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quarta-feira, 5 de junho de 2013

ASSUNTO E TENTAÇÃO

ASSUNTO  E  TENTAÇÃO

Cornélio Pires

Deseja você saber,
Meu caro Joaquim Frazão,
De que maneira vencer
A força da tentação.
 
Quero crer que você pensa
Que a morte, em si, nos ajeita
Para viver entre os anjos
Em paz na vida perfeita.
 
No entanto, não é assim...
A pessoa unicamente
Prossegue desencarnada
Em dimensão diferente.
 
Aí começa o conflito
Em que ainda me concentro:
Por fora, é muita mudança
E nós, os mesmos por dentro.
 
Nesses instantes, a sós,
Contamos, na revisão,
O tempo que se perdeu
Nos dias de provação...
 
Quanta vitória às avessas
Entre sonhos em falência!...
 
Triunfo em nós e por nós
Exige, em linhas gerais,
A decisão de servir
Agüentando sempre mais.
 
A tentação me parece
Gênio mau em nosso peito,
Quer vantagem sem trabalho,
Quer desejo satisfeito.
 
Reclama prêmios em tudo,
Tem ânsias de dominar,
Quando está junto dos outros
Quer o primeiro lugar.
 
Não consegue perceber
Se fere ou se grita em vão,
Em lucro, posse ou poderão
Quer a parte do leão.
 
Em razão disso, meu caro,
Na tentação, não a tente;
Muito mais vale humilhar-se
Que agir desastradamente.
 
Se alguém lhe agita a cabeça
Mesmo estando quase louco,
Use calma e tolerância,
Silencie mais um pouco.
 
Se a questão é sentimento,
Fique firme no dever,
Domínio próprio é lição
Que nos compete aprender.
 
Injúrias, lutas, pedradas,
Dor que pareça sem fim?
Se você busca vencer,
Trabalhe e agüente, Joaquim.


Livro "Baú de Casos" - Psicografia de Francisco Cândido Xavier - Espírito Cornélio Pires

 

ADVERSÁRIOS "Jesus, por isso, pede, acima de tudo, esquecimento do mal e disposição sincera para o bem, com atitudes positivas de boa vontade, a fim de que os nossos adversários nos identifiquem, com mais clareza, as boas intenções..."

ADVERSÁRIOS

 

Emmanuel

 
Quando o Mestre nos recomendou amor aos inimigos, não nos induziu à genuflexão improdutiva à frente dos nossos adversários.
*
Ninguém precisa oscular o lodo escuro do pântano a fim de auxilia-lo.
*
Ninguém necessita introduzir um espinho no próprio coração, a pretexto de aniquilar-lhe a expressão dilacerante.
*
O Senhor pede entendimento.
*
Imaginemo-nos na posição dos nossos inimigos, gratuitos ou não, e observemos como seria a nossa conduta se estivéssemos em lugar deles.
*
Permanecerá o nosso adversário em nossa posição de madureza espiritual quando conseguirmos examina-lo com segurança moral?
Terá tido as mesmas oportunidades de que já dispomos para conhecer a verdade e semear o bem?
 
Guardaríamos o coração sem fel se nos demorássemos na posição onde se encontram, muitas vezes, dominados pela ignorância ou pelo desespero:
 
Assumiríamos conduta diferente daquela que lhes assinala as atividades, se fôssemos constrangidos a atravessar a zona empedrada em que jornadeiam?
*
Dificilmente chegaríamos a conclusões afirmativas.
*
Jesus, por isso, pede, acima de tudo, esquecimento do mal e disposição sincera para o bem, com atitudes positivas de boa vontade, a fim de que os nossos adversários nos identifiquem, com mais clareza, as boas intenções.
*
Recebemos o inimigo como instrutor e auxiliá-lo-emos a dilatar a visão que lhe é própria.
*
A compreensão é a raiz da verdadeira fraternidade.
 
*
Aprendamos, assim, a perceber a luz onde a luz se encontra, a fim de que nos armemos contra o poderio das trevas em nosso coração.
*
A boa vontade realiza milagres em nossa vida, se estamos realmente dispostos a caminhar para os cimos da vida.
*
Lembremo-nos de que Jesus, até hoje, está trabalhando no auxílio aos inimigos e o único caminho por Ele escolhido para esse apostolado de amor, é o caminho do sentimento, porque só aquele que sabe conquistar o coração dos adversários pela cooperação e pela boa vontade pode, efetivamente, inflamar-se ao Sol do Amor Eterno, com a vitória sobre si mesmo, na subida espinhosa e santificante para a Glória Imortal.
 
Da Obra “A Verdade Responde” – Espíritos: Emmanuel E André Luiz – Médium: Francisco Cândido Xavier
Digitado por: Lúcia Aydir
 
 

O Mancebo Rico

O momento era de profunda significação. Sabia, por estranha intuição, que um dia defrontaria a Realidade, e a encontrava agora (*).
     No ar abafado do entardecer serenavam as ânsias da Natureza.
     Doces perfumes evolavam de miúdas flores derramadas nos flancos do aclive. As águas transparentes cantavam melodias ignotas, deslizando sobre o leito de pedras arredondadas.
     O apelo pairava vibrando em derredor: - “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me”.
     Aquela voz penetrava como um punhal afiado e impregnava qual perfume de nardo.
     Havia um magnetismo inconfundível naqueles olhos severos e profundos como duas estrelas engastadas na face pálida do amanhecer.
     Tinha sede de paz.
     Embora repousasse em leito de madeiras preciosas incrustado de ébano e lápis-lazúli, se banqueteasse em repastos opíparos, cuidasse do corpo com massagens de óleos e ungüentos raros, envolvendo-o em tecidos de linho leve, e suas arcas estivessem abarrotadas de gemas e ouro, sabia-se infeliz, sentia-se infeliz. Faltava-lhe algo que não se consegue facilmente.
     Hesitava, no entanto.
     Sua vivenda era luxuosa, seus pertences valiosos e vazio o seu coração.
     Conquanto a juventude cantasse alegrias e festas em convites constantes ao prazer no corpo ágil e vigoroso, acalentava melhores aspirações, se disputava a posse total da paz. Era mais do que um tormento essa necessidade. Não que desejasse a tranqüilidade aparatosa dos fariseus ou o repouso entorpecente dos mercadores opulentos, nem a serenidade enganosa dos cambistas abastecidos ou a senectude vitoriosa dos conquistadores em aposentadoria compulsória. Buscava integração harmoniosa, mas não sabia em quê.
     Confragia-se e angustiava-se,  ignorando as nascentes da melancolia renitente que lhe dissipava sonhos e esperanças sob guante de inenarrável amargura.
     Buscava as competições em Cesaréia, todavia ignorava se essa busca representava uma realização ou fuga.
     Agora, pela primeira vez, sentia-se arrebatado.
     A meiguice e a ordem daquela voz, enunciada por aquele Homem, ecoavam como cascatas em desalinho nos abismos do espírito.
     Interiormente gritava: “Irei contigo, Senhor, mas...”
     Hesitava, sim, e a hora não comportava dubiedades.
     Uma roseira de flores rubras, que abraçava os ramos do arvoredo próximo, sacudida pelo vento, desgarrou-se e as pétalas da cor de sangue caíram-lhe aos pés, junto dEle, no alpendre, como sinais...
     Donde O conhecia? – indagava, a medo , procurando recordar-se, com indizível esforço mental.
     Tudo àquela hora era importante; mais do que isso: vital!
     Ao vê-Lo, de longe, era como se reencontrasse um amigo, um Celeste Amigo.
     Quando os seus descansaram nos olhos d’Ele, sentiu-se desnudado, o coração em descontrole sob violenta pulsação. Emoções inusitadas vibravam no seu ser, como jamais acontecera anteriormente. Desejou arrojar-se ao solo, esmagado por indômita constrição no peito.
     Percebeu que o Estranho sorriu, como se o esperasse, como se o amasse, poderia afirmá-lo...
     O tempo corria célere galopante as horas fugidias.
     Seus lábios se afiguravam selados, e frio impertinente gelava-lhe as mãos.
     Lutava por quebrar aquele torpor que o imobilizava.
     Retalhos de luar tímido prateavam nuvens soltas no firmamento, bordando de luz oliveiras altivas e loendros em flor.
     – Permite-me primeiro – conseguiu articular, vencendo a emoção que o transfigurava – competir em Cesaréia, logo mais, disputando para Israel os triunfos dos jogos...
     – Não posso esperar. O Reino dos Céus começa hoje e agora para o teu espírito. Não há tempo a perder.
     – Aguardei muito essa ocasião e ela se avizinha, com a chegada do período das competições... Exercitei-me, contratei escravos que me adestraram... aos partos comprei, por uma fortuna, duas parelhas de fogosos  cavalos... os jogos estão próximos...
     – Renuncia, e segue-me!
     Quem era Ele, que assim lhe falava? Que poder exercia sobre sua vontade?!  Por qual sortilégio o dominava?!... Gostaria de fugi ou deixar-se arrastar;  estava perturbado; ignorada sofreguidão o aniquilava...
     A horizontalidade das aflições humanas contemplava a verticalidade da sublimação divina; o cotidiano deparava com o infinito; o vale fitava o abismo das alturas e se perdia na imensidão.
     O homem e o Filho do Homem se defrontavam.
     O diálogo parecia impossível, reduzindo-se a um monólogo atormentante para o moço diante daquele Homem.
     Vencendo irresistível temor, continuou o príncipe afortunado:
     –  Não receio dar o que possuo: dinheiro, ouro, gemas, títulos, se possível, pois sei que estes se gastam mui facilmente, mas...
     –  ...Dá-me a ti próprio e eu te oferecerei a ventura sem limite.
     Que alto prêmio! Que pesado tributo! – pensou desanimado.
     Era muito jovem e muitos confiavam nele. Possivelmente Israel lucraria com os seus lauréis e triunfos. Príncipe,  tinha pela frente as avenidas do poder a que se afervorara, poder que no momento se destituía de qualquer valor.
     Os bens, poderia ofertá-los, sim. Porém a fortuna da juventude, os tesouros vibrantes da vaidade atendida e dos caprichos sustentados, as honras de família resguardadas pela tradição, os corifeus agradáveis e bajuladores, oh! seria necessário renunciar-se a isso tudo? – interrogava-se, inquieto.
     – Sim! – Respondeu-lhe, sem palavras, com os olhos fulgurantes.
     Sofria naqueles minutos a soma dos sofrimentos que experimentara a vida toda.
     O ar cantava leves murmúrios enquanto as tulipas do campo teciam um manto sutil, rescendendo aromas.
     O Rabi, em silencio, aguardava. E ele, em perplexidade, lancinava-se.
     O diálogo tornara-se realmente impossível.
     Subitamente, o príncipe de qualidade, num átimo de minuto, lembrou-se que amigos o aguardavam na cidade. Compromissos esperavam-no. Deveria debater os detalhes finais para a corrida na grande festa da semana entrante.
     Acionado por estranho vigor, que dele se apossou repentinamente, fitou o Messias sereno e triste, balbuciando com voz apagada:
     E saiu quase a correr.
***

     Sopravam os ventos frios que chegavam de longe, musicados pelo bulício das estrelas balouçantes.
     A terra estuava sob a gramínea orvalhada.
    O Mestre sentou-se e se encheu de profundo sofrimento.
     Era assim, sempre assim que Ele ficava após a deserção dos convidados ao Banquete da Luz. A expressão de mansuetude e perdão que lhe brilhava nos olhos mergulhava em lágrimas, agasalhada em leves tons de amargura.
     Assim O encontraram os discípulos. Interrogado, respondeu:
     –  “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas”!
***

     Uma semana depois Cesaréia era a capital do ócio, do prazer.
     Situada ao norte da planície de Sarom e a 30 quilômetros ao sul do Monte Carnelo, foi embelezada por Herodes que, no local, mandou erguer grande porto de mar, caracterizado por colossal quebra-mar enriquecendo-a com imponente Templo onde se levantava descomunal estátua do imperador.
     Esse porto valioso sobre o Mediterrâneo era importante escoadouro de Israel e porta de entrada marítima onde atracavam embarcações de toda parte.
     As vilas ajardinadas debruçavam-se sobre as encostas pardacentas da cidade, exibindo estilos arquitetônicos variados.
     Pelo seu clima agradável, tornara-se residência oficial dos procuradores romanos, em Israel.
     Tamareiras onduladas pelo vento adornavam as ruas e odores exóticos misturavam-se no ar varrido pela maresia.
     Os festins de Cesáreia pretendiam rivalizar com os de Roma, atraindo aficionados até mesmo da Metrópole longínqua.
     Ao som alegre de trompas e fanfarras começavam as festas públicas.
     Competições de bigas abrem as corridas ante a aflição de judeus, romanos e gentios que deixaram sobre as mesas dos cambistas pesadas apostas nos seus ases.
     Gladiadores em combates simulados, tocadores de pífanos e flautas, alaúdes e címbalos, enchem os intervalos de som e cor.
     As quadrigas estão na linha de partida. Os fogosos corcéis, adquiridos aos partos, oriundos da Dalmácia, de Tiro, Sidon e da Arábia, empinam, lustrosos, ajaezados. Ao sinal disparam, sob estrondosa ovação.
     Chicotes vibram no ar, mãos firmes nas rédeas, os guias e condutores dão velocidade aos carros frágeis. A celeridade prende a respiração em todos os peitos.
     Numa manobra menos feliz, um carro vira e um corpo tomba na arena, despedaçado pelas patas velozes, em disparada.
     O moço rico sente as entranhas abertas, o suor e o sangue em pastas de lama, a respiração estertorada...
     Enquanto escravos precípites arrastam-no na pista, foge mentalmente à cena brutal que o esmaga, e entre as névoas que lhe sombreiam os olhos parece vê-LO.
     Silenciando os gritos na concha acústica tem a impressão de escutá-lo.
     –  Renuncia a ti mesmo, vem, e segue-ME.
     –  Amigo!...
     Dois braços o envolvem veludosos e transparentes.
     Apesar da face deformada e lavada pelas lágrimas, o suor e o sangue, ele dá a impressão de sorrir.
Pelo Espírito de Amélia Rodrigues – Primícias do Reino
(*) Mat. 19: 16 a 30
     Mar. 10: 17 a 31
     Luc.  18: 18 a 30
     (Nota da Autora espiritual)

domingo, 2 de junho de 2013

PERTURBAÇÃO E OBSESSÃO

Emmanuel
 
Compartilhamos, em nome da beneficência, de recursos vários, como sejam - a moeda e o agas
Na experiência terrestre, surge sempre um instante em que indagamos de nós mesmos em que ponto nos achamos, quanto ao desajuste espiritual; e, se não estamos afundados em plena desarmonia, muitas vezes identificamo-nos em perturbação evidente. Isso porque, observado o princípio de que ninguém existe absolutamente impassível, temos a vida sentimental permanentemente ameaçada por desafios exteriores, em forma de episódios ou informes desagradáveis que se nos erigem por medida de equilíbrio e resistência, na luta moral que somos chamados a travar, na área de nossas atividades, em favor do próprio burilamanto.
Se à frente desse ou daquele sucesso menos feliz, costumamos esquecer,sistematicamante, paciência e conformação, entendimento e serenidade, então é preciso estabelecer o intervalo para reflexão, nos mecanismos da mente, a fim de que venhamos a fazes em nós mesmos as retificações necessárias.
Em tais lances do cotidiano, quase sempre somos impelidos a pensar em obsessão, supondo-nos vítimas de entidades vampirizantes.
O problema, porém, não se limita à influenciação espiritual dos adversários que se nos encrava na onda psíquica, mas, principalmente, diz respeito à nós mesmos. Em muitas situações e circustâncias das existências passadas, caímos em fundos precipícios de ódio e vingança, desespero e criminalidade, operando em largas faixas de tempo contra nós próprios, comprometendo-nos o destino; daí nasce o imperativo das experiências regenerativas e amargas que se nos fazem indispensáveis, qual ocorre ao aluno que se atrasou na escola, necessitado de novo exame, nas provas da repetência.
À  vista  de  semelhantes  considerações,   toda  vez  que  o  sentimento  se  nos desgoverne,  procuremos  assumir  com  segurança  o  leme  do  barco  de  nossos pensamentos, na maré de provações da existência, na paz da meditação e no silêncio da prece.
Através do auto-controle, vigiaremos a porta de nossas manifestações, barrando gestos e palavras desaconselháveis, e, com o auxílio da oração, faremos luz para entender o que há conosco, de maneira a impedir a própria queda em alienação e tumulto.

Atendamos constantemente a esse trabalho de auto-imunização mental, porque, junto ao imenso número de companheiros perturbados e obsidiados que enxameiam a Terra de hoje, em toda a parte, encontramos milhares de criaturas irmãs que estão quase às portas da obsessão.

(Do livro "Alma e Coração", de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito de Emmanuel)

DISTÚRBIOS EMOCIONAIS


Emmanuel 
Enquanto nos demoramos encarnados no plano terrestre, um tipo de impaciência existe, sutil, capaz de arrastar-nos aos piores distúrbios emotivos: a revolta contra nós mesmos.
Acolhemos receios infundados, em torno de opiniões que formulem de nós, seja por deformidades físicas, frustrações orgânicas, conflitos psicológicos ou empeços sociais de que sejamos portadores, e adotamos o medo por norma de ação, no exagerado apreço a nós mesmos, e dessa inquietação sistemática comumente se deriva um desgosto contínuo contra as forças vivas que nos entretecem o veículo de manifestação.
E tanto espancamos mentalmente esses recursos que acabamos neuróticos, fatigados, enfermos ou obsessos, escorregando mecanicamente para a calha da desencarnação prematura. Tudo por falta de paciência com as nossas provações ou com os nossos defeitos. Decerto, ninguém nasce no corpo físico para louvar as deficiências que carrega ou ampliá-las, mas é preciso aceitar-nos como somos e fazer o melhor de nós. Desinibirão construtiva. Compreensão do aprendizado que se tem pela frente. Acolher o instrumento físico de que o Alto Comando da Vida nos considera necessitados, tanto para resgatar culpas do pretérito na esfera individual, quanto para a consecução de empresas endereçadas ao benefício coletivo, e realizar todo o bem que pudermos.
O corpo carnal de que dispões ou a paisagem doméstico-social em que te situas, representam em si o utensílio certo e o lugar justo, indispensáveis à provação regeneradora ou à missão específica a que te deves afeiçoar. Por isso mesmo, o ponto nevrálgico da existência é o teste difícil que te exercita a resistência moral, temperando-te o caráter, no rumo do serviço maior do futuro.
Nossas perturbações emocionais quase sempre decorrem da nossa relutância em aceitar alguns dos aspectos menos agradáveis, conquanto passageiros da nossa vida. Saibamos, pois, rentear com eles honestamente, corajosamente. Nada de subterfúgios. Temos um corpo defeituoso ou estamos em posição vulnerável à crítica? Seja assim. Contrariamente a isso, porém, reflitamos que ninguém está órfão da Bondade de Deus e, confiando-nos a Deus, procuremos concretizar tudo de bom ou de belo, no círculo de trabalho que se nos atribui.
Por outro lado, vale observar que reconhecer a existência do erro ou do desajuste em nós é sinal de melhoria e progresso. Os espíritos embutidos na inércia não enxergam as próprias necessidades morais. Acomodam-se à suposta satisfação dos sentidos em que se lhes anestesia a consciência, até que a dor os desperte, a fim de que retomem o esforço que lhes compete na jornada de evolução e aprimoramento.
Agradeçamos, desse modo, a luz espiritual de que já dispomos para analisar a nossa personalidade e, abraçando as tarefas de equilíbrio ou reequilíbrio que nos compete efetuar no próprio espírito, enfrentemos os nossos obstáculos com paciência e serenidade, na certeza de que podemos solucionar todos os problemas na oficina do serviço com a bênção de Deus.

 
Do livro “Alma e Coração”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
 

SAMARITANOS E NÓS


 
Emmanuel
 
Quem de nós não terá caído, alguma vez, em abandono ou penúria, aflição, amargura, engano ou perturbação?
À face disso, para nós o samaritano da bondade – a criatura que nos reergue ou reanima - será sempre aquela pessoa:
que nos acolhe nos dias de tristeza com a mesma generosidade com que nos abraça nos instantes de alegria;
que nos estima, assim tais quais somos, sem reclamar-nos espetáculos de grandeza, de um dia para o outro;
que nos levanta do chão das próprias quedas para o regaço da esperança, sem cogitar de nossas fraquezas;
que nos alça do precipício da desilusão ao clima do otimismo, sem reprovar-nos a imprevidência;
que nos ouve as queixas reiteradas, rearticulando sem aspereza o verbo da paciência e da compreensão;
que nos estende essa ou aquela porção dos recursos que disponha, em favor da solução de nossos problemas, sem pedir o relatório de nossas necessidades e compromissos;
que nos oferece esclarecimento, sem ferir-nos o brio;
que nos ilumina a fé, sem destruir-nos a confiança;
que se transforma em harmonia e concurso fraterno, seja em nossa casa, ou no grupo de serviço em que trabalhamos;
que se nos converte no cotidiano em apoio e cooperação, sem exigir-nos tributos de reconhecimento;
que, por fim, se transubstancia, em nosso benefício, em luz e consolação, amparo e benção.
 
Detenhamo-nos a pensar nisso e lembrando, reconhecidamente, quantos se nos fazem samaritanos do auxílio e da bondade, nas estradas da existência, recordemos a lição de Jesus e, diante dos outros, sejam eles quem sejam, façamos nós o mesmo.
 
Extraído do livro Aulas da Vida. Psicografia de Francisco Cândido Xavier

DEFESA CONTRA OBSESSÃO


Irmão x
 
Doía ver o irmão Maurício Tessi, prostrado, na crise aguda de artrite reumatóide. Orava, sofria, esperava.
A dor espraiava-se de um dos joelhos intumescido, assaltando o corpo.
Acompanhando-lhe a mãezinha desencarnada, Dona Etelvina, que nos fora devotada amiga na Terra, partilhávamos a oração, enquanto a equipe de enfermeiros espirituais atuava com recursos curativos do nosso plano de ação.
Finda a tarefa de auxílio, ergueu-se a velha amiga e perguntou, respeitosamente, ao dirigente da turma:
– Meu amigo, posso, na condição de mãe, saber por que motivo tanto demora a definitiva recuperação de meu filho?
O interpelado disse apenas:
– Sem dúvida. Aqui está o registro das reações dele nos dias últimos...
E com a exatidão de um técnico, no setor de trabalho que lhe é próprio, sacou da pasta pequena folha de papel em que nos foi possível, de imediato, ler as seguintes indicações, simples e expressivas, que se interrompiam justamente no dia de nossa presença, no quarto humilde:
 
MAURÍCIO TESSI
36 anos no corpo físico.
DOENÇA – Providenciai.
FASE – Experimentação.
MÉRITO INDIVIDUAL POR SERVIQO À COMUNIDADE, ATÉ OS PRIMEIROS SINTOMAS DA MOLÉSTIA – Nenhum.
MOTIVO – Defesa contra obsessão e loucura.
AUXÍLIO A RECEBER – Socorro em bases de magnetismo curativo, somente para a sustentação de forças orgânicas e alívio controlado, até a melhora espiritual positiva.
HISTÓRICO – Os amigos e benfeitores do interessado, residentes nas Esferas Superiores, depois de lhe endossarem a presente reencarnação, observaram-lhe a tendência para estragar, de modo completo, a oportunidade recebida. Preocupados, solicitaram seja ele mantido em condições enfermiças, conforme os remanescentes das dívidas cármicas que ainda carrega no extrato corpóreo. Assim agiram para evitar-lhe a indesejável associação com Espíritos infelizes, procedentes de suas existências passadas, caídos, desde muito tempo, em processos de vampirização e criminalidade, com os quais o beneficiário vinha, a pouco e pouco, se acomodando.
 
ANOTAÇÕES DE 4 A 28 DE JANEIRO DE 1967
 
DATAS DE OBSERVAÇÃO            ESTADO FÍSlCO              CONDIÇÕES ESPIRITUAIS
 
 
 
4                                        Crise                           Fé, oração, humildade.
5                                        Melhora                       Tranquilidade, teimosia.
6                      Grande melhora           Agressividade, pensamentos escusas. Obsessores perto.
7                                        Crise                           Obediência, conformação, gentileza.
8                                        Crise aguda                  Elevação moral, prece.
9                                   Crise aguda   Nobres promessas de serviço ao próximo, altura mental.
10                                      Melhor                         Bom humor, rebeldia.
11                   Grande melhora             Intolerância, idéias menos dignas, obsessores atraídos.
12                                      Grande melhora             Desequilíbrio, obsessores no aposento.
13                                      Crise                           Serenidade.
14                                      Crise agravada              Emoções superiores.
15                                      Crise aguda                  Fé comovente, simpatia, generosidade.
16                                      Melhora                       Calma, irritação.
17                         Grande melhora             Pensamentos inconfessáveis, obsessores próximos.
18                                      Grande melhora             Obsessores dominando.
19                                      Crise                           Obsessores repelidos.
20                                      Crise aguda                  Confiança em Deus.
21                          Crise Aguda                 Votos de trabalho santificante, planos de caridade.
22                                      Melhora                       Marasmo, azedume.
23                                  Grande melhora             Idéias lastimáveis, obsessores interessados.
24                                      Grande melhora             Obsessores na aura, caos intenrior.
25                                     Crise                           Brandura, confiança.
26                                      Crise aguda                  Afabilidade, benevolência.
27                                 Crise aguda                  Doçura, lucidez, piedade para com os outros.
28       Crise aguda                   Formosa renovação íntima. Raios de luz em momentos de prece.
 
 
A irmã Etelvina restituiu a folha de notas, entre serena e triste, agradecendo ao prestimoso cooperador:
– Obrigada, amigo. Maurício é meu filho. Antes, contudo, tanto ele e eu, quanto vós, somos filhos de Deus. E a Lei do Senhor foi criada para o bem de nós todos.
Em seguida, nosso grupo dispersou-se, mas permaneci longo tempo, junto ao enfermo, tentando meditar em minhas próprias necessidades e aproveitar a lição.
 
  Do livro Aulas da Vida. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

 

BENEVOLÊNCIA

 
Emmanuel
 
Traduzindo benevolência por fator de equilíbrio, nas relações humanas, vale confrontar as atitudes infelizes com os obstáculos que afligem o espírito, na caminhada terrestre.
Aprendamos sinonímia de ordem moral, no dicionário da Natureza:
Crítica destrutiva – labareda sonora.
Azedume – estrada barrenta.
Irritação – atoleiro comprido.
Indiferença – garoa gelada.
Cólera – desastre à vista.
Calúnia- estocada mortal.
Sarcasmo – pedrada a esmo.
Injúria – espinho infecto.
Queixa repetida – tiririca renitente.
Conversa desnecessária – vento inútil.
Preconceito – fruto bichado.
Gabolice – poeira grossa.
Lisonja – veneno doce.
Engrossamento – armadilha pronta.
Aspereza – casca espinhosa.
Pornografia – pântano aberto.
Despeito – serpente oculta.
Melindre – verme dourado.
Inveja – larva em pencas.
Pessimismo- chuva de fel.
Espiritualmente, somos filtros do que somos.
Cada pessoa recebe aquilo que distribui.
Se esperamos pela indulgência alheia, consignemos as manifestações que nos pareçam indesejáveis e, evitando-as com segurança, saberemos cultivar a benevolência, no trato com o próximo, para que a benevolência se nos faça auxílio incessante, através dos outros.
X
 

Brilhe Vossa Luz - Francisco Cândido Xavier  - Carlos  A. Baccelli - Espíritos Diversos


 

OBSESSÃO PACÍFICA


 
 Irmão X
 
Quando reencontrei o meu amigo Custódio Saquarema na Vida Espiritual, depois da efusão afetiva de companheiros separados desde muito, a conversa se dirigiu naturalmente para comentários em torno da nova situação.
Sabia Custódio pertencente a família espírita e, decerto, nessa condição, teria ele retirado e o máximo de vantagens da existência que vinha de largar. Pensando nisso, arrisquei uma pergunta, na expectativa de sabê-lo com excelente bagagem para o ingresso em estâncias superiores. Saquarema, contudo, sorriu, de modo vago, e informou com a fina autocrítica que eu lhe conhecia no mundo:
- Ora, meu caro, você não avalia o que seja uma obsessão disfarçada, sem qualquer mostra exterior. A Terra me devolveu para cá, na velha base do “ganhou mas não leva”. Ajuntei muita consideração e muito dinheiro; no entanto, retorno muito mais pobre do que quando parti, no rumo da reencarnação...
Percebendo que não me disponha a interrompê-lo, continuou:
- Você não ignora que renasci num lar espírita, mas, como sucede à maioria dos reencarnados, trazia comigo, jungidos ao meu clima psíquico, alguns sócios de vícios e extravagâncias do passado, que, sem o veículo de carne, se valiam de mim para se vincularem às sensações do plano terrestre, qual se eu fora uma vaca, habilitada a cooperar na alimentação e condução de pequena família... Creia que, de minha parte, havia retomado a charrua física, levando excelente programa de trabalho que, se atendido, me asseguraria precioso avanço para as vanguardas da luz. Entretanto, meus vampirizadores, ardilosos e inteligentes, agiam à socapa, sem que eu, nem de leve, lhes pressentisse a influência... E sabe como?
- ?...
- Através de simples considerações íntimas – prosseguiu Saquarema, desapontado. – Tão logo me vi saído da adolescência, com boa dose de raciocínios lógicos na cabeça, os instrutores amigos me exortaram, por meus pais, a cultivar o reino do espírito, referindo-se a estudo, abnegação, aprimoramento, mas, dentro de mim, as vozes de meus acompanhantes surgiam da mente, como fios d’água fluindo de minadouro, propiciando-me da falsa idéia de que eu falava comigo mesmo; “Coisas da alma, Custódio? Nada disso. A sua hora é de juventude, alegria, sol... Deixe a filosofia para depois...” Decorrido algum tempo, bacharelei-me. As advertências do lar se fizeram mais altas, conclamando-me ao dever; entretanto, os meus seguidores, até então invisíveis para mim, revidavam também com a zombaria inarticulada: “Agora? Não é ocasião oportuna. De que maneira harmonizar a carreira iniciante com assuntos de religião? Custódio, Custódio!... Observe o critério das maiorias, não se faça de louco!...” Casei-me e, logo após, os chamados à espiritualização recrusdesceram, em torno de mim. Meus solertes exploradores, porém, comentaram, vivazes: “Não ceda. Custódio! E as responsabilidades de família? É preciso trabalhar, ganhar dinheiro, obter posição, zelar por mulher e filhos...” A morte subtraiu-me os pais e eu, advogado e financista, já na idade madura, ainda ouvia os  Bons Espíritos, por intemédio de companheiros dedicados, requisitando-me à elevação moral pela execução dos compromissos assumidos; todavia, na casa interna se empoleiravam os argumentos de meus obsessores inflexíveis: “Custódio, você tem mais que fazeres... vida social... Você não está preparado para seara de fé...” Em seguida, meu amigo, chegaram a velhice e a doença, essas duas enfermeiras da alma, que vivem de mãos dadas na Terra. Passei a sofrer e desencantar-me. Alguns raros visitantes de minha senectude, transmitindo-me os derradeiros convites da Espiritualidade Maior, insistiam comigo, esperando que eu me consagrasse às coisas sagradas da alma; no entanto, dessa vez, os gritos de meus antigos vampirizadores se altearam, mais irônicos, assoprando-me sarcasmo, qual se fora eu mesmo a ridicularizar-me: “Você, velho Custódio?! Que vai fazer você com Espiritismo? É tarde demais... Profissão de fé, mensagens de outro mundo... Que se dirá de você, meu velho? Seus melhores amigos falarão em loucura, senilidade... Não tenha dúvida... Seus próprios filhos interditarão você, como sendo um doente mental, inapto à regência de qualquer interesse econômico... Você não está mais no tempo disso...”
Saquarema endereçou-me significativo olhar e rematou:
- Os meus perseguidores não me seviciaram o corpo, nem me conturbaram a mente. Acalentaram apenas o meu comodismo e, com isso, me impediram qualquer passo renovador. Volto da Terra, meu caro, imitando o lavrador endividado e de mãos vazias que regressa de um campo fértil, onde poderia ter amealhado inimagináveis tesouros... Sei que você ainda escreve para os homens, nossos irmãos. Conte-lhes minha pobre experiência, refira-se, junto deles, à obsessão pacífica, perigosa, mascarada... Diga-lhes alguma coisa acerca do valor do tempo, da grandeza potencial de qualquer tempo na romagem humana!...
Abracei Saquarema, de esperança voltada para tempos novos, prometendo atender-lhe a solicitação. E aqui lhe transcrevo o ensinamento pessoal, que poderá servir a muita gente, embora guarde a certeza de que, se eu andasse agora reencarnado na Terra e recebesse de alguém semelhante lição, talvez estivesse muito pouco inclinado a aproveitá-la.
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Livro Cartas e Crônicas - Espírito Irmão X - Psicografia Francisco C. Xavier