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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Amanhecer de esperanças

Os acontecimentos se precipitavam incontroláveis.
A região desértica e triste, que reverdecera sob a chuva de esperanças da palavra do Batista, seria o cenário de inusitadas ocorrências, preparando o amanhecer de uma nova e demorada Era - a do amor.
*
O amor ainda não abrasava os corações. Apenas em pequenos grupos vicejava, unindo familiares e greis que se prendiam a interesses recíprocos.
Raramente o sentimento de amor a Deus oferecia equipamentos para uma vida de confiança e irrestrita dedicação à fé.
Da mesma forma, o amor à Pátria esmaecera nos corações e o mercenarismo era o recurso legal para formar os exércitos e defensores da sociedade.
O sentimento de fraternidade espontânea quão desinteressada cedia lugar à mesquinhez moral do comportamento que assinalava pela traição, discórdia e realização do ego.
O amor começaria naquele momento a distender as suas raízes e desabrochar-se pela aridez das criaturas, alternando o comportamento humano.
Não se tratava de uma tarefa simples e fácil, porquanto iria alterar os conceitos da Filosofia hedonista, do imediatismo, ensejando uma transformação da sociedade, que só os lentos milênios conseguiriam materializar.
Para tanto, fazia-se inadiável começar; para isso veio Jesus.
*
As tribulações que Ele experimenta foram rudes.
Era necessário macerar-se, a fim de permanecer em Deus e o Pai nEle.
Por isso, o demorado jejum se fizera indispensável.
Tratava-se da preparação silenciosa, mortificadora, a fim de poder enfrentar a algaravia, o tumulto e as competições traiçoeiras que logo mais viriam.
As tentações foram rechaçadas pelo Seu caráter rigoroso e o momento havia chegado. João acabara de ser preso e os prognósticos eram sombrios.
Ele ousara desafiar Herodes Ântipas com o verbo flamejante, censurando-lhe a conduta reprochável da vida em concubinato com a cunhada Heroíades.
Os pigmeus morais, que se fazem grandes no mundo, não perdoamos gigantes da verdade, que os incomodam ou desconsideram as suas malezas.
Como parecera que João, ultrapassara os limites do suportável, seguindo pelo assassinato legal, eram as únicas maneiras de silenciar-lhe a voz.
Clamando no deserto, ele viera anunciar o Construtor do mundo novo, e lograra chamar a atenção das massas, que acorriam a escutá-lo, a fim de que estivessem vigilantes.
Seria naqueles dias, e a hora se fazia próxima.
Desse modo, o seu encarceramento, parecendo encerrar-lhe o ministério público, era o sinal
de mudança dos tempos.
Nesse momento, apareceu Jesus, na Galiléia, anunciando o novo panorama. Sua voz, clara
e doce, com matizes de sabedoria e força, começou a informar: - Completou-se o tempo e o
reino de Deus está perto: arrependei-vos e acreditai na Boa Nova. (*)
Os ouvidos e corações que aguardavam, escutaram-no e logo a multidão se reuniu para escutá-lo.
O verbo inflamava-se ao expor as bases das Mensagens e os objetivos transformadores de que se fazia portadora.
Não se tratava de mais um recurso salvacionista de ocasião, mas, de todo um portentoso,
trabalho de iluminação de consciência com a natural transformação moral, que lhe era
subseqüente para a renovação e felicidade da criatura e do mundo.
Não era fácil absorver-lhe de imediato os profundos conteúdos. No entanto, a poderosa
irradiação de beleza e ternura que dele se espraiava seduzia quantos lhes escutavam o convite.
Sorrisos confraternizavam com esperanças de melhores tempos, os de superação dos sofrimentos.
As criaturas não se apercebem que antes da colheita farta, é necessário cortar a terra, matar a semente, cuidar da planta com o contributo do suor e da constância para fruir a etapa final,
que é o recolher sazonado.
Mas isso, naquele tempo, não importava.
Havia sede e fome de paz, de justiça e de pão, e como Ele prometia Boas notícias em torno
do reino de amor e fartura, o que interessava era consegui-lo de imediato.
Estavam sendo, porém lançadas as primeiras balizas; tornava-se preciso reunir os obreiros,
aqueles que iriam trabalhar nas fundações da nova sociedade humana.
Ele saiu, portanto, após o primeiro discurso e rumou na direção das bandas do mar da
Galiléia.
Seria aquela região capital do reino na sua face terrestre.
Ali estavam as gentes simples, sofridas, necessitadas, mais fáceis de ser trabalhadas, mais
susceptível ao amor.
Logo viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
As criaturas humanas, mergulhadas no oceano das paixões, necessitavam de ser resgatadas. Desse modo, ele disse aos dois homens, que se detiveram a olhá-lo:
- Vinde após mim e farei de vós pescadores de homens.
Dominados pela voz e pela magia da Sua presença, sem qualquer discussão ou comentário,
eles, de imediato, deixaram as redes e seguiram-no.
Iniciava-se uma odisséia como jamais houvera antes e nunca mais volveria a acontecer.
Os convidados deixavam tudo e acompanhavam-no.
Pareciam conhecê-Lo e o conheciam. Sentiam-se amados e amavam apesar dos seus limites.
Logo após, a pequena distância, Ele viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que
estavam no barco a consertar as redes, e também os chamou.
A Sua voz penetrava a acústica da alma, e sem outra alternativa, como se O aguardassem,
eles deixando no barco seu pai com os assalariados seguiram-no e dirigiram-se a Cafarnaum.
Eles não conheciam qualquer plano ou projeto, como era a empresa e qual o seu desempenho nela nada sabiam...Apenas de seguiram-no.
Era original a Sua mensagem.
Os potentados do mundo, quando desejam algo, planejam-no, estudam-no e discutem os programas.
Os convidados a participar das suas empresas debatem os interesses, argumentam em defesa dos seus desejos, tomam e gastam tempo em considerações e diálogo infindáveis.
Com Ele, não, tudo era diferente, porque a Sua era uma proposta única, irrecusável, incomum.
Com quatro amigos, dois irmãos e mais dois, Ele iniciou a mais portentosa marcha
revolucionária da Humanidade: a construção do reino de Deus nos corações.
No sábado, Ele entrou na sinagoga e passou a ensinar, fundamentado na Tradição e no texto do dia, sem ter recebido informação prévia do tema para a discussão.
Sua palavra exteriorizava autoridade superior aos escribas e fariseus, facultando que todos se deslumbrassem ate os seus ímpares conceitos, jamais antes escutados.
De nenhuma Causa a humanidade tomara conhecimento com aquelas características.
*
Enquanto João amargava a prisão em Masquerus, na Peréia, Jesus vinha à luz na
verdejante e sorridente Galiléia.
Um período entrava em crepúsculo, em sombras e outro iniciava em amanhecer de lúculas
alvinitentes, iluminadoras.
(*) Marcos: 1 - 14 a 21.
Nota da Autora Espiritual

Capítulo do Livro Árdua Ascensão que nos conta os bastidores que trouxeram o Espiritismo para o Brasil. Leiam e comentem.

O PORQUÊ DO ESPIRITISMO NO BRASIL

Quando se estruturava a programática da reencarnação do Missionário Allan Kardec, em Lyon, na França, como Embaixador do Cristo, para dar início à Era do Espírito Imortal, considerando-se as tarefas que ali desenvolvera, dezenove séculos atrás, na condição de sacerdote druida, tiveram em mente, os Instrutores da Humanidade, eleger Paris para tal advento, levando-se em conta o elenco dos obreiros da latinidade que o acompanhariam, antecipando-o e dando prosseguimento ao extraordinário acontecimento.
Graças às vivências anteriores, em que amadurecera as experiências relevantes e acurara a sabedoria, mártir, mais de uma vez, sacrificado em holocausto dos ideais humanistas, filosóficos e cristãos, Allan Kardec mergulharia na densa névoa carnal, após a França retirar dos ombros a hegemonia política dos Bourbons, quando as aspirações máximas da humanidade, que a revolução de 89 viera implantar, abrissem campo aos supremos anseios da felicidade.
Nenhuma país reunia condições, naquele momento histórico, que pudessem rivalizar com as ali conquistadas, e lugar algum, exceto Paris, dispunha dos requisitos culturais e tradições da inteligência para o tentame ímpar.
En douceur1, os gênios benfeitores do homem estabeleceram que a França, mais uma vez, hospedaria o Missionário, a fim de que dali partissem, pulcras e imbatíveis, as diretrizes para o pensamento em relação ao futuro.
Laboratório de idéias que fermentavam ante a força dos elementos em debate, estavam presentes, então, todos os recursos para a avaliação dos conceitos expostos, no momento em que a Ciência, libertando-se das algemas dogmáticas e dos preconceitos do magister dixit2, alicerçava os seus fundamentos na insuperável linguagem dos fatos testados nas experimentações incessantes.
Ao mesmo tempo, a Filosofia arrebentara os grilhões das escolas ancestrais e abria campo a novos cometimentos, aliando-se, no futuro, ao materialismo dialético, histórico e mecanicista, num afã de destruir o passado para edificar o futuro em bases inteiramente descomprometidas com quaisquer vinculações precedentes.
Nesse ínterim, a Religião, dividida em ortodoxias, rivais que se digladiavam reciprocamente, apresentava a paisagem desvitalizada do Cristianismo, numa Instituição formal e de superfície, que em nada recordava o Revolucionário do Amor, que libertara as consciências para um reino sem fronteiras, onde pudessem viger a fraternidade sem limite e a paz sem qualquer convulsão.
As idéias, em conseqüência, nesse campo de batalha, muitas vezes nasciam ao amanhecer, envelheciam ao meio-dia e morriam à noite, sepultadas, logo depois, nos jazigos do esquecimento.
"Melhor ser vaiado em Paris - afirmava-se, então - e no mundo inteiro ignorado, do que aplaudido em toda parte, mas, em Paris, desconhecido."
Não era jactância, nem presunção, e sim o retrato vivo de uma cidade que se sabia iluminada, de um povo ateniense que a habitava consciente das próprias conquistas. C'est tout dire3.
Ora, esperava-se que o impacto de uma ciência nova, de cujos alicerces ressumasse um conteúdo filosófico, no barátro das escolas de pensamento as mais proeminentes, deveria ser amortecido pelo choque decorrente do atrito com as demais áreas ideológicas, conforme havia sucedido antes e acontecia continuamente. Isto, porém, não se deu em relação ao Espiritismo.
Incontestado na sua origem - o fenômeno da imortalidade da alma, confirmado através da comunicação mediúnica -, porque todas as contradições que se levantaram careciam de estrutura experimental e as aguerridas acusações de que padecera resvalavam pela rampa do fanatismo, religioso ou do materialista sem os subsídios dos fatos, sobreviveu, adquirindo cidadania científica.
Concomitantemente, o seu contexto filosófico, remontando às mais antigas doutrinas do reencarnacionismo oriental, do pitagorismo e do idealismo grego, constitui a única forma cultural de compreender Deus e a origem da vida, o homem e as causas das aflições, o destino e a finalidade do ser na Terra...
Ao mesmo tempo, afirmando que Jesus é o "Ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de Modelo e Guia"4, ressuscita a Sua Doutrina, em toda a sua grandeza moral, cujos princípios dividiram a História, trazendo as linhas mestras do comportamento ético-social do indivíduo em relação a Deus, a si próprio e ao seu próximo.
Resistindo a todas objurgatórias, assim como demonstrando-as falsas, o Espiritismo venceu os acanhados dom-quixotes das lutas inglórias e saiu dos arraiais sitiados onde parecia submetido, para ganhar as léguas do mundo...
Religião do amor, empreendia a batalha da transformação do mundo por meio da renovação e aprimoramento ético do homem, que se utiliza do progresso intelectual para adquirir o moral, definitivo, religando, em perfeita união, o Criador à Sua criatura.
Quando Allan Kardec desencarnou, a Doutrina permaneceu e firmou os seus pilotis no cerne da cultura adversa que, lentamente, o absorveu e aceitou, face ao desempenho dos seus adeptos e à fortaleza dos conceitos apresentados, que decorrem da demonstração experimental, resistente a quaisquer suspeitas e indisposições adredemente estabelecidas.
Entretanto, quando se organizavam os roteiros para o advento do Consolador na Terra, mediante a Doutrina Espírita, os abnegados e sábios Mentores da França foram informados de que ali se iniciaria o programa, que, todavia, se iria fixar, por algum tempo, em outro país, de onde se dilataria, abraçando todo o planeta ao largo dos séculos...
A alma francesa contribuiria com o tesouro cultural para os primórdios da "fé raciocinada", contudo, seria num continente jovem, num povo em formação, no qual se caldeavam raças e caracteres, que mais ampla e facilmente se desenvolveria, especialmente, levando-se em conta a falta de carmas coletivos naquela nacionalidade.
A França, onde renasceram os atenienses, estava assinalada por glórias e misérias, guerras externas e lutas intestinas que lhe não permitiriam, por enquanto, a dilatação dos ensinamentos cristãos nos enfoques da vivência moderna, demonstrando moralmente a grandeza do Espiritismo.
Desse modo, tão logo estivesse implantado o ideal espírita, seria trasladada a árvore evangélica, de cuja seiva a ciência se sustentaria para os arrojados cometimentos futuros e em cuja filosofia racional as criaturas se nutririam, adquirindo o vigor para as existências enobrecidas.
O Brasil, porque destituído de débitos coletivos mais graves, houvera sido escolhido para esse segundo período da realização e crescimento espiritista.
Sem comentar os acontecimentos de menor gravidade histórica, a escravatura negra e a guerra do Paraguai pesam-lhe na economia evolutiva.
A primeira, como herança dos colonizadores, que a Princesa Isabel encerrou, mediante a Lei Áurea, e a segunda, a nação, no futuro se reabilitaria, por meio de inestimável auxílio ao progresso do país irmão, que lhe fora vítima, após a provocação perpetrada pelo seu então ditador Rosas...
Convencionou-se, desse modo, que muitos franceses fossem transferidos, em Espírito, para as terras novas, a fim de receberem a Doutrina, oportunamente, quando para o Continente americano do sul fosse transportada.
Esse acordo precedeu ao renascimento de Allan Kardec, em Lyon, que anuíra de boa mente com o estabelecido.
Sem embargo, porque na psicosfera da nacionalidade francesa permanecessem dezenas de milhares de revolucionários frustrados, infelizes, vitimados pela arma de José Guillotin, que os ventres das mulheres aturdidas se negavam a receber em maternidade redentora, assim abortando em larga escala, foi concertado que o Brasil receberia esses Espíritos sofridos, de modo a auxiliá-los no processo da evolução, reparando as faltas e ajustando-se ás linhas do progresso intelecto-moral, ao mesmo tempo que contribuiriam para a fraternidade e a liberdade de consciência de que o Espiritismo se faz paradigma por excelência.
O método dialético e o cartesiano utilizados por Allan Kardec para estruturar a Codificação no cimento da lógica e do fato, exigem atenção e discernimento para de início serem penetrados.
Dessa forma, tão logo os reflexos doutrinários da Mensagem alcançaram as praias brasileiras da cultura, nos primórdios dos anos 60, do século XIX, a sintonia filosófica dos antigos revolucionários, dos lidadores da latinidade gaulesa, reencontrou o pensamento, de imediato adotando a sua ética e aceitando os seus postulados que, ao tempo que lhe falavam à mente arguta, sensibilizavam-nos, acalmando-lhes os sentimentos controvertidos e angustiados...
Não seja, pois, de estranhar-se a predestinação do Brasil para o labor espírita nem a sua aceitação ampla e profunda por todos os segmentos da sua sociedade desde o princípio, salvadas raras exceções.
Após a desencarnação de Allan Kardec, companheiros seus de lide e médiuns que cooperaram na realização da Obra colossal, retornaram ao corpo, na pátria brasileira, para darem continuação ao programa estabelecido com entranhada fidelidade aos postulados que exigem dedicação, renúncia até ao sacrifício, e fé estribada na razão.
Renasceram, portanto, em número expressivo, espíritas por segunda vez, alguns outros que conheceram a Doutrina antes do retorno ao corpo, a fim de promoverem a grande arrancada da divulgação e da realização doutrinária, capacitando-se a devolvê-la ao berço de origem e ao mundo, na mesma pureza e limpidez com que a herdaram do insigne Missionário.
Não que tudo transcorresse em clima de facilidade e mesmo de harmonia, porque onde se encontra o homem, aí se fazem presentes as suas paixões.
O trabalho se apresentava e prossegue gigantesco.
Faze derrubar velhas e arcaicas estruturas do comportamento ancestral, utilitarista e apaixonado, para dos escombros emergir uma nova mentalidade aberta à vida, que faculte espaços à solidariedade e ao amor, constitui um desafio dos mais expressivos. Ainda mais, se for examinado que muitos dos modernos trabalhadores da seara espírita são antigas personagens comprometidas com facções religiosas beligerantes, bem como partidos políticos exaltados, ora aprendendo disciplina e submissão, transferidas das posições relevantes para as de serviço, que o mergulho no corpo não pôde obnubilar completamente as anteriores impressões que lhes caracterizavam antes a conduta.
Penetrando no espírito do Espiritismo, ressumam, inevitavelmente, em todas as criaturas, as suas antigas predisposições, seja na área da informação científica, ou da filosófica, ou da religiosa. Todavia, na síntese perfeita em que se apresenta a Doutrina, como campo de harmonia desses três fundamentos do conhecimento humano, é que se expressa o conteúdo do Espiritismo que não pode nem deve ter dissociado nenhum dos seus membros.
Objetivando, porém, essencialmente, preparar o homem para a continuação da vida além do túmulo com todas as responsabilidades que lhe dizem respeito, é inevitável que a feição moral, rica de religiosidade, desperte-lhe os sentimentos superiores, plasmando-lhe a conduta evangélica, conseqüência natural da comprovação científica e da compreensão filosófica.
Outrossim, porque consoladora, alcança de imediato o ser perdido nos abismos do desespero, da angústia e da saudade, liberando-o dos tormentos, por atingir o âmago das questões que desencadeiam os sofrimentos e acenar-lhe com as esperanças felizes, mediante a ação do trabalho e a experiência auto-iluminativa da caridade.
Eis por que os litigantes de ontem, os delinqüentes do passado, que arrastam pelos séculos os caprichos e efeitos dos crimes, vieram reencontrar-se no pequeno burgo interiorano da comunidade brasileira, cenário novo para as lutas de redenção. Formavam no grupo dos que haviam sido transferidos, reencarnando-se ou não, para as plagas onde não tinham compromisso infelizes e poderiam com melhores probabilidades redimir-se, purificando-se no crisol das aflições que o encontra com o Espiritismo decantaria, na sucessão das experiências da evolução.

(Espírito de Victor Hugo - Divaldo Pereira Franco - Obra: Árdua Ascensão).



Notas do compilador: 1 - En douceur = devagar, sem pressa; 2 - Magister dixit = expressão dogmática com que os escolásticos da Idade Média ofereciam, como argumento sem réplica, a opinião do mestre (Aristóteles), como também diziam os discípulos de Pitágoras. Modernamente, diz-se de todo chefe de escola, doutrina ou partido; pode, também, ser dita a expressão ipso dixit (grego: Autos ephe); 3 - C'est tout dire = É quanto basta; 4 - "Jesus é o Ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de Modelo e Guia" - resposta dos Espíritos Superiores à pergunta 625 de "O Livro dos Espíritos".

Obs. do compilador: Fatos importantes são esclarecidos por Victor Hugo neste artigo. Todos personagens proeminentes (revolucionários e filósofos) que criaram as condições para as mudanças nos séculos 18 e 19, foram antigos atenienses reencarnados. Ele também afirma que Allan Kardec em encarnações anteriores havia sido mártir e sacrificado em holocausto (Em outras informações de Espíritos sabemos que Kardec havia sido Jan Huss).

DUPLA BENEFICÊNCIA


Emmanuel

A caridade, na forma externa, é suficientemente conhecida.
Toda organização assistencial é uma bênção de Deus, atenuando a penúria e o sofrimento onde surja.
Existe, porém, a beneficência mais íntima, que se comunica, de alma para alma, nas bases do silêncio e da compreensão.
*
A caridade mais íntima socorre a pessoa em necessidade sem aparecer; fala-lhe aos recessos do espírito sem palavras articuladas; apoia-lhe a vida sem mostrar-se; e ilumina-lhe o coração, sem ofuscar-lhe o entendimento.
*
Experimenta semelhante trabalho e observarás quanta alegria se te exteriorizará da existência.
*
Se conheces a necessidade de alguém, não esperes que esse alguém se coloque de joelhos a suplicar-te favor e estender-lhe o auxílio de que possas dispor; na hipótese de te faltarem recursos para isso, encontrarás os meios de sugerir a companheiros outros para que o façam, sem que a tua influência se mostre.
*
Quanto te convenças de que essa ou aquela criatura te requisita atenção para determinado assunto, ainda mesmo que disponhas de tempo escasso, podes dedicar-lhe alguns momentos, nos quais a tua palavra lhe signifique o apreço que te merece.
*
Nos problemas de natureza familiar, descobrirás, sem dificuldade, a trilha mental, no instante justo, através da qual consigas transitar, restaurando a harmonia doméstica, sem esperar agradecimentos.
*
Ante o amigo que se suponha em erro, saberás despertar-lhe as qualidades superiores que, porventura, estejam adormecidas, afastando-lhe os pensamentos de quaisquer sombras.
*
Perante uma criatura querida que te haja desfechado essa ou aquela ofensa, reconhecerás que estará ela em momento difícil e que te cabe esquecer o contratempo havido, já que em lugar desse ou daquele ofensor, poderíamos estar nós com os desacertos e precipitações que ainda nos caracterizam.
*
Não nos esqueçamos da beneficência externa que nos irmana uns aos outros, através da existência recíproca, nas experiências do cotidiano, mas atendamos à beneficência mais íntima, que ampara sem mostrar-se, erguendo sentimentos e levantando almas para a elevação de hoje, que perdurará nas alegrias do hoje e sempre.
 
 
Espírito: EMMANUEL Médium: Francisco Cândido Xavier Livro:"Convivência"-

TRABALHO E CRÍTICA


Emmanuel

Trabalho edificante em andamento no Plano Físico, onde se reúnem milhões de criaturas diferentes entre si, não se desenvolve sem críticas.
*
A pancadaria verbal cercará os obreiros.
E explodem objurgatórias, tais quais estas:
- Por que tanta lentidão nos detalhes?
- É impossível não estejam vendo as falhas com que se mostram...
- Aquele cooperador é um desastre...
- Não se compreende uma realização assim tão elevada em mãos tão incompetentes.
- Não consigo colaborar com gente tão despreparada...
- Tudo cairá sobre a turma irresponsável!
- Estão todos errados...
- Aguardemos o fracasso final...
*
Quando essas vozes se façam ouvir, não temas e prossegue trabalhando.
*
Imperfeições todos temos e teremos, até que possamos alcançar o Plano Divino.
*
Problemas evidenciam presença e colaboração.
Dificuldades trazem observações e observações justas geram insegurança.
*
Deixa que a censura te vigie e segue adiante.
Apesar de nossos erros e acima de todas as nossas deficiências, a construção do Bem não nos pertence; essencialmente, pertence a Jesus que zelará por ela, em nome de Deus.
E sabemos que o trabalho de Jesus não pode e nem deve parar.
*
A vida não nos pede o impossível para que nos integremos nos mecanismos da caridade, extinguindo as provações que atormentam a Terra, mas, para que o mal desapareça, espera de cada um de nós essa ou aquela migalha do bem.
 
Espírito: EMMANUEL Médium: Francisco Cândido Xavier Livro:"Convivência"-

ANTE OS ADVERSÁRIOS


Emmanuel

É possível encontres alguns adversários nas melhores realizações a que te entregas.
*
Se isso acontece, habitualmente estás diante de uma pessoa desinformada ou doente que te recebe com evidentes demonstrações de desapreço.
E quando esse alguém, não consegue asserenar-te o campo íntimo a certas reações negativas, por vezes, alteia a voz e se faz mais inconveniente nas provocações.
*
De qualquer modo, tolera o opositor com paciência e serenidade.
Ouve-lhe as frases ásperas em silêncio e reflete no desgosto ou na enfermidade em que provavelmente se encontre.
*
Quando haverá sofrido a criatura, até que se obrigue a trazer o coração simbolicamente transformado num vaso de fel?
*
Anota por ti mesmo que todos aqueles que ferem estarão talvez feridos.
*
Age à frente dos inimigos de teus ideais ou de teus pontos de vista, com entendimento e tolerância.
*
Advertiu-nos o Divino Mestre: - “Ora por aqueles que te perseguem ou caluniam.”
*
O Cristo nunca nos exortou ao revide ou à discussão sem proveito.
*
Induziu-nos a orar por todos os adversários ou acusadores gratuitos, dando-nos a entender que eles todos já carregam consigo sofrimento bastante, sem que necessitemos agravar-lhes as tribulações. E ainda mesmo que estejam semelhantes companheiros agindo de maneira insincera, saibamos confiá-los ao tempo, de vez que, para que se lhes reajuste os mais íntimos sentimentos, bastar-lhes-á-viver.
 
Espírito: EMMANUEL Médium: Francisco Cândido Xavier Livro:"Convivência"-

EVANGELHO E VIDA



Sheilla
 
No mundo de hoje, há boa vida e há vida boa.
 
Boa vida é bem-estar.
Vida boa é estar bem.
 
Por isso, temos criaturas de boa vida e criaturas de vida boa.
As primeiras servem a si mesmas.
As segundas respiram no auxílio incessante aos outros.
 
A boa vida tem rastros de sombra.
A vida boa apresenta marcas de luz.
 
A desordem favorece a boa vida.
A ordem garante a vida boa.
 
Palavra enfeitada costuma escorar voa vida.
Bom exemplo assegura vida boa.
 
Preguiça mora na boa vida.
Trabalho brilha na vida boa.
 
Ignorância escurece a boa vida.
Educação ilumina a vida boa.
 
Egoísmo alimenta a boa vida.
Caridade enriquece a vida boa.
 
Indisciplina é objetivo da boa vida.
Disciplina é roteiro da vida boa.
 
Vejamos as lições do Evangelho.
 
Madalena, obsidiada, perdera-se nos encantos da boa vida, mas encontrou em nosso Divino Mestre a necessária orientação para vida boa.
 
Zaqueu, afortunado, apegara-se em demasia às posses efêmeras da boa vida, entretanto, ao contato de Nosso Senhor, aprendeu como situar os próprios bens na direção da vida boa.
 
Judas, os discípulo invigilante, procurando a boa vida, entregou-se à deserção, e sentindo extrema dificuldade para voltar à vida boa, foi colhido pela loucura.
 
Simão Pedro, o apóstolo receoso tentando conservar a boa vida, instintivamente, negou o Divino Amigo por três vezes numa só noite, entretanto, regressando, prudente, à vida boa, abraçou o sacrifício pela própria ascensão, desde o dia de Pentecostes.
 
Pilatos, o juiz dúbio, interessado em desfrutar boa vida, lavou as mãos quanto ao destino do Excelso Benfeitor, adquirindo o arrependimento e o remorso que o distanciaram da vida boa.
 
Todos os que crucificaram Jesus pretendiam guardar-se nas ilusões da boa vida, no entanto, o Senhor preferiu morrer na cruz da extrema renúncia para ensinar-nos o caminho da vida boa.
 
Como é fácil observar, nas estradas terrestres, há muita gente de boa vida e pouca gente de vida boa, porque a boa vida obscurece a alma e a vida boa mantém a consciência acordada para o desempenho das próprias obrigações.
 
Estejamos alertas quanto à posição que escolhemos, porquanto, pelo tipo de nossa experiência diária, sabemos com segurança em que espécie de vida seguimos nós.
 
Sheilla
 
(De “Comandos do Amor”, de Francisco Cândido Xavier)
 

CORAÇÃO INFANTIL



Meimei
 
Não relegues à sombra a criança que te pede aconchego ao templo do coração.
Ave implume no ninho de teus braços, desferirá seu vôo para os céus do futuro, transportando consigo a tua mensagem...
Cera frágil e delicada ao toque de tuas mãos revelará no porvir as idéias que hoje plasmas em sua contextura de flor...
Não lhe graves no livro puro das impressões nascentes, senão caracteres da luz que te abençoe a memória.
Esses olhos surpresos que te observam as atitudes, esses ouvidos minúsculos que te guardam a palavra direta e essa alma doce e tenra que se levanta para a escola dos homens, assimilará teus exemplos, retratando-te a vida.
Ensina-lhe a conquista do bem, para que o mal não se desenvolva, sufocando-te as horas.
O divertimento do berço é o prelúdio da atividade na praça pública.
O brinquedo no lar inspira o trabalho no mundo.
Por que plantar no solo da experiência infantil as sementes de arrogância e preguiça, perversidade e destruição?
É justo acordes a criancinha para a noção da própria dignidade, mas é lamentável lhe induzas ao crime.
É natura que o menino de agora se erga para o valor com que se mantenha acima das vicissitudes humanas, entretanto, devemos chorar sobre a nossa própria maldade, toda vez que lhe inclinemos o espírito aos delitos da violência.
Coopera com o Senhor de Nossos Destinos, amparando os rebentos do campo terrestre, para que se não detenham, mais tarde, nas grades da corrigenda ou nos sepulcros da frustração.
Responderemos pelas imagens com que lhes formamos os sentimentos.
Compadece-te, pois, da criança que respira e sonha ao teu lado, auxiliando-a a pensar e servir, a fim de que o trabalho lhe enriqueça o caminho e para que a educação lhe norteie o caráter.
Por amor ao teu próprio futuro, auxilia-a a crescer nos padrões do Divino Benfeitor, que nos advertiu, entre a responsabilidade e a ternura:
— Deixai vir a mim os pequeninos!...
E, conduzindo a Jesus as crianças de hoje, teremos o Reino de Deus na Terra, construído em favor de nós todos, pelos artífices de amanhã.
 
Meimei
 
(De “Comandos do Amor”, de Francisco Cândido Xavier)
 

ASSEIO VERBAL

 
Emmanuel
 
Nossa conversação, sem que percebamos, age por nós em todos aqueles que nos escutam.
 
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só o que for bom
para promover a edificação”
– Paulo (Efésios, 4:29).
 
Quanto mais se adianta a civilização, mais se amplia o culto à higiene.
Reservatórios são tratados, salvaguardando-se o asseio das águas.
Mercados sofrem fiscalização rigorosa, com vistas à pureza das substâncias alimentícias.
Laboratórios são continuamente revistos, a fim de que não surjam medicamentos deteriorados.
Instalações sanitárias recebem, diariamente, cuidadosa assepsia.
Será que não devemos exercer cautela e diligência para evitar a palavra torpe, capaz de situar-nos em perturbação e ruína moral?
Nossa conversação, sem que percebamos, age por nós em todos aqueles que nos escutam.
Nossas frases são agentes de propaganda dos sentimentos que nos caracterizam o modo de ser; se respeitáveis, traze-nos a atenção de criaturas respeitáveis; se menos dignas, carreiam em nossa direção o interesse dos que se fazem menos dignos; se indisciplinadas, sintonizam-nos com representantes da indisciplina; se azedas, afinam-nos de imediato, com os campeões do azedume.
Controlemos o verbo, para que não venhamos a libertar essa ou aquela palavra torpe. Por muito esmerada nos seja a educação, a expressão repulsiva articulada por nossa língua é sempre uma brecha perigosa e infeliz, pela qual perigo e infelicidade nos ameaçam com desequilíbrio e perversão.
 
Francisco Cândido Xavier - Livro Centelhas

Energia e Brandura

ENERGIA  E  BRANDURA
 Emmanuel
No caminho da vida, há que se aprender com a própria vida.
 
Na marcha do dia-a-dia, urge harmonizar as manifestações de nossas qualidades com o espírito de proporção e proveito, a fim de que o extremismo não nos imponha acidentes, no trânsito de nossas tarefas e relações.
Energia na fé; não demais que tombe em fanatismo.
Brandura na bondade; não demais que entremostre relaxamento.
Energia na convicção; não demais que se transforme em teimosia.
Brandura na humildade; não demais que degenere em servilismo.
Energia na justiça; não demais que seja crueldade.
Brandura na gentileza; não demais que denuncie bajulação.
Energia na sinceridade; não demais que descambe no desrespeito.
Brandura na paz; não demais que se acomode em preguiça.
Energia na coragem; não demais que se faça temeridade.
Brandura na prudência; não demais que se recolha ao comodismo.
No caminho da vida, há que se aprender com a própria vida.
Vejamos o carro moderno nas viagens de hoje: nem passo a passo, porque isso seria ignorar o progresso, diante do motor, e nem velocidade além dos limites justos, o que seria abusar do motor para descer ao desastre e à morte prematura.
Em tudo equilíbrio, porque, se tivermos equilíbrio, asseguraremos, em toda parte e em qualquer tempo, a presença da caridade e da paciência, em nós mesmos, as duas guardiãs capazes de garantir-nos trajeto seguro e chegada feliz.

Francisco Cândido Xavier - Emmanuel  - Livro Centelhas
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

MATEUS, 16º, 13 ao 20. — MARCOS, 8º, 27 ao 30. — LUCAS, 9º, 18 ao 21. Palavras de Jesus confirmativas da reencarnação. — Alusão de relações mediúnicas que podem existir entre os homens e as potências espirituais. — Missão de Pedro na igreja do Cristo. — Verdadeira confissão



MATEUS: capítulo 16º, versículo 13. Chegando às cercanias de Cesaréia
de Filipe Jesus perguntou a seus discípulos: Que é o que os homens dizem do
filho do homem? — 14. Eles responderam: Uns dizem que é João Batista;
outros que é Elias; outros, que é Jeremias ou um dos profetas. — 15. Jesus
lhes perguntou: E vós quem dizeis que eu sou? 16. Simão Pedro respondeu: és
o Cristo, filho do Deus vivo. — 17. Jesus respondeu: Bem-aventurado és,
Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne nem o sangue que Isso te
revelaram, mas meu pai que está nos céus. — 18. E eu te digo que és Pedro e
que sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e contra ela não prevalecerão
as portas do inferno. 19. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; e tudo o que
ligares na Terra será também ligado no céu e o que desligares na Terra será
desligado nos céus. — 20. Ordenou em seguida aos discípulos que a ninguém
dissessem ser ele Jesus o Cristo.
MARCOS: capítulo 8º, versículo 27. Jesus partiu daí com seus discípulos
para as aldeias dos arredores de cesaréia de Filipe e pelo caminho lhes
perguntava: Quem dizem os homens que eu sou? — 28. Responderam eles:
Uns dizem que João Batista; outros que Elias; outros que um como os profetas.
29. Disse-lhes então: Mas, vós, quem dizeis que eu sou? Pedro, respondendo,
disse: és o Cristo. — 30. E ele lhes proibiu que o dissessem a pessoa alguma.
LUCAS: capítulo 9º, versículo 18: Sucedeu que um dia, estando de parte a
orar rodeado de seus discípulos, Jesus lhes perguntou: Quem diz o povo que
eu sou? — 19. Eles responderam: uns — João Batista: outros — Elias; outros
— algum antigo profeta que ressuscitou. — 20. Disse-lhes ele: E vós quem
dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: O Cristo de Deus. — 21. Ele então
lhes proibiu muito expressamente que o dissessem a pessoa alguma. (105)
Estas passagens têm um duplo fim, que muito importantes as tornam:
lembrar aos homens o princípio da reencarnação e não deixar esquecessem as
relações medíúnicas que podem existir entre eles e as entidades espirituais.
Jesus firmava assim o que mais tarde viria a ser posto em evidência, explicado
e desenvolvido, em espírito e verdade, pela Nova Revelação.
Com efeito, as perguntas formuladas pelo Divino Mestre sobre o que
pensavam dele as gentes e as respostas que lhe foram dadas mostram não só
que a opinião geral lhe atribuia uma origem espiritual anterior àquela sua vida
terrena, vendo nesta uma existência nova num novo corpo, o que envolvia a
idéia da preexistência da alma e da reencarnação, como também que os
hebreus sabiam, embora confusamente, pelas tradições conservadas, que o
homem pode voltar muitas vezes à Terra, para concluir uma obra começada e
interrompida pela morte humana.
Ora, não contestando a opinião segundo a qual Ele podia ser a
reencarnação de um Espírito, como o de Elias, João, ou outro, Jesus confirmou
a hipótese do renascimento, perguntando: E vós quem dizeis que eu sou? —
hipótese que também confirmou no seu colóquio com Nicodemos.
“Se a crença de reviver na Terra, diz o autor da Divina Epopéia, sob o
nome de ressurreição, a que hoje, pela revelação nova, chamamos
reencarnação, fosse um erro, Jesus, o verbo de Deus, a luz verdadeira que
alumia a todo que vem a este mundo, não teria deixado de combatê-la, como
combateu tantas outras. Ao contrário, Ele a sancionou, proclamando-a como
uma condição necessária e indispensável para o progresso e adiantamento da
Humanidade”.
Não te admires de eu dizer: é necessário que torneis a nascer, observou o
divino Mestre a Nicodemos (Evangelho de João, capítulo 3º, versículo 7). Deste
modo ratificou Ele, conforme acima dissemos, a lei natural do renascimento, da
reencarnação, apresentando-a como uma realidade e realidade ante a qual se
dissipam todas as dúvidas oriundas dos absurdos que, sob a capa do milagre,
pretendem os ortodoxos que admitamos. A reencarnação, pois, o
renascimento, a obrigação que tem o Espírito de reviver, como meio de chegar
ao estado de pureza integral, idéia que já se continha na revelação hebraica,
que constituiu princípio fundamental na revelação messiânica, mas que não foi
apreendida por virtude das interpretações literais a que estiveram sujeitas
essas revelações, constitui hoje, pela revelação nova, que as vem explicar em
espírito, uma verdade axiomática, expressão fiel do pensamento do Mestre
Divino.
E vós quem dizeis que eu sou? — perguntou Jesus a Pedro, que lhe
respondeu: És o Cristo, Filho do Deus vivo, isto é, o Enviado do Senhor.
Retrucando, Jesus lhe fez ver que o conhecimento dessa verdade lhe fora
dado por uma revelação vinda do Pai que está nos céus.
De fato, como podia Pedro saber, para o afirmar com tanta segurança e
firmeza, que Jesus era o Enviado de Deus, se tal coisa lhe não houvera sido
revelada? E de que modo pudera ter tido essa revelação, a não ser por uma
inspiração mediúnica? Ë claro que, na ocasião, ele foi apenas o instrumento
que serviu para a revelação de uma verdade, ou de um médium falante.
Logo, podemos e devemos concluir não só que Pedro era médium, como
que já então se davam essas revelações a que a Doutrina Espírita chama
mediúnicas.
Efetivamente, dotado de uma organização física bastante maleável para se
prestar a todas as influências mediúnicas, Espírito intelectualmente mais
adiantado do que os dos outros apóstolos, Pedro era, dentre estes, o que
possuía em maior extensão e poder os dons da mediunidade. Era, pois, o que
mais se prestava a servir de pedra fundamental para a construção da Igreja do
Cristo: “E eu te digo que és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.
Quer isto dizer que sobre a mediunidade é que assenta essa Igreja, que
assim repousa em alicerce inabalável, porqüanto a faculdade que aquele
apóstolo possuía havia de espalhar-se, como realmente aconteceu e está
acontecendo, mais do que nunca, nos tempos atuais, sem que o menor dano
lhe possam causar os ódios sectaristas, nem os interesses de qualquer
natureza: “contra ela não prevalecerão as portas do inferno”.
Assim sendo, é claro que todos os verdadeiros espíritas e, sobretudo, os
médiuns sinceros e humildes servirão para aquela construção, trazendo-lhe
cada um a sua pedra.
E, de tal modo, eles poderão, como Pedro, espalhando de mais em mais,
em torno de si, a luz que forem recebendo, ligar também e desligar na Terra,
certos de que o Senhor ligará e desligará no céu.
Não quer isso dizer, está visto, que o homem, quem quer que ele seja,
tenha o poder de absolver ou condenar, proferindo sentenças das quais não
haja apelação, nem mesmo para Deus. Quer unicamente significar que, conservando
a integridade da alma e a pureza do coração, obtendo, em
conseqüência e cada vez mais, as luzes que trazem os bons Espíritos, se
tornarão também cada vez mais aptos a julgar das coisas da Terra e das
coisas do céu, a dirigir pelo bom caminho os outros homens, a distinguir com
segurança os que se desviam e os que marcham fiéis e a poder fazer-lhes
sentir isso, sem perigo de erro.
E não se argumente tampouco com as palavras de Jesus declarando Pedro
a pedra fundamental da sua Igreja, para sustentar-se a infalibilidade do papa,
chamado o sucessor daquele apóstolo e o vigário exclusivo do Cristo na Terra.
Aquelas palavras foram especialmente dirigidas a Pedro que, Espírito
adiantado e devotado e, além disso, excelente instrumento mediúnico,
conforme já dissemos, dispunha, por ser da vontade de Jesus e graças aos
Espíritos superiores que o assistiam, de uma perspicácia, que não podemos
avaliar com exatidão. Sua visão penetrante descia ao fundo das consciências,
sondava os mais íntimos pensamentos e constante era a sua comunicação
com os emissários divinos. Ora, achando-se em tais condições, ao seu alcance
estava ligar e desligar na Terra (o que também se pode traduzir por admitir ou
não na Igreja do Cristo que, em sua origem, era simples reunião de fiéis, os
que se propunham a ingressar nela), visto que não fazia mais do que
pronunciar, em voz humana, os decretos que espiriticamente lhe eram
transmitidos.
Digam-nos, porém: quantos Pedros já se contaram entre os que se hão
instituído seus sucessores?
Se os dons, as virtudes e os demais predicados por que Pedro se distinguia
entre os discípulos não eram inerentes à sua individualidade, mas ao encargo
que o Mestre lhe conferiu de pastorear o pequeno rebanho que formava a
primitiva Igreja Cristã, nem só nenhuma razão haveria para que fosse ele o
escolhido e não outro, nem com os que se disseram seus sucessores se teriam
dado os fatos que a história dos Papas e dos Concílios registra, fatos que mais
ou menos continuam a reproduzir-se e que explicam o desprestígio da Igreja de
Roma, que tende a desaparecer. Não vêem os homens do Silabo, dos dogmas
impostos pelo terror das fogueiras e dos martírios que, numa época como a
atual, em que a razão se emancipa de todas as tutelas, já não é possível a
imposição da fé cega?
Não, as coisas vão mudar. Passado o tempo das fogueiras e dos
apavorantes anátemas, despojado o Chefe da Igreja do poder temporal, que
mal e indevidamente exercia, porque o Mestre disse: Regnum meum non est in
hoc mundo (106), o prestígio, o poder, o reinado daquele que queira ser ou
haja de ser sucessor de Pedro somente poderão demonstrar-se pela caridade,
pela humildade, pelo desinteresse, pela mansidão e abnegação, que foram as
armas com que o Manso Cordeiro de Deus apeou potentados e derrocou
tronos de déspotas, a todos se sobrepondo pela exemplificação daquelas
virtudes sublimes. Mesmo, porém, que um homem aparecesse revestido de
tais virtudes, ainda assim não poderia, só por isso, considerar-se sucessor de
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Pedro, que não mostrou apenas possuí-las, mas se distinguiu entre os demais
discípulos, muito embora estes também fossem exemplificadores dos
ensinamentos de Jesus.
Não, Pedro não teve, nem tem sucessor na Terra. Quem pudera ou pode
haver sucedido a esse altíssimo Espírito, que preside ao progredir da fé, ao
desenvolvimento da inteligência, ao cumprimento das promessas de Jesus?
Ele continuou e continua no desempenho da sua missão espiritual, depois de
haver desempenhado a sua missão humana. Desempenhando esta última, deu
princípio, com o concurso dos outros apóstolos e dos discípulos que se lhe
associaram, à edificação da Igreja do Cristo e, desempenhando a sua missão
espiritual, prossegue na execução desta obra e a concluirá.
E as portas do inferno não prevalecerão contra ela, porque, sendo a Igreja
do Cristo o conjunto dos filhos do Senhor, não será atingido pelo sofrimento e
pela expiação aquele que, tendo sabido manter a integridade do coração e da
alma, se esforçou por cumprir, segundo a lei divina, todas as suas obrigações,
todos os seus deveres, para com Deus e para com os homens.
Pedro foi um discípulo enérgico, devotado, fiel até à morte. Quem quer que
construa sobre tal base não terá que temer as portas do inferno.
Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, isto é: o conhecimento exato dos
meios de chegar à perfeição moral.
Essas chaves a Igreja de Roma desprezou e deixou se perdessem. De
modo algum, portanto, pode o seu chefe considerar-se sucessor do grande
apóstolo. Detenha-se ela no caminho errado por onde funestamente
enveredou, volte ao verdadeiro caminho e continue a percorrê-lo do ponto até
onde chegaram Pedro e os apóstolos, os discípulos e seus primeiros
imitadores, que achará a Igreja do Cristo cuja edificação eles começaram e que
o Espírito da Verdade vem, progressivamente, ampliar e concluir.
Compreenda ela o sentido verdadeiro das palavras que Jesus dirigiu a
Pedro e aos Apóstolos, sentido que espiriticamente é hoje revelado pelos
enviados do Mestre Divino, e, então, como os verdadeiros espíritas, também
trabalhará, inspirada pelo Espírito da Verdade, na edificação da Igreja do
Cristo. Só então poderá, realmente, ligar e desligar — o que, bem entendido,
não quer dizer absolver ou condenar seus irmãos — mas tornar-se, pela
integridade do coração e da alma, pela obtenção das luzes dos bons Espíritos,
atraindo-os por aquela integridade, cada vez mais apta a julgar das coisas da
Terra e das coisas do céu, a dirigir os homens pelo bom caminho, que é o dos
mandamentos que Jesus declarou encerrarem toda a lei e os profetas, e a distinguir
com exatidão os que se desviam e os que marcham fiéis pela senda que
Ele traçou.
(105) JOÃO, 1º, 42; 6º, 69. — 1ª Epístola à João, 4º, 15. — Atos, 8º, 37. —
Hebreus, 1º, 2, 5. — Efésios, 2º, 8. — 1ª Epístola aos Coríntios, 2º, 10. —
Gálatas, 1º, 16. — Apocalipse, 21º, 14. — Isaías, 51º, 16.
(106) Ao nosso ver, a privação do poder temporal, se foi, individualmente,
um mal, ou uma perda sensível para o Sumo Pontífice, não o foi para a
Igreja de que é ele o chefe, visto que redundou no desaparecimento do
que melhor provava não ser essa Igreja a do Cristo. Não sendo deste
mundo o reino do Filho de Deus, sua não podia ser a Igreja cujo reinado
era todo deste mundo. O ter sido despojado daquele poder, valeu, pois.
para a Igreja Romana por uma como galvanização. Graças a isso é queainda
pôde ostentar a aparência de prestígio de que gozou nestes últimos
tempos. Obtendo, como recentemente obteve, em 1929, que lhe
restituíssem o poder temporal é que ela decretou a sua própria e
definitiva condenação, volvendo a oferecer ao mundo, quando no
Espiritismo ressurge o verdadeiro Cristianismo, a demonstração iniludível
de que nela não está o espírito da Doutrina Cristã, de que ela é a antítese
da Igreja Universal do Cristo.