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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Artigo da Revista O Reformador tratando do assunto ligado aos trabalhadores das Casas Espíritas.

Proveitosa conquista

CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO
“Quando fordes convidados, ide colocar-vos no último lugar, a fim de que,
quando aquele que vos convidou chegar, vos diga: meu amigo, venha mais
para cima. Isso então será para vós um motivo de glória, diante de todos os
que estiverem convosco à mesa; – porquanto todo aquele que se eleva será
rebaixado e todo aquele que se abaixa será elevado.” 1*



O capítulo VII, de O Evangelho segundo o Espiritismo, itens 3 a 6, destaca o princípio de humildade como fator determinante para a ascensão espiritual de todas as criaturas e fundamenta- se, entre outras, na passagem evangélica em destaque. A análise oferecida por Allan Kardec, no texto em questão, enaltece a
ideia fundamental de que necessitamos nos despojar de certas vaidades, chamando atenção, sobretudo,
para o cuidado que devemos ter ao assumir situações de relevo social, profissional, ou religioso,
frente ao mundo material:
O Espiritismo aponta-nos outra aplicação do mesmo princípio nas encarnações sucessivas, mediante as quais os que, numa existência, ocuparam as mais elevadas posições, descem, em existência seguinte, às mais ínfimas condições, desde que os tenham dominado o orgulho e a ambição. Não procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. [...]2*
A valiosa ressalva permite-nos avaliar, essencialmente, as práticas espíritas que desenvolvemos, ao
alimentar a superioridade ou a infalibilidade na execução dos trabalhos voluntários, considerando- os extremamente importantes ou prestigiosos. A questão suscita outras indagações indispensáveis
à nossa reflexão: Contribuímos sem impor exigências? Abraçamos os deveres humildes com devoção
e atendemo-los com amor? Acreditamos cooperar melhor quando nos tornarmos coordenadores de
equipes, em tarefas específicas e essenciais? Damos maior valor às próprias ideias do que às orientações
estabelecidas pela instituição, para o bom êxito dos labores?
Essas perguntas ajudarão na análise do problema. O Centro Espírita oferece-nos inúmeras oportunidades na realização de tarefas nobres e permite- -nos, pelo serviço no Bem, curar as mazelas morais adquiridas no
pretérito de nossas existências. As múltiplas ações que abarcamos – no estudo edificante, na mediunidade,
na evangelização, na assistência social, no atendimento fraterno, na imprensa espírita, na
propaganda libertadora – nos faz viver tempos de renovação e servir motivados pela Doutrina que
nos convoca às fileiras da caridade, sem olvidarmos os necessitados do caminho. Cada qual servindo a seu modo. Nem sempre, contudo, estamos preparados para dar a verdadeira importância às obras na esfera doutrinária e compreender o que elas representam para melhoria do nosso aperfeiçoamento
próprio. A maneira com que agimos, os motivos que determinam o nosso comportamento sincero, ao aceitarmos de boa vontade determinadas tarefas,é o que irá fixar o valor maior ou menor das nossas ações em benefício dos semelhantes. No entender de Vinícius (pseudônimo de Pedro de Camargo, 1878--1966), “o valor das obras não está nas suas grandes proporções, mas na pureza de intenção com que são executadas e no esforço empregado para sua consecução. [...]”.3* O autor, considerado um
dos maiores educadores e evangelizadores espíritas do nosso tempo, lembra-nos:
“[...] A viúva pobre fez mais deitando no gazofilácio do templo uma moedinha de cobre do que os ricos que ali despejavam punhados de ouro. O óbolo da viúva representa um valor maior, porque é a expressão do sumo esforço; era tudo que ela possuía. Dando tudo, não podia dar mais [...]”,3* como a querer dizer- nos: na seara do amor, onde operamos, não há serviço insignificante, não há tarefas menores; elas são apreciadas por Deus, segundo a sua soberana justiça, pela exteriorização dos nobres sentimentos que encobrimos no âmago do nosso coração.
Certos autores espíritas convocam- nos à labuta simples, sem que tenhamos pretensões de executar
grandes feitos, antes mesmo de amadurecermos como tarefeiros, por meio da aquisição de experiências
e estudos necessários ao cumprimento de ações que exijam especial dedicação, fidelidade e expressiva responsabilidade.
Yvonne A. Pereira (1906- -1984), a inesquecível médium, em uma de suas obras, lastima
profundamente a incompreensão de alguns iniciantes no Espiritismo, sobretudo os que aspiram
trabalhar na utilização de suas faculdades psíquicas, conforme suas possibilidades individuais, a serem bem cultivadas e praticadas, aconselhando-os:
[...] Todo médium deverá iniciar o seu desempenho no campo da Doutrina Espírita pelas vias da beneficência, porque assim fazendo desenvolverá os seus poderes psíquicos envolvido
nas faixas vibratórias superiores, junto aos Guias Espirituais, sempre incansáveis em recomendar a prática da beneficência e o estudo constante e metódico, desestimulando a ação arbitrária, de começar pelo fim[...].4*
A autora esclarece que o profitente, ao principiar na tarefa maior, deve compreender que o trabalho da caridade [...] é o serviço do silêncio, da modéstia; não vai para os jornais, nem para as tribunas ou rádios. Não serve para exaltar a vaidade, nem o orgulho, nem o prazer de se sentir admirado. É o trabalho da mão direita, que a esquerda não vê... Mas pelo Mestre e seus mensageiros é conhecido e saudado...5*

Colaborar, anonimamente, em qualquer auxílio de assistência aos irmãos necessitados, fazendo o
bem sem ostentação, é uma recomendação indispensável!
Trabalhadores existem, aos milhares, colaborando, ativamente, nas instituições espíritas; todavia,
raríssimos buscam enriquecer os seus talentos no plantio da verdadeira caridade.
Mesmo os mais
experientes deixam-se dominar pelo cultivo excessivo do raciocínio, esquecendo-se dos generosos
sentimentos no coração, que deve nortear a autêntica prática do Espiritismo junto de Jesus. O livro
espírita Os Mensageiros, do Espírito André Luiz, psicografado por Francisco C. Xavier, relata o caso de Monteiro, servidor entusiasta da colônia “Nosso Lar”, preparado para ser colaborador na iluminação de companheiros encarnados e desencarnados. Ao reencarnar, no entanto, aprimorou-se na aplicação do vício intelectual, desorientando- se completamente.6* Em seu desabafo, comenta alguns aspectos sobre as causas de sua derrota como trabalhador espírita, dirigindo-se aos companheiros que o visitaram, após a desencarnação difícil que tivera:
[...] Chegava ao cúmulo de estudar, pacientemente, longos trechos das Escrituras, não para
meditá-los com o entendimento, mas por mastigá-los a meu bel-prazer, bolçando-os depois aos Espíritos perturbados, em plena sessão, com a ideia criminosa de falsa superioridade espiritual. [...]
Andava cego. [...] Talhava o Espiritismo a meu modo. Toda a proteção e garantia para mim, e valiosos conselhos ao próximo.
Ao demais disso, não conseguia retirar a mente dos espetáculos exteriores. [...]*7

Quando, pois, nos seja oferecido o ensejo de ajudar na seara espírita, saibamos agir com simplicidade
e humildade, sob os efeitos da legítima fraternidade cristã, sem esperar recompensas, de nenhuma
ordem, mas procurando enriquecer os dotes de eficiência imprescindível, apurados nos predicados
de bondade, modéstia, perseverança e espírito de sacrifício, para o engrandecimento das realizações que nos aguardam, sob o amparo dos mentores espirituais que nos assistem com conselhos e orientações legítimas. E, conforme adverte o Espírito Emmanuel, estejamos vigilantes para não deixar que “[...] se amorteça, entre os discípulos sinceros, a campanha contra o elogio pessoal, veneno das obras mais santas
a sufocar-lhes propósitos e esperanças”. 8* Assim procedendo, haveremos de obter proveitosa conquista,
multiplicando as partículas de amor que tivermos distribuído em bênçãos de luz para todos.
Revista O Reformador 2010-Julho
Referências:
1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 25. ed.
de bolso. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2009. Cap. 7, item 5.
2______. ______. Item 6, p. 145.
3VINÍCIUS (pseudônimo de Pedro de Camargo).
Em torno do mestre. 9. ed. 1.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2,
cap. O valor das obras.
4PEREIRA, Yvonne A. À luz do consolador.
3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Psicografia
e Caridade, p. 184-185.
5______. ______. p. 186.
6XAVIER, Francisco C. Os mensageiros.
Pelo Espírito André Luiz. 2. ed. esp. 2.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 12,
p. 79-83.
7______. ______. p. 80-81.
8XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo Espírito
Emmanuel. 29. ed. 2. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2009. Cap. 70.

2- ÂMBITO DE AÇÃO. Capítulo do Livro Atendimento Fraterno.


A Equipe do Projeto
Os problemas que aturdem as criaturas humanas, nos dias de hoje, são os
mais diversificados possíveis e vão, desde a necessidade pura e simples do
conhecimento, às angústias superlativas dos que se encontram sobraçando os
mais pesados fardos. Nesta variada gama está a clientela que busca o
Atendimento Fraterno dos Centros Espíritas.
Uns perderam entes queridos e não conseguiram superar a dor dessas
perdas; outros, não alcançando um relacionamento estável na vida afetiva ou
familiar, transferem para o convívio social os seus conflitos, desajustando-se e
fracassando nas metas programadas; alguns, pedindo por outros, tocados de
compaixão ou incomodados pelo desequilíbrio daqueles com quem se
relacionam; há os vitimados pela pobreza, pelo desemprego, cuja problemática,
conquanto de ordem material, tem raízes e implicações mais profundas; também,
entre essa clientela, se incluem os viciados, vitimas de si mesmos mas, de um certo modo,
atingidos pelo meio hostil de uma sociedade ainda não transformada pelas luzes do Evangelho;
incluem-se os doentes de toda ordem: da mente, do corpo e da emoção, em
processos demorados de inadaptação social; por fim, os que, de uma hora para
outra, se vêem a braços com desafios superiores às suas forças. Todos pleiteando
soluções específicas e encaminhamentos adequados para suas dificuldades.
Em síntese, poderíamos dizer que o alcance do Atendimento Fraterno
engloba as diversas nuances do sofrimento humano e diretamente os
problemas engendrados pelo ego personalístico, que propelem os indivíduos
àutilização incorreta do livre arbítrio.
Destaque para a problemática da obsessão a doença do século, ainda
pouco considerada — pois de permeio com muitos desses conflitos humanos
estão as interferências espirituais variadas, gerando alterações do comportamento
e da emoção de ampliados riscos e conseqüências.
É o Centro Espírita um campo de trabalho, entre tantos outros, onde o
Cristo espera que a distribuição de Sua misericórdia seja prodigalizada.
Todavia, a atividade de ouvir e orientar-dialogando está presente em todo
lugar, é parte da vida, podendo e devendo ser exercida onde se esteja. Não há
quem não se recorde que, em algum momento da existência, precisou ser
ouvido e auxiliado por outrem a encontrar um rumo, a solucionar um conflito
interno. Esse alguém pode ter sido o pai, a mãe, um professor,um amigo ou mesmo um estranho que se aproximou, providencialmente, a
partir daí fazendo-se o benfeitor a favorecer com elementos decisórios
importantes para o existir.
Propomos, a seguir, algumas situações ou oportunidades onde o
Atendimento Fraterno se impõe como dever daqueles que disputam a honra de
ajudar e servir.
NO LAR
Esteja atento ao comportamento psicológico do seu familiar. Registrando
algo de anormal na sua convivência com ele, induza-o a abrir o coração.
Possivelmente ele está precisando de uma palavra de conforto moral, um
roteiro orientador para uma problemática iniciante, que poderá ser contornada
em tempo hábil mediante o apoio no seio da família. Lembre-se, sempre, que
Deus ajuda à criatura através de outra criatura.
Quando notar, no seu filho, os primeiros sinais da conduta anti-social e
anti-fraterna, aborde-o com bondade austera, evitando que a repetição da
ocorrência crie o hábito infeliz. Erradique no nascedouro as raízes do mal, não
permitindo que a falta de atenção lhe tolde a visão do que é mais essencial
para a sua própria vida: os deveres que o amor impõe no cuidado e zelo com
as plantas tenras que Deus lhe confiou.
Notando que alguém do círculo familiar vive dificuldades ásperas, inerentes
ao carreiro evolutivo, adiante-se para oferecer sua contribuição de ajuda,
tornando-se solidário. Conquanto não deva assumir por ele os deveres que a
ele compete, contribua, de algum modo, passando as suas experiências e
dando, com ele, os passos necessários para que se sinta seguro e amparado.
Receite, incessantemente, o tônico preventivo do amor, ensinando dentro
do lar os caminhos de Deus e da retidão de caráter, através do próprio
exemplo, antes que o “fermento” deteriorado das influências alheias arraste os
filhos dalma para o corredor escuro das viciações.
Ensinamentos sonegados no lar, colheita de êxitos diminuída.
NO TRABALHO
Não se isole do companheiro que divide com você as horas estafantes de
sua jornada de trabalho. Estando emocionalmente a ele ligado, em surgindo na
vida do colega a dificuldade moral e o momento inquietante, eis o seu instante
de compartilhar-ajudando, extravasando sentimentos fraternais em ondas de
amizade pura. O verbo, utilizado a serviço da compreensão, é como gotas de
remédio oportuno para minimizar aflições e abrir horizontes alentadores de
otimismo e de esperança. Se hoje você ajuda, mais adiante poderá ser aquele
que necessita ser ajudado.
Esforce-se para conservar o bom-humor, para que não seja você o
interruptor a desligar o circuito da alegria, destoando dos demais. Porém, a
pretexto de estar bem com todos não comungue com o anedotário vulgar e a
conversação vazada em termos maledicentes e depreciativos. Todos acabarão
se acostumando com o seu jeito de ser e respeitando os valores morais de seu
caráter reto. Essa é uma mensagem de auxílio que você passa silenciosamente.
Ante o rastilho de pólvora da desconfiança e da competição inescrupulosa. sejam seus a palavra sensata, a atitude fiel e o comportamento
recatado quanto nobre. E de real valor a presença de alguém que se pronuncie
com eqüanimidade e justiça onde medra a discórdia. disfarçada ou nao.
Defenda princípios de cooperação, valorizando o esforço de todos. Não
explorar nem se deixar explorar é atitude educativa que abre, sempre,
possibilidades para trocas de qualidade superior.
Passe uma mensagem não verbal que traduza a sua alegria de viver,
mantendo-se organizado e disponível. Uma decoração personalizada em sua
sala de trabalho, uma mensagem otimista, emoldurada num quadro de parede
ou sobre a sua carteira, pode ser o toque de sua presença falando à intimidade
das outras pessoas.
NA VIA PÚBLICA
Talvez seja coincidência um encontro inesperado, na rua, com uma pessoa
desconhecida; mas pode ser alguém trazido à sua presença, por Deus, a fim
de que você exercite a capacidade de amar ao próximo. Cumprimentando-a,
gentilmente, ouça-a com a devida atenção. a fim de que possa ser útil e (quem
sabe?) ajudá-la na solução de alguma dificuldade. Suas palavras, envolvidas
por um sentimento empático, podem redirecionar aquela mente, se atribulada,
abrindo espaço para que encontre resposta adequada.
*
Um ídolo do voleibol citadino percorria despreocupadamente a via pública,
dirigindo-se ao treinamento diário, quando, inesperadamente, ouviu alguém chamar-lhe. Voltou-se, curioso, para
identificar o apelante e deparou-se com um adolescente que, de imediato,
declarou-se seu admirador incondicional.
Conversaram durante alguns minutos, o suficiente para que o atlético
desportista notasse o rosto do rapaz coberto de feias cicatrizes, dando-lhe uma
aparência muito desagradável. Inquirindo, veio a saber que ojovem sofrera um
atropelamento que redundou naquele ser deformado que estava, agora, diante
dos seus olhos, fragilizado e infeliz.
Fizera oito operações plásticas de efeitos benéficos diminutos. Na semana
seguinte iria submeter-se à nona intervenção e encontrava-se muito
angustiado.
A sua família não lhe dava a atenção desejada e, naquele encontro casual,
estava recorrendo a um estranho para rogar apoio, compreensão, amizade.
Sim, estava pedindo que lhe fosse feita uma visita ao hospital geral da cidade,
onde seria operado, pois a sua convalescença seria muito difícil de enfrentada,
como das vezes anteriores, sem a presença dos familiares.
Sabendo da impossibilidade de atender àquela solicitação, em decorrência
dos compromissos profissionais do clube que defendia, o astro, religioso que
era, aproveitou o ensejo para estimular o rapaz, dizendo-lhe da excelência da
fé em Deus, que a ninguém desampara. Que ficasse tranqüilo porque tinha
certeza que, daquela vez, os resultados da cirurgia seriam exitosos.
Incutiu naquela mente juvenil as bênçãos do otimismo, da esperança, e já
ia despedir-se, quando o adolescente segredou-lhe:
— “Não fosse este encontro com você e, talvez, eu desse cabo da minha
vida, pois estava desesperado”.
NO TRANSPORTE COLETIVO
Verifique, sempre, quem está sentado ao seu lado, familiarizando-se com
aquela fisionomia que lhe parece desconhecida.
Pense: “Poderá ser alguém que esteja enfrentando as dificuldades naturais
da existência, carregando, nos ombros, difíceis problemas íntimos; senão,
poderá ser um amigo que a vida está me trazendo de volta”.
Tente auscultar o que transita na mente da pessoa, mantendo uma
conversação amistosa; aborde um assunto agradável para sondar-lhe a alma e,
notando algum indício de qualquer carência relacionada com a personalidade
fragilizada, fale da necessidade da comunhão com o Criador, que sempre dá
sinal de Seu amor pelas criaturas através de uma infinidade de meios, e, em
particular, pelos fios invisíveis do pensamento quando, em prece, a Ele nos
ligamos.
Demonstre o seu interesse por aquilo que ele fala pois, assim, terá a
oportunidade de prender a atenção do novo amigo para o que você lhe quer
transmitir. E passe-lhe pequenas notas de compreensão e de interesse, construindo,
a partir daquele instante, vínculos novos de amizade fraternal.
É a sua oportunidade para, discretamente, aplicar os recursos de uma
construção de ajuda, sem interesses subalternos. Introduza, nos sentimentos
dessa pessoa, que lhe parece um estranho, a força estimulante da sua
afetividade, qual o bom samaritano que usa dos recursos da caridade ao próximo sem a
preocupação de identificar-se.
*
Não se preocupe em tornar-se inoportuno. Fale sem constrangimento,
atirando a semente de bom-humor no solo promissor daquela alma merecedora
de atenção.
Sentado ao lado de um rapaz, visivelmente deprimido, na classe de um
trem suburbano, aquele coração gentil conseguiu saber, através de suas
habilidades inter-pessoais, do grande drama que se escondia naquele coração:
— “Minha prisão envergonhou meus pais. Nenhum dos meus parentes
visitou-me durante os oito anos que passei na Penitenciária Estadual pagando
a dívida que contraí para com a Sociedade.”
O rapaz conjecturava que isso tivesse acontecido porque seus genitores
eram pessoas de poucas letras e sem recursos financeiros para viajar. No
entanto, uma grande interrogação o inquietava a todo instante: “Será que os
meus entes queridos já me perdoaram?”
Para facilitar as coisas, escrevera previamente para eles, dizendo que
colocassem um aviso qualquer onde o trem iria parar, afim de facilitar a sua
decisão de continuar viagem ou regressar difinitivamente ao lar.
Quando o comboio de ferro se aproximou da cidade, embora as palavras
otimistas e cheias de esperança que o amigo inesperado lhe dissera, o jovem
não estava em condições psicológicas de olhar para a janela com o intuito de
verificar a mensagem que os pais tinham para ele.
Seu companheiro de viagem delicadamente ofereceu-se para essa incumbência, trocando de lugar com ele e se pondo a observar
através da janela. Minutos depois, colocou a mão no braço trêmulo do exsentenciado
dizendo em sussurro e emocionado:
— Vê, agora.
E o rapaz, com lágrimas incontidas nos olhos, leu a mensagem de boas
vindas:
— Benvindo sejas, filho de nossa alma.
NO CENTRO ESPÍRITA
Ao perceber alguém que chega, por primeira vez, a Casa Espírita a que
você está vinculado por laços de afeição e compromissos de serviços,
aproxime-se, sorria, converse... seja alguém a dar boas-vindas com efusão de
legítima fraternidade. Esse não é um trabalho protocolar e formal da
responsabilidade exclusiva de quem dirige a Casa, mas um impulso
espontâneo de quem está feliz com a convivência cristã e, por isso mesmo,
interessado em expandir sentimentos de amizade.
Lembre-se que uma recepção fria traduz apatia injustificável, e que a
presença de alguém na Casa Espírita, por muito tempo despercebida,
demonstra que os que estão ali albergados se encontram enclausurados em si
mesmos e pouco interessados na expansão da Boa Nova na Terra.
Que seja a sua presença na Casa Espírita uma viagem permanente ao
coração de seu irmão.
Integre-se no espírito da alegria, disputando a honra de trabalhar, com
todos e entre todos, sem preocupações hegemônicas ou dominadoras.
Cordialidade permanente, silêncio a qualquer impulso maledicente, o máximo de empenho para o aproveitamento de toda e qualquer
contribuição, sem cobranças, exibicionismos, querelas... lembre-se que, em
parte, depende de você o clima de amizade que atrairá os bons Espíritos.
Se marcas do passado e desafios do presente lhe ameaçam o
compromisso com a postura fraternal, discipline os impulsos e cumpra o seu
dever de trabalhar e servir até que possa amarem profundidade. Não seja você
a pedra de escândalo, nem o ácido dissolvente da amizade, mas, antes de
tudo, um ponto de referência para que o amor triunfe.
Cuidado com a indiferença, o desapreço e as preferências para que tais
atitudes não maculem a sua participação no esforço coletivo.
Se o companheiro se afastou, conquanto não saiba o motivo, interesse-se
por ele; nada custa um telefonema, uma visita, uma conversa estimuladora e,
se enfermo, a sua presença junto a ele. São essas atitudes deveres impostergáveis,
sem os quais a convivência cristã deixa de ter sentido, tornandose
igual a outra qualquer.
As vezes, você deixa de adotá-las, não por descaso, mas por excesso de
trabalho ou preocupações com os seus próprios problemas. Todavia, reveja a
atitude e refaça as prioridades, pois os deveres da solidariedade estão em
primeiro lugar no coração do espírita.

Reunião Desobsessiva.

A Medicina evoluiu a partir do estudo das doenças.
O que os médicos registraram nos compêndios primeiros lhes foi transmitido pelos doentes sobre os quais se debruçavam.
Na lida com os espíritos enfermos, domiciliados na Vida Maior , os médiuns têm muito que aprender.
Quem tem a visão da luz não tem a visão da treva.
O intercâmbio seguro com os desencarnados se manifestam na desobsessão encerra preciosos depoimentos que nem sempre serão obtidos através da palavra exclusiva dos Benfeitores.
A chamada reunião desobsessiva não deve ser relegada a plano secundário nas casas espíritas, sob pena de os homens se iludirem a respeito das verdades concernentes à vida além da morte.
O arquiteto , por mais culto se revele, não tem a prática do pedreiro.
O fruto que prende na árvore nada sabe da raiz a partir da qual se formou.
A palavra dos espíritos equivocados, ditos obsessores, se constitui , no mínimo ,  em permanente alerta para os que vivem distraídos no corpo.
Se o médico conhece a doença pelo nome, quem sabe descrever a dor é quem a está sentindo.


Ditado por Dr Odilon Fernandes.
Psicografado por Carlos A. Baccelli

Livro: Mediunidade Consciente.

Instrumentos Preferenciais

Os médiuns invigilantes são os instrumentos preferenciais das trevas para agredir o Espiritismo.
O médium que não saiba qual o seu lugar de servir ou não o aceita extrapola em suas atribuições.
Em mediunidade, o que faz a diferença é o espírito receptor do médium e não, como se crê, o espírito comunicante.
Mais difícil que convencer o médium quanto às realidades da Vida de além-túmulo é convencê-lo a manter a simplicidade.
O anseio afetivo do medianeiro torna-o naturalmente carente de projeção.
Quando o médium quer mostrar a si mesmo, o brilho do trabalho dos espíritos se eclipsa.
Todo médium espírita deveria buscar, solitariamente , o aval da periferia para  a tarefa pública que pretende desempenhar.
As flores que ornamentam os jardins no centro das grandes cidades não nasceram lá....
Os médiuns sem discernimento são os calcanhares-de-Aquiles do Movimento Espírita.
Infelizmente - é verdade!-, de maneira sorrateira, o profissionalismo mediúnico vem se instalando na Doutrina.

Ditado pelo Dr Odilon Fernandes
Psicografia: Carlos A.Baccelli.
Livro: Mediunidade Consciente.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Maledicência



“Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, fala mal da lei e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz.”
(Tiago, 4: 11)
Nem todas as horas são adequadas ao rumo da ternura na esfera das conversações leais.
A palestra de esclarecimento reclama, por vezes, a energia serena em afirmativas sem indecisão; entretanto, é indispensável grande cuidado no que
concerne aos comentários posteriores.
A maledicência espera a sinceridade para turvar lhe as águas e inutilizar lhe esforços justos.
O mal não merece a coroa das observações sérias. Atribuir lhe grande importância nas atividades verbais é dilatar lhe a esfera de ação. Por isso mesmo, o conselho de Tiago reveste se de santificada sabedoria.
Quando surja o problema de solução difícil, entre um e outro aprendiz, é razoável procurem a companhia do Mestre, solucionando o à claridade da sua luz,mas que nunca se instalem na sombra, a distância um do outro, para comentários maliciosos da situação, agravando a dor das feridas abertas.
“Falar mal”, na legítima significação, será render homenagem aos instintos inferiores e renunciar ao título de cooperador de Deus para ser crítico de suas obras.
Como observamos, a maledicência é um tóxico sutil que pode conduzir o discípulo a imensos disparates.
Quem sorva semelhante veneno é, acima de tudo, servo da tolice, mas sabemos, igualmente, que muitos desses tolos estão a um passo de grandes
desventuras íntimas. Livro: Fonte Viva


1- Tua medida ( Livro Renovando Atitudes ditada pelo espírito Hammed)

 Capítulo 10, item 11
“Não julgueis, afim de que não sejais julgados, porque vós sereis julgados segundo houverdes julgado os outros, e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles.”
(Capítulo 10, item 11) 2*
Toda opinião ou juízo que desenvolvemos no presente está intimamente ligado a fatos antecedentes. Quase sempre, todos estamos vinculados a fatores de situações pretéritas, que incluem atitudes de defesa, negações ou mesmo inúmeras distorções de certos aspectos importantes da vida. Tendências ou pensamentos julgadores estão sedimentados em nossa memória profunda, são subprodutos de uma série de conhecimentos que adquirimos na idade infantil e também através das vivências pregressas. Censuras, observações, admoestações, superstições, preconceitos, opiniões, informações e influências do meio, inclusive de instituições diversas, formaram em nós um tipo de ―"reservatório moral" - coleção de regras e preceitos a ser rigorosamente cumpridos -, do qual nos servimos para concluir e catalogar as atitudes em boas ou más.
Nossa concepção ético-moral está baseada na noção adquirida em nossas experiências domésticas, sociais e religiosas, das quais nos servimos para emitir opiniões ou pontos de vista, a fim de harmonizarmos e resguardarmos tudo aquilo em que acreditamos como sendo ―"verdades absolutas". Em outras palavras, como forma de defender e proteger nossos ―"valores sagrados", isto é, nossas aquisições mais fortes e poderosas, que nos servem como forma de sustentação.
Em razão disso, os freqüentes julgamentos que fazemos em relação às outras pessoas nos informam sobre tudo aquilo que temos por dentro. Explicando melhor, a ―"forma" e o ―"material" utilizados para sentenciar os outros residem dentro de nós.
Melhor do que medir ou apontar o comportamento de alguém seria tomarmos a decisão de visualizar bem fundo nossa intimidade, e nos perguntarmos onde está tudo isso em nós. Os indivíduos podem ser considerados, nesses casos, excelente espelho, no qual veremos quem somos realmente. Ao mesmo tempo, teremos uma ótima oportunidade de nos transformar intimamente, pois estaremos analisando as características gerais de nossos conceitos e atitudes inadequados.
Só poderemos nos reabilitar ou reformar até onde conseguimos nos perceber; ou seja, aquilo que não está consciente em nós dificilmente conseguiremos reparar ou modificar.
Quando não enxergamos a nós mesmos, nossos comportamentos perante os outros não são totalmente livres para que possamos fazer escolhas ou emitir opiniões. Estamos amarrados a formas de avaliação, estruturadas nos mecanismos de defesa - processos mentais inconscientes que possibilitam ao indivíduo manter sua integridade psicológica através de uma forma de ―"auto-engano".
Certas pessoas, simplesmente por não conseguirem conviver com a verdade, tentam sufocar ou enclausurar seus sentimentos e emoções, disfarçando-os no inconsciente.
Em todo comportamento humano existe uma lógica, isto é, uma maneira particular de raciocinar sobre sua verdade; portanto, julgar, medir e sentenciar os outros, não se levando em conta suas realidades, mesmo sendo consideradas preconceituosas, neuróticas ou psicóticas, é não ter bom senso ou racionalidade, pois na vida somente é válido e possível o ―auto-julgamento‖.
Não obstante, cada ser humano descobre suas próprias formas de encarar a vida e tende a usar suas oportunidades vivenciais, para tornar-se tudo aquilo que o leva a ser um ―eu individualizado‖. Devemos reavaliar nossas idéias retrógradas, que estreitam nossa personalidade, e, a partir daí, julgar os indivíduos de forma não generalizada, apreciando suas singularidades, pois cada pessoa tem uma consciência própria e diversificada das outras tantas consciências. Julgar uma ação é diferente de julgar a criatura. Posso julgar e considerar a prostituição moralmente errada, mas não posso e não devo julgar a pessoa prostituída. Ao usarmos da empatia, colocando-nos no lugar do outro, ―"sentindo e pensando com ele", em vez de ―"pensar a respeito dele", teremos o comportamento ideal diante dos atos e atitudes das pessoas.
Segundo Paulo de Tarso, ―é indesculpável o homem, quem quer que seja, que se arvora em ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticará as mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento‖.3* O ―"Apóstolo dos Gentios" manifesta-se claramente, evidenciando nessa afirmativa que todo comportamento julgador estará, na realidade, estabelecendo não somente uma sentença, ou um veredicto, mas, ao mesmo tempo, um juízo, um valor, um peso e uma medida de como julgaremos a nós mesmos. Essencialmente, tudo aquilo que decretamos ou sentenciamos tornar-se-á nossa ―"real medida": como iremos viver com nós mesmos e com os outros. O ser humano é um verdadeiro campo magnético, atraindo pessoas e situações, as quais se sintonizam amorosamente com seu mundo mental, ou mesmo de forma antipática com sua maneira de ser. Dessa forma, nossas afirmações prescreverão as águas por onde a embarcação de nossa vida deverá navegar.
Com freqüência, escolhemos, avaliamos e emitimos opiniões e, conseqüentemente, atraímos tudo aquilo que irradiamos. A psicologia diz que uma parte considerável desses pensamentos e experiências, os quais usamos para julgar e emitir pareceres, acontece de modo automático, ou seja, através de mecanismos
não perceptíveis. É quase inconsciente para a nossa casa mental o que escolhemos ou opinamos, pois, sem nos dar conta, acreditamos estar usando o nosso ―"arbítrio", mas, na verdade, estamos optando por um julgamento predeterminado e estabelecido por ―arquivos que registram tudo o que nos ensinaram a respeito do que deveríamos fazer ou não, sobre tudo que é errado ou certo.
Poder-se-á dizer que um comportamento é completamente livre para eleger um conceito eficaz somente quando as decisões não estão confinadas a padrões mentais rígidos e inflexíveis, não estão estruturadas em conceitos preconceituosos e não estão alicerçadas em idéias ou situações semelhantes que foram vivenciadas no passado.
Nossos julgamentos serão sempre os motivos de nossa liberdade ou de nossa prisão no processo de desenvolvimento e crescimento espiritual.
Se criaturas afirmarem ―"idosos não têm direito ao amor", limitando o romance só para os jovens, elas estarão condenando-se a uma velhice de descontentamento e solidão afetiva, desprovida de vitalidade.
Se pessoas declararem ―"homossexualidade é abominável" e, ao longo do tempo, se confrontarem com filhos, netos, parentes e amigos que têm algum impulso homossexual, suas medidas estarão estabelecidas pelo ódio e pela repugnância a esses mesmos entes queridos.
Se indivíduos decretarem ‗"jovens não casam com idosos", estarão circunscrevendo as afinidades espirituais a faixas etárias e demarcando suas afetividades a padrões bem estreitos e apertados quanto a seus relacionamentos.
Se alguém subestimar e ironizar ―"o desajuste emocional dos outros", poderá, em breve tempo, deparar-se em sua própria existência com perplexidades emocionais ou dilemas mentais que o farão esconder-se, a fim de não ser ridicularizado e inferiorizado, como julgou os outros anteriormente.
Se formos juízes da ―"moral ideológica" e ―"sentimental", sentenciando veementemente o que consideramos como ―"erros alheios", estaremos nos condenando ao isolamento intelectual, bem como ao afetivo, pela própria detenção que impusemos aos outros, por não deixarmos que eles se lançassem a novas idéias e novas simpatias.
―"Não julgueis, a fim de que não sejais julgados, ou mesmo", ―"se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles", quer dizer, alertemo-nos quanto a tudo aquilo que afirmamos julgando, pois no ―"auditório da vida" todos somos ―"atores" e ―"escritores" e, ao mesmo tempo, ―"ouvintes" e ―''espectadores" de nossos próprios discursos, feitos e atitudes.
Para sermos livres realmente e para nos movermos em qualquer direção com vista à nossa evolução e crescimento como seres eternos, é necessário observarmos e concatenarmos nossos ―"pesos" e ―"medidas", a fim de que não venhamos a sofrer constrangimento pela conduta infeliz que adotarmos na vida em forma de censuras e condenações diversas.

2* A presente citação e todas as demais que iniciam cada capítulo foram extraídas de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec. (Nota do autor espiritual.)
3* Romanos, 2:1

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A Paz? Não, Espada

Escrito por Paulo alves de Godoy

Artigo publicado no jornal Unificação - Ano XII - Março de 1965 - Número 144

“Não penseis que eu tenha vindo trazer a paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada; porquanto, vim separar de seu pai o homem, de sua mãe a filha, de sua sogra a nora; e o homem terá por inimigos os de sua própria casa”
(Mateus, cap. X, v. 34 a 36).

“Vim lançar fogo à Terra; e o que é o que desejo senão que ele se acenda?”

(Lucas, cap. XII. V. 49).


Habituamos a ler nas páginas fulgurantes dos Evangelhos apenas palavras de brandura e de tolerância, estranhamos quando Jesus muda de diapasão para proclamar que não veio trazer a paz à Terra, mas sim, a espada.
Jesus Cristo, modelo vivo da docilidade, da bondade e da misericórdia, que apenas proferia palavras de fé, de incentivo, de esperança e de brandura, de um momento para outro passa a externar palavras de sentido revolucionário.
Essa mudança de um pólo a outro parece paradoxal, se não abandonarmos a letra que mata para divisar apenas o espírito que vivifica.
Emmanuel, consultado sobre o sentido daquelas palavras do Nazareno, pontificou: “Todos os símbolos do Evangelho, dado o meio em que desabrocharam, são, quase sempre, fortes e incisivos. Jesus não vinha trazer ao mundo a palavra de contemporização com as fraquezas do homem, mas a centelha de luz para que a criatura humana se iluminasse para os planos divinos. E a lição sublime do Cristo, ainda e sempre, pode ser reconhecida como a “espada” renovadora, com a qual deve o homem lutar consigo mesmo, extirpando os velhos inimigos do seu coração sempre capitaneado pela ignorância e pela vaidade, pelo egoísmo e pelo orgulho”.
Deriva-se dessas palavras do grande mentor espiritual, que a espada significa o instrumento renovador que não tergiversa com os erros humanos e nem contemporiza com as falhas voluntárias daqueles que desejam manter o mundo acorrentado a inócuas tradições, vivendo sob a égide da superstição, do medo e do fanatismo.
Se o Messias viesse contemporizar com as nossas falhas descuidaríamos da nossa própria evolução, e passaríamos a aguardar, ansiosamente, que Ele voltasse de novo à Terra, fosse novamente crucificado e “arcasse outra vez com os nossos pecados”, no dizer dos antigos teólogos.
O Mestre não veio para nos livrar das nossas faltas, mas ensinar-nos o caminho para nos livrar delas. Não veio tomar sobre seus ombros o encargo das nossas transgressões, mas indicar-nos, através das palavras edificantes dos Evangelhos, como aprimorar nossas qualidades e nos aproximarmos da perfeição.
Jesus usava de palavras meigas e tolerantes para com os pequeninos e os pobres de espírito, mas também sabia empregar palavras cortantes e incisivas quando se dirigia aos escribas e fariseus hipócritas. A mesma boca que havia prometido a bem-aventurança aos aflitos, aos famintos e aos sequiosos de justiça, verberava acerbamente o procedimento dos fariseus que mantinham o povo na ignorância e no fanatismo. O mestre que prometia a recompensa aos pacificadores, aos mansos e aos pobres de espírito também acenava com os rigores dos sofrimentos expiatórios aos falsos mentores religiosos da época “que nem entravam no Reino dos Céus e nem deixavam que os outros entrassem” e que “colocavam pesados fardos nos ombros dos seus discípulos, mas que não ousavam sequer tocá-los com os dedos”.
Deduz-se ainda das palavras do Nazareno que não haverá trégua definitiva para os espíritos ociosos, tornando-se um imperativo a procura, pelos meios que nos é facultado, da fórmula ideal para levarmos as nossas cruzes, sem os inconvenientes das quedas sucessivas que retardam a nossa ascensão para Deus.
O fogo foi trazido à Terra pelo Meigo Rabi da Galiléia para que os homens se capacitem de que, somente pela luta interior em prol do aprimoramento moral e espiritual, a humanidade poderá equacionar seus milenares problemas e sair do estado caótico em que s

O Pecado é a Falta de Cada Um


Escrito por Bezerra de Menezes quando ainda encarnado

Artigo publicado no século 18, no jornal "O Paiz", no Rio de Janeiro - Fonte: "Espiritismo, Estudos Filosóficos", Volume I, Editora FAE - Agosto de 2001

11º - “Foi preciso que viesse à Terra o divino Jesus tomar sobre seus ombros os pecados do mundo e ensinar, pela palavra e pelo exemplo, o caminho da salvação, para correrem os ferrolhos que trancavam as portas da morada dos bem-aventurados”.
A revelação messiânica tem o maior alcance moral para a Humanidade, quer a considere em relação ao ortodoxismo, quer em relação ao Espiritismo.
No primeiro caso, Deus mandou seu unigênito Filho à Terra para sofrer, em si, a pena do pecado humano, e, por este sublime ato de amor, resgatar a culpa do primeiro tronco humano.
No segundo caso, suscitou Deus um enviado, um Messias pata trazer à Terra luz maior, luz que a Terra por seu adiantamento, já podia receber, a fim de, pela palavra e pelo exemplo, esclarecer-nos o caminho que leva à morada do Pai, e ensinar-nos a sofrer, até à morte, todas as misérias da vida, louvando o Senhor e seguindo seus preceitos.
Em ambos os casos, Cristo é o sublime reformador da Humanidade, o seu eterno modelo, mas sua missão é, pelos dois, diferentemente encarada.
Importa, pois, investigar os fundamentos das duas doutrinas, para reconhecer qual delas encara com Verdade o grandioso fato.
Subsistindo o dogma do pecado original e o da existência única dos espíritos, com os seus co-relativos: juízo definitivo, depois da morte, e definição eterna do destino humano, a interpretação ortodoxa da missão do Cristo, como redentor, é correta, e é mais do que isso, é necessária.
O Pai da Misericórdia não podia, sem tornar estéril esse superior atributo, manter, eternamente, suspensa sobre a raça condenada de seus pais a espada flamejante de sua tremenda justiça.
Mas, uma coisa notamos desde já, a ortodoxia explica sempre as coisas sobre-humanas por meios e processos rasteiramente humanos!
Se Deus quis, acalmando os ímpetos de sua cólera (sic), (assim) espargir sobre as vítimas de sua justiça o orvalho do amor e da misericórdia, por que não fazê-lo por simples ato de sua vontade, e exigir que fosse Ele próprio, na segunda pessoa da Trindade Divina, quem viesse sofrer o que cabia ao ser humano?
E, se o divino Jesus veio remir a Humanidade da culpa original, como se explica que sublata causa, (suprimida a causa) é eliminado o efeito, visto que o mal, oriundo daquele pecado, continua a produzir a danação do homem?
Nós compreendemos a redenção, como a entende a ortodoxia, pela extinção da causa que danou a Humanidade, e pela conseqüente extinção do verme do mal que ela produziu.
Assim, compreendemos a redenção.
Vir, porém, o próprio Deus a remir a Humanidade da causa do mal, deixando este incólume, como dantes, é incompreensível.
O Cristo não deixou a Humanidade como dantes, responder-nos-á a ortodoxia.
Ele remiu-a da culpa que não lhe permitia a entrada no Céu, e deixou ao livre-arbítrio de cada um aproveitar seu ensino e seu exemplo, que são a via e a vida.
Tudo isto é metafísico e reduz-se, em última análise, a dois princípios: o Cristo veio abrir as portas do Céu pela redenção da culpa original, mas deixou dependente do livre-arbítrio de cada um procurá-la ou evitá-las.
Ora, para se abrirem às portas do Céu à Humanidade, não era preciso o sacrifício de um Deus, coisa muito semelhante ao que se encontra em outras cosmogonias; bastava que o Eterno o quisesse.
E quanto a deixar ao livre-arbítrio de cada um o mérito ou demérito para a salvação, compreende-se que muito menos valia a pena o enorme sacrifício do Divino Cordeiro.
Tudo isto, porém, desaparece, evidenciando a procedência das nossas reflexões, uma vez removido o princípio fundamental da redenção ortodoxa: o pecado original.
Cremos ter provado este ponto de um modo incontroverso; e, pois, não tendo havido pecado original, nem podendo a culpa do pai passar aos filhos, é óbvio que a teoria ortodoxa sobre a redenção não subsiste, senão como uma ficção.
Jesus veio remir os pecados do homem, ensina o Espiritismo; mas veio fazê-lo, não abrindo as portas do Céu, que sempre estiveram abertas, não limpando a Humanidade do pecado original, que é um mito; porém, ensinando, com a palavra e com o exemplo, novas verdades, que esclareceram os horizontes da Humanidade, e lhe deram mais força e virtude para ascender a seu destino.
A missão de Jesus foi tão divina, assim considerada, como a considera a ortodoxia.
A diferença está, somente, em que num caso ela é um meio de resgate, que não resgatou, pois que ficou vigorando o mal, ao passo que no outro caso ela é sublime ensino, que tem produzido o grande progresso moral dos povos.
Jesus foi o continuador da obra de Moisés, foi o emissário da mais ampla revelação do Céu.
Jesus veio fazer o que está fazendo o Espiritismo, trazer a luz à medida do progresso que havia feito a Humanidade.
O pecado é falta de cada um e, portanto, a luz é trazida a todos, um por um.
Por este modo, a missão do Cristo subsiste, a despeito da eliminação do pecado original: e em nada a pode contrariar a subsistência do mal, como acontece na hipótese do ortodoxismo.
Jesus não veio arrancar a Humanidade da escravidão do pecado, transmitido de Adão e Eva; veio, sim, ensinar as Verdades, que alentam nossa natureza, para repudiarmos o Mal e mais nos afeiçoarmos ao Bem.

A obra messiânica de redenção é obra de educação


Fonte: "O Mestre na Educação" - FEB - 6ª Edição

Vamos definir a pessoa e a missão de Jesus, valendo-nos, para isso, da sua própria declaração, segundo consta dos Evangelhos.
Desejando que aqueles homens humildes e bons que escolhera para seus colaboradores soubessem quem ele era e donde procedera, interrogou-os, certa vez, indagando: Quem diz o povo que eu sou? Eles retrucaram: Dizem que sois um dos antigos profetas que ressuscitou. E, vós outros, prosseguiu o Senhor, quem dizeis que eu sou? Pedro, adiantando-se aos demais, respondeu: Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo.
Jesus, confirmando a resposta do velho pescador, acrescenta: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, pois não foi a carne nem o sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus...
Sabemos, portanto, quem é Jesus, pelo testemunho celeste que veio por intermédio de Pedro: é o Cristo, isto é, o ungido, o escolhido, Filho de Deus vivo.
Ungido e escolhido para que? Qual a missão que lhe foi confiada e quais as relações entre ele, o Filho, e o Pai celestial?
Jesus mesmo nos esclarece sobre este ponto, quando, ressuscitado, diz a Madalena, que pretende lançar-se aos seus pés e abraça-lo: Não me toques, ainda não subi para o meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Logo, o Deus de Jesus é o Deus da Humanidade, o Pai comum de todos os homens, sem nenhuma distinção.
Quanto ao compromisso que veio desempenhar neste orbe, nós o vemos claramente através da atitude que ele assumiu na sociedade terrena. Que fez Jesus? Começou reunindo algumas pessoas simples, arrebanhadas das camadas humildes, e foi-lhes ministrando lições e ensinamentos por meio de parábolas singelas, prédicas e discursos vazados em linguagem popular, cimentando com exemplos edificantes todas as doutrinas que transmitia.
A novidade da sua escola consistia particularmente na divulgação destes princípios: Todos os homens são filhos de Deus, têm todos essa mesma origem. Da paternidade divina, decorre, como corolário natural, a fraternidade humana, isto é, todos os homens são irmãos. Portanto, devem amar-se reciprocamente agindo em tudo segundo a lei de solidariedade.
No entanto, apesar da clareza, lisura e concisão de tal doutrina, são grandes as dificuldades em torna-la acessível à mente e ao coração humanos.
Verdades tão naturais, duma lógica irretorquível, comprovadas pelo testemunho de fatos incontestes, escritas em caracteres palpitantes no grande livro da Vida, contudo, continuam sendo objeto de controvérsias, discutidas por uns, rejeitadas por outros.
Ora, a missão de Jesus é precisamente comprovar aquele asserto, vencer os obstáculos conquistando a Humanidade. Essa obra, sendo de redenção porque visa libertar o homem dos limites que o prendem à animalidade, cujos vestígios, nele, são patentes, é, por isso mesmo, obra de educação.
Daí por que Jesus arrogou a si a denominação de Mestre, considerando aqueles que o acompanhavam como discípulos. Consignemos que foi o único título com que se adornou, e nenhum outro. Quando, certa vez, o chamaram “bom”, retrucou: Bom, só há um, que é Deus. Quando o disseram rei, repeliu peremptoriamente aquele qualificativo, declarando: O meu reino não é deste mundo. Apenas quis ser Mestre, e disso fez questão, advertindo os seus discípulos que só a ele o considerassem como tal. Eu sou o vosso Mestre, dizia, a ninguém mais concedais essa prerrogativa.
O papel que cabe ao mestre é educar. Entendemos por educação o desenvolvimento dos poderes psíquicos ou anímicos que todos possuímos em estado latente, como herança havida d’Aquele de quem todos nós procedemos.
Pestalozzi define assim a matéria ora em apreço: Educação é o desenvolvimento harmônico de todas as faculdades do indivíduo.
A instrução, portanto, faz parte da educação, por isso que se refere aos meios e processos empregados no sentido de orientar o indivíduo na aquisição de conhecimentos sobre determinada disciplina. A instrução dirige-se conseguintemente à inteligência. E a educação sob seu prisma intelectual, bem como a ginástica, os exercícios e esportes, criteriosa e convenientemente orientados, resumem o que denominamos “educação física”, cuja importância na esfera da higiene está perfeitamente comprovada.
Ao cultivarmos, porém, esta ou aquela faculdade do Espírito, resta que não desdenhemos as demais. A monocultura é desaconselhada em todo e qualquer terreno.
Em matéria educacional, são desastrosos os efeitos da concentração unilateral de esforços visando determinada cultura em detrimento e com menoscabo das demais.
Verifica-se, em geral, por parte dos pais, uma grande preocupação – até certo ponto muito louvável – sobre a educação dos filhos no que respeita à inteligência. Querem vê-los sobraçando um pergaminho, aureolados por um título que os habilite ao exercício duma profissão distinta, a qual, não só lhes assegure a independência econômica – o que importa, sem dúvida, em justa aspiração – mas que proporcione, sobretudo, riqueza, fama e glória. O futuro da prole é visto desse prisma utilitário e vaidoso que encerra, segundo semelhante critério, o alfa e o Omega da vida.
Há evidentemente uma ilusão nesta maneira de ver e proceder. Somos, nós os pais, vítimas do egoísmo, esse pecado original com que todos nascemos e do qual dificilmente nos vamos desvencilhando. Orgulhamo-nos com o diploma empunhado pelos herdeiros do nosso nome. Queremos vê-los alvo de aplausos e louvores, seja, embora, na órbita dum intelectualismo vazio e estéril. A nossa vaidade sente-se lisonjeada com isso, dando-nos a falsa impressão de havermos cumprido perfeitamente o nosso dever com relação àqueles que a Previdência Divina nos confiou para que os orientássemos na sua caminhada pela estrada da vida. Não cogitamos, senão perfunctoriamente, daquilo que concerne às qualidades morais, à formação e consolidação do caráter, a direção, em suma, que levará nossos filhos a criarem personalidade própria; não curamos de fazê-los homens de bem, independentes e honestos, com aquele mesmo interesse e afã que empregamos na ilustração do seu intelecto. Preocupamo-nos muito mais com o cérebro do que com o coração. Fazemos tudo para enriquecê-los da sabedoria livresca, deixando-os, às vezes, pobres de sentimentos.
Isto não quer dizer, apressamo-nos em declarar, que nós, os pais, menosprezemos a virtude deixando de reconhecer o valor da educação moral: absolutamente não. O que se dá é que geralmente se imagina que o ser bom, justo e verdadeiro; o ser probo, sincero e amorável, não requer aprendizagem. Supomos que tudo isso seja coisa tão natural e comezinha que não constitui matéria de ensino! Imagina-se que essa parte da educação, incontestavelmente a mais excelente, há de efetuar-se por si mesma, à revelia de cuidados, dispensando o aparelhamento requerido para outras modalidades de educação.
Tal o grande erro generalizado que é preciso corrigir. A idéia de geração espontânea é quimérica. Do nada, nada se tira.
Tudo o que germina, germina duma semente. Tudo o que evolve, evolve dum germe ou embrião. Não podemos esperar que aflorem na alma da mocidade qualidades nobres e elevadas sem que, previamente, tenhamos feito ali a sua sementeira.
Honestidade, espírito de justiça, noção do dever são as artes, e até mesmo os misteres mais simples, virtudes que se adquirem tal como é adquirido o saber neste ou naquele ramo das especulações cientificas. Tudo depende de estudo, experiência e tirocínio. As ciências requerem aprendizado.
O saber e a virtude são expressões daquela riqueza inacessível aos estragos da traça, à pilhagem dos ladrões, e que a própria morte não logrará arrebatar, por isso que representa o fruto do trabalho e do esforço próprio e individual. Daí decorre a legitimidade e a inalienabilidade da sua posse.
Os contemporâneos de Jesus, perplexos diante da sabedoria e do poder revelados por ele, diziam: Como sabe este letras sem haver aprendido? Não somos hoje tão ingênuos como os daquela geração, supondo que seja só este meio onde ora nós nos achamos, o único propicio para aprender, e que só este planetóide de categoria inferior constitui campo propicio para o Espírito atuar e agir desenvolvendo suas incalculáveis e maravilhosas possibilidades. O erro geocêntrico que fazia da Terra o centro do Universo, passou. Ninguém mais sustenta essa absurdidade. Podemos, pois, firmar este postulado: aquele que revela conhecimento e virtudes, caráter reto e íntegro, conquistou-os, aqui ou alhures, não importa onde, nem quando: constata-se o fato.
O patrimônio cientifico, como o moral, é sempre resultado da educação. A sementeira do bem e da verdade, do amor e da justiça, nunca se perde. Sua germinação pode ser imediata ou remota, porém jamais falhará. A obra da redenção humana é obra de educação. Jesus é o divino educador. Ele crê piamente na eficiência dessa obra, à qual consagrou a sua vida. Sim, Jesus nos deu a sua vida, não só no sentido do sacrifício cruento pela causa da nossa redenção, como na acepção de votar-se, de dedicar-se continuamente ao desempenho de tão ingente encargo. E de que maneira vem ele se desobrigando dessa incumbência? Ensinando, influindo e atuando na alma humana, através dos Espíritos de luz incorporados à Igreja triunfante que do Alto Jesus dirige. E o que ensinou e continua ensinando o excelso Mestre? Que diga por nós a eloqüência do inolvidável tribuno sacro, o grande Antônio Vieira:
“Vindo a sabedoria divina em pessoa, e descendo do Céu á Terra a ser Mestre dos homens, a nova cadeira que instituiu nesta grande universidade do mundo, e a ciência que professou foi só ensinar a ser bom e justo, santo, numa palavra, e nenhuma outra. A retórica deixou-a aos Tullios e aos Demóstenes; a filosofia, aos Platões e aos Aristóteles; as matemáticas, aos Ptolomeus e aos Euclides; a médica, aos Apolos e aos Esculápios; a jurisprudência, aos Eolões e aos Licurgos, e, para si, tomou só a ciência de salvar e tornar bons os homens”.
Eis aí a matéria, a disciplina que ainda não aprendemos. Sem o seu conhecimento não solucionaremos os nossos problemas, tanto do presente como do futuro. Duvidar, descrer dessa ciência e dessa arte que se chama educação, arte e ciência que têm por fim transformar o indivíduo, é negar a evidencia da evolução, essa lei incoercível, fartamente comprovada em todos os planos da Natureza, em todas as fases da Vida no seu curso infinito e progressivo.
Fora da educação, dessa educação que se transmuda em cada indivíduo em auto-educação, não há redenção possível. Tudo o mais que se tem propalado neste terreno não passa de pura fantasia. Quando o homem nota e percebe em si mesmo, no seu interior, o influxo da força renovadora da evolução, começa a colaborar conscientemente com Deus na formação da sua própria individualidade. Ruy Barbosa, num magistral discurso que pronunciou na Festa do Trabalho, teve a feliz inspiração: O Criador, disse ele, começa e a criatura acaba a criação de si própria. A segunda criação, a do homem pelo homem, assemelha, às vezes, em maravilhas, à mesma criação do homem pelo divino Criador.
Realmente, é isso precisamente o que se dá. O homem é co-autor dessa entidade misteriosa que é ele mesmo. Nascemos de Deus, fonte inexaurível da Vida, e renascemos todos os dias, em nós mesmos, através das transformações por que passamos mediante a influencia da auto-educação, cumprindo-se assim aquele célebre imperativo de Jesus: Sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito.
A confusão ora reinante na sociedade resulta do descaso a que se tem votado tão magna questão. Os males que flagelam a humanidade contemporânea procedem da descrença, do cepticismo e da falta de confiança na eficiência da educação moral. O mundo está em crise, crise de dignidade. Desta, se originam as outras. Não é de sábios que carecemos. Os problemas da inteligência estão, por assim dizer, resolvidos conforme atesta o surto imenso de progresso material atingido. Não obstante, o momento que atravessamos é dos mais angustiosos. Os grandes financistas e economistas não solucionam o problema do pão. Os estadistas de renome não resolvem satisfatoriamente o problema político. Os sociólogos de alta envergadura mostram-se impotentes diante dos problemas sociais tais como o pauperismo, o crime, o vicio e a enfermidade. Por que? Certamente porque lhes falta a percepção íntima das grandes realidades da Vida, dessa vida que não começa no berço nem termina no túmulo; percepção que só se alcança através do culto sincero da verdade; que só se aprende sondando os arcanos da consciência e auscultando a sua voz; que só se logra no estudo e na meditação da ciência da moral, que é a ciência do coração.
Não é de conhecimentos que precisam os homens da atualidade, responsáveis pela situação aflitiva dos dias que correm: é de sentimento!
Inteligência desenvolvida e culta, desacompanhada do senso moral, constitui sério perigo para a sociedade. Os grandes males que convulsionam o mundo não procedem dos analfabetos e dos ignaros, elementos mais ou menos inconscientes que agem como instrumentos; que não dispõem de meios e recursos para levarem a cabo as empresas maléficas de exploração, de escravatura e de opressões. São as inteligências cultas e traquejadas, sem moralidade e sem fé, divorciadas do verdadeiro sentimento religioso, que urdem e executam os planos diabólicas de usurpação de direitos, de espoliações e de tirania das consciências.
Todos sabem disso. É um fato que ninguém contesta. Mas, não basta sabermos, é preciso agirmos. Conhecer a origem dos males que nos afetam, não é tudo: é necessário atacá-los no seu reduto, desalojá-los para vencê-los. Não nos iludamos, pois: devemos cuidar da educação do nosso coração com o mesmo interesse e esmero que cuidamos do nosso cérebro. Se é vergonhosa a ignorância intelectual, mais ainda é a ignorância moral. Nem todos podem ser sábios, mas todos podem ser bons. A bondade também é força, e a mais poderosa e fecunda de todas, porque é força que constrói, é força que edifica. É com ela que removeremos os obstáculos e as pedras de tropeço do caminho da nossa evolução, na conquista de todos os bens, na escalada às regiões luminosas onde a Vida é eterna, e o amor, sem restrições nem intermitências, reina em todas as almas. Ó vós que sois pais, lembrai-vos da vossa responsabilidade como mentores dos vossos filhos. Ó vós, que sois preceptores e mestres, pesai bem o compromisso que assumis no desempenho da tarefa a que vos dedicais. Pais e mestres, cerrai fileiras dando as mãos uns aos outros, como legítimos expoentes do lar e da escola, as duas colunas em que a sociedade se apóia, os dois templos augustos, os dois santuários onde se exerce o verdadeiro sacerdócio.
“Sursum Corda!” Elevemo-nos acima das vulgaridades da época. Desembaracemo-nos das farandulagens do homem velho. Enverguemos a túnica do homem novo, do homem do futuro. Renasçamos para o porvir que será o resultado do labor presente. Sacudamos o pó da estrada percorrida. Abandonemos, de vez, as superstições e as utopias com respeito à nossa redenção. Sem educação porfiada, paciente e perseverante nada conseguiremos de positivo na obra da emancipação espiritual. Não é com pílulas e xaropes que se resolve o problema as saúde: é com higiene, no seu sentido amplo e lato. Não será com as consolidadas paulistas ou mineiras nem com as loterias que equilibraremos as nossas finanças avariadas: há de ser com trabalho e economia. Não é maquilagens e artifícios semelhantes que alcançarmos beleza e relativo prolongamento da mocidade: é obedecendo e respeitando a Natureza, cultivando bons costumes, hábitos honestos e pensamentos puros. Não é, finalmente, esposando crendices e condescendendo com preconceitos, rituais e cerimônias cuja essência se desfaz ao sopro do raciocínio, que lograremos a nossa salvação: é pela obra da auto-educação exercida com perseverança, sem esmorecimentos, com decidida vontade de nos espiritualizarmos, de nos aperfeiçoarmos continuamente.
Façamos ponto, citando as palavras autorizadas de Leon Denis sobre este momentoso assunto:
“Como a educação da alma é objeto da Vida, importa em resumir seus preceitos em palavras: aumentar tudo quanto for intelectual e elevado. Lutar, combater, sofrer pelo bem dos homens e dos mundos. Iniciar seus semelhantes nos esplendores do verdadeiro e do belo. Amar a Verdade e a Justiça, praticar para com todos a caridade, a benevolência – tal o segredo da felicidade presente e futura, tal o Dever, tal é a fé que Cristo legou à Humanidade”.
O problema do Brasil, disse o saudoso e humanitário facultativo Dr. Miguel Couto, é um só: Educação.
Parodiando o ilustre cientista patrício, diremos nós: Esse problema não é só do Brasil, é da Humanidade. Sendo o de cada um de nós, é o problema de todos, é o problema universal, por isso que é mediante a auto-educação que se processa a evolução dos seres livres, conscientes e racionais.

Construamos sobre a rocha


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

Ao concluir os ensinamentos do maravilhoso Sermão da Montanha, empregou Jesus a seguinte ilustração:
Todo aquele que ouve estas minhas palavras, e as observa, será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. Veio a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos, e combateram aquela casa, e ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha.
E todo aquele que ouve estas minhas palavras, mas não as observa, se assemelha a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. Quando a chuva caiu, os rios transbordaram, os ventos sopraram e a vieram açoitar, ela foi derribada e grande foi a sua ruína”. (Mateus, 7:24-27).

Essa advertência do Mestre tinha endereço certo: buscava penetrar a consciência dos que o ouviam; tocá-los, despertá-los e fazê-los sentir a necessidade de uma reforma de seus hábitos, pois sabia que, trabalhados, gerações pós-gerações pelo farisaísmo, se haviam esquecido do Decálogo que lhes fora dado no Sinai, tendo-se acostumado a observar tão-somente umas tantas práticas e cerimônias exteriores, persuadidos de que isso era o bastante para torná-los irrepreensíveis aos olhos do Senhor.
Ainda hoje, infelizmente, muitos existem, em todas as organizações religiosas, que incidem no mesmo erro. Invertendo a hierarquia dos valores, demonstram zelo extremado pelo que é secundário, negligenciando por completo aquilo que é essencial.
Também entre os espíritas – forçoso é reconhecê-lo – é grande, até agora, o número dos que se aferram às chamadas “sessões práticas”, nem sempre bem conduzidas, e não saem disso, esquecendo-se do estudo metódico e profundo da Doutrina, em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso, a fim de, com esse preparo, poderem auxiliar, eficazmente, tanto os desencarnados, nos trabalhos de esclarecimento e desobsessão, como os encarnados que careçam de melhor orientação na vida.
Outro engano comum a muitos que se têm na conta de cristãos, é o suporem que a memorização das Escrituras, o conhecimento teórico de princípios religiosos corretos ou a concordância com certos dogmas teológicos seja suficiente para a salvação de suas almas.
O mero assentimento intelectual à Verdade, entretanto, não constitui, por si só, mérito algum e será de todo inútil se não fizer que os homens produzam frutos de bondade e justiça no trato com os semelhantes.
Aliás, sabem-no todos, os crimes mais abomináveis que enegrecem as páginas da História foram praticados por criaturas que se vangloriavam de ser oráculos da Divindade, como há, ainda nos dias que correm, não poucos representantes da pretendida ortodoxia religiosa, cujos atos são de estarrecer.
Jesus veio revelar-nos que a Religião pura e genuína consiste, não apenas em satisfazer a formalismos cultuais, mas em cumprir os mandamentos da Lei, o que exige de cada um esforços constantes no sentido de vencer suas imperfeições e, ao mesmo tempo, em desenvolver aquelas virtudes que o levem a “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Então, semelhantemente ao homem sábio que edificou sua casa sobre a rocha, tomemos os preceitos divinos expostos pelo Mestre como fundamento de nossa norma de vida, e não simplesmente de nosso credo.
Sim, porque aqueles que pregam e ensinam tais preceitos, mas não testemunham aquilo que pregam e ensinam, assim os que confiam na eficácia dos sacramentos de sua igreja, mas não tratam de modelar seu caráter pelo do excelso modelo – o Cristo, estão construindo sobre a areia e, portanto, a si mesmos se reservam grandes amarguras e terríveis desilusões.

Rodolfo Calligaris