiadas, especialmente naquele período, aguardavam o Messias. Havia sinais comprobatórios
da Sua vinda. Muitos foram, pressurosos, à "Casa da Passagem" para escutar, na vau do Jordão, o Batista. Êle, no entanto, afirmara e todos repetiam: — Eu souapenas o preparador dos caminhos, para Êle passar.. . aquele que segue primeiro, à frente, endireitando a passagem...
E de fato, êle passara deixando um apelo veemente para a consciência dos homens: o do arrependimento de todos os erros, com o conseqüente nascimento do homem novo sobre os escombros do homem velho.

Herodes, ao decapitá-lo, penetrou em funda amargura, no entanto, o povo que lhe conhecia a vida atribulada e a conduta adulterina comentava, mordaz, sobre as consequências do seu crime e os lastimáveis resultados que adviriam no futuro.

A Voz, porém, se fizera mais forte, surpreendentemente, após ti morte de João.
Paralíticos e cegos, leprosos e meretrizes, pescadores e a grande plebe a ouviam...
Homens representativos dentre os doutores e os levitas a escutavam e conquanto se ressentissem das duras verdades que ela enunciava, não conseguiam condições para silenciá-la, reconhecendo-a autêntica.

Expectativas felizes pareciam dominar todo o Israel e os sonhos de liberdade longamente acalentados voltavam a interessar as paixões dos sôfregos corações humanos.

Preconizava um Reino e ensinava onde repousavam as suas primeiras balizas, já
fincadas no solo dos espíritos. Todavia, quando se fitavam os olhos transparentes Daquele que projetava a voz da esperança se identificavam neles a melancolia e a poesia latentes que esparziam em farta messe.

Êle viera a Jerusalém para participar das Festas, conhecer o povo mais intimamente, nas explosões coletivas, nas exaltações generalizadas. Muitos O viram e O escutaram antes, provocando que as notícias da Sua presença comunicasse intensas emoções no povo e nos encarregados da Lei e da Religião.
Onde surgia todos O buscavam. . .
Êle estava próximo à porta Nicanor, do lado leste do Templo, chegando pelo caminho do Monte das Oliveiras, acompanhado dos discípulos.

Narra João, com emotividade e linguagem sucinta :
"Os Escribas e os Fariseus trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e a apresentaram dizendo: Mestre, esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés manda que se lapidem tais mulheres pelo apedrejamento. Tu, pois, que dizes?" (*)
Êle olhou de relance a mulher ultrajada e se abaixou, sensibilizado, e com o dedo
começou a traçar garatujas no solo. (1)
A interrogação se demorava no ar, sem resposta.

Êle era o Embaixador da Verdade, porém o Príncipe representativo da Paz e do Amor. Moisés significava a aspereza literal da Lei fria e dura. Roma retirara de Israel o direito sobre a vida dos seus filhos. Ninguém, senão o Imperador ou seus Representantes, poderia dispor da vida de qualquer pessoa.

O adultério era condenado pelo Decálogo de forma irreversível. Outras mulheres ali foram trazidas "pela gola dos vestidos" e apedrejadas, até consideradas mortas, noutros tempos...
Sua resposta, de qualquer natureza, criaria dificuldades.

Com as Festas havia nos corações uma cantilena de tolerância e benignidade, uma quase tendência ao perdão por parte do povo. Perdoá-la, no entanto, não seria
conivir com o adultério, oferecendo o estímulo da aceitação tácita do nefasto crime?
— "Tu que dizes?"
Havia ali corações em febre de desejos irreprimíveis, devastadores.

As mulheres caem porque encontram alçapões disfarçados no solo das ansiedades, nos quais são atiradas pela volúpia de homens que as hipnotizam com desejos infrenes.

Atrás de cada organização feminina violada, há um companheiro oculto.
Em cada adúltera se esconde um adúltero, comparsa do mesmo erro. Onde estaria aquele que a infelicitou, explorando a sua fraqueza e a abandonando?

A mulher, não obstante desvalorizada, não representava qualquer significação antes d'Êle. Só depois, quando Êle a ergueu do nada em que se encontrava é que passou a ocupar o devido lugar de rainha e santa no altar do amor dos corações...
— "Tu que dizes?"
Êle não a fitou certamente para poupá-la da transparência da Sua visão.

— "Aquele que dentre vós estiver sem erro, atire-lhe a primeira pedra..."
A frase Lhe fluiu dos lábios lentamente, com segurança, nitidez, serenidade.
Continuou a escrever no chão. "Atire-lhe a primeira pedra." A pedrada!
Mas todos ali estavam mergulhados em erros, laborando em terreno infeliz de preconceitos violados, de legislação desrespeitada, de ultrajes ocultos, de crimes que a consciência temia enfrentar diretamente.
Os que estivessem isentos de erros!.. . Quem estaria nessa condição?
A exuberância da luz solar incide sobre as personagens da cena que marcaria História na História...

"Em silêncio os circunstantes se afastaram, um a um a começar dos mais velhos a terminar pelos mais novos, ficando Jesus e a mulher."
Sim, os mais velhos trazem maior soma de empeços e problemas, remorsos e azedumes.. .
É fácil esmagar e exigir quando não se olha interiormente as paisagens do espírito.
Adúlteras, porque há adúlteros que as malsinam.

O silêncio dominou o local em que se encontravam.
Só então Êle se levantou outra vez.
Fitando-a, agora, com doçura e compreendendo o seu drama íntimo, revisando aqueles dias passados, que foram de dissipações, falou, em melodia de ternura e disciplina:
— "Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Nem eu tão pouco te condeno: vai e não tornes a pecar!
A autoridade do Rabi penetra o espírito da mulher infeliz e repudiada, e harmoniza o país da sua alma em guerra. Antes do erro quanta indecisão e incerteza, quanta frustração e receio atormentaram aquele ser!

Quanto flagelo interior experimenta todo aquele que se entrega ao erro, ao pecado!
"Não tornes a pecar!"
Todo o Evangelho se assenta nessa base: da compaixão e da misericórdia.
Ter oportunidade nova mas não repetir o erro.
Cair e levantar-se.
Equivocar-se e retificar a atitude.
Nem conivência com a irresponsabilidade nem dureza com a correção.

Todos se podem enganar, no entanto, perseverar no engano é acumpliciamento com a ignorância e a leviandade.
O Reino de Deus, cantado por Jesus, é o amor em todas as latitudes e dimensões a alongar-se pela Terra inteira numa explosão de misericórdia e educação.
"Não tornes a pecar."
"Isento de erro."

Apedrejar a própria consciência, lapidando-a, aprimorando o espírito para galgar maior expressão de paz e ventura.
— ... "Atire a primeira pedra!"
(*) João 8: 1 a 11.
(1) Narram diversos intérpretes deste texto, que escrevendo no chão, o Senhor grafava
a marca moral do erro de cada um, que O observava fazendo que recordasse sua própria
imperfeição. Por exemplo: ladrão, adúltero caluniador...
Notas da autora espiritual.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Reino Transitório e o Permanente (*)


As notícias voavam céleres de bocas a ouvidos ansiosos, informando os acontecimentos que
tinham lugar por toda a Galiléia.
Os viajantes, que atravessavam o Jordão na direção do Oriente, levavam as informações do
que estava se sucedendo naquela região.
Ainda não havia sido silenciada a voz do Batista, e o Seu encanto atraía outras multidões
esfaimadas de amor e de esperança, que Ele nutria com ternura como dantes jamais se vira igual.
Era Profeta, porém se situava acima dos profetas do passado; ensinava o amor, no entanto
vivia-o em clima de harmonia; referia-se a Deus com respeito, entretanto comungava com
Ele em doce convívio.
Jesus era o Messias esperado, que começara na humilde Galiléia, onde os corações eram
mais afetuosos e os afazeres mais cativos: a pesca, o pastoreio, a agricultura...sem espaços
mentais para as celeumas intermináveis em torno da Lei, a respeito da governança ignóbil
disputada pelo romano desdenhoso e pelo Sinédrio arbitrário, todos porém, esmagando o
povo, de que se utilizavam para explorar e afligir...
Aquela região, fresca e romanesca, tinha o seu espelho líquido onde o Sol diariamente se
banhava entre os perfumes que se evolavam dos rosais silvestres misturados com as
madressilvas miúdas que enxameavam na relva verdejante.
Oliveiras antigas desenhavam arabescos variados nos troncos retorcidos, enquanto as ondas
se arrebentavam incessantemente entre seixos e conchas espalhados sobre a areia de
tonalidade creme.
À orla do lago Genesaré, também conhecido como mar da Galiléia, as aldeias, habitadas por
gentes simples, se multiplicavam entre as cidades de maior porte como Magdala, Dalmanuta,
Cafarnaum... À noite, quando as lâmpadas de barro vermelho acendiam suas luzes, o
poema da Natureza se apresentava em tonalidades bruxuleantes e festivas constratando
com as estrelas alvinitentes que fulgiam no zimbório escuro e cheio de mistérios...
Naquelas regiões, entre as vozes humanas e as onomatopéias, o Cantor entoava o Seu hino
à vida em poemas de inefável amor que arrebatava, enquanto Suas mãos cariciosas
limpavam as rudes penas que explodiam em pústulas virulentas, que afligiam os infelizes que
dele se acercavam. O Seu querer alterava os acontecimentos e os fenômenos da
misericórdia de Deus se tornava realidade, produzindo júbilo e encantamento.
Os anciãos, por quase todos desdenhados, sentiam-se apoiados no cajado da Sua palavra
vigorosa; as crianças, bulhentas e pouco compreendidas, silenciavam enquanto eram
atraídas pela luz dos Seus olhos, e os Espíritos perversos fugiam da Sua presença.
Mesmo aqueles que se haviam tornado Seus adversários, movidos pela inveja doentia e pela
perversidade em que se compraziam, ao enfrentarem-no receavam o Seu poder, ante o qual
se sentiam amesquinhados.
E Ele falava a respeito do reino dos céus em uma dimensão a que não estavam
acostumados aqueles que o buscavam.
Não obstante, as criaturas humanas, afligidas pelas próprias infinitas necessidades,
pensavam exclusivamente nas questiúnculas do dia-a-dia, nos problemas da sobrevivência
física e do conjuntos social.
Faltava-lhes amplitude mental e largueza de visão para penetrar nas propostas libertadoras
que a Boa Nova lhes trazia.
Ele, no entanto, não se incomodava, ensinando sem cessar.
Naquela oportunidade, a multidão se fizera superior a qualquer expectativa, de tal forma que,
reunida em alguns milhares, estavam a ponto de se pisarem uns aos outros, quando Ele
começou a ensinar, despertando para as realidades profundas do ser espiritual.
- Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Nada há encoberto que não
venha a descobrir-se nem oculto que não venha a conhecer-se.
Havia na voz enérgica uma ressonância de advertência a respeito da conduta que se deveria
manter. A hipocrisia é morbo da alma que contamina e deixa seqüelas devastadora por onde
passa, e se tornara característica predominante no comportamento dos fariseus, que se
perdiam em discussões estéreis a proveito próprio, sem nenhuma consideração por quem
quer que seja.
Todos os comportamentos hediondos, mesmo aqueles que ficam desconhecidos e são
mascarados pelos processos perversos do poder transitório dos homens, tornam-se
conhecidos e malsinam aqueles mesmos que se lhes entregaram. A vida é uma canção de
luz, sempre renovadora e rica de realidades.
Prosseguindo, acentuou com a mesma energia:
- Por isso, tudo quanto tiverdes falado nas trevas ouvir-se-á em plena luz, e o que tiverdes
dito ao ouvido em lugares retirados, será proclamado sobre os telhados. Digo-vos: Meus
amigos ! Não temais aqueles que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. Vou
mostrar-vos a quem deveis temer: Temei Àquele que, depois de matar, tem o poder de
lançar na Geena. Sim, eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer.
*
O relacionamento humano e social exige lealdade de uns indivíduos para com os outros, de
respeito e comportamento de cada qual, buscando-se sempre a própria melhor conduta e a
imensa tolerância para com as defecções do próximo, porquanto aquele que erra fica
assinalado em si mesmo a sua aflição, não necessitando de maior carga de punição.
Por isso mesmo, a maledicência, a calúnia, a informação malsã não têm lugar na convivência
saudável, naquela que é inspirada pelo Evangelho, porquanto tudo se torna conhecido e
desvelado.
Nesse sentido, a divulgação da verdade, não pode ser prejudicada pelos temores
injustificados em torno das ocorrências punitivas aplicadas pelos homens, que são
transitórios e não vão além das fronteiras do corpo. No entanto, Aquele que é o Poder e que
acompanha o ser após o decesso celular, este sim, merece respeito e consideração,
porquanto é Quem julga as condutas, encaminhando os infratores para as regiões de
sombras e sofrimentos.
No silêncio que se faz natural, Ele se proclamou Filho de Deus, exigindo fidelidade a quantos
desejassem segui-lo, declarando a sua convicção na Mensagem e na entrega total ao novo
padrão de vida.
Definiu rumos do futuro e as vicissitudes que aguardam os idealistas e semeadores da
esperança nos solos castigados pela canícula das paixões selvagens e perversas.
Também os animou com a promessa de que sempre e em qualquer situação os Espíritos
sublimes inspirariam aos Seus seguidores, jamais os deixando a sós e sempre oferecendolhes
os recursos de sabedoria e paz.
Pairava no ar uma dúlcida consolação que pulsava nos sentimentos emocionados.
No obstante, alguém, rompendo do silêncio natural, gritou:
- Mestre, diz a meu irmão que reparta comigo a herança!
Não poderia ser mais inusitada e absurda a solicitação, destituída de conteúdo nobre,
porquanto as propostas diziam a respeito a outro reino, distante do mundo fugaz, e a criatura
se encontrava encurralada no interesse mesquinho e imediato do poder e do prazer.
Conhecedor da alma humana e do labirinto pelo qual transita, o Mestre respondeu sem
perturbar-se:
- Homem, quem me constitui juiz ou repartidor entre vós? Olhai, guardai-vos de toda a
cobiça, porque mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos
seus bens.
Silenciou por um pouco e narrou, comovido, uma incomparável parábola:
- Havia um homem rico, cujas terras lhe deram uma grande colheita. E pôs-se a discorrer,
dizendo consigo: Que hei de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita? Depois
continuou: Já sei o que vou fazer, deitarei abaixo os meus celeiros e construirei uns maiores
e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. Depois direi à minha alma: Alma, tens
muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Deus, porém
disse-lhe: - Insensato! Nesta mesma noite pedir-te-ei a alma: e o que acumulaste para quem
será? - Assim acontecerá ao que entesoura para si e não é rico em relação a Deus.
Um sentido exclusivo tem a existência humana: a preparação para a sua imortalidade
espiritual. Todos quantos transitam no carro físico, deixam-no e seguem com os valores
amealhados emocionalmente, sejam quais forem.
A Vida estua além da dimensão do corpo carnal, exuberante e luminosa, aguardando todos
que a enfrentarão.
Amealhar para as necessidades humanas constitui um dever, porém repartir e multiplicar
através da divisão em favor dos outros que padecem carência, é tornar-se rico de plenitude e
de recursos que nunca se consomem, porque de sabor eterno.
Jesus não é juiz iníquo, nem severo julgador para impor aos outros o que devem fazer e a
programação das leis já estabeleceu o que é indispensável a uma existência harmônica.
É o Embaixador de Deus, que veio despertar a consciência humana para a realidade imortal.
Ainda por muitos anos Ele será buscado para solucionar pendengas e paixões, atender a
caprichos e resolver problemas, que são necessários para o crescimento individual do ser
como na coletividade na qual se encontra. Não obstante, a Sua mensagem pairará
soberanamente acima das dissidências e dos caprichos das criaturas e grupos, seitas e
doutrinas, trabalhando pela fraternidade legítima e pela união de todas as pessoas que
anelam pela felicidade total.
Mesmo desfigurados Seus ensinos, rejeitadas Suas lições, subestimados Seus conceitos
pela presunção de alguns, Ele permanecerá como o grande divisor dos tempos, aguardando
e inspirando.
(*) Lucas 12- 1 a 21
Nota da Autora espiritual.

Livro: Até o Fim dos Tempos
Divaldo Franco/ Amélia Rodrigues