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segunda-feira, 3 de maio de 2021

COMER PÃO, BEBER VINHO "... pão representa o corpo doutrinário de sua doutrina e o vinho significa que ela se fundamenta sobre o Espírito"...Por isso, os seguidores de Moisés comeram o maná e morreram porque o pão que pretendiam era meramente para o sustento do corpo. Jesus, no entanto, trouxe o pão espiritual, do qual quem comer terá a vida eterna, isto é, passará a assimilar as coisas que dizem respeito ao Espírito. ..."







COMER PÃO , BEBER VINHO 

"E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é meu corpo que vos é dado.
Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o Novo testamento do meu sangue, que é derramado por vós". (Lucas, 22:19-20)

O ato comemorativo da Páscoa, da forma como é realizado na atualidade, representa flagrante contraste com tudo aquilo que Jesus Cristo objetivou ensinar através do singelo ato da última ceia, quando congregou os apóstolos para o último encontro que antecedeu a sua crucificação.

A realização da chamada última ceia tem um sentido bem mais profundo, pois o anseio do Mestre era de propiciar aos seus apóstolos um ensinamento sobre a necessidade de troca de idéias sobre a nova doutrina, confraternização, entrelaçamento, fraternidade, unificação, e obviamente constituiu um grandioso ensino endereçado à posteridade.

Entretanto, o ato realizado pelo Mestre, quando cada um dos presentes comeu um pedaço de pão e tomou um pouco de vinho, após sofrer o impacto de constante deturpações, tem servido, no decurso dos tempos, para justificar a realização de verdadeiros festins materiais, quando o vinho é utilizado em excesso, muitas vezes com danosas conseqüências, e o uso de carnes das mais variadas espécies suplantou o singelo uso do pão.

O ato tem servido mesmo para que alguns homens procurem nele uma justificativa para os excessos no uso do vinho, afirmando que Jesus Cristo era apologista do seu uso, tendo mesmo, nas Bodas de Caná, convertido água em vinho, esquecendo-se de que ainda nesse caso o Senhor teve por objetivo ensinar que as doutrinas religiosas que se fundamentam sobre as coisas do mundo, sobre as coisas materiais, terão que se espiritualizar, para atender o reclamo dos seus seguidores, pois só assim poderão tomar parte no grande festim que o Cristo definiu como "conquista do reino dos céus".
Teria Jesus Cristo se reunido com os apóstolos meramente para que juntos comessem pão e bebessem vinho, ou objetivou ele propiciar aos seus pósteros um ensinamento de grande profundidade?

Nenhum dos atos comuns da vida do Mestre deixa de encerrar uma mensagem e é óbvio que nesse caso não poderia haver exceção. O pão representa o corpo doutrinário de sua doutrina e o vinho significa que ela se fundamenta sobre o Espírito.

São numerosos os ensinos de Jesus sobre o pão espiritual e para se verificar isso basta recorrer aos Evangelhos:
"Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre" (João, 6:48-51;57-58).

Moisés prometia as coisas da Terra. Os judeus daquela época ambicionavam possuir a Terra da Promissão.
Jesus veio trazer a mensagem para ensinar aos homens a conquista das coisas do Espírito.
Por isso, os seguidores de Moisés comeram o maná e morreram porque o pão que pretendiam era meramente para o sustento do corpo. Jesus, no entanto, trouxe o pão espiritual, do qual quem comer terá a vida eterna, isto é, passará a assimilar as coisas que dizem respeito ao Espírito.

Além dos doze apóstolos, Jesus Cristo também teve outros setenta discípulos mais ou menos dedicados. Certa vez, conforme relata o evangelista João (6: 60-65), após ter proferido um discurso sobre o sentido de sua doutrina, dizendo "minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida", foi sumariamente abandonado por esses setenta discípulos, os quais disseram: "Duro é este discurso; quem o pode ouvir?".

O Mestre asseverou que não se pode pôr vinho novo em odres velhos, do contrário ele não suportará a fermentação e se romperá. A sua doutrina, embora tenha como um dos seus fundamentos nas leis morais recebidas por Moisés no Monte Sinai, é sempre nova e não poderá ser suportada pelos "odres velhos" de antigas concepções religiosas, pelo sistema arcaico que se fundamenta sobre leis transitórias destinadas a servirem determinada época, ou em dogmas estabelecidos por grupos ou pessoas, que sempre se insurgiram contra as idéias reformistas.

Ainda desta vez o Senhor teve por objetivo proclamar que o sentido profundo de sua doutrina estava contido na expressão "carne e sangue". Carne porque ela é um corpo individual, inalterável, sangue porque ela é dinâmica e não estática. A sua doutrina é um corpo ativo, atuante, que não pode ser compreendida nos moldes como o era até há pouco tempo: uma doutrina estanque, sem vibração, divorciada da ciência, ciosa de ser a exclusiva, monopolizadora de toda a verdade, zelosa dos seus dogmas e portadora de outros prejuízos.

O corpo doutrinário é animado pela força e pela vibração. Se qualquer uma das veias desse corpo deixar de receber o influxo do sangue, ela se esclerosa, se petrifica.

fonte:
Autor: Paulo A. Godoy
Livro: Padrões Evangélicos.

sábado, 24 de abril de 2021

ESCRIBAS E FARISEUS:"Acautelai-vos, primeiramente, do fermento dos fariseus que é a hipocrisia"

 


"Mas, ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!"


Os Evangelhos falam, reiteradamente, nos escribas e fariseus. Lucas (12:1), encontramos Jesus Cristo prevenindo os seus discípulos contra a doutrina dos fariseus, dizendo: "Acautelai-vos, primeiramente, do fermento dos fariseus que é a hipocrisia." Em outras passagens do Novo Testamento notamos que o Mestre verberava, acerbamente, a atuação desses homens, salientando suas falhas e demonstrando a precariedade do sistema por eles ofendido.


Fariseu (do hebraico Parash significava divisão ou separação), obviamente pelo fato de ter sido uma das muitas seitas dissidentes entre os antigos judeus, as quais mantinham entre si verdadeiras profundas discórdias, cada uma delas pretendendo ter o monopólio da verdade. A seita dos fariseus, cuja origem remonta aos anos 180 ou 200 a.C., exercia grande influência sobre o povo tinha, inicialmente, por chefe um doutor judeu nascido em Babilónia, de nome Hillel, cuja escola sustentava o princípio de que "somente se devia depositar fé nas Escrituras".


Numerosos reis moveram intensas campanhas contra os fariseus, em épocas distintas; entretanto, Alexandre, rei da Síria, lhes restituiu os bens e deferiu-lhes muitas honras, propiciando-lhes os meios necessários para adquirirem o antigo prestígio e poderio, que conseguiram manter até o ano 70 da Era cristã, quando ocorreu a dispersão dos judeus.


Os fariseus tinham em alta conta os atos exteriores do culto; mantinham pomposos cerimoniais, tomavam parte ativa nas controvérsias religiosas e eram animados de um zelo religioso os limites do fanatismo, sendo, como tais, acerbos renovadores. Sustentavam, de forma aparente, grande severidade de princípios; entretanto, debaixo da capa da hipocrisia, alimentavam vivo desejo de dominação, sendo a religião utilizada como meio para se atingir determinados fins.


Objetivando fazer evidenciar os costumes dissolutos que debaixo de aparências exteriores, Jesus Cristo não se cansou de demonstrar os seus verdadeiros intentos, por isso disse: "Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem, mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam, pois atam pesados fardos e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens! Eles, porém, nem com o dedo querem movê-los, e fazem todas as obras, a fim de serem vistos pelos homens, pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas dos seus vestidos, e amam os primeiros lugares nas ceias e as cadeiras nas sinagogas."


Os fariseus acreditavam na Providência, na Ressurreição dos mortos, na eternidade das penas e na imotalidade da alma, e, como vissem em Jesus Cristo um inovador, que procurava abalar o precário sistema religioso então não trepidaram em formar um conluio com os principais sacerdotes e com os escribas, no sentido de amotinar o povo contra Jesus.


Por isso mereceram do Cristo as mais acerbas admoestação, pois o mestre comumente os chamava de "túmulos caiados, vistosos por fora, mas, por dentro, cheio de ossadas e de podridões; hipócritas que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e depois o terdes feito, o fazeis filho das trevas duas vezes mais do que vós."


O nome escriba era dado, em épocas imemoriais, aos auxiliares dos reis de Judá e a determinados intendentes do exército; entretanto, na época do advento de Jesus, os escribas eram os doutores que ensinavam e interpretavam as leis estabelecidas por Moisés e outros profetas, e, como tais, faziam causa comum com os fariseus, de cujas idéias compartilhavam, sendo de se destacar, também, o ódio que votavam contra os renovadores. Jesus Cristo não vacilou em envolvê-los nas mesmas reprovações lançadas aos fariseus.


No Evangelho segundo Lucas (11:45) deparamos com a informação de que, lançando o Mestre as suas recriminações sobre os fariseus, foi interrompido por um escriba (doutor da lei) que ali estava, e protestou veementemente, dizendo: "Mestre, quando dizes isso, também nos afrontas a nós", ao que o Senhor retrucou:


"Ai de vós, também, doutores da lei, que carregais os homens com cargas difíceis de transportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos ousais tocá-las. Ai de vós, que edificais os sepulcros dos profetas e vossos pais os mataram; bem testificais, pois, que consentis nas obras de vossos pais. Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam."


A influência dos escribas e fariseus em Jerusalém era enorme, por isso, eles contribuíram, de forma decisiva, para que o Mestre fosse condenado e crucificado.


Afirma o evangelista Mateus (12:22-28) que os fariseus, não conseguindo explicar ao povo a procedência do poder de que Jesus Cristo estava investido, decidiram afirmar que "ele expulsava os maus espíritos por intermédio do príncipe dos demônios (Belzebu)", ao que o Senhor retrucou: "E, se o príncipe dos demônios expulsa o príncipe dos demônios, é sinal que está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino? E, se eu expulso os maus espíritos por Belzebu, por quem os expulsam então os vossos filhos? Portanto, eles mesmos serão os vossos juízes, mas, se eu expulso os maus Espíritos pelo Espírito de Deus, é, conseguintemente, chegado a vós o Reino de Deus".


Paulo A. Godoy

sexta-feira, 16 de abril de 2021

TERIA O CHAMADO 'BOM LADRÃO IDO PARA O PARAÍSO?


"[...]A Doutrina Espírita nos ensina que apenas os Espíritos puros, que já atingiram elevado índice de perfeição, terão acesso a essas elevadas regiões[...]E' evidente que o Espírito do chamado Bom Ladrão não o acompanhou, mas passou a sentir um novo estado de Espírito; passou a desfrutar de serenidade, sentiu toda a extensão dos seus desvios e, interiormente, sentiu a necessidade do reajuste, de resgatar todo o mal que havia semeado.Com isso, em novas reencarnações, que forçosamente deveria ter no futuro, viveria num estágio melhor, experimentaria em seu coração os benefícios da paz, da serenidade e do amor, esforçando-se por redimir-se dos delitos do pretérito; passaria a conceber que na Justiça Divina não existe a promoção pela graça, ou pelo milagre, na senda evolutiva, mas Deus, em sua infinita misericórdia, lhe daria novas oportunidades, a fim de se enquadrar no rol dos homens sensatos, ponderados, que vivem num estado de paz interior e de uma relativa felicidade."






"E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino,

E disse-lhe Jesus: "Em verdade te digo, que hoje estarás comigo no Paraíso."

- (Lucas, 23:42-43)


Teria o Espírito imperfeito do chamado Bom Ladrão ido para Paraíso, juntamente com o excelso Espírito de Jesus Cristo? Ele apenas proferiu algumas ligeiras palavras de simpatia, e será que isso teria sido o bastante para ele adentrar as alcandoradas regiões celestiais, da mesma maneira como o fez Jesus Cristo?


A Doutrina Espírita nos ensina que apenas os Espíritos puros, que já atingiram elevado índice de perfeição, terão acesso a essas elevadas regiões.


Entretanto, houve uma promessa emanada de Jesus: Hoje estarás comigo no Paraíso". É evidente que o Mestre, pendurado no madeiro infamante, não poderia jamais formular uma promessa em vão. Por isso, como ocorre com numerosos ensinamentos de Jesus, cumpre se deduza dessa passagem evangélica o sentido alegórico que ela encerra, interpretando-a, não pela "letra que mata", mas pelo "Espírito que vivifica".


Viver no Paraíso ou nas regiões umbralinas é simplesmente um estado consciencial. Um indivíduo que vive em constante estado de revolta, que pratica toda a sorte de maldades, que menospreza os mais comezinhos princípios da bondade e do amor, que espanca esposa e filhos, que se embriaga ou se chafurda nos vícios, que alimenta ódio contra os seus semelhantes, vive com a sua consciência num estado verdadeiramente infernal.


Não desfruta da paz de Espírito e está em constante estado de revolta interior, blasfemando contra tudo e contra todos. Por outro lado, um homem que pratica o bem sem mistura do mal, que sente o coração inundado dos sentimentos de amor ao próximo, que se rege pelas normas da brandura, da tolerância, da fraternidade, que vive em paz com os seus familiares, que abomina os vícios, os desregramentos, vive num estado conciencial de paz, de serenidade.


Com fundamento nesses dois parâmetros, pode-se afirmar que a criatura humana, mesmo aqui na Terra, pode viver no chamado Inferno ou no Paraíso.


O chamado Bom Ladrão, evidentemente, dado o gênero de vida que levava, prejudicando o seu próximo,  apropriando-se dos bens alheios e semeando a maldade e talvez até a morte, bem revelava o estado de inferioridade de seu Espírito. No entanto, condenado pela justiça dos homens a morrer na cruz, evidencia que os crimes por ele praticados eram de acentuada gravidade.


Todavia, suspenso no madeiro, sentiu, repentinamente, um sentimento de remorso, ao ver Jesus, um inocente, um expoente do amor, morrer de maneira tão infamante. Ele se condoeu; sentiu no âmago do seu coração que havia apenas praticado o mal, que não havia; amuado o seu próximo. Ao ouvir os impropérios que o outro ladrão, crucificado, dirigia a Jesus, exclamou: "E nós, na verdade, com justiça fomos condenados e estamos recebendo o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez."


E, dirigindo-se ao Mestre, disse: "Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino", merecendo a promessa de Jesus: "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso". Espírito elevado que é, Jesus que assolava aquele seu irmão menor, viu o seu arrependimento, e, como o remorso é a porta da redenção espiritual, sentenciou: "Hoje estarás comigo no Paraíso."


E' evidente que o Espírito do chamado Bom Ladrão não o acompanhou, mas passou a sentir um novo estado de Espírito; passou a desfrutar de serenidade, sentiu toda a extensão dos seus desvios e, interiormente, sentiu a necessidade do reajuste, de resgatar todo o mal que havia semeado.


Com isso, em novas reencarnações, que forçosamente deveria ter no futuro, viveria num estágio melhor, experimentaria em seu coração os benefícios da paz, da serenidade e do amor, esforçando-se por redimir-se dos delitos do pretérito; passaria a conceber que na Justiça Divina não existe a promoção pela graça, ou pelo milagre, na senda evolutiva, mas Deus, em sua infinita misericórdia, lhe daria novas oportunidades, a fim de se enquadrar no rol dos homens sensatos, ponderados, que vivem num estado de paz interior e de uma relativa felicidade.


Com isso, estaria ele desfrutando de um "Paraíso" consciencial, quando comparado com o estado verdadeiramente infernal em que viveu na existência que havia culminado com a sua crucificação.


O Mestre não falhou em sua promessa, pois o enquadrou numa senda diferente, que o conduziria melhor na caminhada rumo a Deus, diminuindo, paulatinamente, a distância que o separava do Criador; abreviaria o tempo necessário para, realmente, adentrar as regiões elevadas dos Planos Divinos, região comumente chamada de "Paraíso".


Paulo A. Godoy

terça-feira, 6 de abril de 2021

A BACIA DE PILATOS:"Há muita gente que lava as mãos, como fez Pilatos, diante dos problemas alheios, esquecida dos sentimentos de solidariedade e fraternidade..."



"Então Pilatos, vendo que nada conseguia, antes, pelo contrário, o tumulto aumentava, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo." - (Mateus, 27:24)


Pôncio Pilatos exercia a função de Procônsul romano na Judéia, quando Jesus Cristo foi preso e entregue ao seu julgamento. Confabulando muito ligeiramente com o Mestre chegou à conclusão de que ele era inocente e, por várias vezes, tentou demover a multidão fanatizada de exigir a Sua crucificação.

Sua esposa teve um sonho profético e chegou mesmo a mandar-lhe um recado para não se envolver naquela condenação, mas ele estava sofrendo terrível pressão por parte dos principais sacerdotes, que manipulavam a agitação do povo em frente ao Pretório.

Numa tentativa de sensibilizar a multidão, permitiu que Jesus fosse açoitado, e não evitou que Ele fosse vestido com uma púrpura escarlate, sofrendo o vexame de ter colocada sobre Sua cabeça uma coroa de espinhos e uma cana nas mãos, com o objetivo de menosprezar o título que o próprio Pilatos lhe dava de "rei dos judeus".

O ato de flagelação não conseguiu comover os homens que ali estavam, nem esfriar o ódio que enchia os corações daqueles que tinham nítido interesse no sacrifício de Jesus. Usando de suas prerrogativas, e como era hábito soltar um prisioneiro por ocasião da Páscoa, Pilatos ordenou que fossem trazidos à sua presença Jesus Cristo e um fascínora chamado Barrabás, chefe de uma sedição
e autor de morte.
Apresentou ambos à turba fanatizada e indagou:"Quem querem que eu solte?". A escolha era entre a pureza e o crime, entre a ovelha e o lobo voraz, entre um Enviado dos Céu um representante do império do mal.

O povo não hesitou, escolheu Barrabás e exigiu a crucificacão de Jesus. Como Pilatos insistisse em afirmar que não via Mestre crime algum passível de morte, tentou novamente convencer o povo, mas um dentre a multidão gritou: "Se soltas este não és amigo de César: qualquer que se faz rei é contra César" (João 19: 12).

Diante desta insinuação, o Procônsul não vacilou; assentou-se no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos (Gabbatá em hebraico), e disse ao povo: "Eis aqui o vosso rei", porém, os principais sacerdotes retrucaram: -"Não temos rei senão a César", o que levou Pilatos a entregar-lhes Jesus, para o ato de crucificação (Jo; 19:13-16).

É muito cômodo pretender titular do exercício da justiça lavando as mãos, mormente em se considerando que um julgamento dessa natureza é indigno de um magistrado e muito mais de um governante, como era o caso de Pilatos.

O Procônsul romano ficou numa situação embaraçosa: pôr em risco o seu elevado cargo, sustentando a inocência de Jesus e ordenando a Sua libertação, ou condenando um inocente à morte. Desnorteado diante dessa decisão, ordenou que fosse trazida à sua presença uma bacia com água e lavou suas mãos, afirmando ser inocente do sangue daquele justo. Nem por isso aplacou a fúria dos acusadores que replicaram: "O seu sangue caia sobre nós e nossos filhos" (Mateus. 27:24-26).
Pilatos julgou que o simples ato de lavar as mãos limpava também, a sua consciência; julgou que essa atitude livrava-o de ser considerado um juiz faltoso e iníquo.

Na Terra, em todos os tempos, sempre houve juizes que atuam como Pilatos, numa causa justa e nobre, principalmente quando esta é sustentada por uma criatura humilde em disputa com um poderoso. O juiz, nesse caso, lava as mãos, dando ganho de causa ao potentado. Existem outros ainda piores, que nem lavam as mãos, preferem mantê-las sujas pela corrupção, pela posse de fortunas ilícitas, trocam a justiça pelo peso do ouro que lhes é ofertado e pelas vantagens de ordem material que lhes são oferecidas.

E óbvio que o ato de lavar as mãos não isenta ninguém das responsabilidades, nesta ou na vida futura, por isso disse o Cristo: "Com a medida com que julgardes, sereis julgado". Salomão, rei de Israel, teve de enfrentar, certa vez, um terrível julgamento, porém, não se limitou a lavar as mãos.

Certa mulher deu à luz um menino, que veio a falecer logo a seguir. Ela, então, apoderou-se de uma criança de sua vizinha e, por todos os meios, pretendeu insinuar que aquele era o seu filho verdadeiro. Não se conformando com a situação, a autêntica mãe da criança procurou a justiça de Salomão, numa das audiências que o rei concedia ao povo.

Salomão mandou que as duas mulheres viessem à sua presença; chamando um carrasco, ordenou-lhe: "Corte a criança pelo meio e dê metade a cada uma das mulheres".

Quando o carrasco, segurando o menino por um dos pés, fez reluzir a sua espada no ar, a fim de cortar a criança, a verdadeira mãe ajoelhou-se aos pés do rei e suplicou: "Não o mates, dá todo a ela". A falsa mãe, pelo contrário, aplaudiu a divisão do menino.
Salomão, suspendendo a execução, ordenou que o pequenino fosse entregue à mulher que lhe suplicou que não dividisse o filho. O rei viu nela a mãe verdadeira, pois, pelo amor, preferiu que a criança fosse dada viva à sua rival, a vê-la morta.

Há muita gente que lava as mãos, como fez Pilatos, diante dos problemas alheios, esquecida dos sentimentos de solidariedade e fraternidade.

Na parábola do Bom Samaritano, narrada por Jesus Cristo, o sacerdote passou perto do homem que jazia moribundo à margem da estrada, limitando-se a formular uma prece e lavando as mãos, como um desencargo de consciência, deixando de socorrê-lo.

Judas Escariotes, arrependido do ato de traição a Jesus, voltou apressadamente ao Templo, atirando as trinta moedas de prata aos pés do sumo sacerdote, talvez julgando que isso lavaria suas mãos naquele ato execrável. Em nossa vida comum, muitas vezes lavamos as mãos, em face das dificuldades de nossos irmãos de jornada terrena.

Muitos pais expulsam de casa os filhos que se transviam nos caminhos da vida, julgando, com isso, que limpam sua honra, lavando as mãos, esquecidos das responsabílidades que têm como pais, na sustentação e orientação espiritual daqueles cuja guarda Deus lhes dá como filhos, perdoando suas falhas; é de lembrar que, num mundo inferiorizado como o nosso, todos estão sujeitos aos deslizes morais e materiais.

Se os Evangelhos recomendam perdoar o nosso próximo setenta vezes sete vezes lembremo-nos de que nossos filhos são os mais próximos dentre todos os demais. Muitos filhos colocam seus pais, já velhinhos, nos mais obscuros cômodos da sua casa, ou mesmo em asilos, dando-lhes o mais cabal desprezo, esquecendo-se de que apenas a sustentação material não os isenta das responsabilidades que têm, de amparar, na velhice, aqueles que foram os autores de suas vidas; esquecem-se do Mandamento que ordena honrar pai e mãe. Agindo desse modo, lavam as mãos em face das leis do amor e da justiça divina.

E assim, de forma idêntica, lavamos as mãos em muitos outros atos de nossas vidas; entretanto, devemo-nos lembrar de que a justiça de Deus não terá por inocente aquele que se furta às responsabilidades inerentes às vidas na Terra. Não se pode jamais fazer como Pilatos, lavar as mãos, pois isso não nos isenta dos compromissos que temos como criaturas de Deus, em laborioso processo evolutivo, que exige ações claras, consoante o que disse o próprio Jesus: "Que o vosso dizer na Terra seja sim! sim! não! não!", o que, obviamente, não comporta atitudes dúbias.

Surgiram, então, os dogmas e, durante outros vinte séculos, a Humanidade passou a ter uma visão distorcida das coisas divinas, pois, através deles, tomaram forma as esdrúxulas teorias das penas eternas, do pecado original, dos céus superpostos, da existência do purgatório, da unicidade dos mundos habitados, do batismo e outras mais; tudo isso em flagrante contraste com os ensinamentos cristalinos dos Evangelhos.

Ao Espiritismo cabe a tarefa de restabelecer todos os ensinamentos de Jesus Cristo em seus verdadeiros significados, consoante a promessa por Ele exarada de suscitar entre nós, em época propícia, o Espírito de Verdade, o Consolador, o Paracleto, com o objetivo básico de estabelecer toda a verdade.

Paulo A. Godoy

terça-feira, 5 de julho de 2016

PARÁBOLA DO JUIZ INÍQUO


"Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que deviam orar sempre e nunca desanimar, dizendo: Havia em certa cidade um juiz, que não temia a Deus, nem respeitava os homens. Havia também naquela mesma cidade uma viúva que vinha constantemente ter com ele, dizendo: Defende-me do meu adversário. Ele por algum tempo não a queria atender, mas depois disse consigo: se bem que eu não tema a Deus, nem respeite os homens, todavia como esta viúva me incomoda, julgarei a sua causa, para que ela não continue a molestar-me com suas visitas. Ouvi, acrescentou o Senhor, o que disse este juiz injusto; e não fará Deus justiça aos seus escolhidos que a Ele clamam dia e noite, embora seja demorado a defendê-los? Digo-vos que bem depressa lhes farão justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na Terra?"
(Lucas, XVIII, 1-8)

1 - CAIRBAR SCHUTEL
A iniquidade é a falta de equidade, e a justiça revoltante. O iníquo é o homem perverso, criminoso, seja ele juiz, doutor, nobre, rico, pobre, rei. Na esfera moral, mesmo aqui na Terra, não se distinguem os homens pelo dinheiro e pelos títulos que possuem, mas sim pelo seu caráter. O iníquo não tem caráter, ou, por outra, tem caráter iníquo, pervertido. Mas ainda esse, quando tem de resolver alguma questão e o solicitante resolve bater à sua porta até que dê provimento ao seu pedido, para não ser incomodado, e porque é iníquo, resolve com presteza o problema, não para servir, mas para ficar livre de continuar molestado.
Foi o que sucedeu com o juiz iníquo ante a insistência da viúva. De modo que a demora do despacho na petição da viúva foi causada pela iniquidade do juiz. Se este fosse equitativo, justo, reto, de bom caráter, cumpridor de seus deveres, a viúva teria recebido deferimento de seu pedido com muito maior antecedência. Seja como for, o despacho foi dado, embora a custo, após reiteradas solicitações, importunações cotidianas, e o juiz, apesar de iníquo, para não ser "amolado", resolveu a questão. "Ora, disse Jesus, ouvi o que disse esse juiz iníquo; e não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a Ele clama noite e dia, embora seja demorado em defendê-los? Digo-vos que bem depressa lhes fará justiça".
Se a justiça, embora demorada, se faz na Terra até contra a vontade dos juízes, como não há de ser ela feita pelo supremo e justo juiz do Céu? A deficiência não é, pois, de Deus, mas sim dos homens, mormente na época que atravessamos, em que o Filho do Homem bate a todas as portas, inquire todos os corações e os encontra vazios de fé, vazios de crença, vazios de amor a Deus, vazios de caridade!
Antigamente havia juízes iníquos; hoje, pode-se dizer que nem só os juízes, mas até os peticionários são iníquos! A iniquidade lavra como um incêndio devorador, aniquilando as consciências e maculando os corações: homens iníquos, lares iníquos, sociedades iníquas, governos iníquos, leigos iníquos, sábios iníquos, tudo isso devido à crença sacerdotal, aos dogmas das seitas dominantes! Mas o senhor aí está a destruir a iniquidade, e, com ela, os iníquos.
 CAIRBAR SCHUTEL


2 - PAULO ALVES GODOY

A Parábola do Juiz Iníquo, ensinada por Jesus, nos adverte que jamais devemos perder a esperança, no afã de merecer o Atendimento Divino às nossas súplicas e nem duvidar que o SOCORRO solicitado venha ao nosso encontro.
A viúva da parábola, embora sabendo que o juiz era injusto, que não temia a Deus nem respeitava os os homens, não desanimou, pelo contrário, persistiu em sua súplica até ver atendida a sua pretensão. A fé inquebrantável e espírito de perseverança que a animavam deram êxito à sua causa.
O juiz, por sua vez, resolveu satisfazer a sua rogativa, mais pelo aborrecimento que a sua persistência lhe causava, de que propriamente movido pela disposição em atender um caso justo.
Se até os juízes iníquos, se não pelo espírito de justiça, mas por causa dos aborrecimentos que alguém lhes possa causar, decidem-se a aplicar a justiça, por que razão Deus, que é Todo bondade, não atenderia as necessidades de Seus filhos? Por isso, ponderou o Mestre: "E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles. Digo-vos que depressa Ihes fará justiça".
Entre nós, devido à precariedade do sistema judiciário e às falhas naturais, muitas vezes se aguarda anos e anos para o desfecho de um processo, cujo resultado nem sempre é favorável ao suplicante, por que razão não se ter confiança e fé nos apelos que formulamos aos Céus, os quais, quando justos, são invariavelmente atendidos?
O que a parábola nos ensina é que a Justiça Divina pode tardar, mas jamais falha. O atendimento tardio é motivado tão somente por nós próprios, pois quem tiver amealhado bens espirituais, ou acumulado um tesouro nos Céus, segundo o judicioso dizer dos Evangelhos, poderá desfrutar dos benefícios desse tesouro sem qualquer tardança. É óbvio que, se o homem não pratica qualquer boa obra, e se prevarica com os dons que Deus lhe concede, sem procurar se reformar intimamente, deixando de se enquadrar no estado consciencial que Jesus Cristo definiu como sendo a "conquista do reino dos Céus", não poderá desfrutar de primazia no atendimento às suas pretensões.
O Mestre deixou bem evidenciado que "a cada um será dado segundo as suas obras", Com base nessa sentença, nos será fácil deduzir que, se as nossas obras forem boas, tudo aquilo que pedirmos ao Pai, nos será concedido.
A Parábola do Fariseu e do Publicano, narrada em Lucas, 18:9-14, elucida, em parte, esta parábola. A narração se passa entre o fariseu que apenas se limitou a acusar o seu próximo, e o publicano que ali foi humildemente pedir ao Pai que lhe desse uma oportunidade, e Deus ouviu a prece do segundo, que" voltou justificado para a sua casa".
O mesmo Evangelho de Lucas (4:25-27) narra que no tempo de Eliseu havia muitos leprosos na Terra, só que o profeta foi enviado apenas para curar Naman, o Siro; havia muitas viúvas no tempo de Elias, mas o profeta foi enviado tão somente para minorar os sofrimentos de uma pobre viúva de Sarepta, de Sidon. Esta passagem atesta o quanto é importante haver mérito de ordem espiritual, quando se formula um pedido. E esse mérito é a qualidade que o nosso Espírito adquire através da vivência dos preceitos evangélicos, nos embates das vidas sucessivas do Espírito na carne.
O Espiritismo nos ensina que o Espírito, em sua trajetória evolutiva, tende a experimentar provações, em que jamais poderá se esquivar. Por outro lado, as transgressões que comete contra a lei eterna, originam expiações, das quais não se libertará enquanto não as houver resgatado. É o cumprimento do preceito evangélico: "Dali não sairá enquanto não houver resgatado o último ceitil".
Com base nessa assertiva, devemos convir que as preces que erguemos aos Céus terão sempre o mérito de nos dar forças e sustentação, e nunca de alterar os processos expiatórios ou probatórios, aos quais estejamos submetidos. Em outras palavras, conforme o que nos ensinam os benfeitores espirituais: "Peçamos a Deus para que fortaleça os nossos ombros para podermos carregar a cruz, e nunca para retirar a cruz dos nossos ombros".
Deus sempre fará justiça ao que a Ele clama, se não for nesta vida, será na vida subseqüente, por isso diz a parábola:
"Ainda que tardio para com ele",

Paulo Alves Godoy
3 - RODOLFO CALLIGARIS
Conquanto diferente na forma, esta parábola se assemelha bastante, na essência, àquela outra, do Amigo Importuno, registada pelo próprio evangelista Lucas, no cap. II, vs. 5 a 13.
Nesta, como naquela, Jesus nos exorta a confiar na Justiça Divina, na certeza de que, consoante o refrão popular, ela "tarda, mas não falha".
De fato, se mesmo homens iníquos, isto é, maldosos, perversos, insensíveis aos direitos do próximo e indiferentes à Moral, como o juiz de que nos fala o texto acima, não resistem ao assédio daqueles que lhes batem à porta com insistência, e, para verem-se livres de importunações, acabam resolvendo-lhes as questões, como poderia Deus, que é a perfeição absoluta, deixar de atender aos nossos justos reclamos e solicitações ?
Se, malgrado todas as deficiências e fraquezas dos que, na Terra, presidem aos serviços judiciais, as causas têm que ser solucionadas um dia, ainda que com grande demora, porque duvidar ou desesperançar das providências do Juiz Celestial?
Ele, que não é indiferente sequer à sorte de um pardal, que tudo sabe, tudo pode e tanto nos ama, negligenciaria a respeito de nossos legítimos interesses, deixar-nos-ia sofrer quallquer injustiça, mínima que fôsse?
Não!
Quando, pois, sintamos que o ânimo nos desfalece, por afigurar-se que os males que nos afligem sobreexcedem nossas forças, oremos e confiemos.
Deus não desampara a nenhum de Seus filhos.
Se, às vezes, parece não ouvir as nossas súplicas, permitindo perdurem nossos sofrimentos, é porque, à feição do lapidário emérito, que se esmera ao extremo no aperfeiçoamento de suas gemas preciosas, também Ele, sabendo ser a Dor o melhor instrumento para a lapidação de nossas almas, nos mantém sob a sua ação enérgica, mas eficiente, a fim de que sejam quebradas as estrias de nosso mau caráter, nos expunjamos de nossas mazelas e nos tornemos, o mais breve possível, dignos de ascender à Sua inefável companhia.
Sim, em todos os transes difíceis da existência, oremos e confiemos.
Se o fizermos com fé, haveremos de sentir que, embora os trilhos da experiência que nos cumpre palmilhar continuem cheios de pedras e de espinhos, a oração, jorrando luz à nossa frente, nos permitirá avançar com segurança, vencendo, incólumes, os tropeços do caminho! 

Rodolfo Calligaris

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

"E eu te darei as chaves do Reino dos Céus, e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus."(Mateus, 16: 19) "...As chaves do Reino dos Céus, prometidas por Jesus Cristo, são simbolizadas na sabedoria, nas obras meritórias, na evolução espiritual, na reforma íntima, pois, sem esses atributos ninguém terá possibilidades de ascender aos páramos de luz que os homens denominam Céus. Quem tiver obedecido às ordenações de Jesus Cristo no sentido de acumular um tesouro nos Céus, onde os ladrões não roubam nem a ferrugem consome, certamente terá garantida a posse dessas chaves. ...

O QUE LIGARES NA TERRA

"E eu te darei as chaves do Reino dos Céus, e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus,
e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus."(Mateus, 16: 19)
Não sendo o Reino dos Céus um lugar circunscrito, mas apenas um estado consciencial, é óbvio que as chaves desse reino, prometidas por Jesus Cristo ao apóstolo Pedro, são apenas simbólicas.
Os homens conquistam o Reino dos Céus quando operam dentro de si a reforma íntima. Sendo o Evangelho de Jesus a alavanca mais portentosa para se alcançar essa reforma, é ele, portanto, a chave desse reino, a qual é concedida por Deus a todos os seus filhos, assim como foram outorgadas a Pedro as chaves do Reino dos Céus, que apesar de ser um Espírito de ordem elevada estava e está ainda palmilhando a senda evolutiva.
Quando o Mestre prometeu a Pedro que tudo aquilo que ele ligasse na Terra, teria a sua correspondente ligação nos Céus, e tudo aquilo que fosse por ele desligado aqui embaixo, seria também desligado lá em cima, não objetivou conceder ao notável apóstolo uma prerrogativa especial, pois os acontecimentos posteriores revelaram que o antigo pescador do Tiberíades não desfrutava desse poder.
Como poderiam ser ligadas nos Céus as coisas praticadas por Pedro na Terra, se logo após ter o Cristo proferido aquelas palavras, o apóstolo foi vítima da influenciação de Espíritos de ordem inferior, merecendo de Jesus as famosas palavras: Afasta-te de mim satanás! (Mateus,16:23).
Como poderia Pedro estar investido de tamanha autoridade, se algum tempo após o Mestre teve necessidade de dizer-lhe: Pedro, satanás vos pediu para vos cirandar como trigo, mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. Quando te converteres, convence os teus irmãos (Lucas,22:31-34).
Teria sido ligado nos Planos Superiores o episódio da negação quando Pedro, por três vezes consecutivas, sustentou não ser seguidor de Jesus Cristo? (Mateus, 26:34).
Será que poderia ser ligada nos Céus a atitude dos apóstolo entre eles Pedro, de repelir estrangeiros na comunidade dos cristãos?
Os apóstolos, entre eles Pedro, não conseguiram curar o jovem lunático, narrado em Mateus, 9:18, o que foi feito posteriormente por Jesus Cristo. Tudo indica que não foi ligado no Céu aquilo que os apóstolos, entre eles Pedro, pretendiam fazer.
Quando Pedro visitou o Centurião Cornélio, na cidade de Cesaréia, houve uma ligação no Céu daquilo que ele praticou. Os demais apóstolos não concordaram com a visita e admoestaram Pedro severamente por haver adentrado a casa dum gentio. Nessa mesma visita Pedro disse a Cornélio: Vós bem sabeis que não é lícito a a um varão judeu juntar-se ou chegar-se a um estrangeiro (Atos, 10:28). Porventura teriam essas palavras do apóstolo boa ressonância no Céu, quando se considera que a mensagem de Jesus Cristo foi dirigida a todos os povos de forma indistinta?
Como decorrência, deve-se compreender que somente é ligado ou desligado nos Céus o que for praticado sob a égide dos ensinamentos evangélicos, pois isso constitui, na realidade, os de ligação entre Deus e os homens. Somente merecerá o beneplácito ou a repulsa do Alto, o que for praticado com ou sem a égide do Evangelho, uma vez que o Mestre havia asseverado que nenhum só til ou jota dos seus ensinos deixaria de ser cumprido.
O que significam, na realidade, as chaves do Reino dos Céus?
Serão porventura chaves comuns, como as que são usadas na Terra para se abrir portas de casas? Teriam as chaves do Reino dos Céus sido dadas somente a Pedro?
As chaves do Reino dos Céus, prometidas por Jesus Cristo, são simbolizadas na sabedoria, nas obras meritórias, na evolução espiritual, na reforma íntima, pois, sem esses atributos ninguém terá possibilidades de ascender aos páramos de luz que os homens denominam Céus. Quem tiver obedecido às ordenações de Jesus Cristo no sentido de acumular um tesouro nos Céus, onde os ladrões não roubam nem a ferrugem consome, certamente terá garantida a posse dessas chaves.
Todo aquele que pautar seus atos nos moldes dos ensinamentos legados por Jesus, todo aquele que viver os ensinamentos evangélicos, estará apto a conquistar esse decantado reino. A vivência dos preceitos ensinados pelo Cristo propiciará a todos aqueles que os assimilarem a oportunidade de viverem as qualidades intrínsecas que lhes possibilitarão o acesso a essas regiões elevadas. Eles entrarão realmente na posse das chaves para a conquista desse tão almejado Reino.
Quando Pedro proclamou ser Jesus Cristo o Filho de Deus vivo, o Mestre retrucou: Não foi nem a carne nem o sangue quem isso te revelou, mas meu Pai quee está nos Céus, o que, logicamente, indica que o apóstolo estava sendo medianeiro de palavras emanadas do Alto, portanto, o instrumento de uma revelação. Como decorrência, tudo aquilo que, como medianeiro, ele ligasse na Terra, seria ligado nos Céus, rnas o que ele viesse a fazer como homem, e não como instrumento do Alto, não teria essa ligação ou desligamento.
Como homem, ele teve dura contenda com Paulo (Gálatas, 2:11), tendo o Apóstolo dos Gentios afirmado que Pedro era repreensível e que não andava segundo as verdades contidas nos Evangelhos. É óbvio que um episódio dessa natureza não poderia jamais ser ligado nos Céus.
Paulo A. Godoy

Livro : O Evangelho Pedi Licença

Fonte: site a casa do espiritismo

sexta-feira, 11 de julho de 2014

COMO SE ORAVA NO TEMPO DE JESUS?

"Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos." (Lucas, 11:1)
Os apóstolos pediram a Jesus que os ensinasse a orar, como o fazia o profeta João Batista com seus discípulos.
O Mestre ensinou-lhes, então, uma prece que é um modelo de concisão e de extrema beleza, na qual tudo é pedido a Deus, em troca de quase nada.
"Pai, santificado seja o teu nome. Venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no Céu. O pão nosso, de cada dia, nos dá hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal porque teu é o reino, o poder, e a glória, para sempre. Que assim seja."
Os apóstolos, certamente, pediram a Jesus que os ensinasse, porque na época existia uma oração que os Judeus recitavam, mas, devido a ser muito longa, certamente não era decorada ou guardada na memória de muitos por isso, em sua simplicidade, os fiéis seguidores do Mestre solicitaram-lhe que os ensinasse uma maneira mais simples.
Por ser demasiadamente longa, daremos a seguir, em resumo, as frases principais da prece de louvor, agradecimento e evocação messiânica, usada pelos Judeus daquela época:
- "Sê louvado, ó eterno Senhor nosso. Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, e nosso Deus Magno e Todo-poderoso, Supremo Criador de todas as coisas, viventes ou inertes. Dispensador Invisível de graças e benefícios.
- Lembra-te, ó Senhor, da piedade de nossos Pais, e, para nos manifestares o Teu amor por eles, envia-nos logo o Libertador dos Filhos de Israel, o Bom-portador-de-mensagem que nos venha glorificar o teu nome.
- Senhor, faze soar logo a trombeta da Libertação dos Filhos de Israel, Tu que és o Verdadeiro Libertador de Israel e o mais poderoso dos Elohim. Desfralda, ó Senhor, o Estandarte Novo sob o qual se reunirão todos os nossos irmãos dispersos pelos quatro cantos da Terra. Sê louvado, Senhor, por haveres prometido a nós, pelos Profetas, reunir breve todo o Teu Povo. Faze para esse fim brotar logo, do tronco de Davi, o 'Rebento Esperado', ou se Ele já estiver entre nós, O enchas de luz e glórias com Tua presença n'Ele, com Tua direta assistência a Ele, com Teu concurso imediato a Ele.
-Só em Ti, ó Senhor, só em Ti, Deus nosso, repousam a esperança de salvação. Vem, com Tua presença entre nós, salvar os filhos de Israel.
-Senhor. Tu que és o Senhor dos 'vivos' e dos 'mortos' alimenta os 'vivos' com Tua graça e ressuscita os 'mortos'" com Tua misericórdia. Cumpre, Senhor, Nosso Deus, a Tua promessa de fazeres voltar a vida os nossos 'mortos'. Sê louvado, ó Eterno Senhor, que ressusciutas os 'mortos'. Santo és e Santo seja sempre Teu nome.
- Ó Rei Celeste, Guia nosso, Escudo nosso, Libertador vem a nós e faze em Sião o teu reino.
- Pai nosso, perdoa-nos, pois pecamos. Absolve-nos, pois estamos arrependidos de Te ofender.
- Vê com bondade nossa miséria, ó Pai que estás nos Céus. Liberta-nos da miséria em que vivemos, fazendo nascer breve o nosso Salvador."
Como se vê, essa prece é longa e cheia de repetições, e, apenas, citamos as passagens mais vivas e elucidativas.
O emérito Dr. Canuto de Abreu, além do texto desta prece, nos deu a seguinte informação:
"Cumpre aqui salientar que os Judeus nunca oravam de joelhos, nem olhando para o Céu, como o fazem muitos cristãos. Sabe-se também que, no Templo, os Judeus oravam de face voltada para o "Santo dos Santos", de olhos abertos, e de cabeça velada com um véu especial. Fora do Templo, rezavam de rosto virado para o Templo, se o podiam localizar (o que era fácil dentro de Jerusalém). Fora da porta ou distantes de Jerusalém, procuravam sempre orar voltados para a Cidade."
Conforme se depara da prece acima, os Judeus contemporâneos do Cristo, esperavam não um Redentor, para que viesse libertar suas almas do obscurancismo, do fanatismo e dos apegos às tradições inócuas, mas um Guia político, guerreiro, munido de escudo e espada, para libertar o povo israelita do jugo do Império Romano. Um Messias nos moldes de Moisés ou Davi, guerreiro indômito, que, além de expulsar os invasores romanos, dilatasse as acanhadas fronteiras da velha Palestina .
A prece do Pai Nosso, também conhecida por Oração Dominical, por outro lado, encerra um conteúdo muito mais edifícante.
Rogando a Deus, no sentido de fazer baixar até nós o seu Reino, deve-se compreender que isso não tem o significado do advento de um reino nos moldes conhecidos na Terra, mas do surgimento, entre nós, de um reinado de paz e amor, no qual imperam a fraternidade, a concórdia, o amor e a infinita misericórdia de deus.
Indubitavelmente, com o advento desse reino, a Humanidade passará a desfrutar de melhores dias, quando todas as Lágrimas serão enxutas e todas as dores minoradas, desconhecendo-se a intemperança, o orgulho, a vaidade e todo o gênero de maldades. A implantação desse reino se dará no recesso dos nossos corações.
Pedindo que nos dê o pão de cada dia, não significa pretender receber tudo graciosamente, sem o menor esforço, mas nos propiciar meios, modos de conquistar o sustento para os nossos corpos, através do trabalho edificador, que conduz ao progresso, e também o pão espiritual, imprescindível para o soerguimento de nossas almas, fazendo com que elas se aproximem cada vez mais de Deus.
Imprecando para livrar-nos das tentações, passaremos a compreender que Deus é o escudo, para que as nossas almas se livrem de toda a sorte de tentações, que, muitas vezes, são as causadoras da estagnação dos Espíritos no decurso da imenso escalada evolutiva, pois as investidas das trevas obscurecem os caminhos da vida, dificultando aos homens a conquista da luz interior, indispensável para a libertação espiritual, para a redenção dos nossos Espíritos.
Paulo G. Godoy

ESTEVE PEDRO EM ROMA?

"Não será assim entre vós, mas todo aquele que quiser entre
vós fazer-se grande, seja vosso serviçal." (Mateus, 20:26)
Visitando as ruínas da Roma antiga, donde o grande Império dominava o mundo, várias indagações brotaram em nossa mente, entre elas uma de grande importância: a controvertida questão da estada do apóstolo Pedro em Roma.
Afirma a história eclesiástica que Simão Pedro esteve na cidade de Roma, onde foi crucificado de cabeça para baixo, provavelmente no ano 67, afirmação essa que conflita com o testemunho de vários historiadores e mesmo de alguns doutores da igreja, entre eles o Bispo Strossmayer, que em seu inflamado discurso proferido por ocasião da realização do Concilio de 1870, disse o seguinte: "Só a tradição, veneráveis irmãos, é que nos diz ter S. Pedro estado em Roma; e como a tradição é tão-somente a tradição da sua estada em Roma, é com ela que me provareis seu episcopado e sua supremacia? Scalígero, um dos mais eruditos historiadores, não vacila em dizer que o episcopado de S. Pedro e sua residência em Roma devem-se classificar no número das lendas ridículas!"
Jesus Cristo reservou ao apóstolo Paulo de Tarso a tarefa de divulgação da sua doutrina no seio dos povos pagãos, então chamados gentios, o que ele próprio confirmou, em Espírito, quando da sua manifestação a Ananias, logo após a conversão da estrada de Damasco: Este é para mim um vaso escolhido (médium escolhido) para levar o meu nome diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel. (Atos, 9:15).
Os apóstolos, incluindo Pedro, não tinham muita propensão para o trato com os chamados gentios; eles preferiam antes o contato com as ovelhas desgarradas da casa de Israel.
Respeitáveis historiadores sustentam que a ação dos doze apóstolos (os onze e Matias) se limitou a Jerusalém e algumas regiões circunvizinhas. Eles preferiram o controle da situação na antiga Judéia, e isso era uma necessidade imperiosa, uma vez que o próprio Cristo lhes havia recomendado essa limitação, pois o povo judeu era o único que havia sido preparado, no decurso de milênios, para a implantação do monoteísmo e para em seu seio acontecer o advento de Jesus Cristo. A ação dos apóstolos no seio de povos politeístas teria sido extremamente difícil e havia muito trabalho a se fazer entre os próprios judeus, no sentido de manter viva a chama da nova Doutrina.
Formulando um apelo para ser julgado pelos tribunais romanos, Paulo de Tarso foi transferido para Roma, graças ao privilégio que possuía de, além de ser judeu, desfrutar o status de cidadão romano (Atos, 22:26-27). A transferência do jovem tarsense para Roma estava, obviamente, nos desígnios do Plano Maior, a fim de que a palavra de Jesus pudesse também ser difundida no seio de povos estrangeiros, principalmente da mais importante cidade do mundo ocidental.
Na capital do Império, durante dois anos, desfrutou Paulo de relativa liberdade a fim de apregoar os ensinamentos evangélicos (Atos, 28:30-31). Somente quando Nero ordenou a perseguição aos cristãos, foi ele novamente preso, remetido à prisão, e dali saiu condenado, sendo entregue ao executor. Foi levado para fora da cidade, seguido por uma turba do mais baixo calão. Chegando ao local fatal, ajoelhou-se junto do cepo; o machado do algoz reverberou ao sol e caiu; e a cabeça do grande apóstolo rolou pelo chão.
É indiscutível, pois, que houve deturpação histórica no tocante à ida e sacrifício de Pedro em Roma, o que serviu tão-somente para justificar a transferência da sede da igreja de Jerusalém para Roma, uma vez que a dispersão dos judeus e o conseqüente domínio da Palestina pelos árabes, não oferecia seguras condições para que a velha Jerusalém servisse de sede para um poder que a igreja objetivava estabelecer sobre o mundo.
Tornando-se romana, a igreja deixou de ser universal. Logo surgiu o chamado Grande Cisma do Oriente, com a dissidência da igreja grega. A unidade, que se objetivava estabelecer, cedeu terreno à discórdia, agravada posteriormente mais ainda pela reforma protestante.
Tudo, porém, tem a sua época. Vivemos na atualidade os tempos preditos pelo Cristo, quando o Cristianismo tem de ser restaurado em suas primícias, e, como decorrência, o Espiritismo surgiu no momento psicológico para que o Evangelho seja restabelecido em toda a sua plenitude.
O Espiritismo vem, pois, assumir o seu relevante papel, representando o fruto da promessa de Jesus sobre o advento do Espírito Consolador, muito lhe resta fazer, uma vez que os desígnios de Deus não são bitolados. Não sabemos quantos séculos serão necessários. Deus o sabe, mas o Cristianismo terá que ser reimplantado na face da Terra, para que toda a verdade seja manifesta.
A religião do futuro terá por base o intercâmbio com o mundo espiritual e somente o Espiritismo preenche na atualidade esse requisito, cumprindo aos espíritas vigiar para que a pureza doutrinária da Terceira Revelação seja mantida, fazendo assim com que Humanidade conheça a verdade para que ela possa se tornar livre. (Roma, 18 de maio de 1973.)
Paulo A.Godoy

AS QUATRO MARIAS

"Disse então Maria: A minha alma engrandece o Senhor." (Lucas, 1 :46)
Os Evangelbos nos dão conta da existência de quatro personalidades com o nome de Maria, todas elas desempenhando tarefas de maior ou menor envergadura, no Messiado de Jesus Cristo.
Maria de Nazaré é a que desenvolveu tarefa de maior saliência, pois, foi o Espírito escolhido por Deus para servir de mãe carnal de Jesus Cristo. Era uma mulher de condições humildes e extremamente dedicada. Serviu de medianeira para que o Espírito sublime de Gabriel revelasse ao mundo o advendo do tão esperado Messias. Maria nasceu na cidade de Nazaré, na Galiléia.
Quando ela, em companhia do esposo, levou o menino ao Templo, para que nele se cumprisse segundo as tradições, ou seja, para ser submetido ao ato de circunscisão, ali surgiu o médium Simeão que dirigindo-se a Maria, lhe disse: Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição. E uma espada transpassará também a sua própria alma, para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.
Maria de Nazaré assistiu, angustiada, à crucificação do seu fiilho, e, segundo a tradição, viveu os restos dos seus dias em companhia do apóstolo João, em Éfeso.
Maria de Betânia era irmã de Marta e de Lázaro. Seu nome era oriundo da sua cidade natal, a aldeia de Betânia. Jesus costumava hospedar-se em sua casa todas as vezes que ia àquela aldeia. Numa dessas visitas à casa de Lázaro, quando o Mestre confabulava com alguns dos presentes, Maria assentou-se a seus pés e se preocupou em ouvir suas palavras. Marta, um tanto irrequieta e preocupada com os afazeres da casa, indagou do Senhor: Mestre, não te parece injusto que Maria deveria vir ajúdar-me? Ao que ele respondeu prontamente:
-Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas. Mas, uma só é necessária, e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será jamais tirada.
Estando uma vez em Betânia, na casa de Simão, o leproso, aproximou-se de Jesus a meiga Maria de Betânia, portando um vaso de alabastro, com ungüento de grande valor e derramou-o sobre a sua cabeça, quando ele estava assentado à mesa. Houve então um comentário por parte de um dos apóstolos: Por que este desperdício? Este ungúento poderia ter sido vendido por grande preço, dando-se o dinheiro aos pobres! Ouvindo esse comentário, o Mestre sentenciou: Por que afligis esta mulher? Pois ela praticou uma boa ação para comigo. Porquanto tendes sempre convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre, acrescentando, logo a seguir: Em verdade vos digo que onde quer que este Evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua.
Maria Madalena era uma mulher formosa, que vivia transviada nos caminhos da vida. Sua cidade de origem era Magdala.
Era dotada de apreciável beleza física e vestia-se ricamente.
Defrontando-se com ela, Jesus expeliu sete Espíritos obsessores que a atormentavam. Dali por diante, Maria passou a ser uma das suas mais assíduas assessoras, seguindo-o, sempre que possível, em suas peregrinações, deixando para trás toda a sua vida desregrada. A sua reforma íntima foi tão completa que, após a crucificação, a primeira pessoa para quem o Espírito de Jesus Cristo apareceu foi para Maria Madalena, a fim de demonstrar toda a sua admiração pelas lutas íntimas que ela travou, pois mais do que ninguém ela cometera contra si mesma tantas arbitrariedades, sobrepujando vícios difíceis de serem vencidos. Foi a mulher que aceitou em toda a sua plenitude a recomendação do Mestre: Quem tomar do arado, não deve mais olhar para trás.
Maria de Cleofas, era prima-irmã de Maria de Nazaré, mãe de Jesus. Era desposada com Alfeu ou Klopas, de onde origiou o nome de Maria de Cleofas. Foi mãe dos três apóstolos: Tiago Menor, Simão Cananita e Judas Tadeu. Segundo o testemunho dos evangelistas João e Marcos, ela esteve presente, juntamente com Maria de Nazaré e Maria de Madalena, por ocasião da crucificação de Jesus, no cimo do Calvário, participando da dor imensa que assolava os corações dos amigos do Meigo Nazareno.
Paulo A. Godoy

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O CÁLICE DA AMARGURA "Prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu pai; se é possível, passe de mim este cálice" todavia, não seja feito como eu quero, mas como tu quiseres." (Mateus, 26:39)

O CÁLICE DA AMARGURA
"Prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu pai; se é possível,
passe de mim este cálice" todavia, não seja feito como eu quero, mas como tu
quiseres." (Mateus, 26:39) 

Afirma o evangelista Mateus que Jesus Cristo formulou veemente rogativa a Deus no sentido de passar dele a necessidade de tragar o cálice de amargura, simbolizado no sacrifício que se cumpriria no alto do Calvário. Após repetir a sua prece por trê vezes consecutivas, não houve um deferimento favorável, e o drama da crucificação se cumpriu em todos os detalhes.
O Mestre, que havia preceituado: "Pedi e dar-se-vos-á, buscai e achareis e batei e abrir-se-vos-á" ali estava advogando o cancelamento do martírio na cruz, entretanto não deixou de condicionar a sua vontade à soberana vontade de Deus. Nos desígnios do Pai o sacrifício do Calvário era um imperativo, sem o qual a doutrina que o Mestre viera trazer, não triunfaria na face da Terra, ao ponto de, em três séculos apenas, causar a derrocada do Paganismo, solapando as precárias bases em que se fundamentava a religião dos povos mais poderosos da Terra.
Devemos nos lembrar que todos nós, em maior ou menor escala, temos um Calvário em nossa vida, por isso tanto em relação a nós o Criador não modifica a cada instante os desideratos superiores. Muitas das rogativas que erguemos não são aceitas porque assumimos compromissos espirituais importantes antes da nossa encarnação terrena, e se modificando o curso da nossa vida ao sabor da nossa vontade, é óbvio que ocorreria uma estagnação e dificilmente colimaríamos o nosso aprimoramento espiritual.
O advento de Jesus Cristo na Terra indubitavelmente exigiu intensa preparação espiritual, principalmente nos séculos que antecederam a sua integração no ambiente terreno. Se João Batista foi o seu precursor imediato, lembremo-nos de que muitos profetas de Israel também cooperaram para a sua vinda, fornecendo detalhes minuciosos sobre a sua inconfundível personalidade e esboçando, em linhas gerais, a razão primária da sua missão no seio da Humanidade.
A tarefa desenvolvida entre nós por Jesus Cristo não foi mera caminhada pelas estradas da Galiléia. Não foi também uma peregrinação com o objetivo de curar alguns paralíticos, restaurar a vista a alguns cegos, limpar alguns leprosos ou expelir alguns maus Espíritos. O advento de Jesus foi algo sublime demais, pois ele trouxe para a Humanidade uma mensagem de vida eterna, uma doutrina suscetível de impulsionar o gênero humano para os seus verdadeiros objetivos, um código de moral que serviria de fundamento para a reforma moral dos indivíduos. O Messias veio para curar os doentes da alma e levantar aqueles que estão alquebrados pelas tribulações da vida terrena. Veio também para convocar aqueles que malbaratam os "alores que Deus, por excesso de misericórdia, lhes concedeu, despertando-os de uma inércia incompatível com a necessidade de reforma interior.
Se a missão desempenhada por Jesus Cristo demanda séculos de preparação, devemos também convir que a tarefa de muitos Espíritos que encarnam na Terra, também exige preparação, planejamento e sobretudo obedecem a desígnios superiores, previamente estabelecidos.
Deste modo, podemos afirmar que nem todos os nossos apelos dirigidos ao Alto podem ser atendidos, uma vez que qualquer desvio em nossa vida poderá representar séculos de retardamento. A satisfação dos nossos desejos representaria postergação de fatores que são imprescindíveis à nossa reforma espiritual.
Sendo a Terra uma imensa escola, na qual os nossos Espíritos se aprimoram, despojando-se de suas imperfeições, é lógico que deveremos assimilar todas as lições que nos são propiciadas pois, se protelarmos o nosso aprendizado, além de adiarmos nossa evolução, estaremos também contribuindo para o atravancamento do progresso espiritual da Humanidade, causando o retardamento no advento de uma nova era, quando o mundo será mai, espiritualizado, mais moralizado e sobretudo mais evangelizado.
Paulo A. Godoy

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O Terceiro Céu

O reino de Deus não vem com aparência exterior.
Nem dirão: Ei-lo aqui, ou ei-lo ali, porque eis que o reino de Deus está entre vós".

(Lucas, 17:20-21).

Já se foram os tempos em que os homens supunham ser o nosso mundo o centro de todo o Universo, quando então teorias aberrantes foram impostas como verdades irretorquíveis.

Os gregos, por exemplo, admitiam a Terra como imenso disco, supondo que o centro de tal disco estava exatamente no famoso santuário de Apoio, em Delfos, a poucos quilômetros do golfo de Corinto. Nesse santuário, famoso pelo seu oráculo, havia mesmo um cone de mármore branco, considerado por todos como o "umbigo" do mundo...

No tocante aos céus, também existiam várias teorias, pois, segundo a opinião generalizada, havia sete céus. Os muçulmanos admitem nove céus, em cada um dos quais se aumenta a felicidade dos crentes. n sábio Ptolomeu, que viveu em Alexandria, no segundo século da era cristã, contava onze céus e denominava ao último Empireu (do grego, pur ou pyr, fogo) por causa da luz intensa que afirmava nele existir. Os poetas afirmavam ser esse o lugar da eterna glória. A teologia cristã, por sua vez, reconhece três céus: o primeiro é o da região do ar e das nuvens, o segundo o espaço em que giram os astros, e o terceiro, a morada do Altíssimo, onde estariam aqueles que segundo os seus ensinos, gozam da bem-aventurança e estão no estado de contemplação beatífica.

Sobre a vida no além-túmulo, ensina também que o homem vive uma só vez, depois do que será submetido a dois julgamentos distintos: um logo depois da morte, chamado juízo particular, e outro no fim do mundo, denominado juízo universal, ou final. Depois do primeiro, as almas vão diretamente ou para o céu, onde "se goza da vista de Deus e de todos os bens, sem mistura de mal", ou para o inferno, onde, ao contrário, "se sofre a privação da vista de Deus, o fogo eterno e todos os males, sem mistura de bem". Sustenta ainda que as almas que tenham apenas pecados venais, permanecem por algum tempo em uma estância intermediária o purgatório, antes de serem recebidas no céu.

Por outro lado, essa teologia situou Deus nos confins do Universo, em vez de colocá-lo no centro, donde o seu pensamento poderia irradiar e abranger tudo.

A evolução se processou de forma espantosa, a ciência desvendou novas verdades, a Terra deixou de ser o centro do universo, o céu foi deslocado e a região estelar, sendo ilimitada, deitou por terra a teoria na existência desses céus superpostos, e isso fez emudecer todas as religiões.

Paulo, em sua 11 Epístola ao Coríntios, afirmou: "Conheço um homem em Cristo que há quatorze anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até ao terceiro céu. E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é licito falar". (I1 Cor. 12:2-4).

É inegável que o homem mencionado por Paulo foi arrebatado, em espírito, a um plano espiritual de grande elevação e, ali, ouviu instruções de grande alcance, inacessíveis á compreensão dos homens encarnados. Qualquer um desses planos espirituais do Mundo Maior, narrados nos ensinamentos espíritas, pode ser comparado ao chamado terceiro céu, pois, obviamente os que ouviam Paulo não estavam em condições de compreender o céu senão como um lugar situado acima das regiões das nuvens e do:; astros, uma vez que se concebia (crença que perdurou até Galilei) que a Terra era o centro do Universo.

Quão diferentes são estes ensinamentos daqueles que o Espiritismo vem apregoar na atualidade.

Jesus afirmou que não deveríamos buscar o Reino de Deus aqui ou acolá, pois ele está entre nós, e os espíritas têm como ponto pacífico que a fórmula para á conquista desse Reino é a vivência pura e simples dos preceitos cristãos que levam á reforma íntima. O reino dos céus não se toma de assalto, mas conquista se com as boas obras. (Lucas, 16:16).

Após a oficialização da igreja cristã, no século IV, cessou praticamente o intercâmbio mediúnico entre os primitivos cristãos e o mundo espiritual. 

A justificativa apresentada pelos doutores da igreja foi uma proibição lançada vinte séculos antes por Moisés, cujo objetivo era combater a mercantilização com as coisas divinas e a ação nefasta dos falsos médiuns.

A revelação dos espíritos passou a ser um empecilho aos intuitos dos homens que tinham interesse numa igreja temporal. Para por um paradeiro no processo de intercâmbio entre o mundo corpóreo e o plano espiritual, inúmeras fogueiras foram acesas, e, como decorrência, a revelação deixou de ser a pedra angular das chamadas religiões cristãs.

Surgiram então os dogmas e durante outros vinte séculos a humanidade passou a ter uma visão distorcida das coisas divinas, pois, através deles tomaram forma as esdrúxulas teorias das penas eternas, do pecado original, dos céus superpostos, da existência do purgatório, da unicidade das existências do homem na Terra, da unicidade dos mundos habitados e outras mais, tudo isso em flagrante contraste com os ensinamentos contidos nos Evangelhos.

Ao Espiritismo cabe a tarefa de restabelecer todos os ensinamentos de Jesus Cristo em seus devidos lugares, consoante a promessa do Mestre de que suscitaria entre nós, em época propícia, o Espírito de Verdade.
                                                        
Paulo Alves de Godoy

O Semeador