Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
Mostrando postagens com marcador . Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador . Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

REFLEXÕES DE ANO NOVO




Os conceitos abaixo, coletados por Carlos Antônio Baccelli, biógrafo de Chico,  valem por uma verdadeira declaração de princípios ético-espirituais.
Como o próprio nome indica, esses conceitos nos levam a profunda reflexão.

Ei-los:

“Anotei o que Chico nos disse, certa vez”, registra Baccelli: “Estamos numa doutrina de muitos contatos... Temos oportunidade de fazer muitos amigos... O trabalho a ser desenvolvido é imenso... Temos a crença na imortalidade, o intercâmbio com os irmãos desencarnados, o conhecimento do evangelho... A visão que o Espiritismo nos proporciona da Vida é maravilhosa... Compreendemos a função da dor e adentramos a causa das provações humanas... Oramos, sabendo que a prece é o nosso fio de ligação com Deus... As nossas perspectivas para o futuro da Humanidade são as melhores... A nossa fé é um tesouro!... Mas, se somos muito requisitados, se temos muitos envolvimentos doutrinários, muitas tarefas, compromissos, mediunidade, não podemos nos esquecer de que o momento do testemunho é uma hora extremamente solitária... A vivência cotidiana do Evangelho é pessoal; nem os espíritos poderão substituir-nos, quando formos chamados à aplicação de tudo quanto já sabemos, ou, pelo menos, supomos saber... Este é o problema fundamental do espírita – a sua própria renovação! O espírita que não se melhora, não está assimilando a Doutrina. Dizem que eu tenho escrito muitos livros... Tudo é obra dos espíritos amigos. De fato, tenho recebido muita coisa, mas Emmanuel tem me ensinado que nenhum livro que eu possa ter recebido ou que venha a receber vale pelo que eu esteja fazendo de minha própria vida... Tenho visto tantos médiuns preocupados em escrever, em publicar livros... Tudo muito justo – devemos fazer pela divulgação da Doutrina o que pudermos; no entanto, depois de tantos livros publicados, digo a vocês que a minha luta maior continua sendo comigo mesmo... Tantos conflitos entre os companheiros de ideal, tantas disputas, tanta cizânia... Ora, após a desencarnação, só poderemos recorrer às nossas próprias obras... Os benfeitores espirituais, por mais queiram, nada poderão fazer para nos alterar a realidade... No Espiritismo, ninguém faz mais do que aquele que se esforça para viver conforme crê – ou seja, colocando em prática a lição... As ações são minhas, mas os livros pertencem aos espíritos! Não posso reivindicar a obra de Emmanuel para mim . Eu não fiz nada! O médium não passa de instrumento... Dei apenas do meu tempo, e muito pouco: poderia ter dado mais, dormido menos, me preocupado menos com os outros, mormente com aqueles que sempre criticaram as minhas imperfeições no trabalho dos espíritos... Tenho receio de ver a minha ficha no Mundo Espiritual... Não vou pedir para ver coisa alguma... Se eu puder continuar trabalhando, renderei graças! A Misericórdia Divina há de me possibilitar continuar rastejando para a frente... Rastejando, sim, mas para a frente!... Não posso mais pensar em retrocesso... Então, eu não compreendo tanta vaidade, tanta pretensão .. Vamos preocupar-nos com os outros, mas para auxiliar... ”


Fonte:
Do Livro O APÓSTOLO DO SÉCULO XX - CHICO XAVIER - Weimar Muniz de Oliveira - Edição FEEGO.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Do Livro A Genese " Sinais dos Tempos" parte 2 (final)

16. Com o pensamento de que a atividade e a cooperação individuais na obra geral da civilização são limitadas à vida presente, que antes a criatura nada foi, e que depois nada será, que importa ao homem o progresso ulterior da humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam melhor governados, mais felizes, mais esclarecidos, melhores uns para com os outros? Pois se ele não vai daí tirar nenhum fruto, esse progresso não é perdido para ele? De que lhe serve trabalhar para os que virão depois se jamais os conhecerá, se são seres novos que dali a pouco reentrarão no nada, também eles? Sob o império da negação do futuro individual, tudo se amesquinha forçosamente às acanhadas proporções do momento e da personalidade.
Mas, ao contrário, que amplitude dá ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade de seu ser espiritual! Quê de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do Criador, que esta lei segundo a qual a vida espiritual e a vida corporal não são senão dois modos de existência que se alternam para a concretização do progresso! Quê de mais justo e de mais consolador senão a idéia dos mesmos seres progredindo sem cessar, a princípio através das gerações do mesmo mundo, e em seguida, de um mundo para outro, até atingir a perfeição sem solução de continuidade! Todas as ações têm então uma finalidade, pois, trabalhando para todos, estamos trabalhando para nós mesmos e reciprocamente; de sorte que nem o progresso individual nem o progresso geral jamais são estéreis; aproveita às gerações e às individualidades futuras, que não são senão as gerações e as individualidades passadas, chegadas a um grau mais alto do adiantamento.
17. A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social; porém não há fraternidade real, sólida e efetiva, se não for apoiada numa base inquebrantável; esta base, é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares que mudam com os tempos ou os povos e se apedrejam, pois quando se anatematizam alimentam o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar; Deus, a alma, o futuro, o progresso individual, indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens se convencerem de que Deus é o mesmo para todos; de injusto; que o mal vem dos homens e não dele, hão de que este Deus, soberanamente justo e bom, nada pode querer se encarar como filhos de um mesmo Pai, e estender-se-ão as mãos.
É esta fé que o Espiritismo proporciona e que de agora em diante será o eixo sobre o qual se moverá o gênero humano, quaisquer que sejam o modo de adoração e as crenças particulares.
18. O progresso intelectual realizado até hoje nas mais vastas proporções é um grande passo, e marca a primeira fase da humanidade; porém, sozinho, é impotente para regenerá-la; enquanto o homem for dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos para vantagem de suas paixões e seus interesses pessoais; é por isso que ele os aplica ao aperfeiçoamento dos meios de prejudicar os seus semelhantes, e os destruir.
19. Unicamente o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens sobre a Terra pondo um freio às más paixões; unicamente ele pode fazer reinar entre os homens a concórdia, a paz e a fraternidade.
É ele que derrubará as barreiras dos povos, que fará cair os preconceitos de casta e calar os antagonismos de seitas, ensinando aos homens a se considerarem como irmãos chamados a se auxiliar reciprocamente, e não a viver às expensas uns dos outros.
É anda o progresso moral, secundado aqui pelo progresso da inteligência, que confundirá os homens numa mesma crença estabelecida sobre verdades eternas, não sujeitas a discussão e por isso mesmo aceitas por todos.
A unidade de crença será o liame mais possante, o mais sólido fundamento da fraternidade universal, quebrada desde todo o tempo pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem ver nos dissidentes, inimigos que se devem exortar, combater, exterminar, em vez de irmãos a quem se deve amar.
20. Um tal estado de coisas supõe uma mudança no sentimento das massas, um progresso geral que não se podia realizar senão saindo do círculo das idéias estreitas e terra-a-terra, que fomentam o egoísmo. Em diversas épocas, homens de elite têm procurado impelir a humanidade nesta via; mas a humanidade, ainda demasiado jovem, permaneceu surda, e seus ensinamentos foram como a boa semente lançada sobre as pedras.
Hoje, a humanidade está madura para lançar suas vistas mais alto que nunca, para assimilar idéias mais amplas e compreender o que antes não pudera.
A geração que desaparece levará com ela seus preconceitos e seus erros; a geração que se eleva, embebida numa fonte mais purificada, imbuída de idéias mais sadias, imprimirá ao mundo o movimento ascensional no sentido do progresso moral, que deve assinalar a nova fase da humanidade.
21. Esta fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis, por idéias grandes e generosas que vêem o dia e que começam a encontrar ecos. É assim que se vêem fundar uma porção de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o impulso e pela iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais se impregnam a cada dia de um sentimento mais humano. Os preconceitos de raça se enfraquecem, os povos começam a se encarar como membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios de transação, suprimem-se as barreiras que os dividiam; de todas as partes do mundo, reúnem-se conclaves universais para os torneios pacíficos da inteligência.
Porém, falta a essas reformas uma base para se desenvolver, se completar, se consolidar, uma predisposição moral mais geral para frutificar e se fazer aceita pelas massas. Isto não deixa de ser um sinal característico do tempo, o prelúdio do que se realizará em mais larga escala, à medida que o terreno se torne mais propício.
22. Um sinal não menos característico do período em que entramos, é a reação evidente que se opera no sentido das idéias espiritualistas; uma repulsão instintiva se manifesta contra as idéias materialistas. O espírito de incredulidade que se havia apoderado das massas, ignorantes ou esclarecidas, e as fizera rejeitadas, com a forma, o próprio fundo de todas as crenças, parece ter sido um sono do qual, ao sair, se experimenta a necessidade de respirar um ar mais vivificante. Involuntariamente, onde o vácuo se faz, procura-se alguma coisa, um ponto de apoio, uma esperança.
23. Suponho que a maioria dos homens são imbuídos de tais sentimentos, facilmente se podem figurar as modificações que os mesmos trarão para as relações sociais: caridade, fraternidade, benevolência para com todos, tolerância para todas as crenças, tal será a sua divisa. É o objetivo para o qual se orientará a humanidade, o objetivo de suas aspirações, de seus desejos, sem que ela saiba bem com que meios os realizará; ela ensaia, ela tateia, mas é detida por resistências ativas ou pela força da inércia dos preconceitos, das crenças estacionárias e refratárias ao progresso. São resistências que será preciso vencer, e isto será a obra da nova geração; se seguirmos o curso atual das coisas, reconhecemos que tudo parece predestinado a lhe abrir caminho; ela terá para si a dupla potência do número e das idéias, e mais a experiência do passado.
24. A nova geração marchará pois, para a realização de todas as idéias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento a que houver chegado. Marchando o Espiritismo para o mesmo objetivo, e realizando suas finalidades, ambos se encontrarão sobre o mesmo terreno. Os homens de progresso encontrarão nas idéias espíritas uma possante alavanca, e o Espiritismo encontrará nos homens novos, espíritos predispostos a acolhê-lo. Neste estado de coisas, o que poderão fazer aqueles que pretendessem se colocar em oposição?
Não é o Espiritismo que cria a renovação social, é a madureza da humanidade que faz de tal renovação uma necessidade. Pela sua potência moralizadora, por suas tendências progressivas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abraça, o Espiritismo, mais que qualquer outra doutrina, está apto a secundar o movimento regenerador; por isso mesmo são contemporâneos. Ele veio no momento em que podia ser mais útil, pois também para ele os tempos são chegados; mais cedo, teria encontrado obstáculos insuperáveis; teria sucumbido inevitavelmente, pois que os homens, satisfeitos com o que já tinham, não experimentavam ainda a necessidade do que ele traz. Hoje, nascido com o movimento das idéias que fermentam, encontra o terreno preparado a recebê-lo; os espíritos, cansados da dúvida e da incerteza, horrorizados com o abismo que se lhe abre à frente, o acolhem como uma âncora de salvação e um supremo consolo.
26. O número dos retardatários ainda é sem dúvida grande; mas o que podem eles contra a onda que sobe, senão atirar-lhe algumas pedras? Essa onda é a geração que se levanta, ao passo que eles somem com a geração que se retira cada dia a passos largos. Até então, porém, defenderão o terreno passo a passo; há, portanto, luta inevitável, mas desigual, pois é a do passado decrépito que cai em farrapos, contra o futuro jovem; da estagnação contra o progresso; da criatura contra a vontade de Deus, pois são chegados os tempos marcados.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Brandos e Pacíficos


A azáfama do dia cedera lugar a terna e suave tranqüilidade. As atividades fatigantes alongaram-se até as primeiras horas da noite, que se recamara de astros alvinitentes. Os últimos corações atendidos, à margem do lago, após a formosa pregação do entardecer, demandaram os seus sítios facultando que eles, a seu turno, volvessem à casa de Simão.
Depois do repasto simples, o Mestre acercou-se da praia em companhia do apóstolo afeiçoado e, porque o percebesse tristonho, interrogou com amabilidade:

Que aflição tisna a serenidade da tua face, Simão, encobrindo-a com o véu de singular tristeza?

Havia na indagação carinhoso interesse e bondade indisfarçável.

Convidado diretamente à conversação renovadora, o velho pescador contestou com expressiva entonação de voz, na qual se destacava a modulação da amargura:

- Cansaço, Senhor. Sinto-me muitas vezes descoroçoado, no ministério abraçado... Não fosse por ti...

Não conseguiu concluir a frase. As lágrimas represadas irromperam afogando o trabalhador devotado em penosa agonia. E como o silêncio se fizesse espontâneo, ante o oscular da noite que os acalentava em festival de esperança, o companheiro, sentindo-se compreendido e, passado o volume inicial da emotividade descontrolada, prosseguiu:

- Não ignoro a própria inferioridade e sei que teu amor me convocou à boa nova a fim de que me renovasse para a luz e pudesse crescer na direção do amor de nosso Pai. Todavia, deparo-me a cada instante com dificuldades que me dilaceram os sentimentos, inquietando-me a alma.

Ante o olhar dúlcido e interrogativo do Amigo discreto adiu:

- É verdade que devemos perdoar todas as ofensas, no entanto, como suportar a agressividade que nos fere, quando pretende admoestar e que humilha, quando promete ajudar?

- Guardando a paz do coração - redargüiu o divino Benfeitor.

- Todavia - revidou o discípulo sensibilizado -, como conservar a paz, estando sitiado pela hipocrisia de uns, pela suspeita pertinaz de outros, sob o olhar severo das pessoas que sabemos em pior situação do que a nossa?

- Mantendo a brandura no julgamento - respondeu o Senhor.

- Concordo que a mansuetude é medicamento eficaz - redargüiu Pedro -, não obstante, não seria de esperarmos que os companheiros afeiçoados à luz nova também a exercitassem por sua vez? Quando a dúvida sobre nossas atitudes parte de estranhos, quando a suspeição vem de fora da grei, quando a agressividade nos chega dos inimigos da fé, podemos manter a brandura e a paz íntimas. Entrementes, sofrer as dificuldades apresentadas por aqueles que nos dizem amar, tomando parte no banquete do Evangelho, convém consideremos ser muito mais difícil e grave o cometimento...

Percebendo a angústia que se apossara do servo querido, o Mestre, paciente e judicioso, explicou:

- Antes de esperarmos atitudes salutares do próximo, cabe-nos o dever de oferecê-las. Porque alguém seja enfermo pertinaz e recalcitrante no erro, impedindo que a luz renovadora do bem o penetre e sare, não nos podemos permitir o seu contágio danoso, nem nos é lícito cercear-lhe a oportunidade de buscar a saúde. Certamente, dói-nos mais a impiedade de julgamento que parte do amigo e fere mais a descortesia de quem nos é conhecido. Ignoramos, porém, o seu grau de padecimento interior e a sua situação tormentosa. Nem todos os que nos abraçam fazem-no por amor, bem o sabemos... Há os que, incapazes de amar, duvidam do amor do próximo; os que mantendo vida e atitudes dúbias descrêem da retidão alheia; os que tropeçando e tombando descuram de melhorar a estrada para os que vêm atrás... Necessário compreendê-los todos e amá-los, sem exigir que sejam melhores ou piores, convivendo sob o bombardeio do azedume deles sem nos tornar-nos displicentes para com os nossos deveres ou amargos em relação aos outros...

- Ante a impossibilidade de suportá-los -sindicou o pescador com sinceridade -, sem correr o perigo de os detestar, não seria melhor que os evitássemos, distanciando-nos deles?

- Não, Simão - esclareceu Jesus. - Deixar o enfermo entregue a si mesmo será condená-lo à morte; abandonar o revel significa torná-lo pior... Antes de outra atitude é necessário que nos pacifiquemos intimamente, a fim de que a brandura se exteriorize do nosso coração em forma de bênção.

“Na legislação da montanha foi estabelecido que são bem-aventurados os brandos e pacíficos...

“A bem-aventurança é o galardão maior. Para consegui-lo é indispensável o sacrifício, a renúncia, a vitória sobre o amor-próprio, o triunfo sobre as paixões.

“Amar aos bons é dever de retribuição, mas servir e amar aos que nos menosprezam e de nós duvidam é caridade para eles e felicidade para nós próprios.”

Como o céu continuasse em cintilações incomparáveis e o canto do mar embalasse a noite em triunfo, o Mestre silenciou como a aspirar as blandícias da Natureza.

O discípulo, desanuviado e confiante, com os olhos em fulgurações, pensando nos júbilos futuros do Evangelho, repetiu quase num monólogo, recordando o Sermão da Montanha:

“Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra.

“Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.”

E deixou-se penetrar pela tranqüilidade, em clima de elevadas reflexões.


Autor: Amélia Rodrigues

Psicografia de Divaldo Franco


sábado, 27 de outubro de 2012

Jesus Apazigua a Tempestade


Rodolfo Calligaris
“Jesus tomou em seguida a barca, acompanhado pelos discípulos. E eis que se levantou no mar um tempestade tão grande que as ondas cobriam a barca. Ele, entretanto, dormia.
Os discípulos então se aproximaram dele e despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos que perecemos.
Jesus lhes respondeu: Porque tendes medo, homens de pouca fé? E, levantando-se, mandou que o ventos e o mar se aquietassem, e grande bonança logo se fez.
Os homens, cheios de admiração, diziam: Quem é este a cujas ordens os ventos e o mar obedecem?"
(Mat, 8:23-27.)
Malgrado certas aparências em contrário, tudo, na Terra, obedece a leis naturais, concorrendo para um objetivo providencial: o aperfeiçoamento de suas condições de habitabilidade, simultaneamente, o progresso da Humanidade que a povoa.
A exemplo das incontáveis moradas do Pai celestial, disseminadas na incomensurabilidade do espaço, a Terra é governada e protegida por um Espírito perfeito, preposto de Deus: Jesus assessorado, se é que assim nos podemos exprimir, por falanges de entidades espirituais altamente evoluídas.
A essas entidades, como agentes da vontade divina, incumbe estabelecer e manter a harmonia das forças físicas da Natureza, em cujo mister contam com o concurso de enormes massas de Espíritos, dos quais uns dirigem e outros são dirigidos, como acontece entre nós.
Presidindo aos destinos deste mundo desde a sua formação, conforme nos instrui o evangelista João (1:9-10), Jesus tinha (como ainda tem) completo domínio sobre os que movimentam os elementos naturais, de sorte que, a uma manifestação de sua vontade potentíssima, tanto podia fazer cessar uma tempestade e serenar as ondas do mar, como promover outros fenômenos análogos, maravilhosos, sem dúvida, mas perfeitamente explicáveis, hoje, à luz do Espiritismo.
Sua ação no episódio em tela visava a despertar a fé, virtude preciosa, naqueles que o acompanhavam, pois, conhecedor profundo da psicologia humana, sabia que, sem o estímulo dessas demonstrações surpreendentes, poucos haveriam de perseverar no discipulado cristão.
Mas, que tais fatos não constituíam milagres, deu-o a entender o próprio Mestre ao afirmar: “Aquele que crer em mim (entenda-se: que se tornar uno comigo, em sabedoria e bondade, como eu o sou com o Pai) fará também as coisas que eu faço, e outras ainda maiores. (João, 14:12.)
Talvez nos objetem: como podem as tempestades, os furacões, as erupções vulcânicas, os terremotos e outros flagelos, concorrer para a evolução da Terra, como dissemos de início, se só causam destruição, desordem, sofrimento e morte?
E’ que nosso planeta, relativamente novo, ainda não alcançou as melhores condições de equilíbrio, e sendo, como é, um mundo de expiação e de provas, tais cataclismos, ao mesmo tempo que contribuem para aquele fim (embora não o percebamos, tão limitada é a nossa visão no tempo e no espaço), ensejam aos que são vitimados por eles o resgate de dívidas contraídas perante a Justiça Divina, sofrendo dores e aflições que a outrem fizeram sofrer. Servem, ainda, para que todos nós, no afã de prevenir­-lhes ou remediar-lhes os efeitos, nos desenvolvamos intelectualmente, e, pela compaixão que nos inspira, exercitemos o devotamento e a caridade para com o próximo.
Estejamos certos: nada ocorre no mundo à revelia de Deus, assim como nada, absolutamente nada, pode contrariar os seus altos e sábios desígnios.
As calamidades que atingem, ora um ora outro povo, têm, todas, uma razão justa, se bem que inacessível ao nosso pequenino grau de entendimento atual.
Portanto, quando venhamos a ser provados no sofrimento, lembremo-nos destas palavras das Escrituras: “Bem-aventurado o homem a quem Deus corrige, porque Ele dá o golpe, mas Suas próprias mãos operam a cura.” (Job, 5:17-18.)
(Revista Reformador de agosto de 1964)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Amanhecer de esperanças

Os acontecimentos se precipitavam incontroláveis.
A região desértica e triste, que reverdecera sob a chuva de esperanças da palavra do Batista, seria o cenário de inusitadas ocorrências, preparando o amanhecer de uma nova e demorada Era - a do amor.
*
O amor ainda não abrasava os corações. Apenas em pequenos grupos vicejava, unindo familiares e greis que se prendiam a interesses recíprocos.
Raramente o sentimento de amor a Deus oferecia equipamentos para uma vida de confiança e irrestrita dedicação à fé.
Da mesma forma, o amor à Pátria esmaecera nos corações e o mercenarismo era o recurso legal para formar os exércitos e defensores da sociedade.
O sentimento de fraternidade espontânea quão desinteressada cedia lugar à mesquinhez moral do comportamento que assinalava pela traição, discórdia e realização do ego.
O amor começaria naquele momento a distender as suas raízes e desabrochar-se pela aridez das criaturas, alternando o comportamento humano.
Não se tratava de uma tarefa simples e fácil, porquanto iria alterar os conceitos da Filosofia hedonista, do imediatismo, ensejando uma transformação da sociedade, que só os lentos milênios conseguiriam materializar.
Para tanto, fazia-se inadiável começar; para isso veio Jesus.
*
As tribulações que Ele experimenta foram rudes.
Era necessário macerar-se, a fim de permanecer em Deus e o Pai nEle.
Por isso, o demorado jejum se fizera indispensável.
Tratava-se da preparação silenciosa, mortificadora, a fim de poder enfrentar a algaravia, o tumulto e as competições traiçoeiras que logo mais viriam.
As tentações foram rechaçadas pelo Seu caráter rigoroso e o momento havia chegado. João acabara de ser preso e os prognósticos eram sombrios.
Ele ousara desafiar Herodes Ântipas com o verbo flamejante, censurando-lhe a conduta reprochável da vida em concubinato com a cunhada Heroíades.
Os pigmeus morais, que se fazem grandes no mundo, não perdoamos gigantes da verdade, que os incomodam ou desconsideram as suas malezas.
Como parecera que João, ultrapassara os limites do suportável, seguindo pelo assassinato legal, eram as únicas maneiras de silenciar-lhe a voz.
Clamando no deserto, ele viera anunciar o Construtor do mundo novo, e lograra chamar a atenção das massas, que acorriam a escutá-lo, a fim de que estivessem vigilantes.
Seria naqueles dias, e a hora se fazia próxima.
Desse modo, o seu encarceramento, parecendo encerrar-lhe o ministério público, era o sinal
de mudança dos tempos.
Nesse momento, apareceu Jesus, na Galiléia, anunciando o novo panorama. Sua voz, clara
e doce, com matizes de sabedoria e força, começou a informar: - Completou-se o tempo e o
reino de Deus está perto: arrependei-vos e acreditai na Boa Nova. (*)
Os ouvidos e corações que aguardavam, escutaram-no e logo a multidão se reuniu para escutá-lo.
O verbo inflamava-se ao expor as bases das Mensagens e os objetivos transformadores de que se fazia portadora.
Não se tratava de mais um recurso salvacionista de ocasião, mas, de todo um portentoso,
trabalho de iluminação de consciência com a natural transformação moral, que lhe era
subseqüente para a renovação e felicidade da criatura e do mundo.
Não era fácil absorver-lhe de imediato os profundos conteúdos. No entanto, a poderosa
irradiação de beleza e ternura que dele se espraiava seduzia quantos lhes escutavam o convite.
Sorrisos confraternizavam com esperanças de melhores tempos, os de superação dos sofrimentos.
As criaturas não se apercebem que antes da colheita farta, é necessário cortar a terra, matar a semente, cuidar da planta com o contributo do suor e da constância para fruir a etapa final,
que é o recolher sazonado.
Mas isso, naquele tempo, não importava.
Havia sede e fome de paz, de justiça e de pão, e como Ele prometia Boas notícias em torno
do reino de amor e fartura, o que interessava era consegui-lo de imediato.
Estavam sendo, porém lançadas as primeiras balizas; tornava-se preciso reunir os obreiros,
aqueles que iriam trabalhar nas fundações da nova sociedade humana.
Ele saiu, portanto, após o primeiro discurso e rumou na direção das bandas do mar da
Galiléia.
Seria aquela região capital do reino na sua face terrestre.
Ali estavam as gentes simples, sofridas, necessitadas, mais fáceis de ser trabalhadas, mais
susceptível ao amor.
Logo viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
As criaturas humanas, mergulhadas no oceano das paixões, necessitavam de ser resgatadas. Desse modo, ele disse aos dois homens, que se detiveram a olhá-lo:
- Vinde após mim e farei de vós pescadores de homens.
Dominados pela voz e pela magia da Sua presença, sem qualquer discussão ou comentário,
eles, de imediato, deixaram as redes e seguiram-no.
Iniciava-se uma odisséia como jamais houvera antes e nunca mais volveria a acontecer.
Os convidados deixavam tudo e acompanhavam-no.
Pareciam conhecê-Lo e o conheciam. Sentiam-se amados e amavam apesar dos seus limites.
Logo após, a pequena distância, Ele viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que
estavam no barco a consertar as redes, e também os chamou.
A Sua voz penetrava a acústica da alma, e sem outra alternativa, como se O aguardassem,
eles deixando no barco seu pai com os assalariados seguiram-no e dirigiram-se a Cafarnaum.
Eles não conheciam qualquer plano ou projeto, como era a empresa e qual o seu desempenho nela nada sabiam...Apenas de seguiram-no.
Era original a Sua mensagem.
Os potentados do mundo, quando desejam algo, planejam-no, estudam-no e discutem os programas.
Os convidados a participar das suas empresas debatem os interesses, argumentam em defesa dos seus desejos, tomam e gastam tempo em considerações e diálogo infindáveis.
Com Ele, não, tudo era diferente, porque a Sua era uma proposta única, irrecusável, incomum.
Com quatro amigos, dois irmãos e mais dois, Ele iniciou a mais portentosa marcha
revolucionária da Humanidade: a construção do reino de Deus nos corações.
No sábado, Ele entrou na sinagoga e passou a ensinar, fundamentado na Tradição e no texto do dia, sem ter recebido informação prévia do tema para a discussão.
Sua palavra exteriorizava autoridade superior aos escribas e fariseus, facultando que todos se deslumbrassem ate os seus ímpares conceitos, jamais antes escutados.
De nenhuma Causa a humanidade tomara conhecimento com aquelas características.
*
Enquanto João amargava a prisão em Masquerus, na Peréia, Jesus vinha à luz na
verdejante e sorridente Galiléia.
Um período entrava em crepúsculo, em sombras e outro iniciava em amanhecer de lúculas
alvinitentes, iluminadoras.
(*) Marcos: 1 - 14 a 21.
Nota da Autora Espiritual

Energia e Brandura

ENERGIA  E  BRANDURA
 Emmanuel
No caminho da vida, há que se aprender com a própria vida.
 
Na marcha do dia-a-dia, urge harmonizar as manifestações de nossas qualidades com o espírito de proporção e proveito, a fim de que o extremismo não nos imponha acidentes, no trânsito de nossas tarefas e relações.
Energia na fé; não demais que tombe em fanatismo.
Brandura na bondade; não demais que entremostre relaxamento.
Energia na convicção; não demais que se transforme em teimosia.
Brandura na humildade; não demais que degenere em servilismo.
Energia na justiça; não demais que seja crueldade.
Brandura na gentileza; não demais que denuncie bajulação.
Energia na sinceridade; não demais que descambe no desrespeito.
Brandura na paz; não demais que se acomode em preguiça.
Energia na coragem; não demais que se faça temeridade.
Brandura na prudência; não demais que se recolha ao comodismo.
No caminho da vida, há que se aprender com a própria vida.
Vejamos o carro moderno nas viagens de hoje: nem passo a passo, porque isso seria ignorar o progresso, diante do motor, e nem velocidade além dos limites justos, o que seria abusar do motor para descer ao desastre e à morte prematura.
Em tudo equilíbrio, porque, se tivermos equilíbrio, asseguraremos, em toda parte e em qualquer tempo, a presença da caridade e da paciência, em nós mesmos, as duas guardiãs capazes de garantir-nos trajeto seguro e chegada feliz.

Francisco Cândido Xavier - Emmanuel  - Livro Centelhas
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Reflexões sobre a Moral Divina


CHRISTIANO TORCHI
Não é raro conhecermos pessoas que, apesar de viverem em condições adversas,
em ambientes viciosos, conseguem furtar-se às influências negativas do meio e se destacam
na sociedade como homens e mulheres dignos. Há outras que, mesmo depois de terem experimentado
uma vida de transgressões, crimes, prostituição e drogas, conseguem se recuperar, tornando-
se referência para muitos outros indivíduos. Esses exemplos de superação mostram do que o ser humano é capaz, quando tem fé.
No conhecido livro do escritor francês Victor Hugo (1802-1885),
Os Miseráveis, também retratado em filme, encontramos a história de um ex-presidiário (Jean Valjean)
que, ante um dilema moral, originado de um furto por ele praticado após ganhar a liberdade,
foi inocentado pela própria vítima, o caridoso bispo Charles Myriel, atitude que causou um
profundo impacto no ex-condenado, motivando-o, daí por diante, a se tornar um homem de
bem. Esta obra, embora seja um romance de ficção social, é inspirada na realidade e nos faz
refletir sobre a questão filosófica da moral, tratada em O Livro
dos Espíritos.(1)
A crença inata em um ser superior, comum a todos nós, sugere a existência de uma constituição
divina insculpida na alma. Toda vez que infringimos as leis naturais, um juízo secreto nos diz que
estamos no caminho errado. Dominados pelas paixões, nem sempre seguimos os ditames desse tribunal
interior, ficando sujeitos, depois, ao arrependimento, à expiação e à reparação dos erros cometidos.
Do ponto de vista espírita, “a moral é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o
mal.Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando faz tudo pelo bem de
todos, porque então cumpre a Lei de Deus”.(2) A infração das leis morais resulta numa sanção imposta
pela própria consciência, que se traduz no remorso, sem prejuízo da eventual condenação imposta
pela sociedade e suas instituições.
O bem e o mal estão relacionados ao comportamento humano ditado pelo livre-arbítrio, pois “a noção
de moralidade é inseparável da de liberdade”.(3) Procedendo
corretamente, o homem dá mostras de que sabe distinguir o bem do mal. O bem é tudo o que
é compatível com a lei de Deus e o mal é tudo aquilo que não se harmoniza
com ela. Em resumo: quando fazemos o bem, procedemos conforme a lei de Deus, e quando fazemos o mal estamos infringindo essa lei.
Nem todos, porém, se comprazem em fazer o bem, dependendo da evolução do indivíduo e dos
valores que cultua.
Quando o homem procura agir acertadamente, utilizando a razão e a reflexão, encontra meios de distinguir, por si mesmo, o que é bem do que é mal. Ainda que esteja sujeito a enganar- se, em vista de sua falibilidade, possui uma bússola que o guiará no caminho certo, que é o de colocar-se na posição do outro,
analisando o resultado de sua decisão: aprovaria eu o que estou fazendo ao próximo, se estivesse
no lugar dele?
Esse método de pôr-se no lugar do outro para medir a qualidade de nossos atos é bem eficiente,
quando nos habituamos a utilizá-lo, porque o metro de cada um está na lei natural, que estabelece
o limite de nossas próprias necessidades, razão por que experimentamos o sofrimento toda
vez que ultrapassamos essa fronteira. Por isso, se ouvíssemos mais a voz da consciência, estaríamos
a salvo de muitos males que atribuímos a fatores externos ou à Natureza.
Deus poderia, se quisesse, ter feito o Espírito pronto e acabado, mas o criou simples e ignorante,
dando-lhe, assim, a oportunidade de progredir pelo próprio esforço, para que tenha a ventura de chegar
ao cume da jornada e exclamar, satisfeito: eu venci!
Com o advento tanto do progresso e a consequente proliferação dos grupos sociais, caracterizados
por sua diversidade cultural, como também das novas necessidades criadas pela modernidade
e pelo avanço da tecnologia, somos tentados a pensar que a lei natural não é uma regra uniforme para a coletividade.
Todavia, este modo de raciocinar é equivocado, uma vez que a lei natural possui tantas gradações
quantas necessárias para cada tipo de situação, sem perder a unidade e a coerência, cabendo a
cada um distinguir as necessidades reais das artificiais ou convencionais.
A lei de Deus é a mesma para todos, independentemente da posição evolutiva do homem, que
tem a liberdade de praticar o bem ou o mal. A diferença que existe está no grau de responsabilidade,
como no caso do selvagem que, outrora, sob domínio dos instintos primitivos, considerava
normal alimentar-se de carne humana, a saber: o homem é tanto mais culpado quanto
melhor sabe o que faz. À medida que o Espírito adquire experiência, em sucessivas encarnações,
alcança estágios superiores que lhe permitem discernir melhor as coisas. Portanto, a responsabilidade
do ser humano é proporcional aos meios de que dispõe para diferenciar o bem do mal. Apesar disso, não se pode dizer que são menos repreensíveis as faltas que comete, embora decorrentes da posição que
ocupa na sociedade.
O mal desaparece à medida que a alma se depura. É então que, senhor de si, o homem se torna
mais culpado quando comete o mal, porque tem melhor compreensão
da existência deste. A culpa pelo mal praticado recai sobre quem deu causa a ele, porém,
aquele que foi compelido, levado ou induzido a praticar o mal por outrem, é menos culpado do que
aquele que lhe deu causa.
Outrossim, o fato de se achar num ambiente desfavorável ou nocivo à moral, devido às influências
dos vícios e dos crimes, não quer dizer que a criatura esteja isenta de culpa, se, deixando-se
levar por essas influências, também praticar o mal. Em primeiro lugar, porque dispõe de um instrumento
poderoso para superar as circunstâncias infelizes: a vontade.
Em segundo, porque, antes de encarnar, pode ter escolhido essa prova, submetendo-se à tentação
para ter o mérito da resistência.
De outras vezes, o Espírito renasce em um meio hostil com a missão de exercer influência positiva
sobre seus semelhantes, retardatários.
Por outro lado, aquele que,mesmo não praticando diretamente o mal, se aproveita da maldade feita
por outrem, age como se fosse o autor, isso porque talvez não tivesse coragem de cometê-lo,
mas, encontrando o mal feito, tira partido da situação, o que significa que o aprova e o teria praticado,
se pudesse ou tivesse ousadia para tanto. Enquanto Espíritos, quase todos nos equiparamos,
na Terra, a condenados em regime de liberdade condicional, sujeitos, graças à misericórdia divina, a diversas restrições que,
muitas vezes, nos são impostas para nos proteger das próprias fraquezas. Assim, podemos dizer
que muitos de nós só não praticamos o mal por falta de oportunidade, considerando que nem
sempre temos vontade forte o bastante para resistir a determinadas conjunturas, em virtude da
ausência de autocontrole.
O desejo de praticar o mal pode ser tão repreensível quanto o próprio mal, contudo, aquele
que resiste às tentações, com a finalidade de superar-se, tem grande mérito, sobretudo quando
depende apenas de sua vontade para tomar essa ou aquela decisão. Não basta, porém, que
deixe de praticar o mal. É preciso que faça o bem no limite de suas forças, pois cada um responderá
por todo mal que resulte de sua omissão em praticar o bem. Os Espíritos superiores são
taxativos em dizer que ninguém está impossibilitado de fazer o bem, independentemente de sua
posição, pois que todos os dias da existência nos oferecem oportunidades
de ajudar o próximo, ainda que seja por meio de uma singela oração.
O grande mérito de se fazer o bem reside na dificuldade que se tem de praticá-lo. Quanto maiores
forem os obstáculos para a realização do bem, maior é o merecimento daquele que o executa.
Contrário senso, não existe tanta valia em se fazer o bem sem esforço ou quando nada custa, como
no caso do afortunado que dá um pouco aos pobres do que lhe sobra em abundância. A parábola
do óbolo da viúva, contida em o Novo Testamento,4 retrata bem tal circunstância.
Finalizando, a essência da moral divina pode ser encontrada na
máxima do amor ao próximo, ensinada por Jesus, porque abarca todos os deveres que os homens
têm uns para com os outros, razão pela qual temos necessidade de vivenciar essa lei constantemente,
porquanto o bem é a lei suprema do Universo que nos conduz a Deus “e o mal será sempre representado por aquela triste vocação do bem unicamente para nós mesmos [...]”.(5)
Junho 2010 • Reformador


1-KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 629-646.
2-Idem, ibidem. Q. 629.
3-DENIS, Léon. O problema do ser, do destino
e da dor. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2009. P. 3, As potências da alma, item 22,
4-LUCAS, 21:1-4.
5-XAVIER, Francisco C. Ação e reação. 28.
ed. 2. reimp. Pelo Espírito André Luiz. Rio
de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 7, p. 110.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Poder de Resistir ao Stresse


“Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?
– Sim, e, freqüentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah!
quão poucos, dentre vós fazem esforços!”
(O Livro dos Espíritos, questão no 909.)
“Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta
montanha: Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível.”
– Jesus. (Mateus, 17:20.)
“A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto
de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 3, 2o parágrafo.)


Evangelista Mateus relata que um homem veio ao encontro de Jesus e, lançando- se a seus pés, pediu que Ele tivesse piedade de seu filho que era lunático e sofria muito. Ele adianta que já o apresentara a seus discípulos e que estes não haviam conseguido curá-lo. O Mestre Jesus comenta a falta de credulidade
e imediatamente cura o menino e adverte os discípulos de que eles não o haviam curado por falta de
fé e afirma-lhes: “Se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha:transporta-te daí para ali e ela se transportaria e nada vos seria impossível”.
(Mateus, 17:14 a 20.)
Allan Kardec tece o seguinte comentário em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, sobre
essa passagem evangélica no item 2: “No sentido próprio, é certo que a confiança nas suas próprias
forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue fazer quem duvida de si”. E mais adiante, elucida no item 3: “(...)entende-se como fé a confiança que se tem na realização
de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez que permite se
veja, em pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança. (...)
A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu
ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado.
(...)”
Nos dias atuais, estamos precisando de fé para vencer o estresse que o modo de viver da civilização
nos impõe, pois para resistir ao estresse e administrar a pressão é  necessário manter um equilíbrio na vida.
As pessoas que acreditam ter o controle de seu destino lidam melhor com as pressões do que aquelas
que acham que tudo está ao sabor do acaso.
Para isso é importante ter alguns parâmetros:
1. Vivamos o presente:
Vivamos o “aqui e agora”, com responsabilidade e equilíbrio, concentrando- nos naquilo que está
acontecendo no presente, e aumentaremos nossa capacidade de resistir ao estresse, pois não estaremos
fixados em coisas do passado ou imaginando futuros problemas, ainda que inexistentes.
Procuremos sentir a realidade da situação ou do problema e a possível solução para ele.
Para ter o “clima mental” adequado, procuremos meditar.A meditação pode estabelecer um estado
mental de calma interior.
2. Tenhamos objetivos claros de vida:
Quando temos um roteiro claro para a direção de nossa vida, ficamos mais fortes ao sentir pequenas
pressões como foco de estresse.
Se estabelecemos prioridades e firmeza ou fé em nossas convicções, clareando um quadro geral
dos objetivos maiores de nossas vidas, não nos irritaremos com as pequenas coisas.
Pensemos no que é realmente importante para nós, levando em consideração a visão filosófica ou
espiritual da vida, no sentido da sua eternidade.
Assim, se desejamos a auto-realização, o equilíbrio e o bem-estar, uma boa vida familiar, o trabalho,
seja qual for, como forma de valorização pessoal, não nos estressaremos, por exemplo, com problemas
no trânsito, ocorrências de pequenos desentendimentos no lar, no trabalho ou até mesmo no lazer.
3. Sejamos solidários:
Ser solidário é ser participativo. É olhar não só para nós e para nossas necessidades (reais ou imaginárias),
mas, também, olhar para o outro.
Enxergarmos na estrada de nossa vida o próximo, como o samaritano, a que Jesus se referiu, caído com
as forças combalidas, assaltado por problemas, muitas vezes, maiores que os nossos. Ao nos aproximarmos
dele e o agasalharmos na hospedaria do nosso amor solidário e fraterno, nossas tensões e mágoas desaparecerão ou, pelo menos, diminuirão.
4.Tenhamos momentos de divertimento:
Ter fé na vida é também ter momentos de diversão, de descontração, de lazer.
Para aliviar o estresse, saibamos desfrutar os momentos com a família.
Nestes instantes procuremos tirar de nossas mentes todas as preocupações do lar ou do trabalho.
Procuremos sentir as pessoas que compõem a nossa família, o que cada uma nos oferece de bom,
saibamos sorrir com elas e que elas riam conosco.
Tenhamos alegria com nossos animais domésticos, com as nossas folhagens, com as nossas flores.
Tenhamos momentos de humor sadio e energizante.
Procuremos rir, rir faz bem para a alma e para o corpo físico.
A calma na luta contra o estresse é sempre um sinal de força e de confiança; o desespero ou a violência
denotam a fraqueza e a dúvida de si mesmo.
Ouçamos, pois, o Mestre Jesus:
“Se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: transporta-te daí para
ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível”. E digamos para a “montanha do nosso estresse”:
transporta-te daí (do nosso mundo mental) para ali (planície de nossas emoções controladas e produtivas) e nada nos imporá o estresse.

Site: FEB
Revista o Reformador -Abril de 2006
Escrito Por Aylton Paiva

sábado, 25 de agosto de 2012

" A Gênese" Cap 15 Curas - A perda de Sangue


Perda de Sangue
10. Então uma mulher, que havia doze anos sofria de uma hemorragia, _ a qual muito havia sofrido nas mãos de muitos médicos, e que, tendo consumido todos os seus bens, não havia recebido nenhum alívio, mas sempre se encontrava pior, _ tendo ouvido falar de Jesus, veio na multidão por detrás, e tocou suas vestes; pois ela dizia: Se eu puder ao menos tocar suas vestes, serei curada. _ No mesmo momento a fonte do sangue que ela perdia se secou, e ela sentiu em seu corpo que estava curada daquela moléstia.
E logo Jesus, conhecendo a virtude que havia saído dele, voltou-se para a multidão, e disse: Quem tocou minhas vestes? Seus discípulos lhe disseram: Vedes que a multidão vos comprime por todos os lados, e perguntais quem vos tocou? E ele olhava em toda a volta dele para ver quem o havia tocado.
Porém a mulher, que sabia o que se havia passado com ela, tomada de medo e pavor, veio atirar-se a seus pés, e lhe declarou toda a verdade. E Jesus lhe disse: Minha filha, tua fé te salvou; vai em paz, e fica curada de tua moléstia. (S. Marcos, cap. V, vers. de 25 a 34).
11. Estas palavras: "Conhecendo a virtude que havia saído dele, são significativas; elas exprimem o movimento fluídico que se operou de Jesus para a mulher doente; ambos sentiram a ação que acabava de se produzir. É notável que o efeito não foi provocado por um ato de vontade de Jesus; não houve magnetização, nem imposição de mãos. A irradiação fluídica normal foi suficiente para operar a cura.
Mas por que esta irradiação se dirigiu para aquela mulher, em vez de outras, pois Jesus não estava pensando nela, e se achava rodeado pela multidão?
A razão é bem simples. O fluido, sendo dado como matéria terapêutica, deve atingir a desordem orgânica para a reparar; pode ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador ou atraído pelo desejo ardente, a confiança, numa palavra, a fé do doente. Em relação à corrente fluídica, a primeira faz o efeito de uma bomba comprimida, e a segunda de uma bomba aspirante. Algumas vezes a simultaneidade dos dois efeitos é necessária, de outras vezes uma só basta; é o segundo caso que se positivou nesta circunstância.
Jesus tinha pois razão de dizer: "Tua fé te salvou." Compreende-se que aqui a fé não é a virtude mística, como certas pessoas entendem, mas uma verdadeira força atrativa, enquanto que aquele que não a tem opõe à corrente fluídica uma força repulsiva, ou pelo menos uma força de inércia que paralisa a ação. Assim sendo, compreende-se que de dois doentes atingidos do mesmo mal, estando na presença do curador, um possa ser curado e o outro não. Aí está um dos princípios mais importantes da medicina curadora e que explica, por uma causa muito natural, certas anomalias aparentes. (Cap. XIV, ns. 31, 32, 33).
Copyright 2004 - LAKE - Livraria Allan Kardec Editora
(Instituição Filantrópica) Todos os Direitos Reservados

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A FÉ, A ESPERANÇA E A CARIDADE


A FÉ, A ESPERANÇA E A CARIDADE
 
(Bordeaux - médium: Sra. Cazemajoux)

(Publicado na Revista Espírita, fevereiro de 1862)

A FÉ

Sou a irmã mais velha da Esperança e da Caridade. Chamo-me Fé.
Sou grande e forte. Aquele que me possui não teme o ferro nem o fogo, pois ele é à prova de todos os sofrimentos físicos e morais. Irradio sobre vós com um facho cujos jatos brilhantes se refletem no fundo dos vossos corações e vos comunico a força e a vida. Entre vós, dizem que transporto montanhas, mas eu vos digo: venho erguer o mundo, porque o Espiritismo é a alavanca que me deve ajudar. Uni-vos a mim. Eu venho convidar-vos. Eu sou a Fé.
Eu sou a Fé! Moro com a Esperança, a Caridade e o Amor, no mundo dos Espíritos Puros. Muitas vezes deixei as regiões etéreas e vim à Terra para vos regenerar, dando-vos a vida do espírito; mas, fora os mártires dos primeiros tempos do cristianismo e alguns fervorosos sacrifícios, de tempos em tempos feitos ao progresso da ciência, das letras, da indústria e da liberdade, não encontrei entre os homens senão indiferença e frieza, e tristemente retomei o meu voo para os céus. Julgais-me em vosso meio, mas vos enganais, porque a Fé sem obras é uma aparência de Fé. A verdadeira Fé é a vida e a ação.
Antes da revelação do Espiritismo a vida era estéril; era uma árvore ressequida pelos raios e que nenhum fruto produzia. Reconhecem-me por meus atos: eu ilumino as inteligências; aqueço e fortaleço os corações; afasto para bem longe as influências enganadoras e vos conduzo para Deus pela perfeição do espírito e do coração. Vinde colocar-vos sob minha bandeira. Eu sou poderosa e forte. Eu sou a Fé.
Sou a Fé, e o meu reino começa entre os homens, reino pacífico que os tornará felizes no presente e na eternidade. A aurora do meu aparecimento entre vós é pura e serena; seu sol será resplendente e seu ocaso virá docemente embalar a Humanidade nos braços de eternas felicidades. Espiritismo! Derrama sobre os homens o teu batismo regenerador. Eu lhes faço um apelo supremo. Eu sou a Fé.
GEORGES, bispo de Périgueux

A ESPERANÇA

Meu nome é Esperança. Sorrio à vossa entrada na vida; sigo-vos passo a passo e não vos deixo senão nos mundos onde para vós se realizam as promessas de felicidade, incessantemente murmuradas aos vossos ouvidos. Sou vossa fiel amiga. Não repilais minhas inspirações. Eu sou a Esperança.
Sou eu que canto através do rouxinol e que solto, aos ecos das florestas, essas notas lamentosas e cadenciadas que vos fazem sonhar com o céu. Sou eu que inspiro à andorinha o desejo de aquecer os seus amores ao abrigo de vossas moradas; que brinco na brisa ligeira que acaricia os vossos cabelos; que espalho aos vossos pés o suave perfume das flores dos vossos canteiros, e quase não pensais nesta amiga tão devotada! Não a repilais: é a Esperança!
Tomo todas as formas para me aproximar de vós: Sou a estrela que brilha no azul; o quente raio de sol que vos vivifica; embalo as vossas noites com sonhos ridentes; expulso para longe as negras preocupações e os pensamentos sombrios; guio vossos passos para o caminho da virtude; acompanho-vos nas visitas aos pobres, aos aflitos, aos moribundos, e vos inspiro palavras afetuosas e consoladoras. Não me repilais. Eu sou a Esperança.
Eu sou a Esperança! Sou eu que, no inverno, faço crescer na casca dos carvalhos o musgo espesso com que os passarinhos fazem seus ninhos; sou eu que, na primavera, coroo a macieira e a amendoeira de flores rosas e brancas e as espalho sobre a Terra como um tapete celeste, que faz aspirar a mundos felizes. Estou convosco principalmente quando sois pobres e sofredores, e minha voz ressoa incessantemente aos vossos ouvidos. Não me repilais. Eu sou a Esperança.
Não me repilais, porque o anjo do desespero me faz uma guerra cruel e se esgota em vãos esforços para junto de vós tomar o meu lugar. Nem sempre sou a mais forte, e quando ele consegue me afastar vos envolve com suas asas fúnebres; desvia os vossos pensamentos de Deus e vos conduz ao suicídio. Uni-vos a mim para afastar sua funesta influência, e deixai-vos embalar docemente em meus braços, porque eu sou a Esperança.

FELÍCIA, filha da médium.

A CARIDADE

Eu sou a Caridade, sim, a verdadeira Caridade. Em nada me pareço com a caridade cujas práticas seguis. Aquela que entre vós usurpou o meu nome é fantasista, caprichosa, exclusiva, orgulhosa. Venho premunir-vos contra os defeitos que, aos olhos de Deus, empanam o mérito e o brilho de suas boas ações. Sede dóceis às lições que o Espírito de Verdade vos dá por minha voz. Segui-me, meus fiéis: eu sou a Caridade.
Segui-me. Conheço todos os infortúnios, todas as dores, todos os sofrimentos, todas as aflições que assediam a Humanidade. Sou a mãe dos órfãos, a filha dos velhos, a protetora e suporte das viúvas. Curo as chagas infectas; trato de todos os doentes; visto, alimento e abrigo os que nada têm; subo aos mais humildes tugúrios e às mais miseráveis mansardas; bato à porta dos ricos e poderosos porque onde quer que exista uma criatura humana, há, sob a máscara da felicidade, dores amargas e cruciantes. Oh! Como é grande minha tarefa! Não poderei cumpri-la se não vierdes em meu auxílio. Vinde a mim: eu sou a Caridade.
Não tenho preferência por ninguém. Jamais digo aos que de mim necessitam: “Tenho os meus pobres; procurai alhures.” Oh! falsa caridade, quanto mal fazes! Amigos, nós nos devemos a todos. Crede-me. Não recuseis assistência a ninguém. Socorrei-vos uns aos outros com bastante desinteresse para não exigirdes reconhecimento da parte dos que tiverdes socorrido. A paz do coração e da consciência é a suave recompensa de minhas obras: eu sou a verdadeira Caridade.
Ninguém sabe na Terra o número e a natureza de meus benefícios.
Só a falsa caridade fere e humilha aqueles a quem beneficia. Evitai esse funesto desvio. As ações desse gênero não têm mérito perante Deus e atraem a sua cólera. Só ele deve saber e conhecer os generosos impulsos de vossos corações, quando vos tornais os dispensadores de seus benefícios. Guardai-vos, pois, amigos, de dar publicidade à prática da assistência mútua; não mais lhe deis o nome de esmola; crede em mim: eu sou a Caridade.
Tenho tantos infortúnios a aliviar que por vezes tenho os seios e as mãos vazios. Venho dizer-vos que espero em vós. O Espiritismo tem como divisa Amor e Caridade, e todos os verdadeiros espíritas quererão, no futuro, conformar-se a esse sublime preceito ensinado pelo Cristo há dezoito séculos. Segui-me, pois, irmãos, e eu vos conduzirei ao Reino de Deus, nosso pai. Eu sou a Caridade.

ADOLFO, bispo de Argel.

Instruções dadas por nossos Guias sobre as três comunicações acima

Meus amigos, vós deveis ter pensado que um de nós havia dado os ensinamentos sobre a fé, a esperança e a caridade. E tínheis razão.
Felizes por ver Espíritos tão elevados vos dando, com frequência, conselhos que vos devem guiar em vossos trabalhos espirituais, não é menor nossa suave e pura alegria, quando vimos ajudar-vos na tarefa do vosso apostolado espírita.
Podeis, pois, atribuir ao Espírito de Georges a comunicação sobre a Fé; sobre a Esperança, a Felícia: aí encontrareis o estilo poético que tinha em vida; e a da Caridade ao senhor Dupuch, bispo de Argel, que na Terra foi um de seus fervorosos apóstolos.
Ainda teremos que tratar da caridade sob outro ponto de vista. Fá-lo-emos dentro de alguns dias.
VOSSOS GUIAS

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

COMUNHÃO COM DEUS




Irmão X - Humberto de Campos
As elucidações do Mestre, relativamente à oração, sempre encontravam nos discípulos certa perplexidade, quase que invariavelmente em virtude das idéias novas que continham, acerca da concepção de Deus como Pai carinhoso e amigo. Aquela necessidade de comunhão com o seu amor, que Jesus não se cansava de salientar, lhes aparecia como problema obscuro, que o homem do mundo não conseguiria realizar.
A esse tempo, os essênios constituíam um agrupamento de estudiosos das ciências da alma, caracterizando as suas atividades de modo diferente, porque sem públicas manifestações de seus princípios. Desejoso de satisfazer à curiosidade própria, João procurou conhecer-lhes, de perto, os pontos de vista, em matéria das relações da comunidade com Deus e, certo dia, procurou o Senhor, de modo a ouvi-lo mais amplamente sobre as dúvidas que lhe atormentavam o coração:
- Mestre - disse ele, solícito -, tenho desejado sinceramente compreender os meus deveres atinentes à oração, mas sinto que minh’alma está tomada de certas hesitações. Anseio por esta comunhão perene com o Pai; todavia, as idéias mais antagônicas se opõem aos meus desejos. Ainda agora, manifestando meu pensamento, acerca de minhas necessidades espirituais, a um amigo que se instrui com os essênios, asseverou-me ele que necessito compreender que toda edificação espiritual se deve processar num plano oculto. Mas, suas observações me confundiram ainda mais. Como poderei entender isso? Devo, então, ocultar o que haja de mais santo em meu coração?
O Messias, arrancado de suas meditações, respondeu com brandura:
- João, todas as dúvidas que te assaltam se verificam pelo motivo de não haveres compreendido, até agora, que cada criatura tem um santuário no próprio espírito, onde a sabedoria e o amor de Deus se manifestam, através das vozes da consciência. Os essênios levam muito longe a teoria do labor oculto, pois, antes de tudo, precisamos considerar que a verdade e o bem devem ser patrimônio de toda a Humanidade em comum. No entanto, o que é indispensável é saber dar a cada criatura, de acordo com as suas necessidades próprias. Nesse ponto, estão muito certos quanto ao zelo que os caracteriza, porque os ungüentos reservados a um ferido não se ofertam ao faminto que precisa de pão. Também eu tenho afirmado que não poderei ensinar tudo o que desejara aos meus discípulos, sendo compelido a reservar outras lições do Evangelho do Reino para o futuro, quando a magnanimidade divina permitir que a voz do Consolador se faça ouvir entre os homens sequiosos de conhecimento. Não tens observado o número de vezes em que necessito recorrer a parábolas para que a revelação não ofusque o entendimento geral? No que se refere à comunhão de nossas almas com Deus, não me esqueci de recomendar que cada espírito ore no segredo do seu íntimo, no silêncio de suas esperanças e aspirações mais sagradas. É que cada criatura deve estabelecer o seu próprio caminho para mais alto, erguendo em si mesma o santuário divino da fé e da confiança, onde interprete sempre a vontade de Deus, com respeito ao seu destino. A comunhão da criatura com o Criador é, portanto, um imperativo da existência e a prece é o luminoso caminho entre o coração humano e o Pai de infinita bondade.
O apóstolo escutou as observações do Mestre, parecendo meditar austeramente. Entretanto, obtemperou:
- Mas, a oração deve ser louvor ou súplica?
Ao que Jesus respondeu com bondade:
- Por prece devemos interpretar todo ato de relação entre o homem e Deus. Devido a isso mesmo, como expressão de agradecimento ou de rogativa, a oração é sempre um esforço da criatura em face da Providência Divina. Os que apenas suplicam podem ser ignorantes, os que louvam podem ser somente preguiçosos. Todo aquele, porém, que trabalha pelo bem, com as suas mãos e com o seu pensamento, esse é o filho que aprendeu a orar, na exaltação ou na rogativa, porque em todas as circunstâncias será fiel a Deus, consciente de que a vontade do Pai é mais justa e sábia do que a sua própria.
- E como ser leal a Deus, na oração? - interrogou o apóstolo, evidenciando as suas dificuldades intelectuais. - A prece já não representa em si mesma um sinal de confiança?
Jesus contemplou-o com a sua serenidade imperturbável e retrucou:
- Será que também tu não entendes? Não obstante a confiança expressa na oração e a fé tributada à providência superior, é preciso colocar acima delas a certeza de que os desígnios celestiais são mais sábios e misericordiosos do que o capricho próprio; é necessário que cada um se una ao Pai, comungando com a sua vontade generosa e justa, ainda que seja contrariado em determinadas ocasiões. Em suma, é imprescindível que sejamos de Deus. Quanto às lições dessa fidelidade, observemos a própria natureza, em suas manifestações mais simples. Dentro dela, agem as leis de Deus e devemos reconhecer que todas essas leis correspondem à sua amorosa sabedoria, constituindo-se suas servas fiéis, no trabalho universal. Já ouviste falar, alguma vez, que o Sol se afastou do céu, cansado da paisagem escura da Terra, alegando a necessidade de repousar? A pretexto de indispensável repouso, teriam as águas privado o globo de seus benefícios, em certos anos? Por desagradável que seja em suas características, a tempestade jamais deixou de limpar as atmosferas. Apesar das lamentações dos que não suportam a umidade, a chuva não deixa de fecundar a terra! João, é preciso aprender com as leis da natureza a fidelidade a Deus! Quem as acompanha, no mundo, planta e colhe com abundância. Observar a lealdade para com o Pai é semear e atingir as mais formosas searas da alma no infinito. Vê, pois, que todo o problema da oração está em edificarmos o reino do céu entre os sentimentos de nosso íntimo, compreendendo que os atributos divinos se encontram também em nós.
O apóstolo guardou aqueles esclarecimentos, cheio de boa vontade no sentido de alcançar a sua perfeita compreensão.
- Mestre - confessou, respeitoso -, vossas elucidações abrem uma estrada nova para minh’alma; contudo, eu vos peço, com a sinceridade da minha afeição, me ensineis, na primeira oportunidade, como deverei entender que Deus está igualmente em nós.
O Messias fixou nele o olhar translúcido e, deixando perceber que não poderia ser mais explícito com o recurso das palavras, disse apenas:
- Eu to prometo.
A conversação que vimos de narrar verificara-se nas cercanias de Jerusalém, numa das ausências eventuais do Mestre do círculo bem-amado de sua família espiritual em Cafarnaum.
No dia seguinte, Jesus e João demandaram Jericó, a fim de atender ao programa de viagem organizado pelo primeiro.
Na excursão a pé, ambos se entretinham em admirar as poucas belezas do caminho, escassamente favorecido pela Natureza. A paisagem era árida e as árvores existentes apresentavam as frondes recurvadas, entremostrando a pobreza da região, que não lhes incentivava o desenvolvimento.
Não longe de uma pequena herdade, o Mestre e o apóstolo encontraram um rude lavrador, cavando grande poço à beira do caminho. Bagas de suor lhe desciam da fronte; mas, seus braços fortes iam e vinham à terra, na ânsia de procurar o líquido precioso.
Ante aquele quadro, Jesus estacionou com o discípulo, a pretexto de breve descanso, e, revelando o interesse que aquele esforço lhe despertava, perguntou ao trabalhador:
- Amigo, que fazes?
- Busco a água que nos falta - redargüiu com um sorriso o interpelado.
- A chuva é assim tão escassa nestas paragens? - tornou Jesus, evidenciando afetuoso cuidado.
- Sim, nas proximidades de Jericó, ultimamente, a chuva se vem tornando uma verdadeira graça de Deus.
O homem do campo prosseguiu no seu trabalho exaustivo; mas, apontando para ele, o Messias disse a João, em tom amigo:
Este quadro da Natureza é bastante singelo; porém, é na simplicidade que encontramos os símbolos mais puros. Observa, João, que este homem compreende que sem a chuva não haveria mananciais na Terra; mas, não pára em seu esforço, procurando o reservatório que a Providência Divina armazenou no subsolo. A imagem é pálida; todavia, chega para compreenderes como Deus reside também em nós. Dentro do símbolo, temos de entender a chuva como o favor de sua misericórdia, sem o qual nada possuiríamos. Esta paisagem deserta de Jericó pode representar a alma humana, vazia de sentimentos santificadores. Este trabalhador simboliza o cristão ativo, cavando junto dos caminhos áridos, muitas vezes com sacrifício, suor e lágrimas, para encontrar a luz divina em seu coração. E a água é o símbolo mais perfeito da essência de Deus, que tanto está nos céus como na Terra.
O discípulo guardou aquelas palavras, sabendo que realizara uma aquisição de claridades imorredouras. Contemplou o grande poço, onde a água clara começava a surgir, depois de imenso esforço do humilde trabalhador que a procurava desde muitos dias, e teve nítida compreensão do que constituía a necessária comunhão com Deus. Experimentando indefinível júbilo no coração, tomou das mãos do Messias e as osculou, com a alegria do seu espírito alvoroçado. Confortado, como alguém que vencera grande combate íntimo, João sentiu que finalmente compreendera."

Do livro Boa Nova. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

  


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Coragem moral


Um dos requisitos exigidos por Jesus, como condição indispensável àqueles que pretendessemseguir-lhe as pegadas, é a coragem moral.Eu vos envio, disse ele aos discípulos, como ovelhas no meio de lobos. Esta frase é bastanteeloqüente e, por si só, define muito bem a posição dos cristãos na sociedade do século."Sereis entregues aos tribunais por minha causa. Suportareis perseguições, açoites e prisão. Ha-verá delações entre os próprios irmãos. Atraireis o ódio de todos. A vossa vida correrá iminenterisco a cada instante."Todavia, não temais, pois até os cabelos de vossas cabeças estão contados. Nenhum receiodeveis ter dos homens, cujo poder não vai além do vosso corpo. Se chamaram Belzebu ao donoda casa, quanto mais aos seus domésticos. Portanto, nada de temores: o que vos digo àpuridade proclamai-o dos eirados. Nada há encoberto que não seja descoberto; nada há oculto quese não venha a saber. Por isso, aquele que me confessar diante dos homens, eu o confessareidiante de meu Pai celestial; e o que me negar diante dos homens, eu o negarei perante meu Paique está nos céus."Tais expressões são de clareza meridiana. Para ser cristão, é preciso coragem, ânimo forte, atitudevaronil. "Seja o teu falar: sim, sim; não, não". Não há lugar para composturas dúbias, indecisas,oscilantes. O crente em Cristo deve possuir convicção inabalável, têmpera rija, caráter positivo efranco.Entre as virtudes, não há incompatibilidades. >. mansuetude, a cordura e a humildade sãopredicados que podem (e devem) coexistir com a energia, com a intrepidez, com avaronilidade. Deus é infinitamente misericordioso e, ao mesmo tempo, éinfinitamente justo.O caráter do cristão há de ser forjado de aço de Toledo e de ouro do Transvaal. Assim disseAmado Nervo: "Ouro sobre aço sejam a tua vontade e a tua conduta. Sobre o aço do teupensamento há de luzir o arabesco de ouro das formas puras e gentis. Ouro e aço será tua vida,serão teus propósitos, serão teus atos."Abulia indiferença e marasmo não são expressões de bondade. "Não és frio, nem quente;por isso, quero vomitar-te de minha boca." Passividade não é virtude. Entre o bem e o mal, averdade e a impostura, a justiça e a iniqüidade não .há lugar para acomodações, nem paraneutralidade. O cristão se define sempre em tais conjunturas, confessando o seu Mestre."Ninguém pode servir a dois senhores." Que relação pode haver entre Jesus e Baal? Dobraros joelhos diante de todos os tronos, só porque são tronos; curvar-se perante todos osCésares, só porque são Césares; afazer-se às tiranias e às opressões, anuir direta ouindiretamente às tranquibérnias e vilezas da época; pactuar, enfim, com a injustiça de qualquermaneira e por quaisquer motivos, é negar a Jesus-Cristo no cenáculo social. "Não sejaisescravos dos homens, nem das paixões; não sejais, igualmente, nem parasitas, nembajuladores, nem mendigos" — disse o grande educador Hilário Ribeiro em um dos seusexcelentes livros didáticos. Não se triunfa na vida, sem ânimo viril. E' a covardia moral que faz ohomem escravizar-se a outros homens; que o faz escravo de vícios repugnantes e depaixões vis e soezes. E' ainda por pusilanimidade e covardia que o homem bajula, mendiga ese torna parasita.Sem boa dose de coragem (quase ia dizendo de audácia), o homem não cumpre o dever e menosainda consegue sair-se airosamente das emergências difíceis da vida. O suicídio, seja por esteou por aquele motivo, é sempre um ato de covardia moral. A sentinela valorosa jamais abandonao posto que lhe foi confiado.Os altos problemas da Vida, consubstanciados na sentença evangélica — Sede perfeitos comovosso Pai celestial é perfeito — requerem ânimo forte e vontade irredutível para seremsolucionados. Não é fugindo aos perigos e às dificuldades que o homem há de vencê-las; éenfrentando-as.A coragem moral é a primeira virtude do homem de fé. Cumpre, porém, não confundir a verdadeiracoragem com as caricaturas de coragem, que se ostentam por toda a parte. Estas são burlescase vulgares, aquela é rara e cheia de nobreza. A coragem não consiste em atitudes violentas e  belicosas. Nada tem de comum com a temeridade. E' serena e íntima. Não se ostenta embracejos, ou gesticulações espetaculosas, nem em vozeios e frases ameaçadoras e ofensivas.Revela-se antes em suportar, do' que em repelir a ofensa recebida. Energia não significaagressividade. Ser franco não é ser ferino, nem, sequer, contundente.Quanto maior é a coragem, tanto mais calmo age o indivíduo. A consciência do valor próprio,aliada à fé no Supremo Poder, fêz o homem tolerante e sofrido, paciente e tranqüilo. Tal foi aatitude invariável de Jesus diante das conjunturas mais embaraçosas de sua vida terrena.Suportou todas as injúrias, todas as humilhações e iniqüidades que lhe foram infligidas,conservando imaculada e intangível a pureza do alto ideal por que se bateu até ao extremosacrifício.Tal é a coragem de que precisam revestir-se os seus discípulos de hoje, como souberam fazer osdiscípulos do passado. Saulo, antes de ser Paulo,
não denotou coragem nenhuma perseguindo, aprisionando econsentindo no assassínio dos primeiros adeptos do Cristianismo nascente.Saulo tinha às suas ordens gendarmes municiados; as altas autoridades civis e eclesiásticas lheconferiam poderes discricionários. Os perseguidos eram párias sociais, sem proteção, pobres edesarmados. A atitude de Saulo era daquelas que confirmam o velho brocardo: Quer conhecer ovilão? Ponha-lhe nas mãos o bastão.Após o célebre dia de Damasco, em que
Saulo  se transformou em Paulo, a vilania daquele seconverteu na coragem moral deste. De algoz, passou a ser vítima. A seu turno perseguido,tendo agora contra si as armas e o rancor das autoridades detentoras do poder; correndo osmaiores riscos, suportando prisões e açoites, afrontando a morte a cada momento, Paulo caminhaintrépido e destemido, na defesa da causa santa da justiça e da liberdade personificadas nocredo de Jesus.O extraordinário Apóstolo das gentes nos oferece, em si mesmo, exemplos da falsa e da legítimacoragem, antes e depois da conversão.Convertamo-nos, pois, nós os espíritas, os néo-cristãos, como se converteu Paulo.Provemos em nós mesmos, com a transformação radical de nosso caráter, a eficiência e o poderde Jesus-Cristo, como redentor da Humanidade, como libertador do homem, mediante oexemplo de coragem moral que nos legou como herança preciosíssima.

Livro : Em Torno do Mestre- Vinícius