A FÉ, A ESPERANÇA E A CARIDADE
(Bordeaux - médium: Sra. Cazemajoux)
(Publicado na Revista Espírita, fevereiro de 1862)
A FÉ
Sou a irmã mais velha da Esperança e da Caridade. Chamo-me Fé.
Sou
grande e forte. Aquele que me possui não teme o ferro nem o fogo, pois
ele é à prova de todos os sofrimentos físicos e morais. Irradio sobre
vós com um facho cujos jatos brilhantes se refletem no fundo dos vossos
corações e vos comunico a força e a vida. Entre vós, dizem que
transporto montanhas, mas eu vos digo: venho erguer o mundo, porque o
Espiritismo é a alavanca que me deve ajudar. Uni-vos a mim. Eu venho
convidar-vos. Eu sou a Fé.
Eu
sou a Fé! Moro com a Esperança, a Caridade e o Amor, no mundo dos
Espíritos Puros. Muitas vezes deixei as regiões etéreas e vim à Terra
para vos regenerar, dando-vos a vida do espírito; mas, fora os mártires
dos primeiros tempos do cristianismo e alguns fervorosos sacrifícios, de
tempos em tempos feitos ao progresso da ciência, das letras, da
indústria e da liberdade, não encontrei entre os homens senão
indiferença e frieza, e tristemente retomei o meu voo para os céus.
Julgais-me em vosso meio, mas vos enganais, porque a Fé sem obras é uma
aparência de Fé. A verdadeira Fé é a vida e a ação.
Antes
da revelação do Espiritismo a vida era estéril; era uma árvore
ressequida pelos raios e que nenhum fruto produzia. Reconhecem-me por
meus atos: eu ilumino as inteligências; aqueço e fortaleço os corações;
afasto para bem longe as influências enganadoras e vos conduzo para Deus
pela perfeição do espírito e do coração. Vinde colocar-vos sob minha
bandeira. Eu sou poderosa e forte. Eu sou a Fé.
Sou
a Fé, e o meu reino começa entre os homens, reino pacífico que os
tornará felizes no presente e na eternidade. A aurora do meu
aparecimento entre vós é pura e serena; seu sol será resplendente e seu
ocaso virá docemente embalar a Humanidade nos braços de eternas
felicidades. Espiritismo! Derrama sobre os homens o teu batismo
regenerador. Eu lhes faço um apelo supremo. Eu sou a Fé.
GEORGES, bispo de Périgueux
A ESPERANÇA
Meu
nome é Esperança. Sorrio à vossa entrada na vida; sigo-vos passo a
passo e não vos deixo senão nos mundos onde para vós se realizam as
promessas de felicidade, incessantemente murmuradas aos vossos ouvidos.
Sou vossa fiel amiga. Não repilais minhas inspirações. Eu sou a
Esperança.
Sou
eu que canto através do rouxinol e que solto, aos ecos das florestas,
essas notas lamentosas e cadenciadas que vos fazem sonhar com o céu. Sou
eu que inspiro à andorinha o desejo de aquecer os seus amores ao abrigo
de vossas moradas; que brinco na brisa ligeira que acaricia os vossos
cabelos; que espalho aos vossos pés o suave perfume das flores dos
vossos canteiros, e quase não pensais nesta amiga tão devotada! Não a
repilais: é a Esperança!
Tomo
todas as formas para me aproximar de vós: Sou a estrela que brilha no
azul; o quente raio de sol que vos vivifica; embalo as vossas noites com
sonhos ridentes; expulso para longe as negras preocupações e os
pensamentos sombrios; guio vossos passos para o caminho da virtude;
acompanho-vos nas visitas aos pobres, aos aflitos, aos moribundos, e vos
inspiro palavras afetuosas e consoladoras. Não me repilais. Eu sou a
Esperança.
Eu
sou a Esperança! Sou eu que, no inverno, faço crescer na casca dos
carvalhos o musgo espesso com que os passarinhos fazem seus ninhos; sou
eu que, na primavera, coroo a macieira e a amendoeira de flores rosas e
brancas e as espalho sobre a Terra como um tapete celeste, que faz
aspirar a mundos felizes. Estou convosco principalmente quando sois
pobres e sofredores, e minha voz ressoa incessantemente aos vossos
ouvidos. Não me repilais. Eu sou a Esperança.
Não
me repilais, porque o anjo do desespero me faz uma guerra cruel e se
esgota em vãos esforços para junto de vós tomar o meu lugar. Nem sempre
sou a mais forte, e quando ele consegue me afastar vos envolve com suas
asas fúnebres; desvia os vossos pensamentos de Deus e vos conduz ao
suicídio. Uni-vos a mim para afastar sua funesta influência, e
deixai-vos embalar docemente em meus braços, porque eu sou a Esperança.
FELÍCIA, filha da médium.
A CARIDADE
Eu
sou a Caridade, sim, a verdadeira Caridade. Em nada me pareço com a
caridade cujas práticas seguis. Aquela que entre vós usurpou o meu nome é
fantasista, caprichosa, exclusiva, orgulhosa. Venho premunir-vos contra
os defeitos que, aos olhos de Deus, empanam o mérito e o brilho de suas
boas ações. Sede dóceis às lições que o Espírito de Verdade vos dá por
minha voz. Segui-me, meus fiéis: eu sou a Caridade.
Segui-me.
Conheço todos os infortúnios, todas as dores, todos os sofrimentos,
todas as aflições que assediam a Humanidade. Sou a mãe dos órfãos, a
filha dos velhos, a protetora e suporte das viúvas. Curo as chagas
infectas; trato de todos os doentes; visto, alimento e abrigo os que
nada têm; subo aos mais humildes tugúrios e às mais miseráveis
mansardas; bato à porta dos ricos e poderosos porque onde quer que
exista uma criatura humana, há, sob a máscara da felicidade, dores
amargas e cruciantes. Oh! Como é grande minha tarefa! Não poderei
cumpri-la se não vierdes em meu auxílio. Vinde a mim: eu sou a Caridade.
Não
tenho preferência por ninguém. Jamais digo aos que de mim necessitam:
“Tenho os meus pobres; procurai alhures.” Oh! falsa caridade, quanto mal
fazes! Amigos, nós nos devemos a todos. Crede-me. Não recuseis
assistência a ninguém. Socorrei-vos uns aos outros com bastante
desinteresse para não exigirdes reconhecimento da parte dos que tiverdes
socorrido. A paz do coração e da consciência é a suave recompensa de
minhas obras: eu sou a verdadeira Caridade.
Ninguém sabe na Terra o número e a natureza de meus benefícios.
Só
a falsa caridade fere e humilha aqueles a quem beneficia. Evitai esse
funesto desvio. As ações desse gênero não têm mérito perante Deus e
atraem a sua cólera. Só ele deve saber e conhecer os generosos impulsos
de vossos corações, quando vos tornais os dispensadores de seus
benefícios. Guardai-vos, pois, amigos, de dar publicidade à prática da
assistência mútua; não mais lhe deis o nome de esmola; crede em mim: eu
sou a Caridade.
Tenho
tantos infortúnios a aliviar que por vezes tenho os seios e as mãos
vazios. Venho dizer-vos que espero em vós. O Espiritismo tem como divisa
Amor e Caridade, e todos os verdadeiros
espíritas quererão, no futuro, conformar-se a esse sublime preceito
ensinado pelo Cristo há dezoito séculos. Segui-me, pois, irmãos, e eu
vos conduzirei ao Reino de Deus, nosso pai. Eu sou a Caridade.
ADOLFO, bispo de Argel.
Instruções dadas por nossos Guias sobre as três comunicações acima
Meus
amigos, vós deveis ter pensado que um de nós havia dado os ensinamentos
sobre a fé, a esperança e a caridade. E tínheis razão.
Felizes
por ver Espíritos tão elevados vos dando, com frequência, conselhos que
vos devem guiar em vossos trabalhos espirituais, não é menor nossa
suave e pura alegria, quando vimos ajudar-vos na tarefa do vosso
apostolado espírita.
Podeis, pois, atribuir ao Espírito de Georges a comunicação sobre a Fé; sobre a Esperança, a Felícia: aí encontrareis o estilo poético que tinha em vida; e a da Caridade ao senhor Dupuch, bispo de Argel, que na Terra foi um de seus fervorosos apóstolos.
Ainda teremos que tratar da caridade sob outro ponto de vista. Fá-lo-emos dentro de alguns dias.
VOSSOS GUIAS
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