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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

OS DEFEITOS DOS NOSSOS IRMÃOS


Nos ensinamentos de Jesus em M t 7: 1-5 em que adverte quanto ao hábito de julgar o próximo, deu-nos o seguinte exemplo:
- "Por que vês tu, pois, argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho?
Ou como dizes a teu irmão: deixa-me tirar-te do teu olho um argueiro, quando tu tens no teu uma trave?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o argueiro do olho do teu irmão".
É hábito bastante generalizado notarmos os defeitos dos nossos semelhantes, sem atinarmos com os nossos próprios erros e falhas.
No dizer de Jesus, é muito comum vermos um cisco no olho do nosso irmão e não sentirmos a trave que está em nosso próprio olho.
No tocante a esse trecho, o Mestre nos recomendou que procuremos remover os empecilhos que estão em nossos próprios olhos e, então, com o olho agora bom poderemos ver as qualidades boas que adornam os nossos irmãos.
O orgulho e a inveja têm sido a fonte geratriz de muitos males dessa natureza.
Muitas pessoas, não podendo conformar-se com as qualidades nobres que notam nos outros, ou que se salientam neles, em vez de procurarem ver nessas pessoas um paradigma, envidando esforços para igualá-las, preferem denegri-las apontando falhas irrisórias, quando na realidade possuem outras maiores em profusão.
Os acusadores de Israel que perseguiram a mulher adúltera a fim de apedrejá-la, viram a falha que ela havia cometido, mas nenhum deles se preocupou em ver antes a montanha de iniqüidades e defeitos que portavam no coração.
Eles viram o cisco no olho da mulher, mas não notaram as traves que tinham nos olhos.
Somente após ter Jesus proferido o sentencioso: "quem não tiver pecados, atire a primeira pedra", eles puderam sentir a extensão dos defeitos que eles próprios possuíam, resolvendo então abandonar a idéia de apedrejar a pobre mulher.
Paulo Alves Godoy

Os quatro Sermões de Jesus

A QUESTÃO DO JEJUM


O significado geral da palavra jejum é abstinência, ausência do elemento que entra em nós, ou do elemento que deveria viver conosco.

Há o jejum do alimento, da água, da roupa, e até daqueles que conviviam conosco, mas de nós se ausentaram por qualquer motivo, ou deles nos ausentamos. Nos tempos farisaicos, o jejum era um dos preceitos máximos da Lei. Os fariseus e escribas usavam muito do jejum. Em geral, os judeus eram jejuadores. Julgavam que a religião consistia em não comer e não beber, ou em não comer e não beber isto ou aquilo. A religião daquela gente consistia em comida e bebida e não na prática da caridade, no amor a Deus.

João Batista, homem de autoridade singular, obedecia o preceito judaico do jejum, mas pregava o batismo do arrependimento das faltas. Queria certamente mostrar aos judeus que, submetendo-se aos preceitos judaicos, não era um herege; portanto sua palavra deveria ter autoridade e ser recebida com amor, com boa vontade, e ser executada tal como era ordenada.
Os discípulos de João forçosamente haviam de seguir as pegadas do seu Mestre. Demais, João Batista e seus discípulos não traziam missão alguma religiosa. Seu único escopo, ou, por outra, a exclusiva tarefa que lhe fora confiada, resumia-se em aparelhar o caminho para Jesus passar, em apresentar o Messias ao público, mostrar às gentes o "Cordeiro de Deus", o Agnus Dei, como dizia ele "qui tolle pecoata mundi". As relações de João com Jesus foram passageiras. Descoberto o Cristo, pela Revelação que João havia recebido do Alto:

"Este é meu Filho Amado, ouvi-o", o Profeta do Deserto seguiu o seu rumo, até ser preso e degolado. Jesus, ao contrário, foi o grande missionário e sua missão consistia numa embaixada de Amor e de Verdade; Ele tinha que plantar no mundo uma Árvore Nova, a Árvore da Vida, e precisava suplantar toda mentira, toda falsidade, todas as convenções, todos os preceitos humanos que mantinham a aparência de religião, para que a sua Doutrina não fosse sufocada por esses espinhos.
E o jejum era um desses mandamentos que o sectarismo judaico fazia prevalecer com aparência religiosa. Como poderiam seus discípulos sentir ausência do que não estava ausente? Como poderão os convidados jejuar enquanto o noivo se acha com eles sentado à mesa, servindo-os de finas iguarias e deliciosos manjares? E que oração precisavam mais fazer os seus discípulos, se o Representante de Deus se achava junto deles, dando-lhes ainda muito mais do que precisavam?

O que teriam os discípulos de rogar, de pedir a Deus? Estando eles com o Mestre, assim como os convivas à mesa com o noivo, só lhes cabia ouvir os ensinos que o Senhor lhes dava e se alegrarem com Jesus, como os convidados para um banquete se alegram com o dono da casa e procuram corresponder às gentilezas que lhes são feitas.

Chegariam, porém, dias em que lhes seria tirado o "noivo"; então, nesses dias, não poderiam deixar de jejuar. Num banquete não se jejua, porque o dono das bodas proporciona aos convidados todos os comestíveis e bebidas que possam satisfazer os convivas.

Pela mesma forma, não podem jejuar os que convivem em companhia de Jesus, pois assim como o "noivo" dá aos convidados os comestíveis que alimentam o corpo, Jesus dá los seus "chamados" o alimento que vivifica a alma e a conserva para a Vida Eterna. Jejum implica a falta de alguém ou de alguma coisa. Quem está com Jesus não pode sentir falta de quem quer que seja, nem de coisa alguma.
Mesmo um amigo, um parente que se tenha de nós separado pela morte, se nós estivermos de verdade com Jesus, fácil nos será reatarmos as relações com esse parente ou com esse amigo, direta ou indiretamente. O jejum é sinal de tristeza, de inapetência, de desânimo da vida, e aqueles que se esforçam por estar com Jesus, que cultivam os seus ensinos, estudando-os com amor, não podem jejuar: comem e bebem como faziam os discípulos do Senhor.
Resta-nos dizer algo sobre o último trecho da passagem evangélica, mas os leitores encontrarão a explicação dos odres e dos remendos no livro: "Parábolas e Ensinos de Jesus" (verificar no Ícone Parábolas). Pela concordância dos Evangelistas, vemos mais que Levi é o próprio Mateus, escritor do primeiro Evangelho contido no Novo Testamento.
Cairbar Schutel
Livro: O Espírito do Cristianismo

EVANGELHO E ALEGRIA


Grande injustiça comete quem afirma encontrar no Evangelho a religião da tristeza e da
amargura.
Indubitavelmente, o sacerdócio muita vez impregnou o horizonte cristão de nuvens
sombrias, com certas etiquetas do culto exterior, mas o Cristianismo, em sua essência, é
a revelação da profunda alegria do Céu entre as sombras da Terra.
A vinda do Mestre é precedida pela visitação do anjos.
Maria, jubilosa, conversa com um mensageiro divino que a esclarece sobre a chegada do
Embaixador Celestial.
Nasce Jesus na manjedoura humilde, que se deslumbra ao clarão de inesperada estrela.
Tratadores rústicos são chamados por um emissário espiritual, repentinamente
materializado à frente deles, declarando-se portador das “notícias de grande alegria” para
todos o povo. No mesmo instante, vozes cristalinas entoam cânticos na Altura,
glorificando o Criador e exaltando a paz e a boa-vontade entre os homens.
Começam a reinar o contentamento e a esperança...
Mais tarde, o Mestre inicia o seu apostolado numa festa nupcial, assinalando os júbilos da
família.
Como que percebendo limitação e estreiteza em qualquer templo de pedra para a sua
palavra no mundo, o Senhor principia as suas pregações à beira do lago, em pleno
santuário da natureza. Flores e pássaros, luz e perfume representam a moldura de sua
doutrinação.
Multidões ouvem-lhe a voz balsamizante.
Doentes e aleijados tocam-se de infinitas consolações.
Pobres e aflitos entrevêem novos horizontes no futuro.
Mulheres e crianças acompanham-no, alegremente.
O Sermão da Montanha é o hino das bem-aventuranças, suprimindo a aflição e o
desespero.
Por onde passa o Divino Amigo, estabelece-se o contentamento contagiante.
Em pleno campo, multiplica-se o pão destinado aos famintos.
O tratamento dispensado pelo Mestre aos sofredores, considerados inúteis ou
desprezíveis, cria novos padrões de confiança no mundo.
Desdobra-se o apostolado da Boa Nova, no clima da alegria perfeita.
Cada criatura que registra as notas consoladoras do Evangelho começa a contemplar o
mundo e a vida, através de prisma diferente.
Surge-lhe a Terra por bendita escola de preparação espiritual, com serviço santificante
para todos.
Cada enfermo que se refaz para a saúde é veículo de bom ânimo para a comunidade
inteira.
Cada sofredor que se reconforta constitui edificação moral para a turba imensa.
Madalena, que se engrandece no amor, é a beleza que renasce eterna, e Lázaro, que se
ergue do sepulcro, é a vida triunfante que ressurge imortal.
E, ainda, do suor sangrento das lágrimas da cruz, o Senhor faz que flua o manancial da
vida vitoriosa pra o mundo inteiro, com o sol da ressurreição a irradiar-se para a
Humanidade, sustentando-lhe o crescimento espiritual na direção dos séculos sem-fim.

Livro: Roteiro
Chico Xavier/ Emmanuel

domingo, 30 de dezembro de 2012

O SINAL DE JONAS


"Como afluíssem as multidões, começou a dizer: Esta é uma geração perversa; pede um sinal, e nenhum sinal se lhe dará, senão o de Jonas. Pois assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também o Filho do Homem o será para esta geração. A rainha do Sul se levantará no juízo, juntamente com os desta geração, e os condenará; pois veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. Os ninivitas se levantarão no juízo juntamente com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas e aqui está quem é maior do que Jonas. " (Lucas, xi, 29-32)

"Chegaram os fariseus e saduceus e pediram um sinal do Céu a Jesus, para o experimentar. Mas ele respondeu: A tarde dizeis: teremos bom tempo porque o céu está avermelhado; e pela manhã: hoje teremos tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o de Jonas. E deixando-os se retirou. " (Mateus, xvi, 1-4)

"Saíram os fariseus e começaram a discutir com ele, procurando obter dele um sinal do Céu, para o experimentarem. Ele, dando um profundo suspiro, em espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração nenhum sinal será dado. E deixando-os, tornou a embarcar e foi para o outro lado. " (Marcos, VIII, 11-13) "Eles lhe perguntaram: O que devemos fazer para praticar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta, que creiais naquele que Ele enviou. Perguntaram-lhe, pois: Que milagres operas tu para que o vejamos e te creiamos? Que fazes tu? Nossos pais comeram o maná do deserto, como está escrito: deu-lhe a comer o pão do céu.
Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão do Céu, mas meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do Céu; porque o pão de Deus é o que desce do Céu e dá vida ao mundo. Disseram-lhe então: Senhor, dá-nos sempre desse pão. Declarou-lhes Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim de modo nenhum terá fome; e o que crê em mim nunca, jamais, terá sede. Mas eu vos disse que vós me tendes visto e não credes. Todo o que meu Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora; porque eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade Daquele que me enviou. A vontade Daquele que me enviou é esta: que eu nada perca de tudo o que Ele me tem dado, mas que eu o ressuscite no último dia. Porque esta é a vontade de meu Pai, que todo o que vê o Filho do Homem e nele crê, tenha a vida eterna, e eu o ressuscite no último dia.

"Os judeus, pois, murmuravam dele porque dissera. Eu sou o pão que desci do Céu, e perguntaram: Este não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz agora: desci do Céu? Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: e serão todos ensinados por Deus; todo aquele que do Pai tem ouvido e aprendido, vem a mim. Não que alguém tenha visto o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: quem crê, tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do Céu, para que o homem coma dele e não morra. Eu sou o pão vivo que desci do Céu; se alguém comer deste pão viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este homem dar-nos a comer sua carne?
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue não tendes a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o meu Pai que vive, me enviou, eu também vivo pelo meu Pai; assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como o pão de vossos pais, que comeram e morreram; quem come este pão, viverá eternamente. Estas coisas disse ele quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum.
Muitos dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso, quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que seus discípulos, murmuravam das suas palavras, disse-lhes: Isto vos escandaliza? Que seria se vós vísseis o Filho do Homem subir aonde estava antes? O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e vida. " (João, vi, 29-63) A estória de Jonas acha-se contida no Antigo Testamento, no livro deste profeta, constante de quatro pequenos capítulos. Resumamo-la: Depois da morte de Elizeu, os dons proféticos explodiram em Jonas, e foi ele enviado pelo Espírito chefe de Israel a Nínive, onde o povo vivia em grande dissolução, a fim de fazer que aquela gente se arrependesse e mudasse sua norma de proceder.

Nínive, capital do Império da Assíria, vivia, de fato, mergulhada, como se observa hoje em nosso país, na impiedade e na idolatria. Jonas tinha conhecimento de tudo, e desejava mesmo, segundo se depreende do seu livro, ver Nínive arrasada. O profeta não se conformou, primeiramente, com as ordens que recebera do Alto; muito aborrecido da missão de que fora revestido, saiu de sua cidade para Tarshih, comprou passagem e embarcou. Em alto-mar fez-se um grande vento e caiu uma tempestade. Todos atribuíam aquele fenômeno a uma ação superior que tinha por motivo algum dos tripulantes ou passageiros, do barco. Lançaram sortes para ver quem era o causador daquele mal e a sorte indicou Jonas. Este, arrependido de haver contrariado as ordens que recebera, disse que desejava ser lançado ao mar. A ordem foi executada e a tempestade cessou, como por encanto. Três dias depois Jonas era atirado às praias de Nínive.

Não se sabe como, mas o profeta dizia que viera no ventre de um grande peixe; quem sabe algum bote o levou à praia? Jonas rende, então, uma sentida ação de graças pelo seu salvamento, faz uma prece muito tocante, e, novamente, ouve a voz que lhe ordena entrar em Nínive, que da praia ainda distava três dias de viagem. Novamente Jonas quer recusar obediência à Voz que lhe fala, mas a Voz é imperiosa e afinal o profeta cede, percorrendo as ruas e batendo em todas as portas clamando: "Arrependei-vos e fazei penitência porque daqui a 40 dias Nínive será arrasada; cada um deixe os seus maus caminhos; quem sabe se o Senhor não nos perdoará ainda e não nos salvará da morte?" O povo, como era costume daquele tempo, cobriu-se de cinza, cingiu-se de cilícios e retrocedeu do caminho mau em que ia. Até o rei estremeceu, fez penitência e lançou um édito para que o povo deixasse os maus caminhos.

De fato, em vista da nova atitude dos ninivitas, nada aconteceu. Jonas, que havia apregoado o arrasamento da cidade, julgando ter sido vitima de um Espírito mentiroso, ficou muito triste, saiu da cidade e ficou sob uma palhoça que levantou, e clamava pedindo a morte. Nesse ínterim, nasceu uma aboboreira, da noite para o dia, com ramaria já extensa e cheia de folhas, mas um bicho ataca-a e ela morre imediatamente! A situação melancólica de Jonas se agrava porque aquela aboboreira era a sua jóia, digamos mais, o produto de seus dons mediúnicos de materialização, pois uma aboboreira em uma só noite não nasce e lança folhas a ponto de ultrapassar a altura de um homem; Jonas irrita-se, blasfema, e a voz lhe responde: "Farás bem em te apaixonares por causa da aboboreira que não trataste e na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, e que nasceu numa noite, e numa noite pereceu? " "E eu não havia de ter compaixão de Nínive, na qual se acham mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão esquerda e a mão direita, e ainda onde há muitos animais?" (Jonas, iv, 9-11)

Feita esta exposição, digam os leitores: Qual é o sinal de Jonas? Haverá alguém que afirme lembrar ou representar ele algum dogma ou sacramento do Romanismo ou do Protestantismo? Não está peremptoriamente esclarecido ser a Pregação da Fé, para mudança de vida, para regeneração, o abandono da idolatria e dos pagodes que embriagam os sentidos e afastam os homens dos seus deveres religiosos? Não representará, também, o sinal de Jonas o mesmo sinal que Jesus deu de Vida Eterna, de Ressurreição, aparecendo depois de sua morte corporal e prosseguindo em sua missão de ensinar, como Jonas, após três dias de naufrágio, apareceu aos ninivitas para levar-lhes a salvação? Estude-se bem esse capítulo e procure-se tirar uma conclusão do que Jesus afirmou: "A esta geração adúltera não se dará outro sinal senão o do profeta Jonas."

Prossigamos na elucidação dos demais versículos que precedem à pregação de Jonas, citados por Lucas. Referindo-se à rainha do Sul, que outra não era senão a Rainha de Sabá, pois foi esta que saiu dos confins da Terra para ouvir a sabedoria de Salomão, Jesus deu a entender que o Espírito dessa mulher voltaria a encarnar-se no mundo por ocasião do julgamento daquela geração que lhe pedia sinais, e, juntamente com os espíritos dos ninivitas, condenaria tal geração. Realizar-se-ia já esta profecia? Quem seria essa mulher? Quais seriam os ninivitas? Mas não entremos nessas indagações, pois que somente nos compete realçar o Espírito do Cristianismo.

O inegável é que os condenados não podem deixar de ser outros, senão os que, pelas suas idéias e normas de proceder, não estão de acordo com os ensinamentos de Jesus, os que substituíram a glória de Deus pela glória dos homens, os que amam mais a criatura do que o Criador, os que puseram outro fundamento na religião, excluindo dela Jesus Cristo. Lendo-se com atenção e analisando-se oração por oração o capítulo VI, de João, versículos 29 a 64, fica-se inteirado do pensamento íntimo do Mestre, cuja idéia mater é a "Ressurreição e a Vida Eterna", princípio, base e fim da sua inigualável Doutrina, sendo os meios de alcançar esse objetivo, a crença em Jesus e a obediência aos seus preceitos.

No versículo 39, lê-se: "A vontade Daquele que me enviou é esta: que eu nada perca de tudo o que Ele me tem dado, mas que eu o ressuscite no último dia. No versículo 40, diz: "Porque esta é a vontade de meu Pai, que todo o que vê o Filho do Homem e nele crê, tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia". No versículo 44, diz: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou, o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia." No versículo 47, repete: "Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê em mim, tem a vida eterna." No versículo 54: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia." No versículo 58: "Quem come este pão, viverá eternamente".
A questão da Imortalidade e da Outra Vida é base principal da Doutrina de Jesus. Os seus discípulos haviam de ter absoluta certeza da Imortalidade, porque o Mestre, como aliás aconteceu, não deixaria de dar-lhes todas as provas de que eles necessitassem para que tivessem uma fé científica comprovada pelos fatos, de que a Imortalidade, a Vida Eterna, não era um dogma que ele impunha, mas sim um testemunho de que a sua Doutrina era de Deus, era o Pão que havia de dar às almas o alimento da crença na Vida Eterna, na Imortalidade. Bastava que cressem na sua palavra e o seguissem para observarem todos os fenômenos, todos os fatos que se desdobravam com a sua presença, fatos transcendentais, metapsíquicos, independentes de fatores físicos e que poderiam ter explicação com a aceitação da "Teoria da Vida Eterna", da "Teoria da Imortalidade", lógica e claramente proclamada por Ele em todos os seus discursos, em todas as suas manifestações espirituais, e cimentada ainda com uma vida de abnegação e sacrifícios, para que a sua Palavra de Vida Eterna não perecesse sob os dogmas farisaicos que ensombravam a religião.

As suas aparições depois da morte, constatadas por todos os Evangelistas, são letras vivas, solenes reproduções desses versículos 39, 40, 44, 47, 54, 58, que transcrevemos e não podem ter outra interpretação além da que expomos com a maior clareza e concisão. Essas figuras de que Jesus usou, como por exemplo: "quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a Vida Eterna; porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida" não podem ser tomadas à letra. E isto o próprio Jesus disse a seus discípulos que acharam duro o discurso e impossível de compreender. "Isto vos escandaliza? Que seria se vós vísseis o Filho do Homem subir aonde estava antes? O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita. As palavras que eu vos tenho dito são Espírito e vida. (João vi, 62-63)

Quem não vê nessas palavras do Filho de Deus a Doutrina pela qual Ele derramou seu próprio sangue? Quem não vê que essa carne e esse sangue não são mais do que símbolos do Verbo de Deus, que se fez carne e habitou entre nós! Quem não vê que o Corpo, representado por carne e sangue, de que Jesus falou, constitui o Corpo, o conjunto da sua Doutrina, dos seus ensinos, finalmente - o Cristianismo! Então o Critianismo não é o Corpo do Cristo? O Cristo não é o Espírito do Cristianismo? E o Verbo não é a Palavra de Deus que o Espírito de Cristo assimilou e, para que fosse compreendida na Terra, constituiu um Corpo de Doutrina, verdadeira, imaculada, inatacável pela sua pureza e pela verdade que encerra? Responda quem for capaz, mas responda com fatos, com critério, com lógica, com a razão, com o bom senso.

O que quer dizer aquela expressão do Mestre: "O espírito é que vivifica; as palavras que eu vos tenho dito são Espírito e Vida"? É consentâneo com a razão fazer dessas palavras de Jesus preceitos dogmáticos e fórmulas sacramentais, desvirtuando o pensamento do Senhor e materializando, ao mesmo tempo, "o que é Espírito", a ponto de transformá-lo numa obreia de trigo, como fazem os padres romanos, ou num pedaço de pão como fazem os pastores protestantes? E que regras gramaticais usam esses exegetas para assim analisar o Evangelho, submetendo-o a injunções arbitrárias, estreitando-o à sua teologia infantil!

Uma coisa é ver o Evangelho na sua pureza "pagã", outra é observá-lo com as "águas lustrais dos batismos sacerdotais"! O Evangelho não precisa ser "sacramentado" para viver no coração da Humanidade; por si só ele se impõe, independente de influências científicas e doutorais. Se os "filólogos" quisessem prestar-lhe um serviço, ele aceitaria antes o obséquio de serem obedecidos os seus ditames de Imortalidade e Vida Eterna, os seus parágrafos de caridade, humildade, benevolência, tolerância e amor ao próximo, porque fora desses preceitos não há salvação. Outra expressão digna de nota, nas referidas sentenças de Jesus, é a que o Mestre repete com singular insistência "Eu o ressuscitarei no último dia."
Essa promessa feita em todos esses versículos, a todos os que Nele crerem, deve ter uma significação formal de realização categórica.
O estudante do Evangelho não pode pôr à margem essas palavras, que representam a realização de um fato que tem como começo a necessidade da crença nas palavras de quem as pronunciou. O último dia da vida terrena é o dia da morte, logo, a ressurreição no último dia não pode deixar de significar o reaparecimento daquele que morreu e sua consequente posse da Vida Eterna. O texto da Vulgata diz claramente Ego resuscitabo e um "in novíssimo die", do verbo resuscitare, que quer dizer: fazer voltar à vida, tornar a aparecer, restabelecer, fazer reviver.

Não foi outro o sentido que os Evangelistas deram a essas palavras. A expressão ressurreição está intimamente ligada às aparições de Jesus, como se depara muito bem no capítulo XX de João, versículo 9: "porque não compreendiam a Escritura, que era necessário ressuscitar Ele dentre os mortos." A palavra ressurreição não tem mesmo outra significação evangélica, que voltar à vida, tornar a aparecer, restabelecer-se, reviver. Indo as santas mulheres ao sepulcro, diz Lucas, XXIV, 5, ficaram perplexas por não terem encontrado o corpo de Jesus e por aparecerem dois varões com vestes resplandecentes, que lhes disseram: "Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas RESSUSCITOU - sed surrexit".

Em Marcos, capítulo XVI, 8-11, diz-se: "Surgens autem mane, prima sabbati, aparuit primo Mariae Magdalenae, de qua ejecerat septem daemonia. "- "Havendo Ele ressuscitado de manhã cedo, no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual havia expelido sete demônios." E acrescenta: "Ela foi noticiá-lo aos que haviam andado com Ele, os quais estavam em lamento e choro; estes, ouvindo dizer que Jesus estava vivo e que tinha sido visto por ela, não acreditaram."
O trecho de Mateus não é menos categórico e claro. É assim que diz o Evangelista no capítulo XXVIII, 5: "O anjo disse às mulheres: Não temais vós, porque sei que procurais a Jesus, que foi crucificado; Ele não está aqui; porque ressuscitou, como disse; vinde e vede o lugar onde jazia. Ide depressa dizer aos seus discípulos que Ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galiléia, e lá o vereis."

- "Et cito euntes, dicite discipulis, ejus quia surrexit et ecce proecedit vos in Galilaeam, ibi eum videbitis, ecce praedixi vobis." Paulo na I Epístola aos Coríntios, capítulo XV, é bem explícito sobre a ressurreição de Cristo e a ressurreição dos mortos, e diz claramente, para quem tiver olhos de ver, que o Evangelho por ele anunciado, Evangelho da salvação que ele recebeu e anunciou, é justamente este: "Que Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e que apareceu a Cefas e então aos doze; depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos; e por último de todos, apareceu a mim também como a um abortivo."

Depois diz ele: "Se se prega que Cristo é ressuscitado dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? Se não há ressurreição de mortos, nem Cristo é ressuscitado, é logo vã a nossa pregação e também a nossa fé." Tão importante julga Paulo a ressurreição dos mortos, a aparição dos mortos, que chega a dizer que não se crendo nela, é vã a pregação e a fé; não tem efeito, não tem valor nenhum a fé, nem a pregação. E em todo o resto desse capítulo o Apóstolo não faz outra coisa senão demonstrar a veracidade da ressurreição, ou seja da aparição dos mortos, explicando até com que CORPOS eles aparecem, ressuscitam e vivem.
Diz que o homem não traz só a imagem do corpo terreno, mas também a imagem do corpo celestial (versículos 48-49); e é com este que aparece, que ressuscita, que revive. Conclui-se, de tudo isso, que o sinal de Jonas é a pregação do Evangelho no espírito que vivifica, e não na letra que mata. Conclui-se mais, que a Ressurreição, a Aparição, ou antes, as Aparições de Jesus, também são sinal de Jonas. Pois, assim como Jonas apareceu em Nínive depois do naufrágio, Jesus também apareceu aos discípulos e a muita gente, depois da morte. Conclui-se ainda mais que crer em Jesus não é só proferir a palavra - creio. É acompanhá-lo, segui-lo no seu Evangelho, estudar e meditar os seus ensinos.

Paulo seguia a Jesus em espírito, pois no seu tempo Jesus já se havia passado para a Vida Eterna. Entretanto não há quem conteste que a Doutrina de Paulo é a inspiração de Jesus, que não abandonava a Paulo, porque Paulo o seguia. E tão firme estava o Apóstolo da luz na sua fé de que Jesus o assistia, que afirmava peremptoriamente: "Já não sou mais eu quem vive, mas Jesus que vive em mim e faz todas as obras." Conclui-se, finalmente, que o Espiritismo é o Espírito do Cristianismo, Espírito esse encarregado por Jesus para vivificar a sua Doutrina, dar-lhe ampla expansão, explicá-la e até trazer-lhe o complemento indispensável, de acordo com o progresso dos povos, segundo disse o próprio Jesus:

"Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Paracleto (Consolador, Advogado, Defensor), a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós " (João, xiv, 15-17). Notem bem a expressão "habita convosco e estará em vós"- quiad apud vos manebit, et in vobs erit.
O Espiritismo não é, como pensam alguns, uma coleção de livros que ornamentam as bibliotecas e circulam pelo mundo. Muito mais do que isso, é o IDEAL grandioso que paira sobre nós como um corpo flutuante dos Sagrados Ensinos, sustentados pelos mais poderosos sábios e santos Espíritos de Deus. Fica, pois, prevalecendo o Sinal de Jonas, como o único milagre capaz de converter a Humanidade e estabelecer no mundo a Paz e a Fraternidade.
Cairbar Schutel
Livro: O Espírito do Cristianismo

A SIMPLICIDADE DE ESPÍRITO:"Jesus, abençoando as crianças e acariciando-as, mostrou que mais vale ser ignorante e simples, do que presumir de sábio sem simplicidade..."


"Traziam-lhe também as crianças para que as tocasse; e os discípulos, vendo isto, repreendiam aos que as traziam. Mas Jesus, chamando-as para junto de si, disse: Deixai vir os meninos, e não os impeçais; pois dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de maneira alguma entrará nele." (Lucas, XVIII, 15-17)

"Então lhe traziam alguns meninos para que os tocasse; e os discípulos repreenderam aos que os trouxeram. Mas Jesus, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os meninos, não os impeçais; porque dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de modo algum entrará nele. E abraçando os meninos, os abençoava, pondo as mãos sobre eles." (Marcos, X, 13-16)

Deus criou os Espíritos simples e ignorantes e lhes concedeu os meios de progresso e perfeição. É preciso que haja ignorância para que haja aperfeiçoamento, de cujo trabalho vem o mérito de cada um; e o aperfeiçoamento não se faz sem simplicidade. Os Espíritos simples são por isso bem-aventurados.

As bem-aventuranças são as remunerações da simplicidade. Os vaidosos, os arrogantes, não podem ter simplicidade, sendo por isso condenados por suas idéias preconcebidas.

Jesus usou as crianças como símbolo, ou antes, como personificação da simplicidade; elas são, quando em sua inocência,
a representação da simplicidade de espírito. Sabem que não sabem, e se esforçam para saber, perguntando, inquirindo aqui e ali. Não têm opinião preconcebida, nem se arrogam títulos de mestres e doutores; costumam respeitar as convicções, e, quando estas lhes parecem disparatadas, indagam os motivos e procuram tirar deduções, as que lhes pareçam justas.

A simplicidade de espírito é uma das grandes prerrogativas, indispensável à aquisição do Reino de Deus. Por que os escribas, os fariseus, os doutores da Lei, os religiosos de então repeliram a Doutrina de Jesus, chegando a ponto de pedir a morte do Filho de Deus?
Porque, sem nenhuma simplicidade de espírito, vaidosos dos seus conhecimentos, orgulhosos do seu saber, não percebiam a ignorância em que se achavam das coisas divinas e se julgavam possuidores de toda a verdade.

Jesus, abençoando as crianças e acariciando-as, mostrou que mais vale ser ignorante e simples, do que presumir de sábio sem simplicidade.
E assim como um "odre velho" não pode suportar um "vinho novo", por estar impregnado do velho licor, também é preciso que o homem se torne simples, isto é, ponha de lado as crenças avoengas que recebeu por herança, para analisar, sem preconceito, o Cristianismo que a ninguém veio impor os seus preceitos, mas apresentar-se a todos como a única Doutrina capaz de nos dar a perfeição, se a estudarmos e a compreendermos em espírito e verdade.

Nas passagens acima, de Lucas e Marcos, Jesus faz também uma ligeira alusão à reencarnação, como um dos meios de nos desembaraçarmos das idéias preconcebidas desde a infância, e nos tornarmos aptos para a boa recepção da Verdade, consubstanciada nos princípios redentores do Cristianismo.

De modo que "aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de maneira alguma entrará nele". Aquele que não receber o Reino de Deus com simplicidade, humildade e boa vontade de se aproximar de Deus, não entrará nele.
Cairbar Schutel

Livro: O Espírito do Cristianismo

Reconcilia-te sem demora com o teu adversário


RECONCILIA-TE SEM DEMORA COM O TEU ADVERSÁRIO

Disse Jesus:
"Se estiveres fazendo tua oferta diante do altar e te lembrares de que um teu irmão tem contra ti alguma coisa, deixa ali tua oferta e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão; depois, então, volta a fazê-la.

Concerta-te sem demora com o teu adversário, enquanto estás posto a caminho com ele, para que não suceda que ele, o adversário, te entregue ao juiz e que o juiz te entregue ao ministro e sejas mandado para a cadeia. Em verdade te digo que não sairás de lá enquanto não pagares o último ceitil.'" (Mateus, 5:23-26.)

A oferta sacrifical era um ato de fé largamente praticado pelos judeus, através do qual buscavam alcançar a remissão de seus pecados.
Julgavam suficiente o sacrifício de inocentes ovelhas, cabras ou novilhos, para obter esse favor, ignorando fosse preciso, a seu turno, agir com bondade em relação ao próximo.

Jesus, entretanto, aponta-nos a inutilidade de toda e qualquer prática devocional, quando feita sem a necessária tranquilidade de consciência.

Deus é Amor e, com sentimentos ou propósitos inamistosos no coração, é impossível entrarmos em sintonia com Ele ou recebermos a graça de Seu perdão.

Assim, sempre que nos sintamos ofendidos por alguém, ao invés de lhe censurarmos o procedimento com terceiros, o que nos cumpre fazer é entendermo-nos direta e francamente com nosso ofensor.
É bem provável que não tenha tido a intenção de magoar-nos e que seus esclarecimentos satisfaçam-nos plenamente. De qualquer maneira, é sempre mais correto dirimirem-se atritos e dificuldades, agindo dessa forma, do que dando-se livre curso à maledicência.

Se, ao contrário, nós é que defraudamos um irmão, temos a obrigação moral de, como cristãos que pretendemos ser, fazer-lhe a devida restituição e pedir-lhe que nos desculpe; ou, se o agravamos, afetando-lhe a honorabilidade, buscar as pessoas às quais demos informações falsas ou maldosas a seu respeito, e retirá-las quanto antes, confessando humildemente nosso erro.
Quem, por orgulho, se esquive a essa reconciliação, poderá ser surpreendido pela morte, em débito com a Lei de Harmonia que preside às relações dos homens entre si, e, obrigado, então, a responder em "Juízo" pela inobservância dessa Lei, não escapará à "prisão" das reencarnações expiatórias, eis que, "a cada um será dado segundo as suas obras".
A Justiça Divina, no entanto, é rigorosamente perfeita e não exige do devedor mais do que ele deve. Afirmando: "não sairás da cadeia enquanto não pagares o último ceitil", Jesus deixa claro que não há pecados irremissíveis, nem, por conseguinte, condenação eterna.

Nossas dívidas, por maiores que sejam, expressam-se por um valor determinado, têm um limite e, desde o instante em que paguemos "o último ceitil", já não ficaremos devendo nada e, pois, seremos postos em liberdade, o que vale dizer, seremos novamente senhores de nosso destino, podendo, trabalhados por essa amarga experiência, caminhar com mais segurança, rumo à felicidade reservada a todos os filhos de Deus.
Rodolfo Calligaris
Sermão da Montanha

Buscai primeiramente o reino de Deus


Não é preciso ser muito versado em psicologia para verificar que todas as ações humanas obedecem a um móvel, isto é, são determinadas por um ideal ou um desejo mais intenso.
Aquilo que o indivíduo coloca em primeira plana na vida exerce tal influência em sua conduta que, consciente ou inconscientemente, seus pensamentos, sua conversação, seus hábitos, etc... entram a girar em torno desse alvo, e todos os seus passos para ele convergem.
Por conhecer essa lei é que Jesus nos recomenda: "buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça" (Mateus, 6:33), querendo com isso significar que os cristãos devem colocar os valores espirituais acima de tudo, pois na aquisição deles é que havemos de encontrar a verdadeira felicidade.
Lamentavelmente, são poucos, ainda, os que vivem pelos ideais superiores.
Em geral, o que os homens querem e buscam sofregadamente é o reino da terra mesmo.
Para amealhar fortuna que lhes proporcione, depois, uma vivência faustosa e sem cuidados, ou conquistar destaque social que lhes lisonjeie o orgulho, não há incômodos, esforços, nem sacrifícios que não estejam dispostos a enfrentar.
Alguns, para conseguir esse objetivo utilitário, não hesitam em empregar processos ignominiosos: exploram o serviço dos semelhantes, organizam trustes e monopólios nefandos, engendram conciliábulos políticos, descem, enfim, a todas as vilanias e torpezas, sem atender a qualquer reclamo da própria consciência.
Esses tais avaliam o êxito na vida pela conta-corrente que tenham nos bancos ou pela posição adquirida na sociedade, e, em sua grosseira materialidade, consideram que seria uma desgraça verem-se privados desses elementos.
Esquecem-se, entretanto, de que, ao transporem as aduanas da morte, não só deixarão aqui os seus queridos tesouros, como ainda terão de responder, perante a Justiça Divina, pelos meios que empregaram para acumulá-los!
Olvidam, igualmente, que o prestígio mundano é algo de todo inútil no "lado de lá", onde os que se exaltam aqui na Terra serão humilhados, e os que são adulados poderão ser escarnecidos, senão relegados ao horror das trevas que o egoísmo houver adensado em volta de suas almas!
Compenetremo-nos, pois, de que tudo aquilo que só serve para a existência terrestre é mera vaidade, e, seguindo o conselho do Mestre, porfiemos no bem, para merecermos a glória de tornar-nos súditos do "reino de Deus".
Rodolfo Calligaris
Livro Sermão da Montanha

DEUS


"Pai, santificado seja o Teu nome, venha o Teu reino". - (Lucas, 11:2)
Como definir Deus? Escasseiam-nos as palavras, vagueiam-nos as expressões, deixando-nos sem possibilidade de confïgurá-Lo em toda a Sua grandeza, em toda a Sua Majestade.

Debalde os homens procuram defini-Lo, enaltecendo Seus atributos, destacando ser Ele eterno, imutável, onipotente, onisciente, soberanamente justo e bom, completando com um interminável cortejo de qualificativos, no qual se salienta ser Ele o Criador de todas as coisas e o Arquiteto do universo e da vida.

Entretanto, a despeito de todos esses atributos, falecem-nos meios de expressar tudo aquilo que Ele realmente é, pois a pobreza da linguagem humana carece de terminologia para propiciar uma visão ampla a clara de tudo o que aureola o Seu santo nome.

Os nossos antepassados, confundindo Jeová com Deus, emprestavam-Lhe caracteres profundamente humanos, afirmando inclusive que Ele havia criado os homens à sua imagem e semelhança. Os antigos hebreus viam em Jeová - uma deidade tribal - o deus do universo e da vida, porém, aureolavam-no com propensões de natureza humana: uma entidade repleta de rancor, de parcialidade, de sentimentos de vingança, tendo mesmo chegado a promovê-Lo a "Senhor dos Exércitos", sempre pronto a fulminar com o furor de sua ira os inimigos do povo judeu, esquecendo-se de que eles também eram Seus filhos.

Em passado menos longínquo, no negro período da Idade Média, "Deus", além de ser o "Senhor dos Exércitos", transformou-se num tirano que se deleitava com o cheiro de carne assada
das vítimas da chamada "Santa Inquisição", que se comprazia con as lutas fratricidas e sanguinolentas das chamadas "santas" cruzadas, ou com o massacre indiscriminado, de supostos hereges, com maior destaque aquele ocorrido na noite de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572), quando, na França, foram mortos cerca de 50.000 huguenotes (protestantes), dentre eles homens, mulheres e crianças.

Nos dias atuais, ainda prevalece a imagem de um "Deus" zeloso, parcial e vingativo, que continua a condenar Seus filhos às "penas eternas", a um clamoroso inferno, abominando Suas próprias criaturas, entregando-as ao domínio de um utópico Satanás chefe dos abismos infernais, como jamais o faria um pai terreno.

Debalde os materialistas apregoam que Deus não existe, pois a obra de Deus é manifesta em tudo o que existe no universo. Muitos homens dizem que Deus é a Natureza, esquecendo-se de que, na realidade, a Natureza é também uma obra de Deus.

A grandiosidade da obra de Deus se revela quando contemplamos o firmamento com os seus milhões e milhões de astros gravitando no espaço infinito, bem como a Sua criação dos reinos mineral, vegetal, animal e hominal.

Admiramos Deus quando nos revela o Seu incomensurável amor, fazendo descer à Terra o seu Filho amado, para nos trazer a imorredoura mensagem evangélica. O seu Ungido, a fim de poder consolidar, entre os homens, os Seus sublimes ensinamentos, deu a própria vida, no cimo do Calvário, abalando os corações humanos através dos séculos.

Afirmou Jesus Cristo que Deus faz o sol aquecer bons e maus,
e a chuva beneficiar justos e injustos, porque todos são Seus filhos amados, enredados num perene processo evolutivo.

Proclamou, também, o Mestre, que Deus simboliza o pai da Parábola do Filho Pródigo, sempre pronto a receber, de volta, a seu seio, o filho transviado, da mesma maneira como o bom pastor recebe com indescritível gozo as ovelhas perdidas que voltam ao aprisco.

Jesus Cristo nos revelou Deus como sendo o Pai generoso que veste os lírios dos campos e que sustenta os pássaros dos Céus, da mesma forma como provê as necessidades dos homens, que jamais devem duvidar da Sua justiça e do Seu amor paternal.

No célebre colóquio com a Mulher Samaritana, Jesus Cristo sustentou que o Pai quer ser adorado em espírito pelos verdadeiros adoradores, o que implica em dizer que as adorações exteriores, ou o culto externo, são pueris e inócuos, tendo pouco ou nenhum valor aos olhos do Criador.

Afirmou, ainda, o Mestre Nazareno que somente Deus é bom, o que significa dizer que mesmo o Mestre dos Mestres se considerava distanciado da Sua perfeição.

Alguns cristãos, do início da nossa era, não sabendo como definir Deus, nem conciliar com a verdade alguns ensinamentos de Jesus Cristo, outorgaram ao Criador um aspecto tríplice, sustentando ser Ele uma entidade trina, sendo simultaneamente Pai, Filho e Espírito Santo, mesclando, assim, o que é eterno, imutável, com o que é criado e sujeito à evolução.

Deus é o nosso Pai celestial, que cobre com os Seus amor incomensurável tudo aquilo que foi por Ele criado; e, em nosso modo de ver, não existem palavras que possam expressar toda a Sua grandeza e a extensão dos Seus poder e glória.
Paulo A. Godoy

E O CÉU SE FECHOU:"O Céu jamais poderá fechar-se, pois isso representa pura simplesmente a negação da misericórdia infinita do Criador de todas as coisas. Seria a anulação da promessa de Jesus de que "tu aquilo que pedirmos ao Pai, nos será concedido"..."


"Quando o Céu se fechou por três anos e seis meses." - (Lucas, 4:25)
O evangelhísta Lucas pôs nos lábios de Jesus Cristo a afirmação de que, ao tempo de profeta Elias, o Céu se fechou durante três e seis meses, de sorte que houve grande fome na Terra, tendo o grande profeta sido enviado a socorrer apenas uma pobre viúva, que residia em Sarepta de Sidon. Acrescentou, ainda, o Mestre, que existiam muitos leprosos na Terra ao tempo do profeta Eliseu, mas este foi enviado apenas para curar Naamã, um estrangeiro que estava contaminado por aquela enfermidade.

Poderá o Céu cerrar suas portas e deixar que os clamores que partem da Terra não sejam atendidos? Poderá Deus ficar surdo por três e meio longos anos, às rogativas que partem das sofridas criaturas terrenas?

Indubitavelmente, as palavras do Cristo encerram uma força de expressão e o seu objetivo fundamental, ao formular esse ensinamento, foi nos ensinar que existem na Terra criaturas que possuem um "tesouro nos Céus, por elas próprias amealhado, o qual fará com que venha em seu favor o socorro dos Céus, sempre que elas dele necessitem".

Um aglomerado de pessoas pode ser submetido a uma expiação coletiva e os Espíritos executores da vontade de Deus atender a rogativa que partir de uma ou mais delas, que experimentaram as consequências dessa mesma expiação, sem que a ela as outras façam jus. Foi o caso da pobre viúva de Sarepta de Sidom, que, vivendo no seio de um povo assolado por tremenda crise, foi socorrida pelo profeta Elias, adredemente instruído nesse sentido, tendo seus sofrimentos e de seu filho minorados.
O Céu jamais poderá fechar-se, pois isso representa pura simplesmente a negação da misericórdia infinita do Criador de todas as coisas. Seria a anulação da promessa de Jesus de que "tu aquilo que pedirmos ao Pai, nos será concedido".

No passado, costumava-se dizer que o Céu se fechava para os "hereges" e para os maus. Para os que não professassem a religião oficial ou fossem surdos aos ensinamentos evangélicos. Para os rebeldes e para os viciosos. Porém, cumpre aqui aditar que um dos grandes profetas da antiguidade afirmou que "Deus não que morte dos ímpios, mas que eles se redimam e vivam."

Um dos castigos que Moisés prometia, aos que não obedecessem às leis de Deus, era que: "O Céu se tornará de bronze, sobre as suas cabeças, e a terra debaixo de seus pés se tornaria de fé; (Deuteronômio, 28:23). Segundo o grande legislador dos hebreus essa maldição tinha o beneplácito de Deus, e destinava- se a todos aqueles que não guardassem os Dez Mandamentos da Lei.

Ao tempo de Moisés era admissível atemorizar o povo com ameaças dessa natureza, pois o Deus então apresentado, o temido e temível Jeová dos Exércitos, era um Deus parcial, rancoroso, vingativo e cheio de zelo. Quando do advento da Jesus, nos foi assentado um Deus que é todo misericórdia e a expressão maior do amor.

Ensinou-nos o Mestre que as cinco virgens prudentes da parábola encontraram as "portas do Céu", mas a cinco imprudentes encontram-nas fechadas (Mateus, 25:1-13). As cinco primeiras simbolizam os que cumprem seus deveres na Terra - são bons, tolerantes, misericordiosos.
As outras simbolizam os que vivem na Terra mergulhados nos vícios, são maus e recalcitrantes, insurgindo-se contra os preceitos da Lei. Torna-se evidente que o tratamento não poderia ser idêntico para todos.
É lógico que não existe porta nos Céus, nem porteiro. O que, na realidade, existe sãos Planos Espirituais numa escala infinita; para os Planos Elevados irão as almas boas e cumpridoras de seus deveres, que souberam cumprir as leis do amor; para os Planos Inferiores gravitarão os maus, os rebeldes, os vingativos, os orgulhosos, os malfeitores de todos os matizes.
É evidente, contudo, que os estágios nesses Planos são sempre transitórios, pois todas as criaturas caminham para Deus, e todas elas, indistintamente, através das vidas sucessivas, alcançam Planos mais sublimados, pois "há grande alegria nos Céus pelos pecadores que se regeneram".
E o Pai que se forme "um só rebanho, sob o cajado de um só pastor."
Paulo A. Godoy

PAI, SALVA-ME DESTA HORA:"Sua vinda à Terra objetivou demonstrar o incomensurável amor de Deus pelas Suas criaturas..."


"Então veio uma voz do Céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei." - (João, 12:28)
O Evangelho segundo João, em seu capítulo 12, afirma que Jesus Cristo, algum tempo antes de ser preso, disse (João 12:27):

"Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora".

Esta afirmação do Mestre vem satisfazer a indagação de muitos, quando proclamam que Jesus, com o poder de que se achava investido, poderia facilmente ter evitado a consumação do sacrifício do Calvário.

Outros evangelhistas relatam que Jesus suplicou a Deus, por três vezes, que "se fosse possível passasse dele o cálice de amargura, evitando que ele fosse tragado". Nessas súplicas o Mestre deixou bem claro que a vontade de Deus deveria prevalecer em qualquer circunstância.

Na terceira e última rogativa, ele deve ter recebido a resposta dos Céus, de que o cálice teria de ser tragado, por isso submeteu-se com resignação a todos os sofrimentos que surgiram, os quais tiveram como epílogo o martírio na cruz.

Era imperioso que a crucificação se consumasse, a fim de que a mensagem cristã se firmasse entre os homens. Infelizmente, no seio da Humanidade, os grandes mártires têm de dar seu sangue, para que suas idéias e obras se consolidem. Jesus Cristo não poderia constituir uma exceção, por isso ele, brandamente, submeteu ao martírio, pois, somente assim, os Seus ensinos se a solidariam na Terra.

No mesmo Evangelho de João (12:24) deparamo-nos com a seguinte afirmação feita por Jesus: "Se o grão de trigo, caindo terra, não morrer, ele ficará só, mas se morrer produzirá muitos frutos". Na realidade, se Ele não fosse crucificado, talvez ficasse com alguns poucos companheiros. Entretanto, a sua morte infamante no madeiro atraiu a todos para ele (João, 12:32).

A crucificação representou a glorificação de Sua obra; isso, tudo aquilo que já havia sido vaticinado pelos profetas, e que o próprio Cristo corroborou, tinha de ser cumprido. Na verdade Jesus disse que poderia suplicar: "Pai, salva-me desta hora", o que seria inócuo, porque Ele veio à Terra precipuamente para experimentar as agruras daquela hora, para que a Sua mensagem viva se implantasse entre o homens.

É óbvio que o Cristo poderia ter-se furtado às agruras daquela hora, se tivesse pactuado com os interesses de muitos homens da época. Nesse caso, em vez de tragar o vinagre azedo do Calvário teria continuado a deleitar-se com o vinho alegre de Canaã.

Jesus Cristo desceu à Terra como autêntico cordeiro no mundo de lobos vorazes. Muitos interesses prevaleciam, então, tanto natureza política como religiosa, por isso Sua missão se tornou árdua. Numerosos interesses foram feridos. As Suas palavras e profecias amedrontavam os poderosos da época, os quais não poderiam conceber a idéia da perda de um predomínio sobre o povo inculto.

Sua vinda à Terra objetivou demonstrar o incomensurável amor de Deus pelas Suas criaturas.
Acima de todas as coisas o Mestre objetivou fazer com que a Humanidade conhecesse novas verdades, para que estas a libertassem dos preconceitos, do obscurantismo e da superstição.
Entretanto, para que Sua obra se consolidasse o sacrifício prepararia o gênero humano para o sistemático combate à mentira e para que a verdade se constituísse na cogitação primária de todos. Se o grão de trigo não morresse, ele ficaria sozinho, mas, morrendo, produziria muitos frutos.
Semelhantemente, se o Mestre não morresse na cruz, ficaria apenas com alguns apóstolos, mas, pendurado no madeiro infamante, atraiu a todos para Ele - glorificando o nome de Deus e ensinando aos homens as regras do amor, do perdão, da misericórdia e da tolerância.
O sangue derramado sensibilizou a todos. Sua dor despertou a Humanidade para o conhecimento de coisas mais relevantes, as coisas do Espírito.
Não permanecendo no túmulo. Ele deu aos homens a antevisão da imortalidade da alma, revelando que a morte do corpo não é o fim, e que uma jornada ininterrupta e ascendente aguardava a alma, que tem por finalidade atingir a Deus. A criatura tem de gravitar para o seu Criador.
Paulo A. Godoy