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sábado, 8 de setembro de 2012

Amor filial

Por CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO
Revista o Reformador de Maio de 2009

“Sabeis os mandamentos: não cometereis adultério; não matareis; não roubareis;
não prestareis falso testemunho; não fareis agravo a ninguém; honrai a vosso
pai e a vossa mãe.” (S. Marcos, 10:19; S. Lucas, 18:20; S. Mateus, 18-19).1


A passagem acima registra o encontro de Jesus com Efraim,(2) homem de muitas posses, morador de Jerusalém, que lhe indaga sobre o que fazer para herdar a vida eterna (Mateus, 19:16; Marcos, 10:17; Lucas, 18:18).
O próspero negociante, porém, não compreendeu os ensinamentos que lhes foram transmitidos
pelo Mestre e afastou-se receoso de perder seus bens materiais; o mancebo rico não soube interpretar,
claramente, a mensagem cristã:
a capacidade de amar o próximo é o verdadeiro tesouro a conquistar.
Para se alcançar a perfeição é preciso ser devotado às criaturas e todas as ações devem ter por móvel
a caridade, feita com sinceridade de coração, porquanto penosos sacrifícios e renúncias poderão ser
exigidos daqueles que assim agem.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIV, item 1, esses versículos fundamentam a reflexão
sobre quão imprescindível é o amor filial em nossas vidas e estimulam- -nos a cultivar a estima para com os
pais, de modo ainda mais rigoroso, cercando-os de carinhos e cuidados, principalmente na velhice:
O mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe” é um corolário da lei geral de caridade e de amor ao próximo, visto que não pode amar o seu próximo aquele que não ama a seu pai e a sua mãe; mas, o termo honrai encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Quis Deus mostrar por essa forma que ao amor se devem juntar o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência [...](3)
Allan Kardec, no referido capítulo, item 3, ressalta o descaso de certas pessoas para com os seus genitores,
negando-lhes as solicitudes necessárias ao seu conforto e consolo, e afirma categórico:
Ai, pois, daquele que olvida o que deve aos que o ampararam em sua fraqueza [...] será
punido com a ingratidão e o abandono [...](3)

Ao reencarnar, vinculamo-nos aos laços familiares que entretecemos para nós próprios, na linha
mental que caracteriza as nossas tendências, afinados, igualmente, nas atitudes e inclinações para com
todos aqueles que permanecem na mesma conjunção de débitos.
A organização do núcleo familiar tem sua origem na esfera espiritual e proporciona aos seres que
reencarnam a realização de ações conjuntas e construtivas, revigorando os elos de amor entre a parentela.
Todavia, no âmago dessas experiências, afloram ódios e ressentimentos do pretérito obscuro,
exigindo inauditos esforços dos familiares para superação desses sentimentos, hauridos do passado
distante. Certos filhos agem de forma inadequada em face das dificuldades que encontram no ambiente
doméstico, transformando-se em motivos de excessivas discórdias e aflições junto daqueles que os
acolheram no meio familiar.O problema pode ser descrito em poucas palavras: os pais, em sua maioria,
se sentem sempre comprometidos em cuidar dos filhos e estes tendem, naturalmente, a libertar-se deles.
O Espírito Emmanuel faz elucidativa análise sobre esses vínculos:
Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e alegria que já conseguimos tecer,
por intermédio do amor louvavelmente vivido, mas também as algemas de constrangimento e aversão, nas quais recolhemos, de volta, os clichês inquietantes que nós mesmos plasmamos na memória do destino
e que necessitamos desfazer, à custa de trabalho e sacrifício, paciência e humildade, recursos novos com que faremos nova produção de reflexos espirituais, suscetíveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior, conturbada e infeliz.(4).
Mesmo variando, entre os pais, a maneira de expressar afeição na dedicação e cuidados demonstrados
aos filhos, todos se preocupam em dar-lhes atenção, o que torna essas vivências familiares enriquecidas
e caracterizadas pelo amor que os interligam e lhes permitem construir um mundo completo de experiências vitais para suas almas em reajuste. No entanto, os embaraços que podem ocorrer na criação dos filhos são previsíveis; se os pais se adaptam mal às exigências de sua função é, sem dúvida, porque encontraram no curso de sua evolução moral obstáculos que não conseguiram superar por
não terem firme a vontade. Assevera Kardec:
Alguns pais, é certo, descuram de seus deveres e não são para os filhos o que deviam ser; mas,
a Deus é que compete puni-los e não a seus filhos. Não compete a estes censurá-los, porque talvez
hajam merecido que aqueles fossem quais se mostram.[...](5)

Muitos se afastam dos pais na velhice e não zelam por eles com a devida consideração; expressam sentimentos de ingratidão sem reconhecer os sacrifícios que se impuseram para que os filhos tivessem comodidades e bem-estar.
Geralmente, sem assistência, os genitores idosos tornam-se pessoas enfermas e amarguradas;
processos degenerativos, como mal de Alzheimer, mal de Parkinson, distrofia muscular, câncer,
diabetes e outros, surgem, para alguns, no momento próprio da vida material, como impositivo
da necessidade de reabilitação do Espírito. Se os familiares, com paciência, abnegação e devotamento, não ajudarem o enfermo a sentir-se amparado nessa fase de grande testemunho, como contribuir para iluminação de todos os envolvidos na prova em curso?

Em nota à questão 917, de O Livro dos Espíritos, o insigne Codificador observa:
O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes.Destruir um e
desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar a
sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.(6).

O amor verdadeiro é uma demonstração afetuosa por quem devemos ter cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento de suas necessidades especiais. De acordo com Erich Fromm (1900-
-1980), um dos principais psicanalistas do século XX, [...] a satisfação no amor individual não pode ser atingida sem a capacidade de amar ao próximo, sem verdadeira humildade, coragem, fé e disciplina.(7)
Essa afirmação segue o princípio do amor amadurecido: sou amado porque amo, e não do amor
imaturo: amo porque sou amado(.8)
O amor deve ser ativo de forma a promover o desenvolvimento e a felicidade da pessoa amada; ela necessita do convívio dos outros para a amplitude de suas aptidões, para utilizar seus poderes mentais, emocionais e sensoriais, para compreender as potencialidades que lhe são inerentes, conforme as condições existenciais, principalmente as do núcleo doméstico, permitindo-lhe desenvolver essas capacidades ao máximo, desde que estimulada para isso. Estar apto a exercitar a razão e a praticar o amor, a se tornar um
ser produtivo e a considerar a vida uma bênção. Por esse motivo, os laços de família, na orientação dos Espíritos superiores, não são simples elos estabelecidos pelos costumes sociais, mas tornam-se necessários ao progresso de cada um; o resultado do relaxamento desses laços seria uma intensificação do egoísmo.(9)
Por outro lado, alguns filhos apegam-se aos pais com o intuito de obrigá-los [...] a comprar caro o que lhes
resta a viver, descarregando sobre eles o peso do governo da casa! Será então aos pais velhos
e fracos que cabe servir a filhos jovens e fortes?(10)
Alertam os benfeitores espirituais que existem indivíduos que agridem com certa frequência “os pais e buscam escravizá-los, como se os progenitores lhes constituíssem alimárias domésticas”.(11)
Reflitamos no bem a fazer por aqueles que nos permitiram retornar ao corpo de carne ou que
se transformaram em pais e mães substitutos; se nos omitirmos é possível que percamos a oportunidade
de auxiliá-los antes de partirem para o Além. Deixemos para depois, ao desencarnar, o entendimento
claro sobre os vínculos familiares que perduram em nossa existência, comungando fraternalmente com esses seres as mesmas experiências domésticas. É impossível, de imediato, compreendermos a trama do destino que a lei de ação e reação nos reservou e as circunstâncias que determinaram o retorno à Terra, junto deles. Sigamos a exortação de Jesus, que nos orienta a amar bastante, para sermos amados, principalmente aos pais que merecem particular deferência e afeto ilimitado e, ao lado deles, vivenciar situações que edificam a
sabedoria no amor filial.
Referências:
1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro.
25. ed. de bolso. Rio de Janeiro: FEB, 2008.
Cap. 14, item 1.
2XAVIER, Francisco C. Contos desta e doutra
vida. Pelo Espírito Irmão X. 2. ed. 1.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 34.
3KARDEC, Allan. Op. cit., cap. 14, item 3.
4XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.
Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2008. Cap. 12, p. 56.
5KARDEC, Allan. Op. cit., cap. 14, item 3.
6______. O livro dos espíritos. Tradução
de Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2008. Q. 917.
7FROMM, Erich. A arte de amar. Tradução
de Milton Amado. Belo Horizonte: Editora
Itatiaia, 1995. Preâmbulo, p. 7.
8______.______. Amor entre pais e filhos,
p. 52-60.
9KARDEC, Allan. Op. cit., q. 775.
10______. O evangelho segundo o espiritismo.
Tradução de Guillon Ribeiro. 25. ed.
de bolso. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap.
14, item 3.
11XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. Pelo
Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2008. Cap. 18, p. 94.
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