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sábado, 25 de agosto de 2012

2a Parte Da Probição de Evocar os Mortos matéria do Livro Céu e Inferno.


Capítulo XI
Da Proibição de Evocar os Mortos (continuação)
Que esses adivinhos que estudam o céu, que contemplam os astros e contam os meses para fazer predições, que desejam revelar-vos o futuro, venham agora e vos salvem. — Eles se transformaram como em palha e o fogo os devorou; não puderam livrar suas almas das chamas ardentes; não restará do fogo em que se abrasarão nem mesmo os carvões com os quais alguém se possa esquentar, nem fogo ante o qual alguém se possa sentar. — Eis no que se transformarão todas essas coisas, às quais vos entregastes com tanto trabalho; esses comerciantes que negociaram convosco desde a vossa juventude se foram todos, um de um lado, outro de outro lado, sem que se encontre um só que vos livre dos vossos males. (Cap. XLVII, v. 13, 14, 15.)
Nesse capítulo Isaías se dirige aos babilônios, usando a figura alegórica da Virgem filha da Babilônia, filha dos Caldeus. (Vers. l.) Diz que os encantamentos não impedirão a ruína da sua monarquia. No capítulo seguinte ele se dirige diretamente aos israelitas:
Vinde aqui, vós outros, filhos de uma feiticeira, raça de um homem adúltero e de uma mulher prostituída. — Com quem divertistes? Contra quem abristes a boca e lançastes as vossas línguas perfurantes? Não sois os filhos pérfidos e os bastardos rejeitados, vós que procurais vossa consolação nos vossos deuses sob todas as árvores frondosas em que sacrificais os vossos filhos pequenos, nas torrentes, ante a rochas elevadas? — Pusestes a vossa confiança nas pedras da torrente; derramastes licores em sua honra; oferecestes sacrifícios a ela. Depois disso a minha indignação não devia explodir? (Cap. LVII, 3, 4, 5, 6.)
Estas palavras são inequívocas. Elas provam claramente que naquele tempo as evocações tinham por fim a adivinhação, fazendo-se delas um comércio. Estavam associadas às práticas mágicas e supersticiosas sendo até mesmo acompanhadas de sacrifícios humanos.
Moisés, portanto, tinha razão de proibir estas práticas, dizendo que Deus as considerava abomináveis. Aliás, essas práticas supersticiosas sobreviveram até a Idade Média, mas hoje a razão as afugentou e o Espiritismo veio demonstrar que as relações com o além-túmulo têm um sentido exclusivamente moral, consolador e portanto religioso. Desde que os espíritas não fazem sacrifícios de crianças e não derramam licores em homenagem aos deuses, desde que não interrogam os astros, nem os mortos, nem os adivinhos para conhecer o futuro que Deus prudentemente ocultou aos homens, e desde que eles repudiam toda a forma de comércio da faculdade que alguns possuem, de comunicar-se com os Espíritos, não sendo movidos por curiosidade nem por cupidez, mas por um sentimento de piedade e pelo desejo único de se instruirem e se melhorarem e de aliviarem as almas sofredoras, — a proibição de Moisés não se refere a eles de maneira alguma. Para isso é que deviam atentar os que invocam essa proibição contra os espíritas. Se eles aprofundassem melhor o sentido dessas palavras bíblicas, teriam reconhecido que não existe nenhuma analogia entre o que se passava com os hebreus e os princípios atuais do Espiritismo, tanto mais que o Espiritismo condena precisamente tudo o que dera motivo à proibição de Moisés. Mas, cegos pelo desejo de encontrar argumentos contra as idéias novas, não chegam a perceber que essas acusações soam de maneira completamente falsa.
A lei civil dos nossos dias pune os abusos que Moisés queria reprimir. Quando Moisés estabeleceu a pena de morte contra os delinqüentes, era porque necessitava de meios rigorosos para governar um povo indisciplinado. Aliás, essa pena figurava constantemente na sua legislação, porque não havia muito que escolher no tocante aos meios de repressão. Não existiam prisões nem casas de correção no deserto e seu povo não era de natureza a se atemorizar somente com as penas disciplinares. Ele não podia estabelecer as graduações penais, como fazemos em nossos dias.
É errôneo querer-se apoiar na severidade daquele castigo para provar o grau de culpabilidade da evocação dos mortos. Deveríamos, simplesmente por respeito à lei de Moisés, manter a pena capital para todos os casos em que ela a aplicava? Nesse caso, porque reviver com tanta insistência apenas esse artigo, passando em silêncio o começo do capítulo que proíbe aos padres possuir bens terrenos e participar de qualquer herança, porque o Senhor é em si mesmo a sua herança? (Ver. Deuteronômio, cap. XXVIII, v. 1 e 2.)
5 — Há duas partes distintas na lei de Moisés: a lei de Deus propriamente dita, promulgada no Monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar apropriada aos costumes e ao caráter do povo. Uma é invariável, a outra se modifica segundo os tempos e não pode passar pelo pensamento de ninguém que tenhamos de ser governados hoje da mesma maneira que os hebreus em sua caminhada através do deserto. Assim também os capitulares de Carlos Magno não poderiam aplicar-se à França do nosso século. Quem pensaria, por exemplo, em reviver hoje este artigo da lei Mosaica: Se um boi chifrar um homem e uma mulher, que venham a morrer disso, o boi será lapidado e ninguém comerá da sua carne, mas o dono do boi será julgado inocente. (Êxodo, cap. XXI, v. 28 e seguintes.)
Este artigo que nos parece tão absurdo não tinha por objetivo punir o boi e inocentar o seu dono, pois equivalia praticamente à confiscação do animal causador do acidente para obrigar o proprietário a ter maior cuidado. A perda do boi representava a punição do dono, que devia ser bastante grave num povo de pastores, impedindo os descuidados de caírem em outra falta. Mas como ela não devia aproveitar a ninguém, era proibido comer a carne. Outros artigos estipulam penalidades para os donos responsáveis.

1a Parte-Da proibição de evocar os mortos matéria do Livro Céu e Inferno.


Capítulo XI
Da Proibição de Evocar os Mortos
1 —A Igreja não nega de maneira alguma a existência das manifestações. Pelo contrário, ela as admite todas, como vimos nas citações precedentes, mas atribuindo-as à intervenção exclusiva dos demônios. É por engano que alguns invocam o Evangelho para as proibir, porque o Evangelho não diz uma só palavra nesse sentido. O supremo argumento que se apresenta é a proibição de Moisés.
Eis em que termos se refere ao assunto a pastoral mencionada nos capítulos precedentes:
Não é permitido entrar em relação com eles (os Espíritos) seja imediatamente, seja por intermédio dos que os invocam e os interrogam. A lei mosaica punia com a morte essas práticas detestáveis, em uso entre os gentios. — Não procureis os mágicos, diz o livro do Levítico, e não façais aos adivinhos nenhuma pergunta, para não incorrerdes na contaminação de vos dirigirdes a eles. (Cap. XIX, v. 31.) — Se um homem ou uma mulher tem um Espírito de Píton ou de adivinhação, que sejam punidos com a morte; serão lapidados e o seu sangue cairá sobre as suas cabeças. (Cap. XX, v. 27.) E no livro do Deuteronômio: Que não haja entre vós pessoas que consultem os adivinhos, ou que observem os sonhos e os augúrios, ou que usem de malefícios, de sortilégios ou de encantamentos, ou quem consultem o Espírito de Píton e quem pratique a adivinhação ou interrogue os mortos para saber a verdade; porque o Senhor considera em abominação todas essas coisas e destruirá com a vossa chegada as nações que cometem esses crimes. (Cap. XVIII, v. 10, 11, 12.)
2 — É conveniente, para compreensão do verdadeiro sentido das palavras de Moisés, lembrar o texto completo, que foi um tanto abreviado nessas citações:
Não vos desvieis do vosso Deus para procurar os mágicos e não consulteis os adivinhos para não vos contaminardes ao vos dirigir a eles. Eu sou o Senhor vosso Deus. (Levítico, cap. XIX, v. 31.)
Se um homem ou uma mulher tem o Espírito de Píton ou um Espírito de adivinhação, que sejam punidos com a morte; eles serão lapidados e o seu sangue cairá sobre as suas cabeças. (Levítico, cap. XX, v. 27.)
Quando tiverdes entrado no país que o Senhor vosso Deus vos dará, guardai-vos de imitar as abominações daqueles povos; — E que não se encontre entre vós quem pretenda purificar seu filho ou sua filha fazendo-os passar pelo fogo ou quem consulte os adivinhos ou observe os sonhos e os augúrios, ou pratique malefícios, sortilégios e encantamentos, ou quem consulte os que têm o Espírito de Píton, e quem se ponha a adivinhar ou a interrogar os mortos para saber a verdade. — Porque o Senhor considera em abominação todas essas coisas e exterminará todos esses povos na vossa chegada, por causa dessas espécies de crimes que eles têm cometido. (Deuteronômio, cap, XVIII, v. 9, 10, 11 e 12.)
3 — Se a lei de Móisés deve ser rigorosamente observada nesse ponto, deve sê-lo igualmente sobre todos os outros, pois como seria ela boa no concernente às evocações e má no tocante a outros assuntos? É necessário ser conseqüente: se reconhecermos que essa lei não está mais de acordo com o nosso costume e a nossa época por alguns motivos, não haverá razão para que o mesmo não aconteça no tocante à proibição de que tratamos.
É necessário que nos reportemos aos motivos determinantes dessa proibição, motivos que tinham na ocasião a sua razão de ser, mas que hoje seguramente não existem mais. O legislador hebreu desejava que seu povo rompesse com todos os costumes trazidos do Egito, onde as evocações eram usadas de maneira abusiva como o provam estas palavras de Isaías: "O Espírito do Egito se aniquilará por si mesmo e eu precipitarei o seu conselho; eles consultaram os seus ídolos, os seus adivinhos, as suas pitonisas e os seus mágicos." (Cap. XIX, v. 3.)
Além disso, os israelitas não deviam contrair nenhuma aliança com as nações estrangeiras. Eles iriam encontrar as mesmas práticas entre esses povos a que se dirigiam e que deviam combater. Moisés devia, assim, por motivos políticos, inspirar ao povo hebreu a aversão por todos os seus costumes que tivessem pontos de contato com os assimilados no Egito. Para motivar essa aversão devia apresentar esses costumes como reprovados pelo próprio Deus. Eis porque ele dis se: "O Senhor considera em abominação todas essas coisas e destruirá, na vossa chegada, as nações que cometem esses crimes."
4 — A defesa de Moisés era tanto mais justificada quanto os mortos não eram evocados em virtude do respeito e da afeição por eles, nem por um sentimento de piedade, mas para fins de adivinhação, da mesma maneira que se consultavam os augúrios e os presságios, explorados pelo charlatanismo e a superstição. Por mais que fizesse, entretanto, não conseguiu arrancar do povo esses costumes que se haviam transformado em objeto de comércio, como o atestam as seguintes passagens do mesmo profeta:
E quando eles vos disserem: Consultai os mágicos e os adivinhos que murmuram nos seus encantamentos; respondei-lhes: cada povo não consulta o seu Deus? E deve-se falar aos mortos do que respeita aos vivos? (Isaías, cap. VII, v. 19.)
Sou eu que faço ver a falsidade dos prodígios da magia, que tornam insensatos os que se atrevem a adivinhar, que transtorna o Espírito dos sábios e converte em loucura a sua ciência vã. (Cap. XLIV, v. 25.)

Entrevista Com Divaldo Franco -Atendimento Fraterno parte 2


Continuação
Observe-se que o indivíduo, portador de uma vida extraordinariamente correta, ao cometer um erro, isso é o que passa a ressaltar nele a partir daí. Um grande cantor, como Pavarotti ou
outros, amados no mundo inteiro, se um dia, num concerto, criaturas humanas que são, tiverem qualquer distúrbio de voz, um erro de compasso, a nota não alcançada, perdem todo o valor, como se eles fossem robôs sem direito de se permitirem fragilidades. Assim, também, todos somos medidos, não pelas nossas virtudes, mas pelos nossos erros.
A imprensa, a mídia, vive disso, porque raramente se apóia nas ocorrências felizes, sustentando-se com a divulgação das questões que corrompem o coração.
Temos que dizer à pessoa: — Você está no limiar, o que é bom, porque
ainda não caiu. Você se encontra no mínimo das suas reservas, o que é muito
bom sinal, ainda tem reservas; considere aquele que já tombou...
Joanna de Ângelis sempre me diz: — Quando vires alguém com os pés sujos de lama, não acuses o descuidado, pois que ele acaba de sair do pântano. Preocupa-te com aqueles que têm os pés limpos, correndo o perigo de se adentrarem nele e enfrentarem dificuldades para sair.
Então, digamos a essa pessoa: — Você está quase entrando no pântano.
A prova que você tem força é o desejo de continuar caminhando.
Particularmente, procuro fazer o que me é possível para me desincumbir das tarefas. Chega o momento em que eu digo: — Agora, meu Senhor, é com o Senhor, porque a minha parte já fiz; e tiro da cabeça o problema. Se Ele não o resolver, é porque não deveria ser resolvido. Não vejo motivo para me amargurar.
Lembro-me do Abade
Pierre — o que fundou as Comunidades de Emaús — que elegeu o seguinte
“slogan”: “Eu sempre pensava, nas horas de perigo e de problemas, que
chamando por Deus e Ele ouvindo, ia chegar cinco minutos depois da tragédia.
Mas sempre que passava o desafio, me dava conta que Deus chegava, pontualmente, cinco minutos antes
Digamos a essa pessoa: — Chame por Deus! Vá para casa, pensando que tudo vai dar certo, e, se não der de imediato, continue pensando que irá acontecer, porque sempre há uma nova oportunidade.
Certa feita, atendi a uma paciente que me disse:
“Senhor Divaldo, a pior coisa que me poderia acontecer era morrer, e eu acho
que eu vou morrer!”
Respondi-lhe: — Aleluia! Felicidade para você. Imagine se você fosse
eterna nesse corpo... Claro que você vai morrer, vai se libertar desse corpo, qual ocorrerá comigo e com todos. É a melhor coisa que lhe vai acontecer.
Agora, a pior coisa que nos pode acontecer é matar alguém, porque é crime.
Mas, você morrer, é perfeitamente normal.
A pessoa redarguiu: — “Sabe que eu não tinha pensado nisso?”
E conclui: — Está na hora de começar a pensar.
José Ferraz: — Deve-se atender pessoas alcoolizadas, drogadas ou em
desequilíbrio mental? Como proceder nesses casos?

Divaldo: — Não se deve atender tais casos nessas circunstâncias. A pessoa não tem
como absorver respostas. Dialogar com a família, oferecer ao familiar acompanhante as técnicas de como conduzir o paciente, e, quando o mesmo estiver em condições de ouvir, que venha ao diálogo. Porque, no estado de consciência alterado por drogas, álcool ou por alucinações outras, ele não tem a menor possibilidade de assimilar palavras ou energia, ou alguma proposta terapêutica; mas, o acompanhante, sim.
Normalmente, nesses casos, digo: Gostaria de falar com uma pessoa da
família, para que a mesma oriente o enfermo. Porque o contato conosco será breve, mas, no lar, se fará demorado.
Então é necessário instruir o familiar, a fim de que possa ministrar a orientação, assim prolongando-a.
João Neves: — O Atendimento Fraterno é uma relação de ajuda que está
presente em todas as atividades da vida. Na família, na rua, no trabalho. Fale nos
alguma coisa que seja do interesse geral para todos nós, e aproveite para concluir este trabalho, porque esta é a última questão.
Divaldo: — Somos modelos, queiramos ou não. Todos somos exemplos uns para os outros. Nossos pensamentos, palavras e atos são mensagens que dirigimos e que são captados por aqueles que se encontram na mesma faixa mental, atraindo-os. “O nosso pensamento — disse-nos Joanna de Ângelis, ontem à noite, em uma mensagem psicográfica — é um dínamo gerador de forças”. De acordo com o teor ou a qualidade da sua mensagem, produz asas que nos alçam ao infinito ou pesos que nos chumbam às paixões.
O Atendimento Fraterno é uma área de semeadura perante a vida.
Estamos sempre oferecendo mensagens de alegria ou de tristeza. Essas mensagens podem tornar-se verbais, depois de mentalizadas, e podem ser de movimentos, de postura e de interesses outros.
É necessário compreender que estamos no mundo para nos desincumbir de uma tarefa essencial, que é a construção de uma nova sociedade, que será resultado da edificação de nós próprios no nosso mundo íntimo. É muito comum, àqueles que amam, terem o cuidado de não transmitir suas aflições às pessoas queridas.
No Atendimento Fraterno, nesse intercâmbio amigo, as vibrações irão encharcar ou aliviar aquele que tem facilidade de captá-las. Estamos na Terra para este mister — ajudar — e é por isso que o Centro Espírita, utilizando-se desse inter-relacionamento pessoal, elege pessoas credenciadas, para que, tecnicamente, apliquem o Atendimento Fraterno de maneira edificante.
Somos mensagens vivas, transparentes; estamos sempre emitindo ondas e captando-as, porque somos antenas transceptoras. De acordo com o tipo de mensagem que emitirmos, receberemos resposta idêntica, sendo por essa razão que o Evangelho nos adverte: Vigiar e orar para não cair em tentação; vigiar, é pôr-se numa atitude positiva, dinâmica, de construção do bem dentro de si mesmo. Não se trata de uma conduta mística, alienada, que não seja compatível com o progresso da cultura nem da civilização hodiernas. Orar não é estar a repetir palavras, porém, agir.
Alguém reage contra mim, problema dele; quando eu reajo contra alguém, problema meu. Então teremos a capacidade de agir, porque somos seres que raciocinamos, e toda vez que reagimos, voltamos à faixa do instinto agressivo. Só reagimos porque nos sentimos feridos, magoados, egoisticamente alcançados. Quando agimos, nos realizamos, porque, mesmo diante do malfeitor, daquele que nos agride, assumimos uma postura de paz, sabendo que a nossa mensagem vai fecundar...
— Mulher, ninguém te condenou? Perguntou Jesus àquela que foi
surpreendida em adultério e levada à praça pública.
Ela, olhando em derredor, deu-se conta que já não havia ali nenhum dos acusadores, que se afastaram na ordem decrescente de idade, dos mais velhos para os mais jovens, já que o Mestre propusera que aquele que estivesse isento de culpa ou de pecado que atirasse a primeira pedra. Como os mais velhos, por certo, deviam ter mais pecados que os mais novos, eles, os mais idosos, se foram, e ante a sua surpresa, que não mais estava sendo
acusada por eles, nem condenada por Jesus, interrogou-O: — “E agora,
Senhor?”
— Vai e não tornes a equivocar-te; não voltes a emaranhar-te no cipoal das paixões, porque até há pouco ignoravas a verdade, tinhas pouca responsabilidade, mas, a partir deste momento, sabes, és consciente, e as tuas responsabilidades são muito maiores.
Na proposta de Jesus, diante da mulher surpreendida em adultério, Ele não anuiu com o erro, não reprochou, porque a sua tarefa não era a de perdoar ou de condenar, mas a de orientar, educar. E foi exatamente o que Ele fez, pedindo que ela não voltasse a pecar.

Assim, a Doutrina Espírita nos propõe o despertar da consciência, para que, com a consciência lúcida, não repitamos as nossas insensatezes, os nossos erros, porque a vida real, legítima, é a espiritual.
Informam-nos os Espíritos nobres, sem nenhum masoquismo da parte deles ou da nossa, que vale a pena sofrer um breve período para desfrutar de plenitude por uma larga etapa. As dores da Terra, por mais longas, são sempre muito curtas, no relógio da eternidade. Um corpo vencido por enfermidades desgastantes, dilacerado por processos degenerativos, é uma bênção de Deus, e, mesmo quando ultrajado e vencido, é o instrumento da nossa elevação. Uma vida social de desafios, de dificuldades econômicas, de exílio na comunidade, e
até mesmo na solidão, é o caminho reparador, a nossa oportunidade de ascese
através de cujo roteiro atingiremos o planalto da sublimação.
Não estamos na Terra por acaso. A nossa vida é programada. O psiquismo Divino está dentro de nós. Ele se desenvolve, ele se agiganta. O Deotropismo nos atrai; a Misericórdia Divina espera por nós, e, à medida que nos vamos conscientizando, cumpre-nos o dever de realizar a transformação íntima, a fim de lograrmos a realização para a qual estamos encarnados.
Bendigamos pois, as dificuldades que nos visitam; aceitemos os desafios do sofrimento que nos chega e procuremos
uma maneira dinâmica para mudar a estrutura dos acontecimentos, a fim de que paire, em um momento que não está muito distante e que certamente não será de imediato, a presença do amor que nos alará aos Cimos de onde desfrutaremos paz, onde reconstruiremos a família feliz, e seremos, a nosso turno, igualmente felizes.
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Prece
Divino Benfeitor!
Chegamos ao momento de dizer-Te graças, já que Te louvamos no
contexto desta emoção, destas palavras.
E como não sabemos louvar e agradecer sem pedir, suplicamos-Te que
nos leves de volta à intimidade doméstica, que nos conduzas de retorno ao lar
em clima de harmonia, de esperança, reconfortados, reencorajados para a luta.
Amigo de nossas vidas!
Recebe-nos, como somos, com o que temos interiormente, e abençoa-nos
para que o nosso logo depois seja enriquecido de bênçãos libertadoras,
diferindo do momento que temos sido até aqui.
Segue conosco no rumo do nosso lar e conduz-nos nos dias do futuro
conforme nos guiaste do passado até este presente.
Que a paz de Jesus, generosa e reconfortante, permaneça conosco, meus
irmãos, agora e sempre!
Assim seja!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ENTREVISTA COM DIVALDO FRANCO / Atendimento Fraterno 1a Parte

1

José Ferraz: — Qual a utilidade doutrinária do serviço de Atendimento
Fraterno na Casa Espírita?
Divaldo: — Receber as pessoas, orientando-as quanto às possibilidades
de que a Casa dispõe em forma de recursos que são colocados às ordens
daqueles que vêm até ao núcleo de iluminação espiritual, encaminhando os
que têm problemas para receberem as respostas pertinentes às suas
necessidades e, por fim, fazendo o trabalho educativo e fraternal de bem
conduzir todos aqueles que batem às portas da Instituição Espírita.
João Neves: — É benéfico para as pessoas que recorrem à terapia dos
passes serem, antes, assistidas e orientadas
(*) A presente Entrevista foi proposta e realizada no transcurso de
reunião pública do Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador,
Bahia.
pelo atendente fraterno?
Divaldo: O Atendimento Fraterno é uma psicoterapia que modifica a
estrutura do problema no indivíduo que se acerca da Casa Espírita com idéias
que não correspondem à realidade.
Pode-se dizer que, desse contato pessoal que antecipa o passe, muitas
vezes o cliente já se beneficia, sendo até mesmo desnecessária a aplicação da
bioenergia.
Vivemos numa sociedade que padece conflitos psicossociais, sócioeconômicos,
comportamentais, cujos individuos têm necessidade de fazer
catarse. Como o atendimento psicanalítico é muito caro e muito prolongado, no
Atendimento Fraterno o indivíduo tem a oportunidade de abrir a alma ao bom
ouvinte, que o pode orientar com segurança e demitizar o significado do passe.
Como é natural, a desinformação atribui ao passe um caráter de natureza
miraculosa, o que tem levado algumas pessoas menos esclarecidas a
estabelecer o número deles para a solução de certos problemas, o que não
deixa de ser um equívoco, porque se poderá aplicá-los em número infinito e, se
o paciente não se transformar interiormente, de nada adiantará a terapêutica.
Se ele não se abrir para assimilar as energias, faz-se semelhante a uma pedra
granítica que, apesar de estar mergulhada em águas abissais por milhões de
anos, ao ser arrebentada encontra-se seca interiormente.
José Ferraz: — Quais são os requisitos indispensáveis para que uma
pessoa, na função de atendente fraterno, possa sintonizar com os Bons
Espíritos?
Divaldo: — A condição essencial é a boa moral. Do ponto de vista espiritista o requisito moral do indivíduo é relevante,
imprescindível. Utilizamo-nos de um brocardo popular: “Diz-me quem és e eu te
direi com quem andas; diz-me com quem andas e eu te direi quem és”.
Ir a Deus através da prece é outra condição, pois se abrem os canais
psíquicos para uma perfeita sintonia com o Mundo Espiritual que nos assiste no
atendimento às criaturas da Terra.
Além desses caracteres essenciais, além dos valores morais, é
imprescindível o conhecimento da Doutrina Espírita.
Não se pode propiciar um bom atendimento fraterno na Casa Espírita, sem
que se conheça o Espiritismo, o que seria paradoxal, falando-se de uma coisa
com a qual não se está identificado.
O conhecimento amplo da Doutrina Espírita é um requisito que tem caráter
primacial, porque a pessoa irá falar a respeito daquilo que é a essência da
Doutrina a fim de que o cliente recém-chegado se inteire do que pode
conseguir.
Um bom tato psicológico é necessário. A capacidade de saber ouvir é
valiosa, porque o cliente, normalmente, quer falar. Na maioria das vezes, não
deseja ouvir respostas, quer “desabafar”, como muitos o afirmam, porque, na
falta de uma resposta para o problema, ele necessita de alguém que o ouça.
Então, o atendente deve possuir esse tato psicológico para dar oportunidade ao visitante de
liberar-se do conflito. Evitar, quanto possível, que ele fale de questões íntimas,
de que se arrependerá depois, quando passar o problema.
O Atendimento Fraterno não é um confessionário. Como o próprio nome
diz, é um encontro, no qual se atende fraternalmente àquele que tem qualquer
tipo de carência.
Com tato psicológico pode-se desviar, no momento oportuno, uma questão
que seja inconveniente e interromper o cliente na hora própria, a fim de que
não se alongue demasiadamente, gerando um “élan” de afinidades entre o
terapeuta do atendimento e aquele que o busca, evitando produzir-se o que, às
vezes, ocorre entre o psicoterapeuta convencional e o seu paciente.
O atendente fraterno deve manter-se em condição não preferencial por
pessoas, numa neutralidade dinâmica, como diria Joanna de Ângelis, porque
todos são iguais — diz a Justiça — perante a Lei. A todos, então, que tem
problemas e nos buscam, deveremos atender com carinho, sem preferências,
sem excepcionalidades e sem absorvermos o seu problema, para que ele não
se torne um paciente nosso e não transfira todos os seus desafios para nossa
residência. Não poucas vezes, o mesmo perguntará: — Quando eu tiver um
problema posso telefonar-lhe? — Não — será a resposta — em casa eu tenho
outros compromissos; você virá quando necessitar, aqui ao Atendimento.
João Neves: — Pessoas há, que embora interessadas nas orientações do
Atendimento Fraterno, estão tão presas às idéias fixas, que dificultam a absorção da orientação. Como fazer, para
ajudá-las a desviar essas fixações?
Divaldo: — Deixar, primeiro, que falem. O primeiro encontro é sempre
muito difÍcil. A pessoa vem com muitas idéias que não correspondem à
realidade; ou vem céptica, e fala com certa indiferença; ou vem fascinada pela
hipótese de ter o problema resolvido no primeiro encontro. Então acha que pelo
fato de estar numa Casa Espírita, os seus problemas já não mais irão afligi-la.
Essa pessoa, no momento em que começa a falar, deveremos deixá-la
expor a sua dificuldade por alguns instantes e, logo depois, interrompê-la,
informando-a: — Agora você vai me ouvir.
Se a pessoa insistir, afirmaremos: — Você não veio para me doutrinar,
mas sim para pedir conselhos, que eu vou lhe dar. Agora vai depender de você
aceitá-los ou não — evitando assim, que a pessoa transforme o Atendimento
Fraterno num rosário de queixas. Poderemos dizer também: — Até aqui a sua
vida foi dessa forma; neste momento abre-se-lhe uma etapa nova. É
necessário que voce me ouça, para poder ver as possibilidades que estão ao
seu alcance. Agora pare, e ouça as sugestões que tenho e que são induções
simples. Joanna de Ângelis, a nossa Mentora, diz o seguinte: — Tudo começa
no pensamento. Toda vez que um pensamento for perturbador, substitua-o por
outro que seja positivo.
Se a criatura disser: — Mas, eu não posso...
Responderemos: — Você não quer quer; mas é o quanto nós lhe podemos dar;
além disso, não lhe prometemos nada. Não lhe oferecemos aquilo que não podemos doar, porqüanto não
estamos aqui para enganar as pessoas.
Evitar-se, ao máximo, essas expressões de natureza prodigiosa, que
martirizam o paciente, dando-lhe informações que ele não tem capacidade para
digerir.
Diante de uma pergunta: - Será que eu sou obsidiado? — responda-se
com honestidade: — Não sei.
— Será que existem comigo obsessores?
— Eles só estão em contato conosco, porque estamos em sintonia com
eles...
Evite-se, tanto quanto possível, aumentar-lhe a carga de aflições com
informações indevidas ou que podem não corresponder à realidade.
José Ferraz: — Os bons Espíritos ajudam as pessoas que buscam o
Atendimento Fraterno? De que forma? Fale, particularmente, sobre a
desobsessão na nossa Casa.
Divaldo: — Todo aquele que sobe a um planalto, mesmo que não se dê
conta, aspira oxigênio puro; quem desce ao vale, onde existem pântanos e
matéria em decomposição, mesmo que o não perceba impregna-se de
miasmas. A Casa Espírita é o planalto no qual podemos comungar com Deus.
É o oásis refrescante na severidade adusta da terra sáfara. É a ilha generosa
no oceano tumultuado das paixões. Quando alguém se adentra pela Casa
Espírita — e aqui fazemos uma generalização, estendendo a qualquer templo de fé religiosa — é amparado pelos Espíritos que têm ali a tarefa de preservar o nome de Deus, o Seu valor diante das almas e, no caso
específico do Cristianismo, a presença de Jesus, que prometeu nunca nos deixar órfãos.
Quando chegamos à Casa Espírita, as Entidades benevolentes e caridosas
dispõem de Espíritos outros que se encarregam de vigiar, de proteger o recinto
humano e o espiritual. Fazem programas, utilizando-se de Entidades com capacidades magnéticas para impedir a entrada de outras, perturbadoras, obsessoras, assim também de pessoas que causam transtorno, tumulto e generalizam desequilíbrios, o que é patente em nossas Casas, como noutras congêneres.
A nossa Instituição tem as portas abertas a quem quer que sej a, e todos somos testemunhas de que jamais aconteceu qualquer coisa desagradável, face à massa que a freqüenta, e que pode trazer psicopatas, dependentes químicos de drogas, de álcool, desajustados, porque as defesas magnéticas
estabelecidas, de alguma forma impedem-lhes a entrada, da mesma forma que as defesas espirituais impossibilitam a penetração de Espíritos perversos que, às vezes, estão acompanhando os seus hospedeiros. Eis porque, aí já começa a desobsessão...
A presença dos bons Espíritos e o atendimento que fazem logo modifica a
estrutura psíquica dos pacientes, afastando as Entidades malévolas que os irão
aguardar àsaída, fora dessas defesas magnéticas.
Quando os visitantes saem tumultuados, ansiosos para voltar a casa e recuperar os pensamentos negativos com os quais vieram — e momentaneamente os deixaram, ouvindo a palestra ou recebendo a orientação — volvem às viciações psíquicas, e assim atraem,
de retorno, os seus comparsas, prosseguindo o problema.
Essa é uma desobsessão coletiva.
Nas conferências, nas aulas, em quaisquer instruções dignificantes, enquanto o público se concentra na proposta elevada, os bons Espíritos aplicam energias corretivas, libertadoras, naqueles que estão vinculados à idéia superior, realizando, desse modo, igualmente, a terapêutica desobsessiva.
Em nossa Casa, em particular, e em outras, no sentido genérico, os Benfeitores, ao verem o paciente que veio para o Atendimento Fraterno, observando a sua carência real, a sua angústia, a sua honesta necessidade de mudar, anotam quais os perseguidores que os afligem, e trazem-nos, em particular e discretamente, às sessões mediúnicas para tratamento desobsessivo.
Eles me apresentam verdadeiros livros onde registram os endereços das
pessoas que pedem visitas, e as atendem. Determinam Espíritos que acompanham aquelas que pediram socorro, e que permanecem por longo período ao lado delas. Mesmo que qualquer uma mude de idéia, o seu acompanhante continua dando-lhe assistência até o momento em que o quadro se modifique.
Aquele Espírito assistente torna-se o comunicador das Entidades que mourejam na Casa Espírita e que passam a ter conhecimento de como vai o processo de recuperação do cliente, que antes veio pedir socorro
Isso começa, portanto, quando nos adentramos na Casa Espírita ou noutro templo de fé, mais particularmente quando nos encontramos em atendimento fraterno, porque os bons Espíritos estão
acompanhando-nos e, percebendo a gravidade, maior ou menor, de nosso problema, removem aqueles Espíritos perturbadores e os trazem à doutrinação.
Ocorre, com muita freqüência entre nós, essa doutrinação sem a presença do paciente, o que é perfeitamente compreensível. Estar ali participando não é necessário para a sua recuperação, impondo-lhe assistência à reunião mediúnica.
Desse modo, o Atendimento Fraterno também tem o caráter de desobsessão lúcida, porque o atendente funciona como doutrinador e o paciente como beneficiário.
João Neves: — Na sua experiência tão vasta de atendente fraterno, quais as causas preponderantes que desencadeiam as aflições humanas?
Divaldo: — O egoísmo, seria a resposta de Allan Kardec.
O egoísmo é o câncer da sociedade, porque é ele que desencadeia outros distúrbios em nossa área espiritual. Éo egoísmo que responde pela nossa agressividade, porque ele nos leva ao egocentrismo, ao direito de crer que somos o centro do Universo, e de merecermos tudo e todos, tornando-nos soberbos. O ciúme também é causa infeliz, porque nos faz pensar que somos
proprietários uns dos outros, dos objetos, das ocasiões e das circunstâncias; o ódio a todo
aquele que não concorda conosco e nos agride é fator dissolvente e
desprezível; a revolta e, conseqüentemente, a cólera fulminante, que abre espaço ao ódio, constituindo-se elemento pernicioso.
Graças a esses fatores, as enfermidades se nos alojam com mais facilidade, porqüanto o egoísmo produz enzimas destrutivas, que vêm perturbar o metabolismo e facultam campo para a instalação de doenças degenerativas.
Ao mesmo tempo, torna-nos distônicos, e passamos a ter problemas psicológicos, abrindo ensejo para a vinculação com as Entidades perversas, malévolas, tendo início aí os processos de obsessão.
A Psico-neuro-imunologia identificou que possuimos na saliva uma enzima que protege o nosso organismo de infecções viróticas — a imunoglobulina.
O egoísta é introspectivo, apaixonado, indiferente aos problemas alheios.
Produz toxinas que impedirão a fabricação da imunoglobulina, deixando-o a mercê das doenças.
Por isso, Jesus ofereceu como terapia fundamental o amor, porque,
quando se ama, sai-se de si para poder tornar-se ütil; o individuo esquece seus próprios problemas para contribuir pela diminuição dos alheios.
Quando começamos a amar, a vida iridesce a paisagem, que se apresenta
enriquecida, e as nossas pequenas dores tornam-se menores diante do volume
de aflições que desgovernam o mundo.
Jesus sintetizou tudo isso de uma forma muito bela, quando os discípulos afirmaram que Ele sempre atendia as criaturas tomado por compaixão. Não esse sentimento de piedade vulgar, mas, com a paixão de ternura, com o desejo veemente de modificar aquela situação. É esse sentimento de amor que ajuda e faz que se entesoure os recursos para diminuir os sofrimentos humanos.
José Ferraz: Esta pergunta foi elaborada por Suely Caldas Schubert:
Como conduzir a orientação a uma pessoa que já tentou o suicídio algumas vezes e persiste na mesma idéia? Deve-se, de alguma forma, dizer lhe quais as conseqüências funestas do seu ato infeliz ou ser-lhe compreensivo e consolador?
Divaldo: — A melhor maneira de consolar é advertir quanto aos riscos que advêm como conseqüências dos nossos atos impensados.
Consola-se, quando se esclarece.
A melhor forma de consolar alguém é arrancá-lo da ignorância, educá-lo.
Allan Kardec faz uma abordagem, em “O Livro dos Espíritos”, que é
excelente, ao referir-se à tarefa da educação, elucidando que os males humanos decorrem da predominância dos instintos agressivos, que se sentem repelidos, como diria o psicanalista Alfredo Adier, e devem ser superados através dos métodos morais disciplinadores. Allan Kardec se reporta à educação moral. É necessário dizer ao paciente que ele tem o direito de interromper a vida física, mas que esse ato lhe trará tais e quais conseqüências inevitáveis.
Ele está sofrendo hoje angústia, desesperação, sente soledade, incompreensões, como colheita dos atos imprevidentes de ontem. Se complicar a atual existência com uma atitude de revolta contra Deus, a sociedade e a si mesmo, as suas penas e aflições serão muito maiores. É, portanto,
perfeitamente lícito e necessário dizer-se com doçura, para não parecer que lhe estamos prometendo um castigo — como fazem algumas doutrinas do Deus terror — que o agora é colheita de uma sementeira infeliz, e que ele está tendo a opção de superar o drama ao invés de entregar-se ao suicídio, uma opção cujas conseqüências serão muito mais funestas.
João Neves: — Diga-nos uma postura adequada a assumir diante das pessoas que se vêem assinaladas por desvios da sexualidade, conflitadas com essa problemática.
Divaldo: — A postura da bondade, mas não da intimidade; compreensão, mas não conivência; espírito fraternal, mas sem estímulo ao prosseguimento do comportamento que não corresponde à ética estabelecida pela Doutrina Espírita.
O indivíduo tem direito à sua opção sexual ou a qualquer outra, pois este é seu livre-arbítrio, mas não tem o de nos obrigar a concordar com ele, de exigir que estejamos ao seu lado, a fim de que tenha uma escusa para continuar no vício.
A proposta do Espiritismo é erguer, jamais de contribuir para que se venha permanecer numa atitude cômoda, sem esforço, e de grandes prejuízos para o ser espiritual que somos, na jornada carnal em que estamos.
A continência e a fidelidade aos outros; o que não gostaríamos que nos fizessem, não lhes façamos.
Assim, a melhor atitude para acabar com o erro, é a conservação da virtude.
O melhor caminho para fazer cessar a agressividade social, é a paz de espírito, que luariza a violência e modifica a estrutura do agressor.
Seja qual for, portanto, o tipo de desvio do comportamento sexual, moral, ético, espiritual, que nos seja apresentado, a nossa atitude é terapêutica, sem conivência, repito, sem anuência, sem reproche, porque o indivíduo tem o direito de fazer da sua vida o que lhe aprouver; mas temos o dever de mostrar lhe
o caminho correto que deve seguir.
José Ferraz: — É recomendável sugerir tratamentos médico ou psicológico para o atendido? Em que circunstâncias?
Divaldo: — Quando o paciente traz um problema na área da saúde, a primeira pergunta deve ser: — Está recebendo assistência médica? — Porque
o Espiritismo não é uma Doutrina que combate a Medicina, como muita gente pensa, e como durante um largo período os médicos supuseram, face ao comportamento irrelevante de alguns indivíduos que se
diziam espíritas ou curadores e ficariam melhor colocados como curandeiros.
Allan Kardec escreveu que: “O Espiritismo marcha ao lado do progresso, aceita tudo quanto ele comprova, mas não se detém onde a Ciência pára, porque a Ciência estuda os efeitos e o Espiritismo remonta às causas”.
A função do Espiritismo não é curar corpos, mas animar o homem, a fim de que se autocure espiritualmente, e a saúde seja-lhe uma conseqüência da própria transformação moral.
Daí, é perfeitamente válido, e mesmo compreensÍvel, que o atendente
pergunte: — Tem recebido assistência médica? — quando o mesmo se
encontre enfermo — e dizer-lhe mais: — Não abandone o seu médico, porque o Espiritismo irá também ajudá-lo, através dele, a resolver o problema.
Nos casos de natureza psicológica, nos distúrbios comportamentais, nos
transtornos neuróticos e psicóticos, é justo que se pergunte também: — Já
consultou o especialista? — Porque pessoas há, que ficam muito magoadas
quando falamos as palavras psiquiatra e psicólogo.
Se ele indagar: — De que especialidade?
Responder-se-á: — Do problema que o está afligindo: o psicólogo, o
psicanalista, o psiquiatra, porque, hoje a Psiquiatria, a Psicologia e a
Psicanálise não têm somente a exclusiva finalidade de tratar doentes, mas de
evitar as doenças que lhes são pertinentes.
Sendo possível, todos deveremos, periodicamente,consultar um psicólogo, um psiquiatra. Da mesma forma como realizamos um “check-up” para o organismo fÍsico, deveríamos fazê-lo também para o
comportamental, o psicológico, o psíquico, evitando determinados distúrbios que começam sutilmente e que se podem agravar, até mesmo na área da senilidade, quando ultrapassamos determinada faixa de idade.
É válido que se sugira assistência médica, mesmo porque, em caso de agravamento do problema, ninguém pode culpar-nos de havermos negligenciado com os deveres da assistência especializada.
João Neves: No Atendimento Fraterno temos observado um medo acentuado nas criaturas humanas: medo de doença, medo da morte, medo de feitiço, medo de assumir compromissos mediúnicos em clima de
respeitabilidade. Fale-nos um pouco sobre isso.
Divaldo: — A desinformação é inimiga do progresso. A desinformação é pior do que a ignorância total, porque a informação equivocada, a meia verdade são mais perigosas do que a mentira. Infelizmente, grassa em nossos arraiais a meia verdade. Existem aqueles que se comprazem em transformar a mediunidade em um instrumento divinatório, O fato de ser médium dar-lhe-ia o
poder de saber tudo, de entender tudo e de resolver tudo. E uma meia verdade, O médium, como o nome diz, é instrumento, aquele que se encontra no meio.
Quando assimila a informação de que se faz objeto, torna-se instrumento lúcido; quando apenas transmite sem consciência, é instrumento automático que não lucra, que não se beneficia com a oportunidade de que desfruta.
Alguém, um dia, me disse: — Conversando com Chico Xavier, notei que ele é muito culto, que fala escorreitamente, que não comete erros gramaticais nem prosódicos, e que tem informações muito seguras; no entanto, dizem que ele tem apenas o curso primário.
Respondi-lhe: — É verdade. Ele fez o curso primário dentro da proposta convencional, mas consideremos que, desde criança, ele dialoga com os Mestres, os Espíritos nobres que vêm à Terra, e não apenas se expressando na língua brasileira, porque viveram aqui no país, mas também Espíritos de
escol nas áreas da Ciência, da Filosofia, das Artes... É toda uma existência de constante aprendizagem. Quando psicografa, filtra a mensagem dos Espíritos, depois a lê, a datilografa, relê, envia-a em livro, que termina por receber, voltando a inteirar-se do seu conteúdo. É natural que aprenda.
Ele não pode ser tão rústico quanto nós. Se aprendemos o que os Espíritos escrevem por seu intermédio, lendo-lhe os livros, é óbvio que ele próprio os lendo muitas vezes, conhece-os mais do que nós. Ademais, ele interroga aos Autores, que lhe apresentam adenda, que lhe trazem esclarecimentos mais complexos, e que lhe dizem coisas que não estão escritas. Desse modo, Chico
Xavier não é somente uma pessoa bem informada, é um sábio, porque oculta a sua sabedoria, evitando constranger a nossa ignorância.
É natural, portanto, que nesse trabalho do Atendimento Fraterno procuremos iluminar a própria consciência, quanto possível, oferecendo aos indivíduos uma visão qualitativa, principalmente do que a Doutrina Espírita é, do que lhes está reservado, para que, naturalmente, esclarecidos, mudem de comportamento para melhor.
Essa conquista iluminativa podemos haurir no estudo da Doutrina, na convivência com os Bons Espíritos, nos diálogos que mantemos uns com os
outros, e ademais, na sintonia permanente que deveremos preservar depois que o Atendimento Fraterno termina e vamos para casa.
José Ferraz: Como conduzir a orientação para uma senhora casada que adulterou e arrependeu-se; no entanto, o seu parceiro continua com a atitude persistente de dar continuidade à ligação irregular, inclusive, ameaçando-a de contar ao marido.
Divaldo: Todos desfrutamos do direito de errar, mas temos o dever de recuperarmo-nos. Se a pessoa não teve resistências e assumiu um compromisso extraconjugal, ao despertar do problema, que tome a atitude
rigorosa de interrompê-lo. O Evangelho fala com clareza que, caindo em si, Simão Pedro percebeu o grande erro de haver negado Jesus. Reabilitou-se entregando-Lhe toda a vida; e caindo em si, Maria de Magdala identificou oabismo em que se encontrava, e ergueu-se, tornando-se a grande mensageira
da ressurreição; e caindo em si, Judas não teve resistência, cometendo um crime pior: o suicídio...
A pessoa que caí em si, deve assumir as conseqüências do seu ato, e não voltar a tombar.
Não se trata de uma teoria; é uma terapia.
Se houver ameaça por parte do explorador, diga-se-lhe: - Muito bem, que a
cumpra, e se fique em paz, evitando-se prosseguir na fossa da degradação, pois que, o chantagista, além de venal, é perverso.
A mulher estava enganada e despertou, não mais entrando na sombra.
Nossos erros poderemos resgatá-los hoje, amanhã ou mais tarde. sempre é tempo de fazê-lo. Se o adúltero levar ao conhecimento do esposo, e ele cobrar, que ela tenha a lealdade de dizer: Infelizmente, é verdade até
determinado ponto; agora não é mais. — Tome ele a atitude que lhe convier,
porque ela já tomou a sua: mudar de vida para melhor, com o direito de reabilitar-se.
Se o ofendido a abandonar, o problema, agora, será dele.
Porque se esteja sob ameaça, não é justo continuar corrompendo-se mais.
João Neves: Como atender a uma pessoa que esteja no limiar entre a lucidez e o desequilíbrio? Têm acorrido à nossa Casa pessoas nas suas últimas resistências.
Divaldo: — Dizer que, quando queremos, podemos. Estimulá-la a mudar de paisagem mental.
Todo aquele que está fraquejando emocionalmente. fixa em demasia os seus conflitos, gerando uma psicosfera de autocompaixão. A autocompaixão é um drama tão grande, quanto a indiferença de sentimentos, porque, na autocomiseração o indivíduo somente vê a sua desgraça e não a contribuição dos valores que estão ao seu alcance, aguardando-o.
Na área da Psicologia, fala-se que há uma tendência muito maior de conservar a tristeza do que a alegria, a dor ao invés do bem-estar. E um comportamento masoquista.
As nossas alegrias são muito rápidas e as nossas tristezas muito demoradas, porque nós gostamos mais da tristeza. As nossas alegrias parecem que não nos saciam e queremos mais. Determinada coisa de impacto
ou de felicidade, algumas horas depois, já não nos preenche tão plenamente.
Mas, uma contrariedade, um insucesso, marca-nos tão profundamente que ficamos a reneti-lo mentalmente. o que faz que se imprima cada vez mais em nosso inconsciente profundo.
Quando passarmos a coletar as alegrias e a não dar valor aos desconfortos, às vicissitudes, enfrentaremos os problemas com mais naturalidade. Achamos, porém, que vida feliz é a daquele que tem dinheiro,
que vive o prazer. Isto, no entanto, é uma vida sensualista, no sentido de gozo
incessante.
Na hora em que compreendermos que gozo não é felicidade, e que prazer é uma questão que diz respeito às sensações, sendo felicidade aquilo que afeta às emoções profundas, encararemos as vicissitudes como acidentes de percurso, porque a nossa meta é a plenitude.
Marcam-nos mais a tragédia, o sofrimento, do que a felicidade e a harmonia.
Observe-se que o indivíduo,...
Continuação .....

Prefácio do Livro Atendimento Fraterno -Joana de Angelis

15 Atendimento Fraterno
PREFÁCIO
Terapia do amor
As patologias da alma — violência, ódio, ciúme, ressentimento, amargura,
suspeita, insatisfação, dentre outras muitas — respondem por incontáveis
aflições que aturdem o ser humano.
Alma encarnada, nela se encontram as matrizes do bem como do mal em
que se compraz, dando campo ao seu desenvolvimento.
Como efeito, as alegrias e as dores que se exteriorizam somente podem
ser erradicadas quando trabalhadas nas suas raízes causais.
Interpenetrando todas as células e assenhoreando-se dos equipamentos
orgânicos, que passa a comandar, a alma ou Espírito encarnado imprime nos
elementos físicos os conteúdos vibratórios que lhe são peculiares, característicos
do seu estágio de evolução.
Os sofrimentos humanos de qualquer tipo são manifestações dos
distúrbios profundos que remanescem no ser espiritual, desarticulando os
sensores emocionais e a harmonia vibratória que vige nas células, o que
faculta a instalação das enfermidades.
O ser humano é, em qualquer situação, aquilo a que aspira, a irradiação do que sente, os interesses que cultiva.
Aferrado à conduta primitiva, reagindo mais por instinto do que agindo pela
razão, permite que as deficiências internas se expressem em forma de
problemas que se exteriorizam perturbadores.
O valioso contributo da Medicina acadêmica, quando não acompanhado
por um bom relacionamento médico-paciente, resulta incompleto para atingir as
causas excruciantes das doenças e angústias.
Certamente, na maioria das vezes, minora a dor, aparentemente
vencendo-a; mas, porque não alcança a alma enferma, eis que ela reaparece
sob outras expressões, produzindo sofrimentos.
O conhecimento do ser imortal, da sua preexistência ao berço e
sobrevivência ao túmulo, torna-se indispensável para qualquer cometimento
terapêutico em relação aos problemas e dores humanos.
Por isso mesmo, a terapia do amor é de vital importância, envolvendo o
paciente em confiança e ternura, ao mesmo tempo esclarecendo-o quanto à
sua realidade e constituição espiritual.
*
O atendimento fraterno tem como objetivo primacial receber bem e orientar
com segurança todos aqueles que o buscam.
Não se propõe a resolver os desafios nem as dificuldades, eliminar as
doenças nem os sofrimentos, mas propor ao cliente os meios hábeis para a
própria recuperação.Apoiando-se nos postulados espíritas, o atendimento fraterno abre
perspectivas novas e projeta luz naqueles que se debatem nos dédalos das
aflições.
Mediante conversação agradável, evitando-se atitudes de confessionário,
o atendente fraternal deve saber desviar os temas que incidem nos vícios da
queixa, da lamentação, da autopunição, demonstrando que o momento de
libertação e paz está chegando, mas a ação para o êxito depende do próprio
paciente, que deve iniciar, a partir desse momento, o processo de autoterapia.
Concomitantemente, o atendimento fraterno, em razão dos propósitos que
persegue e das circunstâncias em que ocorre, faculta aos Espíritos nobres
adequado socorro ao cliente, que deverá permanecer receptivo ao mesmo.
Nessa ocasião, tem início a ação fluídica, o auxílio bio-energético, a
inspiração, que lhe propiciarão a mudança de clima mental, de psicosfera
habitual, facultando-lhe a transformação interior para melhor e a rearmonização
da alma que interagirá na aparelhagem orgânica.
Preparar-se bem, psicológica e doutrinariamente, faz-se imprescindível
para o desempenho correto do mister a que o atendente fraterno deseja
dedicar-se.
Ao lado desses requisitos cabe-lhe desenvolver o sentimento de amor,
embora vigiando-se para evitar qualquer tipo de envolvimento emocional,
jamais esquecendo a fraternidade gentil e caridosa como recurso hábil para a
desincumbência da tarefa a que se propõe.
O atendimento fraterno na Casa Espírita é de vital importância, para que todo aquele que lhe busque a ajuda, seja orientado com
equilíbrio, guiando-o para o labor de auto-iluminação.
*
Encontramos, neste livro, diretrizes sábias e cuidadosamente
estabelecidas para um correto desempenho da atividade fraternal no
atendimento aos necessitados e desconhecedores da Doutrina Espírita,
oferecendo-lhes apoio e esclarecimentos lúcidos para o autodescobrimento, a
autolibertação.
Confiamos que esta contribuição dos companheiros estudiosos que
constituem o Projeto Manoel Philomeno de Miranda, atinja a finalidade a que se
destina, auxiliando aos trabalhadores sinceros do Movimento Espírita, que se
candidatam a ajudar, na Instituição onde mourejam.
Salvador, 15 de dezembro de 1997
Joanna de Ângelis

ANTE O GRANDE RENOVADOR

ANTE O GRANDE RENOVADOR


Senhor, lembrando a Tua crucificação entre malfeitores, sacrificado em Teu ministério de amor universal, ouvimos apelos de vários setores religiosos do mundo presente, invocando-Te o nome para incentivar os movimentos tumultuários da renovação política que convulsiona o Planeta...

Asseguram-Te a posição de maior revolucionário de todos os tempos. Afirmam que abalaste os fundamentos sociais da ordem humana, que alteraste o curso da civilização, que transformaste os povos da Terra,

Quem Te negará, Senhor, a condição de Embaixador Celeste? Quem desconhecerá Teu apostolado de redenção?

Entretanto, divulgando a mensagem da Boa-Nova, jamais insultaste o governo estabelecido...

Amigo de todos os sofredores e necessitados, nunca congregaste os infelizes em sinistras aventuras de ódio ou indisciplina. Aproximavas-Te dos desamparados, curando-lhes as enfermidades, ensinando-lhes o caminho do bem, estendendo-lhes mãos benfeitoras e diligentes. Dirigindo-Te à massa anônima e desditosa, em nome do Eterno Pai, não preconizaste movimentos armados de desrespeito às autoridades legalmente constituídas. Ao invés do incitamento à revolta, recomendavas que a Lei de Moisés fosse respeitada, que os sacerdotes dignos fossem honrados, asseverando que o Reino de Deus não surgiria com aparências exteriores e, sim, com a elevação espiritual do homem de qualquer raça ou nacionalidade, sinceramente interessado em aproveitar os dons divinos.

Expondo princípios superiores ao coração popular, não disputaste lugar saliente, junto ao romano dominador, a pretexto de patrocinar a liberdade e, sim, aconselhaste acatamento a César com a obrigação de resgatar-se o tributo que se lhe devia.

Erguendo novas colunas no templo da fé viva, conclamando mãos limpas e corações puros ao serviço do Céu, não desprezaste a legião dos pecadores e criminosos, que se abeiravam de Ti, sedentos de transformação para a tarefa bendita... Não falaste a eles de uma tribuna dourada, acentuando fronteiras de separação. Comungaste com todos no caminho da vida, a pleno chão, abraçando leprosos e delinqüentes, avarentos e rixosos, bonecas e mulheres desventurados. Não impunhas, no entanto, qualquer compromisso que envolvesse a administrarão dos interesses públicos, nem traçavas, com astutas palavras, qualquer insinuarão ao desespero. Pedias tão somente renovassem o coração para que a Luz do Reino lhes penetrasse as profundidades do ser.

Sustentando o sublime ideal de obediência a Deus, nunca ordenaste morte ou punição aos companheiros menos corajosos. Suportaste as fragilidades dos discípulos mais queridos, confiando no futuro, certo de que se podiam faltar a Ti, nos instantes mais duros, não falhariam para com o Pai, nas grandes horas, desde que não te desanimasses na semeadura da fraternidade e proteção, pelo esforço da palavra e do exemplo no círculo educativo.

Se confiavas num mundo vasto, onde reinaria a solidariedade nas relações humanas, jamais tentaste apressar diretrizes absolutas pelo império da força. Começaste sempre a propaganda dos propósitos divinos em Ti mesmo, revelando o próprio coração, cultivando o trabalho e a esperança, com suprema fidelidade ao Poder Mais Alto que marcou estação adequada à semente e à germinação, à flor e ao fruto. Em momento algum mobilizaste a violência, alegando necessidades do serviço superior e, em todo o Teu apostolado, jamais desdenhaste o menor ensejo de amparar o próximo, edificando-o.

Para isso, abraçaste os velhos e os doentes, os deserdados e os tristes, os aleijados e as criancinhas...

Nunca disseste, Senhor, que os discípulos deveriam dominar em Roma para serem úteis na Judéia, nem prometeste primeiros lugares, nas Estradas da Glória, aos companheiros diletos, ainda mesmo em se tratando de João e Tiago que Te foram carinhosos amigos. Mas garantiste a vitória sublime a todos os homens que se fizessem devotados servos dos semelhantes por amor ao Pai Celestial.

Invariàvelmente, solicitaste socorro e proteção, desculpas e auxílios para os que Te perseguiam, gratuitamente, irônicos e ingratos...

Tua ordem era de amor e paz para que todo espírito se converta ao Infinito Bem...

Hoje, contudo, improvisam-se guerras sanguinolentas e sobram discórdias em Teu nome. Há companheiros que disputam situações de relevo, a fim de servirem à Tua causa, como se o sacrifício pessoal não constituísse a Tua senha na obra redentora. Outros Te recordam os ensinos para justificar a inconformação e a desordem.

Sim, foste, em verdade, o Grande Renovador, Transformaste os séculos e as nações, trabalhando e perdoando, ajudando e servindo, esperando e amando sempre!...

Um dia, na praça pública, quando ficaste a sós com humilde e infortunada irmã, que se vira fustigada pelo populacho ignorante, perguntaste -lhe, emocionadamente:

– Mulher, onde estão os perseguidores que te acusam?

Hoje, Mestre, lamentando embora o tempo que também perdi na Terra, iludido e envenenado quanto os outros homens, lembrando-Te ainda na cruz afrontosa, sozinho em Tua exemplificação de amar e renúncia, abnegação e martírio, ouso interrogar-Te, com as lágrimas de meu profundo arrependimento :

– Senhor, onde estão os renovadores que Te acompanham?



pelo Espírito Irmão X - Do livro: Luz Acima, Médium: Francisco Cândido Xavier.

Dissertações espíritas - Todos os Santos



(
Paris, 1º de novembro de 1862 - 
Médium: Sr. Perchet, sargento do 40º de linha, caserna do príncipe Eugênio; membro da Sociedade de Paris)

(Publicado na Revista Espírita de dezembro de 1862)
  
I

Meu caro irmão, neste dia de comemoração dos mortos, sinto-me feliz por poder entreter-me contigo. Não imaginas como é grande o prazer que experimento. Chama-me, pois, com mais frequência, e ambos lucraremos.
Aqui nem sempre posso vir a ti, porque muitas vezes estou junto às minhas irmãs, especialmente junto à minha filhinha, que quase não deixo, pois pedi a missão de ficar junto a ela. Não obstante, posso com frequência responder ao teu chamado e será sempre uma felicidade ajudar-te com meus conselhos.
Falemos da festa de hoje. Nesta solenidade cheia de recolhimento, que aproxima o mundo visível do invisível, há felicidade e tristeza.
Felicidade, porque une em piedoso sentimento os membros dispersos da família. Neste dia a criança vem junto ao seu túmulo encontrar sua terna mãe, que molha a pedra sepulcral com suas lágrimas. O anjinho a abençoa e mistura seus votos aos pensamentos que caem, gota a gota, com as lágrimas da mãe querida. Como são doces ao Senhor essas castas preces temperadas na fé e na lembrança! também sobem elas até os pés do Eterno, como o suave perfume das flores e, do alto do Céu, Deus lança um olhar de misericórdia sobre este pequeno recanto da Terra e envia um de seus bons Espíritos para consolar esta alma sofredora e lhe dizer: “Consolai-vos, boa mãe. Vosso filho querido está na mansão dos bem-aventurados, vos ama e vos espera.”
Eu disse: dia de felicidade, e o repito, porque aqueles a quem a religião da lembrança leva os da Terra a orar pelos que se foram, sabem que não é em vão, e que um dia irão rever os seres amados, dos quais se acham momentaneamente separados. Dia de felicidade, porque os Espíritos veem com alegria e ternura aqueles que lhes são caros merecerem, pela confiança em Deus, vir em breve participar da felicidade de que eles gozam.
Nesse dia de Todos os Santos, os mortos que corajosamente sofreram todas as provas impostas em vida, que se despojaram das coisas mundanas e educaram os filhos na fé e na caridade, esses Espíritos, repito, de boa vontade vêm associar-se às preces dos que deixaram, e lhes inspiram a firme vontade de marchar com perseverança pelo caminho do bem. Crianças, pais ou amigos, ajoelhados junto aos túmulos, experimentam íntima satisfação, porque têm consciência que os restos que lá estão, sob a lápide, não passam de uma lembrança do ser que eles encerraram e que agora se acha liberto das misérias terrenas.
Meu caro irmão, esses são os felizes. Até amanhã.

II

Meu caro irmão, fiel à minha promessa, venho a ti. Como havia dito ao deixar-te, ontem à noite, fui fazer uma visita ao cemitério. Lá examinei atentamente os vários Espíritos sofredores. Eles causam pena. Esse espetáculo chocante arrancaria lágrimas do mais duro coração.
Contudo, em grande número essas almas são aliviadas pelos vivos e pela assistência dos bons Espíritos, principalmente quando se arrependeram das faltas terrenas e fazem esforços por se despojarem de suas imperfeições, causa única de seus sofrimentos. Agora eles compreendem a sabedoria, a bondade, a grandeza de Deus, e pedem o favor de novas provas para satisfazerem à justiça divina, expiar e reparar suas faltas e conquistar um futuro melhor.
Orai, pois, caros amigos, de todo o vosso coração, por esses Espíritos arrependidos que acabam de ser esclarecidos por uma centelha de luz. Até agora eles não haviam acreditado nas delícias eternas porque, em sua punição, o cúmulo do tormento era não poderem esperar. Julgai sua alegria quando se rompeu o véu das trevas e o anjo do Senhor lhes abriu os olhos feridos de cegueira à luz da fé.
Eles são felizes, entretanto, em geral não têm ilusões quanto ao futuro. Muitos dentre eles sabem que devem sofrer terríveis provas. Assim, reclamam insistentemente as preces dos vivos e a assistência dos bons Espíritos, a fim de poderem suportar com resignação a tarefa difícil que lhes será imposta.
Digo-vos, ainda, e nunca seria demasiado repeti-lo para bem vos convencer desta grande verdade: Orai do fundo do coração por todos os Espíritos que sofrem, sem distinção de casta ou seita, porque todos os homens são irmãos e se devem mútuo auxílio.
Espíritas fervorosos, sobretudo vós, que conheceis a situação dos Espíritos sofredores e sabeis apreciar as fases da vida; vós, que conheceis as dificuldades que eles têm a vencer, vinde em seu auxílio. É uma bela caridade orar pelos pobres irmãos desconhecidos, muitas vezes por todos esquecidos, e cujo reconhecimento não sabeis avaliar, quando se veem assistidos. A prece é para eles o que o orvalho é para a terra calcinada pelo calor.
Figurai um desconhecido, caído em qualquer obscuro desvio de um caminho, em noite escura. Seus pés estão feridos pela longa caminhada. Ele sente o aguilhão da fome e uma sede ardente. Aos sofrimentos físicos juntam-se todas as torturas morais. O desespero está a dois passos. Em vão ele solta gritos dilacerantes aos quatro ventos, mas nenhum eco amigo responde ao apelo desesperado.
Então! Imaginai que no instante em que essa infeliz criatura chegou aos extremos do sofrimento, mão compassiva vem pousar suavemente em seu ombro e lhe trazer o socorro que sua situação reclama. Imaginai, antão, se possível, o contentamento desse homem, e tereis uma pálida ideia da felicidade dada pela prece aos Espíritos infelizes, que suportam a angústia da punição e do isolamento. Eles vos serão eternamente agradecidos porque, tende certeza, no mundo dos Espíritos não há ingratos como na vossa Terra.
Eu disse que Todos os Santos é uma solenidade surgida da tristeza, realmente uma grande tristeza, pois também chama a atenção para a classe desses Espíritos que, na existência terrena, se votaram ao materialismo, ao egoísmo; que não quiseram reconhecer outros deuses senão as miseráveis vaidades de seu mundo ínfimo; que não temeram empregar todos os meios ilícitos para aumentar suas riquezas e muitas vezes jogar gente honesta na miséria. Entre esses se acham os que interromperam a existência por uma morte violenta, bem como aqueles que durante sua vida arrastaram-se na lama da impureza.
Meu caro irmão, que horríveis tormentos para todos esses! É exatamente como diz a Escritura: “Haverá choro e ranger de dentes”. Eles serão mergulhados no abismo profundo das trevas. Esses infelizes são vulgarmente chamados os danados e, posto seja mais exato chamá-los os punidos, nem por isso sofrem menos as terríveis torturas que se atribuem aos danados em meio às chamas. Envoltos nas mais espessas trevas de um abismo que lhes parece insondável, posto não seja circunscrito, como vos ensinam, experimentam sofrimentos morais indescritíveis, até abrirem o coração ao arrependimento.
Alguns, por vezes, ficam durante séculos nesse estado, sem poderem prever o fim de seus tormentos, Assim, eles se dizem condenados por toda a eternidade. Essa opinião errônea, durante muito tempo encontrou guarida entre vós. É um erro grave, porque, mais cedo ou mais tarde, esses Espíritos se abrem ao arrependimento e então, Deus, apiedado de suas desgraças, lhes envia um anjo que lhes dirige palavras consoladoras e lhes abre um caminho tanto mais largo quanto mais tiverem para ele sido feitas preces aos pés do Eterno.
Irmão, vês que as preces são sempre úteis aos culpados, e se elas não alteram os desígnios imutáveis de Deus, nem por isso dão menos alívio aos Espíritos sofredores, trazendo-lhes o suave pensamento de ainda se acharem na lembrança de almas piedosas. Assim, o prisioneiro sente o coração pular de alegria quando, através de suas tristes grades, percebe o rosto de algum parente ou amigo que não esqueceu sua desgraça.
Se o Espírito sofredor for muito endurecido, muito material, para que a prece lhe atinja a alma, um Espírito puro a recolhe como um aroma precioso e a deposita nas ânforas celestes, até o dia em que elas puderem servir ao culpado.
Para que a prece dê frutos, não basta balbuciar as palavras, como faz a maioria das criaturas. A única prece agradável ao Senhor é a que parte do coração, a única que é considerada, e que alivia os Espíritos sofredores.
De tua irmã que te ama,
Marguerite


Pergunta (feita na Sociedade):

Que pensar da seguinte passagem desta comunicação, onde foi dito: “Eu vos asseguro que em nosso mundo não há ingratos como na vossa Terra?” Sendo as almas dos homens Espíritos encarnados, trazem consigo seus vícios e suas virtudes. As imperfeições dos homens vêm das imperfeições do Espírito, como suas qualidades vêm das qualidades adquiridas. Segundo essa ideia, e considerando-se que se encontram nos Espíritos os mais ignóbeis vícios, não se compreenderia que não se pudesse encontrar a ingratidão que frequentemente se encontra na Terra.
Resposta (por intermédio do Sr. Perchet):

Sem dúvida, há ingratos no mundo dos Espíritos, e podeis colocar em primeiro plano os obsessores e os maldosos, que fazem todos seus esforços por vos inculcar seus pensamentos perversos, a despeito do bem que lhes façais, orando por eles. Sua ingratidão, entretanto, é apenas momentânea, porque a hora do arrependimento soa para eles, mais cedo ou mais tarde. Então seus olhos se abrem à luz e seus corações também se abrem para sempre ao reconhecimento. Na Terra não é assim, e a cada passo encontrareis homens que, malgrado todo o bem que lhes façais, não pagam, até o fim, senão com a mais escura ingratidão.
A passagem que provocou essa observação não é obscura senão porque lhe falta extensão. Eu só encarava a questão do ponto de vista dos Espíritos abertos ao arrependimento, e aptos, por isso mesmo, a recolher imediatamente os frutos da prece. Estando esses Espíritos comprometidos com boa via, e não podendo o Espírito retrogradar, é claro que neles não poderia extinguir-se o reconhecimento.
Para não haver confusão, redigirei assim a frase que suscitou a observação: “Eles vos serão eternamente reconhecidos porque, tende certeza, entre os Espíritos, aqueles a quem tiverdes levado ao bom caminho não poderiam ser ingratos”.

Marguerite

OBSERVAÇÃO: Estas duas comunicações, como muitas outras de moralidade não menos elevada, foram obtidas pelo Sr. Perchet em sua caserna, onde ele conta com vários camaradas que partilham de suas crenças espíritas e a estas conformam sua conduta. Perguntaremos aos detratores do Espiritismo se esses militares receberiam melhores conselhos de moral no cabaré. Se aí está a linguagem de Satã, ele se fez eremita. É verdade que ele está muito velho!
Aproveitando o ensejo, perguntaremos ao Sr. Tony, o espirituoso e sobretudo muito lógico jornalista de Rochefort, que acredita que o Espiritismo é um dos males saídos da caixa de Pandora e uma dessas coisas malsãs estudadas pela higiene pública e a moral, nós lhe perguntaremos, íamos dizendo, o que há de malsão e de contrário à higiene nessa comunicação, e se esses militares perderam a moralidade e a saúde, ao renunciarem aos maus lugares em favor da prece.

MAMÃE, AQUI ESTOU




(Revista Espírita, janeiro de 1858 - Evocações particulares)

A Sra*** havia perdido, meses antes, a filha única, de catorze anos, objeto de toda a sua ternura e muito digna de seus lamentos, pelas qualidades que prometiam torná-la uma senhora perfeita. A moça falecera de longa e dolorosa enfermidade. Inconsolável com a perda, dia a dia a mãe via sua saúde alterar-se e repetia incessantemente que em breve iria reunir-se à filha. Informada da possibilidade de se comunicar com os seres de além-túmulo, a Sra*** resolveu procurar, na conversa com a filha, um alívio para a sua pena. Uma senhora de seu conhecimento era médium, mas pouco afeitas uma e outra a semelhantes evocações, principalmente numa circunstância tão solene, pediram-me assistência. Éramos apenas três: a mãe, a médium e eu. Eis o resultado dessa primeira sessão.

A mãe: Em nome de Deus Todo-Poderoso, Espírito de Júlia, minha filha querida, peço-te que venhas, se Deus o permitir.
Júlia: Mamãe, aqui estou!
A mãe: És tu, minha filha, que me respondes? Como posso saber que és tu?
Júlia: Lili.
(Era o apelido familiar, dado à moça em sua infância. Nem a médium o sabia, nem eu, pois há muitos anos só a chamam Júlia. Com este sinal, a identidade era evidente. Não podendo dominar sua emoção, a mãe rompeu em soluços).
Júlia: Mãe, por que te afliges? Sou feliz, muito feliz. Não sofro mais e vejo-te sempre.
A mãe: Mas eu não te vejo! Onde estás?
Júlia: Aqui ao teu lado, com a minha mão sobre a Sra. X (a médium) para que escreva o que te digo. Vê a minha letra (a letra era realmente a da moça).
A mãe: Dizes: minha mão. Então tens corpo?
Júlia: Não tenho mais o corpo que tanto me fez sofrer, mas tenho a sua aparência. Não estás contente porque não sofro mais e porque posso conversar contigo?
A mãe: Se eu te visse, te reconheceria, então?
Júlia: Sim, sem dúvida; e já me viste muitas vezes em teus sonhos.
mãe: Com efeito eu te revi nos meus sonhos, mas pensei que fosse efeito da imaginação, uma lembrança.
Júlia: Não. Sou eu mesma que estou sempre contigo e te procuro consolar; fui eu quem te inspirou a ideia de me evocar. Tenho muitas coisas a te dizer. Desconfia do Sr.***. Ele não é sincero.
(Esse senhor, conhecido apenas da mãe, citado assim espontaneamente, era uma nova prova de identidade do Espírito que se manifestava).
mãe: Que pode fazer contra mim o Sr.***?
Júlia: Não te posso dizer. Isto me é vedado. Posso apenas te advertir que desconfies dele.
mãe: Estás entre os anjos?
Júlia: Oh! ainda não. Não sou bastante perfeita.
mãe: Entretanto, não te conhecia nenhum defeito. Eras boa, meiga, amorosa e benevolente para com todos. Então isto não basta?
Júlia: Para ti, mãe querida, eu não tinha defeitos, e eu o acreditava, pois mo dizias tantas vezes! Mas agora vejo o que me falta para ser perfeita.
mãe: Como adquirirás essas qualidades que te faltam?
Júlia: Em novas existências, que serão cada vez mais felizes.
mãe: É na Terra que terás novas existências?
Júlia: Nada sei a respeito.
mãe: Desde que não fizeste o mal em tua vida, por que sofreste tanto?
Júlia: Prova! Prova! Eu a suportei com paciência, pela minha confiança em Deus. Hoje sou muito feliz por isto. Até breve, querida mamãe!

Ante fatos como este, quem ousará falar do nada do túmulo, quando a vida futura se nos revela, por assim dizer, palpável? Essa mãe, minada pelo desgosto, experimenta hoje uma felicidade inefável em poder conversar com a filha; entre elas não há mais separação; suas almas se confundem e se expandem na intimidade espiritual, pela troca de seus pensamentos.
Apesar da discrição em que envolvemos este relato, não o teríamos publicado se não tivéssemos tido autorização formal. Aquela mãe nos dizia: Possam todos quantos perderam suas afeições terrenas experimentar a mesma consolação que experimento!
Acrescentaremos apenas uma palavra aos que negam a existência dos bons Espíritos. Perguntaremos como poderiam provar que o Espírito desta jovem era um demônio malfazejo!