|
|
|
Muitas vidas de Herminio Miranda
Aos olhos estreitos do mundo, a
biografia de Herminio Miranda não daria o menor trabalho. Poderia ser
resumida neste parágrafo. Filho de portugueses, nasceu em 5 de janeiro
de 1920, em Volta Redonda, RJ. Depois de formar-se contador, trabalhou
38 anos na Companhia Siderúrgica Nacional, CSN, até se aposentar.
Escritor espírita nas horas vagas, publicou mais de 30 livros, que já
passaram de um milhão de exemplares vendidos.
Todavia, para os espíritas, sua
biografia não tem nada de pequena. É milenar e se estende por muitas
existências. Todas as vidas de Herminio estão sutilmente relatadas na
sua obra.
Durante quatro décadas, Herminio
participou de grupos mediúnicos pequenos, mas de grande qualidade. Essa
foi sua luneta, com a qual examinou, questionou e depois relatou a vida
dos Espíritos; seus hábitos, caminhos de sofrimento, descobertas,
arrependimentos e alegrias. Suas histórias estão contadas em Diálogo com
as Sombras, a série Histórias que os Espíritos Contaram, e tantos
outros. Um guia interessante, seguro e prático de suas experiências é
Diversidade de Carismas. Ideal para grupos de estudos da mediunidade.
Outro instrumento de pesquisa
utilizado por Herminio é o sonambulismo provocado. Herminio, talvez o
mais importante e legítimo magnetizador de nosso tempo, aprendeu pelos
livros de Albert de Rochas como, por meio de seu princípio vital,
conduzir o magnetizado ao estado sonambúlico – descoberto por Mesmer no
Magnetismo Animal, ciência irmã do Espiritismo. Allan Kardec conhecia
esse fenômeno muito bem, pois estudou o sonambulismo por 35 anos. O
livro dos Espíritos tem todo um capítulo sobre o assunto.
Herminio percorreu os arquivos
psíquicos de seus magnetizados, e depois relatou os casos e conclusões
em suas obras. A mais impressionante experiência foi Eu sou Camille
Desmoulins. O autor despertou a lucidez sonambúlica de Luciano dos Anjos
e descobriu uma vida anterior de Luciano na França, como o mordaz e
ousado jornalista Camille Desmoulins, um dos artífices da Revolução
Francesa.
A habilidade de Herminio, em
libertar-se do tempo linear e percorrer os arquivos da alma, deu-lhe uma
hábil intuição. Como num quebra-cabeça, ele deixou pistas registradas
em seus escritos. Um leitor cuidadoso pode pinçar facilmente de seus
livros o roteiro das vidas passadas. A obra de Herminio Miranda é uma
imensa autobiografia. Os fatos históricos pesquisados por ele relatam
sua própria trajetória espiritual, junto ao grupo de Espíritos que lutou
pela verdade e liberdade contidas nos ensinamentos do Cristo. Sua
dedicação à pesquisa da reencarnação, mediunidade e aos conceitos
doutrinários foi laboriosamente construída em diversas vidas.
Cristianismo a mensagem esquecida.
Tudo começou centenas de anos antes de
Cristo. Uma de suas sonâmbulas identificou Herminio como sacerdote no
Egito. Naquele tempo, uma posição que significa conhecer os mistérios da
mediunidade, do magnetismo animal, da cura psíquica e da filosofia
sagrada. Mas, seguindo as regras de seu povo, esse conhecimento era
mantido apenas aos privilegiados de uma pequena casta. O povo subjugado
ficava escravizado pela ignorância. Como esclareceu Emmanuel em A
Caminho da Luz os sábios egípcios vieram de outros planetas. Certamente,
essa não foi a primeira encarnação de Herminio. Para ter esse
conhecimento, no inicio da civilização, veio de outros orbes, com tantos
outros, para auxiliar a humanidade, ainda criança.
Passaram-se alguns séculos, o antigo
sacerdote despertou com o exemplo de Jesus.
A doutrina secreta é para
todos.
Vem daí sua admiração pelo mestre. E seu caminho de libertação.
Durante o período do Cristianismo Primitivo, a vida cotidiana de
Herminio já estava impregnada pelos ensinamentos de Jesus. “Tenho a
impressão de haver vivido lá, naquela época”, talvez entre os gnósticos,
afirmou o autor em As Duas Faces da Vida. Os primeiros escritos
cristãos ficaram perdidos nos pergaminhos destruídos pelo tempo, e, por
outro lado, sobreviveram na escrita indelével do registro mental
daqueles que vivenciaram os acontecimentos. Essa história – que
investigou por sua própria regressão – Herminio ficou nos devendo. Ele
não terminou a investigação.
Os detratores do Cristo começaram a
combater e deturpar a mensagem da Boa Nova. Foi então que o antigo
sacerdote egípcio uniu-se a outros trabalhadores. Pôs sua pena a serviço
da resistência consciente diante da luta sangrenta contra a mensagem
libertadora. Isso ocorreu na época dos Cátaros (Idade Média). “Não há
dúvida de que o catarismo foi um dos mais convincentes precursores do
Espiritismo. (...) Seu propósito era o de um retorno à pureza original
do Cristianismo”, contou Herminio, em As Duas Faces da Vida.
O caminho, a verdade e a vida
Tempos depois, quando a falsa
interpretação tomou as rédeas da Igreja na Idade média, ressurgiu
Herminio ao lado de Lutero, na figura de Melanchton, auxiliando a
corajosa Reforma Protestante. Redigiu então a confissão de Augsburgo,
ponto de referência da separação entre católicos e protestantes. Ao
concluir esse texto, assinado pelos príncipes germânicos, Melanchton
definiu a firme resolução de restaurar a doutrina cristã: “Pedro proíbe
que os bispos dominem e coajam as igrejas. Pede-se apenas o seguinte:
que permitam seja o Evangelho ensinado de maneira pura. Se não fizerem
isso, então vejam lá eles mesmos como responderão perante Deus pelo fato
de com essas teimosias darem causa a cisma”, escreveu na Confissão.
Mas essa tarefa restauradora,
anunciada por Jesus como a vinda do Consolador Prometido, cabia a Allan
Kardec. Herminio estava lá. E nesse tempo viveu um papel anônimo, como
inglês, pai do poeta Robert Browning. Nessa encarnação, Herminio passou
seus últimos anos de vida em Paris e desencarnou em 1866. Dialogou com o
Codificador, propôs algumas questões. Estava realizando a tarefa de
compreender as explicações científicas e filosóficas esclarecedoras da
Doutrina Espírita, para continuar sua missão.
Em 1920, atravessou o oceano,
finalmente nasceu no Brasil, pátria atual da Doutrina Espírita –que anda
esquecida na sua terra natal, França. A primeira geração de
pesquisadores, Albert de Rochas, Crookes, Wallace, tiveram a preocupação
de provar ao mundo a existência do espírito. Herminio não. Toma os
postulados espíritas como lei natural. O Espiritismo segue o caminho do
conhecimento humano, sua doutrina se confunde com a vida, e dela brota a
verdade. Eis aí ressurgida a palavra original do Cristo: caminho,
verdade e vida.
Sua obra se explica pelas palavras de
Platão: “Aprender é recordar”. É o que fez Herminio nos últimos 50 anos.
Lembrou os estudos, pesquisas e fatos vividos em sua história
multimilenar. O antigo sacerdote do Egito rendeu-se à liberdade de
consciência. De detentor do conhecimento passou a divulgar a Doutrina.
Trocou o poder pela educação. Não estamos aqui idolatrando ou endeusando
Herminio. Ele não se destaca de todos nós. É apenas um escriba fiel e
consciente, de ontem, hoje e amanhã.
As Duas Faces da Vida, sua
mais recente produção, é um livro que reúne textos, conferências e
entrevistas recolhidos nos arquivos minuciosos do autor. É uma amostra,
em parte inédita, de sua trajetória literária. Aos leitores que já o
conhecem, a obra acrescenta novas histórias e conceitos, em seu estilo
inconfundível. Ao novo leitor, é uma apresentação atual que certamente o
encaminhará para as outras obras de seu acervo.
FONTE: Revista Universo Espírita nº 19, encarte Universo Literário nº 2
Nenhum comentário:
Postar um comentário