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terça-feira, 16 de outubro de 2012

AS Bases para transformar-se item 5

5 - O CONHECER-SE NO CONVÍVIO COM O PRÓXIMO

5 - O CONHECER-SE NO CONVÍVIO COM O PRÓXIMO

"Amar ao próximo como a si mesmo, fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, é a mais completa expressão da caridade, pois que resume todos os deveres para com o próximo." (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XI. Amar ao Próximo como a Si Mesmo.)
No relacionamento entre os seres humanos, as experiências vividas ensinam constantemente lições novas. Aprendemos muito na convivência social, através de nossas reações com o meio e das manifestações que o meio nos provoca. O campo das relações humanas, já pesquisado amplamente, talvez seja a área de experiências mais significativa para a evolução moral do homem.

O tempo vai realizando progressivamente o amadurecimento de cada criatura, na medida em que aprendemos, no convívio com o próximo, a identificar nossas reações de comportamento e a discipliná-las. O relacionamento mais direto acha-se no meio familiar, onde desde criança brotam espontaneamente nossos impulsos e reações. Nessa fase gravam-se impressões em nosso campo emocional que repercutirão durante toda nossa existência. Quantos quadros ficam plasmados na alma sensível de uma criança, quadros esses que podem levá-la a inconformações, angústias profundas, desejos recalcados, traumas, caracterizando comportamentos e disposições na fase da adolescência e na adulta.

Guardamos, do relacionamento com os pais, irmãos, tios, primos e avós, os reflexos que mais nos marcaram. Começamos, então, numa busca tranquila, a conhecer como reagimos e por que reagimos, na infância e na adolescência, aos apelos, agressões, contendas, choques de interesses. Essas reações emocionais, que normalmente não se registram com clareza nos níveis da consciência, deixam, entretanto, suas marcas indeléveis nas profundidades do inconsciente. Importantes são as suaves e doces experiências daqueles primeiros períodos da nossa vida, quando os corações amorosos de uma mãe, de um pai, de um irmão, de uma professora, pelas expressões de carinho e de compreensão, aquecem nossa alma em formação e nela gravam o conforto emocional que tantos benefícios nos fizeram, predispondo-nos às coisas boas, às expressões de amor, que, por termos conhecido e recebido, aprendemos a dar e a proporcionar aos outros.
Essas ternas experiências constituem necessários pontos de apoio ao nosso espírito, para que possamos prosseguir e ampliar nossas obras nas expressões do coração. No convívio escolar, iniciamos as primeiras experiências com o meio social fora dos limites familiares. As reações já não são tão espontâneas. Retraímo-nos às vezes; a timidez e o acanhamento refletem de início a falta de confiança nas professoras e nos colegas de turma. Aprendemos paulatinamente a nos comportar na sociedade, com reservas.

Sufocamos, por vezes, desejos e expressões interiores, e até mesmo defendemos com violência nossos interesses, mesmo que ainda infantis. E também brigamos com aqueles que caçoam de alguma particularidade nossa. Quase sempre retribuímos com bondade aos que são bondosos conosco. E devolvemos insultos aos que nos agridem. Sem dúvida são reações naturais, embora ainda bem primárias.

Vamos assim caminhando para a adolescência, fase em que nossos desejos se acentuam. O querer começa a surgir, a auto-afirmação emerge naturalmente, a nossa personalidade se configura. Aparecem as primeiras desilusões, as amizades não correspondidas, os sonhos frustrados, as primeiras experiências mais profundas no campo sentimental. De modo particular, cada um reage de forma diferente aos mesmos aspectos do relacionamento com os outros: uns aceitam e resignam-se com os desejos não alcançados; outros, inconformados, reagem com irritação e violência e, porisso mesmo, sofrem mais. E o sofrimento é maior porque é necessário maior peso para dobrar a inflexibilidade do coração mais endurecido, como ensina a lei física aplicada à nossa rigidez de temperamento. Os mais dóceis e flexíveis sofrem menos, porque menor é a carga que lhes atinge o íntimo. Esses não oferecem resistência ao que não podem possuir.

A resignação é o meio de modelação da nossa alma, característica de desprendimento e da mansuetude que precisamos cultivar. Inúmeros aspectos desconhecidos da nossa personalidade abrem-se para a nossa consciência exatamente quando conseguimos identificar, nos entrechoques sociais, aquilo que nos atinge emocionalmente. As reações observadas nos outros que mais nos incomodam são precisamente aquelas que estão mais profundamente marcadas dentro de nós. As explosões de gênio, os repentes que facilmente notamos nos outros e comentamos atribuindo-lhes razões particulares, espelham a nossa própria maneira de ser, inconscientemente atribuída a outrem e dificilmente aceita como nossa. É o mecanismo de projeção que se manifesta psicologicamente.

Poucas vezes entendemos claramente as manifestações de nossos sentimentos em situações específicas, principalmente quando alguém nos critica ou comenta nossos defeitos. Normalmente reagimos: não Incitamos esses defeitos e procuramos justificá-los. Nesse momento passam a funcionar os nossos mecanismos de defesa, naturais e presentes em qualquer criatura.

No convívio com o próximo, desde a nossa infância, no lar, na escola, no trabalho, agimos e reagimos emocionalmente, atingindo os domínios dos outros e sendo atingidos nos nossos. Vamos, assim, nos aperfeiçoando, arredondando as facetas pontiagudas do nosso ser ainda embrutecido, à semelhança das pedras rudes colocadas num grande tambor que, ao girar continuamente, as modela em esferas polidas pela ação do atrito de parte a parte.

É interessante notar que as pedras de constituição menos dura modelam-se mais rapidamente, enquanto aquelas de maior dureza sofrem, no mesmo espaço de tempo, menor desgaste, demorando mais, portanto, para perderem a sua forma original bruta. Esse aperfeiçoamento progressivo, no entanto, vem se realizando lentamente nas múltiplas existências corpóreas como processo de melhoramento contínuo da humanidade.

As vidas corpóreas constituem-se, para o espírito imortal, no campo experimental, no laboratório de testes onde os resultados das experiências se vão acumulando. "A cada nova existência, o espírito dá um passo na senda do progresso; quando se despojou de todas as suas impurezas, não precisa mais das provas da vida corpórea." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo IV. Pluralidade das Existências. Pergunta 168.) Instruirmo-nos através das lutas e tribulações da vida corporal é a condição natural que a Justiça Divina a todos impõe, para que obtenhamos os méritos, com esforço próprio, no trabalho, no convívio com o próximo.

O conhecer-se implica em tomarmos consciência de nossa destinação como participantes na obra da Criação. Dela somos parte e nela agimos, sendo solicitados a colaborar na sua evolução global; Deus assim legislou. O limitado alcance de nossa percepção e de nossa vivência em profundidade, no íntimo do nosso espírito, dessa condição de co-participantes da Criação Universal é decorrente de nossa mínima sensibilidade espiritual, o que só podemos ampliar através das conquistas realizadas nas sucessivas reencarnações.

Parece claro que caminhamos ainda hoje aos tropeços, caindo aqui, levantando acolá, nos meandros sinuosos da estrada evolutiva que ainda não delineamos firmemente. Constantemente alteramos os rumos que poderiam nos levar mais rapidamente ao alvo. Os erros nos comprometem e nos levam às correções, por isso retardamos os passos e repetimos experiências até que delas colhamos bons resultados, para daí avançarmos.

O conhecer-se é o próprio processo de autoconscientização, de conhecimento de nossas limitações e dos perigos a que estamos sujeitos no campo das experiências corpóreas. É ponderar sempre, é refletir sobre os riscos que podem comprometer a nossa caminhada ascensional e tomar decisões, definir rumos, dar testemunhos.

É precisamente no convívio com o próximo que expressamos a nossa condição real, como ainda estamos — não o que somos, pois entendemos que, embora ainda ignorantes e imperfeitos, somos obra da Criação e contamos com todas as potencialidades para chegarmos a ser perfeitos, listamos todos em condições de evoluir. Basta querermos e dirigirmos nossos esforços para esse mister.
Uma das melhores diretrizes para chegarmos a isso nos é oferecida pelo educador Allan Kardec (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XVII. Sede Perfeitos. O Dever):
"O dever começa precisamente no momento em que ameaçais a felicidade e a tranquilidade do vosso próximo, e termina no limite que quereríeis alcançar para vós mesmos".

As Bases do transformar -se item 4

4 - COMO CONHECER-SE?
4 - COMO CONHECER-SE

"Reconhece-se o verdadeiro espirita pela sua transformação moral e pelo esforço que empreende no domínio das más inclinações."
(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XVII. Sede Perfeitos. Os Bons Espiritistas.) A disposição de conhecer-se a si mesmo pode surgir naturalmente como fruto do amadurecimento de cada um, de forma espontânea, nata, resultante da própria condição espiritual do indivíduo, ou poderá ser provocada pela ação do sofrimento renovador que, sensibilizando a criatura, desperta-a para valores novos do espírito. Uns chegam pela compreensão natural, outros, pela dor, que também é um meio de despertar a nossa
compreensão.

Um grande número de indivíduos são levados, devido a desequilíbrios emocionais, a gabinetes psiquiátricos ou psicoterápicos para tratamentos específicos. Através desses tratamentos vêm a conhecer as origens de seus distúrbios, aprendendo a identificá-los e a controlá-los, normalizando, até certo ponto, a sua conduta. Porém, isso ocorre dentro de uma motivação de comportamento compatível com os padrões de algumas escolas psicológicas, quase todas materialistas.

Na Doutrina Espírita, como Cristianismo Redivivo, igualmente buscamos o conhecimento de nós mesmos, embora dentro de um sentido muito mais amplo, segundo o qual entendemos que a fração eterna e indissolúvel de nosso ser só caminha efetivamente na sua direção evolutiva quando pautando-se nos ensinamentos evangélicos, únicos padrões condizentes com a realidade espiritual nos dois planos da nossa existência.

É preciso, então, despertar em nós a necessidade de conhecer o nosso íntimo, objetivando nossa transformação dentro do sentido cristão original, ensinado e exemplificado pelo Divino Mestre Jesus. Conhecer exclusivamente as causas e as origens de nossos traumas e recalques, de nossas distonias emocionais nos quadros da presente existência é limitar os motivos dos nossos conflitos, olvidando a realidade das nossas existências anteriores, os delitos transgressores do ontem, que nos vinculam aos processos reequilibradores e aos reencontros conciliatórios do hoje.

As motivações que nos induzem a desenvolver nossa remodelação de comportamento projetam-se igualmente para o futuro da nossa eternidade espiritual, onde os valores ponderáveis são exatamente aqueles obtidos nas conquistas nobilitantes do coração. Percebendo o passado longínquo de erros, trabalhamos livremente no presente, preparando um futuro existencial mais suave e edificante. Esse é o amplo contexto da nossa realidade espiritual, à qual almejamos nos integrar atuantes e produtivos.

O emérito professor Allan Kardec, em sua obra O Céu e o Inferno 1ª parte, capítulo VII, mostra, nos itens 16° do Código Penal da Vida Futura, que no caminho para a regeneração não basta ao homem o arrependimento. São necessárias a expiação e a reparação, afirmando que "A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal", e também "praticando o bem em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se tem sido orgulhoso, amável se foi rude, caridoso se foi egoísta, benigno se perverso, laborioso se ocioso, útil se foi inútil, frugal se intemperante, exemplar se não o foi".

Como podemos nos reabilitar, dentro dessa visão panorâmica da nossa realidade espiritual, infinitamente ampla, é o que pretendemos, à luz do Espiritismo, abordar neste trabalho de aplicação prática. Reabilitar-se exige modificar-se, transformar o comportamento, a maneira de ser, de agir; é reformar-se moralmente, começando pelo conhecimento de si mesmo. Múltiplas são as formas pelas quais vamos conhecendo a nós mesmos, nossas reações, nosso temperamento, o que imprime as nossas ações ao meio em que vivemos, aquilo que é a maneira como respondemos emocionalmente, como reagimos aos inúmeros impulsos externos no relacionamento social.

Podemos concluir que a nossa existência é todo um processo contínuo de reformulação de nossos próprios sentimentos e de nossa compreensão dos porquês, como eles surgem e nos levam a agir. Quando não procuramos deliberadamente nos conhecer, alargando os campos da nossa consciência, dirigindo-a rumo ao nosso eu, buscando identificar o porquê e a causa de tantas reações desconhecidas, somos Igualmente levados a nos conhecer, exatamente nos entrechoques com aqueles do nosso convívio, no seio familiar, no meio social, nos setores de trabalho, nos transportes coletivos, nos locais públicos, nos clubes recreativos, nos meios religiosos, enfim, em tudo o que compreende os contatos de pessoa a pessoa.

Ney P. Peres

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A DECANTADA DESCIDA DE JESUS



"Ora, isto - ele subiu - que é senão que também tenha descido
às partes mais baixas da Terra? (Paulo aos Efésios, 4:9)
Qual o significado da afirmação de Paulo de Tarso de ter Jesus descido às partes mais baixas da Terra? Com fundamento na teoria de que o tão decantado Inferno está localizado no interior da Terra, teoria essa esposada por algumas religiões, estas interpretaram que o Mestre teria descido ao Inferno, consagrando isso como verdade incontestável e até incluindo a suposta ocorrência num dos seus credos: O Credo dos Apóstolos.

No entanto, nenhum dos quatro Evangelhos faz qualquer referência a essa insinuação. Demais, o Inferno não existe como lugar confinado ou localizado. O Inferno é a consciência do culpado e o lugar, qualquer que este seja, onde expia suas faltas. Não se trata de espaço limitado. O lugar, seja qual for, que o Espírito sofredor ocupe, quando na erraticidade, é bem o que chamam Inferno, um lugar onde o Espírito que atentou contra as leis de Deus se ache submetido a contínuas penalidades.
Os Espíritos benfeitores falam em regiões umbralinas, próximas da Terra, onde os Espíritos, que prevaricaram no decurso de suas existências terrenas, experimentam, após a morte do corpo, sofrimentos inenarráveis, de natureza transitória, enquanto se preparam ou são preparados para novas reencarnações. Desde tempos imemoriais, os Espíritos estiveram, após abandonarem o envoltório carnal, em seguida a cada uma das existências da Terra, expostos à expiação por meio de sofrimentos ou torturas morais, apropriadas e proporcionadas aos crimes ou faltas cometidas, aguardando novas reencarnações que os levariam a subir a escada do progresso, cujos degraus todos hão de subir, correspondendo cada um às fases das diferentes existências que lhes cumpre percorrerem para atingir o cimo. Para isso é necessário nascer, morrer, renascer, progredir sempre até alcançar os limites da perfeição.

Os antigos judeus chamavam as regiões de sofrimento de Sheol. Na septuaginta, o Sheol foi traduzido por Hades que, na Teologia grega, era também região subterrânea povoada das almas dos mortos. Na Vulgata Latina, Hades foi traduzido por Infernus, um substantivo derivado do adjetivo Infernus, significando que está em baixo, de região inferior, ou ainda de local subterrâneo. O emérito dr. Canuto Abreu, em sua obra Iniciação Espírita, escreveu: "A Teologia cristã afirma que, descendo aos Infernos, Jesus levou consigo os Espíritos de Abraão e de todos os patriarcas e heróis que faleceram antes dele, os quais aguardavam o Messias Redentor nos planos inferiores e só com ele puderam dali sair."

Afirmou Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno, que o Inferno cristão foi copiado do Inferno pagão, acrescentando: "O Inferno dos pagãos continha, de um lado os Campos Elísios e, de outro, o Tártaro. (Um era lugar de gozo, e outro de sofrimento); o Olimpo, morada dos deuses, dos homens divinizados, ficava nas regiões superiores. Segundo a letra do Evangelho, Jesus desceu aos Infernos, isto é, aos lugares baixos para deles tirar as almas dos justos que aguardavam a sua vinda. Os Infernos não eram, portanto, um lugar unicamente de suplício; estavam tal como os pagãos acreditavam nos lugares baixos. A morada dos anjos, como o Olimpo, era nos lugares elevados. Esta mistura de idéias cristãs e pagãs nada tem de surpreendente."

Como pode Jesus ter descido aos Infernos, se os Infernos não existem nos moldes apregoados pelas Teologias, ou seja, um lugar circunscrito e destinado ao sofrimento eterno e irremissível das almas pecaminosas! Isso seria um atentado contra a infinita misericórdia de Deus, o Criador de todos os Espíritos, e aos quais sempre concede a oportunidade ilimitada de redenção.

O chamado "Credo dos Apóstolos", adotado amplamente pela Igreja, diz que Jesus desceu ao Inferno antes de subir aos Céus; entretanto, dada a pouca aceitação que está tendo a teoria do tão decantado Inferno, teoria que sofreu um desgaste profundo no decorrer dos séculos, já surgem algumas versões do Credo, eliminando a palavra Inferno, e substituindo-a por Mansão dos Mortos, coisa bem diferente, que também não existe como lugar circunscrito ou limitado.

É uma aberração afirmar-se que Espíritos missionários, como o foram Abraão e outros Patriarcas e heróis hebreus, ao terminarem suas gloriosas missões terrenas, tenham permanecido nos planos inferiores, aguardando o advento de Jesus Cristo, o Redentor, muitos séculos após, para poderem, acompanhados dele, sair desses lugares baixos, a fim de ascenderem às regiões elevadas. O escritor teosofista, C.W. Leadbeater, afirma em seu livro O Credo Cristão que "a descida ao mundo inferior, não ao grosseiro inferno cristão, e sim ao Hades ou mundo dos desaparecidos, cabia ao Iniciado (além de muitos outros encargos), o de 'pregar aos Espíritos em prisão', conforme a tradição cristã.

Não se tratava, porém, como essa tradição ignorantemente supõe, de pregar aos Espíritos daqueles que, havendo tido o infortúnio de viver em tempos remotos, só podiam alcançar a salvação, ouvindo e aceitando post-mortem essa forma particular de fé. Tratava-se, sim, de pregar aos Espíritos daqueles que, por haverem deixado recentemente esta vida, se achavam ainda aprisionados, retidos no plano astral pelos desejos insaciados e pelas paixões ainda não subjugadas".

Em seus ensinamentos, Jesus Cristo, por reiteradas vezes, fez alusão a esse decantado Inferno, denominando-o Geena — um sítio existente nas proximidades de Jerusalém, onde se atiravam os detritos da cidade e os cadáveres de animais. Ali o fogo crepitava incessantemente. Era um lugar terrível, por isso, o Mestre dizia que os transgressores das leis de Deus, após a desencarnação, iriam para a Geena, onde "o fogo é inextinguível e o verme jamais deixa de corroer". Um simbolismo empregado por Ele com o fito de demonstrar o fogo do remorso que avassala aqueles que prevaricam no decorrer da vida terrena, corroendo-os, fazendo, assim, com que expiem as suas faltas, a fim de poderem enfrentar novas reencarnações, muitas vezes entrecortadas de grandes sofrimentos, mas com o escopo de se situarem novamente na senda do progresso, colimando a redenção espiritual que os aproximarão cada vez mais de Deus, o Criador de todas as coisas.

Embora o Espírito de Jesus se tenha manifestado na Terra, durante 40 dias, após a sua crucificação, conforme consta do livro dos "Atos dos Apóstolos", é lógico que o Espírito do Mestre não ficou todo esse tempo em nosso Planeta, ou melhor, nos planos baixos, uma vez que, sendo Espírito da mais elevada hierarquia espiritual, podia voltar quantas vezes quisesse aos planos espirituais, pois estava desprovido do corpo carnal que havia perecido na cruz e fora sepultado. Os Evangelhos registram várias aparições de Jesus, após a sua morte, mas era apenas o seu corpo perispirítico. É óbvio, também, que Ele podia dispor de uma legião quase que infinita de Espíritos desencarnados, a fim de elucidar as almas daqueles que permaneciam ergastulados nas paixões terrenas.

A história religiosa nos dá conta que além dos quatro Evangelhos conhecidos existiram 40 que foram considerados apócrifos. Em sua obra Cristianismo e Espiritismo, o preclaro Léon Denis nos legou a informação de que "Esses Evangelhos, hoje desprezados, não eram, entretanto, destituídos de valor aos olhos da Igreja, pois que num deles ela foi buscar a crença na descida de Jesus aos Infernos, crença imposta a toda a Cristandade pelo símbolo do Concílio de Nicéia, e de que não fala nenhum dos Evangelhos canônicos.

Paulo A. Godoy

A CHEGADA A JERUSALÉM


"Hosana ! Bendito o que vem em nome do Senhor !" - (Marcos, 11:9)
A despeito de ser o Rei dos Reis, o Mestre dos Mestres, Jesus Cristo não veio ao mundo, a fim de exercer um reinado efêmero, ou um poder temporal. A sua missão foi algo muito mais relevante. Ele veio, precipuamente, para libertar as consciências dos homens, rompendo os grilhões das superstições, do obscurantismo e do fanatismo.

Conforme esclarece o evangelista João: "Ele veio para o que era seu, mas os seus não o compreenderam", acrescentando, ainda: "Os homens temeram a luz, porque suas obras eram más."

Jesus Cristo não foi um Salvador, pois, para Deus, ninguém está perdido. Ele foi e é o Redentor, o Mestre incomparável, o bom pastor, que ama as suas ovelhas, a ponto de dar a vida por elas.

Longe dele, pois, a acanhada figura de um Rei dos Judeus. Ele representa o grande Enviado dos Céus, cujo escopo maior é de exercer o seu poder sobre toda a Humanidade, o que, obviamente, se dará, quando esta estiver suficientemente preparada, para assimilar a plenitude dos seus ensinamentos.

A chegada de Jesus a Jerusalém, poucos dias antes de ser preso e condenado, constituiu motivo de grande festividade. A multidão soltou gritos de júbilo por um visitante tão ilustre.

O barulho provocado pelo povo era tão estridente que alguns fariseus se acercaram dos apóstolos e lhes pediram que fizessem o povo calar, ao que os discípulos responderam: "Se estes se calarem as próprias pedras clamarão".
Quem era, no entanto, o personagem assim homenageado: o Messias Prometido, o Maior dos Profetas, o Médico das Almas, o Mestre dos Mestres, o fazedor de milagres, ou um provável libertador de Israel?

Dentre os gritos de alegria, partidos do meio do povo, houve um que dizia: "Bendito o reino do nosso pai Davi", o que indica que, pelo menos, alguns viam no Mestre um eventual libertador, que vinha abalar o poder político que Roma ali exercia.

No entanto, pelo menos parte dessa multidão, decorridos poucos dias, estava diante do Pretório, pedindo a crucificação do tão esperado Messias.

É óbvio que muitos encaravam Jesus com simpatia, com afeto e com amor, mas muitos viam nele o libertador político, que se insurgiria contra o Império Romano, devolvendo à nação o seu "status" de país livre.

O seu dizer "o meu reino não é deste mundo" fez com que se esfriasse a esperança de muitos, e isso foi um dos fatores que contribuíram para a indiferença e sentimentos negativos, demonstrados por um segmento da população que, diante do Pretório, preferiu a libertação do fascínora Barrabás e exigiu a crucificação de Jesus Cristo.

Muitos judeus aguardavam o advento do Messias, acreditando, porém, que Ele seria um guerreiro indômito, que colocaria sobre a sua cabeça a coroa outrora usada por Davi, e, com sua espada fulgurante, baniria os invasores romanos, dilatando, assim, as acanhadas fronteiras do reino de Israel.

No entanto, o Mestre veio à Terra nas condições as mais humildes, nascendo em uma cidade pacata e no meio de uma família despretensiosa, atestando, assim, a grandiosidade, a elevação do seu Espírito. O seu advento representou o desempenho de uma missão transcendental, pois Ele veio para empunhar o cetro de um poder espiritual, suscetível de impulsionar os homens para Deus, para que a glória do Criador fosse manifesta para todas as criaturas humanas.

E óbvio que os mais exaltados, que pediram a Pilatos que condenasse Jesus, foram adredemente preparados, foram instruídos pelo Sumo Sacerdote, pelos escribas e pelos fariseus.

Paulo A. Godoy

FILHO ADOTIVO

FILHO ADOTIVO
Mãezinha querida:
Eu sei que você me recebeu com a alma em festa, vestida de sonhos e esperanças.
Em momento algum lhe passou pela mente que o fato de eu não lhe pertencer à carne pudesse alterar o nosso infinito amor.
Eu venho de regiões ignotas e dos tempos imemoriais do seu passado, no qual estabelecemos estes vínculos de afeto imorredouro. ..
Foi necessário que nós ambos nos precisássemos, na área da ternura, impedidos, porém, de nascer um da carne do outro, por motivos que nos escapam, a fim de que outra mulher me concebesse, entregando-me a você.
Ela não se deu conta da grandeza da maternidade; não obstante, sou-lhe reconhecido, pois que, sem a sua contribuição, eu não teria recebido este carinho de mãe espiritual saudosa, nem fruiria da sua convivência luminosa, graças à qual eu me enterneço e sou feliz.
Filho adotivo:
Quantas vezes me golpearam com azedume, utilizando essas palavras !
O seu amor, todavia, demonstrou-me sempre que a maternidade do coração é muito mais vigorosa de que a do corpo.
Não há mães que asfixiam os filhinhos, quando estes nascem? E outras, não há, que sequer os deixam desenvolver-se no seu ventre, matando-os antes do parto?
No entanto, quem adota, o faz por amor e doa-se por abnegação.
De certo modo somos todos filhos adotivos uns dos outros, pelo corpo ou sem ele, porquanto a unica paternidade verdadeira é a que procede de Deus, o Genitor Divino que nos criou para a glória eterna.
Mãezinha de adoção é alma que sustenta outra alma, vida completa que ampara outra vida em desenvolvimento.
Venho hoje agradecer-lhe, em meu nome e no daqueles filhos adotivos que, ingratos e doentes, pois que também os há em quantidade, não souberam valorizar os lares que os receberam, nem os corações que se dilaceram na cruz espinhosa dos sofrimentos em favor da vida e da segurança deles.
Recordando-me da Mãe de Jesus, que a todos nos adotou como filhos, em homenagem ao Seu Filho, digo-lhe, emocionada e feliz: Deus a abençoe, mamãe, hoje e sempre!
Amélia Rodrigues

CASAMENTO


«Pergunta -- Será contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de dois seres ?»
«Resposta - E' um progresso na marcha da Humanidade. »
Item n." 695, de «O LIVRO DOS ESPÍRITOS».
O casamento ou a união permanente de dois seres, como é óbvio, implica o regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma à outra, no campo da assistência mútua.
Essa união reflete as Leis Divinas que permitem seja dado um esposo para uma esposa, um companheiro para uma companheira, um coração para outro coração ou vice-versa, na criação e desenvolvimento de valores para a vida.
Imperioso, porém, que a ligação se baseie na responsabilidade recíproca, de vez que na comunhão sexual um ser humano se entrega a outro ser humano e, por isso mesmo, não deve haver qualquer desconsideração entre si.
Quando as obrigações mútuas não são respeiitadas no ajuste, a comunhão sexual injuriada ou perfidamente interrompida costuma gerar dolorosas repercussões na consciência, estabelecendo problemas cármicos de solução, por vezes, muito difícil, porquanto ninguém fere alguém sem ferir a si mesmo.
Indiscutivelmente, nos Planos Superiores, o liame entre dois seres é espontâneo, composto em vínculos de afinidade inelutável.
Na Terra do futuro, as ligações afetivas obedecerão a idêntico princípio e, por antecipação, milhares de criaturas já desfrutam no próprio estágio da encarnação dessas uniões ideais, em que se jungem psiquicamente uma à outra, sem necessidade da permuta sexual, mais profundamente considerada, a fim de se apoiarem mutuamente, na formação de obras preciosas, na esfera do espírito.
Acontece, no entanto, que milhões de almas, detidas na evolução primária, jazem no Planeta, arraigadas a débitos escabrosos, perante a lei de causa e efeito e, inclinadas que ainda são ao desequilíbrio e ao abuso, exigem severos estatutos dos homens para a regulação das trocas sexuais que lhes dizem respeito, de modo a que não se façam salteadores impunes na construção do mundo moral.
Os débitos contraídos por legiões de companheiros da Humanidade, portadores de entendimento verde para os temas do amor, determinam a existência de milhões de uniões supostamente infelizes, nas quais a reparação de faltas passadas confere a numerosos ajustes sexuais, sejam eles ou não acobertados pelo beneplácito das leis humanas, o aspecto de ligações francamente expiatórias, com base no sofrimento purificador.
De qualquer modo, é forçoso reconhecer que não existem no mundo conjugações afetivas, sejam elas quais forem, sem raizes nos principios cármicos, nos quais as nossas responsabilidades são esposadas em comum.
Emmanuel - Vida e Sexo

ANTICONCEPCIONAIS E REENCARNAÇÃO


Anticoncepcionais e reencarnação

O controle da natalidade vem sendo praticado desde os primórdios dos tempos. A civilização humana sempre encontrou raízes ou ervas com as quais feiticeiros ou médicos procuravam interferir no processo da concepção ou mesmo da gestação em curso.

Mesmo aqueles casais avessos aos processos artificiais frequentemente optam por "métodos naturais", evitando relacionamento sexual nos dias férteis e objetivando o mesmo resultado: a limitação da natalidade.

Teoricamente, em todos os casais haveria uma possibilidade de número maior de filhos, caso não houvesse alguma forma de controle ou planejamento familiar. Essa constatação nos leva a crer que há, na quase totalidade dos casais, alguma interferência, por livre iniciativa, sobre a natalidade de seus filhos.

Em face do exposto, o bom senso nos leva a posicionar realisticamente, sem no entanto perdermos a visão idealística. Nós, seres humanos, já conquistamos o direito da liberdade de decidir, evidentemente com a responsabilidade assumida pelo livre arbítrio. O Homo Sapiens já possui a possibilidade de escolher a rota de seu progresso, acelerando ou reduzindo a velocidade de seu desenvolvimento espiritual. Somos os artífices da escultura de nosso próprio destino.

Nas informações que são colhidas, psicográfica ou psicofonicamente, os Espíritos nos expõem a respeito da planificação básica de nossa vida aqui na Terra, projeto desenvolvido antes de reencarnarmos. Se é verdade que os detalhes serão aqui por nós construídos, certamente o plano geral foi anteriormente elaborado no Mundo Espiritual, frequentemente com nossa aquiescência. Dessa planificação básica, consta o número de filhos.

Se um determinado casal deveria receber 4 filhos na sua romagem reencarnatória e não o fez, pelo uso das pílulas anticoncepcionais ou outro método bloqueador da concepção, ficará com a carga de responsabilidade a ser cumprida. Não se permitiu a complementação da tarefa a que se propôs antes de renascer.

A grande questão que surge é com relação às consequências advindas da decisão de limitar a natalidade dos filhos. Sabemos que há, frequentemente, uma transferência do compromisso estabelecido para outra encarnação.

Sucede muitas vezes que essa decisão de postergar compromissos determina a necessidade de um replanejamento espiritual com relação àqueles designados à Reencarnação em um determinado lar. Podem os mesmos obter "novos passaportes" surgindo como netos, filhos adotivos ou outras vias de acesso elaboradas pela Espiritualidade Maior. Ocorrerá, nesses casos, a necessidade de um preenchimento da lacuna de trabalho que se criou ao se impedir a chegada de mais um filho.

O trabalho construtivo, consciente ou inconscientemente desenvolvido, para a substituição do compromisso previamente assumido, poderá compensar pelo menos parcialmente a dívida adiada. Qualquer débito cármico poderá ser sanado ou apagado por potenciais positivos, às vezes, bem diversos dos setores daqueles que originaram as reações. No entanto, o labor amoroso na área mais específica da maternidade e da infância carentes são naturalmente mais indicados para a harmonização das energias tornadas deficientes nessa área.

Se o ideal é que cumpramos o plano de vida preestabelecido, é também quase geral o fato de que neste Planeta a maioria não logra êxito na execução total de suas tarefas. Resta-nos a necessidade de consultar honestamente a consciência, pois pela intuição ou sintonia com nosso eu interno encontraremos as respostas e dúvidas (ou dívidas) particulares nesse mister.

É constatação evidente o fato de, normalmente, não nos recordarmos dos planos previamente traçados, mas é verdadeiro também que, frequentemente, fazemos "ouvido de mercador" aos avisos que nosso inconsciente nos transmite. Não esperemos respostas prontas ou transferência de decisão para quem quer que seja. Afinal, estamos ou não lutando para fugir das mensagens dogmáticas, do "isto é permitido" e "isto não é"? Cada casal deverá valorizar o mergulho em seu inconsciente, sentir, meditar, e das águas profundas de seu espírito, trazer à superfície a sua resposta...

Ricardo Di Bernardi

sábado, 13 de outubro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Sofredores" parte 2

NOVEL
O Espírito dirige-se ao médium, que em vida o conhecera.
“Vou contar-te o meu sofrimento quando morri. Meu
Espírito, preso ao corpo por elos materiais, teve grande di-

ficuldade em desembaraçar-se — o que já foi, por si, uma
rude angústia.
A vida que eu deixava aos 21 anos era ainda tão vigorosa
que eu não podia crer na sua perda. Por isso procurava
o corpo, estava admirado, apavorado por me ver perdido
num turbilhão de sombras. Por fim, a consciência do meu
estado e a revelação das faltas cometidas, em todas as minhas
encarnações, feriram-me subitamente, enquanto uma
luz implacável me iluminava os mais secretos âmagos da
alma, que se sentia desnudada e logo possuída de vergonha
acabrunhante. Procurava fugir a essa influência interessando-
me pelos objetos que me cercavam, novos, mas
que, no entanto, já conhecia; os Espíritos luminosos, flutuando
no éter, davam-me a idéia de uma ventura a que eu
não podia aspirar; formas sombrias e desoladas, mergulhadas
umas em tedioso desespero; furiosas ou irônicas
outras, deslizavam em torno de mim ou por sobre a terra a
que me chumbava. Eu via agitarem-se os humanos cuja
ignorância invejava; toda uma ordem de sensações desconhecidas,
ou antes reencontradas, invadiram-me simultaneamente.
Como que arrastado por força irresistível, procurando
fugir à dor encarniçada, franqueava as distâncias,
os elementos, os obstáculos materiais, sem que as belezas
naturais nem os esplendores celestes pudessem calmar um
instante a dor acerba da consciência, nem o pavor causado
pela revelação da eternidade. Pode um mortal prejulgar as
torturas materiais pelos arrepios da carne; mas as vossas
frágeis dores, amenizadas pela esperança, atenuadas por
distrações ou mortas pelo esquecimento, não vos darão
nunca a idéia das angústias de uma alma que sofre sem
tréguas, sem esperança, sem arrependimento.
Decorrido um tempo cuja duração não posso precisar, invejando os eleitos
cujos esplendores entrevia, detestando os maus Espíritos
que me perseguiam com remoques, desprezando os
humanos cujas torpezas eu via, passei de profundo abatimento
a uma revolta insensata.
Chamaste-me finalmente, e pela primeira vez um sentimento
suave e terno me acalmou; escutei os ensinos que
te dão os teus guias, a verdade impôs-se-me, orei; Deus
ouviu-me, revelou-se-me por sua Clemência, como já se me
havia revelado por sua Justiça.
Novel.”

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Espíritos Sofredores"


Capitulo IV
Espíritos Sofredores
O Castigo
Exposição geral do estado dos culpados por ocasião da entrada no mundo dos Espíritos, ditada à Sociedade Espírita de Paris, em outubro de 1860.
"Depois da morte, os Espíritos endurecidos, egoístas e maus são logo tomados de uma dúvida cruel a respeito do seu destino, no presente e no futuro. Olham em torno de si e nada vêem que possa aproveitar ao exercício da sua maldade — o que os desespera, visto como o insulamento e a inércia são intoleráveis aos maus Espíritos.
Não levantam o olhar às moradas dos Espíritos elevados, consideram aquilo que os cerca e, então, compreendendo o abatimento dos Espíritos fracos e punidos, se agarrarão a eles como a uma presa, utilizando-se da lembrança de suas faltas passadas, que eles põem continuamente em ação pelos seus gestos ridículos.
Não lhes bastando esse motejo, atiram-se para a Terra como abutres famintos, procurando entre os homens uma alma que lhes dê fácil acesso às tentações. Encontrando-a, dela se apoderam exaltando-lhes a cobiça e procurando extinguir-lhe a fé em Deus, até que por fim, senhores de uma consciência e vendo segura a presa, estendem a tudo quanto se lhe aproxime a fatalidade do seu contágio.
O mau Espírito, no exercício da sua cólera, é quase feliz, sofrendo apenas nos momentos em que deixa de atuar, ou nos casos em que o bem triunfa do mal. Passam no entanto os séculos e, de repente, o mau Espírito pressente que as trevas acabarão por envolvê-lo; o círculo de ação se lhe restringe e a consciência, muda até então, faz-lhe sentir os acerados espinhos do remorso.
Inerte, arrastado no turbilhão, ele vagueia, como dizem as Escrituras, sentindo a pele arrepiar-se-lhe de terror. Não tarda, então, que um grande vácuo se faça nele e em torno dele: chega o momento em que deve expiar; a reencarnação aí está ameaçadora... e ele vê como num espelho as provações terríveis que o aguardam; quereria recuar, mas avança e, precipitado no abismo da vida, rola em sobressalto, até que o véu da ignorância lhe recaia nos olhos.
Vive, age, é ainda culpado, sentindo em si não sei que lembrança inquietadora, pressentimentos que o fazem tremer, sem recuar, porém, da senda do mal. Por fim extenuado de forças e de crimes, vai morrer. Estendido numa enxerga (ou num leito, que importa?!), o homem culpado sente, sob aparente imobilidade, resolver-se e viver dentro de si mesmo um mundo de esquecidas sensações. Fechadas as pupilas, ele vê um clarão que desponta, ouve estranhos sons; a alma, prestes a deixar o corpo, agita-se impaciente, enquanto as mãos crispadas tentam agarrar as cobertas... Quereria falar, gritar àqueles que o cercam: — Retenham-me! eu vejo o castigo! — Impossível! A morte sela-lhe os lábios esmaecidos, enquanto os assistentes dizem: Descansa em paz!
E contudo ele ouve, flutuando em torno do corpo que não deseja abandonar. Uma força misteriosa o atrai; vê e reconhece finalmente o que já vira. Espavorido, ei-lo que se lança no Espaço onde desejaria ocultar-se, e nada de abrigo, nada de repouso.
Retribuem-lhe outros Espíritos o mal que fez; castigado, confuso e escarnecido, por sua vez vagueia e vagueiará até que a divina luz o penetre e esclareça, mostrando-lhe o Deus vingador, o Deus triunfante de todo o mal, e ao qual não poderá apaziguar senão à força de expiação e gemidos.
Jorge."
Nunca se traçou quadro mais horrível e verdadeiro à sorte do mau: será ainda necessária a fantasmagoria das chamas e das torturas físicas?

As Bases do transformar-se item 3

- O CONHECIMENTO DE SI MESMO
3 - O CONHECIMENTO DE SI MESMO

"Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal? Um sábio da antiguidade vos disse: 'CONHECE-TE A TI MESMO:" (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos. Pergunta 919.)
De modo geral, vivemos todos em função dos impulsos inconscientes que se agitam no nosso mundo interior. Manifestamos, sem controle e sem conhecimento próprio, nossos desejos mais recônditos, ignorando suas raízes e origens. O campo íntimo, onde os desejos são despertados nas mais variadas formas, encontra-se ainda muito vedado diante de um olhar mais profundo. Refletimos inconscientemente um sem número de emoções, pensamentos, atrações, repulsas, simpatias, antipatias, aspirações e repressões. Somos um complexo indefinido de sentimentos e idéias que, na maioria das vezes, brotam dentro de nós sem sabermos como e por quê.

Somos todos vítimas dos nossos próprios desejos mal conduzidos. Se sentimos dentro de nós uma atração forte e alimentamos um desejo de posse, não nos perguntamos se temos o direito de adquirir ou de concretizar aquela aspiração. Sentimos como se fôssemos donos do que queremos, desrespeitando os direitos do próximo. Queremos e isso basta, cusle o que custar, contrariando ou não a liberdade dos outros. O nosso desejo é mais forte e nada pode obstá-lo, esta é a maneira habitual de (ungirmos internamente). Agindo desse modo, interferimos na vontade dos que nos cercam e contrariamos, na maioria das vezes, os desejos daqueles que não se subordinam aos nossos caprichos. Provocamos reações, violências de parte a parte, agressões, discussões, desajustes, conflitos, ansiedades, tormentos, mal-estares, infelicidades.

Vemos constantemente os erros e defeitos dos que nos rodeiam e somos incapazes de perceber nossos próprios erras, tão ou mais acentuados que os dos estranhos. As nossas faltas são sempre justificadas por nós mesmos, com razões claras ao nosso limitado entendimento. Colocamo-nos sempre como vítimas. Os outros nos causam contrariedades e desrespeitos, somos isentos de culpa e apenas defendemos nossos direitos e nossa integridade própria.

Esse comportamento é típico nos seres humanos e confirma o desconhecimento de nós mesmos, das reações e manifestações que habitam a intimidade do nosso eu, sede da alma. A grande maioria das criaturas humanas ainda se compraz na manifestação das suas paixões e não encontra motivos para delas abdicar em benefício de alguém; são os imediatistas, de necessidades mais elementares, com predominância das funções animais, como reprodução, conservação, defesa. Dentro dessa maioria, compreendemos claramente como hábitos mais evidentes e comuns a sensualidade, a gula, a agressividade, que, no ser racional, muitas vezes ultrapassam os limites das reações primitivas animais nos requintes de expressão, decorrentes daqueles três hábitos: ciúme, vingança, ódio, luxúria, violência. Podemos dizer que há, nesses tipos de indivíduos, a predominância da natureza animal, orgânica ou corpórea.

Uma pequena minoria da humanidade compreende a sua natureza espiritual, e como tal reflete um comportamento mais racional e menos impulsivo, isto é, suas necessidades já denotam aspirações do sentimento, algum esforço em conquistar virtudes e, assim, libertar-se dos defeitos derivados do egoísmo. Estamos todos, possivelmente, numa categoria intermediária, numa fase de transição de espíritos imperfeitos para espíritos bons e, portanto, ora nos comprazemos dos impulsos característicos do primeiro, ora buscamos alimentar o nosso espírito nas realizações do coração, na caridade, na solidariedade, no esforço de auto-aprimoramento. Vamos, assim, de modo lento, nas múltiplas existências, realizando o nosso progresso individual, elevando-nos na escala que vai do ser animal ao ser espiritual, alicerçando interiormente os valores morais.

Na resposta à pergunta 919-a, feita por Kardec aos Espíritos (O Livro dos Espíritos. Livro terceiro, capítulo XII. Da Perfeição Moral.), Santo Agostinho afirma: "O Conhecimento de Si Mesmo é, portanto, a chave do progresso individual". Todo esforço individual no sentido de melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal só pode ser realizado conscientemente, por disposição própria, distinguindo-se claramente os impulsos íntimos e optando-se por disposições que nos levam às mudanças de comportamento. Desse modo, "conhecer-se a si mesmo" é a condição indispensável para nos levar a assumir deliberadamente o combate à predominância da natureza corpórea.

E por quais razões o conhecimento próprio é o meio prático mais eficaz? Na Grécia, 400 anos antes de Cristo, Sócrates já assim ensinava. lissa sabedoria milenar ainda hoje é sobretudo evidente, e constitui o meio para evoluirmos. Não é compreensível que ao nos conhecermos estaremos a um passo de melhorar? Não se torna mais fácil, sabendo os perigos a que estamos sujeitos, afastarmo-nos
deles e evitá-los?
Ney Prieto Peres