ENTREVISTA PARA O FUTURO – 40 ANOS DEPOIS
Entrevista exclusiva que J. Herculano Pires concedeu a Jorge Rizzini, em 14 de julho de 1972,
e que foi mantida inédita por 40 anos. A data lembra a Tomada da
Bastilha, evento central da Revolução Francesa, ocorrido em 14 de julho
de 1789.
Jorge Rizzini - Quem vos fala é
Jorge Rizzini,
e hoje é o dia 14 de julho do ano de 1972. E eu me encontro nesse
momento na casa de Herculano Pires a fim de gravar, nesta fita, uma
conversa assim, vamos dizer, que será julgada para a posteridade. Esta
fita, não vamos divulgá-la na atualidade. É realmente o futuro; visa aos
ouvintes do futuro. Isto é muito importante, porque é um depoimento que
irá ficar na história do espiritismo, na história do movimento espírita
de São Paulo e do Brasil. Informal, sem outro objetivo que não seja
aquele de dar o parecer do Herculano Pires, o parecer atual de Herculano
Pires, porém projetado no futuro. É uma visão, vamos dizer, à distância
e vendo o futuro.
De modo que nós vamos, primeiramente, fazer a seguinte pergunta ao
Herculano, porque se trata de um homem que tem realmente uma visão muito
ampla, uma visão aprofundada das culturas de vários países e de várias
épocas. Vamos perguntar ao Herculano o seguinte: suponhamos que
Herculano Pires estivesse no século passado, vivendo na França, e visse
nas livrarias de Paris
O livro dos espíritos, de
Allan Kardec, que então teria sido lançado neste dia. Como Herculano veria essa obra? Qual a impressão que teria após a leitura dessa obra?
J. Herculano Pires - Jorge Rizzini, você me dá uma
oportunidade de fazer aqui, já que você não pretende divulgar
imediatamente isto – esta é uma fita que vai ficar para o futuro –, eu
nunca pensei que tivesse oportunidade de falar para o futuro. Acho que é
uma pretensão muito grande, mas em todo caso, como você está abrindo
esta porta, eu vou falar para o futuro.
Eu queria dizer a você que no século passado, e isto não é um sonho,
uma ilusão, é uma convicção adquirida através de pesquisas que eu fiz
– que nunca revelei a ninguém –, mas que eu fiz levado por uma
revelação, uma revelação completamente inesperada através de um médium
inteiramente ignorante no assunto, e que me abriu o caminho para uma
possibilidade muito interessante. Vamos esclarecer isto. No século
passado, eu estive na França realmente, mas não era francês; eu era
português, eu morava em Portugal, tive uma encarnação em Portugal. Eu
fui parar na França como exilado, e como exilado eu tomei conhecimento
do espiritismo.
Mas não aceitei o espiritismo, porque eu era católico, e era um tipo
de católico muito interessante – muito comum, aliás, em Portugal naquela
época –, um católico que discordava dos padres, brigava com o clero e
não aceitava muito o catolicismo. O meu desejo era encontrar uma forma
de fazer o cristianismo voltar ao seu estado primitivo, quer dizer,
voltar à verdade pura do Cristo. Era este o meu desejo. Como naquela
época eu era também jornalista, como sou hoje, isso ficou gravado em
alguns jornais portugueses – e se pode constatar –, de modo que isso me
facilitou muito a verificação da realidade.
Jorge Rizzini - Um pormenor, Herculano: você se lembraria do nome que então você tinha?
J. Herculano Pires - Eu não quero dizê-lo Rizzini, você me perdoa isso; mas eu não quero dizer. Eu sei que nessa ocasião...
Jorge Rizzini - Mas é uma fita para o futuro!
J. Herculano Pires - Sim, mas o futuro depois verá.
Mas eu tive então a oportunidade de saber que estava se processando uma
nova revelação, aquela coisa toda. Mas como católico, eu tinha ideia de
que Portugal era um país profundamente católico e que qualquer
infiltração de outra religião lá seria prejudicial, porque o povo não
estava à altura – segundo eu pensava – de aceitar uma nova concepção de
Deus. Então eu não adotei o espiritismo, continuei católico até o fim,
mas um católico às avessas porque completamente em luta com o próprio
clero.
Então eu diria a você: eu não tenho certeza se eu vi algum livro
espírita. Eu sei que tive conhecimento do espiritismo, mas se eu visse
O livro dos espíritos
em Paris nesse dia 14 de julho, naquela época, na Tomada da Bastilha,
na data da Tomada da Bastilha, certamente não teria o impacto que hoje
me provocaria essa visão. Porque não sabia ainda o que era o
espiritismo, nem compreendia, nem tinha possibilidade de saber que o
espiritismo realizava aquele meu sonho, o sonho da volta ao cristianismo
primitivo. Só depois de passar para o mundo espiritual foi que eu tive
contato pleno com a nova revelação.
E interessante: foi no espaço em que eu me tornei espírita. Quando eu
vim para a Terra, portanto, nascendo aqui no Brasil, dessa vez, e
nascendo em Avaré, no estado de São Paulo, no dia 25 de setembro de
1914...
Jorge Rizzini - Um menino católico também...
J. Herculano Pires - Também de uma família católica,
tendo educação católica, eu, entretanto, já trazia ideias espíritas bem
acentuadas, que foram se revelando em mim independentemente de qualquer
influência exterior, de maneira que, agora sim, se eu tivesse depois
disso um encontro com
O livro dos espíritos, numa livraria de Paris, para mim seria uma grande emoção, uma emoção extraordinária.
Jorge Rizzini
- E se você encontrasse, nesta hipótese, por uma das ruas do centro de
Paris, de súbito, ao dobrar uma esquina, a figura de Allan Kardec?
J. Herculano Pires - Bom, se eu encontrasse agora,
nesta época, quer dizer, depois que sou espírita, então para mim seria
uma coisa extraordinária, porque Allan Kardec representa para mim a
figura exponencial dos novos tempos na Terra. Assim como Jesus veio para
implantar no mundo o reino de Deus, e realmente realizou esse trabalho
maravilhoso de implantação do reino de Deus, ele o implantou no coração e
na consciência dos homens, dos poucos homens que foram capazes de
compreendê-lo até hoje, mas implantou na Terra.
E esse reino de Deus vai se desenvolvendo lentamente através dos
séculos e vai se realizando apesar dos homens, de maneira que Jesus
representou essa figura extraordinária, e Kardec é o seu continuador.
Kardec foi aquele que veio trabalhar na era decisiva da implantação do
reino de Deus em maior amplitude, quando o reino de Deus vai se efetivar
na Terra. Kardec é que trouxe – recebendo o amparo do Espírito da
Verdade, a revelação que o Espírito da Verdade transmitiu – esta
possibilidade extraordinária de abrir as perspectivas do mundo para uma
era inteiramente nova, que está nascendo aos nossos olhos neste momento,
neste século 20.
Jorge Rizzini - Muito bem, Herculano. Então se
passaram cento e tantos anos que Allan Kardec fez a codificação da
doutrina espírita no planeta Terra. Pois bem, como você vê hoje, cento e
tantos anos depois, a doutrina espírita em face da humanidade atual?
J. Herculano Pires - Vejo a doutrina espírita, nesse
momento, como a única solução para os problemas que afligem a nossa
humanidade. Realmente é ela que traz o remédio para todos os males do
planeta. Por quê? Porque ela indica os caminhos em todos os sentidos,
ela representa, neste momento na Terra, o alicerce de uma nova
civilização: a civilização do futuro – para a qual talvez nós estejamos
falando nesse momento.
Essa civilização do futuro será construída pelos lineamentos da
doutrina espírita. A doutrina espírita é o planejamento geral dessa
civilização, e ela está se erguendo nesse sentido, sobre esses alicerces
– os alicerces da codificação –, incluindo-se também na codificação, é
conveniente dizer, os doze volumes da
Revista Espírita do tempo
de Allan Kardec, redigidos por ele. Incluindo-se aí, nós temos então um
vasto alicerce sobre o qual se desenvolverá a civilização do futuro.
Isso nós estamos vendo agora, Rizzini, neste momento, porque nós estamos
vendo que tanto no campo das ciências, quanto da filosofia, quanto no
campo da religião, os lineamentos do espiritismo estão sendo cumpridos,
estão sendo seguidos para a construção de um novo edifício.
Jorge Rizzini - Bem, Herculano, você acaba de abrir
um parêntese aqui. Nós vamos formular, de acordo com o que você disse,
três perguntas que são básicas para esses ouvintes. Primeira pergunta:
como você vê, em face da evolução dos nossos dias, o aspecto científico
do espiritismo? É a primeira pergunta. A doutrina espírita responde aos
anseios, às interrogações da ciência moderna, nesse momento em que o
homem está buscando novos mundos através da astronáutica?
J. Herculano Pires - Você tocou no ponto importante
para se desenvolver o problema. Realmente, a simples pesquisa cósmica
que se está fazendo neste momento já vem confirmar um dos pontos básicos
do espiritismo. É o espiritismo no campo do pensamento moderno, aquela
doutrina que afirmou e que vem afirmando há quase um século e meio, vem
sustentando a existência real dos mundos habitados no espaço. Assim, o
espiritismo precedeu de mais de um século o advento da astronáutica.
Isto bastaria para mostrar que no campo das ciências, nós encontramos
no espiritismo uma antecipação muito grande a todas as conquistas
atuais, porque a astronáutica, ela não resulta apenas de uma tentativa
isolada de penetração no cosmos; a astronáutica resulta de um conjunto
de evoluções científicas, de processos de desenvolvimento em vários
campos da ciência que permitiram então essa tentativa cósmica. Mas,
considerando que a ciência que mais contribuiu para esse desenvolvimento
foi a física, nós podemos examinar no campo da física o que se passa
neste momento. Nós sabemos que depois da penetração, na estrutura da
matéria através da física atômica e depois da física nuclear, nós agora
já estamos além da matéria com a descoberta, pela física, da
antimatéria.
Ora, a descoberta da antimatéria representa inegavelmente um
rompimento de toda estrutura puramente materialista da física do século
18 e do século 19. A física perde, por assim dizer, a sua qualidade de
ciência da matéria, porque ela já passou a investigar o campo da
antimatéria, reconhecendo que essa antimatéria, não obstante esteja
presente junto à matéria, não obstante se entranhe, por assim dizer, na
matéria, interpenetrando-a, esta antimatéria não é matéria. Por isso
mesmo que lhe dá o nome de antimatéria. Ela representa um outro
elemento. E, além disso, nós sabemos que esta conquista da física
projetou-se, por exemplo, na astronomia, de uma maneira bastante
significativa, porque os astrônomos, diante das conquistas progressivas
da física no campo na antimatéria, passaram a admitir a existência de
mundos de antimatéria.
Esses mundos de antimatéria no cosmo podem ser considerados por nós,
espíritas, como aqueles elementos que constituem o outro mundo, o mundo
espiritual de que fala o espiritismo. Ora, descobrindo-se então a
existência dos mundos espirituais no espaço, nós estamos em face de uma
perspectiva inteiramente nova nas ciências e que vem confirmar
princípios básicos do espiritismo. Mas, caminhando ainda no campo da
astronomia, nós veremos que até certos enganos verificados nesse
processo científico deram resultados favoráveis ao espiritismo.
Eu
quero lembrar aqui, por exemplo, uma teoria exposta no livro de Isaac
Asimov sobre o universo, uma teoria que ele formulou para explicar a
possibilidade da existência simultânea de mundos de matéria e de
antimatéria no espaço. De acordo com o que pensavam os cientistas até há
pouco tempo, até a questão de uns dois ou três anos atrás, de acordo
com o que pensavam os cientistas, os mundos de antimatéria eram
completamente isolados, distanciados dos mundos de matéria. Não poderia
haver um encontro, um contato desses mundos, porque eles explodiriam.
Isso em virtude do quê? Em virtude de pesquisas de laboratório, onde a
criação, a produção de uma partícula que fosse, uma partícula mínima
atômica de antimatéria, essa produção não tinha duração, porque ela mal
se encontrava com a partícula contrária de matéria, da sua mesma
natureza, mas oposta, e as duas explodiam e, dessa explosão, resultava a
formação de raios gama.
Então os cientistas chegaram à conclusão de que como há fontes no
espaço, grandes fontes distanciadas da Terra, de raios gama, que eram
captados aqui, essas fontes deviam representar explosões de mundos
materiais e antimateriais que se encontraram. Pois bem, esta teoria
levou então os cientistas a procurarem uma hipótese para a explicação da
possibilidade de mundos materiais e antimateriais permanecerem
conjuntamente no espaço, sem explodir durante milhões e milhões de anos.
E a conclusão foi a seguinte: a hipótese mais aventada e que mais
conseguiu sustentação foi a que Isaac Asimov expõe nesse livro, a
hipótese de que no seu estado natural, grandes massas de antimatéria
constituindo mundos, e de matéria também, ao se encontrarem, elas não
provocavam explosão imediata porque, agindo uma sobre a outra, produziam
um terceiro elemento, que seria uma espécie de intermediário entre a
matéria e a antimatéria. A este elemento eles deram o nome de fluido. Um
fluido ainda desconhecido, que separava os dois mundos e permitia que
eles vivessem conjuntamente.
A explicação de Asimov é muito curiosa, porque ele diz que quando uma
gota d’água cai na chapa do fogão, a gota não se evapora imediatamente,
porque ao tocar a chapa ela produz vapor; o vapor a levanta sobre a
chapa, ela fica no ar, e então continua ainda a existir durante um certo
tempo, graças ao vapor que separa a chapa do fogão da água. Esta é a
explicação que ele deu para se ter a ideia da possibilidade da
convivência dos dois mundos no espaço, de matéria e antimatéria. Pois
bem, essa explicação coincide com a teoria espírita do perispírito, que
permite a existência conjunta do espírito e da matéria, do corpo
material.
O corpo perispiritual, que é considerado no espiritismo como semimaterial, segundo nós vemos no
Livro dos espíritos –
quer dizer, contendo elementos de matéria e elementos espirituais –,
este corpo serve de intermediário entre o espírito e a matéria. Pois
bem, a teoria física para explicação da convivência de mundos de
antimatéria e mundos de matéria no espaço vem reproduzir simplesmente no
plano cósmico a teoria espírita existente para o microcosmo, que é o
nosso corpo.
Acho que este passo da ciência é de grande importância. Mas sabemos
que posteriormente, dois ou três anos depois, os cientistas soviéticos
materialistas descobriram, nas suas pesquisas de laboratório, que a
antimatéria existe aqui mesmo na Terra, e ligada mesmo ao átomo; o
antiátomo e o átomo estão interpenetrados. Esta outra descoberta traz
uma posição também muito favorável ao espiritismo, porque vem confirmar a
interpenetração de espírito e matéria, que é sustentada como fundamento
da doutrina espírita.
Jorge Rizzini - E você acredita, Herculano Pires,
que a ciência materialista dos nossos dias, que já fez essas descobertas
formidáveis, que confirmam pelo menos em parte o que a doutrina
espírita vem apregoando há mais de um século, você acredita que essa
ciência materialista, em particular a parapsicologia, essa ciência irá
comprovar todos os fenômenos que Allan Kardec, há mais de cem anos,
comprovou e deu em miúdos, em trocados, no seu livro
O livro dos médiuns?
J. Herculano Pires - Nem há dúvida a respeito. Nem
há dúvida pelo seguinte: porque você falou da parapsicologia. Bom, nós
estamos falando da física. A física é, como disse o professor Rhine
– que é um dos fundadores da parapsicologia moderna –, a física foi até
agora a ditadora das ciências. Todas as ciências seguiram os métodos
físicos de pesquisa e basearam-se sempre nos conceitos físicos para a
sua formulação de hipóteses e as suas concepções. Pois bem. Apesar
disso, a física, como nós vimos, já rompeu os limites físicos da sua
estrutura, ela penetrou no campo do espírito.
Quanto à parapsicologia, ela não é propriamente uma ciência que possa
ser incluída no campo materialista. Aliás, foi uma das declarações mais
importantes dos seus fundadores, tanto o professor Willian McDougall,
inglês, quanto o professor Joseph Banks Rhine, norte-americano, a
declaração de que a parapsicologia era a ciência que dava o primeiro
passo no rompimento do arcabouço materialista da nossa concepção
científica do universo. Realmente era, porque quando ela provou, em
1940, depois de dez anos de pesquisa intensiva de laboratório, quando a
parapsicologia provou a existência da telepatia e da clarividência,
sendo em primeiro lugar a clarividência, ela já demonstrou aquilo que o
professor Ernesto Bozzano dizia: demonstrou que existe no homem um
conteúdo que não é físico, não é material.
Então a parapsicologia deu um passo realmente anterior ao passo da
física no rompimento do arcabouço materialista da nossa concepção do
universo. Mas, na parapsicologia atual, nós já vemos que praticamente a
escala de fenômenos paranormais, ou de fenômenos mediúnicos, registrados
no
Livro dos médiuns, desde a simples transmissão de
pensamento até a clarividência, a precognição – ou visão do futuro –, a
retrocognição e assim por diante, subindo essa escala, nós vamos
passando pelos fenômenos teta, que são os fenômenos de manifestações do
espírito, e vamos chegar até mesmo a este último fenômeno que está sendo
investigado atualmente que é o da memória extracerebral, ou seja,
chegamos ao campo da reencarnação.
Então vemos que a parapsicologia cobriu praticamente, a partir dos
fenômenos mais simples, mais rudimentares, como a telepatia e a
clarividência, cobriu todo o campo fenomênico do espiritismo. Quanto à
materialização, que você lembrou, ela também está incluída, não só pelas
pesquisas já feitas pela metapsíquica e que a parapsicologia atual
aceita – mas pretende renovar no campo de pesquisas –, mas também pelas
pesquisas feitas na parapsicologia sobre os fenômenos psicocinéticos, ou
seja, de ação da mente sobre a matéria: os fenômenos chamados psi-kapa.
De maneira que no campo geral da fenomenologia espírita, a
parapsicologia como ciência de tipo comum, ligada às ciências normais,
sem nenhuma tentativa assim de colocação do problema em termos
espíritas, ela já endossou praticamente toda a verdade espírita.
Jorge Rizzini - Perfeito. Vamos então à segunda
pergunta, Herculano. E a sua resposta é dirigida aos ouvintes do futuro.
Esta fita pretende ser guardada, ser doada ao Museu Espírita da
Guanabara. Ela, portanto, pertence ao homem do futuro. Como você vê o
espiritismo hoje, em 1972, em face da filosofia?
J. Herculano Pires - Esta pergunta é bastante
interessante, Rizzini, porque realmente a filosofia espírita é uma
filosofia de renovação, como nós já tivemos a ocasião de ver no início
da conversa. É uma filosofia que pretende renovar inteiramente a nossa
concepção do mundo, da vida e do homem, e que está – não apenas pretende
–, porque ela está realmente na prática promovendo essa transformação.
Nós sabemos que no nosso século, o século 20 em que estamos, a
filosofia característica desse século, considerada por todos os que
conhecem o assunto, é a chamada filosofia da existência, a filosofia
existencial ou, como alguns chamam, o existencialismo. Pois bem, no
campo da filosofia da existência, nós temos várias divisões: temos o seu
nascimento, por exemplo, no meio puramente protestante, com Søren
Kierkegaard. Mas temos também o seu desenvolvimento no campo católico,
com Gabriel Marcel, na França, e temos o desenvolvimento também na
Alemanha, no campo protestante dessa filosofia, com grandes pastores e
grandes pensadores.
E temos, como sabemos, na França, ainda, o grande desenvolvimento
dessa filosofia no campo, não digo materialista, mas pelo menos no campo
do ceticismo e ligada praticamente ao ateísmo, que é a corrente que tem
à sua frente Jean Paul Sartre. O existencialismo sartriano é a
filosofia da negação, a filosofia do nada. Mas quando nós investigamos o
problema do existencialismo em relação com o espiritismo, nós vemos que
o espiritismo se antecipou mais de cem anos ao aparecimento, ao
desenvolvimento desta filosofia em nosso tempo. Não digo propriamente o
aparecimento, porque Kierkegaard é praticamente um contemporâneo de
Kardec.
Mas
Kierkegaard não fundou uma filosofia; ele apenas deu as notas
fundamentais que seriam desenvolvidas posteriormente e que tomariam
então, em nosso século, o aspecto de filosofia da existência. Portanto, o
problema foi colocado, mas não desenvolvido. Ora, nós verificamos o
seguinte: a filosofia da existência tem por finalidade examinar o
problema do ser através da existência. A existência nos oferece a
possibilidade de uma investigação do ser, não apenas no campo do
pensamento abstrato, através da cogitação filosófica, mas diretamente no
estudo do homem. O homem é o ser que está concretizado na Terra,
manifestado na Terra. Esse homem manifestado na Terra, ele nos oferece
uma possibilidade de abordagem para o estudo filosófico do ser, de
maneira, podemos dizer, quase concreta.
Pois bem, essa tentativa da filosofia da existência, que inverte os
termos da filosofia clássica, em vez de partir do exame dos problemas
puramente espirituais para a indagação filosófica, parte da existência
viva do homem na Terra – essa posição é precisamente a posição espírita.
Quando Kardec afirmou que nós temos de investigar a natureza do homem
através da mediunidade – porque a mediunidade oferece um novo campo para
a descoberta dessa verdadeira natureza humana –, ele já se colocava na
mesma posição de Kierkegaard, com uma diferença: que Kierkegaard partia,
como teólogo, de uma posição abstrata, ao passo que Kardec partia, como
cientista, de uma posição concreta.
Ele submetia a criatura humana a todas as experiências necessárias
para investigar a realidade essencial do homem. E foi através dessa
investigação que ele descobriu não só o espírito humano encarnado, mas
também a possibilidade das comunicações e manifestações dos espíritos
desencarnados. Isto é de importância muito grande. A filosofia da
existência implica ainda no exame da importância da existência do homem
na Terra, e do seu destino, o seu destino após o terminar a existência.
Podemos lembrar, por exemplo, que Martin Heidegger, na Alemanha, que
foi praticamente um dos mestres de Sartre, Martin Heidegger na sua
filosofia do ser – ele que se nega a se chamar existencialista, mas que
se inclui na filosofia da existência, porque a sua posição é tipicamente
existencial –, ele na sua filosofia do ser afirma o seguinte: que o
homem, ou melhor, o ser se completa na morte... [inaudível] E de
experiências de vital importância para ele, e ele completa realmente um
ciclo da sua evolução, partindo então para uma experiência no espaço, da
qual voltará em nova existência na Terra. Como vemos, a filosofia, no
campo da filosofia, o espiritismo está também confirmado pela mais
recente corrente de filosofias atuais, sem contar as confirmações
anteriores, que vêm desde Platão, desde os gregos, através de todo
espiritualismo na filosofia clássica.
Jorge Rizzini - Perfeito, Herculano Pires. E vamos
então à terceira pergunta básica, para os ouvintes do futuro. Como você
enxerga, qual a visão que você tem do espiritismo, do ponto de vista
religioso, em face do mundo moderno e em face das religiões atuais, em
geral?
J. Herculano Pires - Nesse campo também nós
assistimos aquilo que podemos dizer uma verdadeira corrida do pensamento
contemporâneo em direção aos princípios espíritas. Poderíamos lembrar,
por exemplo, inicialmente, no campo do catolicismo, o catolicismo
romano, que tem sido o mais renitente, o mais teimoso em permanecer no
passado. Nós vemos que a Igreja Católica Apostólica Romana apresenta-se
fragmentada e profundamente abalada em nosso tempo. E fragmentada não
apenas na sua estrutura religiosa, social e política, mas também
fragmentada no tocante ao seu pensamento, à sua solidez teológica, que
desapareceu ao impacto do mundo moderno.
Então nós vemos as renovações que se passam no catolicismo, todas
elas na direção da verdade espírita. Poderíamos falar exteriormente, no
tocante ao culto, à liturgia, às transformações, seguindo essa tese
famosa, que se tornou famosa em nosso tempo, do esvaziamento da Igreja,
no sentido de esvaziar a Igreja de todos os acessórios que lhe foram
dados através dos séculos, para que ela possa voltar ao cristianismo
primitivo. A eliminação das imagens, dos altares excessivos, de todos os
enfeites que existem na Igreja, a eliminação do ritualismo, de tudo
isso que está realmente desaparecendo. Isso tudo está mostrando que, do
ponto de vista exterior, as religiões – isto não se passa apenas no
catolicismo, como sabemos, mas nas demais religiões –, estão caminhando
para aquela simplicidade primitiva do cristianismo que o espiritismo
sustenta, defende e prega. Mas no campo teológico, que é o mais
importante porque é o substancial, é o campo do pensamento dirigindo as
igrejas, nós encontramos essa revolução extraordinária que está aí.
Por
exemplo, a teologia do padre Teilhard de Chardin no catolicismo. O
padre Teilhard de Chardin foi quase fulminado pelos anátemas dos seus
contemporâneos. No entanto, agora, a Igreja está caminhando rapidamente
para a aceitação de todas as teses do padre Chardin. E quais são essas
teses? Basta dizer que o padre Chardin nos parece, quando nós lemos o
seu livro fundamental,
O fenômeno humano, ou qualquer outro dos
seus livros, nos parece um decalque, ou simplesmente uma cópia carbono,
modificada um pouco para se adaptar ao pensamento católico, dos livros
de Léon Denis, que foi o continuador de Allan Kardec, o discípulo dele.
Jorge Rizzini - Aproveitando essa deixa, vamos abrir
um parêntese: você acredita então, Herculano Pires, que a doutrina
espírita, avançando como está, avançando dia a dia por toda a superfície
da Terra, acredita que o espiritismo, pelo seu desenvolvimento no
sentido da amplitude do movimento espírita de todos os países, acredita
que o espiritismo irá dominar totalmente, as religiões irão
desaparecendo aos poucos, em face das conversões do povo, das massas?
J. Herculano Pires - Rizzini, eu não encaro
precisamente assim. Eu acredito que a função do espiritismo, como,
aliás, queria Kardec desde o princípio, ele não pretendeu, segundo ele
declara positivamente, inclusive no livro
O que é o espiritismo,
ele não pretendeu de maneira alguma fazer uma nova religião, entre
tantas religiões existentes na Terra. Ele queria, como codificador do
espiritismo, dar uma contribuição para a modificação das religiões, para
a modificação da concepção humana a respeito da vida na Terra.
Essa contribuição é que era importante, era a que ele dava grande
importância. Mas nós sabemos que o Espírito da Verdade, em suas
comunicações com Kardec, e outros espíritos pertencentes à sua falange,
deram grande importância ao problema religioso. Por quê? Porque o
problema religioso é fundamental. O homem que não estiver integrado numa
concepção religiosa profunda, ele não tem as possibilidades da evolução
necessária, não se abrem diante dele as perspectivas do futuro como
devem se abrir. É necessário que haja religião.
Eu entendo que o espiritismo não irá dominar a Terra, como uma forma
religiosa. Entendo que ele fará o que o cristianismo fez, com relação à
transformação do mundo antigo, o mundo clássico greco-romano. Nós
sabemos que o cristianismo modificou esse mundo em todos os seus
aspectos; modificou no campo da política, modificou no campo jurídico,
no campo filosófico, no campo das estruturas sociais, enfim, em todos os
sentidos ele modificou, de acordo com os seus lineamentos, os
lineamentos cristãos. Estes lineamentos não eram perfeitos, a
modificação não foi total. Mas o espiritismo está realizando o
completamento dessa obra; o espiritismo está transformando tudo através
da influência dos seus princípios fundamentais, porque esses princípios
correspondem à realidade, correspondem à verdade.
Jorge Rizzini - Mas o espiritismo, dominando,
penetrando em toda a humanidade, reformando, trazendo à humanidade uma
nova cultura, uma nova visão de Deus, uma nova visão do destino, uma
nova visão cósmica, as religiões irão subsistir?
J. Herculano Pires - Acredito que as religiões podem
subsistir. Não todas, é claro, porque há religiões ainda tão
retrogradas, tão atrasadas mesmo no seu desenvolvimento, que não podem
atingir o futuro, a não ser que se reformulem totalmente. Mas nós
sabemos que uma característica do ser, ou seja, da criatura, seja ela
humana ou divina, uma característica é a sua individualidade. Cada
criatura humana é uma posição na corrente do tempo, assim como um
barqueiro na corrente de um rio tem a sua posição própria e o outro tem
outra. Cada consciência humana tem, portanto, a sua própria posição
diante da vida, do mundo e dos problemas humanos.
Então, nós sabemos que os homens nunca poderiam ser totalmente
aglomerados numa posição única. E essas diferenças individuais produzem
também as diferenças de agrupamentos. Assim como, apesar do domínio do
cristianismo durante os dois mil anos decorridos – apesar do domínio do
cristianismo, nós vimos que ele se fragmentou em numerosas posições,
determinadas pelas seitas religiosas –, também acredito que a
modificação produzida pelo espiritismo não será igualitária do homem,
não irá estabelecer uma igualdade absoluta, mas irá criar a
possibilidade de uma sintonia, no tocante aos problemas fundamentais.
Isto sim. Isto caracterizará a era espírita que, para nós, está surgindo
agora no século 20.
Essa era espírita está marcando já os pontos fundamentais, para os
quais estão convergindo todas as correntes do conhecimento, como nós
vimos no campo da ciência, da filosofia e da religião. É nesse sentido
que eu acredito que haja uma igualdade, não total, não massiva, por
assim dizer, mas uma igualdade num plano abstrato do pensamento, numa
concentração de todos os espíritas para os pontos fundamentais da
doutrina espírita.
Jorge Rizzini - Todavia, Herculano, ainda abordando
esse aspecto, que é muito importante: com a evolução da técnica, com a
evolução da sociedade, da humanidade em geral, escolas, faculdades,
universidades, a humanidade alfabetizada, porque está marchando para
isso, o problema da fome sendo resolvido no futuro com a técnica, com a
ciência, e todos os povos tendo conhecimento da doutrina espírita,
espalhando-se centros por todo o nosso orbe, você não acredita que esta
humanidade lúcida, culta, consciente da sua posição em face do universo,
você não crê que não haverá então, em nosso planeta, condição para as
religiões vigentes?
J. Herculano Pires - Acho, Rizzini, que realmente a
transformação será tão grande, que nós não podemos prever certos
aspectos. E é até uma temeridade nós querermos falar deste assunto para o
futuro. Mas em todo o caso, nós estamos dando a medida do nosso alcance
no presente.
Jorge Rizzini - Mas eu estou me referindo ao futuro sem marcar data, lembre-se disso.
J. Herculano Pires - Sim, não há dúvida. Mas de
qualquer forma, o futuro sempre virá trazendo coisas em que nós nem
sequer pensamos hoje. Mas eu acredito que realmente não haverá
necessidade de insistirmos no domínio, por exemplo, do pensamento
espírita, no sentido como nós o conhecemos hoje, para todo mundo. O
importante é que o espiritismo sirva de fermento, aquele fermento de que
fala Jesus no Evangelho, o fermento que modifica, que leveda a massa do
mundo e a transforma. É esta a grande função do espiritismo.
E ele não tem mesmo pretensões a um domínio religioso, porque ele
acha – e os seus postulados são bem claros nesse sentido – que deve
haver sempre, como base fundamental para a evolução das criaturas, o
princípio da liberdade, sem o qual não haverá também o princípio da
responsabilidade. Ora, a liberdade de cada indivíduo e a liberdade de
grupos de indivíduo é que possibilitará, dentro mesmo da concepção
espírita da vida, que irá dominar o planeta – a concepção espírita sim,
esta irá dominar totalmente o planeta –, haverá a possibilidade de
formações, de agrupamentos, de ponto de vista religioso, que possam
divergir de outros agrupamentos. Acho que poderá haver realmente
diversidade de religiões, mas sempre dentro de uma norma geral, que será
a norma espírita.
Jorge Rizzini - Bom, de qualquer maneira, é a implantação da doutrina espírita, não nos seus detalhes, mas no seu conjunto na Terra. Seria?
J. Herculano Pires
- Sim, o espiritismo, como nós analisamos ao falar da ciência,
filosofia e religião, o espiritismo está, como aquilo que escreveu
Humberto Mariotti, o nosso companheiro da Argentina: o espiritismo está
como uma estrela de amor no horizonte do mundo, esperando que todas as
correntes do conhecimento cheguem até ela. A ciência está chegando, a
filosofia está chegando, a religião está chegando, a estética está
chegando, a técnica está chegando, a descoberta, por exemplo, agora
recentemente pelos russos – pelos russos no seu pensamento materialista
de Estado, sustentado pelo Estado –, a descoberta que eles fizeram do
perispírito é um passo gigantesco no campo da técnica, mostrando que a
técnica também está evoluindo para a pesquisa além da matéria e no campo
espiritual.
Jorge Rizzini - E sem esquecer, Herculano, a contribuição dos próprios espíritos, através do fenômeno mediúnico.
J. Herculano Pires - Sim, é claro. É como dizia
Sir
Oliver Lodge: nós estamos trabalhando dos dois lados de uma montanha,
furando um túnel, dizia ele. Do lado de lá está o mundo espiritual, do
lado de cá o mundo material. Nós cavoucamos o túnel através da montanha,
do lado de cá, mas os espíritos estão cavoucando do lado de lá. E vamos
nos encontrar no meio do túnel.
Jorge Rizzini – Bem, Herculano, hoje, dia 14 de
julho do ano de 1972 – até vamos dar a hora: exatamente às duas horas da
madrugada –, vou pedir a você que dê a sua mensagem aos ouvintes, ao
povo do futuro, sem data marcada, porque essa fita será apresentada
através dos séculos. Nós, Herculano, lutamos muito, estamos em 1972, nós
lutamos vinte, trinta anos consecutivos na defesa da doutrina espírita,
em polêmicas, na defesa do Cristo, na defesa de Kardec, na defesa dos
nossos princípios, na rádio, na televisão, nos jornais. Então eu peço a
você, que traz este lastro, esse currículo maravilhoso na defesa da
doutrina, que dê a sua mensagem de estímulo aos espíritas do futuro.
J. Herculano Pires - Eu acho, Rizzini, que a minha
mensagem não poderá ser de estímulo a eles. Acredito que essa gente do
futuro será tão superior a nós, terá tantas possibilidades maiores
diante dela, que essa gente do futuro dispensaria qualquer palavra de
estímulo de nossa parte.
Eu quero apenas saldar, nesses elementos do futuro, nesses homens
maravilhosos de amanhã, nessas criaturas que irão povoar não só o nosso
país, o Brasil, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, mas que irão povoar
todos os países do mundo, quero saldar neles a aurora do novo mundo que
está raiando na Terra. E quem sabe, Rizzini, se nós teremos a esperança
de estar também presente nessa humanidade nova. Se nós fizermos jus a
essa situação, quem sabe se estaremos participando daqueles que irão
realmente efetivar na Terra a construção do reino de Deus, iniciada pelo
Cristo há dois mil anos. É bem possível que isso aconteça.
Então, eu, deixando gravadas aqui essas minhas palavras,
despretensiosamente – porque o problema delas serem reproduzidas no
futuro não é nosso, é um problema que depende apenas dos organismos que
forem guardar essa fita –; deixando essas palavras aqui, eu quero dizer a
essa gente de amanhã que nós trabalhamos para que o amanhã se
realizasse, nós lutamos aqui no Brasil, como lutaram outros na Europa,
lutaram outros na América do norte, lutaram outros na América do sul,
lutaram outros na Ásia, na África, por toda parte. Lutamos para que o
espiritismo pudesse ser estabelecido na Terra como fundamento da nova
civilização, do mundo do futuro.
Assim, nós temos de certa maneira um orgulho antecipado, uma
satisfação, um encantamento prévio por aquilo que essa gente do futuro
estará realizando. Porque nós todos fizemos o nosso esforço, e demos
tudo o quanto pudemos para transformar o mundo bárbaro em que vivemos
hoje, o mundo do século 20, que é ainda um mundo bárbaro, um mundo de
violências, um mundo de guerras, um mundo de provas duríssimas, de
tristes e amargos sofrimentos; transformar este mundo bárbaro naquele
mundo de maravilhosa civilização, de elevação espiritual, de
fraternidade humana, anunciado pelo Cristo no seu Evangelho. Nós
procuramos fazer o possível, nas nossas imperfeições, com as nossas
deficiências e dificuldades, nós batalhamos sem cessar para isso e
continuaremos a batalhar.
É
assim que envio daqui, nessa noite de 14 de julho de 1972, em São
Paulo, Brasil, no momento em que nós lembramos as lutas da Revolução
Francesa, as lutas para a implantação no mundo do regime político mais
suave, melhor; quando os pioneiros do momento em que nós estamos, no
presente, também lutaram e sofreram como nós; lembrando a epopeia da
queda da Bastilha e lembrando também que, na Revolução Francesa, nos
ideólogos dessa Revolução, nas transformações que ela produziu no mundo,
nós podemos encontrar muitas raízes, por assim dizer, do pensamento
espírita, que se desenvolveram através do tempo – problema esse que eu
procurei colocar no meu livro
O espírito e o tempo,
mostrando a Revolução Francesa como um episódio alegórico da história
do mundo, um episódio em que o mito e a história se misturam de tal
forma que muitas vezes se confundem.
Lembrando tudo isso, nós queremos dirigir também a nossa saudação
neste momento à França de amanhã, à França que viu Kardec nascer, à
França que viu o espiritismo nascer em seu seio, na cidade de Paris
– que era então o cérebro do mundo –, à França que teve Léon Denis –
aquele que Conan Doyle dizia ser um lutador contínuo através do espaço e
do tempo –, de Gabriel Delanne, de Alexandre Delanne e de todos os
demais, Flammarion, o grande Flammarion, que anteviu a era cósmica com
tanta visão, tanta grandeza de visão.
À França de todos esses gênios e de todos os gênios que realmente
lutaram para que o mundo se transformasse, nós queremos enviar daqui a
nossa saudação à França de amanhã, à França do futuro, na esperança de
que ela – que neste momento, no século 20, está ainda numa situação
bastante inferior em face do desenvolvimento do espiritismo –, que ela
tenha readquirido no futuro o seu elã espiritual, e através disso tenha
realmente feito jus à sua condição de berço do espiritismo ao mundo, de
berço da doutrina que trouxe a nova civilização. Esperamos muito da
França, e temos a certeza de que, se Deus quiser, brilhará sobre a
França, no futuro, o triunfo do espiritismo.
Jorge Rizzini - E aqui, ouvintes do futuro, fica o
depoimento de José Herculano Pires. Que você possa tirar dessas
palavras, saídas da inteligência e do coração de Herculano Pires, o
melhor proveito. Que essas palavras sejam para você um estímulo, para
que continue a praticar e a divulgar, a propagar a doutrina espírita,
que é a redenção da humanidade, dessa humanidade que vai marchando
gradativamente a caminho de Deus, que é o criador do universo, o criador
da vida e o nosso verdadeiro pai. Que Deus nos abençoe hoje e sempre.
Fonte:http://www.herculanopires.org.br/entrevistaparaofuturo