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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

9- TÁTICA OBSESSIVA. "(...)O espírito obsessor, sem a menor cerimónia, faz-se passar por mensageiro do bem, aconselha procedimentos fraternos, empenha-se em conquistar a confiança do medianeiro, sugere-lhe atitudes de extremo devotamente, chegando, inclusive, a comover-se às lágrimas... Tudo para envolvê-lo na teia de seus escusos e reais interesses..."


"... para chegara tais Uns é preciso um espirito hábil, astuto e profundamente hipócrita, porque não pode enganar e fazer-se aceitar senão com a ajuda de máscara que sabe tomar e de uma falsa aparência de virtude; as grandes palavras de caridade, humildade e amor a Deus são para ele como credenciais; mas, através de tudo isto, deixa transparecer sinais de inferioridade que é preciso estar fascinado para não perceber..." (Segunda Parte, cap. XXIII, item 239, terceiro parágrafo)
Os espíritos que intentam enganar os médiuns não hesitam em tomar o nome de Deus para fazê-lo. Aliás, a história está repleta de exemplos de homens que corrompiam, saqueavam, extorquiam, mentiam e até matavam — em nome de Deus!... Citemos o exemplo da Inquisição e fatos similares ocorridos com adeptos de outros credos religiosos ou suspeitos de heresia.
Para colimar seus objetivos inferiores, os espíritos não revelam qualquer escrúpulo em traves tirem-se como "anjos de luz", agindo sob o escudo de nomes veneráveis que ostentam de maneira desrespeitosa.
O espírito obsessor, sem a menor cerimónia, faz-se passar por mensageiro do bem, aconselha procedimentos fraternos, empenha-se em conquistar a confiança do medianeiro, sugere-lhe atitudes de extremo devotamente, chegando, inclusive, a comover-se às lágrimas... Tudo para envolvê-lo na teia de seus escusos e reais interesses. Assim, imperceptivelmente, o médium vai-se rendendo às suas vibrações, até que, fascinado, se destitui do imprescindível bom-senso, que preservaria a sua integridade psicológica.
Não raro, o espírito obsessor penetra de tal forma na alma do médium obsidiado, que este passa a defendê-lo ardorosamente, quando alguém lhe questiona a identidade e a intenção, melindrando-se ao tomar-lhe as dores, como se fosse ele próprio o ofendido.
Entretanto, por mais se esmere, o espírito obsessor acaba por trair-se, não logrando ocultar os seus inequívocos sinais de inferioridade, à semelhança de alguém que consegue enganar as pessoas durante algum tempo, mas não o tempo todo...
Para admitir que foi ludibriado por este ou aquele espírito, é necessário que o médium possua certa humildade; caso contrário, mesmo a entidade espiritual sendo desmascarada, o medianeiro prosseguirá cultivando as convicções na infalibilidade do espírito que o envaidecia com a sua "assistência".
No que tange à vaidade, carecemos de tecer breve consideração. O medianeiro costuma julgar o grau de sua evolução espiritual pela condição evolutiva do espírito que lhe assessora as atividades. Pura ilusão! Espíritos que agem no anonimato, cujos nomes sequer são conhecidos dos homens, estão em estágio espiritual quase sempre superior ao dos que reverenciamos...
Não é porque, por exemplo, Bezerra de Meneses assista tal médium que este esteja à altura do grande benfeitor de todos nós. Os Espíritos Superiores, atentos à palavra do Cristo de que "os sãos não necessitam de médico", abeiram-se das almas enfermas no propósito de auxiliá-las na cura. Acaso o Senhor não conviveu com pecadores e adúlteras, homens rudes e de inteligência obtusa, pacientemente instruindo-os a respeito do Reino Divino?!...
À perda do discernimento, a que nos referimos no capítulo precedente, só se nivela a vaidade do médium que se imagina na condição de missionário.
Insistimos em que a mediunidade, do ponto de vista moral, é instrumento de progresso a realizar e não de progresso realizado.
As credenciais do espírito bem intencionado são sempre as do trabalho que inspira o médium a concretizar, sem subtrair-lhe o livre-arbítrio. O espírito que dita normas e se aborrece quando não as vê cumprir-se pode até possuir méritos que não discutimos, mas inegavelmente ainda tem muito que aprender.
A tática do espírito obsessor intelectualizado é sutilíssima! Não raro, para surpreendê-lo em contradição, carece-se de refinado espírito de observação num curso de tempo mais ou menos longo.
No entanto não nos precipitemos em qualquer juízo sobre os espíritos, como não devemos apressar-nos na opinião a respeito de pessoas e acontecimentos. Não permitamos deixar-nos levar pelas aparências, nem de bem nem de mal, porque o espírito aparentemente bronco em seu modo de exteriorizar-se pode ser portador de virtudes essenciais que verdadeiramente o credenciem.
Muitas rosas de inegável beleza são totalmente desprovidas de perfume, ao passo que outras de aspecto comum exalam agradabilíssima fragrância, sob a singeleza da própria forma!

Livro: Mediunidade e Obsessão
Odilon Fernandes/Carlos Baccelli

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus"


"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus ... (Mateus 5:3)
Parece um contra-senso Jesus oferecer a bem-aventurança aos pobres de espírito, se considerarmos o conceito que essas palavras têm entre nós: outro era, no entanto, o pensamento de Jesus.
Pobre de espírito não é o homem néscio e baldo de inteligência, mas os simples, os humildes, pois para estes está reservada a conquista do reino dos céus, que tem entre nós o sentido de reforma interior.
Os orgulhosos, aqueles que se deixaram dominar pela soberbia, os recalcitrantes, estes julgam-se superiores e acham que as coisas divinas não merecem sua atenção.
Preeocupam-se em demasia com as conquistas do mundo e relegam para plano secundário a sua reforma íntima.
Os simples e humildes compreendem a sublimidade da justiça divina, conformam-se com os seus ditames e, como decorrência, ajustam-se para atingir siituações mais relevantes na vida futura.
Certa vez os apóstolos indagaram de Jesus: "Quem é o maior no reino dos céus", e o Mestre, tomando de um menino e assentando-o em seu joelho, disse:
-"Quem não se fizer pequenino como este menino, não entrará no reino dos Céus".
É fora de cogitação que o menino mereceria o acesso aos planos espirituais superiores, simplesmente pelo fato de ser criança.
O objetivo do Mestre foi ensinar que quem não se fizer simples ou pequenino em humildade, não merecerá o tão almejado acesso a essas regiões elevadas.
Não afirmou o Senhor que o reino de Deus é para elas, mas para aqueles que se lhes assemelham.
Pois, não tendo a criança ainda podido manifestar nenhuma tendência perversa, oferece-nos a imagem da inocência e da candura.
Paulo Alves Godoy
Os quatro Sermões

domingo, 30 de dezembro de 2012

A SIMPLICIDADE DE ESPÍRITO:"Jesus, abençoando as crianças e acariciando-as, mostrou que mais vale ser ignorante e simples, do que presumir de sábio sem simplicidade..."


"Traziam-lhe também as crianças para que as tocasse; e os discípulos, vendo isto, repreendiam aos que as traziam. Mas Jesus, chamando-as para junto de si, disse: Deixai vir os meninos, e não os impeçais; pois dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de maneira alguma entrará nele." (Lucas, XVIII, 15-17)

"Então lhe traziam alguns meninos para que os tocasse; e os discípulos repreenderam aos que os trouxeram. Mas Jesus, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os meninos, não os impeçais; porque dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de modo algum entrará nele. E abraçando os meninos, os abençoava, pondo as mãos sobre eles." (Marcos, X, 13-16)

Deus criou os Espíritos simples e ignorantes e lhes concedeu os meios de progresso e perfeição. É preciso que haja ignorância para que haja aperfeiçoamento, de cujo trabalho vem o mérito de cada um; e o aperfeiçoamento não se faz sem simplicidade. Os Espíritos simples são por isso bem-aventurados.

As bem-aventuranças são as remunerações da simplicidade. Os vaidosos, os arrogantes, não podem ter simplicidade, sendo por isso condenados por suas idéias preconcebidas.

Jesus usou as crianças como símbolo, ou antes, como personificação da simplicidade; elas são, quando em sua inocência,
a representação da simplicidade de espírito. Sabem que não sabem, e se esforçam para saber, perguntando, inquirindo aqui e ali. Não têm opinião preconcebida, nem se arrogam títulos de mestres e doutores; costumam respeitar as convicções, e, quando estas lhes parecem disparatadas, indagam os motivos e procuram tirar deduções, as que lhes pareçam justas.

A simplicidade de espírito é uma das grandes prerrogativas, indispensável à aquisição do Reino de Deus. Por que os escribas, os fariseus, os doutores da Lei, os religiosos de então repeliram a Doutrina de Jesus, chegando a ponto de pedir a morte do Filho de Deus?
Porque, sem nenhuma simplicidade de espírito, vaidosos dos seus conhecimentos, orgulhosos do seu saber, não percebiam a ignorância em que se achavam das coisas divinas e se julgavam possuidores de toda a verdade.

Jesus, abençoando as crianças e acariciando-as, mostrou que mais vale ser ignorante e simples, do que presumir de sábio sem simplicidade.
E assim como um "odre velho" não pode suportar um "vinho novo", por estar impregnado do velho licor, também é preciso que o homem se torne simples, isto é, ponha de lado as crenças avoengas que recebeu por herança, para analisar, sem preconceito, o Cristianismo que a ninguém veio impor os seus preceitos, mas apresentar-se a todos como a única Doutrina capaz de nos dar a perfeição, se a estudarmos e a compreendermos em espírito e verdade.

Nas passagens acima, de Lucas e Marcos, Jesus faz também uma ligeira alusão à reencarnação, como um dos meios de nos desembaraçarmos das idéias preconcebidas desde a infância, e nos tornarmos aptos para a boa recepção da Verdade, consubstanciada nos princípios redentores do Cristianismo.

De modo que "aquele que não receber o Reino de Deus como um menino, de maneira alguma entrará nele". Aquele que não receber o Reino de Deus com simplicidade, humildade e boa vontade de se aproximar de Deus, não entrará nele.
Cairbar Schutel

Livro: O Espírito do Cristianismo

sábado, 29 de dezembro de 2012

MUITO MAIS QUE PROFETA


“Convém que ele cresça e que eu diminua.”
(João, 3:30)
Foi João Batista um dos mais destacados médiuns do passado. Sua atuação foi das mais marcantes, principalmente pela circunstância de ter sido o precursor do
advento de Jesus Cristo.
O Mestre corroborou esta assertiva quando disso: “entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João” (Lucas, 7: 28), deixando transparecer a importância da vinda do Batista à Terra e o caráter singular da sua missão.
O filho de Zacarias, a exemplo de Jesus, era manso e tolerante para com os humildes e os desajustados, e enérgico e incisivo para com os orgulhosos e hipócritas.
Os escribas e fariseus eram, no dizer do Cristo, “os cegos que não queriam ver e os surdos que não queriam ouvir”. Palavras de brandura certamente não lhes tocavam os corações, Estas tinham que ser fortes, severas e veementes.
Exclamou João, quando alguns escribas e fariseus foram atraídos às margens do Rio Jordão, buscando as vantagens espirituais que ele oferecia: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira porvindoura? Produzi, pois, frutos dignos do arrependimento, e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão: porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.
Os escribas e fariseus procuravam João mais por temor da influência espiritual que o Batista pudesse exercer do que propriamente porque estivessem contagiados pelas verdades por ele apregoadas.
A prisão de João foi também motivada pelo seu extremado zelo em salvaguardar os bons princípios de moral. Verberando publicamente o procedimento do rei Herodes, o seu arrojo lhe valeu a prisão e conseqüentemente a degolação. Em todos os tempos, todos os grandes missionários que ousaram atacar frontalmente a mentira e os interesses mais imediatos dos potentados, tiveram como resposta a
espada, a cruz ou a fogueira.
A mais apoteótica afirmação do valor e da importância da missão desempenhada pelo Batista, partiu do próprio Jesus, quando obtemperou: Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Os que se vestem bem e vivem no luxo assistem nos palácios dos reis. Sim, que saístes a ver? Um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que profeta.
João não era um caniço agitado pelo vento dos interesses humanos, curvando para um lado ou para outro, ao sabor das conveniências dos grandes da Terra.

Ele foi mais que profeta, porque foi o precursor da vinda de Jesus Cristo. As antigas profecias já rezavam, no tocante à sua missão: Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti. — Voz do que clama no deserto; Endireitai o caminho do Senhor. — Eis que eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor (Malaquias, 4:6).
As profecias asseveravam que um anjo viria na frente do Mestre, com as virtudes de Elias. Como a virtude não se transfere, mas é inerente a quem a tenha conquistado, é óbvio que João foi a reencarnação de Elias, o que é confirmado por Jesus quando descia do Monte Tabor: De fato Elias virá e restaurará todas as coisas.
Eu, porém, vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram, antes fizeram com
ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer nas mãos deles. Então os discípulos entenderam que lhes falara a respeito de João Batista
(Mateus, 17:9).
A missão de João foi algo mais que um roteiro de profecias, pois, conforme assevera Lucas, no Capítulo 3, versículo 9, do seu evangelho: E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada ao fogo. O Batista veio para colocar o machado na raiz da árvore de um sistema religioso impregnado de imperfeições e tradições inócuas, sistema esse
representado pela velha religião judaica.
Dizia Jesus: Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e os fariseus.
Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. Se os escribas e fariseus não praticavam as boas obras é lógico que o machado do qual falava o Batista estava colocado de modo a derrubar “essas árvores”, para que em seu lugar fosse lançada a semente da Boa Nova revelada pelo Nazareno.
Foi João o primeiro profeta (médium) do Cristianismo, e o seu advento entre os homens traduz bem a extensão do amor de Deus para com todas as criaturas. Tanto o precursor que foi João, como o próprio Cristo, pagaram com a vida, pela espada ou pela cruz, a ousadia de trazerem ao gênero humano uma mensagem de amor e luz.

Livro: Os Padrões Evangélicos
Paulo Alves de Godoy

domingo, 16 de dezembro de 2012

Os "obsessores", gente como a gente."(...)Creio que é em Emmanuel que a gente lê que o ódio é o amor que enlouqueceu.."

Os "obsessores", gente como a gente

Hermínio C. Miranda
Qualquer abordagem à complexa problemática da obsessão deve começar, a meu ver, com uma atitude preliminar de humildade e amor fraterno. Ainda que isto possa parecer mera pregação com um toque de falsa modéstia, não é nada disto. A humildade constitui ingrediente indispensável a qualquer tarefa de natureza mediúnica, dado que é ainda bastante limitado o conhecimento dessa preciosa faculdade humana. Temos de nos apresentar diante da tarefa com a honesta intenção de aprender com o seu exercício, ainda que, paradoxalmente, munidos de todo o conhecimento teórico que for possível adquirir previamente. Quando a gente pensa que já sabe tudo sobre mediunidade, eis que ela se revela sob aspectos que ainda não tínhamos percebido ou apresenta facetas desconhecidas e aparentemente inexplicáveis. É como se cada sessão tivesse uma espécie de individualidade diferente de todas as demais, ainda que semelhante em suas características básicas. tal como as pessoas, ou seja, tão iguais umas com às outras e, ao mesmo tempo, tão diferentes.
E por falar em pessoas, vamos colocar a segunda preliminar, a de que o trato com a obsessão deve ser iluminado pelo amor fraterno. Por uma razão tão simples e óbvia que parece infantil, mas que se põe como de vital importância para o bom êxito do trabalho pretendido, ou seja, a de que os espíritos são gente como a gente. E gente que sofre e que, portanto, precisa de compreensão e paciência. São pessoas em conflito consigo mesmas e, portanto, com outros, com o mundo, com a vida , com Deus e com o próprio amor. Creio que é em Emmanuel que a gente lê que o ódio é o amor que enlouqueceu.. É verdade e tanto é verdade que mesmo este amor enlouquecido ainda é amor; como temos tido oportunidade de observar tantas vezes.
Lembro-me de um caso desses em que foi por esse caminho que encontrei o acesso que buscava ao coração do manifestante enfurecido daquela noite. Sua desesperada indignação dirigia-se a uma mulher que, aparentemente, manipulara impiedosamente suas emoções no passado. Chegara para ele a hora da vingança e ele a exercia com toda a força de seu ódio, tentando convencer-se de que o fazia com o maior dos prazeres. Agora, sim, tinha-a em seu poder! Sustentava-se no rancor secular e era isso mesmo que ele dizia. Sem aquele ódio, não seria nada nem ninguém, pois aquilo acabara constituindo a razão de ser de sua existência. Em situações como essa, o ódio e o ilusório prazer da vingança funcionam como biombos atrás dos quais a gente esconde, pelo menos por algum tempo, as próprias frustrações e procura abafar a voz incorruptível da consciência. Enquanto procuramos cobrar faltas cometidas contra nós, esquecemos dos nossos crimes e afrontas à lei divina.
Esse era o cenário e esse era o drama que tínhamos diante de nós. Que estava ele na posição de um obsessor, estava. Não se importa se assim o considerássemos. A vingança, no seu entender, era direito que ninguém poderia contestar-lhe. "Ela não errou? A lei não diz que somos todos responsáveis pelos atos que praticados? E não diz mais que quem fere com a espada, com a espada será ferido? Esta aí no seu evangelho!", dizem os vitoriosos. "Ela é uma peste. Você nem imagina como aquela mulher é ruim! E agora que estou aqui, cobrando minha parte, vem vocês com peninha dela! E sabe de uma coisa? Não se meta nisso não. O caso é comigo. Deixa que eu resolvo!"
Esse é o tom. Como fazê-lo mudar, não apenas o discurso, mas o procedimento, a maneira de avaliar a situação e de redirecionar suas emoções em tumulto? E perguntam, às vezes: "Você não acha que eu tenho razão?" Até que sim, se examinarmos o problema na estreiteza do seu contexto pessoal. É compreensível o rancor, gerado por uma dolorosa decepção com a pessoa em quem confiou e à qual entregou seu próprio coração e até sua vida. Mas esse espaço mental é exíguo demais para se colocarem todos os dados do problema. A vida não é uma só, a lei não é punitiva, mas educativa, e, acima de tudo, não há sofrimento inocente, a não ser nos grandes lances do devotamento ao próximo, nas tarefas missionárias. Por outro lado, se a lei permite ou tolera a vingança, embora não a aprove jamais, é porque aquele que erra se expõe à correção. Os obsessores mais experientes, sabem que somente conseguem cobrar aquilo que têm como crédito pessoal, precisamente porque, segundo ensinou o Cristo, o "pecador se torna escravo do pecado" e não sai de lá enquanto não pagar até o último centavo, ou seja, enquanto restar um reclamo na sua própria consciência. Não é preciso que ninguém cobre, mesmo porque a dívida é com a lei, representada em cada um de nós no silêncio da intimidade, mas o vingador não quer saber de tais sutilezas.
Todo aquele que se expõe ao duro retorno do reajuste pode estar certo de haver-se atritado com alei anteriormente. A conclusão lógica e inescapável é a de que, quando o nosso querido passou pelo dissabor de uma traição ou do abandono, estava na fase de retorno, na sofrida simetria de seus equívocos anteriores. Isto, porém, nunca estamos prontos para admitir quando nos encontramos na dolorosa postura do obsessor. Achamos, então, que esta é a nossa vez. Que perdão, nada! Sempre que perdoei me dei mal, costumam dizer. Vence, no mundo, aquele que grita, impõe e domina, não o que abaixa cabeça e marca a si mesmo com o carimbo da covardia.
Em suma: o nosso querido obsessor não era diferente de nenhum de nós, ainda prisioneiros de paixões milenares que repercutem e ecoam de século em século e vão aos milênios. É um ser humano, uma pessoa, gente como a gente. O que ele deseja, embora nunca o admita espontaneamente, é que tenhamos paciência para ouvi-lo, compreendê-lo, cuidar da sua dor, ainda que, conscientemente, também não a reconheça. Por isso após todo o seu catártico destampatório, ele se mostrava convicto de estar coberto de razão e, por isso, vitorioso no seu valente debate com o grupo. Só nesse ponto, contudo, tinha alguma condição para nos ouvir. Até então fora dono absoluto da palavra, dos argumentos, da indignação, da situação, enfim. Ele perseguia a moça porque queria e porque podia fazê-lo e estamos conversados.
Estava, portanto, dando a conversa por encerrada e pronto para retomar logo sua tarefa de ficar à espreita da sua vítima, como o gato que vigia o rato, no preciso e curioso dizer de Kardec.
É nesses momentos, contudo, que a inspiração parece funcionar melhor e, por isso, nosso doutrinador comentou, como quem apenas dá conta de um fato óbvio por si mesmo: "Isto tudo quer dizer, então, que você ainda a ama, não é? Recuperado do momentâneo aturdimento, ele teve a honestidade e a bravura de reconhecer que sim, ainda a amava, a despeito de tudo. Tínhamos chegado, afinal, ao seu coração, ao âmago da sua angústia, ao núcleo de suas dores e até de suas esperanças. E mais uma vez tínhamos diante de nós não um implacável obsessor convencido do seu legítimo direito de cobrar uma falta cometida contra si mesmo, mas um ser humano igualzinho a nós, sofrido, solitário, perdido na sua dor, mas principalmente, no seu ódio que, afinal de contas, não passava de um grande e inesquecível amor enlouquecido. Pois não é isso mesmo que aconteceu com a gente? Ou já aconteceu? Não é um irmão(ou irmã) que ali está ansioso, na secreta esperança de que consigamos, afinal, convencê-lo de que ele ainda a ama? Por isso sempre digo a eles , e a mim também, que amar é um estranho verbo, porque não tem passado. Você não diz que amou alguém. Se amou mesmo, de verdade, então continua amando. Mário de Andrade dizia que amar é verbo intransitivo e tinha razão, mas é também defectivo, porque não se conjuga em tempo passado. O amor é para sempre. Por isso, também dizia Edgar Cayce que o amor não é possessivo, ele apenas é. Claro, ele é da essência de Deus e, portanto, do ser, isto é, de todos nós. E ser é verbo e é substantivo.
Foi por essas e outras que acabei descobrindo que o amor é também da essência da tarefa dita desobsessão e que prefiro conceituar como diálogo com atormentados companheiros de jornada evolutiva que, eventualmente, estejam vivendo dolorosos papéis de obsessor. Quem não se sentir em condições pessoais de ver no chamado obsessor uma pessoa humana como a gente mesmo, então deve dedicar-se a outra tarefa no grupo. A seara é imensa, não falta trabalho para ninguém. Já alertava o Cristo, ao seu tempo, que era necessário orar para que o Pai mandasse mais obreiros, sempre escassos e insuficientes. Com a sua deslumbrante lucidez, Paulo explicou para a posteridade as inúmeras tarefas à nossa disposição em qualquer grupamento humano que se propõe a servir ao próximo. É só ler, para recordar, os capítulos 12, 13, 14 da sua Primeira Epístola aos Coríntios, e que constituem o primeiro "Livro dos Médiuns" do cristianismo. Aqueles que desejarem devotar-se ao trabalho gratificante da desobsessão que leiam de maneira especial, demorada e meditada, o capítulo 13, no qual o tema tratado é o da caridade, ou seja, o amor atuante.
Por tudo isso e mais o que não ficou dito, entendo que , na tarefa chamada de desobsessão, o ingrediente básico é o amor, que sempre saberá como encontrar o que dizer ao ser humano que temos diante de nós na mesa mediúnica. Doutrinação é palavra inadequada para caracterizar esse trabalho. Que teria eu a ensinar ao companheiro ou à companheira que comparece ao grupo mediúnico? Não há como ensinar pontos doutrinários teóricos a quem está vivendo a realidade, que conhecemos mais pelo estudo do que pela vivência. Eis porque costumo dizer que muito pouco ou quase nada tenho ensinado às pessoas desencarnadas que comparecem aos nossos trabalhos mediúnicos. Em compensação, devo a todos eles ensinamentos preciosos, recortados diretamente das páginas pulsantes da vida. E por isso, nunca saberia expressar toda a minha gratidão pela oportunidade que me foi concedida de trabalhar junto dos queridos "obsessores".

sábado, 15 de dezembro de 2012

O Poder Da Gentileza:..."O exemplo é mais vigoroso que a argumentação. A gentileza está revestida, em toda parte, de glorioso poder."

O Poder Da Gentileza
Eminente professor negro, interessado em fundar uma escola num
bairro pobre, onde centenas de crianças desamparadas cresciam
sem o benefício das letras, foi recebido pelo prefeito da cidade.
O prefeito ouvir-lhe o plano e disse-lhe:
- A lei e a bondade nem sempre podem estar juntas. Organize uma
casa e autorizaremos a providência.
O benfeitor dos meninos desprotegidos considerou:
- Mas doutor, não dispomos de recursos... Que fazer?
- De qualquer modo, cabe-nos amparar os pequenos analfabetos.
Diante de sua figura humilde, o prefeito disse:
- O senhor não pode intervir na administração.
O professor muito triste, retirou-se e passou a tarde e a noite
daquele sábado, pensando, pensando...
Domingo, muito cedo saiu a passear, sob as grandes árvores, na
direção de antigo mercado.
Ia comentando, na oração silenciosa:
- Meu Deus como agir? Não receberemos um pouso para as
criancinhas, Senhor?
Absorvido na meditação, atingiu o mercado e entrou.
O movimento era enorme. Muitas compras. Muita gente.
Certa senhora, de apresentação distinta, aproximou-se dele e
tomando-o por servidor vulgar, de mãos desocupadas e cabeça
vazia, exclamou:
- Meu velho, venha cá.
O professor acompanhou-a sem vacilar.
À frente dum saco enorme, em que se amontoavam mais de trinta
quilos de verdura, a matrona recomendou:
- Traga-me esta encomenda.
Colocou ele o fardo às costas e seguiu-a.
Caminharam seguramente uns quinhentos metros e penetraram
elegante vivenda, onde a senhora voltou a solicitar:
- Tenho visitas hoje. Poderá ajudar-me no serviço geral?
- Perfeitamente – respondeu o interpelado -, dê suas ordens.
Ela indicou pequeno pátio e determinou-lhe a preparação de meio
metro de lenha para o fogão.
Empunhando o machado, o educador, com esforço, rachou
algumas toras.
Em seguida, foi chamado para retificar a chaminé. Consertou-a
com sacrifício da própria roupa.
Sujo de pó escuro, da cabeça aos pés, recebeu ordens de buscar
um peru assado. Pôs-se a caminho, trazendo o grande prato em
pouco tempo. Logo mais, atirou-se à limpeza de extenso recinto
em que se efetuaria lauto almoço.
Nas primeiras horas da tarde, sete pessoas davam entrada no
fidalgo domicílio. Entre elas, relacionava-se o prefeito que anotou
a presença do visitante da véspera, apresentado ao seu gabinete
por autoridades respeitáveis.
Reservadamente, indagou sua irmã, que era a dona da casa,
quanto ao novo conhecimento, conversando ambos na surdina.
Ao fim do dia, a matrona distinta e autoritária, com visível
desapontamento, veio ao servo improvisado e pediu o preço dos
trabalhos.
- Não pense nisto – respondeu com sinceridade -, tive muito
prazer em ser-lhe útil.
No dia imediato, contudo, a dama da véspera procurou-o, na sua
casa modesta em que se hospedava e, depois de rogar-lhe
desculpas, anunciou-lhe a concessão de amplo edifício, destinado
à escola que pretendia estabelecer. As crianças usariam o
patrimônio à vontade e o prefeito autorizaria a providência com
satisfação.
O professor teve os olhos úmidos a alegria e o reconhecimento... e
agradecendo e beijou-lhe as mãos, respeitoso.
A bondade dele vencera os impedimentos legais.
O exemplo é mais vigoroso que a argumentação.
A gentileza está revestida, em toda parte, de glorioso poder.

Livro : A Vida Fala
Néio Lúcio/ Chico Xavier

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

CÓLERA E NÓS: ..."se não dispomos suficientemente de humildade e compaixão, eis que a altivez ferida se assemelha em nós ao estopim afogueado de que a cólera irrompe em fuzilaria de pensamentos descontrolados, arruinando-nos preciosas edificações espirituais do presente e do futuro..."




 Emmanuel
Tema – Prejuízos da Irritação.


Não farias explodir uma bomba dentro e casa, comprometendo a vida daqueles que mais amas. No entanto, por vezes, não vacilamos em detonar a dinamite da cólera, aniquilando as energias dos companheiros que nos trazem apoio e cooperação.
Nesse sentido, vale destacar que cada um de nós desempenha papel determinado na construção do benefício comum; e se contamos, na execução dos nossos deveres, com amigos abnegados, capazes do mais alto sacrifício em nosso favor, temos, ainda, nas linhas da existência, aqueles espíritos que se erigem à condição de nossos credores, com os quais ainda não nos quitamos, de todo, no terreno das contas pessoais, transferidas à contabilidade de hoje pelo saldo devedor de passadas reencarnações. Ocultos na invisibilidade, por efeito da diferença vibratória no estado específico da matéria sutil em que se localizam, quando desencarnados, ou mesmo revestidos na armadura de carne e osso, no plano físico, eles se instalam na sombra da antipatia sistemática ou da perseguição gratuita, experimentando-nos com persistência admirável os propósitos e testemunhos de melhoria interior.
É assim que vamos vencendo em exames diversos, opondo valores morais entesourados na alma ao assédio das provas, como sejam paciência na adversidade resistência na dor, fé nos instantes de incerteza e generosidade perante as múltiplas solicitações do caminho... Chega, porém, o dia em que somos intimados ao teste da dignidade pessoal. Seja pelo dardo do insulto ou pelo espinho da desconsideração, somos alvejados no amor-próprio, e, se não dispomos suficientemente de humildade e compaixão, eis que a altivez ferida se assemelha em nós ao estopim afogueado de que a cólera irrompe em fuzilaria de pensamentos descontrolados, arruinando-nos preciosas edificações espirituais do presente e do futuro.
Estejamos alertas contra semelhante poder fulminativo, orando e abençoado, servindo e desculpando, esquecendo o mal e restaurando o bem.
Decerto, nem sempre a doçura pode ser a marca de nosso verbo ou de nossa atitude porquanto, momentos surgem nos quais o bem geral reclama a governança da providência rija ou da frase salgada de advertência, mas, é preciso não olvidar que a cólera a nada remedeia, em tempo algum, e que, além de tudo, ela estabelece fácil ganho de causa a todos aqueles que, por força de nossa evolução deficitária, ainda se nos alinham, nas trilhas da existência, à conta de nossos inimigos e obsessores.

 Livro Encontro Marcado - Francisco Cândido Xavier

sábado, 8 de dezembro de 2012

20- Necessidade de valorização


Os destrutivos gigantes da alma, que exteriorizam os tormentos e a imaturidade do ego, de alguma forma refletem um fenômeno psicológico, às vezes de procedência inconsciente, noutras ocasiões habilmente estabelecido,que é a necessidade da sua valorização.
Quando escasseiam os estímulos para esse cometimento do eu, sem crescimento interior, que não recebe compensação externa mediante o reconhecimento nem a projeção da imagem, o ego sobressai e fixa-se em mecanismos perturbadores a fim, de lograr atenção, desembaraçando-se, dessa forma, do conflito de inferioridade, da sensação de incompletude.

Tivesse maturidade psicológica e recorreria a outros construtores gigantes
da alma, como o amor, o esforço pessoal, a conscientização, a solidariedade, a filantropia, desenvolvendo as possibilidades de enriquecimento interior capazes de plenificação.

Acostumado às respostas imediatas, o ego infantil deseja os jogos do prazer a qualquer preço, mesmo sabendo que logo terminam deixando frustração, amargura e novos anelos para fruir outros. A fim de consegui-lo e por não saber dirigir as aspirações, asfixia-se nos conflitos perturbadores e atira-se ao desespero. Quando assim não ocorre, volta-se para o mundo interior e reprime os sentimentos, fechando-se no estreito quadro de depressão.

Renitente, faculta que ressumam as tendências do prazer, mascaradas de
auto-aflição, de autoflagelação, de autodepreciação.

Entre muitos religiosos em clima de insatisfação pessoal, essa necessidade de valorização reaparece em estruturas de aparente humildade, de dissimulação, de piedade, de proteção ao próximo, estando desprotegidos de si mesmos...

A humildade é uma conquista da consciência que se expressa em forma
de alegria, de plenitude. Quando se manifesta com sofrimento, desprezo por si mesmo, violenta desconsideração pela própria vida, exibe o lado oculto da vaidade, da violência reprimida e chama a atenção para aquilo que, legitimamente, deve passar despercebido.

A humildade é uma atitude interior perante a vida; jamais uma indumentária exterior que desperta a atenção, que forja comentários, que
compensa a fragilidade do ego.

O caminho para a conscientização, de vigilância natural, sem tensão, fundamentando-se na intenção libertadora, é palmilhado com naturalidade e cuidado.

Jesus, na condição de excepcional Psicoterapeuta, recomendava a vigilância antes da oração, como forma de auto-encontro, para depois ensejarse a entrega a Deus sem preocupação outra alguma.

A Sua proposta é atual, porqüanto o inimigo do homem está nele, que vem
herdando de si mesmo através dos tempos, na esteira das reencarnações
pelas quais tem transitado. Trata-se do seu ego, dissimula-dor hábil que conspira contra as forças da libertação.

Não podendo fugir de si mesmo nem dos fatores arquetípicos coletivos, o ser debate-se entre o passado de sombras — ignorância, acomodação, automatismos dos instintos — e o futuro de luz — plenitude através de esforço
tenaz, amor e auto-realização — recorrendo aos dias presentes, conturbados pelas heranças e as aspirações. No entanto, atraído pela razão à sua fatalidade biológica — a morte — transformação do soma — histórica — a felicidade — e espiritual — a liberdade plena — vê o desmoronar dos seus anseios e reconstrói os edifícios da esperança, avançando sem cessar e
conquistando, palmo a palmo, a terra de ninguém, onde se expressam as próprias emoções conturbadas.

Essa necessidade de valorização egóica pode ser transformada em realização do eu mediante o contributo dos estímulos.

Cada ação provoca uma reação equivalente. Quando não se consegue
uma resposta através de um estímulo positivo, como por exemplo: — Eu te
amo, para uma contestação equivalente: — Eu também, recorre-se a uma
negativa: — Ninguém me ama, recebendo-se uma evasiva — Não me inclua nisso. Sob trauma ou rancor, o estímulo expressa-se agressivo: — Não gosto de ninguém, para colher algo idêntico: — A recíproca é verdadeira.

Os estímulos são fontes de energia. Conforme dirigidos, brindam com resultados correspondentes.

O ego que sente necessidade de valorização, sem o contributo do self em
consonância, utiliza-se dos estímulos negativos e agressivos para compensarse, sejam quais forem os resultados.

O importante para o seu momento não é a qualidade da resposta estimuladora,
mas a sua presença no proscênio onde se considera ausente.

Verdadeiramente, no inter-relacionamento social, quando todos se
encontram, o ego isola suas vítimas para chamar a atenção ou bloqueia-as de tal
forma que não ficam ausentes, porém tornam-se invisíveis. Encontram-se
no lugar, todavia, não estão ali. Essa invisibilidade habilmente buscada
compensa o conflito do ego, mantendo a autoflagelação de que não énotado,
não possui valores atraentes. Tal mortificação neurótica introjeta as imagens infelizes e personagens míticas do sofrimento, que lhe compõem o quadro de desamparo emocional de desdita pessoal.

Nesse comportamento doentio do ego, a necessidade de valorização, porque não possui recursos relevantes para expor, expressa-se na enganosa autocomiseração que lhe satisfaz as exigências perturbadoras, e relaxa,
completando-se emocionalmente.

Quando o self assoma e governa o ser, os estímulos são sempre positivos,
mesmo que tenham origem negativa ou agressiva, porque exteriorizam o bemestar que lhe é próprio.

Se alguém diz: Não gosto de você, a mensagem transacional retorna
elucidando : — Eu, no entanto, o estimo.
Se a proposta afirma: — Detesto-o, a comunicação redargue: — Eu o admiro.
Não se contamina nem se amargura, porque, em equilíbrio, possui valor,
não tendo necessidade de valorização.

O Ser Consciente
Joana de Angelis/Divaldo

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O PROGRAMA DO SENHOR

01 - O PROGRAMA DO SENHOR
A frente da turba faminta, Jesus multiplicou os pães e os peixes, atendendo à necessidade
dos circunstantes.
O fenômeno maravilhara.
O povo jazia entre o êxtase e o júbilo intraduzíveis.
Fora quinhoado por um sinal do Céu, maior que os de Moisés e Josué.
Frêmito de admiração e assombro dominava a massa compacta.
Relacionavam-se, ali, pessoas procedentes das regiões mais diversas.
Além dos peregrinos, em grande número, que se adensavam habitualmente em torno do
Senhor, buscando consolação e cura, mercadores da Iduméia, negociantes da Síria,
soldados romanos e cameleiros do deserto ali se congregavam em multidão, na qual se
destacavam as exclamações das mulheres e o choro das criancinhas.
O povo, convenientemente sentado na relva, recebia, com interjeições gratulatórias, o
saboroso pão que resultara do milagre sublime.
Água pura em grandes bilhas era servida, após o substancioso repasto, pelas mãos robustas
e felizes dos apóstolos.
E Jesus, após renovar as promessas do Reino de Deus, de semblante melancólico e sereno
contemplava os seguidores, da eminência do monte.
Semelhava-se, realmente, a um príncipe, materializado, de súbito, na Terra, pela suavidade
que lhe transparecia da fronte excelsa, tocada pelo vento que soprava, de leve...
Expressões de júbilo eram ouvidas, aqui e ali.
Não fornecera Ele provas de inexcedível poder? não era o maior de todos os profetas? não
seria o libertador da raça escolhida?
Recolhiam os discípulos a sobra abundante do inesperado banquete, quando Malebel,
espadaúdo assessor da Justiça em Jerusalém, acercou-se do Mestre e clamou para a
multidão haver encontrado o restaurador de Israel. Esclareceu que conviria receber-lhe as
determinações, desde aquela hora inesquecível, e os ouvintes reergueram-se, à pressa,
engrossando fileiras, ao redor do Messias Nazareno.
Jesus, em silêncio, esperou que alguém lhe endereçasse a palavra e, efetivamente, Malebel
não se fez rogado.
– Senhor – indagou, exultante –, és, em verdade, o arauto do novo Reino?
– Sim – respondeu o Cristo, sem, titubear.
– Em que alicerces será estabelecida a nova ordem? – prosseguiu o oficial do Sinédrio,
dilatando o diálogo.

– Em obrigações de trabalho para todos.
O interlocutor esfregou o sobrecenho com a mão direita, evidentemente inquieto, e
continuou:
– Instituir-se-á, porém, uma organização hierárquica?
– Como não? – acentuou o Mestre, sorrindo.
– Qual a função dos melhores?
– Melhorar os piores.
– E a ocupação dos mais inteligentes?
– Instruir os ignorantes.
– Senhor, e os bons? Que farão os homens bons, dentro do novo sistema?
Ajudarão aos maus, á fim de que estes se façam igualmente bons.
– E o encargo dos ricos?
– Amparar os mais pobres para que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.
– Mestre – tornou Malebel, desapontado –, quem ditará semelhantes normas?
– O amor pelo sacrifício, que florescerá em obras de paz no caminho de todos.
– E quem fiscalizará o funcionamento do novo regime?
– A compreensão da responsabilidade em cada um de nós.
– Senhor, como tudo isto é estranho! – considerou o noviço, alarmado – desejarás dizer que
o Reino diferente prescindirá de palácios, exércitos, prisões, impostos e castigos?

– Sim – aclarou Jesus, abertamente –, dispensará tudo isso e reclamará o espírito de
renúncia, de serviço, de humildade, de paciência, de fraternidade, de sinceridade e,
sobretudo, do amor de que somos credores, uns para com os outros, e a nossa vitória
permanecerá muito mais na ação incessante do bem com o desprendimento da posse, na
esfera de cada um, que nos próprios fundamentos da Justiça, até agora conhecidos no
mundo.

Nesse instante, justamente quando os doentes e os aleijados, os pobres e os aflitos desciam
da colina tomados de intenso júbilo, Malebel, o destacado funcionário de Jerusalém, exibindo
terrível máscara de sarcasmo na fisionomia dantes respeitosa, voltou as costas ao Senhor, e,
acompanhado por algumas centenas de pessoas bem situadas na vida, deu-se pressa em
retirar-se, proferindo frases de insulto e zombaria...
O milagre dos pães fora rapidamente esquecido, dando a entender que a memória funciona
dificilmente nos estômagos cheios
, e, se Jesus não quis perder o contacto com a multidão,
naquela hora célebre, foi obrigado a descer também
.

Livro: Pontos e Contos /Irmão X por Francisco Candido Xavier

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Dissimulações Humanas

Revista Espírita 1860-Agosto

(méd., senhora Costel.)
Eu vos falarei da necessidade singular que têm os melhores Espíritos de se misturar sempre com coisas que lhes são as mais estranhas; por exemplo, um excelente comerciante não duvidará um instante de sua aptidão política, e o maior diplomata porá do amor-próprio para decidir as coisas mais frívolas. Esse erro, comum a todos e a todas, não tem outro móvel senão a vaidade e esta não tem senão necessidades factícias; para o toucador, para o espírito, mesmo para o coração, ela procura, antes de tudo o falso, vicia o instinto do belo e do verdadeiro; conduz as mulheres a desnaturarem a sua beleza; persuade os homens a procurarem precisamente o que lhes é mais nocivo. Se os Franceses não tivessem esse erro, seriam, uns os mais inteligentes do mundo, os outros os mais sedutores de Evas conhecidos. Não tenhamos, pois, essa absurda humildade; tenhamos a coragem de sermos nós mesmos; de carregar a cor de nosso Espírito, como a de nossos cabelos. Mas os tronos desabarão, as repúblicas se estabelecerão, antes que um Francês leviano renuncie às suas pretensões à gravidade, e uma Francesa às suas pretensões à solidez; dissimulação contínua, onde cada um toma o costume deu ma outra época, ou mesmo, muito simplesmente, ode seu vizinho; dissimulação política, dissimulação religiosa, onde todos, arrastados pela vertigem, vos procurais perdidamente, não encontrando nesse tumulto nem o vosso ponto de partida, nem o vosso objetivo.
Delphine de girardin.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Com Efeito



"Todos vós, que dos homens sofreis injustiças, sede indulgentes para as faltas dos vossos irmãos, ponderando que também vós não vos achais
isentos de culpas; é isso caridade, mas é igualmente humildade."


(Allan Kardec. E.S.E. Cap.VII. Item 11.)





Exercite a humildade ao lado dos modestos servidores do lar doméstico.


Ser humilde com os superiores, de quem se depende, é muito fácil.


Suporte com resignação as dificuldades da tarefa nova.


Quem muda de clima sofre a modificação da temperatura.


Retorne ao trabalho com ânimo redobrado, no lugar em que o insucesso o magoou.


Nem sempre o triunfo pode ser sentido nas moedas de lucro fácil.


Submeta-se às vicissitudes naturais da luta, mas prossiga na direção do serviço honrado.


Não há repouso justo sem o cansaço haurido nas tarefas da aprendizagem.



Cultive o verbo "cooperar".


O progresso nasce quando todos se ajudam.



Levante-se do erro e siga renovando-se.


Muita correnteza cristalina nasce em lodo.



Seja indulgente com aqueles que ainda se demoram sob as fortes luzes da ilusão.


O perdão que você oferece aos outros funciona como lubrificante nas engrenagens de sua alma.


Desperte na criança o ardor evangélico, atestando sempre junto a ela a excelência da Mensagem Cristã.


As atitudes hostis que você mantém, supondo que "a criança não entende", anulam quaisquer palavras da pregação apaixonada.



Combata a onda materialista que domina o mundo, deixando de apoiar as indústrias de perversão dos valores morais.


O prazer do cinema, teatro e televisão, muitas vezes se transforma em "labaredas para o coração".



Empenhe-se na implantação do Evangelho na Terra.


Faça-se, entretanto, uma "carta-viva do Cristo".

Marco Prisco / Divaldo

Sugestões de Amigo



"Sabe ele (o Paganismo) muito bem que
está errado, mas isso não o abala,
porquanto a verdadeira fé não lhe está
na alma. O que mais teme á a luz, que dá vista aos cegos."
(Allan Kardec, E.S.E. Cap. XXIII, Item 14)

Mesmo que você esteja com a razão, escute em silêncio a reprimenda injustificada.


Ouvir para examinar é oportunidade de aprendizado e experiência.


Mesmo que a lição lhe amargure o Espírito, receba como dádiva preciosa.


Antes uma verdade que que magoa, mas salva, do que uma ilusão que agrada e se desvanece.


Mesmo que você seja chamado ao debate em nome da causa que ama, desculpe-se e prossiga na ação.


Muitas palavras exaltam poucas razões.


Mesmo que a dor se constitua parceria única de seus labores evangélicos, prossiga resoluto.


O cinzel que fere a pedra, dela arranca a escultura valiosa.


Mesmo que a espada invisível da calúnia abra feridas em seu coração, continue animado.


O bem é luz inapagável.


Mesmo que a urna sombria do “eu” apele para que você viva somente para você, arrebente a grilheta e ajude a comunidade naquele que segue a seu lado.


A ostra mais resistente, em solidão, despedaça-se de encontro aos recifes do mar imenso.


Mesmo que a luta pareça inútil, confie no valor da perseverança que sabe agir.


Os pólens de uma única flor são suficientes para multiplicá-la indefinidamente, embelezando a Natureza.


Mesmo que o fel da amargura verta em seus lábios, cada noite, o acre sabor do desespero, desperte, no dia seguinte, abençoando a aurora.


Quem contempla uma noite de vendaval acreditará na impossibilidade de um claro sol na manhã porvindoura. No entanto...


Mesmo que o alarde da maledicência empane a claridade de sua luz, não revide mal por mal.


A árvore ultralada responde à ofensa com produtividade.


Mesmo que seus sonhos formosos de assistência fraternal e socorro cristão se transformem em pesadelos aflitivos nos dias de atividade, siga adiante, confiando intimorato.


Considerado pelos familiares, em Nazaré, como embusteiro e endemoniado, o Mestre prosseguiu no ministério da Verdade, alargando as possibilidades da Boa Nova no vergel desfeito dos corações humanos, para, na cruz, atestar a suprem a vitória do amor como única via de "luz que dá vista aos cegos" e enseja libertação para o Espírito sedento de imortalidade.


Marco Prisco / Divaldo

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Espíritos Sofredores " parte 6.

Príncipe Ouran

(Bordéus, 1862)
Um Espírito sofredor apresentou-se dando o nome de Ouran, príncipe russo de outros tempos.
- P. Quereis dar-nos algumas minudências sobre a vossa situação?
- R. Oh! felizes os humildes de coração, porque deles é o reino do céu! Orai por mim. Felizes os humildes de coração que escolhem uma posição modesta a fim de cumprirem a provação. Vós todos, a quem devora a inveja, não sabeis o estado a que ficou reduzido um desses que na Terra são considerados felizes; não avaliais o fogo que o abrasa nem os sacrifícios impostos pela riqueza quando por ela se quer obter a salvação! Permita-me o Senhor a mim, déspota orgulhoso, expiar os crimes derivados do meu orgulho entre aqueles mesmos a quem oprimi com a tirania! Orgulho! Repita-se constantemente a palavra para que se não esqueça nunca que ele é a fonte de todos os sofrimentos que nos acabrunham. Sim, eu abusei do poderio e favores de que dispunha; fui duro e cruel para com os inferiores, os quais tiveram de curvar-se a todos os meus caprichos, satisfazer a todas as minhas depravações. Quis a nobreza, a fortuna, as honras, e sucumbi sob peso superior às próprias forças.
Nota - Os Espíritos que sucumbem são geralmente levados a alegar um compromisso superior às próprias forças - o que é ainda um resto de orgulho e um meio de se desculparem para consigo mesmos, não se conformando com a própria fraqueza. Deus não dá a ninguém mais do que possa suportar. não exige da árvore nascente os frutos dados pelo tronco desenvolvido. Demais, os Espíritos têm liberdade; o que lhes falta é a vontade, e esta depende deles exclusivamente. Com força de vontade não há tendências viciosas insuperáveis; mas, quando uni vício nos apraz, é natural que não façamos esforços por domá-lo. Assim, somente a nós devemos atribuir as respectivas conseqüências.
- P. Tendes consciência das vossas faltas, e isso é já um passo para a regeneração.
- R. Esta consciência é ainda um sofrimento. Para muitos Espíritos o sofrimento é um efeito quase material, visto como, atidos à Humanidade de sua última encarnação, não experimentam nem apreendem as sensações morais. Liberto da matéria, o sentimento moral aumentou-se, para mim, de tudo quanto as cruéis sensações físicas tinham de horrível.
- P. Lobrigais um termo aos vossos padecimentos?
- R. Sei que não serão eternos, mas não lhes entrevejo o fim, sendo-me antes preciso recomeçar a provação.
- P. E esperais fazê-lo em breve?
- R. Não sei ainda.
- P. Lembrai-vos dos vossos antecedentes? Faço-vos esta pergunta no intuito de me instruir.
- R. Vossos guias aí estão, e sabem do que precisais. Vivi no tempo de Marco Aurélio. Poderoso então, sucumbi ao orgulho, causa de todas as quedas. Depois de uma erraticidade de séculos, quis experimentar uma existência obscura.
"Pobre estudante, mendiguei o pão, mas o orgulho possuía-me sempre: o Espírito ganhara em ciência, mas não em virtude. Sábio ambicioso, vendi a consciência a quem mais dava, servindo a todas as vinganças, a todos os ódios. Sentia-me culpado, mas a sede de glórias e riquezas estrangulava a voz da consciência. A expiação ainda foi longa e cruel. Eu quis enfim, na minha última encarnação, reencetar uma vida de luxo e poderio, no intuito de dominar os tropeços, sem atender a conselhos. Era ainda o orgulho levando-me a confiar mais em mim mesmo do que no conselho dos protetores amigos que sempre velam por nós.
"Sabeis o resultado desta última tentativa. Hoje, enfim, compreendo e aguardo a misericórdia do Senhor. Deponho a seus pés o meu arrasado orgulho e peço-lhe que me sobrecarregue com o mais pesado tributo de humildade, pois com o auxilio da sua graça o peso me parecerá leve.
"Orai comigo e por mim: orai também para que esse fogo diabólico não devore os instintos que vos encaminham para Deus. Irmãos de sofrimentos, oxalá possa o meu exemplo aproveitar-vos e não esqueçais nunca que o orgulho é o inimigo da felicidade. É dele que promanam todos os males que acometem a Humanidade e a perseguem até nas regiões celestes."
O guia do médium. - Concebestes dúvidas sobre a identidade deste Espírito, por vos parecer a sua linguagem em desacordo com o estado de sofrimento acusando inferioridade.
Desvanecei tais dúvidas, porque recebestes uma comunicação séria. Por mais sofredor, este Espírito tem assaz culta inteligência para exprimir-se de tal maneira. O que lhe faltava era apenas a humildade, sem a qual nenhum Espírito pode chegar a Deus. Essa humildade conquistou-a agora, e nós esperamos que, com perseverança, ele sairá triunfante de uma nova provação.
Nosso Pai celestial é justíssimo na sua sabedoria e leva em conta os esforços da criatura para dominar os maus instintos. Cada vitória sobre vós mesmos é um de-grau franqueado nessa escada que tem uma extremidade na Terra e outra aos pés do Juiz supremo. Alçai-vos por esses degraus resolutamente, porque a subida é tanto mais suave quanto firme a vontade. Olhai sempre para cima a fim de vos encorajardes, porque ai daquele que pára e se volta. Depressa o atinge a vertigem, espanta-se do vácuo que o cerca, desanima e diz: - para que mais caminhar, se tão pouco o tenho feito e tanto me falta? Não, meus amigos, não vos volteis.
O orgulho está incorporado no homem; pois bem! aproveita-o na força e na coragem de terminar a vossa ascensão. Empregai-o ainda em dominar as fraquezas e galgai o topo da montanha eterna.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

BEM-AVENTURADOS OS HUMILDES DE ESPÍRITO


Bem-aventurados os porque deles é o reino dos céus - tal foi a sentença com que Jesus iniciou as suas prédicas. Humildes de espírito - notemos bem - e não somente humildes. Se ele tivesse omitido aquele complemento não se teria revelado o incomparável mestre, o consumado pedagogo e o excelso psicólogo, cujas qualidades e méritos singulares jamais foram ou serão igualados neste mundo.

A despeito mesmo da clareza meridiana da beatitude em apreço, ainda assim, não tem sido compreendido em essência o relevante sinamento que encerra em sua singeleza e plicidade. Vamos, por isso, meditar com os nossos benévolos leitores, a dita frase, que, como todas as lições do Mestre, é sempre oportuna em todas as época da humanidade.
E, por serem desta natureza, as palavras do Ungido de Deus nunca passarão, conforme ele mesmo afirma, com aquela autoridade serena e calma que caracteriza a sua inconfundível personalidade. Realmente, sua palavra, sendo, como é, de perene atualidade, não pode passar como passa a dos homens, que, em dado tempo, assume foros de infalibilidade, para, logo depois, ser proscrita, caindo em caducidade.

O Verbo messiânico é a fonte da água viva, manando sempre fresca e renovada; enquanto que a palavra dos sátrapas terrenos é a água de cisterna, estagnada no personalismo que a polui e contamina. Humildes de espírito ou de coração. Está perfeitamente clara e concisa a sentença. Não se trata, portanto, de humildes de posição social, nem de humildes em relação à posse de bens materiais; nem, ainda, de humildes de intelecto, isto é, de ignorantes e analfabetos; nem tão-pouco de humildes no que respeita à profissão que exercem e às vestimentas que usam.
A assertiva ora comentada reporta-se a humildes de espírito, isto é, àqueles cujos corações estejam escoimados do orgulho sob suas múltiplas modalidades. Na classe dos humildes de intelecto, de posição, de fortuna, de profissão e de indumentária, viceja também o orgulho, tal como sói acontecer entre os demais componentes da sociedade humana.
Aquele sentimento não escolhe nem distingue classes; vai-se aninhando onde encontra guarida, seja na alma do sábio como na do ignaro; seja na alma do rico como na do mendigo que estende a mão à caridade pública; seja na alma do potentado que enfeixa poderes e exerce autoridades, que governa povos e dirige que perambula pelas titulares e dos togados, seja na daquele que cavam o solo ou que removem os detritos das cidades.
O orgulho assume várias formas diversas para cada classe, como para cada indivíduo. Ninguém escapa às suas arremetidas e a felonia das suas artimanhas e das suas esdrúxulas concepções. E' o pecado original que o homem traz consigo ao nascer, como fruto que é, do egoísmo, do apego ao "eu" extremada gera todas as gamas e todas as mais variadas nuanças que o orgulho assume, desde a soberba arrogante e tirana, até as formas depetulância grotesta e ridícula.
É o grande fator de discórdia entre os homens. É o elemento desaglutinador por excelência, semeando a cizânia em todos os campos de ação onde os homens exercem suas atividades. Medra e viça despejadamente no campo dos pobres como no dos argentários; no dos no douto e eruditos como dos iletrados e incultos; nas academias como nas feiras livres; nos antros do vício como nos templos e nos altares.
Não há terreno sáfaro ou estéril neste mundo, para esta planta daninha; não existe clima que lhe não seja propício, nem ambiência que seja refratária à sua proliferação. Há orgulho de raça, de nacionalidade e de estirpe; há orgulho de profissão, de títulos e pergaminhos; de crença ou orgulho religioso, um dos aspectos mais terríveis daquele sentimento, de vez que gerou, outrora, o ódio entre os profitentes de vários credos que, mutuamente, se trucidaram numa luta fratricida e cruel, mantendo, ainda no presente, a separação e o dissídio no seio da família humana.

O orgulho não procura base para apoiar as suas pretensões. Manifesta-se com ou sem motivos que o justifiquem; com ou sem razão alguma que explique a sua existência. Nos ricos é a riqueza que o gera e sustenta. Nos que conhecem algo em qualquer ramo do que se convencionou denominar — ciência — é o pouco saber que o mantém, nos pobres é a inveja que o alimenta; nos inscientes e semi-analfabetos é a própria ignorância que o conserva sempre vivo e palpitante; finalmente, nos tolos e fátuos, é a debilidade mental, a fraqueza de espírito que o provê do alimento necessário.
Tudo, como se vê, pode ser causa de orgulho. Há facínoras que se envaidecem dos crimes bárbaros que cometem, vendo em suas sangrentas façanhas gestos de heroísmo e de valor. Do orgulho procedem todas as megalomanias, das mais grotestas às mais perigosas, como aquela que tem por escopo o domínio do mundo. São incontáveis os malefícios que o orgulho engendra no coração humano, ocultando-se e disfarçando-se de todas as formas.
E' assim que vemos pessoas cujas palavras, escritas ou faladas, são amenas e cheias de doçura; ao sentirem-se, porém, melindrdas no seu excessivo amor-próprio, ei-las transformadas em verdadeiras feras, insultando e agredindo, na defesa do que chamam - dignidade.
Neste particular, as vítimas do orgulho incidem num equívoco muito generalizado. A verdadeira defesa da nossa dignidade é uma operação toda de caráter íntimo. É no interior, no recesso das nossas almas que se deve processar a vigilância e a defesa de nosso brio, de nossa honra e de nossa dignidade.
Quando, aí, nesse tribunal secreto, de nada nos acuse a consciência - essa faculdade soberana e augusta, através da qual podemos ouvir e sentir a voz do Supremo Juiz -, devemos ficar tranquilos, mesmo que sejamos acusados dos maiores delitos e das mais graves culpas.
Infelizmente, porém, os homens fazem o contrário: descuram da vigilância interna; fazem ouvidos moucos aos protestos da consciência própria, a despeito de suas reiteradas e constantes observações, para curarem, com excessivo zelo, da defesa exterior, isto é, do que dizem e pensam deles.
É o orgulho que ofusca a razão humana, arrastando o homem à pratica de semelhante insânia e de outros tantos despautérios e incongruências. Vítima da obnubilação mental, o orgulhoso fecha-se como a ostra, dentro de si mesmo, isolando-se do convívio social e tornando-se impermeável às inspirações e sugestões dos bons elementos espirituais que, no desempenho de sua missão de amor, procuram auxiliar e conduzir os encarnados ao porto seguro da redenção.
Daí a razão por que Jesus assim se exprimiu acerca desse fato, por ele observado: "Graças te dou, meu Pai, porque revelas as tuas coisas aos simples e pequenos, e as esconde dos sábios e dos grandes". Deus nada esconde dos homens; estes em sua vaidade e soberba, é que se tornam impermeáveis às revelações do Alto, como insensíveis aos reclamos da própria consciência.
O orgulho como se vê, constitui a grande pedra de tropeço no caminho de nossa evolução, já no que respeita ao desenvolvimento da inteligência, como no que concerne à esfera do sentimento. Justifica-se, pois, plenamente, o esforço do Divino Mestre, procurando incutir no espírito do homem a necessidade de combater o grande e perigoso inimigo do seu progresso intelectual e do seu aperfeiçoamento moral.
O meio de efetuar com êxito essa campanha, consiste em cultivar o elemento ou a virtude que se opõe ao orgulho: a humildade. Assim como nos servimos da água para extinguir os incêndios, assim cumpre que conquistemos a humildade de espírito, para alijarmos o orgulho dos nossos corações.
Todo veneno tem o seu antídoto. Todos os vícios e paixões que degradam o homem têm as virtudes que lhes são opostas, de cujo cultivo resulta a vitória sobre aquelas. Quando não queiramos, de moto próprio, empreender essa luta, seremos forçados a fazê-lo, mediante o influxo da dor.

O batismo da água nada pode contra os senões e os males do nosso caráter; mas o do fogo age sempre com eficiência em todas as conjunturas e emergências da vida. Outro malefício produzido pelo orgulho consiste em criar nos indivíduos o que pderíamos denominar, talvez com acerto, de complexo de superioridade. Imbuídos dessa presunção, desferem vôo, batendo as asas de ícaro, elevando-se às altas regiões das fantasias mórbidas, criadas pela imaginação, até que um dia se despenham, rolando no pó, para que se confirme a sabedoria da máxima evangélica: Aquele que se exalta será humilhado.

Recapitulando o expôsto sobre a primeira beatitude do Sermão do Monte, verificamos que humildade não quer dizer não quer dizer pobreza ou miséria; não quer dizer desasseio nem farandolagem; não quer dizer ignorância nem analfabetismo; não quer dizer também inaptidão e imbecilidade — de vez que o homem pode ser pobre, miserável, desasseado, maltrapilho, fageirento, néscio, inábil e bronco, sem possuir, todavia, a sublime virtude que Jesus, o Ungido de Deus, predicou pela palavra e pelo exemplo, nascendo num estábulo e morrendo numa cruz.

Cumpre ainda reportarmos a uma certa deturpação daquela excelsa virtude cristã, por parte daqueles que a pretendem confundir, seja por ignorância, seja de má fé, visando a inconfessáveis interesses, com subserviência ou passividade. Segundo este critério, bastante generalizado em certos meios, a pessoa humilde é aquela que se conserva impassível em todas as emergências em que se encontre; é aquela que não protesta nem reage contra as iniquidades de que seja vítima ou que se consumem aos seus olhos; é aquela que se submete, se agacha e se posterna diante de toda manifestação de força, de prepotência e de poderes, por mais absurdos e iníquos que sejam; é aquela que se julga inferior, incapaz, impotente, sem prestígio sem mérito, sem valor nenhum, em suma, que se supõe uma nulidade completa.

Semelhante juízo sobre a humildade é uma afronta atirada ao Cristianismo de Jesus. Não obtante, há muita gente, dentro e fora daquela doutrina, que pensa desse modo e incute nessas ignaras semelhante absurdidade. A humildade não se incompatibiliza com energia de ação, de vez que a energia é também uma virtude. Tão-pouco, ser humilde importa em nos desdenharmos, desmerecendo-nos e nos apoucando no conceito próprio.
Aquele que descrê de si mesmo é um fracassado na vida. Em realidade, devemos considerar-nos como obras divinas, que de fato somos, e portanto, de valor infinito. Devemos valorizar essa obra, na parte que nos toca, lutando incessantemente pela nossa espiritualização, libertando-nos das injunções inferiores da animalidade, a fim de que nos aproximemos da Suprema Perfeição - fonte eterna de onde promana a vida, debaixo de todas as suas formas e modalidades.
Esta lição que aprendemos no Evangelho; esta é a verdadeira doutrina messiânica. Para o divino Mestre, todo homem é filho de Deus representando, por isso, valia incomparável. Haja vista como Ele tratou os leprosos, a mulher adúltera e a grande pecadora. Para Ele, o mais enfermo é o que mais precisa da sua medicina. A ninguém desprezava e a e a ninguém jamais ensinou que se desprezasse e se aviltasse a si mesmo,mas que se erguesse do pó e da lama, voltando-se para a frente e para o Alto.
Tende bom ânimo - era a sua advertência predileta. Tudo é possível àquele que crê — foi também o seu estribilho. Quanto à energia, Jesus deu desta virtude, os mais edificantes testemunho em todas as conjunturas da sua vida terrena, culimando na expuls são dos vendilhões do templo, os quais apostrofou com estas candentes palavras: Fizestes da casa de oração um covil de ladrões.

Francisco de Assis — o grande apóstolo da humildade —, quem ousará negar que foi ele enérgico na sustentação dos postulados que encarnara? Sua existência toda foi um exemplo de humildade, aliada ao combate franco e decidido ao reverso daquela virtude, isto é, ao luxo, às pompas, ao fausto e a todas as expressões de grandeza e de exterioridade fascinadoras dos sentidos.

Não precisamos, pois, incompatibilizar-nos com a energia, para que sejamos humildes; não precisamos, outrossim, amesquinharmo-nos e nos desmerecermos aos nossos próprios olhos, para engastarmos em nossos caracteres o magnífico diamante cristão: basta que reconheçamos, em Deus, o pai comum de toda a Humanidade; e nos homens — sem distinção de raças, classes e credos — nossos irmãos, procedentes da mesma origem, com os mesmos direitos, sujeitos à mesma lei de justiça, votados, todos, ao mesmo destino, sem exclusivismos, sem privilégios de espécie alguma, sem exceçôes odiosas, estas ou aquelas — porquanto, humildade significa ausência de orgulho dominando o espírito; significa coração simples, destituído de soberba, iluminado pelas claridades da justiça divina, justiça essa que desperta nas almas o verdadeiro senso de igualdade e o sagrado sentimento de fraternidade.
Vinícius
Livro : Seara do Mestre

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Instrumentos Preferenciais

Os médiuns invigilantes são os instrumentos preferenciais das trevas para agredir o Espiritismo.
O médium que não saiba qual o seu lugar de servir ou não o aceita extrapola em suas atribuições.
Em mediunidade, o que faz a diferença é o espírito receptor do médium e não, como se crê, o espírito comunicante.
Mais difícil que convencer o médium quanto às realidades da Vida de além-túmulo é convencê-lo a manter a simplicidade.
O anseio afetivo do medianeiro torna-o naturalmente carente de projeção.
Quando o médium quer mostrar a si mesmo, o brilho do trabalho dos espíritos se eclipsa.
Todo médium espírita deveria buscar, solitariamente , o aval da periferia para  a tarefa pública que pretende desempenhar.
As flores que ornamentam os jardins no centro das grandes cidades não nasceram lá....
Os médiuns sem discernimento são os calcanhares-de-Aquiles do Movimento Espírita.
Infelizmente - é verdade!-, de maneira sorrateira, o profissionalismo mediúnico vem se instalando na Doutrina.

Ditado pelo Dr Odilon Fernandes
Psicografia: Carlos A.Baccelli.
Livro: Mediunidade Consciente.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Energia e Brandura

ENERGIA  E  BRANDURA
 Emmanuel
No caminho da vida, há que se aprender com a própria vida.
 
Na marcha do dia-a-dia, urge harmonizar as manifestações de nossas qualidades com o espírito de proporção e proveito, a fim de que o extremismo não nos imponha acidentes, no trânsito de nossas tarefas e relações.
Energia na fé; não demais que tombe em fanatismo.
Brandura na bondade; não demais que entremostre relaxamento.
Energia na convicção; não demais que se transforme em teimosia.
Brandura na humildade; não demais que degenere em servilismo.
Energia na justiça; não demais que seja crueldade.
Brandura na gentileza; não demais que denuncie bajulação.
Energia na sinceridade; não demais que descambe no desrespeito.
Brandura na paz; não demais que se acomode em preguiça.
Energia na coragem; não demais que se faça temeridade.
Brandura na prudência; não demais que se recolha ao comodismo.
No caminho da vida, há que se aprender com a própria vida.
Vejamos o carro moderno nas viagens de hoje: nem passo a passo, porque isso seria ignorar o progresso, diante do motor, e nem velocidade além dos limites justos, o que seria abusar do motor para descer ao desastre e à morte prematura.
Em tudo equilíbrio, porque, se tivermos equilíbrio, asseguraremos, em toda parte e em qualquer tempo, a presença da caridade e da paciência, em nós mesmos, as duas guardiãs capazes de garantir-nos trajeto seguro e chegada feliz.

Francisco Cândido Xavier - Emmanuel  - Livro Centelhas