"E
aconteceu que passando Pedro por toda parte, veio também aos santos que
habitavam em Lida." (Atos, 9:32)
Os
adeptos de Jesus Cristo foram denominados cristãos, pela primeira vez,
na cidade de Antióquia. Antes disso eles eram chamados Nazarenos, Santos,
Crentes, Discípulos ou Irmãos.
Por
isso vemos reiteradamente o vocábulo tanto no livro dos Atos dos Apóstolos,
sem que isso outorgasse ao seu portador, ou à pessoa a quem a narrativa
se referisse, a característica de santidade. Em algumas citações
o nome é extensivo a toda a comunidade daqueles que comungavam as idéias
cristãs.
Quando
um Espírito apareceu aos olhos de Ananias, ordenando-lhe que procurasse
Paulo de Tarso, a fim de que este fosse orientado sobre as idéias trazidas
pelo Cristo, o velho ancião retrucou:
Senhor,
a muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos teus "santos"
em Jerusalém !
Logo
a seguir no capítulo 9, do mesmo livro, no episódio da chamada
ressurreição de Tabita, deparamos com a descrição:
E ele, dando-lhe a mão, a levantou, e, chamando os "santos"
e as viúvas, apresentou-lhe viva.
Desta
forma o vocábulo santo tinha então um sentido bem diverso daquele
empregado atualmente, quando é usado para qualificar as almas que tenham
atingido um elevado grau de perfeição, ou então a quem
as Igrejas terrenas julgarem conveniente concedê-la.
No
Espiritismo essa palavra não é usada com essa acepção.
Os Espíritos de ordem elevada são denominados Espíritos
Superiores ou Espíritos Puros, constituindo tarefa verdadeiramente difícil
classificar quem realmente tenha sido santo, ou possa desfrutar dessa denominação
após ter desempenhado uma missão na Terra.
Ao
ser chamado Bom Mestre, Jesus Cristo retrucou a quem assim o denominava: Por
que me chamais bom? Somente Deus é bom. Entretanto, podemos afirmar que
Jesus Cristo é um santo na verdadeira acepção do termo.
Dentre
aqueles que são atualmente denominados santos, poderíamos incluir
um Francisco de Assis, um Vicente de Paulo e muitos outros cujos nomes omitimos
ou permaneceram no anonimato, mas, jamais seria lícito catalogar como
tais todos aqueles que receberem esse adjetivo meramente por vontade de homens,
ou por deliberação de igrejas, ainda mais sabendo-se que muitos
dentre aqueles que assim eram ou são denominados, estavam e estão
muito longe de merecer um qualificativo dessa amplitude, circunstância
essa agravada pelo fato de ter ocorrido muito recentemente uma verdadeira depuração
procedida pelas igrejas, cassando o título de santo a muiitos personagens,
reais ou supostos, que vinham desfrutando dessa prerrogativa há muitos
séculos.
Em
O Evangelho Segundo o Espiritismo, observamos que muitas comunicações
espirituais são assinadas com os nomes de São Luís ou Santo
Agostinho. No entanto, o próprio Allan Kardec dá uma explicação
sobre esse fato, escrevendo na Revue Spirite:
"A
canonização não implica a santidade, no sentido absoluto,
mas simplesmente um certo grau de perfeição. Para alguns a qualificação
de santo tornou-se uma espécie de título banal, fazendo parte
integrante do nome, para distinguir dos seus homônimos, ou se lhes dá
por hábito. Santo Agostinho, São Luís, São Tomás
podem, pois, antepor o vocábulo santo à sua assinatura, sem que
o façam por um sentimento de orgulho que estaria tanto mais deslocado
em Espíritos Superiores que, melhor que outros, nenhum caso fazem das
distinções conferidas pelos homens. Seria o mesmo que os títulos
nobiliárquicos ou as patentes militares."
A
Doutrina Espírita repele a idéia da criação de seres
bons catalogados como anjos, ou maus que são denominados demônios
ou diabos. Deus cria todos os Espíritos em estado de simplicidade e ignorância,
e cabe-lhes a tarefa de, no desenvolvimento das vidas sucessivas, neste ou noutros
planetas, se transformarem paulatinamente em Espíritos bons. Um Espírito
pode permanecer mergulhado no estado de inferioridade por muitos séculos,
entretanto, o ferrete da evolução fará com que ele se reencontre
e procure enveredar pelo caminho do bem, saindo do estado de rebeldia, de recalcitrância,
quando então é chamado demônio, para penetrar o roteiro
do bem, de fraternidade e do amor, que mais tarde lhe outorgará qualidades
boas e santificantes, que possam identificá-lo como anjo, segundo o modo
de entender dos homens.
Paulo
A. Godoy
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