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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Divina Semente

A proximidade do Natal nos convida a refletir sobre a presença de Jesus na Terra.
O Mestre foi a encarnação do Verbo Divino entre os homens; foi uma idéia materializada no corpo humano, a fim de fecundar as almas; uma semente plantada no psiquismo da Humanidade para que se desenvolvesse ao longo dos séculos... Essa semente, plantada por Deus, há dois mil anos atrás, ainda germina dentro de cada um...
Jesus é o protótipo da idéia-vida; o Mestre é o Ideal acalentado pelo Criador em benefício da criatura...
Jesus viajou no tempo, veio do futuro ao passado, para conduzir no presente, a Humanidade ao porvir, onde Ele nos aguarda.
Esta semente plantada pelo Criador está se desenvolvendo lentamente, mas com segurança, haverá de florescer e frutescer. Em alguns, naqueles que consideramos gênios e heróis da Humanidade a semente a que nos referimos eclodiu mais depressa, ao ponto que em outros, na maioria, somente agora ela começa a dar sinal de vida.
Interessante observarmos como, dentro de nós mesmos, germina no tempo a idéia do Cristo; como, paulatinamente, o Cristo vai ocupando nosso espaço interior, que é infinitamente maior que o espaço do próprio Universo!
Está definitivamente plantada no homem a semente que é o próprio Cristo dentro de cada um... Por mais que o homem resista, por mais que cultive dentro de si a erva daninha do orgulho, por mais que preserve a floresta da própria ignorância, o processo de germinação da Semente Divina é irreversível, porque todos os homens, o que significa dizer todos os espíritos, vinculados a Terra, encarnados e desencarnados, foram fecundados desde o nascimento do Senhor sobre o mundo!
Reparemos que, há dois mil anos, Cristo era uma semente recusada pela terra, um verbo sem eco, uma presença que o homem não suportava; no entanto, ao longo destes vinte séculos, reparamos que a idéia vai, devagar, tomando conta do homem; é verdade que ainda existem resistências, é verdade que o Cristo continua, até hoje sendo combatido, mas é verdade também que se tem corporificado no planeta espíritos que outrora combateram essa idéia e que, agora, estão encarregados de fazê-las desenvolver...
Nas páginas do Novo Testamento, está claro que Herodes tentou eliminar a semente, tentou destruir a idéia que o Senhor da Vida viera plantar na gleba dos corações. Hoje, ainda os Herodes de ontem pelejam contra o Evangelho; mudaram de tática, mas têm combatido, sem tréguas, de modo sistemático, a Boa Nova. Mesmo na Doutrina Espírita, abençoado celeiro da semente que Jesus representa mesmo na Doutrina Espírita, repetimos, existem aqueles que desejam afastar a presença do Cristo.
É indispensável, prezados irmãos que deixemos, dentro de nós, crescer e alastrar-se a semente Divina. Paulo de Tarso, quando afirmou: “Não sou eu quem vivo mas, sim, o Cristo que vive em mim”, demonstrou que nele a semente que germinou ao Sol causticante do deserto, às portas de Damasco, se desenvolveu de forma prodigiosa... Paulo transformou-se num semeador das sementes provindas das sementes primeiras!
Sejamos todos semeadores da semente que em nos foi plantada. Semeemos, espalhemos a semente cristã, para que o mundo se transforme em sementeira do Senhor.
Jesus a de nos abençoar e, sem dúvida, apesar de nossa indiferença, a semente à qual nos referimos vingará e, um dia, haveremos de nos transformar em uma árvore de grandes bênçãos para a Humanidade inteira!...


Irmão José
Mediunidade, Corpo e Alma
Carlos A Baccelli

Espíritos a Distância

O médium há que ter muita firmeza no cumprimento do dever.
Os companheiros que participam de uma reunião mediúnica necessitam estar integrados, unidos na mesma comunhão de pensamentos.
Os espíritos que aqui vieram, por mais rebelados se mostrem, são todos espíritos enfermos, enfermos e necessitados de auxílio espiritual...
Por mais ergam a voz em desespero, por mais chorem em rebeldia e por mais blasfemem, são espíritos doentes, por assim dizer, indigente da Vida Espiritual que aqui são trazidos em busca de lenitivo; no entanto, além dos limites materiais e espirituais do templo que nos recebe, permanecem aquelas entidades mais ou menos conscientes quanto à sua situação de revolta diante das Leis Divinas...
Essas entidades, a distância, dardejam vibrações contra o grupo no intuito de atrapalhar o bom andamento de suas atividades. Esses nossos irmãos, ainda mais infelizes do que aqueles que aqui se encontram, enviam constantes emissões mentais negativas com o propósito de envolver o médium que se dispõe ao serviço de intercâmbio; é como se, lá fora, ao longe, alguém estivesse, caprichosamente, nos arremessando pedras contra o telhado...
Neste sentido é que tomamos a liberdade de chamar-lhes a atenção, porquanto, em contato com as entidades que aqui foram trazidas ou que aqui vieram espontaneamente, muitos talvez se admirem da condição espiritual desses irmãos desenfaixados do corpo físico, mas, se aqui vieram, é porque se encontram em condições melhores do que aqueles que não puderam vir, e tramam, a distância, nas dimensões espirituais em que erram, o comprometimento da tarefa em que todos nos encontramos empenhados. Daí ser imperioso que o médium tenha firmeza e não se intimide, não tenha receio do contato com essas entidades infelizes que lhe batem as portas do psiquismo, mas que se acautele contra esses outros nossos irmãos que aqui não vêm e que permanecem, à espreita, tramando, ao longe, a ruína do grupo.


Odilon Fernandes
Carlos A. Baccelli
Mediunidade Corpo e Alma

Centros Mal – Orientados

Infelizmente, algumas casas espíritas prestam um desserviço à Doutrina dão-nos a impressão de que foram construídas apenas para atender a vaidade dos médiuns que as edificaram.
Não somos contrários aos diretores reconhecidamente bem intencionados e idealistas que permanecem por longo tempo nos cargos que ocupam. A causa espírita necessita dos que não abram mão de seus deveres para com ela. Excesso de liberalidade doutrinária é tão prejudicial à casa espírita quanto aos regimes ditatoriais impostos por alguns diretores, que anseiam por se perpetuar nos postos de direção.
Por vezes, a renovação da diretoria é de vital importância para que a casa espírita se renove em suas atividades, com a descentralização do poder. No entanto precisamos reconhecer que, por outro lado, muitos novos diretores costumam ser um desastre, pois, consentindo que o cargo lhes suba à cabeça, tomam atitudes arbitrárias e passam a ser elementos desagregadores.
Não se admite em um núcleo espírita, a luta pelo poder. Jesus nos advertiu quanto aos perigos de uma casa dividida, afirmando que ela não seria capaz de se manter de pé.
Nos centros espíritas de boa formação doutrinária, prevalece o espírito de equipe; ninguém trabalha com o desejo de aparecer, de reter as chaves da instituição no bolso, de modo que certas portas não sejam abertas sem a sua presença... Não se tecem comentários desairosos sobre os companheiros, como se, o que se pretendesse, fosse desestabilizá-los nas tarefas que permanecem sob a sua responsabilidade.
Os dirigentes de uma instituição espírita necessitam ter pulso firme, transparência nas decisões, fraternidade no trato para com todos, submetendo-se sempre à orientação da Doutrina. Pontos de vista estritamente pessoais não devem ter espaços no Movimento.
Centros espíritas mal orientados passam para a comunidade uma imagem deturpada do Espiritismo. A divulgação da Doutrina começa pela fachada de uma casa espírita. Até o seu ambiente físico carece ser acolhedor, iluminado. Construções suntuosas muitas vezes espiritualmente estão vazias. Os centros espíritas devem ter a preocupação de ser a continuidade da Casa dos Apóstolos, em Jerusalém amparo aos desvalidos e luz para os que vagueiam nas sombras, sempre, em nome do Senhor, de portas descerradas à necessidade de quem quer que seja.
Num templo espírita é indispensável à divisão de tarefas; muitos núcleos permanecem de portas fechadas na maioria dos dias da semana, porque os seus dirigentes não sabem promover os companheiros... O ciúme e o apego injustificável de muitos dirigentes acabam por deixar ocioso o espaço de uma casa espírita, quase a semana inteira. Não vale a justificativa de que os seareiros sejam poucos... Cuide-se das atividades doutrinárias de base a evangelização e a mocidade e não se terá o problema de escassez de braços para o trabalho doutrinário.
Nos centros mal orientados, nos quais o campo de serviço é restrito, os Espíritos Superiores não têm muito que fazer. Quanto mais numerosas, diversificadas e sérias as atividades de uma casa espírita, maior a tutela da Espiritualidade e maior a equipe dos desencarnados que com ela se dispõem a colaborar.
Os dirigentes, médiuns responderão pela sua omissão e arbitrariedade à frente de um núcleo espírita.

Livro: Conversando com os Médiuns.
Espírito: Odilon Fernandes.
Médium: Carlos A. Baccelli.

Observe para Atender

A piedade é o melancólico, mas
celeste precursor da caridade.
primeira das virtudes que a tem
por irmã e cujos benefícios ela
prepara e enobrece.
(Alan Kardec, E.S.E. Cap.XIII- ltem 17).

Você comentará falhas alheias, sem resultado edificante, e se fará dilapidador das fraquezas do próximo. Você censurará o vizinho, sem lhe retificar a posição, e se converterá em juiz impiedoso das vicissitudes dos outros.
Você discutirá as imperfeições do amigo, sem lhe modificar a situação moral, e se transformará em algoz de
quem já é vitima de si mesmo.
Você debaterá problemas dos conhecidos, sem os solucionar, e se tornará leviano examinador das causas
que lhe não pertencem.
Você exporá feridas do caráter das pessoas, sem as medicar, e se situará na condição de enfermeiro negligente em doenças a que lhe não cabe oferecer assistência.
*
Cale o verbo que não ajuda, observe e sirva.
Você caminha sob a mesma ameaça. Os outros observam-no também.
Deixe que a tentação da censura morra asfixiada no algodão do silêncio.
Ninguém é infeliz por prazer.
Os que mais erram são doentes contumazes que requerem o medicamento fraterno da prece e do entendimento.
O comentário improdutivo é gás que asfixia as plantas da esperança alheia.
Sua censura é espinho na alma do vizinho.
A exposição dos insucessos do próximo é estilete a ferir-lhe a chaga aberta.
*
Recorde o Mestre e examine-se.
Sua ascensão apóia-se na ascensão dos companheiros.
A queda de alguém é embaraço em seu caminho.
Auxilie sem exigência e indistintamente.
Permita ao grande tempo a tarefa de corrigir e educar. Confira a você mesmo o impositivo somente de ajudar.
* * *
Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Glossário Espírita-Cristão.
Ditado pelo Espírito Marco Prisco.
4a edição. Salvador, BA: LEAL, 1993.

OS TESOUROS DO CORAÇÃO



Queridos irmãos de jornada, devotados companheiros do ideal do Amor e da Luz:
a Bondade de Jesus é o cântico que, dia a dia, nos alcança, seja através do brilho do Sol, seja pela riqueza da convivência entre os semelhantes, invariavelmente entre brisas e flores, trabalho e experiência, esperanças e sonhos...
A vida, mesmo quando as dores e as provações surgem, é a expressão da Presença de Deus, osculando-nos as almas e inspirando-nos as virtudes da caridade e do perdão...
Quando nos dispomos a aprender e a servir, sob as claridades dos ensinos de Nosso Senhor Jesus Cristo, fácil se torna para nós a visão espiritual de todas as coisas, de modo que os tesouros do coração se nos revelam a todo instante, enaltecendo-nos o existir, os projetos, o comportamento...
Meus amigos: tudo o que o Espiritismo com Jesus nos ensina é o reflexo inteligente e ordenado da Vida Abundante.
Quando uma criança toma contato com as primeiras letras na Escola, insere-se ela no universo da cultura e da educação que dignifica a vida social, definindo o caráter das civilizações. Conhecer os valores eternos da Criação e as realidades do Espírito em permanente comunhão entre a Terra e o Céu, significa para um coração encarnado a conquista dos mais valiosos tesouros, porque, sinceramente, meus irmãos, impossível torna-se a alguém enxergar a Luz e permanecer totalmente indiferente a seus valores transcendentais!...
Caminhamos todos de mãos dadas... às vezes, ocorre alguma deserção que perdura o tempo necessário à ilusão cultuada do indivíduo, que visitado pelas dores consequentes à sua deserção e rebeldia, retorna ao aprisco e passa a valorizar a amizade e a ternura, o serviço do Bem e o Amor de Jesus!
Temos de novo à nossa frente o Natal... e a sublimidade daquela noite de Belém como que se reedita, deixando irradiar o excelso Amor que foi depositado na inesquecível Manjedoura, sob o calor devotado de Maria e José, entre cânticos de louvores e bem-aventuranças!...
Compreendemos que a caminhada da nossa ignorância e rebeldia em direção da Grande Luz da Misericórdia tem sido dura, entre decepções e amarguras, sofrimentos e dores. No entanto, amigos, como aprender o caminho sem os benditos aguilhões que nos guiam os sentimentos e os passos?!... como assumir a espiritualidade latente de nossa alma sem quebrar as carapaças grosseiras do egoísmo e do orgulho, das vaidades e dos vícios?!...
Temos, todos nós, infinitos motivos de júbilo e esperança. E é nosso dever moral a gratidão a Deus, a Jesus, aos Bons Espíritos e também aos semelhantes encarnados – sejam eles quem sejam!
O universo do Pai é uma sinfonia de Amor e Alegria! Quando as escamas da presunção caem de nossos olhos espirituais, o deslumbramento é inevitável e o único caminho que nos resta, ante a magnificente beleza e perfeição do Pai é o sentimento reverente, entre a humildade e a doçura de coração – os tesouros eternos do Espírito!
Por isso, por compreender todas as dores dos irmãos da Terra, solidariamente convidamos aos que nos honram com seu carinho e com sua atenção – o que sinceramente não julgamos merecer – a seguirmos com Jesus, fazendo de nossa Doutrina Espírita o caminho da Vida, o coroamento das lutas, pela adoção da Caridade!
Nossos votos de união e fraternidade entre nós. Que o Senhor, através denossa Mãe Santíssima, nos ampare e nos inspire o Bem!
Do irmão e servidor de sempre,
Chico Xavier.
(Mensagem psicografada pelo médium Wagner G. Paixão, em reunião pública do Grupo Espírita da Bênção, em Mário Campos, MG, na noite de 12 de novembro de 2012)

A Moral e os Recursos da Natureza

Deolindo amorim

Artigo publicado no periódico Estudos Psíquicos - Janeiro de 1949

Entre o passe magnético e o passe espírita, conquanto ambos produzam efeitos curativos, há distinção evidente. Ainda há pouco tempo, encontrando-se no Rio de Janeiro, o Dr. Aribaldo Lelis, residente em Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, ex-presidente da Federação Espírita daquele Estado, médico, fez uma conferência sobre este assunto, na Liga Espírita do Brasil. Demonstrou o abalizado conferencista que o passe magnético pode ser perfeitamente explicado nos domínios da Física, desde que se tenha conhecimento das leis do Magnetismo. Lembrando que tanto em determinados minerais, como em árvores e animais pode ser encontrada a força magnética em potencial bem adiantado, estabeleceu, de maneira magistral, o paralelo entre o passe espírita e o passe magnético.
É verdade que tanto se faz cura pelo passe magnético, e há numerosos fatos a este respeito, como pelo passe espírita. O passe magnético é de origem humana, enquanto o passe espírita é de origem espiritual. Embora se trate de elucidação elementar, visto que qualquer estudioso do assunto sabe que há pessoas dotadas de força magnética em estado bem adiantado, ainda existe confusão neste terreno. Confusão, aliás, sem razão de ser, porquanto o passe espírita não provém do fluido animal, embora tenha necessidade do fluido humano. Sabe-se que o médium, com seus fluidos próprios, colabora com o espírito; mas é preciso ter em vista que o médium não passa de instrumento do espírito. O passe não é do médium, mas do espírito, cujos fluidos, ninguém o negaria, se combinam com os fluidos do médium. Há, entretanto, quem ainda confunda médium com magnetizador.
A mediunidade está sujeita a sanções morais. O médium não é uma criatura biologicamente diferente das outras, nem é um ser privilegiado; mas, em função da mediunidade, que tem um fim superior, em qualquer grau em que se manifeste, o médium não deixa de ter grande responsabilidade moral. A confusão entre o médium e o magnetizador pode trazer prejuízos de ordem moral, justamente porque, uma vez reduzida a mediunidade ao valor de uma força puramente humana, cai muito a responsabilidade do médium. O magnetizador, conforme seja a sua concepção da vida ou as suas tendências morais, poderá dizer que o fluido animal é seu, e que, portanto, faz desse fluido o uso que quiser; o médium, porém, não pode dizer assim, porque a mediunidade traz uma soma não pequena de deveres morais, sobretudo porque a faculdade mediúnica vem para o progresso espiritual e não para fins exclusivamente materiais.

***
Em sã consciência, todas as forças que a natureza põe a serviço do homem devem ser empregadas para o bem. O magnetismo, de qualquer forma, é uma força que o homem não inventou nem adquiriu por compra. Logo, à luz da razão e da moral, a força magnética não é também propriedade do magnetizador. O homem, afinal de contas, não é dono de nenhuma força da natureza; mas é sempre necessário considerar que a mediunidade se distingue do magnetismo, porque tem leis e fins especiais. O magnetismo, entretanto, não está absolutamente, como pode parecer, fora da lei moral.
O fato de um indivíduo ter força magnética e não provir essa força de entidades espirituais, o que mostra a distinção entre o passe espírita e o passe magnético, não quer dizer que o indivíduo pode utilizar o magnetismo para fins de exploração. Quando o magnetizador tem boa formação moral, quando sabe, portanto, fazer bom uso de suas faculdades, não emprega a força magnética senão a serviço do bem. A distinção entre o magnetismo e a mediunidade não exclui o magnetizador da sanção moral quando faz de seus poderes magnéticos um instrumento do mal.
A Doutrina Espírita mostra que todos os recursos da natureza devem ter fim útil, porque esses recursos pertencem à grande obra da criação divina. Como a mediunidade, o magnetismo, os dons da inteligência, todos esses recursos podem ser úteis ou maléficos, conforme o estado moral de quem os possui. O magnetismo é, igualmente, um instrumento do bem, um meio de se aliviar o sofrimento do próximo. Logo, esse instrumento, que não é, convém repetir, propriedade do homem, deve ter aplicação honesta. Tanto em relação ao médium, que é instrumento dos espíritos, como em relação ao magnetizador, que é instrumento de forças da natureza, o “denominador comum” é sempre a moral. Sem a moral ensinada e exemplificada por Jesus, tanto a mediunidade como o magnetismo, como quaisquer outros dons, são instrumentos perigosos a serviço do mal. Implante-se a moral no homem, e todos os dons, venham da natureza ou do mundo espiritual, serão empregados para o bem da humanidade. A moral, portanto, é o bastão com que o homem há de dirigir e utilizar os recursos que recebe da Providência.
Assim abroquelado, o verdadeiro magnetizador poderá conseguir autênticos milagres terapêuticos, tendo sempre em vista o auxilio que o Alto nunca regateia a quem trabalha desinteressadamente, utilizando os recursos infinitos da Natureza.
O charlatanismo é que se deve evitar sempre, em beneficio de uma doutrina de amor e caridade que procura elevar o homem, imunizando-o o mais possível contra os germes derrotistas que buscam a sombra para exercer a sua ação maléfica.

Restrições ao Livre-Arbítrio

Deolindo amorim

Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo - Janeiro de 1956- Número 12

Faz pouco tempo, estávamos discorrendo, aliás, perfunctoriamente, sobre o problema do livre-arbítrio e do determinismo, durante uma palestra espírita, e lá estava um moço (estudante de Medicina), que, não sendo espírita, aparecera no Centro, apenas para acompanhar um amigo seu.
Terminada a palestra, fomos informados, à saída, de que o estudante de Medicina, fazendo críticas aos nossos comentários, dissera o seguinte: Ora tudo isso está explicado pela endocrinologia; são as glândulas endócrinas que determinam o caráter e o comportamento do homem.
Queria ele dizer, pelo que nos informaram, que a evolução do espírito não tem influência alguma no caráter e nas atitudes: tudo depende das glândulas de secreção interna.
Toda generalização é perigosa. A endocrinologia explica muita coisa, não há dúvida, mas é preciso notar que o caráter do homem não depende exclusivamente do estado das glândulas.
É justamente aqui, neste ponto, que o campo da especialização médica, por exemplo, embora restrito e privativo, não pode deixar de permitir a penetração de certos princípios filosóficos.
Não é mais possível, hoje em dia, colocar no vestíbulo da cultura especializada uma legenda ou advertência proibitória, semelhante àquela que o filósofo antigo colocou à porta de seu retiro: Aqui não entra quem não souber Geometria!
Não há, presentemente, um ramo da cultura que possa ficar, como se diz, hermeticamente fechado à incidência de solicitações e discussões mais amplas, fora do círculo restrito dos iniciados. Já dissemos isto mesmo, sobre a obra de Fernando Ortiz – La Filosofia Penal de los Espiritistas, precisamente porque o criminalista cubano, sem ser espírita, sai do campo limitado de uma especialidade e vai procurar, na filosofia do Espiritismo, a solução para muitos problemas de Direito Penal. (1)
É natural que um estudante de Medicina, principalmente quando desconhece inteiramente a Doutrina Espírita, veja o problema do caráter pelo prisma exclusivo do funcionamento de certas glândulas. Se fosse realmente assim, nada mais fácil do que classificar os tipos humanos de acordo com o seu sistema endócrino.
A Doutrina Espírita não desconhece a influência das glândulas endócrinas no comportamento do homem, mas o que a Doutrina afirma, ao mesmo tempo, é que essa influência não destrói a tese filosófica do livre-arbítrio.
Vejamos o que diz a Doutrina Espírita sobre este problema, que é, hoje, mais atual do que nunca:
“O exercício das faculdades do espírito depende dos órgãos que lhe servem de instrumento. Aquelas (as faculdades) são enfraquecidas pela grosseria da matéria”. (“Livro dos Espíritos”, questão n.º 367)
Afirma-se aí, inegavelmente, em tese geral, a influência do organismo sobre a matéria ou, para usar linguagem técnica, a influência do soma sobre o psíquico. Se o organismo, pela grosseria da matéria, pode enfraquecer as faculdades do espírito, dificultando-lhe, portanto, a percepção, é claro que a vontade sofre restrições inevitáveis. Isto quer dizer, portanto, que o espírito, quando encarnado, não goza da plenitude de sua vontade. Tese cediça na Doutrina Espírita. Acontece, porém, que a Doutrina, ainda no mesmo capítulo, esclarece que: não são os órgãos que dão as faculdades, mas estas que promovem o desenvolvimento dos órgãos.
Já se vê que é pela ação do espírito, pela vontade, finalmente, que os órgãos materiais se desenvolvem; não fosse a vontade, ficariam atrofiados. Logo, a influência do organismo sobre a alma não é absoluta, não chega ao extremo de anular completamente o livre-arbítrio. Não devemos perder de vista o esclarecimento pessoal de Allan Kardec, logo ao pé da resposta que lhe dera o espírito instrutor:
“Se as faculdades tivessem seu principio nos órgãos, o homem seria uma máquina, sem livre-arbítrio e sem a responsabilidade de seus atos. Fora necessário admitir que os maiores gênios, os sábios, os poetas, os artistas o são apenas porque o acaso lhes deu órgãos especiais, de onde se segue que sem tais órgãos eles não teriam sido gênios e que o mais imbecil poderia ter sido um Newton, um Virgilio ou um Rafael, desde que tivesse sido provido de certos órgãos”.
O órgão é o instrumento de que se serve o espírito para manifestar as suas tendências e aptidões. É claro que o espírito necessita de órgãos indispensáveis ao exercício de funções humanas, mas, daí, não se pode concluir que, pelo fato de possuir tais e quais órgãos, um espírito venha a ser, somente por isso, um gênio, um iluminado, ainda que não tenha o necessário refinamento.
A influência da matéria sobre a alma cria dificuldade à percepção, porque restringe muito o campo de projeção, uma vez que o ritmo vibratório sofre limitações inevitáveis. Entretanto – e é neste ponto que o Espiritismo se afasta do radicalismo determinista de certas correntes e escolas – a evolução do espírito modifica, de modo gradativo, a ação da matéria.
Se, realmente, a deficiência de um órgão ou qualquer distúrbio endócrino pode alterar o comportamento de um indivíduo, sacrificando-lhe, em grande parte, o livre-arbítrio, também é verdade que, em determinados indivíduos, tais anomalias são superadas pelo desenvolvimento espiritual.
Logo, a evolução do espírito pode levar o indivíduo a se sobrepor a tudo quanto lhe causa dificuldade à manifestação da vontade. Não é regra geral, mas disto decorre um principio importante: quanto mais adiantado é o espírito, mais facilidade tem ele para superar todas as restrições a seu livre-arbítrio, sejam restrições físicas (doenças, defeitos, etc.), sejam restrições sociais.
Há indivíduos que, mesmo quando portadores de certas moléstias graves ou quando têm defeitos aberrantes, procuram evitar a formação de complexos, criam derivativos e chegam até à sublimação, e não se deixam vencer. Isto é prova de evolução espiritual. O livre-arbítrio não é, aí, absolutamente tolhido, como parece.
Foi este o ponto que o moço estudante quis refutar, quando fazíamos a nossa palestra sobre o livre-arbítrio e determinismo, tema velho e já muito surrado. Entendia o moço, dentro de uma concepção fundada sobre uma espécie de supremacia das glândulas endócrinas, que o homem não procede, não pode agir como quer, uma vez que está na dependência do estado de suas glândulas, principalmente a tiróide.
Se assim é, podemos concluir que todo o mecanismo dos atos humanos, toda a expressão do caráter, depende exclusivamente das glândulas.
Neste caso, a endocrinologia, que é apenas um campo de especialização, teria uma extensão incalculável, tal como a Filosofia, na Grécia antiga.
A endocrinologia, se lhe quiséssemos dar tanta amplitude, terminaria invadindo a própria seara da Filosofia, porque, assim, passaria a explicar tudo quanto se refere à vontade e às ações do homem no composto matéria-espírito.
No caso de admitirmos que a solução de todos os problemas do comportamento e até das atitudes íntimas da criatura humana esteja exclusivamente na endocrinologia, teremos de chegar à conclusão inevitável de que a reforma do homem é um problema clinico, é questão de tratamento das glândulas, não é um problema moral...
Como decorrência disto, poderemos dizer que a Doutrina Espírita nada mais tem que fazer, nem é necessário tentar corrigir o homem e a sociedade, por meio da doutrinação, pelo esclarecimento evangélico, porque é nas glândulas endócrinas que está a solução do problema. Isto é o que se pode chamar posição extremada.
Nem mesmo a criminologia, que já teve época em que se agarrou muito ao chamado “arbítrio das glândulas”, poderia esposar, hoje em dia, todas as afirmativas desta corrente cientifica. Há, na personalidade humana, elementos oriundos de existências anteriores.
Já dissemos aqui, como o fizemos por ocasião de nossa palestra, que o Espiritismo reconhece a influência do organismo sobre as faculdades e as ações da alma unida ao corpo. Não vai, porém, ao exagero de generalizar a explicação de fenômenos e atos cuja causa não pode, de forma alguma, ser encontrada no sistema endócrino.
A Doutrina Espírita é ainda mais objetiva quando diz que uma aberração física pode tolher a liberdade (Livro dos Espíritos, questão n.º 847). Isto, porém, não constitui nem pode constituir argumento para se negar à tese de que, pela evolução, o espírito encarnado pode superar deficiências orgânicas, e, assim, usar o seu livre-arbítrio. Uma aberração não destrói um principio. Ainda assim, dentro de outro principio da filosofia espírita – o de que o espírito, ao voltar à Terra, pela reencarnação, vai ter um corpo adequado às condições de vida em que terá de cumprir as suas provas ou desempenhar sua missão – ainda assim, repetimos, não fica anulado o livre-arbítrio, porque o espírito escolhe a prova antes de se realizar a reencarnação. Veja-se o Livro dos Espíritos, questão n.º 258, em cujo texto se lê o seguinte:
“Ele próprio (espírito) escolhe o gênero de provas que quer sofrer, e é nisto que consiste o livre-arbítrio”.
Por detrás de uma anomalia física, por detrás de uma aberração horrenda, ainda que o espírito encarnado seja tolhido na manifestação de sua vontade, nesta existência, se esconde um principio filosófico e se revela, até nisto, a existência do livre-arbítrio, porque o espírito pode amenizar os efeitos da prova.
É claro que, se ficarmos no campo restrito da endocrinologia, sem subirmos à esfera filosófica do problema, não poderemos compreender a incógnita...
Seja como for, a influência das glândulas no comportamento do homem, por força da ação do corpo sobre a alma, é tese pacífica, e pretender contrariá-la inteiramente é assumir posição anticientifica ou desconhecer o sentido progressivo do Espiritismo, em relação com o desenvolvimento da cultura humana.
Todavia, o que o Espiritismo repele, e repele em termos lógicos, com base na experiência, é a tese absoluta de que o homem não tem vontade, não é senhor de suas ações, é um irresponsável, porque todas as suas atitudes são determinadas pelas glândulas.
(1) A obra de Ortiz foi traduzida por Carlos Imbassahy e publicada pela Livraria Allan Kardec Editora (LAKE), de S. Paulo.

A Parábola das Bodas


Artigo extraído do livro "Em Busca do Mestre" - Edições FEESP - 4ª Edição - Março de 1995.

“De novo começou Jesus a falar em parábolas, dizendo-lhes: O reino dos céus é semelhante a um rei, que celebrou as bodas de seu filho. E enviou os seus servos a chamar os convidados para a festa, e estes não quiseram vir. Enviou ainda outros servos com este recado: Dizei aos convidados: Tenho já preparado o meu banquete; as minhas rezes e os meus cevados estão mortos, e tudo está pronto; vinde às bodas. Mas eles não fizeram caso e foram, um para seu campo, outro para o seu negócio; e outros, agarrando os servos, os ultrajaram e mataram. Mas, irou-se o rei, e mandou as suas tropas exterminarem aqueles assassinos e incendiarem a sua cidade. Então disse aos servos: As bodas estão preparadas, mas os convidados não eram dignos; ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e chamai para as bodas a quantos encontrardes. Indo aqueles servos pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala nupcial ficou cheia de convivas. Mas, entrando o rei para ver os convivas, notou ali um homem que não trajava veste nupcial, e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? Ele, porém, emudeceu. – Então, o rei disse aos servos: Atai-o de pés e mãos, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.
Trata-se de um Soberano que promove um banquete de bodas, para o qual convida as pessoas gradas do seu reino.
Este acontecimento deve ser tomado em acepção espiritual, visto como Jesus o relaciona e compara com o reino dos céus, conforme reza o verso 2 da alegoria em apreço. Assim, pois, o Soberano Senhor do Universo tem preparado um festim celeste, um banquete original, por isso que se não destina à gratificação dos sentidos nem visa proporcionar deleites ao corpo, mas para regozijo e conforto das almas. Essa festividade de cunho eminentemente religioso, consiste na comunhão entre os dois planos de vida – o terreno e o celestial, ou seja, na comunhão do Céu com a Terra. Notemos que o banquete é de bodas – portanto, é festa de núpcias entre Cristo e sua igreja, participando a militante aqui na Terra e a triunfante do Além. “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estarei eu no meio deles”, tal é a solene promessa do Senhor, e em tal importa a constituição de sua igreja viva, estruturada de corações fiéis à sua palavra e aos seus exemplos, onde quer que se congreguem. Decorre, outrossim, desta circunstância o caráter de universalidade que distingue e assimila a igreja cristã.
Assim, pois, o banquete divino a que se alude na alegoria ora comentada, consiste na eucaristia de amor que se opera toda vez que os cristãos encarnados, ainda prisioneiros da carne, entram em contacto com os cristãos libertos, recebendo o influxo bendito de sua solidariedade, e o conforto incomparável do seu afeto e simpatia. A coragem que daí resulta, o bem que desse ósculo trocado entre os imortais e os mortais decorre transmitindo-lhes a coragem necessária para darem o testemunho da fé na imortalidade, na vida eterna anunciada pelo Cristo de Deus. Assim, e só assim, eles puderam manter-se firmes e intrépidos enfrentando o suplício, fosse esse suplício de que natureza fosse.
Uma coisa é ter idéia da vida futura, aceitar e mesmo crer na imortalidade como doutrina e como postulado da crença que adotamos, e outra coisa é sentir a realidade, a evidência da outra vida palpitar em nosso íntimo mediante o contacto dos Espíritos libertos, dos Espíritos que compõem a falange do Consolador, cuja assistência Jesus no-la promete solenemente em seu Evangelho.
Sabeis, por certo, o que é euforia. É o estado do indivíduo que se sente bem, é a sensação de abundância, de força e coragem, de valor e bom ânimo. Os seres superiores transmitem aos homens essa sensação que deles irradia naturalmente. Francisco de Assis, o grande místico, cuja vida foi um exemplo de humanidade, desfrutava a incomparável ventura de experimentar em seu íntimo a plenitude das graças celestiais, recebidas dessa fonte. Daí o seu desprezo pelas grandezas, pelos faustos e por todas as temporalidades do século. Joana D’Arc, a donzela de Orleans, aquela moça de guerra, liberta a sua pátria da invasão inimiga, mediante a influência de entidades espirituais que dela se serviam como instrumento, provando e demonstrando ao mundo o quanto pode e de que é capaz a ação dos Espíritos sobre os mortais. Ainda nos seus últimos momentos, supliciada na fogueira acesa na praça de Ruão, Joana dizia-se amparada pelas vozes do Céu de quem recebia energia, valor e inspiração.
A humanidade terrena não está isolada do todo. As entidades do Além penetram o plano terráqueo influindo positivamente nos atos e na conduta humana. As duas sociedades se encontram nos mútuos e recíprocos fenômenos de ação e reação.
João, em seu transcendente evangelho, diz que a lei veio por Moisés, porém a verdade e a graça nos são dadas mediante Jesus Cristo. Isto importa no fato de Moisés ter sido o intérprete da Lei, o escolhido para transmitir aos homens o teor do código divino expresso no Decálogo. A Jesus, porém, foi cometida a missão de completar o espírito da Lei, a obra de Justiça que deve culminar na Misericórdia. Por isso, a Ele compete presidir ao banquete celeste de entrelaçamento das almas – de um e de outro hemisfério, como lídima expressão da suprema graça concedida aos homens. Nós, míseros pecadores, podemos participar, por esse meio, da felicidade que fruem os Espíritos Superiores, os veros discípulos e apóstolos do Mestre Excelso, que já conquistaram a imortalidade integrando-se na vida eterna.
E não é só a graça que Jesus nos traz: Ele é também o portador da Verdade, dessa Verdade que é mais do que a ciência porque é sabedoria. Queremos nos reportar às revelações. Os maiores conhecimentos, as mais extraordinárias descobertas e as mais estupendas conquistas que o homem tem alcançado na terra, procedem da revelação. O homem é sempre, creia ou não creia, dirigido, orientado e conduzido pelos Seres Superiores, que carinhosamente acompanham seus passos no caminho de todas as tentativas nobres e elevadas a que o homem dedica os seus esforços e a sua inteligência.
A inspiração, porém, como a graça, apressamo-nos em assinalar, não vem para os indolentes, para os comodistas, gozadores e abúlicos, mas para os operosos e diligentes, adotem eles esta ou aquela crença, pouco importa. É o prêmio destinado aos que se esforçam e perseveram, aos que porfiam e lutam sem esmorecimento. É da fonte inexaurível da inspiração que emana a linfa cristalina e pura que mitiga a sede de saber, a sede de arte, a sede de Justiça, do bem, do belo e do verdadeiro que padecem as almas nobres, os Espíritos varonis. Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça porque serão saciados – eis a promessa que se cumpre no manancial das várias formas de revelações, sempre renovadas, frescas e progressivas.
Prossigamos, agora, nossos comentários sobre a passagem em questão. Preparado o festim, o Senhor e Soberano despachou emissários convidando as pessoas gradas para assistir a ele. Estas, porém, desdenharam o convite real, entregando-se às suas ocupações habituais. Fizeram ainda mais: ultrajaram os régios mandatários, perseguiram-nos e até assassinaram alguns deles.
Este passo da parábola refere-se claramente às revelações e advertências transmitidas pelos profetas, que era como se denominavam os médiuns, na antiguidade. Essas mensagens celestes, que deviam interessar aos mais avançados e mais responsáveis, por isso que dirigentes, foram sistematicamente desprezadas e ridicularizadas. Aqueles, portanto, cuja posição social justificava a primazia do convite, não se mostraram dignos dessa distinção.
Generalizando o caso, vemos que, realmente, é o que tem sucedido em toda parte, com relação à atitude dos membros da elite social diante das manifestações do plano espiritual. Tanto os ditos intelectuais, como aqueles que por outros motivos e razões ocupam posição de destaque na sociedade, receberam aqueles testemunhos de outra vida, com sarcasmos, levando-os ao ridículo. Os encarregados ou escolhidos do Senhor para funcionar como instrumentos do Alto, foram perseguidos, encarcerados e cobertos de opróbrios. Tal tem sido, através dos séculos, salvo raras e honrosas exceções, o procedimento dos homens de maior responsabilidade pelos destinos das gentes por isso que exercem autoridade sobre as massas populares. Portanto, como diz o texto, os primeiros convidados mostraram-se indignos da prerrogativa que lhes fora conferida.
Chegamos à parte mais interessante deste apólogo, visto como nos diz respeito muito de perto. Este tópico reporta-se evidentemente ao advento do Espiritismo. O surto invulgar que esta doutrina tomou em pouco mais de meio século, tempo este que muito pouco representa para a evolução de uma idéia, é realmente espantoso. Por toda parte fala-se no Espiritismo. Não há recanto da terra onde não se comentem os postulados da nova fé; não há família em cujo seio não se tenha dado algum fenômeno espírita. Em todos os meios sociais o Espiritismo constitui tema e assunto de discussões. Da choupana do pobre ao palácio dos abastados; dos insipientes aos eruditos; dos grandes aos parias – vão-se veiculando as idéias espíritas em marcha insopitável, num surto incoercível, que nenhuma força ou poder adverso pode sustar. Todas as formas de mediunidade estão em franca eclosão. As de natureza mais empolgantes, tais como a de materialização e voz direta, outrora raras, vão-se vulgarizando. A mediunidade de incorporação, mediante a qual é possível a cirurgiões do espaço realizarem intervenções de baixa e alta cirurgia; a tiptológica, a de transportes, de vidência e audição pululam aqui e acolá. A mediunidade mecânica que, através de Francisco Cândido Xavier, tem assombrado os pensadores honestos desta Pátria do Evangelho, pela sua fertilidade invulgar e pelas provas incontestáveis de autenticidade de que se reveste, desafiando a crítica mais exigente dos mais pirrônicos negativistas. Tudo isso é o que, se não a generalização do convite, ora extensivo a todos, sem distinção de classe e, mesmo, de méritos? A figura parabólica torna-se patente com o sol a pino. Só não a verá os cegos que obstinadamente fecharam os olhos para permanecerem nas trevas. As portas do salão nupcial estão abertas de par em par. O acesso é franqueado aos que o quiserem. Por isso, o augusto recinto está repleto de convivas bons e maus. Notemos bem este pormenor: bons e maus, não há escolha, não há seleção, não há preferência – os que quiserem, podem entrar, sem nenhum impedimento.
Esta figura parabólica também se acha plenamente concretizada na história do Espiritismo. Os charlatões e impostores de alto e baixo coturno apresentam-se rotulados de espíritas, pontificando em nome da Terceira Revelação. Os mercantilizadores, os exploradores da ingenuidade, da crendice e da ignorância exercem seu ignominioso comércio, a sua indecorosa e execrável simonia. Macumbeiros e feiticeiros são classificados e tidos como expressão do que se convencionou denominar – baixo espiritismo. Adeptos de todos os matizes engrossam as fieiras do novo credo: leais e dissimuladores; crentes verazes cujas convicções são baseadas no raciocínio e na observação; crentes que comprovam a justeza de sua fé pelas transformações que imprimem em si próprios; crédulos que tudo aceitam sem exame nem estudo e cujos caracteres não se modificam, permanecendo tais quais eram antes de se dizerem espíritas; estudiosos e diligentes que pedem, batem e procuram, agindo como quem sabe que o Espiritismo nada promete aos preguiçosos; curiosos, amantes de sensação, que só querem ver fenômenos, maravilhas e prodígios; almas sensitivas que desejam aprimorar seus sentimentos educando os próprios corações; homens honestos que vêm no Espiritismo à força única capaz de tirar o mundo do caos onde se debate; almas possuídas de fé que aguardam serenas e calmas o cumprimento da palavra evangélica; indivíduos atrabiliários, demagogistas, inovadores, irrequietos e insofridos – em suma – toda essa amálgama, todos esses elementos heterogêneos, com aspirações dispares e objetivos antagônicos entram no salão de bodas, confirmando o que reza o texto evangélico: Convidai indistintamente a quantos encontrardes pelas encruzilhadas dos caminhos: bons e maus. Gravemos indelevelmente em nossa mente essa particularidade, para que não nos escandalizemos a cada momento nem tenhamos decepções que nos possam arrefecer o entusiasmo e entibiar o ardor com que devemos pugnar pela vitória da verdade. Lembremo-nos de que a árvore se conhece pelos frutos, e mais ainda – que a cada um será dado segundo as suas obras. No decorrer animado e tumultuoso do festim nupcial, o Soberano Senhor entra no salão e, observando os convivas, nota que ali se acha alguém com indumentária comum, isto é, sem o traje próprio e adequado àquela cerimônia. Interroga-o então: Amigo, como entraste aqui sem veste ou túnica nupcial? O interpelado, porém, emudece. Continuando, disse o rei aos servos: Atai-o de pés e mãos, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são os chamados, mas poucos escolhidos – versos 11 a 14.
A exegese deste tópico com que o Divino Mestre fecha a parábola, é de tal evidência, que por si mesma se impõe. A veste nupcial prefigura o escrúpulo, o respeito e a santidade de que se devem revestir aqueles que tomam parte em sessões espíritas.
Quando Moisés percebeu os primeiros sinais da manifestação celestial que o procurava para transmitir-lhe o Decálogo, ouviu uma voz que dizia: Descalça as tuas sandálias porque é santa a terra que pisas. Santa, por que? Porque naquele local ia verificar-se o consórcio do céu com a terra, dos seres imortais, mensageiros e delegados de Deus com o homem. Da mesma sorte, hoje sucede. A comunhão com os Espíritos do Senhor é a eucaristia viva, eucaristia da graça com que Deus favorece o pecador através do seu Ungido, Cristo Jesus. O sentimento do bem, o desejo de alcançar mais um pouco de luz, como processo e meio de melhorar suas condições morais e intelectuais – tais são os objetivos que justificam a sagrada eucaristia. O espírito de religiosidade, a máxima sinceridade, o anseio de vencer os defeitos próprios, à vontade de contribuir para minorar as alheias aflições, de mitigar as dores do próximo, quer físicas quer psíquicas, eis os fios com que se tece e urde a túnica nupcial para o divino banquete. Comparecer ali, com as vestes da curiosidade, da presunção e do orgulho, de interesses inconfessáveis, de objetivos e malsãos – é expor-se a conseqüências funestas que variam da obsessão e possessão ao confucionismo, ao estado caótico em que o indivíduo, como Pilatos, começa a indagar: o que é a verdade? Stainton Moses, autor da obra – Ensinos Espiritualistas – cuja leitura recomendamos, narra, naquele livro, o que lhe sucedeu em uma sessão espírita onde compareceu despreocupadamente, assim como quem vai assistir a um espetáculo. Após os acontecimentos que então se deram com ele, dos quais quase resultou a sua morte, Stainton Moses – médico culto e experimentado – aconselha que jamais se promovam reuniões e trabalhos espíritas desacompanhados do espírito religioso, que deve presidi-las. E, por falar nesse espírito religioso, lembrado pelo autor em apreço, ocorre-nos à mente que certos espíritas pretendem que o Espiritismo seja ciência, tão somente ciência, nada tendo que ver com religião, por isso que é doutrina isenta de ritos e cerimônias. A nosso ver, esse juízo é destituído de fundamento, procede de uma falsa visão. Em que ramo da ciência estará o Espiritismo? Estará acaso na Química, na Astronomia, na Fisiologia, na Botânica ou na Sociologia? Ou se fará mister criar um vocábulo novo, com pronúncia arrevesada, de raiz grega, para substituir o nome plebeu com que o batizaram? O Espiritismo está em todos os ramos da ciência, sendo ainda a ciência do coração, a ciência da moral, do Destino, numa palavra – a ciência da vida, por isso que veio comprovar a imortalidade. Cumpre também considerar que uma das suas grandes realizações consiste precisamente na conjugação que veio estabelecer entre a ciência e a religião, a fé e a razão, apagando as causas de dissídio entre aquelas expressões. Com o seu advento a “fé encara a razão face a face em todas as épocas da humanidade”, e a religião caminha de mãos dadas com a ciência, visto como se a pequena ciência nega a Divindade, a grande ciência a confirma e atesta em todas as suas mais transcendentes conquistas, em todas as suas mais empolgantes pesquisas e indagações, promovendo assim a religião do homem com Deus, o que importa no verdadeiro espírito da religião. Assim o compreendeu o grande sábio Flammarion, astrônomo e matemático, conforme vemos em sua belíssima obra intitulada: DEUS NA NATUREZA, livro primoroso através de cujas páginas aprendemos a admirar a Divindade no altar santíssimo da sua infinita criação. Acaso, Flammarion consideraria o Espiritismo apenas como ciência, quando escreveu a citada produção? Se o Espiritismo não contivesse em sua estrutura o ideal religioso, não sabemos por que Kardec, o compilador dos seus postulados, se referiu à fé, à moral cristã, aos ensinamentos e aos exemplos do humilde filho do carpinteiro, intitulando um dos seus livros: O Evangelho segundo o Espiritismo. Não compreendemos igualmente por que denominam o Espiritismo de Terceira Revelação. Ora, revelação é mensagem dos Espíritos Superiores, contendo advertência, conselhos e exortações de natureza moral, relativa ao procedimento e à conduta dos homens. Reportam-se geralmente à lei que rege o nosso destino, às conseqüências dos nossos atos repercutindo no outro plano da vida; não tratam precisamente de assuntos científicos na acepção em que os homens tomam essas expressões. Revelação é termo de significado puramente religioso, sendo neste conceito que está aplicado ao Espiritismo. Tirai do Espiritismo o cunho religioso, e tereis, com isso, abolido a sua missão de consolar, de suavizar e lenir as dores humanas, destituindo-o dessa maneira do seu mais belo e glorioso apanágio.
Tirai do Espiritismo o seu caráter religioso e tereis destruído nele aquele poder miraculoso de enxugar o pranto dos aflitos, convertendo em gozo os mais acerbados sofrimentos, conforme tem feito e continua fazendo.
Tirai do Espiritismo a feição religiosa e tereis secado a sua fonte de bênçãos e de conforto moral, onde tantas almas sedentas de amor se têm saciado.
Tirai, finalmente, do Espiritismo a sua qualidade de religião e tê-lo-eis reduzido à fria condição de objeto de curiosidades e de especulações meramente diletantes, inócuas e estéreis, quando não fossem prejudiciais, por isso que sem finalidade moral.
O Espiritismo encerra um programa educacional completo: dirige-se ao cérebro e ao coração, promove o culto da inteligência ao lado do culto do sentimento.
Mas, não nos admiremos de que nem todos ainda o vejam por esse prisma; o salão está cheio de convivas de toda a espécie. Soa, no entanto, a hora da seleção. O mundo atravessa uma crise de reajustamento sob todos os aspectos e em todos os setores de atividade humana. Aproxima-se, pois, o momento em que se cumprirá a profecia contida na derradeira sentença desta parábola: MUITOS SÃO OS CHAMADOS, MAS POUCOS OS ESCOLHIDOS.
Quanto aos que não envergam a túnica nupcial, colherão os efeitos de sua atitude irreverente, caindo no confucionismo, deblaterando no caos, sem rumo, impossibilitados de prosseguir em seus intentos criminosos, conforme prefigura a sentença do promotor do festim: A marrai-o de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores: ali haverá choro e ranger de dentes.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

(...)Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos nossos apelos, em face da Lei de Moisés. A Lei é humana; o Evangelho é divino. Moisés é o condutor; O Cristo, o Salvador....

Trecho do Livro Paulo e Estevão  ditado por Emmanuel e psicografado por Chico Xavier.

...O moço, magro e pálido, em cuja assistência os mais infelizes julgavam
encontrar um desdobramento do amor do Cristo, orou em voz alta suplicando
para si e para a assembléia a inspiração do Todo-Poderoso. Em seguida, abriu
um livro em forma de rolo e leu uma passagem das anotações de Mateus:
— Mas, ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; e, indo, pregai
dizendo: é chegado o reino dos Céus. (1)
Estevão ergueu alto os olhos serenos e fulgurantes, e, sem se perturbar
com a presença de Saulo e dos seus numerosos amigos, começou a falar mais
ou menos nestes termos, com voz clara e vibrante:
— “Meus caros, eis que chegados são os tempos em que o Pastor vem
reunir as ovelhas em torno do seu zelo sem limites. éramos escravos das
imposições pelos raciocínios, mas hoje somos livres pelo Evangelho do Cristo
Jesus. Nossa raça guardou, de épocas imemoriais, a luz do Tabernáculo e
Deus nos enviou seu Filho sem mácula. Onde estão, em Israel, os que ainda
não ouviram as mensagens da Boa Nova? Onde os que ainda não se
felicitaram com as alegrias da nova fé? Deus enviou sua resposta divina aos
nossos anseios milenários, a revelação dos Céus aclara os nossos caminhos.
Consoante as promessas da profecia de todos quantos choraram e sofreram
por amor ao Eterno, o Emissário Divino veio até ao antro de nossas dores
amargas e justas, para iluminar a noite de nossas almas impenitentes, para
que se nos desdobrassem os horizontes da redenção. O Messias atendeu aos
problemas angustiosos da criatura humana, com a solução do amor que redime
todos os seres e purifica todos os pecados. Mestre do trabalho e da perfeita
alegria da vida, suas bênçãos representam nossa herança. Moisés foi a porta,
o Cristo é a chave. Com a coroa do martírio adquiriu, para nós outros, a láurea
imortal da salvação. éramos cativos do erro, mas seu sangue nos libertou. Na
vida e na morte, nas
(1) Mateus, capítulo 10º, versículos 6 e 7. — (Nota de Emmanuel.)
alegrias de Caná, como nas angústias do Calvário, pelo que fez e por tudo que
deixou de fazer em sua gloriosa passagem pela Terra, Ele é o Filho de Deus
iluminando o caminho.
“Acima de todas as cogitações humanas, fora de todos os atritos das
ambições terrestres, seu reino de paz e luz esplende na consciência das almas
redimidas.
“Ó Israel! tu que esperaste por tantos séculos, tuas angústias e dolorosas
experiências não foram vãs!... Enquanto outros povos se debatiam nos
interesses inferiores, cercando os falsos ídolos de falsa adoração e
promovendo, simultaneamente, as guerras de extermínio com requintes de
perversidade, tu, Israel, esperaste o Deus justo. Carregaste os grilhões da
impiedade humana, na desolação e no deserto; converteste em cânticos de
esperança as ignomínias do cativeiro; sofreste o opróbrio dos poderosos da
Terra; viste os teus varões e as tuas mulheres, os teus jovens e as tuas
crianças exterminados sob o guante das perseguições, mas nunca descreste
da justiça dos Céus! Como o Salmista, afirmaste com teu heroismo que o amor
e a misericórdia vibram em todos os teus dias! Choraste no caminho longo dos
séculos, com as tuas amarguras e feridas. Como Job, viveste da tua fé,
subjugada pelas algemas do mundo, mas já recebeste o sagrado depósito de
Jeová — O Deus Único!... Oh! esperanças eternas de Jerusalém, cantai de
júbilo, regozijai-vos, embora não tivéssemos sido fiéis inteiramente à
compreensão, por conduzir o Cordeiro Amado aos braços da cruz. Suas
chagas, todavia, nos compraram para o céu, com o alto preço do sacrifício
supremo!...
“Isaías o contemplou, vergado ao peso de nossas iniqüidades, florescendo
na aridez dos nossos corações, qual flor do céu num solo adusto, mas, revelou
também, que, desde a hora da sua extrema renúncia, na morte infamante, a
sagrada causa divina prosperaria para sempre em suas mãos.
“Amados, onde andarão aquelas ovelhas que não souberam ou não
puderam esperar?
Procuremo-las para o Cristo, como dracmas perdidas do seu desvelado
amor!
Anunciemos a todos os desesperançados as glórias e os júbilos do seu
reino de paz e de amor imortal!...
“A Lei nos retinha no espírito de nação, sem conseguir apagar de nossa
alma o desejo humano de supremacia na Terra. Muitos de nossa raça hão
esperado um príncipe dominador, que penetrasse em triunfo a cidade santa,
com os troféus sangrentos de uma batalha de ruína e morte; que nos fizesse
empunhar um cetro odioso de força e tirania. Mas o Cristo nos libertou para
sempre. Filho de Deus e emissário da sua glória, seu maior mandamento
confirma Moisés, quando recomenda o amor a Deus acima de todas as coisas,
de todo o coração e entendimento, acrescentando, no mais formoso decreto
divino, que nos amemos uns aos outros, como Ele próprio nos amou.
“Seu reino é o da consciência reta e do coração purificado ao serviço de
Deus. Suas portas constituem o maravilhoso caminho da redenção espiritual,
abertas de par em par aos filhos de todas as nações.
“Seus discípulos amados virão de todos os quadrantes. Fora de suas luzes
haverá sempre tempestade para o viajor vacilante da Terra que, sem o Cristo,
cairá vencido nas batalhas infrutuosas e destruidoras das melhores energias do
coração. Somente o seu Evangelho confere paz e liberdade. Ë o tesouro do
mundo. Em sua glória sublime os justos encontrarão a coroa de triunfo, os
infortunados o consolo, os tristes a fortaleza do bom ânimo, os pecadores a
senda redentora dos resgates misericordiosos.
“É verdade que o não havíamos compreendido. No grande testemunho, os
homens não entenderam sua divina humildade, e os mais afeiçoados o
abandonaram. Suas chagas clamaram pela nossa indiferença criminosa.
Ninguém poderá eximir-se dessa culpa, visto sermos todos herdeiros das suas
dádivas celestiais. Onde todos gozam do benefício, ninguém pode fugir à
responsabilidade. Essa a razão por que respondemos pelo crime do Calvário.
Mas, suas feridas foram a nossa luz, seus martírios o mais ardente apelo
de amor, seu exemplo o roteiro aberto para o bem sublime e imortal.
“Vinde, pois, comungar conosco à mesa do banquete divino! Não mais as
festas do pão putrescível, mas o eterno alimento da alegria e da vida... Não
mais o vinho que fermenta, mas o néctar confortante da alma, diluído nos
perfumes do amor imortal.
“O Cristo é a substância da nossa liberdade. Dia virá em que o seu reino
abrangerá os filhos do Oriente e do Ocidente, num amplexo de fraternidade e
de luz. Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos
nossos apelos, em face da Lei de Moisés. A Lei é humana; o Evangelho é
divino. Moisés é o condutor; O Cristo, o Salvador. Os profetas foram mordomos
fiéis; Jesus, porém, é o Senhor da Vinha. Com a Lei, éramos servos; com o
Evangelho, somos filhos livres de um Pai amoroso e justo!...”
Nesse ínterim, Estevão sustou a palavra que lhe fluía harmoniosa e
vibrante dos lábios, inspirada nos mais puros sentimentos. Os ouvintes de
todos os matizes não conseguiram ocultar o assombro, ante os seus conceitos
de vigorosas revelações. A multidão embevecera-se com os princípios
expostos. Os mendigos, ali aglomerados, endereçavam ao pregador um sorriso
de aprovação, bem significativo de jubilosas esperanças. João fixava nele os
olhos enternecidos, identificando, mais uma vez, no seu verbo ardente, a
mensagem evangélica interpretada por um discípulo dileto do Mestre
inesquecível, nunca ausente dos que se reúnem em seu nome.
Saulo de Tarso, emotivo por temperamento, fundia-se na onda de
admiração geral; mas, altamente surpreendido, verificou a diferença entre a Lei
e o Evangelho anunciado por aqueles homens estranhos, que a sua
mentalidade não podia compreender. Analisou, de relance, o perigo que os
novos ensinos acarretavam para o judaísmo dominante. Revoltara-se com a
prédica ouvida, nada obstante a sua ressonância de misteriosa beleza. Ao seu
raciocínio, impunha-se eliminar a confusão que se esboçava, a propósito de
Moisés. A Lei era uma e única. Aquele Cristo que culminou na derrota, entre
dois ladrões, surgia a seus olhos como um mistificador indigno de qualquer
consideração. A vitória de Estevão na consciência popular, qual a verificava
naquele instante, causava-lhe indignação. Aqueles galileus poderiam ser
piedosos, mas não deixavam de ser criminosos pela subversão dos princípios
invioláveis da raça.
O orador preparava-se para retomar a palavra, momentaneamente
interrompida e aguardada com expectação de júbilo geral, quando o jovem
doutor se levantou ousadamente e exclamou, quase colérico, frisando os
conceitos com evidente ironia.
— “Piedosos galileus, onde o senso de vossas doutrinas estranhas e
absurdas? Como ousais proclamar a falsa supremacia de um nazareno
obscuro sobre Moisés, na própria Jerusalém onde se decidem os destinos das
tribos de Israel invencível? Quem era esse Cristo? Não foi um simples
carpinteiro ?“
Ao orgulhoso entono da inesperada apóstrofe, houve no ambiente um tal ou
qual retraimento de temor, mas, dos desvalidos da sorte, para quem a
mensagem do Cristo era o alimento supremo, partiu para Estevão um olhar de
defesa e jubiloso entusiasmo. Os Apóstolos da Galiléia não conseguiam
dissimular seu receio. Tiago estava lívido. Os amigos de Saulo notaram-lhe a
máscara escarninha. O pregador também empalidecera, mas revelava no olhar
resoluto o mesmo traço de imperturbável serenidade. Fitando o doutor da Lei, o
primeiro homem da cidade que se atrevera a perturbar o esforço generoso do
evangelismo, sem trair a seiva de amor que lhe desbordava do coração, fez ver
a Saulo a sinceridade das suas palavras e a nobreza dos seus pensamentos. E
antes que os companheiros voltassem a si da surpresa que os assomara, com
admirável presença de espírito, indiferente à impressão do temor coletivo,
obtemperou:
— “Ainda bem que o Messias fora carpinteiro: porque, nesse caso, a
Humanidade já não ficaria sem abrigo. Ele era, de fato, o Abrigo da paz e da
esperança! Nunca mais andaremos ao léu das tempestades nem na esteira
dos raciocínios quiméricos de quantos vivem pelo cálculo, sem a claridade do
sentimento.”
A resposta concisa, desassombrada, desconcertou o futuro rabino,
habituado a triunfar nas esferas mais cultas, em todas as justas da palavra.
Enérgico, ruborizado, evidenciando cólera profunda, mordeu os lábios num
gesto que lhe era peculiar e acrescentou com voz dominadora:
— Aonde iremos com semelhantes excessos de interpretação, em torno
de um mistificador vulgar, que o Sinédrio puniu com a flagelação e a morte?
Que dizer de um Salvador que não conseguiu salvar-se a si mesmo? Emissário
revestido de celestes poderes, como não evitou a humilhação da sentença
infamante? O Deus dos exércitos, que seqüestrou a nação privilegiada ao
cativeiro, que a guiou através do deserto abrindo-lhe a passagem do mar; que
lhe saciou a fome com o maná divino e, por amor, transformou a rocha
impassível em fonte de água viva, não teria meios, outros, de assinalar o seu
enviado senão com uma cruz de martírio, entre malfeitores comuns? Tendes,
nesta casa, a glória do Senhor Supremo, assim barateada? Todos os doutores
do Templo conhecem a história do impostor que celebrizais com a simplicidade
da vossa ignorância! Não vacilais em rebaixar nossos próprios valores,
apresentando um Messias dilacerado e sangrento, sob os apupos do povo .....
Lançais vergonha sobre Israel e desejais fundar um novo reino? Seria justo
dardes a conhecer, inteiramente, a nós outros, o móvel das vossas fábulas
piedosas.”
Estabelecida uma pausa na sua objurgatória, o orador voltou a falar com
dignidade:
— Amigo, bem se dizia que o Mestre chegaria ao mundo para confusão de
muitos em Israel. Toda a história edificante do nosso povo é um documento da
revelação de Deus. No entanto, não vedes nos efeitos maravilhosos com que a
Providência guiou as tribos hebréias, no passado, a manifestação do carinho
extremo de um Pai desejoso de construir o futuro espiritual de crianças
queridas do seu coração? Com o correr do tempo, observamos que a
mentalidade infantil enseja mais vastos princípios educativos, O que ontem era
carinho, é hoje energia oriunda das grandes expressões amorosas da alma. O
que ontem era bonança e verdor, para nutrição da sublime esperança, hoje
pode ser tempestade, para dar segurança e resistência. Antigamente, éramos
meninos até no trato com a revelação; agora, porém, os varões e as mulheres
de Israel atingiram a condição de adultos no conhecimento, O Filho de Deus
trouxe a luz da verdade aos homens, ensinando-lhes a misteriosa beleza da
vida, com o seu engrandecimento pela renúncia. Sua glória resumiu-se em
amar-nos, como Deus nos ama.
Por essa mesma razão, Ele ainda não foi compreendido. Acaso
poderíamos aguardar um salvador de acordo com os nossos propósitos
inferiores? Os profetas afirmam que as estradas de Deus podem não ser os
caminhos que desejamos, e que os seus pensamentos nem sempre se
poderão harmonizar com os nossos. Que dizermos de um Messias que
empunhasse o cetro no mundo, disputando com os príncipes da iniqüidade um
galardão de triunfos sangrentos?
Porventura a Terra já não estará farta de batalhas e cadáveres?
Perguntemos a um general romano quanto lhe custou o domínio da aldeia mais
57
obscura; consultemos a lista negra dos triunfadores, segundo as nossas idéias
errôneas da vida. Israel jamais poderia esperar um Messias a exibir-se num
carro de glórias magnificentes do plano material, suscetível de tombar no
primeiro resvaladouro do caminho. Essas expressões transitórias pertencem ao
cenário efêmero, no qual a púrpura mais fulgurante volta ao pó. Ao contrário de
todos os que pretenderam ensinar a virtude, repousando na satisfação dos
próprios sentidos, Jesus executou sua tarefa entre os mais simples ou mais
desventuradoS, onde, muitas vezes, se encontram as manifestações do Pai,
que educa, através da esperança insatisfeita e das dores que trabalham, do
berço ao túmulo, a existência humana. O Cristo edificou, entre nós, seu reino
de amor e paz, sobre alicerces divinos. Sua exemplificação está projetada na
alma humana, com luz eterna! Quem dê nós, então, compreendendo tudo isso,
poderá identificar no Emissário de Deus um príncipe belicoso? Não! O
Evangelho é amor em sua expressão mais sublime. O Mestre deixou-se imolar
transmitindo-nos o exemplo da redenção pelo amor mais puro. Pastor do
imenso rebanho, Ele não quer se perca uma só de suas ovelhas bem-amadas,
nem determina a morte do pecador, O Cristo é vida, e a salvação que nos
trouxe está na sagrada oportunidade da nossa elevação, como filhos de Deus,
exercendo os seus gloriosos ensinamentos.”
Depois de uma pausa, o doutor da Lei já se erguia para revidar, quando
Estevão continuou:
— “E agora, irmãos, peço vênia para concluir minhas palavras. Se não vos
falei como desejáveis, falei como o Evangelho nos aconselha, argüindo a mim
próprio na íntima condenação de meus grandes defeitos. Que a bênção do
Cristo seja com todos vós.
Antes que pudesse abandonar a tribuna para confundir-se com a multidão,
o futuro rabino levantou-se de chofre e observou enraivecido:
— Exijo a continuação da arenga! Que o pregador espere, pois não
terminei o que preciso dizer.
Estevão replicou serenamente:
— Não poderei discutir.
— Por quê? — perguntou Saulo irritadíssimo. — Estais intimado a
prosseguir.
— Amigo — elucidou o interpelado calmamente —‘o Cristo aconselhou que
devemos dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Se tendes
alguma acusação legal contra mim, exponde-a sem receio e vos obedecerei;
mas, no que pertence a Deus, só a Ele compete argüir-me.
Tão alto espírito de resolução e serenidade, quase desconcertou o doutor
do Sinédrio; compreendendo, porém, que a impulsividade somente poderia
prejudicar-lhe a clareza do pensamento, acrescentou mais calmo, apesar do
tom imperioso que deixava transparecer toda a sua energia:
— Mas eu preciso elucidar os erros desta casa. Necessito perguntar e
haveis de responder-me.
— No tocante ao Evangelho — replicou Estevão —. já vos ofereci os
elementos de que podia dispor, esclarecendo o que tenho ao meu alcance.
Quanto ao mais, este templo humilde é construção de fé e não de justas
casuísticas. Jesus teve a preocupação de recomendar a seus discípulos que
fugissem do fermento das discussões e das discórdias. Eis por que não será
lícito perdermos tempo em contendas inúteis, quando o trabalho do Cristo
reclama o nosso esforço.
— Sempre o Cristo! sempre o impostor! — trovejou Saulo, carrancudo. —
Minha autoridade é insultada pelo vosso fanatismo, neste recinto de miséria e
de ignorância.
Mistificadores, rejeitais as possibilidades de esclarecimento que vos
ofereço; galileus incultos, não quereis considerar o meu nobre cartel de
desafio. Saberei vingar a Lei de Moisés, da qual se tripudia. Recusais a
intimativa, mas não podereis fugir ao meu desforço.
Aprendereis a amar a verdade e a honrar Jerusalém, renunciando ao
nazareno insolente, que pagou na cruz os criminosos desvarios. Recorrerei ao
Sinédrio para vos julgar e punir. O Sinédrio tem autoridade para desfazer
vossas condenáveis alucinações.
Assim concluindo, parecia possesso de fúria. Mas nem assim logrou
perturbar o pregador, que lhe respondeu de ânimo sereno:
— Amigo, o Sinédrio tem mil meios de me fazer chorar, mas não lhe
reconheço poderes para obrigar-me a renunciar ao amor de Jesus-Cristo ....

Texto retirado do Capítulo 5 " Pregação"

Primórdios do Movimento Espírita no Brasil


JUVANIR BORGES DE SOUZA
Palestra proferida na CONFERÊNCIA ESPÍRITA BRASIL-PORTUGAL, realizada
em Salvador (BA), de 16 a 19 de março de 2000.
I
A história do Espiritismo no Brasil é muito rica de fatos, de personagens e de
realizações. Um vasto documentário esparso está à espera de quem o reúna e
aprecie, com sensibilidade e conhecimento.
Ao contrário do que ocorreu nos países da Europa, nos quais os movimentos
oriundos da Nova Revelação cresceram rapidamente, nas primeiras décadas que
se seguiram aos trabalhos da Codificação, para depois estacionarem ou fenecerem,
o Movimento Espírita no Brasil cresceu continuamente, apesar das muitas vicissitudes
que teve de enfrentar.
II
É interessante observar que, antes do advento do Espiritismo, com a primeira
edição de “O Livro dos Espíritos”, em Paris, em 1857, já existiam idéias espíritas
irradiadas a partir de 1847-1848, nos Estados Unidos, com os fenômenos de
Hydesville.
III
Os primeiros experimentadores da mediunidade, no Brasil, saíram dos cultores
da homeopatia, com os médicos Bento Mure, francês, e João Vicente Martins,
português, aqui chegados em 1840, que aplicavam passes em seus clientes e falavam
em Deus, Cristo e Caridade, quando curavam.
José Bonifácio, o patriarca da Independência, cultor da homeopatia, é também
dos primeiros experimentadores do fenômeno espírita.
Em 1844, o Marquês de Maricá publicou um livro com os primeiros ensinamentos
de fundo espírita divulgados no Brasil (REFORMADOR de 1944, p. 207).
IV
Entretanto, o grupo mais antigo que se constituíra no Rio de Janeiro, para cultivar
o fenômeno espírita, foi o de Melo Morais, homeopata e historiador, por volta
de 1853, conforme registrado em Reformador de 1º de maio de 1883.
Freqüentavam esse grupo o Marquês de Olinda, o Visconde de Uberaba e
outros vultos do Império.
Os fenômenos das mesas girantes são noticiados pela primeira vez no Brasil
em 1853, pelo jornal O Cearense.
V
Assim, quando “O Livro dos Espíritos”, em sua edição original francesa, chegou
ao Brasil, encontrou meio favorável ao seu entendimento e divulgação, especialmente
na elite social da Capital do Império.
4
VI
Em 1860 surgiram os dois primeiros livros espíritas em português: “Os tempos
são chegados” do professor Casimir Lieutaud, francês radicado no Rio de Janeiro,
e “O Espiritismo na sua expressão mais simples”, tradução do professor Alexandre
Canu, cujo nome só aparece na terceira edição, em 1862.
VII
Em 1863 o Espiritismo já era comentado com seriedade.
O Jornal do Commercio, o maior órgão da imprensa da Capital do Império de
então, publicava, em 23 de setembro, artigo favorável à nova Doutrina.
No ano de 1865, surge a primeira contestação de espíritas a comentários
desfavoráveis ao Espiritismo. O Diário da Bahia, de Salvador, transcrevera artigo
extraído da Gazette Médicale. Esse artigo, desfavorável e mordaz, assinado pelo
Dr. Déchambre, foi contestado pelos Drs. Luís Olímpio Teles de Menezes, José Álvares
do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos, em réplica publicada em 28 de
setembro de 1865, artigo que mereceu comentários favoráveis de Allan Kardec na
Revue Spirite (vol. 8, pág. 334).
VIII
Os primeiros centros espíritas nos moldes preconizados por Kardec surgem
na Bahia (Grupo Familiar do Espiritismo), no Rio de Janeiro e em outros Estados, a
partir de 1865.
IX
Em 1869 é editado em Salvador O Eco d’Além-Túmulo, “Monitor do Espiritismo
no Brasil”, sob a direção de L. O. Teles de Menezes, que teve efêmera duração.
X
Em novembro de 1873 funda-se em Salvador, Bahia, a Associação Espírita
Brasileira, continuação do Grupo Familiar de Espiritismo.
Alguns membros dessa Associação fundaram, em 1874, em Salvador, o Grupo
Santa Teresa de Jesus.
XI
A 2 de agosto de 1873 é fundada a Sociedade Grupo Confúcio, primeira entidade
jurídica do Espiritismo no Brasil, com estatutos impressos, amplamente noticiada
na imprensa nacional e estrangeira.
Nomes como os dos Drs. Siqueira Dias, Silva Neto, Joaquim Carlos Travassos,
Casimir Lieutaud, Bittencourt Sampaio fizeram parte dessa sociedade, cuja
divisa era “Sem caridade não há salvação”.
A esse Grupo, de curta existência de menos de três anos, deve o Espiritismo
no Brasil: a primeira tradução das obras de Kardec, por Joaquim Carlos Travassos
(Fortúnio); a primeira assistência gratuita homeopática; a primeira revelação do
Espírito Guia do Brasil — o Anjo Ismael.
XII
Vale a pena rememorar, para a edificação das novas gerações, as previsões
de Ismael, em rara e eloqüente mensagem de transcendente significação no Grupo
Confúcio, eis que ela resume a orientação espiritual no que diz respeito à missão
do Brasil:
“O Brasil tem a missão de cristianizar. É a Terra da Promissão. A Terra de todos.
A Terra da fraternidade. A Terra de Jesus. A Terra do Evangelho...
“Na Era Nova e próxima, abrigará um povo diferente pelos costumes cristãos.
5
Cumpre ao que ouve os arautos do Espaço, que convocam os homens de boavontade
para o preparo da Nova Era, reconhecer em Jesus o chefe espiritual. Com
o Evangelho explicado à luz do Espiritismo, a moral de Jesus, semeada pelos jesuítas
e alimentada pelos católicos, atingirá a sua finalidade, que é rejuvenescer os
homens velhos, que aqui nascerão ou para aqui virão de todos os pontos do Globo,
cansados de lutas fratricidas e sedentos de confraternidade. A missão dos espíritas
no Brasil é divulgar o Evangelho em espírito e verdade. Os que quiserem cumprir o
dever, a que se obrigaram antes de nascer, deverão, pois, reunir-se debaixo deste
pálio trinitário: Deus, Cristo e Caridade.
“Onde estiver esta bandeira, aí estarei eu, Ismael.”
XIII
Ao Grupo Confúcio seguiu-se a Sociedade Espírita “Deus, Cristo e Caridade”,
fundada em março de 1876, com programação francamente evangélica cumprida
até 1879.
Mas, cindida a Sociedade, passou a denominar-se Sociedade Acadêmica,
em processo de seleção natural e de acordo com as inclinações dos elementos
humanos. Uma ala da entidade, tendo à frente Bittencourt Sampaio, Antônio Luiz
Sayão e Frederico Junior, destacou-se para fundar a “Sociedade Espírita Fraternidade”,
em 1880.
A “Fraternidade” subsistiu com a orientação evangélica até transformar-se em
“Sociedade Psicológica”, desaparecendo em 1893.
Observe-se a definição de rumos, com a preocupação de alguns adeptos desavisados,
suprimindo o qualificativo “Espírita” e substituindo-o por “Acadêmica” e
“Psicológica” nas duas Sociedades.
Em 6 de agosto de 1880 era criada, em Campos, Estado do Rio de Janeiro, a
Sociedade Campista de Estudos Espíritas.
XIV
É criado em janeiro de 1881, na cidade de Areias, São Paulo, o Grupo Espírita
Areense, que lançou, no mesmo ano, o jornal União e Crença.
É no ano de 1881 que o Espiritismo é perseguido pela polícia, pela primeira
vez, sendo proibidas as sessões da “Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade”,
a Sociedade de maior prestígio à época.
XV
Em 6 de setembro de 1881, instalou-se, no Rio de Janeiro, o primeiro Congresso
Espírita do Brasil, do qual resultou o Centro da União Espírita do Brasil,
dentro da Sociedade Acadêmica.
XVI
Ainda em 1881, a 21 de novembro, instalou-se no Rio de Janeiro a “Associação
Amor e Caridade”; em março de 1882, a “Sociedade Espírita Allan Kardec” e
em setembro de 1882 o “Grupo Espírita Santo Antonio de Pádua”.
XVII
Augusto Elias da Silva, fotógrafo português radicado no Rio de Janeiro, observando
as difíceis condições para se fazer a defesa do Espiritismo pela imprensa,
contra os ataques impiedosos e insultuosos do Catolicismo, a religião oficial do
Estado, funda, em 21 de janeiro de 1883, o jornal Reformador.
Esse órgão, que recebeu o apoio de espíritas militantes de grande prestígio
na época, como Bezerra de Menezes e o Major Francisco Raimundo Ewerton Qua6
dros, procedeu à análise serena e segura de uma Pastoral católica que pregava o
ódio aos espíritas.
Por essa época já existiam várias Sociedades Espíritas na Capital do Império
e em algumas províncias.
XVIII
Em 2 de janeiro de 1884 é fundada a Federação Espírita Brasileira. A iniciativa
coube a Augusto Elias da Silva, que recebeu o apoio de Ewerton Quadros, Xavier
Pinheiro, Fernandes Figueira, Silveira Pinto e outros.
Instalada a novel Sociedade, com a eleição da primeira diretoria, uma das
primeiras resoluções foi a incorporação do órgão Reformador à nova Sociedade.
É interessante frisar que, apesar de sua denominação — Federação — não
contava a instituição com nenhuma filiação de qualquer outra entidade, inicialmente.
Torna-se, pois, evidente, que os objetivos da Sociedade, no campo federativo,
projetava-se no futuro, sendo seus fundadores os instrumentos de uma planificação
maior da Espiritualidade.
XIX
Ainda em 1883, surge em Campos (no atual Estado do Rio de Janeiro), em
fevereiro, a “Sociedade Espírita Concórdia” e em outubro do mesmo ano, em Macaé,
a “Sociedade Espírita Luz Macaense”.
O “Grupo Ismael” (Grupo de Estudos Evangélicos do Anjo Ismael), célula de ligação
entre os trabalhadores dos dois planos da vida, funciona desde 15 de julho
de 1880, fundado por Antônio Luiz Sayão e Bittencourt Sampaio. Dele fizeram parte
Bezerra de Menezes, Frederico Junior, Domingos Filgueiras, Pedro Richard, Albano
do Couto e muitos outros companheiros provindos de diversos núcleos.
Acedendo Bezerra de Menezes em aceitar a presidência da Federação em
1895, o “Grupo Ismael” acompanhou o apóstolo do Espiritismo no Brasil, apoiou-o
na direção da Casa e integrou-se nela, até os dias atuais.
XX
Alguns grupos espíritas da Capital aderiram à Federação, a partir de 1885,
como o “Grupo Espírita Menezes” (REFORMADOR de 15-2-1885) e elementos
prestigiosos na sociedade fluminense: o Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz,
homeopata, o Dr. Castro Lopes, filólogo e escritor, e vários outros.
XXI
Mas o fato de maior significação nos arraiais espiritistas foi, sem dúvida, a
adesão ao Espiritismo do eminente político, médico e católico, Dr. Adolfo Bezerra
de Menezes Cavalcanti, perante um auditório de 2.000 pessoas, no salão de honra
da Guarda Velha, no dia 16 de agosto de 1886.
A impressa registrou o acontecimento, o telégrafo levou a notícia às Províncias,
a Federação recebeu muitas adesões e os círculos católicos agitaram-se.
De novembro de 1886 a dezembro de 1893, Bezerra escreveu ininterruptamente,
aos domingos, sob o pseudônimo de Max, os célebres artigos sobre o Espiritismo,
no jornal O Paiz, o mais lido no Brasil, na época.
Ao mesmo tempo que escrevia, Bezerra pregava a união dos espíritas e concitava
os confrades à harmonia e à fraternidade.
É, por isso, considerado o campeão da unificação do Movimento Espírita,
com base na união e na tolerância entre os espíritas.
7
XXII
Em meados de fevereiro de 1889, previamente anunciado pela Espiritualidade,
o Espírito Allan Kardec viria “fazer uma análise da marcha da doutrina no Rio de
Janeiro, dirigindo-se a todos os espíritas”.
Através do notável médium Frederico Junior, da Sociedade Fraternidade,
Kardec ofereceu as conhecidas “Instruções” para o Movimento Espírita de então.
XXIII
Bezerra de Menezes vê na Federação, nos anos de 1888-89, então sob sua
presidência, a organização ideal onde se poderia unificar o Movimento Espírita. Por
isso nela instalou, em 1889, o Centro da União Espírita do Brasil, com a aprovação
dos grupos espíritas então existentes no Rio de Janeiro.
Mas a união dos espíritas não foi conseguida, apesar dos esforços de Bezerra
e do apelo do Espírito Allan Kardec.
Prevalecia a divergência entre “místicos” e “científicos”.
XXIV
Em São Paulo, Batuíra fundara, em 1890, o maior núcleo espírita do País, com
sede própria, e um órgão de divulgação, o Verdade e Luz, de grande tiragem. Deu
seu apoio à Federação e tornou-se o representante dela em São Paulo.
XXV
Em maio de 1887, foi fundada em Porto Alegre (Rio Grande do Sul) a Sociedade
Espírita Rio Grandense.
XXVI
Em fevereiro de 1890 surge em Maceió, Alagoas, o Centro Espírita das Alagoas.
XXVII
Em 1890, o Dr. Polidoro Olavo de São Thiago trouxe à Federação Espírita
Brasileira uma iniciativa feliz: a criação da Assistência aos Necessitados, em moldes
espíritas.
E o Dr. Pinheiro Guedes, em 1890, incorporou à pequena biblioteca da FEB
um acervo importantíssimo de livros sobre todos os ramos do conhecimento.
XXVIII
Proclamada a República em 1889, em 1890 surge o novo Código Penal, no
qual o Espiritismo era enquadrado como transgressão à lei, em alguns de seus dispositivos
dúbios.
O fato serviu para que os espíritas de todas as tendências se unissem contra
tais dispositivos, do que resultou a explicação do autor do Código, Dr. Antônio Batista
Pereira, de que tais disposições não atingiam o Espiritismo filosófico, religioso,
moral, educativo, mas o espiritismo criminoso, expressão infeliz então usada.
XXIX
Em compensação, o grande acontecimento que favoreceu o Espiritismo,
como também a todas as religiões praticadas no Brasil, foi a Constituição Republicana,
de 24 de fevereiro de 1891, que constituiu o Estado leigo, sem os liames que
o ligavam à Igreja Católica Romana.
XXX
Já por essa época fundavam-se, por todos os Estados brasileiros, núcleos
espíritas.
8
Em 1892 era fundada em Natal, Rio Grande do Norte, a Sociedade Natalense
de Estudos Espíritas.
Em maio de 1893 surgiu, na Bahia, o Grupo Espírita Amor e Caridade.
Nesse mesmo ano funda-se em Cuiabá, Estado de Mato Grosso, a Sociedade
Espírita Cristo e Caridade, com seu órgão A Verdade.
Em 1894 é criado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, o Grupo Espírita Allan
Kardec.
Em outubro de 1894 instala-se em Lavras, Estado de Minas Gerais, o Centro
Espírita Luz e Caridade.
Em julho de 1895, funda-se em São Francisco do Sul, Santa Catarina, o Centro
Espírita Caridade de Jesus.
Em julho de 1897 instalou-se em Cáceres, Mato Grosso, o Grupo Espírita
Apóstolos de Cristo e da Verdade.
Nesse mesmo ano de 1897 é organizada a Livraria da FEB, por abnegados
espíritas.
XXXI
Bezerra de Menezes, aceitando a presidência da Federação Espírita Brasileira,
é empossado em 3 de agosto de 1895.
Começa uma nova fase para a Instituição, cuja influência se estende por todo
o território nacional.
Em 1897 são transferidos à Federação os direitos autorais, para a língua
portuguesa, de todas as obras de Allan Kardec, fato de suma importância para a
difusão da Doutrina Espírita no Brasil.
XXXII
Os inimigos e dissidentes internos do Movimento Espírita no Brasil sempre se
firmaram no divisionismo, no personalismo, no despreparo e nas interpretações
pessoais de determinados adeptos e nas vaidades individuais, em contraposição
aos princípios doutrinários.
Desde os primórdios do Espiritismo esses fatores estiveram presentes no
seio de seus movimentos, por toda parte. No Brasil não seria diferente.
Já os inimigos externos são conhecidos por suas atuações, desde meados do
século XIX, no Brasil: a) o positivismo, de grande influência nos primórdios da República;
b) o materialismo, opositor permanente; c) a classe clerical obscurantista.
XXXIII
Enquanto a Europa recebeu o Espiritismo nas suas expressões fenomênicas
e experimentais, não excluindo a remuneração pelos trabalhos mediúnicos, o que
desvirtua o caráter e a índole da Doutrina Espírita, no Brasil cultiva-se o Espiritismo
em seus múltiplos aspectos, mas com ênfase nos seus aspectos morais-religiosos,
com base no Evangelho de Jesus.
A expressão “Pátria do Evangelho”, usada pelo Espírito Humberto de Campos
em seu livro, é a reafirmação desse fato.
Para combater a tendência desagregadora do Movimento, de parte de alguns
adeptos, o grande remédio é a transformação interior do espírita, através da educação
do pensamento pela Mensagem do Evangelho do Cristo.
A grande tarefa a ser realizada pelo Movimento, antes da reforma das instituições,
é a regeneração moral do espírita, para que suas instituições reflitam seu
progresso individual e coletivo.
9
XXXIV
Desaparecendo Bezerra de Menezes do cenário dos encarnados, em 11 de
abril de 1900, após quatro anos e meio de intenso trabalho de persuasão, de paciência
e de exemplificação, deixava consolidada a Federação Espírita Brasileira,
com a orientação doutrinária que as administrações posteriores seguiriam.
Ficaram superadas as divergências internas, o academicismo, para cuidar-se
do estudo sério da Doutrina e do Evangelho, com o fortalecimento dos sentimentos
de solidariedade e de fraternidade.
Findara o século, desencarnara o ínclito timoneiro, mas as bases da grande
obra da união entre os espíritas ficaram delineadas.
É certo que um dos objetivos de Bezerra e de seus seguidores — a unificação
de todas as entidades espíritas em torno de uma instituição representativa dos ideais
de fraternidade entre os espíritas — não pudera concretizar-se.
A união pela harmonia e coesão preconizada por Allan Kardec nas célebres
mensagens de 1889 só seria conseguida quase meio século depois, em 1949.
XXXV
O sucessor de Bezerra de Menezes na presidência da FEB, um jovem de 30
anos, Leopoldo Cirne, seguiu o roteiro de seu antecessor, reajustando pormenores
impostos pelas circunstâncias.
Em 1901, procedeu-se à revisão dos Estatutos, com inovações de alto interesse
para o Movimento Espírita, destacando-se a filiação das instituições espíritas
de todo o Brasil aos quadros da Federação Espírita Brasileira, com vistas à unificação,
sob a forma federativa, plenamente aprovada na prática.
Multiplicaram-se desde então os atos de adesão, sem prejuízo da autonomia
administrativa e patrimonial das entidades adesas — Centros, Grupos, Uniões, Federações
— de todo o vasto território do País continental.
XXXVI
A 3 de outubro de 1904, a FEB organizou um intenso programa de três dias,
comemorativo do centenário de nascimento de Allan Kardec.
O convite dirigido a todas as entidades espíritas do País foi bem recebido.
Reuniram-se na então Capital da República os representantes de Centros e
Sociedades Espíritas do Amazonas, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso,
Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São
Paulo, além das Casas Espíritas da Capital Federal.
O ponto mais importante desse Congresso foi o congraçamento geral e a
aprovação das “Bases de Organização Espírita”, documento que passou a orientar
a marcha do Movimento Espírita de nosso País, até nossos dias.
O desenvolvimento do Movimento, sua expansão com a criação de inúmeras
Instituições Espíritas, tornou-se notório, desde então.
As “Bases” preconizaram a criação de uma Instituição na Capital de cada
Estado brasileiro, a qual ficaria incumbida de filiar os Centros e Associações estaduais,
formando assim, com a FEB, uma rede de entidades fortalecidas na solidariedade
e na fraternidade, sob a inspiração e a égide da Doutrina Espírita.
As obras de Allan Kardec, em edições especiais e populares, foram publicadas
pela FEB nesse mesmo ano de 1904.
XXXVII
10
No período de 1905 a 1930, continuou expandindo-se o Movimento Espírita,
por todo o Brasil, com a criação de Grupos, Centros e Federações nos Estados,
além de periódicos espíritas, para a divulgação da Doutrina.
Queremos destacar, nesse período, dois fatos importantes, dentre os inúmeros
acontecimentos ocorridos:
O primeiro foi a mensagem, de alta significação, recebida em 9 de março de
1920, do Espírito de Verdade, que se manifestou através do Anjo Ismael, pelo médium
Albino Teixeira, então secretário da FEB.
Nela está prevista a missão do Brasil, antecedendo as páginas proféticas do
Espírito Humberto de Campos em “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”,
como se pode observar no pequeno trecho abaixo transcrito:
“A Árvore do Evangelho, plantada há dois mil anos na Palestina, eu a transplantei
para o rincão de Santa Cruz, onde o meu olhar se fixa, nutrindo o meu espírito
a esperança de que breve ela florescerá estendendo a sua fronde por toda a
parte e dando frutos sazonados de amor e perdão.” (Grifos nossos.)
O segundo fato foi a convocação de uma “Constituinte do Espiritismo” para se
reunir no Rio de Janeiro, idéia esdrúxula pelo seu próprio conteúdo, que não vingou.
Mas do encontro resultou a criação da Liga Espírita do Brasil, que se propôs a filiar
Centros Espíritas em âmbito nacional, em trabalho semelhante e concorrente ao da
FEB, dividindo o Movimento.
A Liga Espírita do Brasil subsistiu por mais de duas décadas, transformandose
em entidade estadual com o “Pacto Áureo”, em 1949.
XXXVIII
Era chegado o tempo de ampliar a divulgação da Doutrina Espírita pelo livro e
pela imprensa.
Impunham-se novas traduções das obras da Codificação e de clássicos do
Espiritismo.
A essa tarefa gigantesca dedicaram-se espíritas de escol, dentre os quais
destacamos a figura de Guillon Ribeiro, o grande presidente da FEB no período de
1930 a 1943.
Suas traduções primorosas das obras de Allan Kardec continuam sendo as
melhores na língua vernácula.
Inúmeras outras obras clássicas da Doutrina foram traduzidas para o português.
Ao mesmo tempo, a FEB cogitava da montagem de uma oficina gráfica própria
para a edição das obras espíritas, o que conseguiria, por etapas, a partir de
1939.
XXXIX
A partir de 1930 o Movimento Espírita Brasileiro, que desde os fins do século
XIX contou com médiuns notáveis, como Frederico Junior, João Gonçalves do Nascimento,
Bittencourt Sampaio, Zilda Gama, Albino Teixeira, e muitos outros, vê surgir
o mais notável medianeiro do século XX: Francisco Cândido Xavier.
Sua primeira obra psicografada, lançada pela FEB em 1932 — “Parnaso de
Além-Túmulo” — causou verdadeiro impacto nos meios culturais brasileiros. Essa
obra de poetas brasileiros e portugueses desencarnados, sui generis, confundiu os
céticos e agraciou os adeptos e simpatizantes do Espiritismo.
O moço humilde de Pedro Leopoldo começava sua missão de médium espírita
e de homem, que se prolongaria até nossos dias, contribuindo de forma extra11
ordinária para que a Doutrina Espírita e o Evangelho de Jesus fossem divulgados
de forma correta, persistente, admirável.
Emmanuel, André Luiz, Humberto de Campos e uma plêiade de Espíritos de
escol lançaram-se a um trabalho de longo curso junto aos homens, de esclarecimento
e de fraternidade através do livro espírita.
XL
Em julho de 1944, a viúva de Humberto de Campos, D. Catarina Vergolino de
Campos, ingressou em juízo com uma ação declatória contra a Federação Espírita
Brasileira e o médium F. C. Xavier, visando a obter, por sentença judicial, a declaração
de que a obra literária do Espírito Humberto de Campos era ou não do brilhante
escritor. O interesse era, no fundo, utilitarista, tendo em vista os direitos autorais.
A decisão judicial foi justa, precisa, e estabeleceu uma diretriz segura para a
questão da psicografia, declarando a autora carecedora da ação, com ganho de
causa para a Federação e o médium.
XLI
Autores espirituais como Emmanuel e André Luiz têm importância muito grande
no desdobramento da Codificação Espírita, pelo fato de suas obras esclarecerem
e complementarem as obras básicas da Doutrina Espírita, sem prejuízo ou
contraposição dos princípios fundamentais da Terceira Revelação.
Sínteses históricas da Terra e do Brasil, ensaios sociológicos, romances históricos,
comentários evangélicos à luz do Espiritismo e, a partir de 1943, toda a
série de André Luiz, iniciada com “Nosso Lar”, enriqueceram extraordinariamente a
literatura espírita no Brasil, que se vai expandindo para além-fronteiras em inúmeras
traduções para diversas línguas.
XLII
Fato que não poderíamos deixar de mencionar nesta pequena resenha é o da
instalação, em 1948, do Departamento Editorial da FEB.
Já que a Espiritualidade realizava sua parte, fazendo chegar aos homens as
lições mais belas, claras e úteis através de livros de grande importância para o esclarecimento
e edificação da Humanidade, era necessário que alguém cuidasse da
parte que competia aos encarnados.
O Presidente Wantuil de Freitas cuidou de dotar a FEB de uma editora à altura
das necessidades.
Posteriormente, outras editoras seguiram o exemplo, ampliando-se enormemente
a capacidade de editoração de livros, revistas e jornais no Movimento Espírita
nacional.
XLIII
Não obstante o lado positivo do Movimento em constante expansão, o divisionismo
no seu seio continuava, alimentado pelo personalismo, pelas vaidades e pelas
interpretações infelizes da Doutrina.
Mas muitos espíritas estavam atentos à necessidade da união fraterna e da
unificação do Movimento.
Surge então a oportunidade do entendimento entre correntes diversas, representadas
por espíritas conscientes de seus deveres perante a Doutrina.
A ocasião para esse entendimento ocorreu no mês de outubro de 1949, por
ocasião da realização de um Congresso da Confederação Espírita Pan-Americana.
Após tentativas de aproximação dos responsáveis por diversos segmentos do
Movimento Espírita de diversos Estados brasileiros, encontram-se todos na sede
da Federação Espírita Brasileira no Rio de Janeiro, no dia 5 de outubro de 1949.
Esse encontro, que ficou conhecido como a Grande Conferência Espírita do
Rio de Janeiro, posteriormente denominado “Pacto Áureo”, pelos seus resultados e
importância, é um marco decisivo na história do Espiritismo no Brasil, pelas suas
conseqüências, pelas suas disposições e sobretudo pelo induzimento à concórdia,
à fraternidade, ao trabalho útil, à tolerância, à solidariedade entre os cultores de
uma Doutrina Superior, que precisa ser entendida em sua verdadeira índole e finalidade
e que induz os homens aos sentimentos do Amor e da Justiça.
XLIV
Entendemos que os primórdios do Movimento Espírita no Brasil poderiam ser
situados nos primeiros anos do Espiritismo em nossa Pátria, nos meados do século
XIX.
Mas poderiam ser entendidos também em face de determinados acontecimentos
marcantes.
Preferimos esta última hipótese, escolhendo o “Pacto Áureo” como o fato inconfundível
que divide duas fases do Movimento.

Revista O Reformador abril de 2000