Psicogênese do Ciúme
O
espírito imaturo, vitimado por desvios de comportamentos em existências
transatas, renasce assinalando o sistema emocional com as marcas
infelizes disso resultantes.
Inquieto
e insatisfeito, não consegue desenvolver em profundidade a auto-estima,
permanecendo em deplorável situação de infância psicológica. Mesmo
quando atinge a idade adulta possui reações de insegurança e capricho,
caracterizando suas dificuldades para um ajustamento equilibrado no
contexto social.
Aspira
ao amor e teme entregar-se-lhe, porquanto o sentido de posse que lhe
daria autoconfiança está adstrito à dominação de coisas, de pessoas e de
interesses imediatistas, ambicionando transferi-lo para quem não se
permitirá dominar pela sua morbidez. Quando se trata de um
relacionamento com outra personalidade igualmente infantil, esta
deixa-se, temporariamente, manipular-se por acomodação ou sentimento
subalterno, reagindo a posteriori de maneira imprevisível.
Em
outras oportunidades permite-se conduzir, desinteressando-se das
próprias aspirações, enquanto submete-se aos caprichos do dominador,
resultando numa afetividade doentia, destituída de significados nobres e
de vivências enriquecedoras.
Porque
a culpa se lhe encontra no íntimo, esse indivíduo não consegue
decodifica-la, a fim de libertar-se, ocultando-a na desconfiança que
permanece no seu inconsciente, assim experimentando tormentos e
desajustes.
Incapaz
de oferecer-se em clima de tranqüilidade ao afeto, desconfia das demais
pessoas, supondo que também são incapazes de dedicar-se com integração
desinteressada, sem ocultar sentimentos infelizes.
Porque
não consegue manter um bom nível de auto-estíma, acredita não merecer o
carinho nem o devotamento de outrem, afligindo-se, em razão do medo de
perder-lhe aa companhia. Esse tormento faz-se tão cruel, que se
encarrega, inconscientemente, de afastar a outra pessoa, tornando-lhe a
convivência insuportável, em face da geração de contínuos conflitos que o
inseguro se permite.
A
imaturidade psicológica daqueles que assim agem, torna-se tão grave,
que procura justificar o ciúme como o sal do amor, como se a afetividade
tivesse qualquer tipo de necessidade de conflito, de desconfiança.
O
amor nutre-se de amor e consolida-se mediante a confiança irrestrita
que gera, reafirmando-o com belas vibrações de ternura e da amizade bem
estruturada.
Incapaz
de enfrentar a realidade e as situações que se apresentam como
necessárias ao crescimento contínuo da capacidade de discernimento e de
luta, faculta-se a permanência na fantasia, no cultivo utópico da
ilusão, imaginando um mundo irreal que gostaria de habitar, evitando a
convivência com o destemor e o trabalho sério, de forma que se conduz
asfixiado pelo que imagina em relação ao que defronta na vida real.
Torna-se
capaz de manter uma vida interior conflitiva, que mascara com sorrisos e
outros disfarces, padecendo o medo e a incerteza de ser feliz.
Sempre teme ser descoberto e conduzido à vivência dos fatos conforme são e não consoante desejaria.
Evita diálogos profundos, receando falsear e ser identificado.
Procedentes
de uma infância, na qual teve de escamotear a verdade e disfarçar as
próprias necessidades por medo de punição ou de incompreensão dos
demais, atinge a idade adulta sem a libertação das inseguranças juvenis.
Sentindo-se
sempre desconsiderado, porque não consegue submeter aqueles a quem
gostaria de amar-dominando, entrega-se aos ciúmes injustificáveis, nos
quais a imaginação atormentada exerce uma função patológica.
Transfere as fantasias do seu mundo íntimo para subjulgar o ser a quem diz amar.
Atormentado
pela autocompaixão, refugia-se na infelicidade, de modo a inspirar
piedade, quando deveria esforçar-se para conquistar afeição;
subestima-se ou sobrevaloriza-se assumindo posturas inadequadas à idade
fisiológica que deveria estar acompanhada do desempenho saudável de ser
psicológico maduro.
Compara
aflições alheias com as próprias, defendendo a idéia de que ninguém é
fiel, pessoa alguma consegue dedicar-se a outrem sem que não mantenha
sentimentos servis.
Incapaz
de afeiçoar-se pelo prazer de querer bem, portador de insatisfações em
relação a si mesmo, mesquinho no que se refere à autodoação... Enxerga o
amor como mecanismo de manipulação ou instrumento para conquista de
valores amoedados ou de projeção política ou social sem entender que
exista outra maneira de amar.
O ciúme tem raízes no egoísmo exagerado, superável mediante trabalho de autodisciplina e entrega pessoal.
Quanto
mais o indivíduo valorizar o ego, sem administrar-lhe as heranças da
inferioridade, mais se atormenta, em face da necessidade do
relacionamento interpessoal que, sem a presença da afetividade, sempre
torna-se frio, distante, sem sentido nem continuidade.
Trabalhar
a emoção, reflexionar em torno dos sentimentos próprios e do próximo
constituem uma saudável psicoterapia para a aquisição da confiança em si
mesmo e nos outros.
Do livro: CONFLITOS EXISTENCIAIS
Divaldo Pereira Franco/Joanna de Angelis
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