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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

DEPRESSÕES


Emmanuel
 
Se trazes o Espírito agoniado por sensações de pessimismo e tristeza, concede ligeira pausa a ti mesmo, no capítulo das próprias aflições, a fim de raciocinar.
*
Se alguém te ofendeu, desculpa.
Se feriste alguém, reconsidera a própria atitude.
Contratempos do mundo estarão constantemente no mundo, onde estiveres.
Parentes difíceis repontam de todo núcleo familiar.
Trabalho é Lei do Universo
Disciplina é alicerce da educação.
Circunstâncias constrangedoras, assemelham-se a nuvens que aparecem no firmamento de qualquer clima.
Incompreensões com relação a caminhos e decisões que se adote são empeços e desafios, na experiência de quantos desejem equilíbrio e trabalho.
Agradar a todos, ao mesmo tempo, é realização impossível.
Separações e renovações representam imperativos inevitáveis do progresso espiritual.
Mudanças equivalem a tratamento da alma, para os ajustes e reajustes necessários à vida.
Conflitos íntimos atingem toda criatura que aspire a elevar-se.
Fracassos de hoje são lições para os acertos de amanhã.
Problemas enxameiam a existência de todos aqueles que não se acomodam com estagnação.
*
Compreendendo a realidade de toda pessoa que anseie por felicidade e paz, aperfeiçoamento e renovação, toda vez que sugestões de desânimo nos visitem a alma, retifiquemos em nós o que deva ser corrigido e abraçando o trabalho que a vida nos deu a realizar, prossigamos à frente. 


Do Livro “Coragem”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
 

OS DIREITOS DA MULHER


Conversávamos antes da reunião sobre os direitos da mulher perante o homem. Os comentários eram os mais diversos, quanto ao que ocorre no mundo neste sentido. Quando os deveres em pauta nos chamaram à tarefa, O Livro dos Espíritos, aberto ao acaso, deu-nos a questão 201 para estudo. Após as explanações habituais, o nosso caro Emmanuel trouxe-nos a página “Especialmente à Mulher”.
 
 
ESPECIALMENTE  À  MULHER
 
Emmanuel
 
Homem e mulher guardam idênticos direitos perante as Leis da Vida.
E ambos, análogas características de imortalidade; os mesmos atributos do espírito eterno.
Entretanto, a Sabedoria da Criação entregou à mulher as chaves da vida. Com ela, a repetição do berço, nos prodígios do renascimento.
O homem dominará a natureza, erguerá impérios, influenciará povos ou marcará época; no entanto a humanização de tudo isso pertence à mulher que o embala nos vínculos de sua própria renovação. 
Por muito poderosos hajam sido os conquistadores da Terra, no passado e no presente, e por mais cultos os filósofos que traçam as diretrizes da cultura humana, de nenhum deles a vida suprimiu a necessidade das entranhas femininas para que se lhes gerasse a existência; e ainda agora, quando a ciência do mundo se dispõe a intervir nos processos da reencarnação, procurando nova nidação dos recursos genéticos, a favor da gestação em proveta criadora, nenhum sistema de sublimação espiritual pode substituir a assistência materna, no trabalho do renascimento físico, porque unicamente o amor é a luz da civilização, conduzindo-a para a integração com Deus.
***
Se te encontras na experiência feminina, ante os impositivos da evolução, é natural te compreendas, no mesmo nível do homem relativamente à cultura e à inteligência, com a mesma segurança de competência. Mas para a demonstração disso, não busques os pontos de vivência em que a maioria dos homens falhou tantas vezes.
Para te mostrares tão eficiente quanto os melhores companheiros da Terra, não é necessário desças aos precipícios a que tantos se arrojaram na própria imprevidência.
Recorda que podes ombrear com todos eles em matéria de trabalho e habilitação, entendimento e responsabilidade, mas é preciso pensar que Deus não confiou aos homens os dons que te concedeu na perpetuação da vida e no sustento do amor.
Livro “Caminhos de Volta” – Psicografia Francisco Cândido Xavier – Espíritos Diversos.
 

Parábola do Semeador, sob a ótica de Joaana de Angelis


“Saiu o semeador para semear a sua semente. E quando semeava, uma parte caiu á beira do caminho; foi pisada, e as aves do Céu a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e tendo crescido, secou, porque não havia umidade. Outra caiu no meio de espinhos; e com ela cresceram os espinhos, e sufocaram-na. E outra caiu na boa terra, e, tendo crescido, deu fruto a cento por um. Dizendo isto clamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. (...)”
(Mateus, XIII, 1-9-Lucas, VIII, 4-15.)

“Saiu o semeador para semear a sua semente. E quando semeava, uma parte caiu á beira do caminho; foi pisada, e as aves do Céu a comeram...”

Uma semente que não cresce e não cria raízes é aquela que é plantada superficialmente, podemos trazer esta experiência para o nosso dia a dia, nas relações pessoais, profissionais e até mesmo religiosa, as quais encaramos superficialmente.
Nós em muitos momentos da vida somos rígidos, “solos” duros, áridos, impedindo assim que as boas sementes germinem. Enquanto não permitirmos que a semente adentre o nosso ser, ela não vai germinar e conseqüentemente não vai criar raízes, às vezes não permitimos isso por estarmos em uma condição “confortável”, ou seja, acomodado.
E na maioria das vezes, ouvimos os ensinamentos, mas jamais achamos que eles servem para nós, sempre os projetamos para outras pessoas, e nunca para nós.

“Receando ser ele mesmo, tornasse pessoa espelho, a refletir as conveniências dos outros, ou, homem-parede, a reagir contra todas às vibrações que lhe são dirigidas antes de as examinar”
(Joanna de Angelis-Homem Integral)

“Outra caiu sobre a pedra; e tendo crescido, secou, porque não havia umidade...”

“Como o próprio Jesus disse, este solo é aquele que recebeu rápida e alegremente a Sua palavra, mas não tem raiz em si mesmo.”

Somos nós, eufóricos quando movidos somente pela impulsividade, não nos aprofundamos em nossas raízes, ou seja, partimos para nossas empreitadas na vida, mas sem buscarmos o devido preparo para termos “sucesso” em nossas buscas.
Assim também é na luta pelo nosso melhoramento espiritual, se deixarmos a semente do Evangelho criar raízes profundas dentro de nós, nosso crescimento será mais significativo, uma arvore não pode crescer exuberantemente em sua verticalidade, se não possuir fortes e profundas raízes que a sustentarão.
Esta semente representa aquelas pessoas que não possuem raízes em si mesmas.
Quantas iniciam cursos de estudos da Doutrina Espírita, que certamente nos ajudam muito a criarmos melhores condições para nossa existência,e de hora para outra simplesmente desaparecem, usando trabalho profissional e outros, para justificar sua ausência, outras freqüentam reuniões com belas palestras e com profundas mensagens, e acham tudo muito lindo, mas não deixam esses momentos se aprofundarem dentro de si, em boas reflexões, e acaba tudo passando, alguns partem para os trabalhos necessários dentro da Casa Espírita, iniciam grandes projetos, mas no primeiro obstáculo, desiste de tudo.
Esta é a segunda semente, houve todos as lições, tem acesso a tudo de bom, mas existe nelas uma grande falta de enraizamento e de aprofundamento, deixando que todas as suas atividades sejam plenamente superficiais.

“O ser humano possui profundidade que deve ser penetrada, superando a superficialidade no dia a dia”
(Joanna de Angelis)

“Outra caiu no meio de espinhos; e com ela cresceram os espinhos, e sufocaram-na...”

Os espinhos são as nossas sombras, que ficam escondidas e crescem e quando desejamos partir para uma renovação moral, pois as boas raízes começam a crescer, as nossas melhores qualidades e as maiores virtudes são contaminadas por estes espinhos, por estas sombras.

“Toda vez que a pessoa tenta a conscientização intima, o encontro com o “eu” profundo, a busca interior, as sensações predominantes nas paisagens físicas, perturbam-lhe a decisão, impedindo a experiência”
(Joanna de Angelis)

Se já nos conhecemos um pouco, e sabemos das sombras que trazemos dentro de nós, também sabemos de nossas boas conquistas, então devemos iniciar já uma batalha para que estas sombras não se sobreponham as nossas qualidades, impedindo o nosso crescimento.
Precisamos então trabalhar mais as nossas sombras, buscar as raízes, nos aprofundarmos, deixar o orgulho de lado e passarmos, com esse mergulho em nós mesmos, nos aceitar mais e procurar disseminar estes espinhos de dentro de nós. Como nos orienta a Benfeitora Joanna de Angelis, buscar o nosso “self” e nos conhecermos profundamente.

“A aquisição da consciência é um processo lento e profundo, porque se encontra em germe no próprio “ser”, como a pérola preciosa na concha escura no molúsculo...”
(Joanna de Angelis)

Nada acontece de hora para outra, mas é preciso fazer nossa parte para que consigamos transformar nossas feridas em pérolas, é preciso deixar que todos os ensinamentos nos penetrem verdadeiramente para que ao absorvermos, possamos partir para a vivencia no dia a dia, fazendo com que os espinhos caiam e deixem os frutos bons das boas sementes crescerem e se multiplicarem.
E outra caiu na boa terra, e, tendo crescido, deu fruto a cento por um.

“Nesse homem atribulado dos nossos dias, a Divindade deposita confiança em favor de uma renovação para um mundo melhor e uma sociedade mais feliz, buscar os valores que lhes dormem soterrados no íntimo é a razão de sua existência corporal no momento, encontrar-se com a vida, enfrentá-la e triunfar eis o seu fanal.”
(Joanna de Angelis)

“Quantos de vós aqui presentes darão frutos? Quantos de vós que estão aqui vão permitir que tudo que vocês escutaram e escutam se enraízem, transformem vocês e sigam a adiante se transformando nessa árvore que dará frutos e que vão gerar novas e boas sementes?
(Bezerra de Menezes)

Fonte:Blog: Estudos Espiritas

O SEMEADOR INCOMPLETO


 
Irmão X
 
 
  
    Conta-se que existiu um cristão inteligente e sincero, de convicções forte e maneiras francas, que, onde estivesse, atento às letras evangélicas, não deixava de semear a palavra do Senhor.
    Excelente conversador, ocupava a tribuna com êxito invariável. As imagens felizes fluíam-lhe dos lábios quais arabescos maravilhosos de som. Ensinava sempre, conduzia com lógica, aconselhava com acerto, espalhava tesouros verbais. No entanto, reconhecia-se incompreendido de toda gente.
    Em verdade, no fundo, exaltava o amor; todavia, acima de tudo, queria ser amado. Salientava os benefícios da cooperação; contudo, estimava a colaboração alheia, sentindo-se diminuído quando as situações lhe reclamavam concurso fraterno. Sorria, contente, ao receber o titulo de orientador; entretanto, dificilmente sabia utilizar o titulo de irmão. Habituara-se, por isso, ao patriarcado absorvente criado pelos homens na imitação do patriarcado libertador de Deus.
    Com a passagem do tempo, todavia, suas palavras perderam o brilho. Faltava-lhe a claridade interior que somente a integração com Jesus pode proporcionar.
    Servo caprichoso e rígido, insulou-se no estudo das letras sagradas e buscou situar-se nos símbolos da Boa Nova, descobrindo para ele mesmo a posição do semeador incompreendido.
    As estações correram sucessivas e a luz de cada dia encontrou-o sempre sozinho e distante...
    Dizia-se enfastiado das criaturas. Semeara entre elas, afirmava triste, as melhores noções da vida, recebendo, em troca, a ingratidão e o abandono. Sentia-se ausente de sua época, desajustado entre os companheiros e descrente do mundo. E porque não desejava contrariar a si mesmo, retirara-se das atividades sociais, a fim de aguardar a morte.
    Efetivamente, o anjo libertador, decorrido algum tempo, veio subtraí-lo ao corpo físico.
    Estranho, agora, durante muitos anos. Mantinha-se apagada a lâmpada de seu coração. Não possuía suficiente luz para identificar os caminhos novos ou para ser visto pelos emissários celestes.
    O inteligente instrutor, por fim, valeu-se da prece. Afinal, fora sincero em seus pontos de vista e leal a si próprio. E tanto movimentou os recursos da oração que o Senhor, ouvindo-lhe as suplicas bem urdidas, desceu em pessoa aos círculos penumbrosos.
    Sentindo-se agraciado, o infeliz alinhou frases preciosas que Jesus anotava em silencio.
    Depois de longa exposição verbal do aprendiz, perguntou o Mestre, amável:
    - Que missão desempenhaste entre os homens?
    O interpelado fixou o gesto de quem sofre o golpe da injustiça e esclareceu:
    - Senhor, minha tarefa foi semelhante à daquele semeador de tua parábola. Gastei varias dezenas de anos, espalhando tuas lições na Terra. No entanto, não fui bem-sucedido no ministério. As sementes que espargi a mancheias sempre caíram em terra sáfara. Quando não eram eliminadas pelas pedras do orgulho, apareciam monstros da vaidade, destruindo-as, surgiam espinhos da insensatez sufocando-as, crescia o lodo do mal, anulando-me o serviço. Nunca fugi ao esforço de oferecer teus ensinamentos com abundância. Atirei-os aos quatro cantos do mundo, através da tribuna privada ou da praça livre. Todavia, meu salário tem sido o pessimismo e a derrota...
    Jesus fitava-o, condoído. E porque os lábios divinos nada respondessem, o aprendiz acentuou:
    - Portanto, é imperioso reconhecer que te observei as advertências... Fui sincero contigo e fiel a mim mesmo...
    Verificando-se novo intervalo, disse o Senhor com imperturbável serenidade:
    - Se atiraste tantas semente a esmo, que fazias do solo? Acreditas que o Supremo Criador conferiu eternidade ao pântano e ao espinheiro? Que dizer do lavrador que planta desordenadamente, que não retira as pedras do campo, nem socorre o brejo infeliz? É fácil espalhar sementes porque os principais sublimes da vida procedem originariamente da Providencia Divina. A preparação do solo, porém, exige cooperação direta do servo disposto a contribuir com o próprio suor. Que fizeste em favor dos corações que converteste em terra de tua semeadura? Esperavas, acaso que o logo lodacento te procurasse as mãos para ser drenado, que as pedras te rogassem remoção, que os carrascais te pedissem corrigenda? Permaneceria a sementeira fora do plano educativo estabelecido pelo Pai Eterno para o Universo inteiro?
    Ante nova pausa que se fizera, o crente, desapontado, objetou:
    - Contudo, tua parábola não se refere aos nossos deveres para com o solo...
    - Oh! – tornou Jesus, complacente – estará o mestre obrigado a resolver os problemas dos discípulos? Não me reportei a Vinha do Mundo, à charrua do esforço, ao trigo da verdade e ao joio da mentira? Não expliquei que o maior no Reino dos Céus será sempre aquele que se transformou em servo de todos? Não comentei, muitas vezes, as necessidades do serviço?
    O ex-instrutor silenciou em pranto convulso.
    O Senhor, todavia, afagou-lhe pacientemente a fronte e recomendou:
    - Volta, meu amigo, ao campo do trabalho terrestre e não te esqueças do solo, antes de semear. Cada coração respira em clima diferente. Enquanto muitos permanecem na zona fria da ignorância outros se demoram na esfera tórrida das paixões desvairadas. Volta e vive com eles, amparando a cada um, segundo as suas necessidades. Aduba a sementeira do bem, de conformidade com as exigências de cada região. Esse ministério abençoado reclama renuncia e sacrifício. Atendendo aos outros, ajustarás a ti mesmo. Por enquanto, és apenas o semeador incompleto. Espargiste as sementes, mas não consultaste as necessidade de chão. Cada gleba tem as suas dificuldades, os seus problemas e percalços diversos. Vai e, antes de tudo, distribuí o adubo da fraternidade e do entendimento.
    Nesse instante, o ex-pregador da verdade sentiu-se impelido por vento forte. A lei do renascimento arrebatava-o às esferas mais baixas, onde, novamente internado na carne, trabalharia, não para ser compreendido, mas para compreender.
 
  Livro:  Pontos e Contos  Psicografia  Francisco Cândido Xavier  - Pelo espírito:   Irmão X

PORTA ESTREITA

Emmanuel

"Porfiai por entrar pela porta estreita,
porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão."
- Jesus. (LUCAS, 13:24.)

Antes da reencarnação necessária ao progresso, a alma estima na "porta estreita" a sua oportunidade gloriosa nos círculos carnais.
 Reconhece a necessidade do sofrimento purificador.
 Anseia pelo sacrifício que redime.
 Exalta o obstáculo que ensina.
 Compreende a dificuldade que enriquece a mente e não pede outra coisa que não seja a lição, nem espera senão a luz do entendimento que a elevará nos caminhos infinitos da vida.
 Obtém o vaso frágil de carne, em que se mergulha para o serviço de retificação e aperfeiçoamento.
 Reconquistando, porém, a oportunidade da existência terrestre, volta a procurar as "portas largas" por onde transitam as multidões.
 Fugindo à dificuldade, empenha-se pelo menor esforço.
 Temendo o sacrifício, exige a vantagem pessoal.
 Longe de servir aos semelhantes, reclama os serviços dos outros para si.
 E, no sono doentio do passado, atravessa os campos de evolução, sem algo realizar de útil, menosprezando os compromissos assumidos.
 Em geral, quase todos os homens somente acordam quando a enfermidade lhes requisita o corpo às transformações da morte.
 "Ah! se fosse possível voltar!...
" - pensam todos.
 Com que aflição acariciam o desejo de tornar a viver no mundo, a fim de aprenderem a humildade, a paciência e a fé!...
 com que transporte de júbilo se devotariam então à felicidade dos outros! ...
 Mas... é tarde.
 Rogaram a "porta estreita" e receberam-na, entretanto, recuaram no instante do serviço justo.
 E porque se acomodaram muito bem nas "portas largas", volvem a integrar as fileiras ansiosas daqueles que procuram entrar, de novo, e não conseguem.

Livro: Vinha de Luz - Emmanuel - Psicografia de Chico Xavier

PRIMEIRAS LIÇÕES DE MORAL DA INFÂNCIA

PRIMEIRAS LIÇÕES DE MORAL DA INFÂNCIA

Revista Espírita. Fevereiro de 1864

    De todas as chagas morais da sociedade, parece que o egoísmo é a mais difícil de desarraigar. Com efeito, ela o é tanto mais quanto mais é alimentada pelos mesmos hábitos da educação. Parece que se toma a tarefa de, desde o berço, excitar certas paixões que, mais tarde tornam-se uma segunda natureza. E admiram-se dos vícios da sociedade, quando as crianças os sugam com o leite. Eis um exemplo que, como cada um pode julgar, pertence mais à regra do que à exceção.
    Numa família de nosso conhecimento, há uma menina de quatro a cinco anos, de uma inteligência rara, mas que tem os pequenos defeitos das crianças mimadas. Isto é, é um pouco caprichosa, chorona, teimosa, e nem sempre agradece quando lhe dão qualquer coisa, o que os pais cuidam bem de corrigir porque, fora destes defeitos, segundo eles, ela tem um coração de ouro, expressão consagrada. Vejamos como eles se conduzem para lhe tirar essas pequenas manchas e conservar o ouro em sua pureza.
    Um dia trouxeram um doce à criança e, como de costume, lhe disseram: "Tu o comerás se fores boazinha". Primeira lição de gulodice. Quantas vezes, à mesa, não dizem a uma criança que não comerá tal petisco se chorar. "Faze isto, ou faze aquilo", dizem, "e terás creme" ou qualquer outra coisa que lhe apeteça; e a criança é constrangida, não pela razão, mas em vista de satisfazer um desejo sensual que aguilhoa. E ainda muito pior, quando lhe dizem o que não é menos freqüente, que darão o seu pedaço a uma outra. Aqui já não é só a gulodice que está em jogo, é a inveja. A criança fará o que lhe dizem, não só para ter, mas para que a outra não tenha. Querem dar-lhe uma lição de generosidade? Dizem-lhe: "Dá esta fruta ou este brinquedo a fulaninho". Se ela recusa, não deixam de acrescentar, para nela estimular um bom sentimento: "Eu te darei um outro." De modo que a criança não se decide a ser generosa senão quando está certa de nada perder.
    Certo dia, testemunhamos um fato bem característico deste gênero. Era uma criança de cerca de dois anos e meio, a quem tinham feito semelhante ameaça, acrescentando: "Nós o daremos ao irmãozinho e tu não comerás. E para tornar a lição mais sensível, puseram o pedaço no prato deste; mas o irmãozinho, levando a coisa a sério, comeu a porção. A vista disto, o outro ficou um lacre e não era preciso ser o pai, nem a mãe, para não ver o relâmpago de cólera e de ódio que brilhou de seus olhos. A semente estava lançada: poderia produzir bom grão?
Voltemos à menina, da qual falamos. Como não se deu conta da ameaça, sabendo por experiência que raramente a executavam, desta vez foram mais firmes, pois compreenderam que era necessário dominar esse pequeno caráter, e não esperar que a idade lhe tivesse dado um mau hábito. Diziam que é preciso formar cedo as crianças, máxima muito sábia, e para pô-la em prática, eis o que fizeram: "Prometo-te," disse a mãe, " que se não obedeceres, amanhã cedo darei o teu bolo à primeira menina pobre que passar. " Dito e feito. Desta vez queriam o bem e dar-lhe uma boa lição. Assim, no dia seguinte de manhã, avistada uma pequena mendiga na rua, fizeram-na entrar, obrigaram a filha a tomá-la pela mão e ela mesma lhe dar o bolo. Então elogiaram a sua docilidade. Moralidade: a filha disse: "É mesmo, se eu soubesse teria tido pressa em comer o bolo ontem." E todos aplaudiram esta resposta espirituosa. Com efeito, a criança tinha recebido uma forte lição, mas de puro egoísmo, da qual não deixará de aproveitar-se uma outra vez, pois agora sabe o que custa a generosidade forçada. Resta saber que frutos darão mais tarde esta semente quando, com mais idade, a criança fizer aplicação dessa moral em coisas mais sérias que um bolo.
    Sabe-se de todos os pensamentos que este cínico fato pode ter feito germinar nessa cabecinha? Depois disto, como querem que uma criança não seja egoísta quando, em vez de nela despertar o prazer de dar e de lhe representar a felicidade de quem recebe, impõem-lhe um sacrifício como punição? Não é inspirar aversão ao de dar àqueles que necessitam? Um outro hábito, igualmente freqüente é o de castigar a criança mandando-a comer na cozinha com os criados. A punição está menos na exclusão da mesa, do que na humilhação de ir para a mesa da gente de serviço. Assim se acha inoculado, desde a mais tenra idade, o vírus da sensualidade, do egoísmo, do orgulho, do desprezo aos inferiores, das paixões, numa palavra, que com razão são consideradas como as chagas da humanidade. É preciso ser dotado de uma natureza excepcionalmente boa para resistir a tais influências, produzidas na idade mais impressionável, e onde não podem encontrar o contrapeso nem da vontade, nem da experiência. Assim, por pouco que aí se ache o germe das más paixões, o que é o caso mais ordinário, dada a natureza dos Espíritos que, em maioria, se encarnam na terra, não podem senão desenvolver-se sob tais influências, ao passo que seria preciso observar-lhe os menores traços para os apagar.
    Esta falta, sem dúvida, é dos pais; mas, é bom dizer, muitas vezes estes pecam mais por ignorância do que por má vontade. Em muitos, há incontestavelmente, uma culposa despreocupação, mas em muitos outros a intenção é boa, é o remédio que nada vale, ou que é mal aplicado. Sendo os primeiros médicos da alma dos filhos, deveriam ser instruídos, não só de seus deveres, mas dos meios de cumpri-los. Não basta ao médico saber que deve procurar curar: é preciso saber como agir. Ora, para os pais, onde estão os meios de instruir-se nesta parte tão importante de sua tarefa? Hoje dá-se muita instrução à mulher; fazem-na passar por exames rigorosos; mas algum dia foi exigido da mãe que soubesse como fazer para formar o moral de seu filho? Ensinam-lhe receitas caseiras; mas lhe foi iniciada aos mil e um segredos de governar os jovens corações? Assim, os pais são abandonados, sem guia, à sua iniciativa; eis porque tantas vezes seguem caminhos errados; também recolhem, nos erros dos filhos já crescidos, o fruto amargo de sua inexperiência ou de uma ternura mal entendida, e a sociedade inteira lhes recebe o contragolpe.
    Desde que é reconhecido que o egoísmo e o orgulho são a fonte da maioria das misérias humanas; que enquanto reinarem na terra não se pode esperar nem a paz, nem a caridade, nem a fraternidade, então é preciso atacá-los no estado de embrião, sem esperar que fiquem vivazes.
    Pode o Espiritismo remediar esse mal? Sem nenhuma dúvida; e não hesitamos em dizer que é o único suficientemente poderoso para fazê-lo cessar. Por um novo ponto de vista, do qual faz observar a missão e a responsabilidade dos pais; fazendo conhecer a fonte das qualidades inatas, boas ou más; mostrando a ação que se pode exercer sobre os Espíritos encarnados e desencarnados; dando a fé inquebrantável, que sanciona os deveres; enfim, moralizando os próprios pais. Ele já prova sua eficácia pela maneira mais racional pela qual são educadas as crianças nas famílias verdadeiramente Espíritas. Os novos horizontes que abre o Espiritismo fazem ver as coisas de outra maneira. Sendo o seu objetivo o progresso moral da humanidade, forçosamente deverá iluminar o grave problema da educação moral, primeira fonte da moralização das massas. Um dia compreender-se-á que este ramo da educação tem seus princípios, suas regras, como a educação intelectual, numa palavra, que é uma verdadeira ciência. Talvez um dia, também, será imposta a toda mãe de família a obrigação de possuir esses conhecimentos, como se impõe ao advogado a de conhecer o Direito.



 

A FÉ, A ESPERANÇA E A CARIDADE


A FÉ, A ESPERANÇA E A CARIDADE
 
(Bordeaux - médium: Sra. Cazemajoux)

(Publicado na Revista Espírita, fevereiro de 1862)

A FÉ

Sou a irmã mais velha da Esperança e da Caridade. Chamo-me Fé.
Sou grande e forte. Aquele que me possui não teme o ferro nem o fogo, pois ele é à prova de todos os sofrimentos físicos e morais. Irradio sobre vós com um facho cujos jatos brilhantes se refletem no fundo dos vossos corações e vos comunico a força e a vida. Entre vós, dizem que transporto montanhas, mas eu vos digo: venho erguer o mundo, porque o Espiritismo é a alavanca que me deve ajudar. Uni-vos a mim. Eu venho convidar-vos. Eu sou a Fé.
Eu sou a Fé! Moro com a Esperança, a Caridade e o Amor, no mundo dos Espíritos Puros. Muitas vezes deixei as regiões etéreas e vim à Terra para vos regenerar, dando-vos a vida do espírito; mas, fora os mártires dos primeiros tempos do cristianismo e alguns fervorosos sacrifícios, de tempos em tempos feitos ao progresso da ciência, das letras, da indústria e da liberdade, não encontrei entre os homens senão indiferença e frieza, e tristemente retomei o meu voo para os céus. Julgais-me em vosso meio, mas vos enganais, porque a Fé sem obras é uma aparência de Fé. A verdadeira Fé é a vida e a ação.
Antes da revelação do Espiritismo a vida era estéril; era uma árvore ressequida pelos raios e que nenhum fruto produzia. Reconhecem-me por meus atos: eu ilumino as inteligências; aqueço e fortaleço os corações; afasto para bem longe as influências enganadoras e vos conduzo para Deus pela perfeição do espírito e do coração. Vinde colocar-vos sob minha bandeira. Eu sou poderosa e forte. Eu sou a Fé.
Sou a Fé, e o meu reino começa entre os homens, reino pacífico que os tornará felizes no presente e na eternidade. A aurora do meu aparecimento entre vós é pura e serena; seu sol será resplendente e seu ocaso virá docemente embalar a Humanidade nos braços de eternas felicidades. Espiritismo! Derrama sobre os homens o teu batismo regenerador. Eu lhes faço um apelo supremo. Eu sou a Fé.
GEORGES, bispo de Périgueux

A ESPERANÇA

Meu nome é Esperança. Sorrio à vossa entrada na vida; sigo-vos passo a passo e não vos deixo senão nos mundos onde para vós se realizam as promessas de felicidade, incessantemente murmuradas aos vossos ouvidos. Sou vossa fiel amiga. Não repilais minhas inspirações. Eu sou a Esperança.
Sou eu que canto através do rouxinol e que solto, aos ecos das florestas, essas notas lamentosas e cadenciadas que vos fazem sonhar com o céu. Sou eu que inspiro à andorinha o desejo de aquecer os seus amores ao abrigo de vossas moradas; que brinco na brisa ligeira que acaricia os vossos cabelos; que espalho aos vossos pés o suave perfume das flores dos vossos canteiros, e quase não pensais nesta amiga tão devotada! Não a repilais: é a Esperança!
Tomo todas as formas para me aproximar de vós: Sou a estrela que brilha no azul; o quente raio de sol que vos vivifica; embalo as vossas noites com sonhos ridentes; expulso para longe as negras preocupações e os pensamentos sombrios; guio vossos passos para o caminho da virtude; acompanho-vos nas visitas aos pobres, aos aflitos, aos moribundos, e vos inspiro palavras afetuosas e consoladoras. Não me repilais. Eu sou a Esperança.
Eu sou a Esperança! Sou eu que, no inverno, faço crescer na casca dos carvalhos o musgo espesso com que os passarinhos fazem seus ninhos; sou eu que, na primavera, coroo a macieira e a amendoeira de flores rosas e brancas e as espalho sobre a Terra como um tapete celeste, que faz aspirar a mundos felizes. Estou convosco principalmente quando sois pobres e sofredores, e minha voz ressoa incessantemente aos vossos ouvidos. Não me repilais. Eu sou a Esperança.
Não me repilais, porque o anjo do desespero me faz uma guerra cruel e se esgota em vãos esforços para junto de vós tomar o meu lugar. Nem sempre sou a mais forte, e quando ele consegue me afastar vos envolve com suas asas fúnebres; desvia os vossos pensamentos de Deus e vos conduz ao suicídio. Uni-vos a mim para afastar sua funesta influência, e deixai-vos embalar docemente em meus braços, porque eu sou a Esperança.

FELÍCIA, filha da médium.

A CARIDADE

Eu sou a Caridade, sim, a verdadeira Caridade. Em nada me pareço com a caridade cujas práticas seguis. Aquela que entre vós usurpou o meu nome é fantasista, caprichosa, exclusiva, orgulhosa. Venho premunir-vos contra os defeitos que, aos olhos de Deus, empanam o mérito e o brilho de suas boas ações. Sede dóceis às lições que o Espírito de Verdade vos dá por minha voz. Segui-me, meus fiéis: eu sou a Caridade.
Segui-me. Conheço todos os infortúnios, todas as dores, todos os sofrimentos, todas as aflições que assediam a Humanidade. Sou a mãe dos órfãos, a filha dos velhos, a protetora e suporte das viúvas. Curo as chagas infectas; trato de todos os doentes; visto, alimento e abrigo os que nada têm; subo aos mais humildes tugúrios e às mais miseráveis mansardas; bato à porta dos ricos e poderosos porque onde quer que exista uma criatura humana, há, sob a máscara da felicidade, dores amargas e cruciantes. Oh! Como é grande minha tarefa! Não poderei cumpri-la se não vierdes em meu auxílio. Vinde a mim: eu sou a Caridade.
Não tenho preferência por ninguém. Jamais digo aos que de mim necessitam: “Tenho os meus pobres; procurai alhures.” Oh! falsa caridade, quanto mal fazes! Amigos, nós nos devemos a todos. Crede-me. Não recuseis assistência a ninguém. Socorrei-vos uns aos outros com bastante desinteresse para não exigirdes reconhecimento da parte dos que tiverdes socorrido. A paz do coração e da consciência é a suave recompensa de minhas obras: eu sou a verdadeira Caridade.
Ninguém sabe na Terra o número e a natureza de meus benefícios.
Só a falsa caridade fere e humilha aqueles a quem beneficia. Evitai esse funesto desvio. As ações desse gênero não têm mérito perante Deus e atraem a sua cólera. Só ele deve saber e conhecer os generosos impulsos de vossos corações, quando vos tornais os dispensadores de seus benefícios. Guardai-vos, pois, amigos, de dar publicidade à prática da assistência mútua; não mais lhe deis o nome de esmola; crede em mim: eu sou a Caridade.
Tenho tantos infortúnios a aliviar que por vezes tenho os seios e as mãos vazios. Venho dizer-vos que espero em vós. O Espiritismo tem como divisa Amor e Caridade, e todos os verdadeiros espíritas quererão, no futuro, conformar-se a esse sublime preceito ensinado pelo Cristo há dezoito séculos. Segui-me, pois, irmãos, e eu vos conduzirei ao Reino de Deus, nosso pai. Eu sou a Caridade.

ADOLFO, bispo de Argel.

Instruções dadas por nossos Guias sobre as três comunicações acima

Meus amigos, vós deveis ter pensado que um de nós havia dado os ensinamentos sobre a fé, a esperança e a caridade. E tínheis razão.
Felizes por ver Espíritos tão elevados vos dando, com frequência, conselhos que vos devem guiar em vossos trabalhos espirituais, não é menor nossa suave e pura alegria, quando vimos ajudar-vos na tarefa do vosso apostolado espírita.
Podeis, pois, atribuir ao Espírito de Georges a comunicação sobre a Fé; sobre a Esperança, a Felícia: aí encontrareis o estilo poético que tinha em vida; e a da Caridade ao senhor Dupuch, bispo de Argel, que na Terra foi um de seus fervorosos apóstolos.
Ainda teremos que tratar da caridade sob outro ponto de vista. Fá-lo-emos dentro de alguns dias.
VOSSOS GUIAS

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Evangelho em casa por Memei

quinta   reunião
Meimei
 
      
          No horário habitual do terceiro domingo de maio, Dona Zilda estava a postos na preparação do ambiente.
         Sobre a toalha, muito branca, que dava um tom de tranqüilidade e alegria ao aposento, achavam-se os livros e o jarro com água pura.
         Veloso e os filhinhos, juntamente de Marta, deram entrada no recinto.
         O grupo conversava, afetuosamente, mas o relógio lembrou-lhes a obrigação em pauta, badalando as seis da tarde.
 
PRECE INICIAL
 
         O mentor do conjunto orou, reverentemente:
 
         -Senhor Jesus; deste-nos vida dinâmica, para que seja naturalmente vivida. Movimenta-se nosso corpo, o tempo avança e a evolução caminha.
         Ajuda-nos, Senhor, para que a nossa fé também ande, a expressar-se em ação permanente no bem.
         A ti, Excelso Benfeitor, que traduziste confiança no Pai, em amor aos semelhantes, encomendamos a nossa aspiração de servir. Assim seja.
 
LEITURA
 
         Efetuada a oração de início, Veloso entregou o Novo Testamento às mãos de Marta, que o abriu, cuidadosamente, devolvendo-o ao orientador, que se deteve, conforme de hábito, no exame dos textos, passando a ler o versículo 12, do capítulo 15, nas Anotações do Apóstolo João: “O meu mandamento é este – que vos ameis uns aos outros, assim como vos amei”.
         Completando-se a preparação do comentário, Cláudio foi indicado para consultar a lição de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
         Aberto o volume e entregue a Dona Zilda, por recomendação de Veloso, a mãezinha, satisfeita, leu comovente a mensagem de Vicente de Paulo, em torno da caridade, inserta no capítulo XIII, entre as “Instruções dos Espíritos”.
 
COMENTÁRIO
 
         Finda a leitura, o orientador falou com segurança:
         -temos hoje um dos mais belos temas do Cristianismo – a caridade. Tão belo que Allan Kardec o inscreveu por senha no portal de seus princípios; “Fora da Caridade não há salvação”.
         É que a caridade é o próprio amor que o Mestre nos legou.
         E o amor do Cristo é luz que se estende a todos.
         Não apenas devoção afetiva aos que nos comungam a experiência do lar, mas devotamente fraternal a todas as criaturas.
         Seja onde for que surja a necessidade, os prestações de serviço são nossos simples deveres.
         A provação dos outros vale para nós como escola bendita, em que aprendamos igualmente a sofrer.
         Educandários diversos são mantidos para que adquiramos determinados conhecimentos.
         A química e a física, o idioma e a história pedem professores especiais.
         A experiência do cérebro exige a formação de vastos programas de ensino.
         O coração, ou melhor, o sentimento reclama o serviço do bem para instruir-me. E nenhuma instrutora mais eficiente que a caridade para infundirmos entendimento.
         A mão que se alonga para pedir-nos o necessário é uma oportunidade para que exerçamos o bem, mas constitui igualmente silenciosa acusação contra o egoísmo, na retenção do supérfluo.
         Contemplando infelizes crianças que não dispõem do agasalho e do pão com que se mantenham, somos espontaneamente forçados a situar-nos em lugar deles.
         A falta de trabalho remunerado, a moléstia insidiosa, a dificuldade maior em família e o fogão sem lume podem ser amanhã infortúnio igualmente nosso. Em razão disso, pelo menos ceder o que nos sobra, a benefício daqueles que carecem do essencial, é tarefa que se nos impõe à consciência.
         Entretanto, não é somente nos atos exteriores que a virtude sublime transparece para a edificação moral da Humanidade.
         A caridade é também atitude do coração nos menores gestos.
         Quantas vezes perdemos o governo de nós próprios, confiando-nos à irritação e à discórdia!...
         Nesses instantes, ficamos sempre entregues à compaixão dos que nos observam.
         Reparando nossos erros e identificando a necessidade de sermos perdoados, sentimos de perto como se faz imperioso o culto incessante da caridade em nossas relações uns com os outros.
         Olvidar as ofensas de que sejamos vítimas, não somente com os lábios, mas com todo o nosso coração, reconhecendo que poderíamos ter sido os ofensores, é manifestação de amor puro.
         Calar as imperfeições alheias entendendo que possuímos também as nossas, é ajudar nas situações mais difíceis, ainda mesmo despertando a calúnia contra nós, é começar a viver a fraternidade sem mácula.
         Quantas pessoas desejariam ter sido retas e nobres!
         Quantas rogam a Deus forças para que saiam do campo de sombra em que aprisionam por falta de vigilância!...
         Muitas delas estimariam pronunciar as palavras mais afáveis e mais doces, entretanto, o sentimento mal conduzido indu-las a falar, desajeitadamente.
         Se o papai chega do serviço, mostrando fatigado, é indispensável saibamos entender-lhe a necessidade de repouso, cessando o falatório ou o barulho. Se a refeição não apresenta os pratos de nossa preferência, se o café não nos satisfaz, é preciso aprender a sorrir, esquecendo os nossos caprichos e agradecendo às mãos que no-los preparam.
         Lina – (Fitando brejeiramente o irmão) – Ainda contem, quando o gatinho vomitou na sala, Cláudio agastou-se com Marta para tardar na limpeza, gritando palavras feias...
         CLÁUDIO – Ora essa! Eu queria o asseio...
         LINA – Mas, se Cláudio fosse caridoso, não precisava ter reclamado o serviço de Marta, não é mãezinha?
         D. ZILDA – O serviço em casa é de todos.
         VELOSO – Diga, pois, minha filha, que, se exercermos a caridade mútua, não reclamaremos de ninguém esse ou aquele trabalho. Se você viu a necessidade de higiene na sala, e ficou a esperar por Marta, a sua atitude não foi recomendável. Afirma você que Cláudio foi indelicado, mas, você, que via o quadro de serviço, poderia também ter sido caridosa com Marta, diminuindo-lhe a carga de trabalho, e para com Cláudio, ensinando-o como se deve agir.
         MARTA – (Sorrindo); – Reconheço-me culpada; entretanto, estava preparando bolos na cozinha, e o azeite a ferver não me deixava arredar o pé.
         D. ZILDA – Marta, você não precisa justificar-se.
         VELOSO – (Sorridente); – Não nos achamos num tribunal. Salientamos, apenas, o impositivo de sermos indulgentes, porquanto a caridade deve comparecer em tudo...
         CLÁUDIO – E quando Evandro e João, os meninos da vizinha, me atiram pedras?
         VELOSO – Meu filho, antes de qualquer reação, é imprescindível examine você a própria consciência, verificando se não existe alguma ofensa de sua parte a eles. Não se lembra de havê-los aborrecido? Responda sinceramente.
         CLÁUDIO – (Hesitante); – Bem, acheio-os tão miúdos e tão magros que lhes chamei, na escola, de “magricelas”.
         VELOSO – Alegro-me ao saber que você está falando a verdade, porque eu mesmo, há tempo, sem que me percebessem, observei que você os injuriava, de nossa janela. É muito raro, meu filho, haja persistência nesse ou naquele insulto, quando não o alimentamos, porquanto, se somos desconsiderados e perdoamos com toda a alma, a onda de crueldade ou de sombra não encontra combustível, acaba por si mesma.
         CLÁUDIO – Papai, e se eu não os tivesse ofendido e eles me apedrejassem mesmo assim?
         VELOSO – Nossa obrigação, meu filho, seria fazer silêncio e orar por eles, evitando qualquer ocasião de agravar o conflito. Pela oração, a bondade de Deis nos daria oportunidade de mostrar-lhes o nosso apreço.
         MARTA – Senhor Veloso, peço licença para contar aqui uma experiência sobre a oração. Nós temos uma vizinha. Dona Mercedes, que não conseguiu simpatizar comigo, desde a minha vinda para cá. Certa noite ouvi o senhor dizer a Dona Zilda que é caridade orar por aqueles que não nos estimam, a fim de que se faça harmonia entre eles e nós. Desde então, e isso faz muito tempo, comecei a lembrar-me de Dona Mercedes em minhas orações, rogando a Deus para que ela me perdoasse pela antipatia gratuita que eu lhe causava. Na ter-feira da semana passada, ela dirigiu-se a mim, perguntando se eu poderia auxilia-la na confecção do bolo de aniversário do Raulzinho, seu filho caçula. Muito contente, aceitei o convite e, com permissão de Dona Zilda, fui para a casa dela, durante a noite, e consegui armar o bolo e adorna-lo. Confesso ao senhor que fiz tudo com muita alegria e com muito carinho. Quando Dona Mercedes chegou à copa e notou o meu pequeno trabalho, ficou muito feliz e abraçou-me pela primeira vez. Desde esse dia, ela me cumprimenta, fitando-me nos olhos com muita bondade e, com grande surpresa para mim, deu-me uma linda colcha usada para minha cama.
         VELOSO – É uma experiência admirável, Marta. A oração dispõe e a caridade realiza. Como reconhecemos, é imprescindível cultivar a caridade com tudo, tudo...
         CLÁUDIO – Papai, o senhor disse “caridade para com tudo...” Como terei caridade para com uma xícara ou para com uma cadeira?
         VELOSO – Como não? Uma xícara ou uma cadeira manobradas com maldade pode fazer alvoroço e alvoroço em casa pode provocar enfermidade ou perturbação. A xícara serve-nos à mesa e deve ser lavada com cuidado. A cadeira serve-nos ao descanso e merece respeito.
         D. ZILDA – Meus filhos, o lar é a nossa primeira escola. Sem aprendermos aqui as lições da bondade, a se expressarem na paciência e na tolerância, no carinho e no entendimento que devemos aos que nos cercam, em vão ensinaremos, fora de nossa casa, qualquer virtude aos outros.
         VELOSO – E a todos nos cabe render graças a Deus por saber que é assim.
 
NOTA SEMANAL
 
            Veloso notificou que relataria um episódio edificante, sob o tema estudado, episódio esse que intitularia:
 
A BENFEITORA OCULTA
 
         Em grande cidade brasileira, Dona Rita Amaral, pobre viúva, mãe de dois meninos paralíticos, lavava roupa, a fim de ganhar o pão.
         Humilde e resignada, seu maior consolo era ouvir as lições do Evangelho, numa grande instituição espírita, responsável por vários serviços diários.
         Numa noite em que a abnegada irmã falara expressivamente quanto à assistência social, com alicerces na caridade pura, Dona Rita pediu avistar-se em particular com o diretor da organização.
         Conversaram ambos, longamente.
         Decorridos alguns dias, algo aconteceu no templo, chamando a atenção de todos.
         Os vasos sanitários daquela casa de socorro espiritual amanheciam brilhando.
         Todos os freqüentadores e visitantes se admiravam da limpeza sistemática e singular dos aludidos departamentos, o que perdurou por dezenove anos consecutivos, até que Dona Rita desencarnou.
         Foi então que o presidente do instituto, ao recordar0lhe a figura correta e simples, revelou que fora ela a benfeitora oculta da casa, efetuando-lhe as tarefas de higienização, sem qualquer pagamento, durante quase quatro lustros.
         Não lhe sendo possível colaborar com dinheiro, nas obras assistenciais da agremiação, oferecera-se para o asseio diário do edifício e, porque lhe não era possível comparecer durante o dia ao trabalho, à face dos deveres de mãe para com os filhinhos algemados ao catre, vinha, pontualmente, pela madrugada, atender ao serviço.
         O exemplo comoveu a todos e, ainda hoje, nos infunde a maior impressão.
 
ENCERRAMENTO
 
         Ante a quietude da pequena assembléia familiar, Veloso tomou a palavra e formulou a prece de encerramento:
 
         -Senhor Jesus; desejamos aprender a servir.
         Nos ensinam, Mestre, a procurar-te a presença divina no serviço de todos os dias! Entregamos-te, assim, as nossas vidas com os nossos sentimentos e idéias, com as nossas mãos e com as nossas possibilidades, rogando disponhas de nós, segundo a tua vontade. Assim seja.
 
*
         Logo após, Dona Zilda distribuiu a água fluidificada, entendendo-se com o pequeno grupo que conversava sobre a beleza das lições de Jesus.
         Lá fora, o céu noturno, resplendente de estrelas, parecia expressar à Humanidade um convite à paz e à ascensão, destacando-se entre as constelações o Cruzeiro do Sul no seu elevado simbolismo de libertação.
 
 
Da Obra “EVANGELHO EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FFRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Evangelho em Casa por Meimei

quarta  reunião
Meimei
 
      
     
         
         Naquele domingo, o segundo de maio, considerado Dia das Mães, o aposento mostrava-se adornado de flores.
         Quando Dona Zilda trouxe o jarro de água pura, sorriu imensamente feliz, percebendo que os filhos lhe haviam preparado afetuosa surpresa.
         No justo momento, Veloso penetrou no recinto, em companhia da sogra, Dona Rosália, senhora simples e amável, que abraçava os netos, Lina e Cláudio, a lhe apertarem as mãos.
         Marta compareceu logo após, e, fosse para agradar Dona Rosália ou para homenagear o Dia das Mães, Dona Júlia e Silvia entraram na sala, sendo recebidas com carinho e respeito.
 
PRECE INICIAL
 
            Vindo o silêncio, Veloso orou, sensibilizado:
 
         -Pai Celeste, nós te agradecemos a bênção do lar em que nos reúnes. Ensina-nos que ele não é apenas o retângulo de paredes que nos asila os corpos, mas o santuário que nos concedeste para aproximação de almas.
         Ajuda-nos, ó Deus de Infinita Bondade, a fim de que nossos olhos espirituais se mantenham abertos para as nossas responsabilidades em família, e aprendamos, assim, com a tua bênção, a amar-nos realmente uns aos outros. Assim seja.
 
LEITURA
 
         Terminada a oração, o chefe da casa passou o Novo Testamento a Dona Rosália, que o abriu, restituindo-o ao genro.
         Veloso fez minuciosa busca, à maneira de um examinador de pedras preciosas, procurando a mais bela, e, em seguida, leu o versículo 7, do capítulo 13, da Epístola do Apóstolo Paulo aos Romanos: “Portanto, daí a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra”.
         Completando a tarefa, como de hábito, o diretor do culto pediu à esposa trouxesse a estudo a parte de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que deveria enriquecer as meditações daquela hora, e a lição extraída, ao acaso, foi a página intitulada “A Virtude”, de autoria do mensageiro Francisco Nicolau Madalena, entre as “Instruções dos espíritos”, no capítulo XVII.
 
COMENTÁRIO
 
         Falou, então, Veloso com inflexão de sentimento profundo:
         -Meus filhos; tenho hoje a minha garganta como que embargada de emoção.
         Nesta data, comemoramos o Dia das Mães.
         Diz-nos a Epístola, na palavra do Apóstolo Paulo, que nos cabe entregar a cada um aquilo que devemos e, no livro de Allan Kardec, encontramos formosa exortação à virtude.
         Lembro-me, assim, do débito irresgatável para com nossas mãezinhas, depositárias da virtude celeste. Sem elas, sem a coragem sublime com que nos acolhem nos braços, não teríamos passagem pela escola deste mundo.
         É preciso ser por si próprias dons inefáveis de Deus para suportarem os sacrifícios a que se impõem por nossa causa, em verdade, os corações maternos, para ver-nos felizes, não hesitaria em transformar-se no prato que nos alimenta, na veste nos que agasalha, nos brinquedos que nos alegram ou no leito que nos propicia repouso...
         Há preço, meus filhos, para todas as utilidades da vida, menos para o amor dos anjos maternais, que se entregam à morte, pouco a pouco, na intimidade do lar, para que possamos efetivamente viver.
         O dinheiro pode pagar o trabalho de todas as profissões conhecidas no mundo, menos o ofício das mães que se levantam com a luz da alvorada, a fim de que não nos falte pão à mesa, e que prolongam a vigília e o cansaço noite adentro, para que a enfermidade não nos domine e para que o rumor não nos perturbe o descanso...
         Em razão disso, nenhum de nós pode ou sabe recompensar-lhes o ministério que, à força de crescer em abnegação e ternura, se torna verdadeiramente divino.
         Louvaremos, pois, neste dia, essas heroínas obscuras que se escondem na luta doméstica, prometendo honrá-las o melhor que pudermos, não somente lhes cercando a presença com as flores de nosso carinho, mas também cumprindo, com lealdade, os nossos próprios deveres.
         Respeitando-as, a elas que exprimem com tanto brilho a Divina Bondade, cultivaremos no lar o primeiro campo de nossas obrigações. Sem que sejamos, ai, corretos e nobres, é impossível venhamos, algum dia, a ser corretos e nobres para com o mundo.
         Ninguém olvide que a nossa tranqüilidade e segurança, originariamente, são frutos do pesado labor de nossas mães, constantemente inclinadas à própria renunciação, a favor de nossa felicidade.
         Dir-se-ia que estão sempre dispostas a desaparecer para que nos mostremos, a se rebaixarem para que nos ergamos, a monopolizarem a dor ara que não nos escasseie alegria e também a morrer para que vivamos.
         Faremos, assim, do nosso culto de hoje uma oração gratuitória a Deus, nosso Pai Celestial, por nos haver concedido o tesouro da devoção materna neste mundo.
         E lembrar-nos-emos de todas as mães que peregrinam na Terra... Das que respiram sob dourados tetos, padecendo, quase sempre, a traição dos entes mais caros; das que se enfeitam de ouro e pérolas, trazendo, muitas vezes, o coração semelhante a uma concha de lágrimas a se lhes encravar no peito dorido; das que gemem, na soledade, sob trabalho rude, para que os filhos conquistem alimento e remédio, higiene e instrução; das que residem sob as arcadas de pontes abandonadas ou em sombrios recantos das vias públicas, estendendo as mãos à generosidade pública, a fim de que os rebentos do próprio seio não se extingam de fome; das que enlouqueceram de sofrimento no santuário doméstico, perante as cruzes que, em muitas ocasiões, esposos e filhos lhes algemem às costas, e daquelas que, soluçando, se apartaram dos filhos queridos para fia-los à cinza do túmulo... Todas são missionárias do Senhor, chorando e padecendo, servindo e amando.
         Recebam, por toda a parte, os nossos pensamentos de gratidão e carinho, e, porque não contamos com palavras adequadas à nossa necessidade de reconhecimento, peçamos à Mãe Santíssima – anjo guardião de Jesus – a todas envolva em seu manto constelado de virtudes excelsas para que nunca lhes faltem as bênçãos da paz e da alegria, seja onde for.
 
CONVERSAÇÃO
 
         Via-se que o orientador queria continuar e que a pequena assembléia desejava prosseguir ouvindo; no entanto, a emoção era visível em todos os rostos.
         Silvia, a filha mais velha, que participava do culto pela primeira, levantou-se e, abeirando-se do Senhor Veloso, beijou-lhe a mão direita que descansava nas páginas do Evangelho.
         O pai, comovido, retirou os óculos e limpou uma lágrima.
         Em seguida, pediu que fosse iniciada a conversação da noite.
         Pesava o silêncio, mas as crianças se incumbiram de rompê-lo:
         LINA – (Voltando-se para Cláudio) – Fale alguma coisa.
         CLÁUDIO – (Que estivera ausente na véspera, em busca da vovó) – Estou sentindo falta de Dona Romualda e de Milota...
         VELOSO – Fomos ontem, sábado, assistir à iniciação do culto do Evangelho, na residência dessas nossas amigas... Dona Romualda decidiu organizar o mesmo serviço; entretanto, de vez em quando estará conosco.
         LINA – Milota disse-nos que hoje ficariam em casa por ser Dia das Mães.
         D. ROSÁLIA – O culto do Evangelho em casa é uma bênção que todos devemos cultivar. O contacto com o pensamento de Nosso Senhor Jesus-Cristo ilumina os nossos próprios pensamentos. Tornamo-nos mais calmos, mais compreensivos, mais operosos e, sobretudo, mais irmãos...
         D. JÚLIA – (Dirigindo-se especialmente a Dona Rosália) – Estou muito surpreendida, pois não pensava que os espíritas dedicassem tanto amor às lições do Divino Mestre.
         D. ROSÁLIA – Minha filha, nós, na Religião Espírita, não podíamos conservar raízes diferentes das do Evangelho. Aliás, você, também cristã, embora adotando interpretações diversas da nossa, não pode esquecer que Nosso Senhor Jesus-Cristo deixou o sepulcro vazio e foi o verdadeiro restaurador da doutrina da imortalidade da alma e da comunicação dos Espíritos, entretendo-se, muito tempo, depois da morte, com os próprios discípulos.
         D. JÚLIA – Sem dúvida. Não se pode negar o fato. (Nesse momento, alguém bate à porta. O dono da casa ausenta-se e volta, esclarecendo tratar-se de assunto alusivo à sua profissão, motivo por que não introduzira o visitante na sala, marcando-lhe encontro noutro horário).
         LINA – Papai, desejo perguntar ao senhor se posso recitar para mãezinha uma quadra que aprendi ontem com uma colega na escola...
         VELOSO – como não, minha filha?
         LINA – (Levantando-se e colocando-se diante de Dona Zilda):
                   Mãezinha terna e querida,
                   Estrela sempre a brilhar,
                   Seu amor é a nossa vida
                   Na vida de nosso lar.
         CLÁUDIO – Papai, eu posso falar também?
         VELOSO – Perfeitamente, meu filho.
         CLÁUDIO – (Encaminhando-se igualmente para perto de Dona Zilda) – Mãezinha, a senhora é o tesouro de nossos corações!
         D. ZILDA – (Chorando e abraçando os filhos) – Meus filhos! Meus filhos!... Deus abençoe a todos nós.
         (Alguém bate, de novo, à porta e ergue-se Veloso para atender. Dessa vez, porém, regressa trazendo um senhor descalço, humildemente trajado, que penetrou na sala, com singelo chapéu às mãos).
         VELOSO – (Falando particularmente com Dona Zilda) –É o nosso Glicério.
         D. ZILDA – Muito bem. Boa-noite, Glicério. Sente-se conosco.
         GLICÉRRIO – Dona Zilda, apesar de muito constrangido, venho comunicar à senhora que minha mulher e meus dois filhos caíram doentes de uma só vez e estamos muitos necessitados...
         D. ZILDA – Confiemos em Deus, Glicério. Espere um pouco e, no término de nossas orações, providenciaremos o que nos seja possível.
         (O visitante toma lugar ao lado das crianças, que o acolhem com simpatia).
         D. ROSÁLIA – (Voltando-se para o genro) – Sinto bastante que Lisbela, tão febril hoje, não tenha podido vir às nossas preces.
         (A estimada senhora referia-se à jovem que a auxiliava nos serviços domésticos e que, ao chegar à residência da filha, na véspera, aí se acamara, sob a pressão de forte gripe).
         VELOSO – Lembrá-la-emos, rogando aos Benfeitores Espirituais nos ajudem a vê-la melhorada e mais forte. Além disso, depois de nossa reunião, poderemos, juntos, envolve-la nas vibrações do passe curativo.
         Lina, Cláudio e Marta solicitaram permissão para se ausentarem do aposento, alguns instantes.
         Com a aprovação de Veloso, demandaram saleta próxima e voltaram, em momentos rápidos: lina e Cláudio trazendo rosas que ofereceram a Dona Zilda e a Dona Rosália, e Marta, um lindo bolo que entregou a dona da casa.
         As senhoras homenageadas agradeceram, contentes.
         A emotividade reinante predispunha à reflexão, e, tudo, indicando que a palestra alcançava o termo, Cláudio pediu fosse Dona Rosália indicada para contar a história edificante da noite.
        
            NOTA SEMANAL
 
         A bondosa vovó sorriu e falou:
         -Recordarei para nós um antigo conto de Andersen (Hans Christian Andersen, poeta e contista dinamarquês), o grande amigo das crianças. Trata-se da
 
HISTÓRIA DE UMA MÃE
 
         Havia uma sofredora mulher que velava aflita, à cabeceira do filhinho doente, quando a Morte chegou para busca-lo.
         Sem que ela pudesse ensaiar qualquer defesa, a Morte arrebatou o menino da cabana.
         Desesperada, a mãezinha saiu a gritar para reaver o pequenino, mas a Morte veloz desaparecera.
         Chorando, avançou a infeliz, estrada fora, quando, em plena noite, encontrou uma mulher que poderia encaminha-la; esta, todavia, em troca da informação, pediu-lhe cantar todas as canções com que a pobre embalava o filhinho.
         Embora em lágrimas, ela repetiu todas as cantigas com que afagava o pequenino, ao pé do berço.
         A mulher ensinou-lhe, então, que a Morte se dirigira para certo espinheiro.
         Sem vacilar, a desditosa mãezinha enlaçou-o, aquecendo-lhe os espinhos que a noite enregelara...
         Quando o seu corpo já se mostrava coberto de chagas, o espinheiro explicou que a Morte seguira no rumo de grande lago.
         A peregrina ensangüentada chegou ao lago, mas o lago fazia coleção de pérolas e, para prestar-lhe o serviço, pediu-lhe os belos olhos.
         A infortunada viajante arrancou os próprios olhos e lhes deu.
         O lago, desse modo, transportou-a, ferida e cega, para o outro lado da terra, onde a Morte costumava guardar as criancinhas.
         Era um grande cemitério, guardado por monstruosa mulher que, para ensinar-lhe o lugar exato onde a Morte aportaria naquela noite, lhe reclamou a linda cabeleira.
         Sem qualquer hesitação, ela deixou-se tosar e, logo após, quase irreconhecível, foi colocada em posição de perceber a chegada do pequeno que procurava.
         Esperou... Esperou...
         Em dado instante ouviu que a Morte regressava com os meninos que recolhera.
         Atenta, escutava as vozes diversas, qual se registrasse a presença de um bando de passarinhos, quando, dentre todas, distinguiu o choro de seu próprio filho e, apesar de cega, avançou para ele, gritando, jubilosa:
         -Meu filhinho!... Meu filhinho!... – E agarrou-o nos braços, a beija-lo, enternecidamente.
         A própria Morte, emocionada, perguntou-lhe então:
         -Como fizeste para chegar aqui, antes de mim?
         Ela, chorando e rindo, pôde apenas dizer:
         -Sou mãe.
 
            ENCERAMENTO
 
         Quando Dona Rosália terminou, todos choravam...
         Veloso, enxugando as lágrimas, conseguiu simplesmente balbuciar a prece final:
 
         -Deus de Infinita Bondade, nós te agradecemos o amor de nossas mães!... Guarda-as para sempre sob tua Bênção, conferindo-lhes a felicidade que não lhes sabemos dar.
         Louvado sejas, Pai Nosso! Assim seja.
 
*
         Depois da oração, por muito tempo, ninguém pôde articular palavra..
         Dona Zilda, no entanto, após distribuir a água fluidificada, serviu aos presentes saboroso café, acompanhado com as fatias do bolo de que Marta lhe fizera oferta.
         A seguir, rumou para o casebre de Glicério, a fim de ali ajudar no que lhe fosse possível.
 
 
Da Obra “EVANGELHO EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FFRANCISCO CÂNDIDO XAVIER