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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Meditações filosóficas e religiosas


Revista Espírita, dezembro de 1861

Ditados ao Sr. Alfred Dídier, médium, pelo Espírito de Lamennais.

(Sociedade Espírita de Paris.)
Já publicamos um certo número de publicações ditadas pelo Espírito de Lamennais, e das quais se pôde notar a alta importância filosófica. Algumas vezes, o assunto era nitidamente indicado, mas, freqüentemente, também não tinha caracteres bastante marcantes para que fosse fácil dar-lhe um título. Tendo feito a observação ao Espírito, ele respondeu que se propunha a dar uma série de dissertações sobre diversos assuntos variados, e à qual propôs o título geral de Meditações filosóficas e religiosas, salvo dar um título particular aos assuntos que o comportassem. Suspendemos sua publicação até que tivéssemos um conjunto suscetível de ser coordenado; é essa publicação que começamos hoje, e que continuaremos nos números seguintes.
Devemos fazer observar que só os Espíritos chegados a um grau muito alto de perfeição estão aptos para julgar as coisas de maneira completamente sadia; que, até lá, qualquer que seja o desenvolvimento de sua inteligência, e mesmo de sua moralidade, podem estar mais ou menos imbuídos de suas idéias terrestres, e ver as coisas do seu ponto de vista pessoal, o que explica as contradições que se encontram, freqüentemente, em suas apreciações. Lamennais nos parece estar neste caso; sem dúvida, há nessas comunicações muito belas e muito boas coisas, como pensamentos e como estilo, mas as há, evidentemente, que podem se prestar à crítica, e das quais não assumimos, de nenhum modo, a responsabilidade; cada um está livre para delas tirar o que encontrar de bom, e para rejeitar o que lhe pareça mau; só os Espíritos perfeitos podem produzir coisas perfeitas; ora, Lamennais, que sem contradita é um Espírito bom e avançado, não tem a pretensão de ser ainda perfeito, e o caráter sombrio, melancólico e místico do homem se reflete, incontestavelmente, sobre o do Espírito e, por conseguinte, sobre as suas comunicações; só sob esse ponto de vista já seriam um interessante objeto de observações.

I

As idéias mudam, mas as idéias e os desígnios de Deus não mudam nunca. A religião, quer dizer, a fé, a esperança e a caridade, uma só coisa em três, o emblema de Deus sobre a Terra, permanece inabalável no meio das lutas e dos preconceitos. A religião existe, antes de tudo, nos corações, portanto, ela não pode mudar. É no momento em que a incredulidade reina, em que as idéias se chocam e se entrechocam, sem proveito para a verdade, que aparece esta Aurora que vos diz: Venho, em nome do Deus dos vivos e dos mortos; só a matéria é perecível, porque ela é divisível; mas a alma é imortal, porque ela é una e indivisível. Quando a alma do homem amolece na dúvida sobre a eternidade, ela toma moralmente o aspecto da matéria; divide-se e, por conseqüência, está sujeita às provas infelizes em suas novas reencarnações. A religião é, pois, a força do homem; ela assiste, todos os dias, às novas crucificações que inflige ao Cristo; ouve, todos os dias, as blasfêmias que lhe são lançadas à face; mas, forte e inabalável como a Virgem, assiste divinamente ao sacrifício de seu filho, porque possui nela a fé, a esperança e a caridade. A Virgem desmaiou diante das dores do Filho do homem, mas não morreu.

II

SANSÃO.
Depois de uma leitura da Bíblia sobre a história de Sansão, vi em meu pensamento um quadro análogo ao do poderoso artista que a França vem de perder, Decamps. Vi um homem de uma estatura colossal, com membros musculosos, como o Dia, de Michelângelo, e esse homem forte dormia ao lado de uma mulher que queimava, ao seu redor, perfumes tais que os Orientais sempre souberam introduzir em seu luxo e em seus costumes efeminados. Os membros desse gigante caíam de lassidão, e um pequeno gato saltava ora sobre ele, ora sobre a mulher que estava junto dele. A mulher se inclinou para ver se o gigante dormia; depois tomou pequenas tesouras e se pôs a cortar a cabeleira ondulante do colosso, e sabeis o resto. - Homens armados se arrojaram sobre ele, amarraram-no fortemente, e o homem preso nas redes de Dalila se chama Sansão, disse-me de repente um Espírito que logo vi perto de mim; esse homem representa a Humanidade enfraquecida pela corrupção, quer dizer, pela avidez e a hipocrisia. A Humanidade, quando Deus esteve com ela, levantou, como Sansão, as portas de Gaza; a Humanidade, quando teve por sustento a liberdade, quer dizer, o cristianismo, esmagou seus inimigos, como esse gigante esmagou sozinho um exército de Filisteus. - Assim, respondi ao meu Espírito, a mulher que está junto dele... Ele não me deixou arrematar, e me disse: "É a que substituiu Deus; e pensa que não quero falar da corrupção dos séculos passados, mas do vosso." Por muito tempo, Sansão e Dalila não haviam se apagado ante os meus olhos; eu via o anjo, sempre só, que me disse sorrindo: "A Humanidade está vencida." Seu rosto se tornou então reflexivo e profundo, e acrescentou:
"Eis os três seres que devolverão à Humanidade seu vigor primeiro; chamam-se a Fé, a Esperança e a Caridade. Virão em alguns anos e fundarão uma nova doutrina que os homens chamarão Espiritismo."

III

(Continuação.)
Cada fase religiosa do Humanidade possuiu a força divina materializada pelas figuras de Sansão, de Hércules e de Rolando. Um homem, armando-se com os argumentos da lógica, nos diria: "Eu vos decifro; mas essa comparação me parece muito sutil e bem compassada." É verdade, talvez até o presente não tenha vindo ao espírito de ninguém; e, entretanto, examinemos. Falei-vos ultimamente de Sansão, que é o emblema da força da fé divina em suas primeiras idades. A Bíblia é um poema oriental; Sansão é a figura material dessa força impetuosa que fez cair Heliodoro sobre o adro do templo e que reuniu as ondas do mar Vermelho, depois de tê-las separado. Essa grande força divina tinha abatido exércitos, derrubado os muros de Jerico. Os Gregos, vós o sabeis, vieram do Egito e do Oriente; essa tradição de Sansão não existia mais do que nos domínios do filosofia e da história egípcia. Os Gregos desbastaram os colossos de granito do Egito, armaram Hércules com uma clava e lhe deram a vida. Hércules fez seus doze trabalhos, Abateu a hidra de Lerna, a hidra dos sete pecados capitais, e tornou-se, nesse mundo pagão, o símbolo da força divina encarnado sobre a Terra: dele fizeram um deus. Mas notai quais foram os vencedores desses dois gigantes. É necessário sorrir? é preciso chorar? como disse Lamartine. Essas foram duas filhas de Eva: Dalila e Dejanira. Vede-o, a tradição de Sansão e de Hércules é a mesma que a de Dalila e de Dejanira. Somente Dalila havia mudado os arranjos de cabelo das filhas de Faraó pelo diadema de Vênus.
Pela tarde, no famoso vale de Roncevaux, um gigante, deitado numa ravina profunda, urrava o nome de Carlos Magno com gritos desesperados. Tinha a metade esmagada sob uma enorme rocha, que suas mãos desfalecentes tentavam em vão movimentar. Pobre Rolando! tua hora chegou; os Bascos te desafiam do alto do rochedo, e fazem ainda rolar, sobre ti, pedras enormes. Entre os teus inimigos se encontram mulheres; Rolando, talvez, delas amara uma: sempre Dalila e Dejanira; A história não o disse, mas isso é muito provável. Sempre Rolando morreu como Sansão e Hércules. Discuti agora, se quiserdes; mas me parece, senhores, que essa aproximação não parecia tão sutil. Qual será, nas idades futuras, a personificação da força do Espiritismo? Quem viver, verá, diz-se sobre a Terra; aqui se diz: O homem viverá sempre.
LAMENNAIS
(A continuação no próximo número.)
ALLAN KARDEC

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