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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Mapeando os males do egoísmo

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)
 
 




O egoísmo só será superado quando o indivíduo buscar entender a sua realidade eminentemente espiritual
Decorridos 155 anos da publicação da primeira edição de O Livro dos Espíritos, marco inicial da era do Espírito imortal ou da imortalidade da alma, os mentores espirituais desse mundo têm apontado o egoísmo – assunto que sempre merece cuidadosa reflexão de nossa parte – como o maior entrave ao progresso humano. Nesse sentido, nos comentários referentes à pergunta nº 917 da citada obra, Allan Kardec concluiu que “O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes [...]”. O Codificador inferiu também que destruir uma e desenvolver a outra deve ser o objetivo de toda a criatura humana que almeja a felicidade – tanto quanto se é possível alcançá-la neste planeta – agora e no futuro.       
Basicamente, o egoísmo deriva da forte influência das coisas da matéria em nossa personalidade; por isso, é difícil eliminá-lo, mas não impossível. Explicitando mais os seus malefícios, Chico Xavier, já na condição de Espírito desencarnado, na obra que leva, aliás, o seu nome (psicografia de Carlos A. Bacelli), ponderou que “Todos os males que assolam a humanidade derivam do egoísmo; é ele o grande responsável pelos preconceitos de toda espécie – o orgulho racial, o fanatismo religioso, a ambição do poder: é ele que fomenta as guerras de extermínio, a subjugação de um povo por outro, o desequilíbrio que assola as mentes que articulam os atentados terroristas...”.
Infelizmente, nesse início de milênio, a civilização humana ainda se pauta, de maneira inequívoca, pelo comportamento egoístico, considerando que:
  • A pobreza e a desigualdade ocupam o primeiro lugar na hierarquia dos principais problemas da humanidade, segundo Koffi Annan, ex-Secretário Geral das Nações Unidas;
  • 1,4 bilhão de pessoas ainda vivem com menos de US$ 1,25 por dia;
  • 1,75 bilhão de pessoas vivem em situação de pobreza multidimensional, conceito elástico que abarca privações nas áreas da saúde, oportunidades econômicas, educação e padrões de vida;
  • 925 milhões sofrem de fome crônica;
  • 2,6 bilhões de pessoas não têm acesso a condições decentes de saneamento e 884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável;
  • 828 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento vivem em favelas, sem infraestruturas básicas ou inadequadas, tais como estradas, abastecimento de água encanada e eletricidade ou esgotos;
  • 796 milhões de adultos são analfabetos;
  • 8,8 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade morrem anualmente devido a problemas de saúde evitáveis;
  • Cerca de 75% da população não está coberta por sistemas de seguridade social adequados;
  • 150 milhões de pessoas sofrem anualmente catástrofes financeiras e 100 milhões são empurradas para níveis abaixo da linha de pobreza, quando obrigadas a pagar pelos serviços de saúde.
Paulo de Tarso não condena nem demoniza o dinheiro 
Vale acrescentar ainda que, de acordo com os dados do Ministério do Trabalho & Emprego, foram resgatados 41.451 trabalhadores no Brasil entre 1995 e 2011 encontrados em situação análoga à de escravo. Pior ainda: persistem os sinais convincentes de que tal abominação ainda esteja presente no território nacional. Subjacente a grande parte dos males acima descritos, está o notório e excessivo apego ao dinheiro como forma veemente de manifestação egoística. Prova dificílima para o Espírito que, se não bem aproveitada, pode levá-lo ao abismo. Por isso, Paulo de Tarso com acerto asseverou: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (I Timóteo, 6: 10).
Notem que Paulo não condena, abomina ou demoniza o dinheiro. Como pessoa inteligente, ele certamente sabia da importância desse elemento material para o adequado funcionamento das sociedades humanas. Ainda hoje precisamos ardentemente do       papel-moeda para o nosso sustento, preservação e equilíbrio econômico mundial. De fato, estamos ainda muito longe de vivermos numa economia baseada, por exemplo, no bônus-hora. Mas é previsível que à medida que avançarmos nas coisas do espírito, menos relevância o dinheiro terá em nossas vidas.
Tecendo outras relevantes considerações, o Espírito Emmanuel, na obra Caminho, Verdade e Vida (psicografia de Francisco C. Xavier), enfatiza, por sua vez, que o dinheiro que conquistamos pelos caminhos retos, abençoado pela claridade divina, é um amigo que nos busca a orientação sadia e a utilização humanitária. Mas o sábio mentor adverte igualmente: “Responderás a Deus pelas diretrizes que lhe deres e ai de ti se materializas essa força benéfica no sombrio edifício da iniquidade”.
Desse modo, possuir o dinheiro, em si, não é algo negativo; no entanto, as finalidades para as quais o direcionamos impactarão fortemente o nosso futuro. Por isso, o Espírito Emmanuel, em O Evangelho segundo o Espiritismo, observa que: “O egoísmo, chaga da humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem [...]”. Afinal, a maioria de nós traz em si, de maneira muito nítida ainda, essa nódoa. O próprio estilo de vida que adotamos – consumista e eminentemente voltado para a aquisição e o acúmulo de bens materiais em detrimento dos bens espirituais (virtudes) – favorece, como abordamos antes, o comportamento egoístico. 
Há pessoas incapazes de sacrificar-se pelo próximo 
Emmanuel esclarece a necessidade de “[...] Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo terreno. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens”. Emmanuel conclui o seu elevado pensamento externando o seguinte: “É... por essa lepra que se deve atribuir o fato de não haver ainda o cristianismo desempenhado por completo a sua missão [...]”. Desafortunadamente, continuamos a não entender que devemos nos empenhar para gerar bem-estar para todos e não apenas para alguns grupos.
Por fim, ele nos conclama a expulsarmos o egoísmo da Terra para que ela possa ascender na hierarquia dos mundos. Mas a condição sine qua non para que tal objetivo seja alcançado é expulsarmos esse sentimento pernicioso de nossos corações. Depreende-se, assim, que este é o único caminho para alcançarmos a maturidade espiritual.
O Espírito Irmão José, na obra Vigiai e Orai (psicografia de Carlos A. Bacelli), aborda outros aspectos inerentes ao sentimento de egoísmo que merecem igualmente reflexão de todos nós. Segundo esse sábio mentor, “Existem pessoas que não são capazes de sacrificar-se por ninguém”. De fato, é imperioso reconhecer que, às vezes, tais pessoas estão sob o nosso teto na condição de filho(a), marido ou esposa, ou até mesmo como mãe ou pai espalhando energias malsãs. “Não são capazes de deixar de ir a uma festa, para atender um amigo”, pondera o citado mentor. Seguindo essa linha de raciocínio, diríamos que as pessoas portadoras de tal perfil raramente saem da sua zona de conforto e, quando o fazem, estão claramente imbuídas de mau humor ou de interesse pessoal. Aliás, é altamente desagradável constatar que muitos pacientes internados em hospitais com doenças graves ficam sem visitas ou aguardam até um ano pela passagem de parentes.
Irmão José observa ainda que essas pessoas são incapazes de renunciar aos seus interesses (geralmente mesquinhos e egocêntricos), de rever uma posição, de algo compartilhar e até mesmo de considerar o outro como extensão delas próprias. Por terem a mente obnubilada não conseguem vislumbrar a obrigação moral de que devemos fazer aos outros o que, fundamentalmente, desejamos para nós próprios.
De maneira geral, o egoísmo pode ser considerado como um vício. É o vício de olhar só para si, para os próprios interesses pessoais; essencialmente, é a atitude viciosa de se importar apenas consigo mesmo e ninguém mais. A propósito, vemos na atualidade jovens viciados roubando coisas de valor de seus próprios lares – agindo egoisticamente por causa da drogadição – sem se importar com a dor e decepção que geram e nem com as consequências das suas loucuras. 
A prática do bem é essencial à nossa sanidade mental 
A análise do egoísmo também comporta uma faceta coletiva. As onipresentes greves de funcionários das companhias de Metrô, ônibus, trens, hospitais e segurança públicas são alguns exemplos insofismáveis da indiferença humana. Explorando um pouco mais os pensamentos do Irmão José, ele afirma que os egoístas são os primeiros “a se valerem da generosidade alheia”. Mais ainda: “Transvestem-se de humildade, mas se rebelam quando não são atendidos de imediato”. Paradoxalmente, “Esperam dos outros o que nunca deram a ninguém”. Desse modo, esclarece com muita propriedade o Espírito Chico Xavier que só através do nosso contato com a dor dos semelhantes para não sucumbirmos às nossas insanas crises narcisísticas.  E arremata, por fim, que: “A prática do bem aos semelhantes é essencial à nossa sanidade mental”.
Cremos que vale relembrar uma passagem contida na obra Dias Venturosos do Espírito Amélia Rodrigues (psicografia de Divaldo P. Franco) que traz o pensamento do próprio Cristo acerca de tão complexo assunto. Os ensinamentos são magnificamente claros e atualizados dado que o egoísmo é endêmico. Buscaremos apresentar um pequeno resumo da lição e recomendamos ao leitor interessado em colher mais informações que as busque na luminosa obra. Posto isto, lembra a mentora do além-túmulo que naquele dia – aliás, como sempre acontecia – o sermão do mestre havia atraído imensa multidão e a “Sua mensagem carregada de ternura e de esperança convidava essencialmente os ouvintes à transformação moral”.
Os pedidos de socorro eram inúmeros e os pedintes não demonstravam atenção para o visível cansaço e desgaste do Mestre inesquecível. Aliás, Amélia Rodrigues observa com precisão que “Na sua cegueira e desconcerto moral, as criaturas nunca veem as dores dos outros, suas dificuldades e problemas, diante dos próprios desafios”. Infelizmente, tal quadro não foi dissipado haja vista que os centros espíritas recebem enorme quantidade de pessoas nesse estado d’alma. E acrescenta ainda ela: “A ânsia de os solucionar torna-as indiferentes aos testemunhos silenciosos e afligentes que vergastam aqueles a quem recorrem, sem a menor consideração”.
Jesus, no entanto, atendera a todos com atenção e compaixão “até o momento em que Simão Pedro o resgatou da massa informe e insaciável”. Decorrido um intervalo para descanso e alimentação, na habitual reunião noturna de estudos, Simão, sob o efeito de um desagradável encontro que tivera com antigo desafeto que outrora o caluniara, e sentindo-se ainda magoado e ressentido, indagou-lhe – motivado por sincero desejo de aprender – como proceder diante dos que nos prejudicam e perturbam...  
O egoísmo é responsável por males incontáveis 
Jesus, solícito, respondeu-lhe com bondade: “Simão, os verdadeiros adversários do homem não se encontram fora dele, porém em seu mundo íntimo, perseguindo e inquietando-o sem termo [...]”.
Buscando obter mais esclarecimentos, perguntou-lhe ainda Simão quais eram os inimigos íntimos que carregamos dentro de nós. O Mestre foi extremamente didático ao explicar que: “Há três inimigos ferozes no imo do ser humano, que respondem por todas as misérias que assolam a sociedade, dilacerando os tecidos sutis da alma. Trata-se do egoísmo, do orgulho e da ignorância”. Tal diagnóstico ainda prevalece, pois vemos as terríveis consequências desses elementos produzindo sofrimento e aflição diariamente.
Continuando os seus ensinamentos, Jesus aduziu o seguinte:
“O egoísmo é algoz impiedoso, que junge a sua vítima ao eito da escravidão, tornando-a infeliz.
Graças a ele predominam os preconceitos sociais, as dificuldades econômicas, os problemas de relacionamento humano... Qual uma moléstia devoradora, se instala nos sentimentos e os estrangula com a força da própria loucura.
O egoísmo é responsável por males incontáveis que devastam a humanidade. O egoísta somente pensa em si, a nada nem a ninguém respeita na sanha de amealhar exclusivamente em benefício próprio, a tudo quanto ambiciona. Faz-se avaro e perverso, porque transita insensível às necessidades alheias.
Por sua vez, o orgulho é tóxico que cega e destrói os valores morais do indivíduo, levando-o a desconsiderar as demais criaturas que o cercam. Acreditando-se excepcional e portador de valores que pensa possuir subestima tudo para sobressair onde se encontra, exibindo a fragilidade moral e as distonias nervosas de que se torna vítima indefesa.
A ignorância igualmente escraviza e torna o ser déspota, indiferente a tudo quanto não lhe diz respeito diretamente, esquecido de que todas as pessoas são membros importantes e interdependentes do organismo social”. 
Ao egoísmo se deve sobrepor a solidariedade  
Pedro desejando aprender mais perguntou ao Messias como extirpar tais males da alma e quais antídotos poderiam ser usados para eliminá-los. E Jesus ofereceu-lhe a seguinte sublime orientação:
“Ao egoísmo se deve sobrepor a solidariedade, que abre os braços à gentileza e ao altruísmo.
O coração generoso é rico de dádivas. Quanto mais as reparte, mais possui, porque se multiplicam com celeridade.
A solidariedade anula a solidão e amplia o círculo de auxílios mútuos, dignificando o ser que se eleva emocionalmente, engrandecendo a vida e a humanidade.
O orgulho cede ante a humildade, que dimensiona a pessoa com a medida exata, descobrindo-lhe o significado, a sua realidade [...].
Sem a humildade o homem se rebela, porque não reconhece a fraqueza que lhe é peculiar, nem se dá conta, conscientemente, de que logo mais será desatrelado do carro orgânico, nivelando-se a todos os demais no vaso sepulcral...
À ignorância facultam-se o conhecimento e o dileto filho do sentimento maior, que é hálito do Pai vivificando tudo e todos, origem e finalidade do Universo: o amor!
[...]
A vitória real é sempre sobre si mesmo, nas províncias da alma.
O perdão às ofensas, o respeito ao direito alheio, a beneficência e a bondade são os filhos diletos do amor-conhecimento que voa em luz com asas de caridade, tornando o mundo melhor e todos os seres felizes”.
Após as profundas elucidações, Jesus silenciou. Em seguida, pôs-se a caminhar, enquanto os demais companheiros caíam em profunda meditação. Portanto, nós espíritas deveríamos nos considerar imensamente felizes por dispor de obras como aquela acima referenciada que traz esclarecimentos e informações da fonte mais pura. Concluindo, o egoísmo só será superado quando o indivíduo buscar entender a sua realidade eminentemente espiritual. O nosso modesto conselho é para que busquemos extirpar esse mal que carregamos em nós de eras incontáveis para nos credenciarmos à felicidade eterna. 
 
Bibliografia: 
Baccelli, C. A. (Pelo Espírito Irmão José). Vigiai e orai. 4ª edição. Uberaba: Editora Vitória, 2002, p. 169-170
Baccelli, C.A. (Pelo Espírito Francisco Cândido Xavier). O Espírito de Chico Xavier. 2ª edição. Uberaba: Liv. Espírita Edições “Pedro e Paulo”, 2004, p. 29, 122-123.
Franco, Divaldo P. (Pelo Espírito Amélia Rodrigues). (2009). Dias venturosos. 3ª edição. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada Editora, Cap. 15, p. 91-96.
Kardec, A. O Evangelho segundo o Espiritismo.  79ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1980, Cap. XI, p. 197-198.
Kardec, A. O  Livro dos Espíritos. 58ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1983, p. 422.
Leite, F. Famílias “esquecem” idosos em hospitais. Folha de São Paulo, São Paulo, 30 abr. 2006. Folha Cotidiano, p. C1.  
Ministério do Trabalho e Emprego. Trabalho Escravo no Brasil em Retrospectiva: Referências para estudos e pesquisas. p. 7, janeiro 2012.
Disponível em: http://portal.mte.gov.br
Acesso em 8 mai 2012.
Organização Internacional do Trabalho, (2011). Piso de Proteção Social para uma Globalização Equitativa e Inclusiva. Quadro 1 - A extensão do desafio social global, p. 22.
Disponível em: http://www.oit.org.br
Acessado em 28 mar 2012.
Xavier, F.C. (Pelo Espírito Emmanuel). Caminho, verdade e vida. 7ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1978, Cap. 57, p. 129-130.

Fonte: Revista eletrônica O Consolador

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