CARGA ERÓTICA
Emmanuel
Dois sistemas se
defrontam: o dos ascetas, que tem por base o aniquilamento do corpo, e o
dos materialistas, que se baseia no rebaixamento da alma.
Duas violências
quase tão insensatas uma quanto a outra.
Ao lado desses dois
grandes partidos, formiga a numerosa tribo dos indiferentes que, sem
convicção e sem paixão, são mornos no amar e econômicos no gozar.
Onde, então, a
sabedoria? Onde, então, a ciência de viver? Em parte alguma; e o grande
problema ficaria sem solução, se o Espiritismo não viesse em auxílio dos
pesquisadores, demonstrando-lhes as relações que existem entre o corpo e a
alma e dizendo-lhes que, por serem necessários uma ao outro, importa
cuidar de ambos.
Amai, pois, a vossa
alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela.
Desatender às
necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a lei de Deus.
Não castigueis o
corpo pelas faltas que o vosso livre arbítrio o induziu a cometer e pelas
quais é ele tão responsável quanto o cavalo, mal dirigido, pelos acidentes
que causa.
Sereis, porventura,
mais perfeitos se, martirizando o corpo, não vos tornardes menos egoístas,
nem menos orgulhosos e mais caritativos para com o vosso próximo? Não, a
perfeição não está nisso, está toda nas formas por que fizerdes passar o
vosso Espírito.
Dobrai-o,
submetei-o, humilhai-o, mortificai-o: esse o meio de o tornardes dócil à
vontade de Deus e o único de alcançardes a perfeição.
Do item 11, do Cap.
XVII, de "O
Evangelho Segundo o Espiritismo".
O instinto sexual,
exprimindo amor em expansão incessante, nasce nas profundezas da vida,
orientando os processos da evolução.
Toda criatura
consciente traz consigo, devidamente estratificada, a herança
incomensurável das experiências sexuais, vividas nos reinos inferiores da
Natureza.
De existência a
existência, de lição em lição e de passo em passo, por séculos de séculos,
na esfera animal, a individualidade, erguida à razão, surpreende em si
mesma todo um mundo de impulsos genésicos por educar e ajustar às leis
superiores que governam a vida.
A princípio, exposto
aos lances adversos das aventuras poligâmicas, o homem avança, de
ensinamento a ensinamento, para a sua própria instalação na monogamia,
reconhecendo a necessidade de segurança e equilíbrio, em matéria de amor;
no entanto, ainda aí, é impelido naturalmente a carregar o fardo dos
estímulos sexuais, muita vez destrambelhados, que lhe enxameiam no
sentimento, reclamando educação e sublimação.
Depreende-se disso
que toda criatura na Terra transporta em si mesma determinada taxa de
carga erótica, de que, em verdade, não se libertará unicamente ao preço de
palavras e votos brilhantes, mas à custa de experiência e trabalho, de vez
que instintos e paixões são energias e estados inerentes à alma de cada
um, que as leis da Criação não destroem e sim auxiliam cada pessoa a
transformar e elevar, no rumo da perfeição.
Fácil entender,
portanto, que do erotismo, como fator de magnetismo sexual humano, na
romagem terrestre, seja em se tratando de Espíritos encarnados ou
desencarnados na Comunidade Planetária, não partilham tãosomente as
inteligências que já se angelizaram, em minoria absoluta no Plano Físico,
e aqueles irmãos da Humanidade provisoriamente internados nas celas da
idiotia, por força de lides expiatórias abraçadas ou requisitadas por eles
próprios, antes do berço terreno.
Os Espíritos
sublimados se atraem uns aos outros por laços de amor considerado divino,
por enquanto inabordáveis a nós outros, seres em laboriosa escalada
evolutiva e que compartilhamos das tendências e aspirações, dificuldades e
provas do gênero humano.
E os companheiros
temporariamente bloqueados por cérebros deficientes e obtusos atravessam
períodos mais ou menos longos de silêncio emocionados, destinados a
reparações e reajustes, quase sempre solicitados por eles mesmos -
repetimos -, já que se sentenciam a entraves e inibições, no campo de
exteriorização da mente, através dos quais refazem atitudes e
recondicionam impulsos afetivos em preciosas tomadas e retomadas de
consciência.
À vista do exposto,
é fácil reconhecer que toda criatura humana, sempre nascida ou renascida
sob o patrocínio do sexo, carreia consigo determinada carga de impulsos
eróticos, que a própria criatura aprende, gradativamente, a orientar para
o bem e a valorizar para a vida.
Diante do sexo, não
nos achamos, de nenhum modo, à frente de um despenhadeiro para as trevas,
mas perante a fonte viva das energias em que a Sabedoria do Universo
situou o laboratório das formas físicas e a usina dos estímulos
espirituais mais intensos para a execução das tarefas que esposamos, em
regime de colaboração mútua, visando ao rendimento do progresso e do
aperfeiçoamento entre os homens.
Cada homem e cada
mulher que ainda não se angelizou ou que não se encontre em processo de
bloqueio das possibilidades criativas, no corpo ou na alma, traz,
evidentemente, maior ou menor percentagem de anseios sexuais, a se
expressarem por sede de apoio afetivo, e é claramente, nas lavras da
experiência, errando e acertando e tornando a errar para acertar com mais
segurança, que cada um de nós - os filhos de Deus em evolução na Terra -
conseguirá sublimar os sentimentos que nos são próprios, de modo a
erguer-nos em definitivo para a conquista da felicidade celeste e do Amor
Universal.
Psicografia : Francisco
Cândido Xavier Livro : Vida e Sexo