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terça-feira, 13 de novembro de 2012

No Limiar do Amanhã / Os mundos habitados



Os mundos habitados
Herculano Pires

“Ouvi falar que o Espiritismo traçou uma escala dos mundos. Isso é verdade? Como é esta escala?”
Existe realmente uma escala dos mundos, mas não no sentido absoluto. Não como um sistema rígido. Kardec, como sabemos, era um homem de ciência e sabia tratar desses problemas com a flexibilidade necessária, para não transformar certas afirmações ou tentativas de esclarecer as coisas em formas dogmáticas. Então Kardec, examinando o problema da pluralidade dos mundos no Universo e considerando que logicamente essa pluralidade deve corresponder, também, à expansão da humanidade, que não pertence apenas à Terra, mas a todos os mundos do Espaço, procurou estabelecer uma idéia, como ele diz, uma sugestão, referente às diferentes espécies de mundos que existem. E criou a escala dos mundos, da seguinte maneira:
  Mundos primitivos, em estado de provação – Isso nos vem da própria sugestão da História da Terra. Quando examinamos a Terra no seu desenvolvimento, vemos que ela já foi um mundo onde não havia a existência humana, não havia o homem, nem sequer animais; enfim, não havia vida de espécie alguma. Depois surgiu a vida, que se foi desenvolvendo, do reino mineral para o reino vegetal, do vegetal para o animal, até atingir o reino hominal, com o surgimento do homem. Sendo assim, a própria Terra nos oferece uma idéia bem positiva, bem clara, do que são as várias formas do mundo. Os mundos primitivos são aqueles que estão ainda em desenvolvimento, onde a vida começa a surgir e se desenvolver.
  Mundos de Provas e expiações – Esses, como a Terra, são mundos onde a vida já se desenvolveu, em que o homem apareceu e em que se desenvolve, também, a civilização. Como o próprio nome indica, nesses mundos o homem está sendo provado pelas dificuldades terrenas e passando pelas expiações e atrocidades derivadas do uso do seu livre-arbítrio, cometidas em vidas anteriores.
  Mundos de regeneração – nesses mundos a humanidade se liberta das expiações e passa a enfrentar apenas as provas evolutivas, porque já adquiriu um grau evolutivo que lhe permite libertar-se daquilo que popularmente se conhece como “pagamento das dívidas do passado”.
  Mundos felizes - esses são mundos onde a Humanidade, já regenerada, está em condições morais que lhe permitem viver uma vida divina, que podemos considerar semelhante à vida dos deuses. Sua constituição é de natureza etérea, de matéria mais estratificada que a do nosso planeta. O homem vive aí uma vida paradisíaca.
  Mundos celestes ou divinos – Considerado pelo Espiritismo como os mundos superiores, estes são os mundos habitados pelos Espíritos puros.
Assim, temos uma escala do mundo sobreposta à variedade de formas de mundos habitados pela Humanidade, que não é terrena, é cósmica. A Humanidade é cósmica, isto é, existe no Cosmos.
Esta é a posição do Espiritismo a respeito do assunto e, como o ouvinte naturalmente já percebeu, pelas muitas manifestações científicas que têm surgido, divulgadas, inclusive, nos noticiários dos jornais, do rádio e da televisão a respeito de pesquisas sobre tudo isso, essa concepção espírita está de pleno acordo com a era cósmica que estamos vivendo.
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“Camille Flammarion foi espírita. Disseram-me mesmo que ele foi médium de Allan Kardec, o que eu duvido. Foi ele quem deu a Kardec a idéia de que existem outros mundos habitados?”
Não, não foi Flammarion quem deu essa idéia. Foram os Espíritos, nas suas comunicações com Kardec, que explicaram a existência dos mundos habitados no Universo. O ouvinte duvida que Flammarion tenha sido médium de Kardec. Por que duvida disso? É tão conhecido o problema de Flammarion, nas suas relações com o Espiritismo! Ele, realmente, aceitou a teoria da pluralidade dos mundos habitados e escreveu um livro sobre isso. Trabalhou com Kardec, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, como médium psicógrafo. Posso adiantar-lhe que o Capítulo de A Gênese, de Allan Kardec, intitulado “Uranografia Geral”, foi recebido psicograficamente por Flammarion. Nesse capítulo, ele recebeu informações do Espírito Galileu Galilei sobre a pluralidade dos mundos habitados.

Mundos sem vida

“Como o Espiritismo explica a existência de um mundo sem vida alguma, como a Lua e provavelmente Marte?”
O senhor, agora, me lembrou de uma falha que cometi, na lição passada, ao expor o problema sobre a escala espírita dos mundos. Realmente, há nessa escala um outro tipo de mundo que eu não citei, porque está incluída na própria fase dos Mundos Primitivos. São os Mundos Transitórios, que, segundo os Espíritos disseram a Kardec, são completamente áridos, muitos deles sem mesmo terem atmosfera, como acontece com a Lua.
Alguns deles, porém, já possuem atmosfera. São aqueles em que a vegetação se desenvolveu, em que houve a possibilidade, em virtude da existência de água nas suas entranhas, do desenvolvimento da própria atmosfera. Esses mundos transitórios, assim considerados, não têm condições de habitabilidade e, justamente por isso, não têm habitantes permanentes. Ninguém pode, por exemplo, viver permanentemente na Lua, a não ser de maneira artificial, servindo-se dos recursos da Terra, porque a Lua não tem atmosfera. Entretanto, nos Mundos Transitórios, os Espíritos se acomodam, por assim dizer, nos seus trabalhos que realizam no Cosmos.
O senhor vai dizer que isto é, por certo, um caso de imaginação, tirado da mitologia ou coisa semelhante. Mas a verdade é que os Espíritos somos nós mesmos. É preciso lembrar dos Espíritos não como fantasmas, não como criaturas abstratas, imaginárias, mas como criaturas humanas, desprovidas do corpo material. Nós não somos animais. Temos um corpo animal como instrumento de nossa manifestação, na vida terrena. Somos provenientes do Reino Animal, na nossa evolução, mas por termos atingido um plano superior, em que se manifesta a consciência, nós superamos a animalidade, porque a nossa essência é espiritual e não material.
Temos, pois, de nos lembrar dos Espíritos como seres humanos, dotados de todas as capacidades que possuímos, aqui na Terra, sendo que as mesmas são criadas em virtude de eles estarem revestidos de um corpo mais leve do que o nosso corpo material, que é o perispírito. O senhor teria a possibilidade de dizer que tudo isso é imaginação. E se eu lembrar ao senhor que as pesquisas existentes neste caso demonstraram a existência real do perispírito, o corpo espiritual do homem? O senhor poderá objetar-me, como costumam fazer os céticos, que essas pesquisas nunca chegaram a comprovações decisivas. Na verdade, chegaram. Chegaram, sim senhor.
Se o senhor ler os trabalhos científicos a respeito, verá que chegaram a resultados conclusivos, mas foram rejeitados pela maioria dos cientistas, que não se importaram em pesquisar nesse campo. Por que William Crookes se dedicou a estudar os fenômenos espíritas? Por que ele era espírita? Não, porque ele nem acreditava nisso. Depois da investigação da sociedade Dialética de Londres, que quis acabar com o Espiritismo e acabou, na verdade, se dividindo em duas partes, uma a favor e outra contrária, depois desse fracasso William Crookes foi chamado à liça. Era um homem de grande prestígio, de grande capacidade científica no campo da investigação, principalmente para fazer aquilo que a Sociedade Dialética não havia conseguido fazer.
É bem conhecido o episódio de Crookes. Ele trabalhou apenas três meses na investigação espírita, afastando-se, portanto, do campo das suas pesquisas habituais, do seu trabalho costumeiro. Pois bem, Crookes ficou mais de três anos na pesquisa espírita e provou a existência de todos os fenômenos espíritas. Então, o que fizeram aqueles mesmos que haviam solicitado a sua presença nesse campo? Disseram que ele havia perdido a razão.
Como ter provado a existência dos Espíritos, pelo mesmo Crookes, que havia provado a existência da matéria radiante? As conquistas de Crookes antes do seu trabalho espírita eram válidas, mas as conquistas no campo da investigação espírita não deveriam ser válidas. Veja o senhor o preconceito, a falta de arejamento espiritual para enfrentar os problemas. Ainda recentemente, um grande cientista francês afirmou, através de um trabalho muito bem feito, sobre a tradição dos cientistas no mundo atual, em face dos problemas parapsicológicos, que existe na Ciência uma lei de conservação da estrutura científica, denominada Lei de Alergia ao Futuro, que funcionou na Ciência.
Quanto a Crookes, saiu do campo do presente imediato e investigou a realidade dos fenômenos espíritas, com o que se projetava no futuro. Então os seus próprios colegas se voltaram contra ele. Temos também o caso de Charles Richet, que projetou suas pesquisas em Argel, provocando as manifestações de um Espírito materializado, que ele examinou como fisiologista, em todas as minúcias de sua manifestação; comprovou e afirmou a realidade da materialização e foi acusado, pelos seus próprios colegas, de que tinha cometido um grave erro de ter sido ludibriado por afirmações do cocheiro do general Noel, em cuja casa foram feitas as experiências. Acontece que esse cocheiro havia sido despedido pelo general Noel; era ladrão e bêbado. Então Richet perguntou a seus colegas na França: vocês preferem ficar com as afirmações do cocheiro bêbado ou com as minhas?
Como o senhor vê, o problema é muito sério, muito grave e nós precisamos compreender que temos que deixar de lado os preconceitos e encarar a verdade. Vamos examinar as pesquisas científicas em si e verificar a constância com que essas pesquisas não mudam. Desde os tempos de Kardec até hoje, estão sempre terminando, concluindo, pela existência real do fenômeno. Então a realidade se impõe, através da pesquisa científica, e não pode ser absolutamente negada com essa simplicidade, essa facilidade com que tem sido feita.

No Limiar do Amanhã / A comunicação com Deus



A comunicação com Deus

Herculano Pires

“O Espiritismo é uma doutrina racional e científica, mas adota a prece e o passe e se diz continuador do Cristianismo. Vejo nisso uma tremenda contradição. O que o senhor me diz?”
Não há contradição nenhuma. Quando o Espiritismo se diz uma doutrina racional e científica, ele se pauta através dos seus princípios. Basta ler O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, a obra fundamental do Espiritismo, para certificar-se de todas as questões científicas e de pesquisas, de acordo com os princípios da doutrina. Então, a Doutrina Espírita é realmente racional e científica.
Quanto à prece, ela não é irracional. Pode ser irracional para, por exemplo, os selvagens, que pronunciam a prece sem saber o seu significado. Assim, a formulam, impulsionados pelas emoções de momento. Mas quando uma pessoa já tem o desenvolvimento mental para entendê-la, ela é uma forma de comunicação, e a forma de comunicação não é, absolutamente, mágica ou supersticiosa. Ela existe em todos os campos.
Há dois tipos de comunicação humana:
1)    a comunicação horizontal, ou seja, no plano social, de homem para homem, entre as criaturas humanas;
2)    a comunicação vertical, isto é, com as entidades espirituais e com Deus.
O homem pode, inclusive, falar com Deus, quando dirige a Ele, por exemplo, a prece do Pai Nosso, repetindo aquelas palavras que Jesus deixou, no Evangelho. Essa comunicação é racional, pois o Pai Nosso traduz uma série de pedidos, de solicitações, que correspondem exatamente às nossas necessidades humanas. Tentamos, então, nos comunicar com Deus. E Deus nos ouve. Há essa comunicação com aquele que sabe usá-la, compreendendo o seu sentido e o seu alcance.
A prece dos espíritas não é dirigida somente a Deus, mas a todos os bons Espíritos, que podem não ser angélicos, mas são bons. São Espíritos de criaturas boas, que viveram na Terra, que vêm nos auxiliar, porque são nossos amigos. Todos nós, como dizia o apóstolo Paulo, temos as nossas testemunhas, que são os Espíritos que se aproximam de nós, os que são simpáticos a nós, por isso, vêm nos auxiliar; ou aqueles que nos detestam e que procuram nos atingir e prejudicar-nos. Mas todos eles estão à nossa volta e há aqueles que nos ajudam e nos defendem da maldade daqueles que nos detestam. Então, quando dirigimos a nossa prece a esses Espíritos, estamos quase na própria comunicação horizontal, de criatura humana para criatura humana, porque eles estão ao nosso redor e convivem conosco na Terra.
A prova de que isso não é uma superstição está, por exemplo, nas pesquisas atuais da parapsicologia, principalmente no campo da transmissão do pensamento. Por que é que a Rússia, neste momento, investiga com tanto interesse esse assunto, pois a Parapsicologia não cuida de problemas materiais, mas daqueles fenômenos paranormais, que se passam fora daquilo que é considerado material, na vida terrena? Por que os Estados Unidos empenham-se em verdadeiras campanhas, no sentido do desenvolvimento das pesquisas parapsicológicas? Por que há uma verdadeira corrida parapsicológica, entre os Estados Unidos e a União Soviética? Porque as experiências científicas já demonstraram essa coisa extraordinária, para todos aqueles que podem pensar um pouco a respeito.
A prece não é, absolutamente, um elemento mágico. É uma realidade no campo das comunicações, hoje em dia. Na Universidade de Moscou, por exemplo, a telepatia figura nas escolas de comunicação, como pertencente ao campo das comunicações biológicas.
Quanto ao passe, no Espiritismo ele não é considerado como uma varinha mágica. É como um elemento que permite a transmissão de energias vitais do passista. Essa transmissão de energias vitais está provada em pesquisas, na Rússia e Estados Unidos, sobre a aura humana e a aura das coisas, de acordo com o sentimento das criaturas, com a posição mental da pessoa, das suas emoções. Há variações não só na intensidade, como no colorido da aura.
A alma representa a energia vital do homem, que pode extravasar-se pelo corpo e que forma, então, essa aura verdadeiramente de luminosidade, em torno da pessoa. A aura existe, também, nos objetos, na pedra, no vegetal, porque todos os seres são dotados dessa energia íntima, que determina a sua expressão luminosa, além dos limites da estrutura material.
Assim, o passe é considerado uma transmissão energética, de uma pessoa para outra. Esse passe é mais poderoso quando auxiliado por uma entidade espiritual. Porque ocorreram, muitas vezes, a fraqueza das energias. Não há, portanto, nenhuma contradição no Espiritismo, ao se dizer racional e científico e admitir a prece e o passe.

No limiar do amanhã / Deus



Herculano Pires

“Ouvimos uma apresentadora de TV dizer que Deus é estático, porque é perfeito. E que toda perfeição é estática. Tenho a minha opinião, mas gostaria de ouvir a sua.”
A concepção da apresentadora, de que Deus é estático porque é perfeito, está atrelada, por assim dizer, à nossa lógica humana. Há uma lógica, determinada praticamente pelas concepções do século XVIII. Já no século XIX e nos fins do século XVIII tinha-se uma concepção diferente.
A perfeição não é estática. Perfeito não é aquilo que está acabado. Pode haver uma perfeição naquilo que está iniciado. É um início perfeito, naquilo que está em desenvolvimento, rumo àquilo que Kant chamava de “a perfectibilidade possível” de cada Ser. Assim, há na perfeição um dinamismo e uma estática. Há um dinamismo constante, porque a perfeição implica o processo de desenvolvimento das potencialidades do Ser.
No campo do homem, por exemplo, isto se torna bem claro. O homem aparece na Terra nos tempos primitivos, como selvagem, como quase um animal. Entretanto, ele traz, dentro de si, todas as potencialidades da sua perfeição. Ele é, portanto, perfeito em potência, isto é, potencialmente ele é perfeito; à proporção que se vai desenvolvendo, através das vidas sucessivas, na renovação das gerações, na humanidade, essas potencialidades vão se manifestando. Então nós dizemos: “Fulano é uma criatura imperfeita, ainda em desenvolvimento”. Mas esta é uma concepção humana. Para Deus, aquele fulano, que está em desenvolvimento, é perfeito, porque ele traz em si todos os elementos da perfeição, que estão apenas aflorando, desenvolvendo-se, maturando-se, amadurecendo, para chegar, enfim, a um ponto determinado, que nós humanos consideramos a perfeição, mas que ainda não é a perfeição, para Deus.
Para Deus, a perfeição é um incessante evoluir. Ela não está, de maneira alguma, em algo que se fez e se completou. Por isso, costumo dizer que as pessoas que dizem “Eu sou um homem que realmente me realizei”, se soubessem o que quer dizer a realização das potencialidades internas do Espírito da criatura humana, nunca usariam esta expressão. Um homem realizado, uma criatura realizada, seria uma criatura que não teria nada a realizar, não teria nada a fazer, estaria completa em si mesma.
Diz o filósofo Heidegger, uma das mais altas expressões do pensamento contemporâneo, que “o homem só está completo quando morre”. A passagem do homem pela vida é uma constante transformação, um constante evoluir. Assim, nós só podemos considerá-lo completo na morte, porque aí termina a sua vida de homem. Então este homem, que não é mais homem como criatura encarnada, mas um Espírito, irá prosseguir, continuando o desenvolvimento das suas potencialidades.
Deus é um renovador constante, incessante. Por exemplo: vamos a uma imagem que talvez nos dê uma idéia mais concreta, mais precisa disto, quando Zoroastro, na Pérsia – fundador da religião chamada, hoje, Madzeista, dando uma idéia de Deus aos seus adeptos, disse: “A única imagem possível de Deus, na Terra, é a do fogo. O fogo está continuamente se renovando, através das suas labaredas. O fogo produz a luz e afugenta as trevas, quando os selvagens precisam afugentar as feras que, no mato, os rodeiam, os rondam”.
Para Zoroastro, a única imagem perfeita de Deus é o fogo. E então, o que fizeram os homens? Passaram a usar o fogo.
Quando vemos velas acesas em algum lugar, no sentido devocional; quando vemos lâmpadas acesas, nos altares das igrejas, estamos diante de uma transposição do Zoroastrismo para outras religiões. Ou, em outras palavras, da adoração do fogo, da simbologia do fogo, presente nas manifestações religiosas.
Esta concepção de Zoroastro nos dá o exemplo concreto do que seja aquilo que poderemos imaginar como constante e incessante dinâmica da existência de Deus, se poderemos chamar assim; da sua vivência como uma inteligência, que é o centro de todo o Universo, que controla toda a movimentação dos astros, das galáxias, do espaço infinito. Deus é um dinamismo constante. Não poderia ser, portanto, estático, de maneira alguma.

No Limiar do Amanhã/A busca da Verdade



A busca da Verdade
Herculano Pires

“Professor, considero o Espiritismo uma tentativa ingênua de racionalizar a Religião. As transmissões não são racionais. São realizações emocionais, para ajudarem o homem a suportar a vida. Como o senhor me responderia a isto?”
Respondo que continua em vigor o seu preconceito. O senhor está tratando com preconceito o problema religioso. Quem lhe disse que se chegou à conclusão, do ponto de vista científico e religioso, de que a religião seja isto, apenas um problema emocional? Não. O senhor conhece, por exemplo, a posição pragmática de William James, nos Estados Unidos, no tocante às religiões? O senhor sabe que ele encarou as religiões sob o ponto de vista racional e didático e chegou à conclusão de que a Religião tem uma finalidade prática, muito importante, na vida humana?
O senhor sabe que Augusto Comte, o grande filósofo do Positivismo, que fez a sua filosofia baseada inteiramente no estado subjetivo da ciência, acabou criando aquilo que ele chamou a religião da humanidade? Sabe que no Rio de Janeiro existem centros positivistas, onde o senhor pode assistir às cerimônias religiosas? Que Augusto Comte confirmou a existência da Metafísica baseando-se nas experiências concretas e positivas? Que para ele as religiões não tratavam de um Deus imaterial, abstrato, mas daquilo que ele chamava a Deusa, que é a própria humanidade, o culto da humanidade?
A religião não tem apenas um sentido emocional, mas também um sentido de busca da verdade. A religião faz parte do campo do conhecimento. No tocante ao Espiritismo, nós consideramos o seu conhecimento, no sentido geral, em três campos, três grandes províncias, por assim dizer, que são: a Ciência, a Filosofia e a Religião. As ligações entre esses campos do conhecimento são ligações praticamente genéticas. Por que? Porque sempre a Ciência nasce da experiência do homem, no contato com a natureza, da sua procura em conhecer a realidade das coisas, em descobrir as leis que as governam e servir-se delas, para poder utilizar-se delas.
A Ciência dá os dados sobre a realidade. Esses dados vão levar o homem a formular um conceito da natureza, a criar uma concepção do mundo, da vida. Essa concepção do mundo é a Filosofia. Então, a Ciência nasce da experiência humana na Terra. A Filosofia nasce das conquistas da Ciência. Essas conquistas se projetam na concepção do mundo formal, que é a Filosofia, e permitem que o homem tenha um comportamento adequado àquilo que ele considera ser o mundo, na feição moral. Mas a moral mostra que o homem não é um ser efêmero, como nos parece, pela sua aparência material. Assim, o ser, que sobrevive após a morte, nos leva, naturalmente, à Religião. A Religião é, então, a busca da verdade, da mesma forma que a Ciência, da mesma forma que a Filosofia. Cada uma testa e estrutura o seu conhecimento; cada uma no seu campo. Todas elas exercem, em conjunto, uma função, que é a busca da verdade.
O senhor se engana, portanto, ao considerar a Religião como apenas um campo da emoção. O senhor fala isso por causa da fé. Mas é preciso lembrar que Allan Kardec fez a crítica da fé e chegou à conclusão de que a fé verdadeira é a fé que se ilumina, à luz da razão.

No Limiar do amanhã /A evolução do Espírito




“Se existem mundos melhores do que este, por que vivemos aqui: Deus tem os seus privilegiados, que vivem em mundos melhores?”
O senhor está encarando o problema dentro de uma concepção estreitamente humana, que respeita, inclusive, o condicionamento social em que nós vivemos. Não. Deus não é um chefe político. Deus não é um administrador de empresas, que possa ter os seus privilegiados. Deus é a suprema inteligência do Universo, causa primária de todas as coisas. Ele é o Criador. Ele impulsiona na sua criação o desenvolvimento de todas as criaturas num mesmo e único sentido.
Nós todos temos de evoluir, de progredir. Mas se aqui estamos na Terra e outras criaturas habitam mundos superiores, é porque ainda não atingimos, na nossa evolução, a condição necessária para habitar esses mundos mais elevados. A vida é uma ascensão contínua. Bastaria isso para nos mostrar a sua grandeza e a grandeza do poder de Deus. Nós subimos, desde os planos inferiores da criação, através da evolução, e quando chegamos ao homem nós partimos para o mundo superior, o que no Espiritismo chamamos de angelitude, quer dizer, o plano dos anjos.
Os anjos não são mais do que homens evoluídos. São Espíritos humanos depurados, aperfeiçoados, que se desprenderam dos planos inferiores da criação e conseguiram desenvolver as suas potencialidades internas, a sua inteligência, a sua afetividade, a sua vontade, num plano extremamente superior, extremamente elevado.
As religiões os chamam de anjos, mas para nós, espíritas, esses anjos são os Espíritos puros, que já desenvolveram os seus mais elevados sentimentos. Na proporção em que os Espíritos se elevam, eles passam a habitar mundos superiores. Mas ninguém está privado de habitar esses mundos. Todos caminhamos para lá.
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“Por que temos que renascer neste mundo? Não progrediremos melhor nos planos espirituais onde, segundo o Espiritismo, tudo é melhor?”
A evolução é um progresso contínuo. Nós temos que conceber o problema não apenas através da nossa concepção humana das coisas. Precisamos ir um pouco além. Precisamos compreender que estamos lidando com um processo universal, cósmico, e que todo o Cosmo está implicado nesse processo. Assim, quando estamos aqui na Terra, passando por uma evolução necessária, é porque o nosso Espírito, dotado de potências que ainda não foram desenvolvidas, precisa, na vida terrena, dos choques da vida material, do contato, ainda, com as condições dos reinos inferiores, de que ele partiu.
O senhor pode ler na Bíblia aquele trecho alegórico, bastante importante, que diz assim: “Deus fez o homem do barro e da terra”. Ora, esta expressão nos coloca diante de uma verdade que o Espiritismo comprova pela experiência. Deus tira o Espírito humano do princípio inteligente do Universo, que é um motivo de organização e de estruturação de todas as formas da matéria, desde o reino mineral até o reino hominal. Assim sendo, esse princípio inteligente tem potências que vão sendo desenvolvidas, através desses reinos. Portanto, se ainda estamos aqui na Terra é porque não estamos em condições, não poderíamos viver num mundo superior, onde nossa inteligência e nossa sensibilidade não estariam em condições de se relacionarem com as coisas circundantes. Não teríamos sensibilidade para captarmos as sutilezas desse mundo, para percebermos as coisas que nele existem e para convivermos com os seus habitantes. É por isso que continuamos a nos preparar na Terra até que atinjamos a condição necessária para subirmos a mundos elevados.