Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

sábado, 29 de setembro de 2012

CAPÍTULO X -OS DOZE E SUA MISSÃO


OS DOZE E SUA MISSÃO
1 - Então convocando os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus poder sobre os espíritos imundos, para os expelirem e para curarem todas as doenças e todas as enfermidades.
2 - Ora os nomes dos doze apóstolos são estes: O primeiro, Simão, que se chama Pedro e André, seu irmão.
3 - Tiago, filho de Zebedeu e João, seu irmão, Filipe e Bartolomeu, Tomé e Mateus, o publicano, Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu.
4 - Simão Cananeu e Judas Iscariotes, que foi o que o entregou.
Durante algum tempo, os discípulos se dedicam ao aprendizado junto ao Mestre. Espíritos de alto progresso espiritual, fácil lhes foi assimilar as lições que Jesus lhes ministrava diariamente, não só pelas palavras, como também pelo exemplo. Fortificados pela fé que Jesus lhes acendera nos corações, estavam preparados para continuar a obra evangélica, que Jesus lhes confiaria. São sábias e comovedoras as regras, segundo as quais os discípulos pautariam sua conduta no mundo. Há vinte séculos que os discípulos de boa vontade estudam este código de renúncia; os que não se afastaram dele, triunfaram. Palmilhando os ásperos caminhos da terra, quando a taça de amarguras parecia transbordar, lembravam-se das ternas exortações e dos conselhos do Mestre e adquiriam novo alento para perseverarem até o fim. Estas instruções são para todos os tempos e para todos os discípulos de boa vontade. Os médiuns, especialmente, devem meditá-las, estudá-las e assimilá-las muito bem, antes de iniciarem seu medianato. De acordo com os últimos ensinamentos do Espiritismo, estudemos o código do discípulo fiel.
5 - A estes doze enviou Jesus, dando-lhes estas instruções, dizendo: Não ireis caminho de gentios, nem entreis nas cidades dos samaritanos.
6 - Mas ide antes às ovelhas que pereceram da casa de Israel.
Jesus ordena a seus discípulos que se dirijam antes aos que já estavam em condições de entender os novos ensinamentos. Os israelitas eram, naturalmente, os indicados para primeiro receberem o Evangelho, dado o longo preparo espiritual a que a lei de Moisés os tinha submetido, Dirigindo-se a eles, os discípulos encontrariam um terreno propício à semeadura. Ao passo que se procurassem em primeiro lugar os outros povos, as dificuldades para a difusão do Evangelho seriam maiores, pois, ainda não estavam à altura de suas lições. Com o tempo, todos os povos se preparariam convenientemente e, então, surgiriam novos trabalhadores, que lhes levariam as claridades do Evangelho.
Na difusão do Espiritismo, o discípulo inteligente deve seguir a mesma diretriz: primeiro os que estão em estado de o compreenderem; os outros virão depois.
7 - E pondo-vos a caminho, pregai que está próximo o reino dos céus.
O reino dos céus está dentro de nossos corações. É inútil ir procurá-lo mais longe. Caracteriza-se pela bondade, pelo amor fraterno entre todos, pelo acolhimento, amparo e proteção aos que sofrem. O coração, livre de ódios, de remorsos, de cobiça, de ambições descabidas, da concupiscência; e capaz de amar a todos os homens, sem distinção de cor, de classe social, de raças, de credos políticos ou religiosos, um coração assim traz dentro de si o reino dos céus. Portanto, o reine dos céus está ao nosso alcance. A consciência tranqüila e o coração puro causam uma felicidade tal aos que os possuem, que, já na terra, gozam as alegrias espirituais que os aguardam nos planos da espiritualidade. Não deixemos para amanhã o início de adquirirmos essa graça. Comecemos desde agora a trabalhar por merecê-la, combatendo nossas imperfeições, abandonando nossos vícios, abrandando nosso caráter e esforçando-nos por nos amarmos uns aos outros. E depois de termos realizado o reino dos céus dentro de nós, fácil será concretizar na face de nosso planeta. Jesus alude ao começo dos trabalho de regeneração da humanidade pela observância das leis divinas, quando manda a seus discípulos que preguem estar próximo o reino dos céus.
8 - Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expeli os demônios; dai de graça o que de graça recebestes.
Conquanto Jesus e seus discípulos e, modernamente o Espiritismo, tenham operado curas materiais, é mais no sentido moral que devemos entender esta ordem de Jesus. Porque o Evangelho é a lição divina que ensina a humanidade a se curar de suas imperfeições morais.
Curai os enfermos, isto é, ensinai os homens a evitarem o mal, para que não sofram suas dolorosas conseqüências.
Ressuscitai os mortos, isto é, ensinai que a morte não existe e que do outro lado do túmulo o espírito continua com sua vida eterna.
Limpai os leprosos, isto é, ensinai os pecadores a se regenerarem e esclarecei os ignorantes sobre as coisas divinas.
Expeli os demônios, isto é, encaminhai os espíritos obsessores concitando-os ao perdão e à prática do bem.
E nunca aceiteis a paga do bem que espalhastes, uma vez que o Pai, que está nos céus, não põe preço em sua misericórdia.
9 - Não possuais ouro nem prata, nem tragais dinheiro nas vossas cintas;
10 - Nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento.
Acima de tudo, o discípulo fiel deve confiar na Providência Divina. O Senhor da seara não deixará os seus obreiros sem o necessário para sua manutenção. Se os patrões humanos não deixam seus operários sem a paga do trabalho que executam, quanto mais o Patrão Divino não cuidará de seus servos?
Além disso, o discípulo do Evangelho ensina os povos a se libertarem da matéria. Daria um péssimo exemplo, o discípulo que se afadigasse pela posse transitória dos bens terrenos; porque demonstraria confiar mais na matéria do que na Providência Divina. A evangelização das criaturas deve ser a principal preocupação do discípulo sincero.
11 - E em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, informai-vos de quem há nela digno; e ficai aí até que vos retireis.
12 - E ao entrardes na casa saudai-a, dizendo: Paz seja nesta casa.
13 - E se aquela casa na realidade o merecer, virá sobre ela a vossa paz; e se o não a merecer, tornará para vós a vossa paz.
Os discípulos tinham de ir de aldeia em aldeia e de cidade em cidade pregando o Evangelho. Naqueles tempos não havia a imprensa, nem o rádio nem os modernos meios de propaganda; somente dispunham da palavra oral para tornarem conhecido o Evangelho. Pobres como eram, não podiam pagar pousadas; forçoso lhes era, por conseguinte, procurarem almas caritativas que os hospedassem gratuitamente. Não só era uma oportunidade para essas almas exercerem a caridade para com os viajores sem recursos, como também era um testemunho que os discípulos davam de sua fé em Deus.
Em nossos dias, o Espiritismo é o novo apóstolo que Jesus envia a todas as cidades e a todos os lares para ensinar os preceitos evangélicos. O Espiritismo saúda com a sagrada saudação a casa onde penetra. E a casa passa a gozar a paz, o ambiente doméstico fica livre de espíritos inferiores que o perturbavam, os quais são encaminhados para as escolas de aprendizado e de regeneração no mundo espiritual. Os membros da família extinguem as querelas e doce fraternidade preside as relações familiares. Todavia, para isso é necessário que a casa mereça realmente a paz, o que será conseguido pela observância dos preceitos de Jesus.
Cumpre notar que quando um médium vai ministrar um passe a um doente, prestando assim a caridade espiritual, o doente pode ou não merecer a graça de ser beneficiado. Porque há doentes que só se lembram de implorar o auxílio divino e prometem regenerar-se quando premidos pelo sofrimento. Logo que se livram dos males que os atormentavam, esquecem-se das promessas feitas a Deus e não mais se interessam pelas coisas espirituais. Nesse caso a graça será toda do médium, que será recompensado espiritualmente pelo serviço prestado.
14 - Sucedendo não vos querer alguém em casa, nem ouvir o que dizeis, ao sair para fora da casa, ou da cidade, sacudi o pó dos vossos pés.
Os preceitos de Jesus visam eliminar do seio da grande família humana, todos os motivos que separam os seus membros. O Evangelho, portanto, não poderá ser imposto pela força, mas pelo Amor. Jesus não ordena que seus discípulos forcem a consciência daqueles que os querem ouvir; mas que se afastem deles, sem discutirem.
Mandando que seus discípulos sacudissem o pó dos sapatos ao deixarem os que os repelissem, é como se lhes dissesse: "Mostrai aos vossos irmãos que vos enxotarem ou vos contradizerem que nenhuma das idéias deles conseguiu abalar a vossa fé; e que deles não guardais o menor ressentimento."
Na difusão do Espiritismo, inúmeras vezes terão os discípulos sinceros de sacudirem o pó das sandálias; porque nem todos os encarnados estão em condições de compreendê-los.
15 - Em verdade vos afirmo isto: Menor rigor experimentará no dia do juízo a terra de Sodoma e de Gomorra, do que aquela cidade.
Aqui Jesus nos demonstra que toda aquisição de conhecimentos acarreta aumento de responsabilidade. E cada um experimentará o rigor da Justiça Divina de acôrdo com o grau de conhecimentos que tiver adquirido. Assim sendo, ninguém carregará um fardo mais pesado do que suas forças o permitirem. Todos aqueles que são chamados a participar das alegrias do Evangelho, construindo seus destinos à luz dos ensinamentos de Jesus, é porque já estão em situação de poderem atender ao convite que lhes é feito. Todavia, há os que não atendem ao chamado, furtando-se ao trabalho divino. Se analisarmos muito bem a situação desses irmãos, notaremos que assim agem por não quererem contrariar o comodismo em que vivem, protelando, dessa maneira, o seu progresso espiritual e acumulando sofrimentos para o futuro.
Outra importante advertência que podemos tirar desse versículo, é no que se refere aos que pregam o Evangelho e não o exemplificam. Quem ensina o Evangelho e não vive de conformidade com o que ensina, na verdade experimentará o rigor que Sodoma e Gomorra não experimentaram.
16 - Vede que eu vos mando como ovelhas no meio de lobos. Sede logo prudentes como as serpentes e simplices como as pombas.
Deus ama os humildes e abate os orgulhosos. Por isso é que Jesus nos recomenda que sejamos simples como as pombas. Na simplicidade das pombas, Jesus simboliza a humildade de que devemos nos revestir no desempenho do labor de nosso aperfeiçoamento espiritual; porque aos humildes nunca faltará o auxílio do AltÍssimo. E nossa humildade será provada diante dos reveses da vida, quando sofremos as provas e as expiações reservadas para o progresso e purificação de nosso espírito. Entretanto, Jesus quer também que tenhamos a prudência das serpentes. Com isso ele nos adverte que exerçamos contínua e enérgica vigilância sobre nós próprios, a fim de que as tentações do mundo, quais lobos vorazes, não inutilizem nossa encarnação.
No que se refere ao trabalho espiritual, essa advertência de Jesus é profunda. É fora de dúvida que o trabalhador do Evangelho viverá continuamente assediado pelas forças das trevas, as quais tentarão freqüentemente desviá-lo da tarefa. Os médiuns, sobretudo, e os pregadores da palavra divina, terão de lutar não só contra os encarnados, mas também contra os espíritos desencarnados que, ou por ignorância ou movidos por sentimentos inferiores, tudo farão para anular-lhes os esforços. E como os trabalhadores do Evangelho somente pooderão revidar com as armas do bem, do amor, do pacifismo, da tolerância e da piedade, jamais recorrendo à violência, deverão ser quais ovelhas, cheias de prudência, convivendo no meio de lobos.
17 - Mas guardai-vos dos homens; porque ele vos farão comparecer nos seus juízos e vos farão açoitar nas suas sinagogas;
18 - E vós sereis levados por meu respeito à presença dos governadores e dos reis, para lhes servirdes a eles e aos gentios de testemunho.
Pregando uma doutrina de paz e de igualdade; de amor de fraternidade e de perdão, entre homens que cultuavam a guerra, o ódio, a vingança e os rígidos preconceitos sociais; os discípulos levantariam contra si a perseguição de todos os espíritos que se compraziam na ignorância ou que usufruíam proveitos dela. A História nos conta que as predições de Jesus se realizaram. Ainda hoje as perseguições não cessaram. Onde quer que se erga uma voz concitando os homens à prática do Evangelho em toda sua pureza e simplicidade é certo aí acorrerem muitos para abafá-la. É o que tem acontecido com o Espiritismo. Essa Doutrina, que é o Consolador prometido pelo Mestre, suscitou desde o seu aparecimento todas as perseguições morais possíveis. Desde as religiões organizadas até a ciência, todos se bateram contra ela, culminando no martírio dos médiuns, submetidos a desalmadas experiências de laboratório. Todavia, se cai um discípulo, levanta-se outro; e os trabalhadores da grande causa prosseguem dando o testemunho.
19 - E quando vos levarem, não cuideis como ou o que haveis de falar; porque naquela hora vos será inspirado o que haveis de dizer:
20 - Porque não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é o que fala em vós.
Os pregadores do Evangelho eram médiuns e, por isso, no momento de responderem a seus algozes, eram assistidos por espíritos de elevada hierarquia espiritual, que lhes sugeriam as palavras a serem proferidas. Eis porque vemos que os sacrificados nos circos romanos, ante a turba ébria de sangue e de violência, nada respondiam que não glorificasse o Cristianismo nascente; e elevavam ao Alto suas preces e seus cânticos de perdão e de amor. E acabado o espetáculo, os espíritos mártires partiam para o mundo espiritual nos braços de seus amigos. E o povo voltava para suas casas pensativo e indagando de si para si: - Que nova religião será essa cujos adeptos são sinceros até diante da morte?
E todos queriam conhecê-la.
21 - E um irmão entregará à morte a outro irmão e o pai ao filho; e os filhos se levantarão contra os pais e lhes darão a morte.
Nas perseguições e nas lutas religiosas a que o mundo tem assistido, o fanatismo religioso quase sempre armou os braços dos membros de uma mesma família, uns contra os outros. Pelo lado moral, houve profundo choque entre os adeptos do Cristianismo nascente e os dos outros credos, gerando-se assim a guerra de religiões dentro de um mesmo lar.
Em nossos dias reacende-se a luta contra as idéias progressistas do Espiritismo, que trabalha por reconduzir o Cristianismo à sua forma e pureza primitivas e explicar o Evangelho racionalmente. Embora sem o caráter sanguinolento do passado, a batalha que se trava não deixa de ser intensa a fim de que a luz brilhe novamente. É natural, pois, que no entrechocar das idéias novas do progresso com as idéias velhas do passado e do comodismo, muitas vezes pais, filhos e irmãos se coloquem em campos opostos.
Jesus aqui nos adverte acerca das lutas que um espírita travará dentro de seu próprio lar para encaminhar a si e aos seus pelo caminho da Verdade. Deverá, em primeiro lugar, vencer a perseguição que lhe desencadearão os espíritos desencarnados ignorantes, os quais incitarão contra ele seus próprios familiares. Assistimos, então, à crítica impiedosa que tem de suportar e à oposição tenaz que lhe é movida no sentido de afastá-lo do caminho da espiritualidade. Em seguida deverá corrigir seus defeitos, livrar-se dos vícios para que possa adquirir a força moral suficiente para guiar sua família e combater as imperfeições, que cada um de seus familiares apresentar. Manter a força moral para que seja respeitado e se fazer respeitar pela família, é outra luta moral em que se empenhará um espírita que quer seguir à risca os ensinamentos do Evangelho.
Um lar não se domina pela violência. Dominar um lar pela violência é tiranizar a família. Um lar se domina pelo Amor. Mas para que o Amor possa dominar é preciso que seja gerado pelo respeito; e o respeito só será conseguido quando o chefe da família for um alto padrão de moralidade. Então terá a autoridade incontestável para impor à sua família a norma de conduta que o Espiritismo lhe ditar. Fazendo respeitar-se pelo Amor, os pais precisam saber usar da severidade para não deixarem que seus filhos se extraviem. Grande é a responsabilidade dos pais neste assunto. Cada filho extraviado é uma dívida que os pais contraem para com Deus, por não terem sabido desempenhar a missão de bons orientadores das almas que o Senhor lhes confiou. Essa dívida lhes acarretará enormes trabalhos no futuro, além de sofrimentos no mundo espiritual. Quando os filhos ameaçam desviar-se e não querem obedecer pelo Amor, os pais devem empregar em tempo oportuno o corretivo enérgico, embora com mágua no coração para evitarem males maiores. É por isso que Jesus aqui nos fala que sua doutrina causaria divisões na família, trazendo para o seio dela muitas lutas. Ele sabia que os membros mais evoluídos, querendo impulsionar a evolução dos retardatários, entrariam em choque com eles e teriam de trabalhar arduamente para obterem êxito.
22 - E vós por causa do meu nome sereis o ódio de todos; aquele porém que perseverar até o fim, esse é o que será salvo.
Jesus aqui precavém os discípulos contra o orgulho e os preconceitos sociais que separam as criaturas. Como eles pregariam a extinção do orgulho e lutariam contra os preconceitos sociais, ensinando aos homens que todos são irmãos, filhos do mesmo Pai, atrairiam sobre si a cólera de grande número daqueles que não estavam preparados para compreendê-los. Um dos pontos básicos do ensino de Jesus é fazer com que os homens aprendam que todos são irmãos, não importa a que nação ou raça pertençam e como irmãos se devem tratar. É justamente isso que a maioria da humanidade não quer compreender; daí resultaria para os discípulos o ódio de muitos.
Conquanto muito se pregue e já se tenha chegado à conclusão de que a humanidade é uma imensa família, cujos membros são irmãos, o orgulho, gerando os preconceitos sociais, tem prejudicado constantemente o cumprimento desta lei da fraternidade. Mas não é só em relação às coisas terrenas que o orgulho tem feito estragos: sua maléfica ação se estende também às coisas espirituais. Na aquisição dos bens espirituais, o orgulho é o principal tropeço. As vezes, pelo simples fato de não querermos ombrear com nossos irmãos mais modestos e mais pequeninos do que nós, desrespeitamos as leis divinas. A fraternidade é uma das grandes leis morais do código divino. E sempre que o orgulho falar mais alto do que a humildade, sufocaremos o sentimento de fraternidade, que deve presidir ao trato com nosso próximo.
Jesus é a personificação da humildade. E sua doutrina prega a humildade de coração. Na terra ainda predomina o orgulho. E os orgulhosos se revoltam contra os que lhes falam da doutrina de Jesus, porque ela lhes relembra a humildade da qual se afastaram. E por isso o nome do Mestre traria o desprezo para os discípulos. É preciso que não nos esqueçamos de que seremos salvos, isto é, ficaremos livres do ciclo das reencarnações dolorosas, somente se nós nos conservarmos fiéis observadores dos preceitos de Jesus até o fim de nossa vida.
23 - Quando porém vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos afirmo que não acabareis de correr as cidades de Israel, sem que venha o Filho do homem.
Assim como cada espírito, individualmente, obedece à lei do progresso, é natural que também o planeta, em seu conjunto, obedeça à mesma lei. À medida que os espíritos aqui encarnados progredirem, progredirão com eles as instituições humanas, as quais melhorarão não só na parte material, como também na moral, e intelectual. Os principais propulsores desse progresso, principalmente na parte espiritual, são os espíritos desencarnados, que por toda parte inspiram aos encarnados o respeito às leis divinas e por meio de médiuns através dos tempos, indicam à humanidade os rumos espirituais a seguir.
Jesus toma Israel como o símbolo do mundo ao qual vinha ser pregado o Evangelho. E recomenda a seus discípulos que não interrompam o labor evangélico por coisa alguma, nem mesmo por causa das perseguições que sofreriam. Conquanto, materialmente falando, não houvesse possibilidade de os discípulos percorrerem todas as cidades do planeta, nem por isso elas ficariam esquecidas. Uma legião de espíritos desencarnados estava incumbida de levar o Evangelho aos mais afastados recantos do globo, suscitando trabalhadores onde fossem necessários. E modernamente, o Espiritismo, manifestando-se desde os lugarejos às grandes capitais, tornou-se o instrumento para a disseminação dos preceitos evangélicos, preparando assim, o advento do Filho do homem, isto é, do reinado espiritual de Jesus, em todos os corações.
24 - Não é o discípulo mais que seu Mestre, nem o servo mais que seu senhor.
25 - Basta ao discípulo ser como o seu mestre e ao servo, como seu senhor. Se eles chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?
Jesus nos recomenda que o tomemos por modelo em nosso labor evangélico. Calmos, pacíficos, mansos e tolerantes, exemplifiquemos com os atos o que pregarmos com as palavras não violentemos a consciência de ninguém. Não nos percamos no emaranhado das discussões inúteis. Estejamos certos de que se nos foi concedido semearmos algumas sementes, ao Pai Celestial pertence o fazê-las germinar. Quanto aos que nos perseguirem, zombarem e escarnecerem de nossa doutrina perdoemo-las de todo o coração, lembrados de que se assim trataram o Senhor, não saberiam tratar melhor os seus servidores.
26 - Pois não os temais; porque nada há encoberto que se nâo venha a descobrir; nem oculto que se não venha a saber.
27 - O que eu vos digo às escuras, dizei-o às claras: que se vos diz ao ouvido, publicai-o dos telhados.
Os discípulos não devem temer aqueles que não lhes aceitam as lições. A lei da desencarnação os levará para o mundo espiritual e lhes provará serem verdadeiros os ensinamentos, que repudiaram, quando encarnados. É o que sucede atualmente com o Espiritismo; ensina a lei da reencarnação, a imortalidade da alma, prega que não existem tormentos eternos, demonstra o progresso ininterrupto do espírito, estabeleceu a comunicação entre os encarnados e os desencarnados; por fim, explica de modo mais racional os preceitos de Jesus. Apesar de encerrar tanta beleza e simplicidade, ainda encontra perseguições, descrentes e detratores. Não os devemos temer. A desencarnação se encarregará de abrir-lhes os olhos para as verdades eternas. Por isso, publiquemos sempre em voz bem alta e por toda a parte, as lições que recebemos por meio do Espiritismo.
28 - E não temais aos que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes porém ao que pode lançar no inferno tanto a alma como o corpo.
Inferno é o símbolo do sofrimento em que incorremos todas as vezes em que incidimos em faltas. Não há castigos eternos e não há inferno onde os espíritos culpados sofram as conseqüências de suas más ações, por toda a eternidade. Conquanto o sofrimento seja efêmero, é causado ao nosso corpo por todo ato, por mais insignificante que seja, que praticarmos em desacordo com as leis divinas. E é freqüente um espírito sofrer, durante sucessivas reencarnações em corpos carnais, as más conseqüências dos péssimos atos do passado.
A reencarnação é um processo regenerador e aperfeiçoador ao mesmo tempo; enquanto de um lado faz com que corrijamos os erros do passado, de outro lado promove nosso aprimoramento espiritual. Como somos espíritos imortais submetidos a um constante progresso, é através das reencarnações, isto é, das vidas sucessivas que vivemos na terra, e algumas delas bastante dolorosas, é através delas que sairemos da materialidade primitiva e alcançaremos a espiritualidade superior. Tal sucede com a jóia que antes de ostentar todo seu fulgor, tem de suportar inúmeros processos de burilamento até perder toda a ganga que a enfeiava e lhe ocultava o magnífico brilho.
O que devemos temer não são as perseguições que apenas atingem o nosso corpo. Devemos temer o que atinge a alma. O corpo é transitório, a alma é imortal. O que atinge a alma e pode lançá-la no inferno, isto é, em muitos séculos de sofrimentos expiatórios repercutindo nas vidas sucessivas, é a hipocrisia, o orgulho, o ódio, os crimes, os vícios, em resumo, o mal sob qualquer forma de que se revista.
29 - Porventura não se vendem dois passarinhos por um asse? e nenhum deles não cairá sobre a terra sem a vontade de vosso Pai.
30 - E até os mesmos cabelos da vossa cabeça todos eles estão contados.
31 - Não temais pois, que mais valeis vós que muitos pássaros.
Aqui Jesus nos mostra a soberana vontade de Deus regendo o Universo, até nas menores coisas. E adverte os trabalhadores do Evangelho de que as horas que despenderem no trabalho espiritual nunca lhes farão falta, no que se refere à parte material de suas existências. Se mesmo um passarinho é objeto dos desvelos de Deus, quanto mais nós não o seremos? Por isso aqueles que dedicarem uma fração de tempo ao serviço divino de cooperarem com o Mestre na difusão do Evangelho; e os que destinarem algumas horas por semana ao estudo dos assuntos espirituais e evangélicos, não deverão temer que estes momentos lhes prejudiquem o andamento de suas ocupações materiais.
Há pessoas que não procuram seguir o Espiritismo, e outras que não querem desenvolver sua mediunidade com receio de perderem na parte material. Aquelas horas que deveriam consagrar ao serviço divino e ao estudo do Evangelho para seu aprimoramento moral e espiritual, passam-nas trabalhando para aumentar seus haveres materiais, receosas de que mais tarde, lhes falte o necessário. É um erro pensar assim.
Até mesmo os cabelos de nossas cabeças estão contados é uma figura de que se serve o Mestre para afirmar que na parte material nada há de faltar aos que consagram algumas horas, por poucas que sejam, ao serviço de Deus.
É verdade que devemos ser previdentes; contudo, não devemos exagerar. Para desempenhar nossa vida na terra temos necessidade de duas coisas: dos bens espirituais e; bens materiais; êstes para nosso corpo, e aqueles para nossa alma. E o Senhor proverá às necessidades do trabalhador, uma vez que este demonstre boa vontade na execução seu pequenino labor evangélico. O Senhor não exige que nos sacrifiquemos às coisas divinas; nós, de nossa parte, não nos devemos sacrificar às coisas materiais.
32 - Todo aquele pois que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus.
33 - E o que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus.
Confessar Jesus diante dos homens é viver de conformidade com seus ensinamentos. E ter a coragem suficiente de abandonar os preconceitos das religiões dogmáticas, o preconceito das raças e das classes sociais; é ver em cada pessoa um irmão que merece o nosso carinho, respeito e consideração. Enfim, confessar Jesus diante dos homens é submeter-se à lei da fraternidade universal. Os médiuns que sinceramente confessam Jesus diante dos homens, são aqueles que não medem sacrifícios quando se trata de levar sua cooperação mediúnica quer ao leito de um enfermo, quer em auxílio de um obsidiado e a qualquer lugar onde haja dores, aflições e lágrimas. Tais médiuns sabem renunciar aos prazeres do mundo, sempre que estes interfiram no desempenho de seu medianato.
34 - Não julgueis que vim trazer paz à terra; nào vim trazer-lhe paz, mas espada;
35 - Porque vim separar ao homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra.
Uma idéia, por mais nobre que seja, ao aparecer desperta a oposição da maioria. Os hábitos seculares, o comodismo, a indiferença, o interesse, tudo luta contra ela. Semelhante estado de coisas é motivado pelo pequeno adiantamento espiritual, que caracteriza a quase totalidade dos habitantes da terra. Cumpre notar que na terra estão encarnados espíritos em diversos graus de evolução; alguns já alcançaram um grau de adiantamento superior e aceitam facilmente as idéias novas; outros estão em grau inferior de espiritualidade e mostram-se refratários a ensinamentos mais elevados, para cuja compreensão ainda não estão suficientemente preparados. Daí se origina a divergência de opiniões, que divide até os membros de uma mesma família.
Dizendo Jesus que não veio trazer paz, mas espada, quis dar-nos a entender que sua doutrina, enquanto não fosse compreendida pela totalidade dos encarnados, seria causa de atritos entre os que a compreenderiam e os que não a compreenderiam. E nos adverte de que esses atritos começariam dentro dos próprios lares.
O Espiritismo se bate pela unidade religiosa do mundo, porque a lei divina é uma só. Contudo, a unidade religiosa só será possível quando a Terra tiver acabado de sofrer sua transformação para planeta de categoria mais elevada. Então será habitada por espíritos de maior adiantamento espiritual, os quais assimilarão com mais facilidade as idéias progressistas e trabalharão por fazê-las triunfar. Em sua simbologia, a Bíblia prediz que tal transformação será feita pelo fogo e por cataclismas. Não será assim. A transformação que se processará, será apenas de ordem moral e a Terra já está passando por ela. Pouco a pouco se encarnarão espíritos de maior elevação espiritual, uns aqui e outros acolá, até completarem um todo homogêneo, que impulsionará a Terra para uma hierarquia espiritual superior, no concerto dos mundos que compõem o Universo.
Notemos que todas as religiões do planeta são boas, pois, estão graduadas de conformidade com a compreensão de seus adeptos, constituindo cada uma delas uma face da Verdade, que se revela progressivamente à humanidade. Sendo as revelações progressivas, há religiões que melhor explicam as leis divinas. E os espíritos que acompanham o progresso, são aqueles que vão aceitando as revelações à medida que elas surgem. Nesse caso está o Espiritismo com revelações mais adiantadas. Moisés revelou uma parte da Verdade, graduada para a compreensão dos povos de seu tempo. Jesus continuou a obra de Moisés, acrescentando-lhe novas revelações e novo, ensinamentos. O Espiritismo continua a obra de Moisés e de Jesus, enriquecendo-a de novos valores espirituais, mediante o que vem revelar aos homens. Assim vemos que o Espiritismo nada mais é do que a continuação das religiões que o antecederam, explicando-as sob um ponto de vista mais adiantada, mais racional e mais compreensível, porque não usa símbolos, nem tem dogmas. E lança luz sobre o que seus predecessores deixaram subentendido, por não terem podido explicar tudo aos povos das épocas em que viveram. A Moisés e a Jesus cumpria esperarem que a inteligência humana se desenvolvesse, para que pudesse assimilar conhecimentos de ordem superior.
E o Espiritismo veio precisamente na época em que a humanidade, estando com sua inteligência amadurecida, podiam receber ensinamentos novos.
36 - E os inimigos do homem serão os seus mesmos domésticos.
37 - O que ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim; e o que ama o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim.
Jesus nos avisa de que os inimigos do homem são os seus próprios domésticos, porque as opiniões contraditórias, que se formam dentro de um lar, poderão desviar do caminho espiritual aqueles que o querem seguir.
É comum alguém querer desenvolver sua mediunidade e encontrar cerrada oposição justamente naqueles que mais deveriam entusiasmá-lo para isso. Outros querem seguir o Espiritismo, freqüentar as sessões, estudar o Evangelho e a mesma má vontade em secundá-las em seus esforços divinos se manifesta no seio de sua família. Às vezes é o marido que serve de obstáculo à mulher e a mulher ao marido; outras vezes são os pais que não se interessam pelo futuro espiritual de seus filhos e nada fazem para guiá-los espiritualmente; e acontece também que pelo falso amor que os pais consagram aos filhos, não usam da energia necessária para conduzi-los pelo reto caminho, deixando que eles se percam nas ilusões do mundo. Os pais espíritas precisam prestar atenção nesse particular: não basta que eles se esforcem por seguir a Jesus; é imprescindível que incutam no coração de seus filhos, desde pequeninos, os hábitos de acordo com os ensinamentos de Jesus; só assim estarão cooperando com o Mestre na evangelização do mundo.
Ser digno de Jesus, portanto, é saber superar todos os obstáculos que se nos apresentarem contra nosso desejo de espiritualização. Esses obstáculos se manifestarão com maior intensidade em nosso ambiente doméstico; é indispensável, então, uma grande dose de boa vontade, muita fé em Deus, muita oração a fim de que esses obstáculos sejam removidos, não pela violência, mas pelo entendimento mútuo e pelo amor que todas as criaturas se devem umas às outras.
38 - E o que não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.
A cruz a que Jesus se refere, pode apresentar-se a nós sob três aspectos: no cumprimento de nosso dever de cada dia, no sofrimento e na mediunidade.
É mister que cumpramos nossos deveres diários com a melhor boa vontade e segundo os preceitos de Jesus, tratando cristãmente de todos os que se aproximarem de nós e dos que vivem sob nossa dependência. Para isso devemos esforçar-nos para sermos um padrão de moralidade, de trabalho, de fé em Deus e de amor ao próximo. É baseando mesmo os nossos mínimos atos no Evangelho de Jesus, que nos tornaremos dignos de Jesus.
O sofrimento pelo qual passaremos também constitui a cruz que devemos carregar durante nossa existência. Não há efeito sem causa. Se sofremos, é porque o merecemos. Se não conseguirmos descobrir a causa de nosso sofrimento na existência atual, ela estará, forçosamente, numa de nossas existências do passado. Nunca nos esqueçamos de que nossa vida presente é a conseqüência dos atos que tivermos praticado em nossas encarnações anteriores, assim como nosso futuro será o resultado de nossas ações da vida presente .. Geralmente, os que sofrem se afastam de Jesus por se lastimarem. E o sofrimento humano pode ser causado pelo desvio das leis divinas, pela ignorância e pelo endurecimento. Qualquer transgressão das leis divinas causa sofrimentos. Podemos escapar da justiça terrena, mas jamais poderemos escapar da Justiça Divina, que dá a cada um unicamente o que cada um merece, como conseqüência de seus atos.
A ignorância é outra grande causa de sofrimentos. A ignorância conduz ao vício e ao crime. Por isso o indivíduo já esclarecido à luz do Evangelho deverá combater acerrimamente a ignorância de seus irmãos, ensinando-os a respeitarem os preceitos de Jesus.
O endurecimento é outra fonte de sofrimento. O indívíduo endurecido é aquele ao qual já foi mostrado o bom caminho, mas por orgulho, por comodismo, por conveniências sociais ou por pouca vontade, persiste no erro. Semeia, assim, sementes de sofrimentos que, mais cedo ou mais tarde, e nesta vida ou na outra, germinarão, resultando numa colheita de frutos amargos.
Os que sofrem, por conseguinte, que tornem a cruz dos seus padecimentos e a carreguem com calma, paciência, resignação e coragem até o fim, para que possam ser dignos de Jesus.
Dado o estado de incompreensão em que está imersa a maioria dos encarnados, a mediunidade se torna, por vezes uma cruz bem pesada. E o médium digno de Jesus é o que toma a cruz de sua mediunidade e a transforma em luz para os que jazem nas trevas, consolo para os aflitos, esperança para os tristes, alívio para os sofredores e guia para os ignorantes.
39 - O que acha a sua alma, perdê-la-á; e o que perder a sua alma por mim, achá-la-á.
Nossa verdadeira vida é a vida espiritual que viveremos quando estivermos libertos da matéria. A vida material é fugaz e por mais que façamos, não a poderemos conservar senão por um curto período .. É um erro, pois, não cuidarmos de nos preparar para a vida espiritual, que constitui nosso futuro. Se desde nossa infância tudo fazemos para que fiquemos aparelhados para triunfarmos materialmente, procurando auferir as maiores vantagens que a terra nos pode oferecer, porque não nos prepararemos também para a vida espiritual na qual ingressaremos infalivelmente?
Acham sua alma na terra os que julgam que é aqui que estão seus únicos interesses e concentram seus esforços apenas na consecução das coisas materiais. Quando despertarem no mundo espiritual, verificarão que correram atrás de ilusões. E como não conquistaram nem um pouquinho de bens espirituais, estarão com suas almas perdidas na maior pobreza espiritual. Os que perdem suas almas na terra são aquêles que tudo fazem para conquistar os bens espirituais, através da vida terrena. Compreendem que a vida terrena é um meio que Deus lhes dá para o progresso de suas almas. E como sabem que a vida terrena é passageira, envidam seus melhores esforços na aquisição de tudo quanto lhes possa ser útil na pátria espiritual.
Perder a alma por Jesus é observar rigorosamente os seus preceitos, única maneira de se conseguir a riqueza espiritual, que fará com que as almas se achem ricas e felizes quando desencarnarem.
40 - O que a vós vos recebe, a mim me recebe; e o que a mim me recebe, recebe aquele que me enviou.
Diariamente estamos recebendo os ensinamentos de Jesus.
Se prestarmos um pouco de atenção, notaremos que continuamente somos advertidos sobre a prática do bem. Não só os evangelizadores, porém, mesmo uma criança serve de mensageira para trazer-nos uma mensagem de Jesus, que nos aponte nossos deveres para com Deus e para com nosso próximo. Os bons espíritos estão incessantemente velando para que os ensinamentos do Mestre sejam relembrados por nós e para isso usam de todos os meios ao alcance deles. Nosso anjo da guarda não cessa de nos dirigir salutares inspirações para que não nos afastemos da observância das leis divinas. Nos conselhos de um amigo, nas leituras úteis, nos bons pensamentos que se formam em nosso cérebro, nas preleções evangélicas que ouvimos, são transmitidas lições de alto interesse para nossas almas. Nossa consciência é a sentinela vigilante, que faz com que jamais deixemos de receber a Jesus no Íntimo de nossos corações. Basta que ouçamos nossa consciência com sinceridade e humildade e sua voz nos recordará sempre nas vicissitudes e na bonança, a fé que Jesus nos recomendou, a esperança que ele nos trouxe, a caridade que nos ensinou a praticar e a resignação ante a vontade do Pai celestial que exemplificou.
41 - O que recebe um profeta na qualidade de profeta receberá a recompensa de profeta; e o que recebe um justo na qualidade de justo receberá a recompensa de justo.
42 - E todo o que der de beber a um daqueles pequeninos um copo de água fría só pela razão de ser meu discípulo, na verdade vos dígo que não perderá a sua recompensa.
Profetas, no tempo de Jesus, eram os inspirados que ensinavam o povo a respeitar os mandamentos divinos. E os justos eram as pessoas que viviam conforme a lei de Deus. Era crença geral que o Pai não deixaria sem recompensa aquele que agasalhassem um profeta ou um justo. Jesus leva mais longe ainda a recompensa divina, afirmando que receberão paga celeste até os que derem um simples copo dágua a um pobrezinho, pela simples razão de quererem obedecer aos preceitos do Evangelho.
Eliseu Rigonatti
Evangelho dos Humildes

CORPO TERRESTRE E CORPO CELESTE


"Nem toda carne é uma mesma carne, mas uma, certamente, é a dos homens e outra
a dos animais, uma a das aves e outra a dos peixes. E corpos há celestes e corpos há
terrestres, mas uma é, por certo, a glória dos celestes e outra a dos terrestres." Paulo
O erudito apóstolo das gentes, instruindo membros da igreja de Corinto acerca da imortalidade, reporta-se, pelos dizeres acima, variadíssimos aspectos em que a matéria se desdobra, assumindo, como indumento do espírito, estruturas apropriadas ao meio que lhe serve de campo de ação.

Assim, pois, como o Espírito age mediante o corpo físico quando encarnado, continuará agindo após a desencarnação através do corpo astral, fluídico, ou celeste, como o denomina Paulo. Trata-se do elemento intermediário entre o corpo físico e o Espírito, tal como foi revelado por Kardec, sob a denominação de perispírito. Esta vestidura permanece acompanhando os seres em sua trajetória evolutiva, passando, a seu turno, por transformações de conformidade com aquelas que se vão operando nos mesmos seres que a revestem.
Por isso, essa veste estabelece e fixa automaticamente a ambiência própria às várias categorias de Espíritos, consoante o estado em que se encontram. Não há, pois, necessidade de barreiras que delimitem a zona em que devem permanecer.
A separação entre bons e maus decorre naturalmente da natureza dos seus respectivos perispíritos. Cada um leva consigo o seu céu ou seu inferno, "o umbral" ou o lar celeste, onde permanecerá agindo e lutando, aprendendo e progredindo.

Além dessa função, o corpo celeste presta-se a outra de subida importância, que é registar em sua maravilhosa tessitura todas as impressões, experiências, emoções e conhecimentos adquiridos pelo Espírito, tornando-se, assim, o repositório vivo que o acompanha sempre, tanto nos períodos de encarnação como nos de erraticidade.

Destarte, aclara-se a velha e debatida questão do subconsciente, a propósito da qual tantas teorias esdrúxulas têm sido expendidas, tornando o assunto cada vez menos inteligível e mais confuso.

Levamos conosco o nosso bem e o nosso mal, os nossos erros e os nossos acertos, os elementos de paz ou de atribulação, de alegria ou de sofrimento, de acordo com os atos que praticamos, cujas consequências se refletirão sobre nós, não importa onde nem quando, sendo porém, fatal, como expressão que é da soberana e indefectível imanente.
E assim verificamos como é bela e fascinante a verdade em sua simpleza, desacompanhada dos artifícios e das lantejoulas que a desnaturam, empalidecendo seu esplendor e refulgência.
Bendita, pois, seja a Revelação, fonte inexaurível de luz que espanca as trevas da ignorância dos simples e humildes, deixando que se debatam na escuridão os que trazem enfunadas as velas da vaidade e da presunção.
Vinícius
Na Seara do Mestre

NÃO DAR PÉROLAS AOS PORCOS


"Não deis aos cães as covas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas." (Mateus, 7:6)

Que espécie de coisas santas se pode deitar aos cães, e quem, por acaso, quem atirará suas pérolas aos porcos? Jesus Cristo acrescentou, ainda, em seus ensinamentos: para evitar que os porcos, pisando-as, se firam, e, virando contra vós, vos despedacem.

Trata-se, evidentemente, de um ensino um tanto exótico, o qual, entretanto, como tantos outros ensinamentos do Mestre, encerra um sentido alegórico, passível de interpretação à luz meridiana da razão, uma vez que o apóstolo afirmou que a letra mata e o Espírito vivifica.

Procuremos, pois, elucidar essa questão à luz dos próprios ensinamentos evangélicos.

Quando Jesus fez a sua peregrinação pela Terra, dado o fato de ser um renovador, que vinha revolver, vinha revolucionar os costumes e abalar os alicerces de um mundo prenhe de corrupção e de aberrações de todos os matizes, não demorou em granjear elevado número de inimigos.

Seus maiores detratores foram justamente os sacerdotes judeus, que manipulavam o povo, ensinando-lhe doutrinas e práticas deletérias. Eles, que conheciam as Escrituras e não ignoravam que elas vaticinavam o advento do Messias, deveriam ser, portanto, os mais achegados amigos e admiradores do Cristo e de sua obra incomparável. No entanto, agiram ao contrário, tornando-se os mais acerbos inimigos de Jesus.

Além dos sacerdotes, o Mestre defrontou-se com outros
renhidos opositores: os escribas, os fariseus e os saduceus, além dos próprios poderes políticos da época, os quais tinham nítido interesse em contemporizar com os costumes e as tradições dos judeus, a fim de exercerem o seu domínio, a sua hegemonia. Desse modo, o embate era entre forças terrenas, poderosas, e Jesus Cristo com o seu pequenino grupo de apóstolos e admiradores. Uma luta desigual, entre um manso cordeiro e uma malta de lobos vorazes.

As pregações de Jesus, verdadeiras coisas santas e pérolas de inestimável valor, caíram no seio desses seus inimigos como verdadeiros petardos, que vinham abalar a muralha aparentemente inexpugnável de suas velhas e enraizadas tradições e preconceitos.
Eles se enfureceram, quando viram os seus interesses contrariados pela nova doutrina revelada pelo Cristo; isso fez com que se rebelassem contra os maravilhosos ensinamentos evangélicos, e, tais como animais feridos, investiram-se contra o grande Enviado dos Céus, deixando de esposar as novas idéias redentoras. Travou-se, assim, uma luta entre a luz e as trevas.
Assim como Deus faz o sol brilhar sobre justos e injustos e a chuva beneficiar bons e maus, as coisas santas, oriundas do Céu, oferecidas preciosas pérolas dos ensinamentos do Mestre foram oferecidas a esses homens recalcitrantes, mas eles, como autênticos cegos que não querem ver, não compreendendo o valor das palavras ensinadas e a verdade nelas contida, sentiram-se feridos em seus interesses, avançaram contra o Inovador e seus emissários, crucificando um, flagelando outros e matando muitos deles.
Desse modo, as pérolas foram pisadas e as coisas santas menosprezadas. Evidentemente, esse ensinamento de Jesus também representou uma admoestação a todos os seareiros de boa vontade, para que evitem discorrer sobre os seus ensinamentos com criaturas empedernidas e refratárias a tudo o que vem do Alto, aos rebelados que se insurgem contra as leis de Deus, ou mesmo em ambientes inadequados, onde alguns homens preferem chafurdar-se no lamaçal dos vícios e da imoralidade, relegando para plano secundário as coisas nobilitantes, que impulsionam o Espírita para a frente e para o Alto.

Muitos homens, de corações endurecidos, se insurgem contra essas idéias reformistas, que objetivam iluminar a mente dos Seres e os horizontes do mundo, porque isso representará um fim ao império das trevas. Conseqüentemente, no auge da desespero, investem-se contra os inovadores, blasfemando e tornando-se verdadeiros entraves ao encaminhamento da Humanidade, rumo a seus relevantes objetivos, obstaculizando uma mais rápida aproximação entre as criaturas humanas e o seu Criador.

Paulo A. Godoy

APASCENTA AS MINHAS OVELHAS



"Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes outros?" ( João, 21:15)
Que razões insondáveis teriam levado o Mestre, em Espírito, uma vez que já havia acontecido o episódio da crucificação, a indagar de Pedro, por três vezes consecutivas, se ele o amava mais do que os outros seus companheiros?

Diante da resposta positiva do apóstolo, o Espírito do Mestre acrescentou: 'Apascenta as minhas ovelhas'.

Será que essa pergunta foi formulada, porque o velho pescador do Tiberiades deveria ser, na realidade, o chefe dos apóstolos?

Entretanto, Ele havia recomendado aos seus discípulos que nenhum deles deveria procurar exercer hegemonia. Alguns historiadores esclarecem que Tiago Maior, e não Pedro, se tornou, de fato, o orientador do pugilo de apóstolos, após o episódio da crucificação exercendo sobre os demais evidente liderança.

O velho apóstolo, habituado a ver João confabular muito frequentemente com o Senhor, surpreendeu-se pelo fato de Ele fazer-lhe aquela indagação, em vez de fazê-la a João. Por isso, olhando para trás e vendo o discípulo amado vir a certa distância, indagou: E deste, o que lhe será feito? O que mereceu a réplica: 'Que te importa se a este quero que fique até que eu volte?'.

Esta passagem evangélica levou os discípulos a acreditarem que João não desencarnaria, enquanto Jesus Cristo não voltasse. Os fatos posteriores comprovaram que não foi assim. João foi o único apóstolo que não pereceu de morte violenta, pois foi preso, remetido para um longo exílio na Ilha de Patmos, onde desencarnou após haver recebido, via mediúnica, o monumental livro que se chama Apocalipse.
Os Evangelhos registram, também, que, logo após ter o Mestre formulado aquela pergunta a Pedro, acrescentou: Na verdade, na verdade te digo, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos; e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras, o que foi interpretado como uma antevisão do gênero de morte que o velho apóstolo iria experimentar.

E digno de realce, nesse ensinamento, ter Jesus Cristo surgido em Espírito aos seus antigos companheiros, propiciando, assim, a mais efusiva demonstração da imortalidade da alma, comprovando que esta sobrevive ao que se convencionou chamar morte. A crucificação aniquilou o corpo que o Mestre havia tomado para o desempenho do seu Messiado, mas a sua alma, imperecível, eterna, sublimada, prosseguiu para a Eternidade, deixando o túmulo vazio, numa demonstração inequívoca de que a morte não é o fim.

O Espírito de Jesus, liberto do corpo, ainda permanecia preocupado com a instabilidade de Pedro, no tocante à sua libertação pelo conhecimento da Verdade, por isso, voltou, a fim de indagar se ele o amava mais do que os demais, se estava em condições de desvenciliar-se dos convencionalismos, dos ritualismos e do apego às tradições, abandonando tudo para tão-somente abraçar a Doutrina libertadora que Ele viera revelar, tornando-se, na realidade, um autêntico pastor de todas as ovelhas, de todas as almas, ainda que fossem dos mais diversos rebanhos. Se ele estava apto a falar aos judeus ortodoxos, aos samaritanos, aos gentios!

Aparentemente, Simão Pedro e os demais apóstolos, pelo fato de serem homens de poucas letras, ou por motivo de apego aos formalismos, estavam despreparados para a tarefa gigantesca de revolver, de revolucionar o mundo religioso dos pagãos.
Essa contingência levou o Espírito de Jesus a convocar Paulo de Tarso, na Estrada de Damasco, a fim de que o novo e dinâmico discípulo levasse as palavras altamente consoladoras dos Evangelhos a todos os povos, a todas as ramificações religiosas, procurando, assim, cooperar na tarefa ingente de reunir todas as ovelhas num só rebanho.

A História demonstrou que João não ficou até que o Cristo voltasse. Portanto, é óbvio que, das palavras do Mestre, se deverá entender "o Espírito que vivifica". Por outro lado, o Cristo não voltou, nem voltará na forma que os homens concebem. A sua volta será como o relâmpago que parte do oriente e se mostra no ocidente, ou seja, será tarefa não somente de um homem, mas de uma plêiade de Espíritos benfeitores, sob a égide do Espírito de Verdade, quando, então, serão restauradas na Terra as primícias dos ensinamentos de Jesus Cristo.

O Espiritismo, que representa o advento do Consolador, se encarregará dessa magistral tarefa de restabelecer em seus devidos lugares tudo aquilo que o Mestre nos ensinou, tudo aquilo que os interesses de homens e grupos fizeram com que fosse retirado dos seus lugares, sofrendo o impacto das deturpações.

Paulo A. Godoy

O OLHO BOM


"A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também
todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo
será tenebroso." (Lucas, 11:34)
"A candeia do corpo são os olhos, de sorte que, se os teus olhos forem
bons, todo o teu corpo terá luz. Se, portanto, a luz que em ti há são
trevas, quão grandes serão tais trevas!". - (Mateus, 6:22)
O que teria Jesus pretendido dizer, quando discorreu sobre o "olho bom"? Será que o Mestre teria em mente referir-se a um olho sem doença, a um olho bonito, a um olho que enxerga bem, ou, ainda, é um capaz de fazer boa pontaria? E o olho mau, seria aquele que pouco vê, que não é bonito e está cheio de enfermidades?

Obviamente, não foi essa a intenção do Meigo Nazareno. O "olho bom", a que ele se referiu, é aquele que vê tudo com otimismo, que encara tudo com simpatia, que revela amor por tudo aquilo que o cerca, que procura ocultar o defeito alheio, fazendo evidenciar apenas as boas qualidades daqueles que com ele convivem.

Por outro lado, o "olho mau" é aquele que transmite pessimismo, que procura fazer evidenciar os erros e os vícios dos homens. E aquele que se compraz na maledicência, no ódio, inveja e no ciúme.

Corre mundo um conto que talvez seja lendário, mas encerra um ensinamento dos mais edificantes, o qual passamos a narrar: — Caminhava Jesus Cristo com seus apóstolos, numa de suas numerosas andanças entre a Judéia e a Galiléia, quando o pequeno grupo divisou o cadáver putrefato de um cachorro.
Os apóstolos, de maneira unânime, voltaram seus rostos, para não sentirem o terrível fétido. Jesus, no entanto, agiu de modo diverso. Aproximou-se do cadáver, abaixou-se, examinou bem e disse: Que belos dentes ele tinha!

Na verdade, onde todos os apóstolos estavam vendo apenas ossada e podridão, o olho bom do Meigo Pastor viu uma coisa boa — os belos dentes do animal.

Assim, devemos ser com relação a nós. Quando encontrarmos um irmão e nele notarmos tão-somente coisas más, devemos assumir que o nosso julgamento não é perfeito, por isso deveremos procurar nele uma coisa boa, uma virtude, que poderá vir a ser exaltada.

E interessante notar que o Cristo, através de suas palavras, fez com que o olho se tornasse o paradigma, para refletir tudo o que emana de nossa alma, ou reside nela. Realmente, uma pessoa que vê tudo pelo lado do Bem, é óbvio que já demonstra nítidos sinais de evolução moral e espiritual, por isso faz com que o amor norteie os seus rumos. Por outro lado, aquele que vê tudo pelo lado do mal, revela que a sua alma ainda está impregnada de sentimentos inferiorizados, fazendo jus ao que disse o Mestre: "Todo o seu corpo está tenebroso, e quão grandes serão essas trevas!"

Aqui cabe urna indagação: Será que Deus criou os seus filhos alguns com "olho bom" e outros com "olho mau"? Analisando-se a pergunta à luz da Lei da Reencarnação, tudo é elucidado. O que tem o "olho bom" é, indubitavelmente, o homem que já amargou um passado de lutas nobilitantes. Já edificou a sua alma nos embates que enfrentou em vidas pretéritas. Já passou por prolongadas experiências depuradoras, já se reencontrou, e hoje sente em seu coração grande amargura, quando vê alguém acometido de injustiças, ou passando por fases amargas no caminho da vida.

Em contrapartida, o que vê as coisas com seu "olho mau", é aquele que se rebela contra os desígnios de Deus, que se julga injustiçado, que não dá guarida aos ensinamentos evangélicos, que prefere viver distanciado do bem e da luz; por isso, passa a irradiar trevas e sentimentos negativos, uma vez que nada tem de bom para dar.

Busquemos nos Evangelhos paradigmas para o "olho bom" e para o "olho mau". Nenhum exemplo melhor que aquele propiciado por Caifás, o sumo sacerdote do tempo de Jesus. Enquanto o Mestre distribuía messes de luz, enquanto ministrava ensinamentos os mais edificantes, curando cegos e paralíticos, expulsando maus Espíritos, limpando leprosos e levantando criaturas desencaminhadas e quebrantadas, Caifás alimentava ódio de morte contra Ele, chegando a dizer:
- "Não considereis que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não venha a perecer toda a nação?" E o sumo sacerdote, que pela sua função deveria ser portador do "olho bom", não ficou satisfeito, enquanto soube que Jesus Cristo havia sido suspenso no madeiro infamante, entre dois facínoras.

Por outro lado, o melhor paradigma para o "olho bom" é o próprio que buscava a companhia de pecadores e criaturas marginalizadas, porque "São doentes os que precisam de médico", e Ele, o mais autêntico dos médicos da alma, sofrendo o ignominioso sacrifício do Calvário, perdoou as faltas cometidas pelos seus algozes, suplicando a Deus: "Pai! perdoai-lhes, porque não sabem o que estão fazendo."

Paulo A. Godoy

O SINAL DE JONAS


"Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado
outro sinal senão o sinal do profeta Jonas." - (Lucas, 11:29)
Niníve, capital da antiga Assíria, situada à margem do rio Tigre, era, na Antiguidade, uma cidade muito importante, com uma população superior a 120 mil habitantes. Como ocorria com apreciável parte das grandes cidades do passado, ela vivia mergulhada na corrupção, e entre os habitantes reinavam costumes dissolutos e numerosos desregramentos.
O profeta Jonas, devidamente instruído, via mediúnica, dirigiu-se àquela cidade e ali fez com que seus habitantes se compenetrassem do erro em que estava incorrendo. Durante 40 dias, o profeta fez as suas pregações; então, suas palavras foram acolhidas e, desde o próprio rei até o mais humilde servidor, todos se decidiram a levar a sério aquelas admoestações; assim, como forma de penitência, conforme o costume da época, todos cobriram-se com sacos e se assentaram sobre a cinza.
Com essa demonstração de arrependimento, a cidade foi poupada pela Justiça Divina, evitando-se a destruição que se avizinhava. Quando Jesus desempenhava o seu Messiado, foi procurado por um grupo de escribas, fariseus e saduceus, e dentre eles alguns estrangeiros, que lhe pediram um sinal dos Céus, para que vissem e acreditassem.
A resposta do Mestre foi peremptória: "Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado outro sinal senão o sinal de Jonas." Jesus Cristo proferiu estas palavras angustiado pela incompreensão e dureza dos corações humanos. Ele havia descido à Terra, para o cumprimento da promessa sobre o advento do Messias Redentor.
No desenvolvimento de sua transcendental missão, Ele havia propiciado os mais autênticos sinais: a leprosos, restaurando a vista de cegos, levantando paralíticos e, sobretudo, trazendo uma verdade nova que vinha iluminar a mente dos homens e os horizontes sombrios do mundo. Não obstante todas essas manifestações, ali estava o segmento de um povo que se considerava "eleito de Deus", que se mantinha profundamente empedernido, "duro de cerviz e incircunciso de coração.

Aquele grupo de pessoas foi pedir-lhe um sinal dos Céus, entretanto, os sinais estavam sendo dados diuturnamente; por isso, a sua resposta foi negativa. O sinal de Jonas deveria ser o suficiente para abalar as consciências endurecidas daqueles homens. Diante da personalidade de Jesus Cristo, Jonas não passava de um profeta de projeção relativamente pequena. No entanto, dirigindo-se à população de Nínive, apregoou que a cidade seria destruída por Deus se o seu povo não mudasse de comportamento. Todos receberam as palavras do profeta e, receosos da provável destruição, mudaram radicalmente o modo de vida.

Jesus Cristo, o maior Espírito dentre os que desceram fez persistente e profusa pregação entre os homens, mostrando-lhes como seus corações estavam endurecidos; desmascarou a hipocrisia dos escribas e dos fariseus, demonstrando a precariedade dos seus ensinos e a recalcitrância em obedecer às verdades que emanavam dos Céus, através dos profetas. Não obstante, suas palavras não foram aceitas por muitos e Ele foi condenado e crucificado. Em virtude dessa obstinação e da maldade reinante nos corações desses homens, "a Jerusalém que matava os seus profetas, que apedrejava todos aqueles que lhe eram enviados, foi destruída, dela não restando pedra sobre pedra". (Lucas, 13:34-35).
Quando o Mestre asseverou que nenhum sinal seria dado àquela geração adúltera, infiel, mas apenas o sinal do profeta Jonas, Ele pretendeu dizer que, se o povo fosse mais dócil, mais humilde, mais razoável, teria recebido as suas palavras, assim como o fez o povo de Nínive.
Na realidade, o sinal de Jonas era do conhecimento de todos, pois os escribas liam para o povo o livro do profeta Jonas, e, obviamente, a atitude do povo da capital da Assíria, acatando as suas admoestação e arrependendo-se de suas faltas, era notória para todos. Amargurado diante da incompreensão do seu povo, proclamou Jesus Cristo: "A rainha do sul se levantará no dia do juízo contra os homens desta geração, e os condenará, pois dos confins da Terra ela veio para ouvir a sabedoria de Salomão; eis aqui está quem é maior do que Salomão.
Os homens de Nínive se levantarão no dia do juízo contra esta geração e a condenarão, pois se converteram com a pregação de Jonas; e aqui está quem é maior do que Jonas." (Lucas, 11:31-32)
O apego dos escribas e fariseus aos preceitos das leis antigas era apenas aparente. Eles não aceitavam o sinal de Jonas e muito menos o de Jesus. Não se preocupavam com os sinais dados pelos antigos profetas, o que levou o Mestre a exclamar muito judiciosamente: "Não cuidadeis que sou eu que vos hei de acusar diante de meu Pai. Há um que vos acusa: Moisés, em que vós esperais.
Porque, se vós crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim, pois de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?" (João, 5:45 a 47). A pregação de Jesus Cristo foi feita num clima de brandura, de persuasão. Dizia Ele: "já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe a vontade do seu senhor. Mas tenho vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer." (João, 15:15) Não obstante tudo isso, Ele não era aceito, nem na aparência, nem na realidade, pelos mentores do povo de Israel.
A corroboração desta assertiva encontramo-la em (João, 12:37-38): "E ainda que Ele tendo feito tantos milagres diante deles, não criam nele, para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, quando disse: "Senhor, quem acreditou em vossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?"
Da mesma forma como os Espíritos dos homens são submetidos a penosos resgates individuais, quando malbaratam o legado precioso que Deus lhes concedeu, as cidades também experimentam quedas e dores, quando não dão guarida aos ensinos que, de um modo ou de outro, são proporcionados à sua população pelos mensageiros dos Céus.
As cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas em consequência de seus inúmeros desregramentos; no entanto, segundo a própria expressão de Jesus Cristo, menos rigor haverá para elas, no julgamento divino, do que para Corozaim, Betsaída, Cafarnaum e Jerusalém, onde autênticos sinais foram produzidos pela interferência do Mestre, sem que houvesse acontecido o devido aproveitamento.
Paulo A. de Godoy

PARÁBOLA DA CANDEIA


"Ninguém, depois de acender uma cadeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram veja a luz. Porque não há coisa oculta que não venha a ser manifesta; nem coisa secreta que se não haja de saber e vir à luz. Vede, pois, como ouvis; porque ao que tiver, ser-lhe-á dado; e ao que não tiver, até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado".
(Lucas, VIII, 16-18)
"E continuou Jesus: Porventura vem a candeia para se pôr debaixo do módio ou debaixo da cama? Não é antes para se colocar no velador? Porque nada está oculto senão para ser manifesto; e nada foi escondido senão para ser divulgado. Se alguém tem ouvidos de ouvir, ouça. Também lhe disse: Atentai no que ouvis. A medida de que usais, dessa usarão convosco: e ainda se vos acrescentará. Pois ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem, até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado".
(Marcos, IV, 21-25
1 - CAIRBAR SCHUTEL
A luz é indispensável à vida material e à vida espiritual. Sem luz não há vida; a vida é luz quer na esfera física, quer na esfera psíquica. Apague-se o Sol, fonte das luzes materiais e o mundo deixará, incontinenti, de existir. Esconda-se a luz da sabedoria e da religião sob o módio da má fé ou do preconceito, e a Humanidade não dará mais um passo, ficará estatelada debatendo-se em trevas.
Assim, pois, tão ridículo é acender uma candeia e colocá-la debaixo da cama, como conceber ou receber um novo conhecimento, uma verdade nova e ocultá-la aos nossos semelhantes. Acresce ainda que não é tão difícil encontrar o que se escondeu porque "não há coisa oculta que não venha a ser manifesta". Mais hoje, mais amanhã, um vislumbre de claridade denunciará a existência da candeia que está sob o leito ou sob o módio, e que desapontamento sofrerá o insensato que aí a colocou!
A recomendação feita na parábola é que a luz deve ser posta no velador a fim de que todos a vejam, por ela se iluminem, ou, então, para que essa luz seja julgada de acordo com a sua claridade. "Uma árvore má não pode dar bons frutos"; e o combustível inferior não dá, pela mesma razão, boa luz. Julga-se a árvore pelos frutos e o combustível pela claridade, pela pureza da luz que dá. A luz do azeite não se compara com a do petróleo, nem esta com a do acetileno; mas todas juntas não se equiparam à eletricidade.
Seja como for, é preciso que a luz esteja no velador, para se distinguir uma da outra. Daí a necessidade do velador. No sentido espiritual, que é justamente o em que Jesus falava, todos os que receberam a luz da sua doutrina precisam mostrá-la, não a esconderem sob o módio do interesse, nem sob o leito da hipocrisia. Quer seja fraca, média ou forte; ilumine na proporção do azeite, do petróleo, do acetileno ou da eletricidade, o mandamento é: "Que a vossa luz brilhe diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras (que são as irradiações dessa luz) glorifiquem o vosso Pai que está nos Ceús".
Ter luz e não fazê-la iluminar, é colocá-la sob o módio é o mesmo que não a ter; e aquele que não a tem e pensa ter, até o que parece ter ser-lhe-á tirado. Ao contrário, "aquele que tem, mais lhe será dado", isto é, aquele que usa o que tem em proveito próprio e de seus semelhantes, mais lhe será dado. A chama de uma vela não diminui, nem se gasta o seu combustível por acender cem velas; ao passo que estando apagada é preciso que alguém a acenda para aproveitar e fazer aproveitar sua luz.
Uma vela acendendo cem velas, aumenta a claridade, ao passo que, apagada, mantém as trevas. E como temos a obrigação de zelar, não só por nós como pelos nossos semelhantes, incorremos em grande responsabilidade pelo uso da "medida" que fizemos; se damos um dedal não podemos receber um alqueire; se uma oitava, não podemos contar com um quilo em restituição, e, se nada damos, o que havemos de receber? A luz não pode permaner sob o módio, nem debaixo da cama. A candeia, embora, matéria inerte, nos ensina o que devemos fazer, para que a palavra do Cristo permaneça em nós, possamos dar muitos frutos e sejamos seus discípulos.
Assim, o fim da luz é iluminar e o do sal é conservar e dar sabor. Sendo os discípulos de Jesus luz e sal, mister se faz que ensinem, esclareçam, iluminem, ao mesmo tempo que lhes cumpre conservar no ânimo de seus ouvintes, de seus próximos, a santa doutrina do meigo Rabino, valendo-se para isso do Espírito que lhe dá o sabor moral para ingerirem esse pão da vida que verdadeiramente alimenta e sacia.
Assim como a luz que não ilumina e o sal que não conserva para nada prestam, assim, também, os que se dizem discípulos do Cristo e não cumprem os seus preceitos, nem desempenham a tarefa que lhes está confiada, só servem para serem lançados fora da comunhão espiritual e serem pisados pelos homens. A candeia sob o módio não ilumina; o sal insípido não salga, não conserva, nem dá sabor.
CAIRBAR SCHUTEL
2 - PAULO ALVES GODOY
O mundo já foi contemplado com três grandes revelações: a primeira, quando do advento de Moisés; a segunda, com a vinda de Jesus Cristo e, a terceira, com a revelação do Espiritismo, ou a vinda do Espírito Consolador.
Quando Moisés levou a cabo a primeira, aqueles que o sucederam aureolaram-na com tantos aparatos exteriores e com tantos formalismos inócuos, que os seus ensinamentos se tomaram obscuros. Por isso, Deus, em Seu infinito amor, enviou Seu próprio Filho para trazer a segunda revelação, nova luz que passou a iluminar os horizontes do mundo; contudo, segundo afirma o evangelista João, logo no início do seu Evangelho "os homens temeram a luz porque suas obras eram más".
O Pai de misericórdia e amor, condoído dos homens, que ainda e dessa vez impregnaram a Doutrina do Cristo com sistemas inócuos e incompatíveis com a verdade, enviou o Espírito de Verdade a fim de restaurar as primícias dos ensinamentos do Meigo Rabi da Galiléia.
Veio o Espiritismo e os homens devem agora difundir as luzes de que essa Doutrina dimana, pois a sua finalidade básica " de afugentar da Terra as trevas da ignorância e do obscurantismo, colocando a luz sobre o velador, para que ela, como uma cidade edificada sobre uma montanha, seja vista por todos.
Não se deve jamais, consoante a recomendação de Jesus, acender uma lâmpada e colocá-Ia sob um vaso, porém, deve-se colocá-la sobre o velador, de forma a poder ser vista por todos.
Esse ensino de Jesus objetiva esclarecer que, qualquer pessoa que adquirir conhecimentos em torno de uma verdade, ainda que seja em pequena escala, não deverá guardar a luz desse conhecimento apenas para si, mas procurar divulgá-lo a fim de que todos venham a haurir dos seus benefícios.
Corroborando ainda mais a parábola, em outra parte do Evangelho, afirmou Jesus: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus". (Mateus 5: 16)
Assim como não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte, também resplandecerá a sua luz sobre a Terra, e sobressairá o homem compenetrado dos seus deveres, que se edificou moral e espiritualmente. Por isso, disse Jesus: "Vós sois a luz do mundo", referindo-se aos apóstolos, no entanto, tendo Ele dito que deveríamos nos tornar perfeitos, como perfeito é o Pai Celestial, é óbvio que todos nós temos o potencial para nos transformar em luzes do mundo.
Na Parábola da Candeia, Jesus Cristo preceituou a necessidade de darmos guarida às Suas recomendações, tornando-nos obreiros atuantes e de decisão inquebrantável, projetando-nos, não apenas pelas palavras, mas sobretudo pelos atos. É importante saber, entretanto, que para adquirirmos essa luz interior, há necessidade de nos desvencilharmos das viciações contraídas no desenrolar das vidas pretéritas e, isso se fará, através das reencarnações sucessivas que Deus, por excesso de misericórdia, nos concede.
Existe muita gente guardando, avarentamente, apenas para si, os conhecimentos que adquirem, não tolerando qualquer idéia de espargí-los. Isso sucede com os homens, em todos os campos de atividades humanas. Muitos passam seus conhecimentos apenas para seus filhos ou familiares, não concebendo a idéia de transferi-los a um estranho.
Guardar um ensinamento de ordem espiritual apenas para si, incita danos para o Espírito, uma vez que o Mestre preceituou na parábola que "não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz". De nada adianta uma pessoa que conheceu determinada verdade, guardá-la somente para si, pois o tempo se encarregará de fazer com que ela seja manifesta para todos.
Nos séculos passados, muitas coisas erradas foram apregoadas como verdades fundamentais, e muitos mentores religiosos, com o objetivo de emprestar-Ihes maior autoridade não trepidaram em rotulá-las como "revelação do Espírito santo". Eram condenados às fogueiras os que ousavam delas discordar. Nos tempos modernos, com a ampliação dos sistemas de comunicação, já não poderá prevalecer essa sistemática, imposta pelo processo do "ferro e fogo".
Jesus Cristo veio trazer à Terra um manancial de verdades irretorquíveis, entretanto, essas verdades atentavam contra as inverdades apregoadas pelos doutores da Lei de sua época, e Ele teve que carregar pesada cruz até o cimo do Calvário, onde foi crucificado.
Deveremos, pois, propugnar para que as luzes dos nossos conhecimentos sejam manifestas a todos. Importa sermos como uma cidade edificada sobre um monte, para que as virtudes e a luz, que espargem de nós, sejam vistas e passem a beneficiar a todos.
Complementando os ensinamentos contidos na parábola da Candeia, ensinou-nos o Mestre: "Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grande serão essas trevas. A candeia do corpo são os olhos, de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Os vossos olhos refletem as trevas ou as luzes que residem dentro de vós".
Os nossos olhos, por sua vez, refletem tudo aquilo que reside no recesso de nossas almas e, como decorrência, devemos procurar nos enquadrar nos ensinamentos dos Evangelhos, processando dentro de nós a REFORMA ÍNTIMA, que Jesus Cristo simbolizou como sendo a conquista do Reino dos Céus.
Paulo Alves de Godoy
3 - RODOLFO CALLIGARIS
Estas palavras de Jesus: "não se deve pôr a candeia debaixo da cama, mas sobre o velador, a fim de que todos os que entrem, vejam a luz", dão-nos a entender, claramente, que as leis divinas devem ser expostas por aqueles que já tiveram a felicidade de conhecê-las, pois sem esse conhecimento paralisar-se-ia a marcha da evolução humana.
Não espalhar os preceitos cristãos, a fim de dissipar as trevas da ignorância que envollvem as almas, fora esconder egoisticamente a luz espiritual que deve beneficiar a todos.
Manda a prudência, entretanto, que se gradue a transmissão de todo e qualquer ensinamento à capacidade de assimilação daquele a quem se quer instruir, de vez que uma luz intensa demais o deslumbraria, ao invés de o esclarecer.
Cada idéia nova, cada progresso, tem que vir na época conveniente. Seria uma insensatez pregar elevados códigos morais a quem ainda se encontrasse em estado de selvageria, tanto quanto querer ministrar regras de álgebra a quem mal dominasse a tabuada.
Essa a razão por que Jesus, tão frequentemente, velava seus ensinos, servindo-se de figuras alegóricas, quando falava aos seus contemporâneos. Eram criaturas demasiado atrasadas para que pudessem compreender certas coisas. Já aos discípulos, em particular, explicava o sentido de muitas dessas alegorias, porque sabia estarem eles preparados para isso.
Mas, como frisa a parábola em tela, "nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente". À medida que os hoomens vão adquirindo maior grau de desenvolvimento, procuram por si mesmos os conheciimentos que lhes faltam, no que são, aliás, auxiliados pela Providência, que se encarrega de guiá-los em suas pesquisas e lucubrações, projetando luz sobre os pontos obscuros e desconhecidos, para cuja inteligência se mostrem amadurecidos.
Os que, por se acharem mais adiantados, intelectual e moralmente, forem sendo iniciados no conhecimento das verdades superiores, e se valham delas, não para a dominação do próximo em proveito próprio, mas para edifiicar seus irmãos e conduzi-los na senda do aperfeiçoamento, maiores revelações irão tendo, horizontes cada vez mais amplos se lhes descortinarão à vista, pois é da lei que, "aos que já têm, ainda mais se dará."
Quanto aos que, estando de posse de umas tantas verdades, movidos por interesses rasteiros fazem disso um mistério cujo exame proíbem,- o que importa "colocar a luz debaixo da cama", nada mais se lhes acrescentará, e "até o pouco que têm lhes será tirado", para que deixem de ser egoístas e aprendam a dar de graça o que de graça hajam recebido.
A vida nos planos espirituais, questão que interessa profundamente os sistemas filosóficos e religiosos, por muitos e muitos séculos permaneceu como um enigma indevassável chegou, porém, o momento oportuno em que deveria "aparecer publicamente", e daí o advento do Espiritismo.
Rasgaram-se, então, os véus que encobriam esse imenso universo, tão ativo e real quanto o em que respiramos, e, à luz dessa nova revelação, a sobrevivência da alma deixa de ser apenas uma hipótese ou uma esperança, para firmar-se como confortadora e esplêndida reaalidade.
Rodolfo Calligaris

04 - OS MALEFÍCIOS DO JOGO


"Por que Deus concedeu a uns a riqueza e o poder, e a outros a miséria?"
- Para provar a cada um de uma maneira diferente. Aliás, vós o sabeis, essas provas são escolhidas pelos próprios Espíritos, que muitas vezes sucumbem ao realizá-las." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo IX. Lei de Igualdade. Pergunta 814.)


"Qual dessas provas é a mais perigosa para o homem, a da desgraça ou a da riqueza?
— Tanto uma quanto a outra o são. A miséria provoca a murmuração contra a Providência; a riqueza leva a todos os excessos. " (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo IX. Lei de Igualdade. Pergunta 815.)


"Como explicar a sorte que favorece certas pessoas em circunstâncias que não dependem da vontade nem da inteligência, como no jogo, por exemplo? - Certos Espíritos escolheram antecipadamente determinadas espécies de prazer, e a sorte que os favorece é uma tentação. Aquele que ganha como homem, perde como Espírito: é uma prova para o seu orgulho e a sua cupidez." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo X. Lei de Liberdade. Pergunta 865.)

O vício do jogo, pelas suas características e efeitos psíquicos sobre a personalidade do jogador, pode ser considerado como uma verdadeira neurose. O estado emocional durante o jogo, praticado nas suas mais variadas formas, leva o condicionado ao descontrole mental, às tensões psíquicas, às cargas desequilibradoras. Quando, de um lado, trabalhamos para serenar as nossas emoções, desenvolvendo o equilíbrio espiritual, no jogo destruímos, em poucas horas, o que podemos ter construído interiormente em alguns meses.
O tempo que se desperdiça numa diversão ociosa como o jogo, que consome horas irrecuperáveis, poderia muito bem ser aplicado em algo útil, proveitoso ao nosso espírito e ao próximo. Sacrificam-se, muitas vezes, famílias inteiras nas apostas feitas, onde alguns valores e propriedades são levianamente perdidos, levando-as, não raro, à miséria total. Na ânsia de recuperar num lance o que já perdeu, o jogador num gesto de desespero, aumenta o valor das apostas, afundando-se cada vez mais pelo descontrole da sua vontade.

As emoções fortes que dominam os jogadores fazem-nos presas fáceis dos espíritos inferiores, que os conduzem aos maiores desastres. A aceitação sem resistência dos convites de parceiros não deixa sequer o viciado pensar, dominado como está pelo desejo doentio de ganhar, fruto da ambição desmedida.

Muitos podem justificar os encontros de grupos amigos que se reúnem sistematicamente para jogar como oportunidades sociais de diversões, ou até de "confraternização". No entanto, se consultarmos honestamente o que nos impulsiona a essas reuniões, certamente identificaremos a ânsia de preencher um vazio indecifrável, resultante do lato de não termos algo mais produtivo com que nos ocupar, e segue-se, assim, com o tempo, o condicionamento ocioso.

Para libertar-se do jogo, o mecanismo utilizado é o mesmo: fortificar a vontade com razões seguras, amplamente encontradas na necessidade de equilíbrio emocional e de libertação das influências negativas, no desperdício de tempo útil, nas desgraças de que poderá ser vítima e de tantas outras razões. E no momento em que o desejo se manifestar ou o convite ao jogo for feito, busquemos com toda força as ideias positivas em nossa mente, reagindo, assim, às tentações. À proporção que formos reagindo, mais forte vai-se tornando a nossa vontade, e mais facilmente iremos controlando nossos desejos.

A vontade de adquirir pelo jogo uma boa soma de dinheiro, que venha preencher algumas necessidades ou realizar ambições materiais, denota completa falta de fé nos desígnios Divinos, que conhecem todas as nossas necessidades. É também uma forma de rebeldia e inconformação com as limitadas condições financeiras da nossa existência. É exatamente pela humildade, que cultivamos através do ganho material reduzido, que vamos retificando os abusos do pretérito. Estamos, então, contrariando o programa por nós mesmos escolhido na Espiritualidade, dando asas ás mesmas ambições que hoje ocultamente agem, refletindo as tendências enganosas em que já estivemos vivendo no ontem distante.

Observemos um pouco, indaguemos tranquilamente se a pressa de enriquecimento que desejamos, ao comprar bilhetes de loteria ou fazer apostas na loteria esportiva, nos fará realmente dignos em usufruir o que não ganhamos pelo nosso próprio esforço, obtido do nosso trabalho. Analisemos as promessas e barganhas que articulamos na nossa imaginação, prometendo-nos dar tal ou qual parcela para essa ou aquela obra de caridade, e confrontemos com o que entendemos como caridade desinteressada, realizada com o coração, sem espera de qualquer recompensa. Indubitavelmente, um dinheiro assim ganho não nos fará felizes, nem nos ajudará a crescer espiritualmente.

Só, e unicamente, nos serve e nos poderá pertencer provisoriamente aquilo que adquirimos com o nosso trabalho, com o nosso esforço. Aqueles contemplados pela sorte certamente assumem encargos sérios pelos bens recebidos, na condição de empréstimos, que podem levá-los ao precipício na sua escalada evolutiva, por não estarem preparados para bem administrar aqueles valores, comprometendo-se a existências futuras de extrema pobreza.

O melhor é sermos obedientes, resignados, confiantes e trabalhadores, porque o nosso Pai, justo e bom, tudo sabe a nosso respeito e nos proporcionará, quando merecermos e estivermos em condições de saber distribuir, os bens materiais almejados. Abolir os impulsos do jogo, sob qualquer fornia que se apresente, é também exercício respaldado na fé e na valorização das oportunidades de trabalho, disciplinadoras das nossas ambições. É essa a atitude mais sensata do Aprendiz do Evangelho.

5 - REMINISCÊNCIAS E TENDÊNCIAS



"As tendências instintivas do homem sendo uma reminiscência do seu passado, conclui-se que, pelo estudo dessas tendências, ele poderá conhecer as faltas que cometeu? — Sem dúvida, até certo ponto, mas é necessário ter em conta a melhora que se possa ter operado no Espírito e as resoluções que ele tomou no seu estado errante. A existência atual pode ser muito melhor que a precedente. "
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 398.)

"Sendo as vicissitudes da vida corpórea, ao mesmo tempo, uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, segue-se que, da natureza dessas vicissitudes, possa induzir-se o gênero da existência anterior? — Muito frequentemente, pois cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve tirar disso uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais seguro, porque as provas que um Espírito sofre tanto se referem ao futuro quanto ao passado. "(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 399.)


De que modo poderemos compreender melhor alguns traços ou disposições que parecem ser natos em nosso comportamento? -Certamente reconhecemos, por vezes, em nossa maneira de reagir, algumas manifestações que são típicas e que não temos nítida consciência do "porquê" de elas acontecerem incontroladamente. Essas manifestações podem estar contidas num enorme quadro de configurações de nossas reações interiores, assim chamadas predisposições, tendências, inclinações, pendores, impulsos compulsivos, e estão estreitamente relacionadas com os nossos hábitos e vícios, erros e defeitos.

O princípio da reencarnação, um dos fundamentos do Espiritismo, abre amplamente o entendimento dessas tendências instintivas, que constituem grande parte da atividade mental do homem, de forma inconsciente, incontrolada, impulsiva, irresistível. É muito grande o acervo de experiências marcantes que se gravaram em nosso espírito através das múltiplas reencarnações passadas, e que constitui o material adquirido e arquivado nas suas camadas magnéticas sutis.
Considerando-se a mente como nossa central geradora de forças, sediada no espírito, nela registram-se as impressões criadas nas experiências vividas em todas as épocas, de forma semelhante às trilhas magnéticas deixadas numa película plástica, ou como num computador eletrônico, que reúne incontáveis informações que permanecem guardadas por um processo de memorização (Memória de um aparelho computador, é a sua capacidade de processar, responder e guardar certo número de informações ou dados. O computador de fato processa informações ou dados, mas através do recebimento de informações. E também responde, emitindo os resultados. Porém, a "memória" do computador — para guardar dados - é externa ao aparelho, e se faz através de fitas, discos ou cartões).

Do mesmo modo, esses dados registrados na memória de certos aparelhos, quando indicam valores de carga acima ou abaixo de padrões estabelecidos, emitem sinais que vão provocar ações corretivas no complexo sistema de automatismos controladores, que podem regular o funcionamento de uma central abastecedora de energia elétrica, entre outros exemplos de aplicação. Ora, a nossa mente tem também o seu potencial de registro, de processamento e de resposta àquelas experiências vividas, que devem igualmente se acumular em microcamadas magnéticas sutis, inter-relacionadas, possivelmente em outras dimensões, capazes de reter sons, imagens, emoções, idéias.
Do mesmo modo, quando essas emoções e idéias ferem e comprometem certos padrões estabelecidos pelas leis morais, que constituem as leis divinas, ainda é a própria mente que, atingida no supraconsciente por aquelas perturbações do seu equilíbrio, vai emitir respostas corretivas em direção àqueles sulcos ou focos que permanecem em agitação enquanto não forem corrigidos: são os distúrbios, as desarmonias, distonias, inquietações, que a própria consciência guarda e acumula, superpondo no tempo os indeléveis registros carentes de renovação.

Aqueles pontos em desequilíbrio passam a comprometer o fluir normal das energias do espírito, criando tensões nas microcamadas magnéticas multidimensionais da mente, manifestando-se nas formas de afloramentos, de lampejos, de impulsos, que emergem das profundidades do inconsciente para o presente, de forma viva e atuante.

Para o espírito encarnado, condicionado ao novo equipamento orgânico e à atual programação reencarnatória, a lembrança daquelas experiências desagradáveis ficou momentaneamente submersa, e ele não se recorda, portanto, das ocorrências propriamente, mas elas agem, pois são de sua propriedade e foi a sua própria consciência que as registrou para voluntária ou compulsoriamente corrigi-las. Formam elas os processos e os conteúdos do nosso inconsciente e as suas manifestações acontecem de forma velada para o nosso consciente. Representam, assim, as reminiscências, que se caracterizam pelas tendências instintivas que trazemos.

Como poderemos, então, pelo conhecimento, no estudo e na análise dessas tendências, trabalhar voluntariamente para retificá-las, corrigindo os acontecimentos transgressores? O Prof. Carlos Toledo Rizzini, em seu livro Evolução para o Terceiro Milênio (Capítulo 5. Desequilíbrios. Enfermidades. Item 18. Impulsos; impulsos convulsivos), trata com detalhes dos mecanismos de atuação dessas tendências instintivas que o mestre Kardec indagou aos Espíritos, como indicativas das nossas faltas cometidas no passado (O Livro dos Espiritos. Pergunta 398).
Diz-nos Carlos Rizzini (Parágrafo 2): impulso é um "estado de excitação do sistema nervoso central, que surge em resposta a um estímulo interno ou externo, o qual poderá ser uma pessoa, uma cena, uma conversa, uma palavra, insultos, bebida, etc." e, assim, "originado por forças inconscientes, aparece, posto isso, na área do consciente"... "Inúmeras vezes não sabemos a que coisa o inconsciente reagiu tão fortemente, a ponto de criar um impulso, que será sentido em forma de súbita emoção ou comando imperioso".
O parágrafo 6 do já citado item 18, pela sua importância no objetivo de dilatar o entendimento pessoal para as manifestações intempestivas do nosso ser, é transcrito abaixo:

"Um impulso pode renascer muitas vezes, fazendo com que o sujeito sinta o choque emocional sem ter conhecimento consciente da situação desagradável que está representada em sua mente inconsciente. Ocorre, portanto, uma dissociação entre a emoção sentida e as imagens correspondentes. Estas permanecem ignoradas, enquanto aquela se liberta diante do novo fato que serve de estímulo, e vem afetar o consciente. Nesse caso, a pessoa, diante de outra ou de algum acontecimento, sente-se invadida por imperioso impulso de agredir, ofender, fugir, tremer, gritar, calar-se, etc., sem compreender a razão do que está se passando com ela, razão que jaz no inconsciente sob a forma de recordação completa de um evento semelhante (ou equivalente), desta ou mais comumente de outra vida. O que sobe ao consciente, por obra do estímulo, é parte da energia ligada às lembranças, a qual vai desencadear o estado emotivo incompreendido".

"Mediante a exposição acima, compreende-se que, conforme as experiências gravadas no espírito, uma pessoa mantenha-se calma diante de situações desagradáveis que envolvam certos indivíduos, e profundamente irritada em face de outras sem importância, mas relacionadas com determinadas pessoas. E. G., o pai que não ouve o insulto de um filho e zanga-se com outro porque se atrasou cinco minutos para o jantar. Uns fatos atingem porções sensibilizadas do inconsciente (ou agitam certos conteúdos dele), e outros não encontram ressonância ali."

Diante dos vários estímulos que — no convívio com familiares, colegas de trabalho e pessoas em sociedade — podem desencadear os impulsos decorrentes de ódios, vinganças, orgulho ferido, inveja, ciúmes, personalismo, intolerâncias, impaciências, urdidos do passado, temos duas opções: 1° o perdão que corrige o desequilíbrio provocado na própria consciência e harmoniza o espírito com as leis divinas; e 2° a repetição do erro, que intensifica e agrava a transgressão, mantendo-nos infelizes e presos a resgates compulsórios em novas experiências, nessa ou em outra existência.

Essas tendências que trazemos de nascença, refletem a nossa realidade espiritual, estão ligadas à nossa história evolutiva, encerram a verdade que cada um traz dentro de si mesmo, no hoje, no agora, e que pode manifestar-se a qualquer instante, basta apenas haver um incentivo, uma provocação. Desse modo, a observação, o estudo, a análise desse nosso mundo de tantas cenas passadas, que se esconde no inconsciente, e que apenas se deixa conhecer pelos lampejos de nossos impulsos, são os meios que temos para desvendar nossos pontos fracos, que possivelmente vêm se repetindo de existência em existência, e com os quais temos lutado, procurando melhorar nesse plano e, quando na Espiritualidade, pelas resoluções tomadas de renovação.

André Luiz diz-nos ainda que os citados impulsos são facilmente superexcitados por estímulos constantes produzidos por espíritos desencarnados, cujas emissões mentais são idênticas às do encarnado que perseguem. Apresentamos, quase sempre, resquícios de nossas fraquezas ainda não superadas, oferecendo pasto fácil aos atentos inspetores invisíveis do mal que, inteligentemente, recorrem às nossas antigas debilidades para torpedear nossa resistência, induzindo-nos de forma envolvente, hipnótica, a repetir as mesmas reações que estamos assim a elas predispostos.

E nem sequer nos damos conta disso. Quando percebemos, já cometemos as mesmas intemperanças e novos esforços empenhamos para não repeti-las. Trazemos também, para a presente vida, certas inclinações de repetir hábitos e necessidades alimentados numa vida anterior mal conduzida, tais como os costumes de beber, fumar, comer demasiado, jogar, cometer gastos supérfluos e exageros no vestir, irresistível atração pelo sexo oposto, comodismo ocioso, preguiça, conquista de prestígio social, desejo de domínio, aquisição de riqueza, aumento de propriedades, etc.

De alguma forma somos testados, até sem saber, nas resoluções que tomamos quando na Erraticidade e na melhora que possamos ter operado no nosso Espírito, ao defrontarmo-nos com semelhantes experiências na presente vida. A correção, retificação do erro, ou o reequilíbrio de nossa consciência, não se realiza apenas com bons propósitos. É necessário dar provas, isto é, ao passar pelas mesmas ocorrências do ontem distante, refrear os nossos impulsos retrógrados com a luz do entendimento e transformá-los em impulsos evolutivos que nos libertam a alma.

É muito suave, reconfortante e tranquilizador o que sentimos ao superar uma má inclinação, um impulso de rancor, de irritação, um hábito desagradável, uma deficiência de conduta, um defeito moral, um vício ou costume. É como se fôssemos fortalecidos e agraciados dentro de nós mesmos por uma batalha vencida, uma conquista realizada.

Esse conteúdo emocional robustece o nosso espírito e amplia nossa consciência, equilibra nossas energias e restaura, nas camadas profundas do inconsciente, a saúde mental. Recuperamos nosso bem-estar e ampliamos nossa capacidade de amar.

A TERAPIA DAS VIDAS PASSADAS

Interessante trabalho vem sendo realizado há catorze anos por um psicólogo americano, Dr. Morris Netherton, que descreve, em seu recente livro "Past Lives Therapy" (Terapia das Vidas Passadas), como tem tratado, em seu consultório de psicoterapia, casos de traumas, fobias, distúrbios de comportamento, problemas sexuais, alcoolismo, enxaquecas, úlceras, epilepsias, gerados em acontecimentos e experiências muito marcantes de vidas anteriores. Segundo o Dr. Netherton, aqueles fatos ficaram indelevelmente registrados, como cicatrizes, no "inconsciente", passando a exercer pressões emocionais no indivíduo, até que conscientemente ele possa compreender o desenrolar histórico e o encadeamento dos fatos que lhe causam os problemas do presente.
O autor comenta que cada um traz registrada em si mesmo toda a sua história, encerrando as próprias verdades que, uma vez aceitas e deliberadamente assumidas como de nossa responsabilidade pessoal, começam então a funcionar, auxiliando-nos nas mudanças de comportamento. A partir disso, o processo de reequilíbrio tem sequência, os indivíduos compreendem as causas e os mecanismos dos seus males e realizam a própria cura na mudança das atitudes.

Desaparecem os sintomas e as criaturas voltam à normalidade, passando de apáticas a joviais, de agressivas a sociáveis, de introspectivas a comunicativas, de esquisitas a simpáticas, de enfermas a sãs. Há uma melhora geral nas pessoas, fruto da própria renovação mental. Comentamos esses resultados por encontrar importante subsídio comprobatório das reminiscências que todos apresentamos e que só depende de nós mesmos atenuá-las pelo trabalho consciente nas próprias mudanças de atitudes.

Inicia-se, então, todo o seu esforço de renovação, pelas mudanças íntimas no seu comportamento, que ele mesmo realiza naturalmente. O que lhe era obscuro e nebuloso no seu mundo interior passa a ser compreendido e explicado dentro de uma realidade que lhe é própria, vivida, sentida, percebida. Ele mesmo entende o que deve e precisa corrigir, e o faz deliberadamente, exatamente nos aspectos que ele, melhor do que ninguém, conhece. É, portanto, um "impacto esclarecedor" vivido com todas as cores, emoções, imagens e percepções.

PARA APLICAÇÃO: IDENTIFIQUE AQUI AS CONSEQUÊNCIAS INDIVIDUAIS DO SEU PASSADO

O espírito de Emmanuel, no livro Leis de Amor, nos enseja todo um conjunto de respostas que esclarecem, de modo prático e objetivo, as consequências de nossas faltas do passado, e os seus processos de retificação, regeneração, reabilitação ou emendas. Vejamos, então, como identificá-los em nós e tiremos o necessário proveito do que a seguir condensamos.
(Nota: Leia a cada Causa, nas Doenças, e procure nas páginas adiante, o seu Efeito correspondente, no item de igual número, de l à 7. Leia o Ontem, Na Família, Na Profissão e no Mundo, e procure adiante, na numeração correspondente, o resultado em cada Hoje, de 8 à 20.)


NAS DOENÇAS

CAUSA

1. Ação errada em diferentes setores da vida:

a) ódios, vinganças, agressões;
b) irritação, intolerância, intemperança;
c) extravagâncias no comer;
d) alcoolismo, entorpecentes;
e) maledicência, calúnia;
f) desequilíbrios do sexo;
g) crimes;
h) fumo.

2. Intelectuais que aplicaram mal ou deterioraram o conhecimento e os recursos do sentimento com prejuízos à coletividade.

3. Artistas que corromperam a inteligência alheia nos abusos da imaginação viciosa provocados pelas suas obras ao próximo.

4. Oradores, tribunos e pessoas que influenciaram mal pela palavra, caluniando, ferindo, comprometendo criaturas na maledicência.

5. Utilização desregrada do sexo, no terreno das paixões irresponsáveis, prejudicando corações e provocando tragédias.

6. Casos profundos de cometimentos graves, nos crimes, suicídios, sacrifícios físicos a pessoas, atos de delinquência, abusos da força.

7. Imprudência, desmazelo, revolta, preguiça, embriaguez, cólera, ociosidade, desânimo.

Na Família

Ontem

8. Filhos do passado, onde inoculamos o egoísmo e a intolerância.

9. Irmãos que arrojamos à intemperança e à delinquência.

10. Jovem que induzimos ao desequilíbrio e à crueldade.

11. Esposo que precipitamos na deserção, com os próprios desenganos e traições.

12. Mulher que menosprezamos, obrigando-a a resvalar no poço da loucura.

13. Amigos com os quais construímos sólida amizade e entendimento no reconforto da segurança recíproca.

Na Profissão Ontem

14. Pensadores que corrompiam a mente popular com as depravações.

15. Conquistadores militares, tiranos que forjaram a miséria física e moral dos semelhantes.

16. Dominadores políticos que dilapidaram a confiança do povo.

17. Guerreiros e soldados que usavam as armas para praticar seus instintos destruidores.

18. Carrascos rurais, agiotas desnaturados, defraudadores da economia pública e mordomos do solo, convertidos em agentes do furto.

19. Mulheres ocupadas na maledicência e na intriga, prejudicando a liberdade e o progresso.

No Mundo

Ontem

20. Protagonistas de tragédias passionais, criminosos de guerra, aproveitadores de lutas civis, exploradores do sofrimento humano, caluniadores, empreiteiros do aborto e da devassidão, malfeitores.

NAS DOENÇAS

EFEITO

1. Vinca o perispírito com desequilíbrios que o predispõem a determinadas enfermidades, conforme o órgão atingido:

a) cardiopatias;
b) doenças hepáticas;
c) ulcerações, gastralgias;
d) loucura, idiotia;
e) surdez, mudez;
f) cansaço precoce, distrofia muscular, epilepsia, câncer;
g) mutilações dolorosas;
h) asmas, bronquites, doenças pulmonares.

2. Impedimentos cerebrais como alavancas coercitivas contra as tendências do mau uso da intelectualidade.

3. Moléstias ou mutilações que os incapacitem de cair nos mesmos erros.

4. Deficiências vocais e auditivas para não repetirem as mesmas inclinações.

5. Doenças inibidoras das funções genéticas, como meios de contenção dos impulsos inferiores das paixões.

6. Idiotia, loucura, cegueira, paralisias congênitas irreversíveis, deformações irremediáveis, como celas regenerativas para correção compulsória dos delitos cometidos.

7. Desequilíbrios e moléstias nessa mesma existência, consequentes dos prejuízos das funções dos órgãos físicos.

Na Família
Hoje

8. Pais despóticos.

9. Filhos rebeldes e viciados.

10. Filha desatinada nos desregramentos do coração.

11. Marido desleal ou ingrato.

12. Esposa desorientada e incompreensiva.

13. Parentes abnegados que nos auxiliam.

Na Profissão
Hoje

14. Professores laboriosos aprendendo a ministrar disciplinas.

15. Administradores capacitados à distribuição de valores e tarefas edificantes.

16. Comerciantes e agricultores auxiliando as mesmas comunidades que deprimiram.

17. Mecânicos, operários metalúrgicos e carpinteiros, dignificando o metal e a madeira que perverteram.

18. Servidores humildes do solo, no preparo, no plantio e colheita, nas zonas rurais com o suor as dividas que antes contraíram.

19. Servidoras domésticas, presas a obrigações caseiras, junto de caçarolas e tanques de lavar.
No Mundo

Hoje

20. Voltam em tribulações compatíveis com os débitos assumidos, às vezes junto às próprias no mesmo familiar, ou sofrem desastres dolorosos, acidentes, flagelos, incêndios, nas ocorrências individuais ou coletivas.
Ney P. Peres