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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Cólera

Livro selecionado: "O Evangelho Segundo o Espiritismo"

A Cólera
Um Espírito Protetor
Bordeaux, 1863
9. O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar, e a vos considerardes, ao contrário, de tal maneira acima de vossos irmãos, seja na finura de espírito, seja no tocante à posição social, seja ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e vos fere. E o que acontece, então? Entregai-vos à cólera.
Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos brutos, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; procurai-a, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido. Não é acaso o orgulho ferido por uma contradita, que vos faz repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo a impaciência, causada pelas contrariedades, em geral pueris, decorre da importância atribuída à personalidade, perante a qual julgais que todos devem curvar-se.
No seu frenesi, o homem colérico se volta contra tudo, à própria natureza bruta, aos objetos inanimados, que despedaça, por não o obedecerem. Ah! Se nesses momentos ele pudesse ver-se a sangue-frio, teria horror de si mesmo ou se reconheceria ridículo! Que julgue por isso a impressão que deve causar aos outros. Ao menos pelo respeito a si mesmo, deveria esforçar-se, pois, para vencer essa tendência que o torna digno de piedade.
Se pudesse pensar que a cólera nada resolve, que lhe altera a saúde, compromete a sua própria vida, veria que é ele mesmo a sua primeira vítima. Mas ainda há outra consideração que o deveria deter: o pensamento de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer as criaturas que mais ama? E que mágoa mortal não sentirá se, num acesso de arrebatamento, cometesse um ato de que teria de recriminar-se por toda a vida!
Em suma: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser suficiente para incitar os esforços para dominá-la. O espírita, aliás, é incitado por outro motivo: o de que ela é contrária à caridade e à humildade cristãs.
Hahnemann
Paris, 1863
10. Segundo a idéia muito falsa de que não se pode reformar a própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se compraz voluntariamente, ou que para isso exigiram muita perseverança. É assim, por exemplo, que o homem inclinado à cólera se desculpa quase sempre com o seu temperamento. Em vez de se considerar culpado, atribui a falta ao seu organismo, acusando assim a Deus pelos seus próprios defeitos. É ainda uma conseqüência do orgulho, que se encontra mesclado a todas as suas imperfeições.
Não há dúvida que existem temperamentos que se prestam melhor aos atos de violência, como existem músculos mais flexíveis, que melhor se prestam a exercícios físicos. Não penseis, porém, que seja essa a causa fundamental da cólera, e acreditai que um Espírito pacífico, mesmo num corpo bilioso, será sempre pacífico, enquanto um Espírito violento, num corpo linfático, não seria dócil. Nesse caso, a violência apenas tomaria outro caráter. Não dispondo de seu organismo apropriado à sua manifestação, a cólera seria concentrada, enquanto no caso contrário seria expansiva.
O corpo não dá impulsos de cólera a quem não os tem, como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem que é deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nada tem com isso, mas pode modificar o que se relaciona com o Espírito, quando dispõe de uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam aos vossos olhos? Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer. De outra maneira, a lei do progresso não existiria para o homem.
Copyright 2004 - LAKE - Livraria Allan Kardec Editora
(Instituição Filantrópica) Todos os Direitos Reservados

O Mal e o Remédio

O Mal e o Remédio
• Santo Agostinho •
Paris, 1863
19. Vossa terra é por acaso um lugar de alegrias, um paraíso de delícias? A voz do profeta não soa ainda aos vossos ouvidos? Não clamou ele que haveria choro e ranger de dentes para os que nascessem neste vale de dores? Vós que nele viestes viver, esperai portanto lágrimas ardentes e penas amargas, e quanto mais agudas e profundas forem as vossas dores, voltai os olhos ao céu e bendizei ao Senhor, por vos ter querido provar! Oh, homens! Não reconhecereis o poder de vosso Senhor, senão quando ele curar as chagas de vosso corpo e encher os vossos dias de beatitude e de alegria? Não reconhecereis o seu amor, senão quando ele adornar vosso corpo com todas as glórias, e lhe der o seu brilho e o seu alvor? Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Chegado ao último degrau da abjeção e da miséria, estendido sobre um monturo, ele clamou a Deus: "Senhor! Conheci todas as alegrias da opulência, e vós me reduzistes à mais profunda miséria! Graças, graças, meu Deus, por terdes querido provar o vosso servo!" Até quando os vossos olhos só alcançarão os horizontes marcados pela morte? Quando, enfim, vossa alma quererá lançar-se além dos limites do túmulo? Mas ainda que tivésseis de sofrer uma vida inteira, que seria isso, ao lado da eternidade de glória reservada àquele que houver suportado a prova com fé, amor e resignação? Procurai, pois, a consolação para os vossos males no futuro que Deus vos prepara, e vós, os que mais sofreis, julgar-vos-eis os bem-aventurados da Terra.
Como desencarnados, quando vagueáveis no espaço, escolhestes a vossa prova, porque vos consideráveis bastante fortes para suportá-la. Por que murmurais agora? Vós que pedistes a fortuna e a glória, o fizestes para sustentar a luta com a tentação e vencê-la. Vós, que pedistes para lutar de alma e corpo contra o mal moral e físico, sabíeis que quanto mais dura fosse a prova, mais gloriosa seria a vitória, e que, se saísseis triunfantes, mesmo que vossa carne fosse lançada sobre um monturo, na ocasião da morte, ela deixaria escapar uma alma esplendente de alvura, purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento.
Que remédios, pois, poderíamos dar aos que foram atingidos por obsessões cruéis e males pungentes? Um só é infalível: a fé, voltar os olhos para o céu. Se, no auge de vossos mais cruéis sofrimentos, cantardes em louvor ao Senhor, o anjo de vossa guarda vos mostrará o símbolo da salvação e o lugar que devereis ocupar um dia. A fé é o remédio certo para o sofrimento. Ele aponta sempre os horizontes do infinito, ante os quais se esvaem os poucos dias de sombras do presente. Não mais nos pergunteis, portanto, qual o remédio que curará tal úlcera ou tal chaga, esta tentação ou aquela prova. Lembrai-vos de que aquele que crê se fortalece com o remédio da fé, e aquele que duvida um segundo da sua eficácia é punido, na mesma hora, porque sente imediatamente as angústias pungentes da aflição.
O Senhor pôs o seu selo em todos os que crêem nele. Cristo vos disse que a fé transporta montanhas. Eu vos digo que aquele que sofre e que tiver a fé como apoio, será colocado sob a sua proteção e não sofrerá mais. Os momentos mais dolorosos serão para ele como as primeiras notas de alegria da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira de seu corpo, que, enquanto este se torcer em convulsões, ela pairará nas regiões celestes, cantando com os anjos os hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Felizes os que sofrem e choram! Que suas almas se alegrem, porque serão atendidas por Deus.
Copyright 2004 - LAKE - Livraria Allan Kardec Editora
(Instituição Filantrópica) Todos os Direitos Reservados

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

NO REINO DOMÉSTICO do Livro Cartas e Crônicas

32 - NO REINO DOMÉSTICO
Você, meu amigo, pergunta que papel desempenhará o Espiritismo, na ciência das relações
sociais, e, muito simplesmente, responderei que, aliado ao Cristo, o nosso movimento
renovador é a chave da paz, entre as criaturas.
Já terá refletido, porventura, na importância da compreensão generalizada, com respeito à
justiça que nos rege a vida, e à fraternidade que nos cabe construir na Terra?
A sociologia não é a realização de gabinete. É obra viva que interessa o cerne do homem, de
modo a plasmar-lhe o clima de progresso substancial.
Reporta-se você ao amargo problema dos casamentos infelizes, como se o matrimônio fosse
o único enigma na peregrinação humana, mas se esquece de que a alma encarnada é
surpreendida, a cada passo, por escuros labirintos na vida de associação.
Habitualmente, renascem juntos, sob os elos da consangüinidade, aqueles que ainda não
acertaram as rodas do entendimento, no carro da evolução, a fim de trabalharem com o
abençoado buril da dificuldade sobre as arestas que lhes impedem a harmonia. Jungidos à
máquina das convenções respeitáveis, no instituto familiar, caminham, lado a lado, sob os
aguilhões da responsabilidade e da traição, sorvendo o remédio amargoso da convivência
compulsória para sanarem velhas feridas imanifestas.
E nesse vastíssimo roteiro de Espíritos em desajuste, não identificaremos tão somente os
cônjuges infortunados. Além deles, há fenômenos sentimentais mais complexos. Existem
pais que não toleram os filhos e mães que se voltam, impassíveis, contra os próprios
descendentes. Há filhos que se revelam inimigos dos progenitores e irmãos que se
exterminam dentro do magnetismo degenerado da antipatia congênita, dilacerando-se uns
aos outros, com raios mortíferos e invisíveis do ódio e do ciúme, da inveja e do despeito,
apaixonadamente cultivados no solo mental.
Os hospitais e principalmente os manicômios apresentam significativo número de enfermos,
que não passam de mutilados espirituais dessa guerra terrível e incruenta na trincheira
mascarada sob o nome de lar. Batizam-nos os médicos com rotulagens diversas, na esfera
da diagnose complicada; entretanto, na profundez das causas, reside a influência maligna da
parentela consangüínea que, não raro, copia as atitudes da tribo selvagem e enfurecida.
Todos os dias, semelhantes farrapos humanos atravessam os pórticos das casas de saúde
ou da caridade, à maneira de restos indefiníveis de náufragos, perdidos em mar tormentoso,
procurando a terra firme da costa, através da onda móvel.
Não tenha dúvida.
75
O homicídio, nas mais variadas formas, é intensamente praticado sem armas visíveis, em
todos os quadrantes do Planeta.
Em quase toda a parte, vemos pais e mães que expressam ternura, ante os filhos
desventurados, e que se revoltam contra eles toda vez que se mostrem prósperos e felizes.
Há irmãos que não suportam a superioridade daqueles que lhes partilham o nome e a
experiência, e companheiros que apenas se alegram com a camaradagem nas horas de
necessidade e infortúnio.
Ninguém pode negar a existência do amor no fundo das multiformes uniões a que nos
referimos. Mas esse amor ainda se encontra, à maneira do ouro inculto, incrustado no
cascalho duro e contundente do egoísmo e da ignorância que às vezes, matam sem a
intenção de destruir e ferem sem perceber a inocência ou a grandeza de suas vítimas.
Por isso mesmo, o Espiritismo com Jesus, convidando-nos ao sacrifício e à bondade, ao
conhecimento e ao perdão, aclarando a origem de nossos antagonismos e reportando-nos
aos dramas por nós todos já vividos no pretérito, acenderá um facho de luz em cada
coração, inclinando as almas rebeldes ou enfermiças à justa compreensão do programa
sublime de melhoria individual, em favor da tranqüilidade coletiva e da ascensão de todos.
Desvelando os horizontes largos da vida, a Nova Revelação dilatará a esperança, o estímulo
à virtude e a educação em todas as inteligências amadurecidas na boa vontade, que
passarão a entender nas piores situações familiares pequenos cursos regenerativos, dandose
pressa em aceitá-los com serenidade e paciência, de vez que a dor e a morte são
invariavelmente os oficiais da Divina Justiça, funcionando com absoluto equilíbrio, em todas
as direções, unindo ou separando almas, com vistas à prosperidade do Infinito Bem.
Assim, pois, meu caro, dispense-me da obrigação de maiores comentários, que se fariam
tediosos em nossa época de esclarecimento rápido, através da condensação dos assuntos
que dizem respeito ao soerguimento da Terra.
Observe e medite.
E, quando perceber a imensa força iluminativa do Espiritismo Cristão, você identificará Jesus
como sendo o Sociólogo Divino do Mundo, e verá no Evangelho o Código de Ouro e Luz, em
cuja aplicação pura e simples reside a verdadeira redenção da Humanidade.

Chico Xavier / Irmão X

O CAMINHO DO REINO do Livro Cartas e Crônicas

05 - O CAMINHO DO REINO
Na tosca residência de Arão, o curtidor, dizia Jesus a Zacarias, dono de extensos vinhedos
em Jericó:
- O Reino de Deus será, por fim, a vitória do bem, no domínio dos homens!... O Sol cobrirá o
mundo por manto de alegria luminosa, guardando a paz triunfante. Os filhos de todos os
povos andarão vinculados uns aos outros, através do apoio mútuo. As guerras terão
desaparecido, arredadas da memória, quais pesadelos que o dia relega aos princípios da
noite!... Ninguém se lembrará de exigir o supérfluo e nem se esquecerá de prover os
semelhantes do necessário, quando o necessário se lhes faça preciso. A seara de um
lavrador produzirá o bastante para o lavrador que não conseguiu as oportunidades da
sementeira e o teto de um irmão erguer-se-á igualmente como refúgio do peregrino sequioso
de afeto, sem que a idéia do mal lhes visite a cabeça... A viuvez e a orfandade nunca mais
derramarão sequer ligeira lágrima de sofrimento, porquanto a morte nada mais será que
antecâmara da união no amor perpétuo que clareia o sem-fim. Os enfermos, por mais
aparentemente desvalidos, acharão leito repousante, e as moléstias do corpo deixarão de
ser monstros que espreitam a moradia terrestre, para significarem simplesmente notícias
breves das leis naturais no arcabouço das formas. O trabalho não será motivo de cativeiro e
sim privilégio sagrado da inteligência. A felicidade e o poder não marcarão o lugar dos que
retenham ouro e púrpura, mas o coração daqueles que mais se empenham no doce
contentamento de entender e servir. O lar não se erigirá em cadinho de provação, porque
brilhará incessantemente por ninho de bênçãos, em cujo aconchego palpitarão as almas
felizes que se encontram para bendizer a confiança e a ternura sem mácula. O homem
sentir-se-á responsável pela tranqüilidade comum, nos moldes da reta consciência,
transfigurando a ação edificante em norma de cada dia; a mulher será respeitada, na
condição de mãe e companheira, a que devemos, originariamente, todas as esperanças e
regozijos que desabrocham na Terra, e as crianças serão consideradas por depósitos de
Deus!... A dor de alguém será repartida, qual transitória sombra entre todos, tanto quanto o
júbilo de alguém se espalhará, na senda de todos, recordando a beleza do clarão estelar... A
inveja e o egoísmo não mais subsistirão, visto que ninguém desejará para os outros aquilo
que não aguarda em favor de si mesmo! Fontes deslizarão entre jardins, e frutos
substanciosos penderão nas estradas, oferecendo-se à fome do viajor, sem pedir-lhe nada
mais que uma prece de gratidão à bondade do Pai, de vez que todas as criaturas alentarão
consigo o anseio de construir o Céu na Terra que o todo misericordioso lhes entregou!...
Deteve-se Jesus contemplando a turba que o aplaudia, frenética, minutos depois da sua
entrada em Jerusalém para as celebrações da Páscoa, e, notando que os israelitas se
diferençavam entre si, a revelarem particularidades das regiões diversas de que procediam
acentuou:
- Quando atingirmos, coletivamente, o Reino dos Céus, ninguém mais nascerá sob qualquer
sinal de separação ou discórdia, porque a Humanidade se regerá pelos ideais e interesses
de um mundo só!...
Enlevado, Zacarias fitou-o com ansiosa expectação e ponderou com respeito:
- Senhor, vim de Jericó para o culto às tradições de nossos antepassados; todavia, acima de
tudo, aspirava a encontrar-te e ouvir-te... Envelheci, arando a gleba e sonhando com a paz!...
Tenho vivido nos princípios de Moisés; no entanto, do fundo de minha alma, quero chegar ao
Reino de Deus do qual te fazes mensageiro nos tempos novos!... Mestre! Mestre!... Para
buscar-te percorri a trilha de minha estância até aqui, passo a passo... De vila em vila, de
casa em casa, um caminho existe, claro, determinado... Qual é, porém, Senhor, o Caminho
para o Reino de Deus?
- A estrada para o Reino de Deus é uma longa subida... – começou Jesus, explicando.
Eis, contudo, que filas de manifestantes penetraram o recinto, interrompendo-lhe a frase e
arrebatando-o à praça fronteiriça, recoberta de flores.
* * *
Zacarias, em êxtase, demandou o sítio de parentes, no vale de Hinom, demorando-se por
dois dias em comentários entusiastas, ao redor das promessas e ensinos do Cristo, mas, de
retorno à cidade, não surpreende outro quadro que não seja a multidão desvairada e
agressiva...
Não mais a glorificação, não mais a festa. Diante do ajuntamento, o Mestre, em pessoa, não
mais querido. Aqueles mesmos que o haviam honorificado em cânticos de louvor apupavamno
agora com requintes de injúria.
O velho de Jericó, translúcido de espanto, viu que o Amado Amigo, cambaleante e suarento,
arrastava a cruz dos malfeitores... Ansiou abraçá-lo e esgueirou-se, dificilmente, suportando
empuxões e zombarias do populacho... Rente ao madeiro, notou que um grupo de mulheres
chorosas abrigava o Mestre a parada imprevista e, antecedendo-se-lhes à palavra, ajoelhouse
diante dele e clamou:
- Senhor!... Senhor!...
Jesus retirou do lenho a destra ferida, afagou-lhe, por instantes, os cabelos que o tempo
alvejara, lembrando o linho quando a estriga descansa junto da roca, e falou, humilde:
- Sim, Zacarias, os que quiserem alcançar o Reino de Deus subirão ladeira escabrosa...
Em seguida, denotou a atenção de quem escutava os insultos que lhe eram endereçados...
Finda a pausa ligeira, apontou para o amigo, com um gesto, a poeira e o pedregulho que se
avantajavam à frente e, como a recordar-lhe a pergunta que deixara sem resposta, afirmou
com voz firme:
- Para a conquista do Reino de Deus, este é o caminho...

LIÇÃO DAS TREVAS do Livro Cartas e Crônicas

LIÇÃO DAS TREVAS
No vale das trevas, delirava a legião de Espíritos infelizes.
Rixas, obscenidades, doestos, baldões.
Planejavam-se assaltos, maquinavam-se crimes.
O Espírito Benfeitor penetrou a caverna, apaziguando e abençoando.
Aqui, abraçava um desventurado, apartando-o da malta, de modo a entregá-lo, mais tarde, a
equipes socorristas; mais adiante, aliviava com suave magnetismo a cabeça atormentada de
entidades em desvario.
O serviço assistencial seguia difícil, quando enfurecido mandante da crueldade, ao descobrilo,
se aquietou em súbita acalmia e, impondo respeitosa serenidade a chusma de loucos,
declinou-lhe a nobre condição. Que os companheiros rebelados se acomodassem, deixando
livre passagem àquele que reconhecia por missionário do bem.
- Conheces-me? - interrogou o recém-chegado, entra espantado e agradecido.
- Sim - disse o rude empreiteiro da sombra -, eu era um doente na Terra e curaste meu corpo
que a moléstia desfigurava.
Lembro-me perfeitamente de teu cuidado ao lavar-me as feridas.
Os circunstantes entraram na conversação de improviso e um deles, de dura carranca,
apontou o visitador e clamou para o amigo:
Que mais te fez este homem no mundo para que sejamos forçados à deferência?
Deu-me teto e agasalho.
Outro inquiriu:
Que mais?
Supriu minha casa de pão e roupa, libertando-nos, a mim e a família, da nudez e da fome.
Outro ainda perguntou com ironia:
Mais nada?
Muitas vezes, dividia comigo o que trazia na bolsa, entregando-me abençoado dinheiro para
que a penúria não me arrasasse.
Estabelecido o silêncio, o Espírito Benfeitor, encorajado pelo que ouvia, indagou com
humildade:
Meu irmão, nada fiz senão cumprir o dever que a fraternidade me impunha; entretanto, se te
mostras tão generoso para comigo, em tuas manifestações de reconhecimento e de amor
que reconheço não merecer, porque te entregas, assim, à obsessão e à delinqüência?! .
O interpelado pareceu sensibilizar-se, meneou tristemente a cabeça e explicou:
Em verdade, és bom e amparaste a minha vida, mas não me ensinaste a viver!
Espíritas, irmãos!
Cultivemos a divulgação da Doutrina Renovadora que nos esclarece e reúne!
Com o pão do corpo, estendamos a luz da alma que nos habilite a aprender e compreender,
raciocinar e servir.
Chico Xavier / Irmão X

O FILHO OCIOSO

Neio Lúcio

Reportava-se a pequena assembléia a variados problemas da fé em Deus, quando Jesus, tomando a palavra, narrou, complacente: — Um grande Soberano possuía vastos domínios.
Terras, rios, fazendas, pomares e rebanhos eram incontáveis em seu reino prodigioso.
Vassalos inúmeros serviam-lhe a casa, em todas as direções.
Alguns deles nunca se perdiam dos olhos do Senhor, de maneira absoluta.
De tempos a tempos, visitavam-lhe a residência, ofereciam-lhe préstimos ou traziam-lhe flores de ternura, recebendo novos roteiros de trabalho edificante.
Outros, porém, viviam a belprazer nas florestas imensas.
Estimavam a liberdade plena com declarada indisciplina.
Eram verdadeiros perturbadores do vasto império, porquanto, ao invés de ajudarem a Natureza, desprezavam- na sem comiseração.
Matavam animais pelo simples gosto da caça, envenenavam as águas para assassinarem os peixes em massa, perseguiam as aves ou queimavam as plantações dos servos fiéis, não obstante saberem, no íntimo, que deviam obediência ao Poderoso Senhor.
Um desses servidores levianos e ociosos não regateava sua crença na existência e na bondade do Rei.
Depois de longas aventuras na mata, exterminando aves indefesas, quando o estômago jazia farto, costumava comentar a fé que depositava no rico Proprietário de extenso e valioso domínio.
Um Soberano tão previdente quanto aquele que soubera dispor das águas e das terras, das árvores e dos rebanhos, devia ser muito sábio e justiceiro — explanava consciente.
Sutilmente, todavia, escapava-lhe a todos os decretos.
Pretendia viver a seu modo, sem qualquer imposição, mesmo daquele que lhe confiara o vale em que consumia a existência regalada e feliz.
Decorridos muitos anos, quando as suas mãos já não conseguiam erguer a menor das armas para perturbar a Natureza, quando os olhos embaciados não mais enxergavam a paisagem com a mesma clareza da juventude, inclinando-se-lhe o corpo, cansado e triste, para o solo, resolveu procurar o Senhor, a fim de pedir-lhe proteção e arrimo.
Atravessou lindos campos, nos quais os servos leais, operosos e felizes, cultivavam o chão da propriedade imensa e chegou ao iluminado domicílio do Soberano.
Experimentando aflitivo assombro, reparou que os guardas do limiar não lhe permitiam o suspirado ingresso, porque seu nome não constava no livro de servidores ativos.
Implorou, rogou, gemeu; no entanto, uma das sentinelas lhe observou:
— O tempo disponível do Rei é consagrado aos cooperadores.
— Como assim? — bradou o trabalhador imprevidente.
— Eu sempre acreditei na soberania e na bondade do nosso glorioso ordenador...
O guarda, contudo, redargüiu, sem pestanejar:
— Que te adiantava semelhante convicção, se fugiste aos decretos de nosso Soberano, gastando precioso tempo em perturbar-lhe as obras? O teu passado está vivo em tua própria condição...
Em que te servia a confiança no Senhor, se nunca vieste a Ele, trazendo um minuto de colaboração a benefício de todos? Observa-se, logo, que a tua crença era simples meio de acomodar a consciência com os próprios desvarios do coração.
E o servo, já comprometido pelos atos menos dignos, e de saúde arruinada, foi constrangido a começar toda a sua tarefa, de novo, de maneira a regenerar-se.
O Mestre calou-se, durante alguns momentos, e concluiu:
— Aqui temos a imagem de todo ocioso filho de Deus.
O homem válido e inteligente que admite a existência do Eterno Pai, que lhe conhece o poder, a justiça e a bondade, através da própria expressão física da Natureza, e que não o visita em simples oração, de quando em quando, nem lhe honra as leis com o mínimo gesto de amparo aos semelhantes, sem o mais 47 leve traço de interesse nos propósitos do Grande Soberano, poderá retirar alguma vantagem de suas convicções inúteis e mortas? Com essa indagação que calou nos ouvidos dos presentes, o culto evangélico da noite foi expressivamente encerrado.
Do Livro Jesus no Lar  - Francisco C. Xavier

A RESPOSTA CELESTE

A  RESPOSTA  CELESTE
Neio Lúcio

Solicitando Bartolomeu esclarecimentos quanto às respostas do Alto às súplicas dos homens, respondeu Jesus para elucidação geral:
— Antigo instrutor dos Mandamentos Divinos ia em missão da Verdade Celeste, de uma aldeia para outra, profundamente distanciadas entre si, fazendo-se acompanhar de um cão amigo, quando anoiteceu, sem que lhe fosse possível prever o número de milhas que o separavam do destino.
Reparando que a solidão em plena Natureza era medonha, orou, implorando a proteção do Eterno Pai, e seguiu.
Noite fechada e sem luar, percebeu a existência de larga e confortadora cova, à margem da trilha em que avançava, e acariciando o animal que o seguia, vigilante, dispôs-se a deitar-se e dormir.
Começou a instalar-se, pacientemente, mas espessa nuvem de moscas vorazes o atacou, de chofre, obrigando-o a retomar o caminho.
O ancião continuou a jornada, quando se lhe deparou volumoso riacho, num trecho em que a estrada se bifurcava.
Ponte rústica oferecia passagem pela via principal, e, além dela, a terra parecia sedutora, porque, mesmo envolvida na sombra noturna, semelhava-se a extenso lençol branco.
O santo pregador pretendia ganhar a outra margem, arrastando o companheiro obediente, quando a ponte se desligou das bases, estalando e abatendo-se por inteiro.
Sem recursos, agora, para a travessia, o velhinho seguiu pelo outro rumo, e, encontrando robusta árvore, ramalhosa e acolhedora, pensou em abrigar-se, convenientemente, porque o firmamento anunciava a tempestade pelos trovões longínquos.
O vegetal respeitável oferecia asilo fascinante e seguro no próprio tronco aberto.
Dispunha-se ao refúgio, mas a ventania começou a soprar tão forte que o tronco vigoroso caiu, partido, sem remissão.
Exposto então à chuva, o peregrino movimentou-se para diante.
Depois de aproximadamente duas milhas, encontrou um casebre rural, mostrando doce luz por dentro, e suspirou aliviado.
Bateu à porta.
O homem ríspido que veio atender foi claro na negativa, alegando que o sítio não recebia visitas à noite e que não lhe era permitido acolher pessoas estranhas.
Por mais que chorasse e rogasse, o pregador foi constrangido a seguir além.
Acomodou-se, como pode, debaixo do temporal, nas cercanias da casinhola campestre; no entanto, a breve espaço, notou que o cão, aterrado pelos relâmpagos sucessivos, fugia a uivar, perdendo-se nas trevas.
O velho, agora sozinho, chorou angustiado, acreditando-se esquecido por Deus e passou a noite ao relento.
Alta madrugada, ouviu gritos e palavrões indistintos, sem poder precisar de onde partiam.
Intrigado, esperou o alvorecer e, quando o Sol ressurgiu resplandecente, ausentou-se do esconderijo, vindo a saber, por intermédio de camponeses aflitos, que uma quadrilha de ladrões pilhara a choupana onde lhe fora negado o asilo, assassinando os moradores.
Repentina luz espiritual aflorou-lhe na mente.
Compreendeu que a Bondade Divina o livrara dos malfeitores e que, afastando dele o cão que uivava, lhe garantira a tranqüilidade do pouso.
Informando-se de que seguia em trilho oposto à localidade do destino, empreendeu a marcha de regresso, para retificar a viagem, e, junto à ponte rompida, foi esclarecido por um lavrador de que a terra branca, do outro lado, não passava de pântano traiçoeiro, em que muitos viajores imprevidentes haviam sucumbido.
  O velho agradeceu o salvamento que o Pai lhe enviara e, quando alcançou a árvore tombada, um rapazinho observou-lhe que o tronco, dantes acolhedor, era conhecido covil de lobos.
Muito grato ao Senhor que tão milagrosamente o ajudara, procurou a cova onde tentara repouso e nela encontrou um ninho de perigosas serpentes.
Endereçando infinito reconhecimento ao Céu pelas expressões de variado socorro que não soubera entender, de pronto, prosseguiu adiante, são e salvo, para desempenho de sua tarefa.
Nesse ponto da curiosa narrativa, o Mestre fitou Bartolomeu demoradamente e terminou: — O Pai ouve sempre as nossas rogativas, mas é preciso discernimento para compreender as respostas d’Ele e aproveitá-las.
Do Livro Jesus no Lar  - Francisco C. Xavier

CARIDADE - ATITUDE

Emmanuel

Caridade que se expresse tão-somente na cessão do supérfluo pode facilmente induzir-nos à vaidade.
                                                                                                 * * *
Não é difícil dar o que retemos, no entanto, a virtude genuína pede a doação de nós mesmos, através do que temos e do que somos.
Em razão disso, é preciso não esquecer que a caridade também e acima de qualquer circunstância, o sentimento que nos rege a atitude.
No templo doméstico, é compreensão e gentileza.
Em família, é cooperação desinteressada e fraterna.
Na profissão, é a honestidade.
No trabalho, é o dever bem cumprido.
Na dor, é fortaleza.
Na alegria, é temperança.
Na saúde, é a presença útil.
Na enfermidade, é a paciência.
Na abastança, é o serviço a todos.
Na pobreza, é diligência.
Na direção, é a responsabilidade.
Na obediência, é humildade digna.
Entre amigos, é a confiança.
Entre adversários, é perdão das ofensas.
Entre os fortes, é o socorro aos mais fracos.
Entre os bons, é o auxílio aos menos bons.
Na cultura, é o amparo à ignorância.
No poder, é a autoridade sem abuso.
Em sociedade, é o apoio fraterno que devemos uns aos outros.
Na vida privada, é a conduta reta ante o próprio julgamento.
Não vale espalhar um tesouro amoedado com as vítimas de penúria, alimentando o ódio e a incompreensão, a revolta e o pessimismo nas almas.
                                                                                                 * * *
Aceitemos a experiência que o Senhor nos reserva cada dia, fazendo o melhor ao nosso alcance.
                                                                                                 * * *
Seja a nossa tarefa um cântico de paz e esperança, eficiência e alegria, onde estivermos.
                                                                                                 * * *
E recebendo o divino dom de pensar e entender, irradiando os mais belos ideais que nos enriquecem a vida, em forma de serviço aos semelhantes, a caridade será, em nossos corações, a luz constante clareando, desde as sombras da terra os mais remotos horizontes de nosso luminoso porvir.
 
 
Livro: Linha Duzentos – Francisco Cândido Xavier – Pelo Espírito Emmanue

QUEIXAS NÃO

QUEIXAS  NÃO

Emmanuel

A vida é uma escola.
Por mais difícil o processo educativo a que nos vejamos submetidos, saibamos valorizar o tempo, agradecendo e trabalhando ao invés de reclamar ou ferir.
Todos somos chamados a estudar e aprender, prestigiando as oportunidades e as horas.
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Imagina quanta atividade ser-nos-á possível desenvolver em trinta minutos.
Despendendo semelhante cota de tempo, conseguimos facilmente reconfortar corações aflitos, estender apoio aos que sofrem mais que nós mesmos, reerguer esperanças caídas e efetuar prestações de serviço, à feição de viveiros de paz e luz.
-o-
Por mais constrangedoras as circunstâncias que nos cerquem, nunca nos lamentemos.
Ao contrário disso, apliquemo-nos, quanto se nos faça possível, à concretização do bem de todos.
Nessa diretriz, entretanto, é indispensável se nos amplie a visão.
Compreender mais, para servir melhor.
Os motivos para inquietação surgem freqüentemente no cotidiano, mas, se lhes penetramos o objetivo, saberemos acolhê-los, de imediato, por ensinos da vida em nosso favor.
A desarmonia sugere a necessidade de entendimento.
O obstáculo leciona confiança.
A solidão fornece aulas de auto-análise.
O fracasso administra experiência.
Imperioso discernir, a fim de que nos reconheçamos na condição de alunos, em todos os lances e dificuldades do caminho que nos foi apontado ao trânsito comum.
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Cada dia é uma fração de recursos que podemos empregar em aprendizado e melhoria por fora, para enriquecimento e sublimação por dentro de nós.
Ante aqueles que já despertaram nas responsabilidades próprias, não existe ocasião para queixas.
Todas as horas são instrumentos que favorecem a execução das tarefas que fomos induzidos ou claramente requisitados a realizar no campo do bem.
Empenhemo-nos em lutar pela própria elevação.
Ninguém está excluído.
Quantos se afastam de semelhante imposição da existência caem facilmente na reclamação ou na rebeldia, encontrando em si mesmos o infortúnio dos que param de agir e servir.
Inexperientes ainda, acomodam-se com a ociosidade e com a sombra, esquecendo-se, porém, de que unicamente aqueles que dormem sobre colchões de rosas são os que sabem dramatizar a agressão dos espinhos.

(De “Instrumentos do Tempo”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)
 

CHAMADOS E ESCOLHIDOS


Emmanuel
 
Estejamos convencidos de que ainda nos achamos a longa distância do convívio com os eleitos da glória celeste;
entretanto,
pelo chamamento da fé viva que hoje nos trás ao conhecimento superior, guardemos a certeza de que já somos os escolhidos:
para a regeneração de nós mesmos;
para o esquecimento de todas as faltas do próximo, de modo a recapitular com rigor as nossas próprias imperfeições redimindo-as.
para o perdão incondicional, em todas as circunstâncias da vida;
para a atividade infatigável na confraternização verdadeira;
para auxiliar os que erram
para ensinar aos mais ignorantes que nós mesmos;
para suportar o sacrifício, no amparo aos que sofrem, ainda sem a força da fé renovadora que já nos robustece o espírito;
para servir, além de nossas próprias obrigações, sem direito à recompensa;
para compreender os nossos irmãos de jornada evolutiva, sem exigir que nos entendam;
para apagar as fogueiras do ódio e da incompreensão, ao preço de nossa própria renúncia;
para estender a caridade sem ruído, como quem sabe que ajudar aos outros é enriquecer a própria existência;
para persistir nas boas obras sem reclamações e sem desfalecimentos, em todos os ângulos do caminho;
para negar a nossa antiga vaidade e tomar, sobre os próprios ombros,cada dia, a cruz abençoada e redentora de nossos deveres, marchando, com humildade e alegria, ao encontro da vida sublime...
A indicação honrosa nos felicita.
Nossa presença nos estudos do Evangelho expressa o apelo que flui do Céu no rumo de nossas consciências.
Chamados para a luz e escolhidos para o trabalho.
Eis a nossa posição real nas benções do “hoje”.
E se quisermos aceitar a escolha com que fomos distinguidos, estejamos certos igualmente de que em breve “amanhã” comungaremos felizes com o nosso Mestre e Senhor.

Do livro Instrumentos do Tempo. Psicografia de Francisco Candido Xavier.