"Vinde
a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados que eu vos aliviarei."
- Mateus, (cap. XI, v. 28)
Jesus
humanizado é o grande médico das almas, que as conhecendo em profundidade,
apresenta a terapia recuperadora, ao tempo que oferece a libertadora, que evita
novos comprometimentos. Conhecendo a causalidade que desencadearia as
aflições que as geraram, propõe como recurso melhor para
a total liberação do seu contingente perturbador a conquista da
luz interna, superando toda a sombra que campeia nas consciências.
Essa claridade incomparável capaz de anular todos os prejuízos
e evitar novas projeções de sofrimentos é o cultivo do
amor, sustentado pela oração que se converte em canal de irrigação
da energia que procede de Deus e vitaliza a criatura humana. Com esse recurso
incomparável, a docilidade no trato com o semelhante permite que as Forças
espirituais que promanam das imarcescíveis regiões da plenitude
alcancem a intimidade daquele que ora, nele produzindo o milagre da harmonia
e da claridade interior permanentes.
O
Homem-Jesus, absolutamente lúcido e conhecedor do SELF que Lhe mantinha
a organização humana não havendo qualquer espaço
sombra, o lado escuro que devesse ser penetrado, a fim de erradicar mazelas,
desde que o houvera superado em experiências multifárias nas Esferas
Superiores de onde provinha.
Encarnando-se na Terra, não fugiu ao confrontos com as imposições
dominantes entre os Seus coevos, mantendo-se imperturbável, mas não
insensível aos seus desmandos e irreflexões, loucuras e infantilidades
evolutivas, razão porque procurava extirpar do cerne das vidas que O
buscavam os agentes geradores das aflições que as esmagavam, e
os levavam à hediondez, ao crime, à mentira, ao ódio, novos
desencadeadores de futuras inquietações. O Seu fardo se fazia
leve, porque estruturado em claridade diamantina, sem qualquer contingente de
tormento, ensejando o alívio imediato ao penetrar na projeção
do Seu pensamento irradiante que cindia toda treva.
N'Ele estavam os recursos valiosos para a saúde espiritual, conseqüentemente,
de natureza moral, emocional, física.. O ser humano é o somatório
das suas aspirações e necessidades, mas também o resultado
de como aplica esses recursos que o podem escravizar ou libertar. A predominância
da sombra ou do lado escuro, é efeito compreensível da ignorância
ou do acumpliciamento com o crime, derivado da preservação dos
instintos primários em predominância no seu comportamento.
Enquanto não seja diluída essa sombra, facultando o entendimento
das responsabilidades e dos compromissos que favorecem o progresso, mais se
aturde na escuridão aquele que deseja encontrar rumos que não
são visíveis. A sua existência se torna um pesado fardo
para conduzir, um tormento mental e conflitivo na consciência entenebrecida.
O amor, que significa conquista emocional superior, rompe a densidade da ignorância
enquanto a oração dilui as espessas ondas escuras que envolvem
o discernimento.
Mediante o amor, o ser descobre o sentido existencial, tornando-se humano, isto
é, adquirindo sentimento de humanidade com libertação da
alta carga de animalidade nele prevalecente, compreendendo a necessidade de
compartilhar com o seu irmão o que tenha, mas também de repartir
quanto o enriquece. Através da oração identifica-se com
outras ondas psíquicas e impregna-se de energias saturadoras de paz,
bem como enriquecedoras de alegria de viver e de crescer no rumo da plenitude.
A soberba, filha dileta do egoísmo, que lhe faculta atribuir-se um valor
que ainda não possui, cede lugar à humildade que o ajuda a visualizar
a grandeza da Vida e a pequenez em que ainda se debate, incitando-o à
coragem e à abnegação, como o devotamento às causas
de enobrecimento em que se engajará, buscando os objetivos reais agora
vislumbrados e fascinantes.
Toda a terapêutica proposta por Jesus é libertadora, total e sem
recuo. Ele não se detém à borda do problema, mas identifica-o,
despertando o problematizado para que não reincida no erro, no comprometimento
moral com a consciência, a fim de que não lhe aconteça algo
pior, quais sejam a amargura sem consolo, a expiação sem alternativa,
o impositi vo do resgate compulsório.
Esse Homem singular sempre foi peremptório na proposta da decisão
de cada um, respeitando o livre-arbítrio, o direito de escolha que é
inalienável, definindo os rumos da felicidade terrena, que prosseguiriam
no reino dos Céus, ou demonstrando que através do sofrimento resignado,
bem vivido, já se devassavam as fronteiras do reino, embora ainda no
mundo físico.
Essa
visão de profundidade define o Messias nazareno como a Luz que veio ao
mundo e o mundo a recusou, preferindo a densidade do nevoeiro envolvente e alucinante.
Sóbrio e austero, sem dureza ou crueldade, sempre compassivo mas não
conivente, demonstrou pelo exemplo como viver-se em equilíbrio e morrer-se
em serenidade, mesmo que através de qualquer flagício imposto.
Ninguém houve que mantivesse tanta serenidade na alegria da pregação
da Boa Nova, sem a exaltação que tisna a beleza do conteúdo
da Mensagem ou receio de que ela demorasse a se implantar no coração
da Humanidade, não importando o tempo que fosse necessário, o
que, realmente, é de significado secundário. O Espírito
é eterno e a relatividade temporal é sempre sucedida pela sua
perenidade.
Feliz aquele que opta por experimentar o bem-estar no momento em que respira
e entende; desditoso aquele que, conhecendo a forma para tornar-se pleno posterga
a oportunidade, aguardando os impositivos inevitáveis da sujeição
e do sofrimento para resolver-se pelo adquirir o que rejeitara anteriormente.
Sob outro aspecto, Ele nunca se apresentou como solucionador de problemas, antes
invitou a todos a fazerem a sua parte, a se responsabilizarem pelos próprios
deveres, tornando-se o Educador que sempre se fez compreender, nunca transferindo
responsabilidades que a cada qual pertecem,como mecanismos falsos para atrair
ou gerar proselitismo em torno da Sua pessoa.
Diferindo de todos os demais homens, não se revestiu
de aspecto excêntrico ou tomou atitudes aberrantes para chamar a atenção,
mantendo-se sempre o mesmo, preservando o critério da seleção
natural pelo mérito de cada discípulo que se Lhe associasse ao
Ministério.
Era compreensível, portanto, que a comunidade
judaica do Seu tempo, e a sociedade quase em geral de todos os tempos, não
aceitassem o Seu método. Acostumados que se encontram os homens ao vazio
do comportamento moral às concessões da mentira e da bajulação,
aos esconsos compromissos seletivos, viam-nO e ainda O vêem alguns indivíduos
como um violador dos costumes - infelizes, é certo - que predominam nas
consciências ensombradas de governantes insensatos e das massas desgovernadas.
Não obstante, Ele permaneceu fiel ao Seu compromisso, sem o alterar para
iludir ou arrebanhar simpatizantes. Sua austeridade e misericórdia conquistavam
naturalmente sem promessas mentirosas, nem concessões inúteis,
dando o primeiro sinal para o despertar para a Verdade, passo indispensável
para futuras revoluções internas que seriam operadas no cerne
de cada qual.
É incomparável Jesus, o responsável pelo fardo leve, em
razão da Sua autoridade moral, ainda não totalmente reconhecida
pela psicologia profunda, como o Homem de palavras claras, de ensinamentos sem
dubiedades, de vivência sem recalques ou fugas.
Veio instruir e consolar mediante o exemplo de dedicação, jamais
se acomodando ao modus vivendi e operandi, abrindo sulcos novos no solo dos
corações para neles ensementar as palavras seguras e medicamentosas
para a preservação da saúde e da vida. Ante os desafios
mais vigorosos e as situações mais inclementes, não desistir
dos ideais de beleza, não ceder espaço ao mal, não negociar
com as sombras, permanecendo-se verdadeiro, luminoso, de consciência reta,
decidido - eis a Sua proposta, conforme Ele próprio a viveu.
Sendo o Caminho, único, aliás, para chegar-se a Deus, não
teve outra alternativa senão afirmar: - Vinde a mim, todos que estais
aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei.
Joanna De Ângelis
Livro: Jesus e o Evangelho