"Então
aparecerá nos Céus o sinal do Filho do homem." (Mateus, 24:30)
Segundo
o modo de ver das teologias, existiriam duas espécies de juízo:
um chamado parcial, que ocorreria logo após a desencarnação
do Espírito, e outro chamado final, que teria lugar em determinada época,
quando aprouvesse a Deus, separando os bons dos maus.
O
simbolismo desses Juízos é tomado excessivamente ao pé
da letra, pois, segundo esse modo de pensar o julgamento final, com a conseqüente
separação dos bons e maus, simbolizados nos Evangelhos por ovelhas
e bodes, ocorreria como um fato retumbante, como uma autêntica ressurreição
de todas as criaturas que já viveram na Terra, as quais seriam julgadas
de forma definitiva, selando-se seu destino para toda a eternidade: bem-aventurança
para os bons e as tormentas eternas para os maus.
Segundo
a concepção dessas religiões, Jesus voltaria ao nosso planeta
com todo o seu poder e glória, precedendo a esse miraculoso julgamento
coletivo, remetendo para o Céu, de forma definitiva os que foram bons,
e para o inferno, também de forma definitiva, os que foram maus.
O
Juízo Final encerra um sentido alegórico que sempre reclamou uma
elucidação que viesse arrancar-lhe o véu do miraculoso
e do fantástico. Ao Espiritismo está reservado o papel de dar-lhe
a explicação lógica, racional, eqüitativa com a justiça
divina, situando assim as coisas em seus devidos lugares.
Através
da definição da Doutrina Espírita, o chamado Juízo
Final deixou de ser tremendo espantalho, para adquirir um sentido prático
e positivo, perfeitamente compatível com a justiça do Criador
de todas as coisas.
Os
Espíritos nos ensinam que o gênero humano, com o desenrolar
das vidas sucessivas do Espírito na carne, atingirá uma determinada
perfeição no que diz respeito à evolução
moral e espiritual. Nessa época, o número dos bons deverá
ter ultrapassado o número dos maus e, consoante o que está explícito
nas páginas dos Evangelhos, os dias da grande tribulação
serão abreviados pelo amor de muitos, a Terra que atualmente é
um planeta de expiação e de dor, converter-se-á na Nova
Jerusalém prometida, onde haverá mais felicidade, nenos sofrimento
e a fraternidade passará a presidir ao procedimento dos homens. Cumprir-se-á
então a narrativa do Apocalipse: E Deus limpará de seus olhos
toda lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem
clamor; nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas.
Chegando
esse tempo, é indubitável que muitos Espíritos recalcitrantes
ainda permanecerão encastelados nas muralhas do ódio e da maldade,
preferindo viver nas trevas. Estes não terão mais a oportunidade
de reencarnar na Terra, entre os que perseveraram até o fim. Consumar-se-á
então a separação entre os bodes e as ovelhas, os bons
voltarão a renascer na Terra, com o objetivo de atingir uma meta de perfeição
mais sublimada, ao passo que os maus não regressarão mais a este
nosso mundo, passando a habitar planetas situados em condições
de inferioridade em relação ao nosso e onde, segundo o sábio
dizer evangélico, haverá choro e ranger de dentes.
Ensinam
os Espíritos Benfeitores que a alma jamais regride em seu progresso e,
se não evolui, permanece estacionária. Deste modo, se um Espírito
cuja evolução já permitiu que ele viesse a reencarnar em
nosso planeta, jamais voltará para um planeta inferior; entretanto, quando
da reforma espiritual do nosso mundo, isso sucederá pelo amor de muitos,
pois, não é lógico que muitas almas boas continuem a sofrer
indefinidamente por causa da obstinação de alguns em viverem mergulhados
na maldade e no erro.
Um
escritor oriental escreveu que indagado quando seria o juizo finl, Deus respondeu:
pergunta aos homens.
Na
realidade, os homens são os artífices do próprio destino
e unicamente deles depende o menor ou maior lapso de tempo para o advento daqueles
dias mais felizes, prometidos pelo Cristo, quando uma nova era raiará
para a Humanidade.
O
Juízo Final, destituído das peias do miraculoso e do fantástico,
representa a elevação da Humanidade a um estágio mais elevado
de progresso e não a destruição física deste mundo
e a condenação ou salvação sumária das almas
que nele habitam ou habitaram.
O
Mestre ensinou que somente através do conhecimento da verdade o homem
será livre; por isso, o Espiritismo foi revelado à Terra com a
finalidade precípua de abolir todas essas crenças e crendices
absurdas, pois, jamais poderemos conceber um Deus que pudesse consagrar essas
teorias obsoletas e unilaterais de penas eternas, de condenações
irremissíveis e da existência de um príncipe dos demônios
eternamente disputando o domínio das almas.
Já
se eclipsou no tempo a crença na existência do Deus do bem e do
Deus do mal. O que existe é apenas o Deus de infinita bondade e amor,
que faz o sol brilhar para justos e injustos, e a chuva cair para bons e maus.
Lembremo-nos
do judicioso dizer do profeta: Deus não quer a morte do ímpio,
mas que ele se redima e viva. Pois, mesmo aqueles que irão para planetas
inferiores, não perderão jamais os benefícios de novas
oportunidades concedidas por Deus, uma vez que ele é Pai de justiça
e amor, e dispensa a todos os seus filhos o mesmo desvelo e os mesmos sentimentos
de paternidade.
Paulo
A. Godoy
Livro: O Evangelho Pede Licença