SESSÕES MEDIÚNICAS COM HERCULANO PIRES
Jorge Rizzini
De volta a São Paulo retomou Herculano Pires a desgastante vida profissional nos Diários Associados
sem, contudo, descuidar-se dos sucessivos compromissos no movimento
espírita nacional. Para recuperar-se realizava, semanalmente, em seu lar
sessões mediúnicas, cada vez mais concorridas. O grupo intitulava-se
Grupo Espírita Cairbar Schutel. Sua filha Helena revelara-se excelente
médium psicofônica e o filho Herculaninho um doutrinador competente. As
sessões iniciavam-se com uma prece dita pela cunhada Lourdes e
explanação de Herculano Pires sobre um capítulo das obras de Allan
Kardec. E terminavam com mensagens ditadas pelos Instrutores
Espirituais, quase sempre através de Victor e Assunta, abnegados (e
notáveis) médiuns. Ela, vidente, o marido médium de cura e psicofonia.
Entre inúmeros casos observados por Herculano Pires, relata ele um em
seu Diário. Certo rapaz de nome Wilson gritava dia e noite com
violentas dores que os médicos não conseguiam debelar com sedativos.
Herculano visitou-o, acompanhado de Victor e Assunta. O rapaz e seus
parentes não haviam jamais frequentado sessões mediúnicas.
“Encontramos o Wilson em lastimável
estado. Magro, pálido, gritando a todo instante e lançando-se ao chão em
contorções. A situação era dificílima: não sabíamos o que fazer.
Impossível concentrar e orar ou dar-lhe passes. Sentamo-nos todos na
sala e procuramos orar em silêncio. (...) Súbito, o Victor foi tomado e
levantou-se de um salto, falando em italiano, com voz forte e enérgica.
Era um Espírito esclarecido. Pôs-se imediatamente a repreender duas
entidades inferiores que atormentavam o ragazzo. Conseguiu
expulsá-las. Wilson estirou-se no soalho, exausto. (...) Dona Assunta
relatou o que vira: um dos Espíritos afastados cortava os músculos e
nervos do rapaz com uma tesoura fluídica, produzindo-lhe as dores que os
médicos não conseguiam explicar. Outro o chicoteava sem cessar. O
Espírito bom se despediu com a prece do Pai Nosso. Wilson se levantou
com a ajuda de Victor e logo se pôs a andar, tranquilo, refeito, de um
lado para outro, falando em Deus. Enquanto respondíamos às perguntas de
dona Luizinha (mãe do rapaz), ele se encaminhou para o quarto. Queria
deitar-se. Num instante começou a dormir. Quando saímos, ressonava
tranquilo. (...) Foi realmente uma prova concreta da verdade espírita
que os psiquiatras insistem em negar e combater.”
Memoráveis foram os trabalhos mediúnicos
na casa do apóstolo de Allan Kardec. Ao final de cada sessão Virgínia
servia café e um bolo de chocolate ou fubá. E só após longa conversa
sobre a doutrina (Herculano Pires sempre amável, sorridente) as pessoas
se despediam. Era quase uma hora da madrugada... O número de
frequentadores crescera tanto que as sessões passaram a ser realizadas
na garagem (Herculano não possuía automóvel). Era frequente à noite - e
em qualquer dia da semana - o autor deste livro visitar Herculano Pires
e, então, ao sentir a presença de espíritos realizavam sessões - ali
mesmo, na copa, após Virgínia servir o lanche. Em uma dessas sessões
improvisadas houve um fato inusitado. O notável escritor espírita
desencarnado Carlos Imbassahy desejava conversar com Herculano Pires,
mas recusava incorporar-se. Herculano Pires estranhou o fato e em carta
narrou-o ao filho de Imbassahy:
“Tive a ventura de receber, há cerca de
vinte dias, uma comunicação de seu pai, que se apresentou
inesperadamente, acompanhado do Pedro Granja. Não foi em sessão.
Estávamos conversando, na copa de minha casa, eu e o Rizzini (que é
médium). Sentimos de repente uma presença espiritual. (Não falávamos
dele nem do Granja). Rizzini disse que sentia dificuldades para receber
um espírito que desejava manifestar-se mas não queria incorporar-se.
Logo mais começou a receber a comunicação do Imbassahy por meio
telepático. Uma ligação de mente a mente. O Imbassahy explicou que não
queria incorporar mas podia transmitir a mensagem da mesma maneira. Na
verdade, estabeleceu conversação comigo, como quando em vida. Deu-me
recados do Granja, que não se comunicou. Foi realmente um momento feliz.
A identificação era perfeita, na linguagem, nas ideias e na lembrança
de nossa correspondência. Não lhe escrevi nada a respeito porque foi, de
fato, uma visita de amigo, rápida e sem maiores consequências.”
Carlos de Brito Imbassahy confirmou a
veracidade da comunicação, afirmando que seu pai costumava dizer que um
Espírito para transmitir mensagens não tinha necessidade da chamada
“incorporação”¹. Foi por essa época que Herculano Pires, tendo
acompanhado o desenvolvimento da mediunidade de Jorge Rizzini, prefaciou
seu primeiro livro psicografado - Antologia do Mais Além - que
enfeixa produções de quarenta e quatro poetas célebres, nacionais e
estrangeiros e que teve repercussão, inclusive, fora do movimento
espírita.
Grande era a experiência de Herculano
Pires no trato da mediunidade, pois dirigia sessões mediúnicas desde os
vinte e poucos anos de idade quando presidira o Centro Espírita Humberto
de Campos, em Cerqueira César. E, por isso mesmo, a pedido de sua
esposa Virgínia, escreveu um livro esclarecendo problemas relacionados à
mediunidade que, até então, continuava mal compreendida em nosso país.
“Hoje ainda perduram as confusões a respeito (escreve o apóstolo de Kardec no primeiro capítulo de seu livro Mediunidade).
Afirma-se tudo a respeito da mediunidade: é uma manifestação dos
poderes cerebrais do homem, esse computador natural que pode programar o
mundo; é uma eclosão dos resíduos animais de percepção sem controle de
órgãos sensoriais específicos; é uma energia ainda desconhecida do
córtex cerebral, mas evidentemente física (Vassiliev); é um despertar de
novas energias psicobiológicas do homem, no limiar da era cósmica; é o
produto do inconsciente excitado; é uma forma ainda não estudada da
sugestão hipnótica. Ninguém se lembra da explicação simples e clara de
Kardec: é uma faculdade humana.
Procuramos demonstrar, neste livro, o
que é em essência essa faculdade, como funciona em nosso corpo e em
relação com o mundo, os homens e os espíritos. (...) Apoiamo-nos nas
obras de Kardec, nas conquistas atuais da Parapsicologia, da física, da
biologia e da biofísica, sem outro objetivo que o de mostrar as relações
dessas conquistas recentes com a estrutura geral da doutrina espírita.
Apoiamo-nos também em nossas experiências pessoais de quase toda uma
vida no trato dos problemas espíritas em geral e da mediunidade em
particular, na observação e tratamento de casos de obsessão, no trato
direto e vivencial de casos obsessivos na família e em nós mesmos, nas
observações de tratamento em hospitais espíritas e nas instituições
doutrinárias.(...) Não fazemos doutrina, procuramos apenas esclarecer,
na medida do possível, as questões mais difíceis da teoria e da prática
espíritas, hoje conturbadas por verdadeiras aberrações de pessoas
inconscientes, que, demasiado confiantes em si mesmas, tripudiam sobre
os princípios fundamentais do espiritismo.”
O livro de Herculano Pires Mediunidade,
publicado em julho de 1978 pela Editora Edicel, não é didático nem um
tratado sobre mediunidade, mas sua leitura agradabilíssima é
indispensável porque conceitua a mediunidade e oferece ao leitor uma
análise geral, arguta e profunda, dos seus problemas atuais. Esse livro,
pois, a nosso ver notável complementa o estudo de O livro dos médiuns,
de Allan Kardec. Estudemos a obra. Porque sem estudar com dedicação e
humildade, os estudantes passam pela doutrina como gatos sobre brasas,
saindo apenas chamuscados e, o que é pior, convencidos de que dominaram o
assunto... (A frase é de Herculano Pires).
¹Herculano Pires, em seu livro Mediunidade,
escrito anos depois, ensina ser errônea a denominação de “incorporação”
para as manifestações orais. O que se dá não é uma incorporação, mas
uma interpenetração psíquica, como a da luz atravessando uma vidraça.
Fonte: http://www.fundacaoherculanopires.org.br/apostolo-abertura/324-sessoesmediunicas
Fonte: http://www.fundacaoherculanopires.org.br/apostolo-abertura/324-sessoesmediunicas
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