Ouve-se freqüentemente a pergunta: “O Espiritismo é
religião?” E muitas vezes os espíritas não sabem respondê-la. A confusão a
respeito provém das campanhas religiosas contra o Espiritismo. As Igrejas
Cristãs, descendentes diretas da Igreja Judaica, definem-se como religiosas nos
termos tradicionais do formalismo de suas organizações e do culto exterior
calcado nos vários cultos dessa natureza que lhes serviram de modelo, em
primeiro lugar o judeu e depois os mitológicos, com substanciais influências de
Ordens Ocultas como a Maçonaria. As vestes sacerdotais, os paramentos do culto,
os instrumentos sagrados – nada disso é de origem cristã, pois o Cristo não se
interessou pelos cultos formais e só ensinou o cultivo interior do espírito.
Algumas expressões dos Evangelho, alguns gestos e atitudes do Cristo deram
motivo à adaptação de ritos e sacramentos judeus ou pagãos pelos cristãos. Como
o Espiritismo, fiel ao espírito da renovação cristã, não aceitou o culto
exterior, a organização clerical profissional, nem rituais, as Igrejas Cristãs
fundaram-se nisso para declarar que o Espiritismo não era religião. Ligadas aos
Estados, elas tiveram facilidade de influir nos organismos estatais para
fazerem prevalecer a sua tese. Até hoje, no Brasil e em muitos países, certos
organismos estatais, principalmente quando influenciados pela Igreja, negam ao
Espiritismo o seu caráter de religião. Mas os espíritas precisam saber que o
Espiritismo é religião e o Centro Espírita, geralmente religioso, deve insistir
no esclarecimento desse problema em suas reuniões.
Não se trata de querer-se obter regalias governamentais
para os Centros, mas de se colocar a verdade do fato. E esse fato é aquele que
Kardec esclareceu com segurança desde o início do movimento espírita: o
Espiritismo é a Ciência do Espírito e de suas relações com os homens; dessa
Ciência resulta uma Filosofia e dessa Filosofia as conseqüências religiosas do
Espiritismo, que constituem a religião Espírita.
Kardec, como Jesus, não era clérigo de nenhuma
religião. Foi pedagogo, cientista e filósofo, diretor de estudos da Universidade
de França. Ao enfrentar o problema das manifestações espíritas, que no seu
tempo agitavam a América e a Europa, encarou-as como cientista. Observou e
pesquisou os fenômenos espíritas, como os cientistas observavam e pesquisavam
os fenômenos físicos, descobrindo-lhes as causas, identificando a sua origem, a
natureza e descobrindo as leis que os regem. Desse trabalho minucioso e
aprofundado, no confronto de hipótese diversas, nasceu no mundo a Ciência
Espírita. Grandes nomes das Ciências no século passado e neste século
continuaram na linha de pesquisa de Kardec e confirmaram a validade das suas
descobertas. Surgiram depois as ciências correlatas, entre as quais se
destacaram a Metapsíquica de Richet, a Psicobiofísica de Notzing e por fim, a
Parapsicologia atual, todas elas filhas do Espiritismo. A Parapsicologia foi a
derradeira e decisiva confirmação do acerto de Kardec e com ela, sob a designação
de fenômenos paranormais, os fenômenos espíritas integraram-se nos quadros
científicos.
A Ciência Espírita revelou a face oculta da realidade
que conhecemos e em que vivemos. Levantou as cortinas que ocultam os bastidores
do palco em que representamos os nossos papéis e duplicou os conhecimento
humanos, até então restritos ao plano exterior das manifestações da vida.
Cada avanço significativo das Ciências no conhecimento
do mundo transforma a nossa concepção da vida e do mundo, gerando uma nova
Filosofia e uma nova moral. E a Moral, por sua vez, determinando novas regras
de comportamento do homem no mundo, ante os mistérios da vida e da morte, gera
uma nova posição religiosa. A Religião Espírita é a conseqüência natural da
descoberta científica da sobrevivência e continuidade do homem após a morte.
Cientificamente não se pode provar a imortalidade, pois não dispomos de
recursos nem de tempo para constatar objetivamente que o homem é imortal em sua
essência, mas testemunho dos Espíritos Superiores e as conseqüências lógicas da
sobrevivência do homem após a morte nos levam fatalmente à ilação da imortalidade,
que o Espiritismo aceitou em seu campo religioso, bem como em sua Filosofia.
A Religião Espírita se funda nas provas cientificas da
sobrevivência e da comunicabilidade dos Espíritos com os homens através dos
fenômenos paranormais (hoje comprovados cientificamente pela Parapsicologia),
na existência de Deus como causa inteligente e primária de todas as coisa e de
todos os que seres e nas relações possíveis entre o Homem e Deus através do
sentimento religioso inato no homem, na forma de uma lei de adoração e
reverência aos poderes superiores que regem o Cosmos em sua plenitude.
Paralelamente ao desenvolvimento das pesquisas
espíritas, as pesquisas sociológicas, antropológicas e filosóficas sobre a Religião
levaram a cultura atual a rejeitar o antigo conceito de Religião como organismo
social dotado de sistemas tradicionais. A existência de religiões desprovidas
desses requisitos normais, a começar da simplicidade das religiões primitivas,
e o aprofundamento dos estudos a respeito mostraram que o fenômeno religioso
independe dessas condições artificiais. Com a tese de Henry Bergson sobre as
origens da Moral e da Religião o problema se esclareceu, dando razão ao anúncio
de Jesus e às profecias bíblicas sobre a interpretação em espírito e verdade
que não se entrosava nos modelos. Bergson estabeleceu a distinção entre as
religiões estáticas do formalismo social e a religião dinâmica e independente
que se sobrepõe a todo formalismo. A Religião Espírita apareceu então, no
quadro das pesquisas, como o modelo ideal das religiões do futuro. Firmada
apenas no sentimento religioso, na lei de adoração da tese espírita, a nova
Religião apresentava-se liberta dos aparatos do culto exterior, das pesadas e
custosas organizações clericais hierárquicas e da suntuosidade arrogante dos
templos. A Religião se libertava dos interesses humanos, das ambições de poder
e supremacia dos clérigos e voltava-se para Deus.
O problema da Revelação, que caracteriza as Religiões
Reveladas, orgulhosas de sua origem divina especial, foi colocado por Kardec no
campo das manifestações espíritas, ou seja, da fenomenologia paranormal, e
sujeita ao controle dos homens. A Religião Espírita é também revelada, mas
através de uma conjugação humano-divina. Os Espíritos Superiores fizeram
revelações a Kardec, mas ele não as considerou válidas, reais, enquanto não
pôde comprovar sua veracidade através das pesquisas. Kardec formulou a tese da
dupla revelação: a que é dada por entidades espirituais ou por homens dotados
de poderes paranormais e a que é feita pelos cientistas que investigam a Natureza,
descobrem os seus segredos e os revelam no plano científico. É dessa dupla
revelação rejeitada pelos místicos e os supersticiosos, que se constitui a
Religião Espírita, que não se acomoda na fé cega mas exige a fé raciocinada,
sancionada pelos fatos e pela razão esclarecida. Era o fim das fábulas e das
superstições, o encontro da razão humana com a Verdade Divina. A importância
desse acontecimento histórico foi negligenciada pelos comodistas da tradição
supersticiosa e o Espiritismo foi acusado de reviver no mundo, em plena Era
Científica, as mais baixas superstições do passado longínquo. Kardec esmagava a
superstição com o poder perquiridor da razão e os místicos de braços dados com
positivistas e materialistas o condenavam como supersticioso. Mas, apesar de
toda essa injustiça e de todas as campanhas difamatórias desencadeadas no mundo
contra o Espiritismo, o tempo se incumbiu de dar razão ao seu dono. Hoje, as
pessoas realmente cultas e sinceras, estudiosas e livres de preconceitos, sabem
que o Espiritismo dos simples é apenas um reflexo do Espiritismo dos sábios,
que os próprios sábios materialistas são obrigados a reconhecer como válido. Só
criaturas sistemáticas, retardatárias, preconceituosas ou sectárias, incapazes
de abrir a mente fechada nas idéias feitas para a compreensão da realidade,
continuam a negar a verdade espírita e ao mesmo tempo a sofrer sob o guante
invisível dos espíritos obsessores. Porque a seita religiosa fechada é irmã da
seita científica amarrada aos seus preconceitos. Um cientista apegado a preconceitos
é a própria negação da Ciência.
Mas, estabelecida a Religião Espírita em sua plena
liberdade de pensamento, surge no meio dos seus adeptos voluntários o problema
dos resíduos do passado. Criaturas que se tornaram espíritas através de
experiências paranormais inesperadas não conseguem vencer as barreiras dos
temores introjetados em seu inconsciente e começam a misturar suas velhas
superstições aos conhecimentos novos que recebe. Não se conformam com a
liberdade ampla do Espiritismo. Sentem a falta da canga ao pescoço calejado e
procuram transformar os dirigentes de Centros em sacerdotes de um novo tipo e
caem de joelhos diante de pobres médiuns falíveis, na esperança de graças
impossíveis. Forma-se a farândola dos crentes ansiosos por benefícios
especiais. E surgem questões de família e tradição, exigindo batizados,
rituais, casamentos suntuosos, missas e promessas aos santos. O espiritismo
dispensa todas as encenações rituais e todas as quinquilharias da devoção
formal. Para todas as encenações e todos os sacramentos o Espiritismo só tem um
substitutivo: a prece espontânea e sincera, gratuita, que parte diretamente do
coração da criatura para a Mente Suprema de Deus. No Centro Espírita esse
problema deve ser objeto de estudos constantes, de esclarecimento seguro, para
que a propagação irrefreável da Doutrina não se faça manchada pelos resíduos de
um passado de heresias e fogueiras assassinas em nome de Deus. Embora não ferindo
suscetibilidades, os dirigentes do Centro devem manter em pauta os
esclarecimentos necessários, mostrando que, no plano do espírito só os
elementos espirituais têm valor. Não se pode curar obsessões com sal grosso,
folhas de arruda, incenso ou explosão de pólvora, nem com medalhas, crucifixos
ou água benta. A obsessão é um processo inteligente desencadeado por espíritos
– o que vale dizer por inteligências extra-físicas que não são atingidas por
essas coisas. Pois eles vivem no plano espiritual, não no material e conhecem o
problema da comunicação mediúnica e do envolvimento fluídico. Só podemos
afastar uma entidade obsessiva pela persuasão e a prece, procurando
esclarecê-la ao invés de dar-lhe ordens que só fazem irritá-la. Os Centros
Espíritas que aceitam os métodos antiquados dos antigos esconjuros e exorcismos
revelam a mais grosseira ignorância da Doutrina Espírita que é essencialmente
racional. A Razão não pertence à matéria, mas ao espírito. Os fracassos das
práticas de exorcismo se comprovam no mundo inteiro através de todas as fases
históricas. Enquanto os exorcistas ou exorcisadores gastam energias e perdem
tempo, com prejuízo de sua própria saúde e do desgaste físico dos obsedados,
chegando, não raro, a resultados tristemente negativos, a doutrinação espírita
revela por toda parte a vantagem da ação persuasiva e inteligente sobre os
agressores. O valor da prece, mental ou falada, revela-se sempre eficaz, pois a
vibração espiritual de uma prece sincera atinge o obsessor de maneira envolvente,
chamando-o à razão.
No tocante aos problemas da prece, convém lembrar, como
ensina Kardec, que as mais eficazes são as preces espontâneas, não formais e
decoradas, mas pronunciadas com sentimento e desejo real, consciente, de
beneficiar tanto à vítima quanto ao algoz. Entre as preces formais, a do Pai
Nosso se destaca por uma condição especial. Integrado na tradição cristã há
dois milênios, essa prece está fixada na mente das gerações e goza o prestígio
de ter sido ensinada pelo Cristo. Seu prestígio e sua capacidade de despertar
emoções religiosas nos espíritos comprova-se diariamente no mundo. É por isso
que ela é empregada sistematicamente na abertura das sessões espíritas. É um
tabu, dizem os cépticos, e muitos espíritas, com pretensões racionais agudas,
pretendem eliminá-la dos Centros. É um erro grave, pois em toda parte se
constatou e se constata, no meio espírita, a sua eficácia. Não é difícil
entendermos isso. O Pai Nosso não contém nenhum elemento mágico, mas desde a
infância as criaturas nascidas no meio cristão aprenderam a dizê-la e a
respeitá-la. Ela foi introjetada na consciência das gerações através dos
séculos e dos milênios. Constitui-se numa forma oral e mental carregada de
energias espirituais. Tornou-se, no plano religioso, o que é o soneto na poesia
ocidental, uma forma oral e mental carregada de poder emocional. Os espíritos
perturbadores, que têm consciência de sua posição negativa e criminosa – pois
todos a têm – são tocados no íntimo, em sua sensibilidade profunda e em sua
afetividade quando ouvem essa prece, principalmente se pronunciada por pessoas
que sentem a sua mensagem e conhecem as razões da sua eficácia. Ela soa como um
apelido da infância, de juventude emotiva, da vida passada que desencadeia
antigas saudades nos homens e nos espíritos. A figura de Jesus, a força ôntica
da palavra Pai, que vibra como um apelo a Deus e uma evocação do seu poder
supremo e ao mesmo tempo misericordioso, vibra como a primeira nota vigorosa e
amorosa de uma imprecação ao Céu, às regiões superiores que desejam atingir,
por mais infeliz que seja a sua situação atual. Despertam-se na consciência e
na emotividade do espírito as ternas lembranças dos entes queridos, do amor que
experimentou na vida familiar terrena, dos momentos de felicidade e alegria que
gozou entre criaturas queridas. São esse os toques profundos que o Pai Nosso
produz nos corações fluídicos ou encarnados, como uma canção de outros tempos,
antiga que, na ternura de suas notas e de sua harmonia, nos faz voltar às oportunidades
pedidas.
Criaturas pretensamente racionais analisam e criticam o
Pai Nosso, apontando possíveis erros e absurdos no seu texto mais usado e
longo, que é o do Evangelho de João. Entidades maldosas costumam soprar a essas
criaturas idéias negativas, tentando desviá-las da prática dessa prece. Bastaria
esse fato para nos confirmar o valor do Pai Nosso. Os Evangelhos registram
formas diferentes da prece de Jesus. A que permaneceu na tradição foi a mais
completa, vítima das críticas referidas. Tentemos analisá-la rapidamente em
todos os seus termos, desfazendo essas críticas levianas:
Pai – Com
essa palavra inicial Jesus deu um golpe vibrante na antiga concepção politeísta
de Deus e na idéia bíblica, bem judaica, da posição exclusivista de Deus e na
sua condição mitológica de guerreiro, o velho Deus dos Exércitos.
Nosso –
Nesta profunda palavra temos a universalização de Deus como Pai de toda a
Humanidade. Ela destrói a velha e absurda idéia dos deuses de cada povo, em
luta uns com os outros nas guerras dos povos.
que estais no
Céu – Afirmação da presença de Deus no infinito, acima de todos os divisionismos
humanos, pois o Céu não é um lugar determinado, mas a totalidade cósmica. Deus
no Céu cobre na sua misericórdia toda a Terra e todos os mundos, todas as
constelações do Infinito.
Santificado seja
o Vosso Nome – Que seja reconhecido o nome de Deus como santo por todos os
seres, anjos, espíritos e homens, que santificarão o nome de Deus em si mesmos,
na sua consciência.
Venha a nós o
Vosso Reino – Que o Reino de Deus, ideal superior de Justiça e de Paz perfeita,
venha para nós todos.
Seja feita a
Vossa vontade, assim na Terra como no Céu – Que os homens, os espíritos e os anjos cumpram
no Céu e na Terra, por toda parte, a vontade suprema de Deus, revelando-se aqui
o princípio da comunhão constante e perfeita entre o mundo espiritual e o mundo
terreno.
O pão nosso de
cada dia dai-nos hoje – O pão simboliza o alimento geral de todos os seres –
o espiritual e o material – que os povos daquele tempo repartiam nas mesas
simbólicas das cerimônias religiosas. Jesus mesmo repartiu o pão com os
discípulos na Ceia da Páscoa, e foi no partir do pão que os discípulos o
reconheceram, depois da ressurreição, na estrada de Emaús. Esse alimento essencial
é pedido a Deus, que é o Pai, para que não nos falte.
Perdoai as
nossas ofensas, como as perdoamos aos nossos inimigos – Os inimigos são os
que nos perseguem e caluniam. Alimentados pelo pão espiritual podemos perdoá-los
e, só assim, nos fazemos dignos do perdão de Deus, que diariamente ofendemos em
nossa ignorância. É o princípio da fraternidade em Deus e por Deus.
Não nos deixeis
cair em tentação – Somos frágeis em nossa ignorância e alimentamos desejos
e ambições. A tentação está em nós mesmo, mas Deus pode alimentar-nos
diariamente o espírito com os verdadeiros anseios da nossa destinação, para não
cairmos no torvelinho dos nossos instintos inferiores.
Mas livrai-nos
do mal para sempre – Súplica a Deus para nos despertar a consciência nas horas
difíceis de cada dia.
Pois vosso é o
Reino, o poder e a glória para todo o sempre – O Reino que buscamos é o de
Deus, não o dos homens. O poder é de Deus e não dos espíritos inferiores, a
glória só a Deus pertence e só Ele nos pode glorificar. Laudação que só aparece
no Evangelho de João, como justificação final de toda a prece.
O Pai Nosso é uma prece sintética, modelo dado por
Jesus aos seus discípulos, para que nela encontrem, diariamente, a síntese
final dos seus ensinos. A dinâmica dessa síntese desperta a memória dos homens
e das entidades espirituais para a fé em Deus, a esperança em nossa evolução
espiritual e a confiança no poder absoluto e na misericórdia d’Aquele que nos
arranca do limo da Terra para as ascensões da evolução universal.
Há pessoas que discordam da prece do Pai Nosso nas
sessões espíritas, alegando que se trata de uma oração católica. Jesus nasceu
no Judaísmo, recebeu a benção da virilidade no Templo, aos 13 anos, como todos
os meninos judeus da sua idade, cresceu e viveu como judeu até o momento em que
iniciou a sua pregação própria, da qual nasceria o Cristianismo, porque os seus
discípulos e apóstolos o chamavam de Cristo. Ele ensinou a prece do Pai Nosso
quando andava pregando na Palestina, muito antes que a sua doutrina chegasse a
Roma e fosse transformada num vasto sincretismo religioso do qual surgiria a
Igreja Romana. O Pai Nosso virou Padre Nosso em Roma e só neste século voltou à
designação primitiva, dada pelos cristãos palestinos que não falavam latim. Não
há razão nenhuma para se considerar essa prece como católica. Ela é uma prece
cristã pura, dotada de todas as características do pensamento superior de
Jesus, que sempre pairou acima dos divisionismos sectários. Se os Evangelhos
apresentam o Pai Nosso em formas diferentes, isso acontece pelo simples fato de
que cada evangelista redigiu os seus relatos em lugares e épocas diferentes,
usando as lembranças e as anotações que possuíam. João, cujo Evangelho foi o
último a ser elaborado, conseguiu reunir maiores elementos para dar a prece
completa, segundo era pronunciada pelos cristãos primitivos. Como assinalou
Renan, e foi confirmado nos séculos seguintes pelos pesquisadores
universitários das origens do Cristianismo, as informações de que os
evangelistas dispunham procediam dos próprios círculos da intimidade do Mestre,
guardando a autenticidade das suas expressões.
A insistência da Igreja Católica em manter a expressões
latina Padre (Pater) no nome da prece, lançou nos países de língua latina, como
Portugal e o nosso, a falsa sugestão de uma ligação real entre a Igreja (cujos
sacerdotes são chamados padres), o que foi duramente contestado pelas Igrejas
da Reforma Protestante.
O emprego do Pai Nosso nas reuniões espíritas é
perfeitamente válido, tanto em face das característica inegáveis de Renascimento
Cristão da Doutrina Espírita, tanto em seu desenvolvimento filosófico, quanto
em suas atividades práticas. A alegação de que o Espiritismo mistura
Cristianismo com religiões primitivas é simplesmente uma impostura, diante dos
estudos aprofundados sobre a formação do sincretismo católico-africano de que o
Espiritismo não participou.