Emmanuel
Quando o desalento te ameace o caminho, pensa nos outros,
naqueles que não dispõem de tempo para qualquer entrevista com o tédio.
Se te acreditar amargurando lições demasiado severas no
educandário da vida, freqüenta, de quando em quando, a escola das grandes
provações, onde os aprendizes se acomodam na carteira das lágrimas. Muitos
jazem na rua, estendendo mãos fatigadas aos que passam com pressa... Em
maioria, são doentes que a onda renovadora do grupo social atirou à praia
da assistência pública ou mães aflitas a quem as exigências de filhos
pequeninos ainda não permitem a liberalidade de uma profissão...
Provavelmente, alguém dirá que entre eles se encontram
oportunistas e malfeitores que se fantasiam de enfermos para te assaltarem
a bolsa em nome da piedade. Compreendemos semelhante alegação e
justificamo-la, porque o mal existe sempre onde lhe queiramos destacar a
presença e, conquanto te roguemos o benefício da prece, em favor dos que
agem assim, mais por ignorância que por maldade, apelamos para que
consultes ainda aquelas outras salas de aula que se enfileiram no recinto
dos hospitais e nos albergues esquecidos. Acompanha os estudos daqueles
cujo corpo se carrega de feridas dolorosas para agradeceres a pele sadia
que te veste a figura ou segue a cartilha de agoniadas emoções dos que se
recolhem nos manicômios, sorvendo angústia e desespero nos resvaladouros
da loucura ou da obsessão, a fim de valorizares o cérebro tranqüilo que te
coroa a existência... Visita os asilos que resguardam a sucata do
sofrimento humano e observa as disciplinas dos que foram entregues às
meditações da penúria, para quem um simples sanduíche é um brinde raro e
partilha os exercícios de saudade e de dor dos que foram abandonados pelos
entes que mais amam, a fim de abençoares o pão de tua casa e os afetos que
te enriquecem os dias.
Quando o tédio te procure, vai à escola da caridade... Ela
te acordará para as alegrias puras do bem e te fará luz no coração,
livrando-te das trevas que costumam descer sobre as horas vazias.
Do livro Coragem. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
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