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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Evangelho em Casa-Por Memei

primeira  reunião
Meimei
 
         Encorajada pelo esposo, Dona Zilda, naquele belo domingo de abril, colocou sobre a mesa a melhor toalha de que dispunha.
         Alinhou dois livros carinhosamente tratados – um exemplar do Novo Testamento e outro de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
         Em seguida, trouxe pequeno vaso com água pura.
         Soaram seis horas da tarde.
         O senhor Veloso, chefe da família, entrou no aposento acompanhado de Lina e Cláudio, filhinhos do casal, quase meninos, e de Marta, jovem servidora que parecia ter mais de vinte anos de idade.
         Dona Zilda perguntou pela filha mais velha, Silvia, e por Dona Júlia, a irmã viúva que residia junto deles, na mesma casa.
         Veloso, porém, notificou que ambas se haviam esquivado. Não desejavam partilhar o nosso hábito doméstico.
         Sem mais demora, como se todos já houvessem estabelecido o propósito de a ninguém reprovar, o pequeno grupo assentou-se tranqüilo.
         Pairava brando silêncio, quando Veloso ergueu a voz e orou, comovido.
 
PRECE INICIAL
 
         Senhor Jesus!
         Quando Deus não é colocado por centro de nossa vida, perdemos o rumo, quais viajores que se distancia, da luz, caindo nas trevas... E és entre nós, Senhor, a imagem mais fiel do Pai que nos criou.
         Para nos reunires a Ele. Concede-nos, assim, a força de percorre-lo! Inspira-nos a compreensão de tua palavra, porquanto sabemos que o Reino de Deus, como felicidade eterna, há de começar em nós mesmos.
         Guia-nos, Mestre, e ajuda-nos a entender-te à vontade! Assim seja.
 
LEITURA
 
         Finda a prece, solicitou Veloso que a filhinha abrisse o Novo Testamento ao acaso.
         Efetuada a operação, Lina passou o livro ao exame paterno.
         O diretor da pequenina assembléia deteve-se, por momentos, contemplando a fisionomia da página, e leu, depois, o versículo 14, do capítulo 4, nos Apontamentos do Apóstolo João Evangelista:
         “Mas, aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”.
         Logo após, atendendo à recomendação do esposo, Dona Zilda consultou o Evangelho Segundo o Espiritismo, igualmente ao acaso, e leu nas “Instruções dos Espíritos”, do capítulo XVII, a mensagem de Lázaro, intitulada “O Dever”.
 
COMENTÁRIO
 
         Feito silêncio, Veloso analisou, sereno:
         -Em nossa reunião temos o objetivo de estudar os ensinamentos do Cristo, de modo a percebermos com mais segurança o quadro de nossas obrigações.
         Aceitamos a Doutrina Espírita, em nome de Jesus, entretanto, como dignifica-la, sem conhecimento das lições do Divino Mestre?
         Na informação do evangelista, diz o Senhor: “Quem beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque essa água se fará nele qual fonte de água viva”.
         Anotemos, em seguida, nos ensinamentos coligidos por Allan Kardec, a palavra de Lázaro quanto à excelência do dever como “Lei da Vida”.
         Naturalmente, aludindo à água que nos oferta, reportava-se Jesus aos princípios redentores de que se fez mensageiro.
         Quem lhes absorva a essência sublime decerto se renovará integralmente, abrindo novo caminho aos próprios pés.
         E, ligando a promessa do Senhor à conceituação da mensagem lida, reconheceremos claramente que Jesus não apenas nos reconfortou a existência física, descerrando-nos luminosa esperança ao sentimento ou curando-nos os corpos doentes, mas, acima de tudo, nos traçou normas de ação, ante as quais nos compete aperfeiçoar o senso de disciplina.
         A fim de compreendermos semelhante verdade, estampou as suas instruções em sua própria conduta.
         Desceu das Esferas Superiores, sem preocupar-se com a dureza de nossos corações, e distribuiu amor e luz com todas as criaturas.
         Começou, no entanto, pelos mais infortunados e mais tristes.
         Andou entre os homens sem deles exigir considerações e privilégios.
         Nasceu numa estrebaria e morreu numa cruz.
         Amparou a quantos lhe partilharam a marcha, sem pedir agradecimento ou moeda.
         Todavia, cada máxima que lhe saiu da boca representa um artigo da Lei Divina para a edificação do Reino de Deus entre nós.
         O Reino de Deus inclui, porém, todo o Universo.
         Assim, pois, onde palpite a consciência, seja na Terra ou noutros mundos, os princípios de Jesus constituem a religião viva.
         Não é difícil, desse modo, aprender que o Celeste Amigo demarcou-nos a estrada real para a verdadeira felicidade, assim como entendemos trilhos sólidos, de acordo com a experiência da engenharia, para que a locomotiva alcance a meta.
         Que acontece, entretanto, ao comboio que abandona as linhas da vida férrea? Descarrila, provocando desastres. Ameaça a vida dos passageiros, além de estragar a si próprio.
         Interpretemos nossos desejos e ideais, tarefas e obrigações, como sendo passageiros que transportamos conosco, e façamos de nossa mente o maquinista.
         Se o maquinista não obedece às regras instituídas para a viagem, que é a nossa própria existência, converte-se a vida em aventura perigosa, na qual arruinamos os interesses e aspirações de que sejamos depositários, e perturbamos, conseqüentemente, a nós mesmos.
         As lições de Jesus, portanto, indicando-nos a bondade e o serviço, a paciência e a humildade, a caridade e o perdão, expressam a senda que nos cabe trilhar, se quisermos viver em harmonia com a Lei de Deus.
 
CONVERSAÇÃO
 
            Terminando o comentário, Veloso explicou que seria interessante uma palestra rápida, a fim de que as idéias do “culto evangélico” fossem colocadas em movimento.
         Depois da troca de expressivo olhar com a mãezinha, foi Lina quem tomou a iniciativa, perguntando:
         -Papai, por que motivo não temos um retrato de Jesus, diante de nós, em nossas preces?
         E o entendimento estabeleceu-se, afável.
         VELOSO – Filhinha; decerto não somos contra o trabalho artístico que mentaliza o Divino Mestre as telas e esculturas que encontramos a cada passo, e um lar espírita pode guardar perfeitamente semelhantes recordações, sempre que não atentem conta a dignidade do Senhor e contra o respeito que devemos à obra cristã; contudo, nas atividades de nossa Doutrina, dispensamos apetrechos materiais, a fim de que não olvidemos a presença do Eterno Amigo dentro de nós mesmos.
         CLÁUDIO – E a água, papai?... Por que a água na mesa?
         VELOSO – Meu filho, a água é, reconhecidamente, um dos corpos mais sensíveis à magnetização. Nessa condição, armazena os recursos balsamizantes e curativos que nos são trazidos pelos Emissários Divinos ou por nossos Amigos Espirituais, em visita ao nosso recinto de orações.
         LINA – Se tia Júlia mora conosco, não compreendo as razões por que se afasta de nossas preces.
         D. ZILDA – Júlia tem idéias religiosas diferentes das nossas.
         LINA – E Silvia?
         VELOSO – Silvia é hoje uma jovem com vinte anos. Cresceu sem que lhe dedicássemos qualquer cuidado ao problema da fé. Quando pequenina Ilda e nós, muito inexperientes em matéria de responsabilidade, confiamo-la à guarda moral de Júlia. Não podemos agora lhe reclamar uma atitude para a qual, em verdade, não a preparamos. (E sorrindo) – Segundo é fácil de notas, estamos começando o nosso culto do Evangelho em casa com um atraso de vinte anos...
         CLAUDIO – Com que fim precisamos estudar o Evangelho?
         D. ZILDA – Para melhorar o coração, meu filho, para aprendermos que todos somos filhos de Deus e que devemos viver no mundo como irmãos uns dos outros.
         MARTA – Para cumprirmos nossos deveres com alegria.
         CLAUDIO – Quer dizer (e fez um rosto brejeiro) que Lina não deve rusgar tanto com a empregada.
         VELOSO – Meu filho, retifique a expressão, Marta não é nossa empregada, como se fora nossa escrava, e você se referiu a ela em tom de desprezo. É um erro ferir, mesmo sem intenção, aqueles que trabalham conosco, tratando-os como se estivéssemos em posição inferior. Marta é abnegada auxiliar no estabelecimento de ensino a que presta serviço e quanto seu pai é colaborador no escritório de que recebe o pão. Sem que as mãos dela nos preparem a mesa, ser-nos-á difícil o desempenho das nossas obrigações.
         D. ZILDA – Nosso culto do Evangelho é, assim, um meio para nos sentirmos mais compreensivos. Nem Lina precisa agastar-se com Marta nem nós mesmos uns com os outros. A cada qual de nós cabe o máximo de esforço para que a bondade e a ordem, o serviço e a gentileza permaneçam aqui com todos, para que a felicidade, brilhando conosco, se irradie de nós para os que nos cercam.
 
NOTA SEMANAL
 
         Findo o entendimento geral, Veloso disse:
         -Concluamos nossos estudos, cada semana, com alguma nota que nos enriqueça a meditação.
         Nesse sentido, lembro-me hoje de uma lenda que pertence ao pensamento mundial. Adaptando-a as nossas necessidades, nomeá-la-ei:
 
 
O DEVER ESQUECIDO
 
         Certo rei muito poderoso, sendo obrigado a longa ausência, tomou de grande fortuna e entregou-se ao filho, confiando-lhe a incumbência de levantar grande casa, tão bela quanto possível.
         Para isso, o tesouro que lhe deixava nas mãos era suficiente.
         Acontece, porém, que o jovem, muito egoísta, arquitetou o plano de enganar o próprio pai, de modo a gozar todos os prazeres imediatos da vida.
         E passou a comprar materiais inferiores.
         Onde lhe cabia empregar metais raros, utilizava latão; nos lugares em que devia colocar o mármore precioso, punha madeira barata, e nos setores de serviço, em que obra reclamava pedra sólida, aplicava terra batida...
         Com isso, obteve largas somas que consumiu, desorientado, junto de amigos loucos.
         Quando o monarca voltou, surpreendeu o príncipe abatido e cansado, a apresentar-lhe uma cabana esburacada, ao invés de uma casa nobre.
         O rei, no entanto, deu-lhe a chave do pequeno casebre e disse-lhe, bondoso:
         -A casa que mandei edificar é para você mesmo, meu filho... Não me parece a residência sonhada por seu pai, mas devo estar satisfeito com a que você próprio escolheu...
         Após ligeira pausa, Veloso advertiu:
         O conto impele-nos a judiciosas apreciações, quanto ao cumprimento exato de nossos deveres.
         Comparemos o soberano a Deus, nosso Pai.
         O príncipe da história poderia ter sido qualquer alma de nós.
         A fortuna para construirmos a moradia de nossa alma é a vida que Deus nos empresta.
         Quase sempre, contudo, gastamos o tesouro da existência em caprichosa ilusão, para acabarmos relegados, por nossa própria culpa, aos pardieiros apodrecidos do sofrimento.
         Mas, aqueles que se consagram à bênção do dever, por mais áspero que seja, adquirem a tranqüilidade e a alegria que o Supremo Senhor lhe reserva, por executarem, fiéis, a sua divina vontade, que planeja sempre o melhor a nosso favor.
        
ENCERRAMENTO
 
         Atendendo à solicitação de Veloso, Dona Zilda orou, no encerramento:
         -Senhor, agradecemos a riqueza que nos concedeste, a exprimir-se no lar que nos reúne.
         Aqui nos situaste por amor, para que aprendamos a servir ao próximo, servindo a nós mesmos.
         Inspira-nos resoluções elevadas, a fim de que a correção no desempenho de nossos deveres nos faça mais felizes e mais úteis.
         Não permitas, Jesus amado, venhamos a esquecer as nossas obrigações, perante os teus ensinamentos, e abençoa-nos, hoje e sempre, Assim seja.
 
**
         Dona Zilda distribuiu a água cristalina em pequenas porções com os familiares, enquanto a alegria lhes clareava o semblante. E Veloso, satisfeito, notou que Lina abraçava Marta, pela primeira vez, de modo diferente...
 
 
Da Obra “EVANGELHO EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Caros Irmãos.

Meus irmãos sejam sempre bem vindos a este blog que tem por finalidade divulgar a Doutrina Espírita, e gostaríamos muito que se manifestassem com comentários,sugestões, respondendo enquetes para melhor podermos contribuirmos para melhorarmos e atendermos a todos nas necessidades do dia a dia com mensagens de ânimo, coragem, autoconhecimento , esperança , entendimento, solidariedade.
Que Deus nos abençoe
Negy

ADVENTO DO ESPÍRITO DE VERDADE

Evangelho Segundo o Espiritismo.
Cap. 6

8. Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que lha
pedem. Seu poder cobre a Terra e, por toda a parte, junto
de cada lágrima colocou ele um bálsamo que consola. A
abnegação e o devotamento são uma prece contínua e encerram
um ensinamento profundo. A sabedoria humana
reside nessas duas palavras. Possam todos os Espíritos
sofredores compreender essa verdade, em vez de clamarem
contra suas dores, contra os sofrimentos morais que neste
mundo vos cabem em partilha. Tomai, pois, por divisa estas
duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes,
porque elas resumem todos os deveres que a caridade e
a humildade vos impõem. O sentimento do dever cumprido
vos dará repouso ao espírito e resignação. O coração bate
então melhor, a alma se asserena e o corpo se forra aos
desfalecimentos, por isso que o corpo tanto menos forte se
sente, quanto mais profundamente golpeado é o espírito. –
O Espírito de Verdade. (Havre, 1863.)

O CÍRCULO DE ORAÇÃO


F.Labouriau
Noite de 11 de agosto de 1955.
Em finalizando as nossas tarefas no socorro aos sofredores desencarnados, comparece o irmão José Xavier que nos recomenda fraternalmente:
- Solicitamos dos companheiros alguns momentos de acurada meditação para articularmos
com mais segurança o “tono vibratório” de nossa reunião, porque, hoje, um novo amigo, o Professor Labouriau, ocupará o canal mediúnico, a fim de expressar-se quanto ao valor de um círculo de oração.   
Com efeito, daí a instantes transfigura-se o médium.
A entidade comunicante senhoreira-lhe todas as forças. Levanta-se. Fala-nos à maneira de um preceptor interessado na educação dos aprendizes. E transmite-nos o fulgurante estudo que oferecemos neste capítulo.
 
Comentemos a importância de um círculo de oração nos serviços de assistência medianímica, como um aparelho acelerador de metamorfose espiritual.
Imaginemo-lo assim como um cíclotron da ciência atomística dos tempos modernos.
Os companheiros do grupo funcionam como eletroímãs, carregados de força magnética positiva, e negativa, constituindo uma corrente alternada de alta freqüência, através da qual o socorro do Plano Superior, transmitido por intermédio do dirigente físico, exterioriza-se como sendo um projetil de luz sobre o desencarnado em sombra que, simbolizando o núcleo atômico a ser atingido, permanece justaposto ao alvo mediúnico.
No bombardeio nuclear, sabemos que um próton, arremessado sobre o objetivo, imprime-lhe transformação compulsória à estrutura essencial.
Um átomo elevar-se-á na escala do sistema periódico, na medida das cargas dos corpúsculos que lhe forem agregados.
Assim sendo, a projeção de um próton sobre certa unidade química determina a subida de um ponto em sua posição na série estequiogenética.
A carga do único próton do núcleo do átomo de Hidrogênio, de número atômico 1, arrojada sobre o Lítio, cujo número atômico é 3, modificá-lo-á para Berílio, que tem número atômico 4; ou, sobre o Alumínio, de número atômico 13, alterá-lo-á para Silício, cujo número atômico é 14.
Nesse mesmo critério, a injeção de um núcleo de átomo de Hélio com seus dois prótons, de número atômico 2, sobre Berílio, de número atômico 4, adicionar-lhe-á dois pontos acima, convertendo-o em Carbono, cujo número atômico é 6.
Recorremos a figurações elementares do mundo químico para dizer que no círculo de oração o impacto das energias emitidas de nosso plano, através do orientador encarnado, em base de radiações por enquanto inacessíveis à perquirição terrestre, provoca sensíveis alterações na mente perturbada, conduzida à assistência cristianizadora.
Consciências estagnadas nas trevas da ignorância ou da insânia perversa, são trazidas à retorta mediúnica para receberem o bombardeio controlado de forças e idéias transformadoras que lhes renovam o campo íntimo, e, daí, nasce a guerra franca e sem quartel, declarada a todos os grupos respeitáveis do Espiritismo pelas Inteligências que influenciam na sombra e que fazem do vampirismo a sua razão de ser.
Todos vós, que recolhestes do Senhor os mandatos do esclarecimento, os recursos da mediunidade  e os títulos da cooperação, no trato com os reinos do Espírito, sabei que para conservardes um círculo de oração, equilibrado e seguro, é imprescindível pagar os mais altos tributos de sacrifício, porque, em verdade, retendes convosco poderosa máquina de transmutação espiritual, restaurando almas enfermas e transviadas em núcleo de ação eficiente, que vale por reduto precioso de operações da Esfera divina, no amparo às necessidades e problemas da Terra.
Unamo-nos, assim, no trabalho do Cristo, como obreiros da Grande Fraternidade, mantendo-nos diligentes e alertas, na batalha incessante do bem contra o mal em que devemos servir para a vitória da Luz.
 
 
Do livro Vozes do Grande Além. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

MESTRE E APRENDIZ


    
Espírito: EMMANUEL.
 
     ... E respondendo ao discípulo que lhe pedira ensinasse a orar, disse o Mestre generoso:
     Quando rogares amor, não abandones o próximo ao frio da indiferença.
     Quando suplicares o dom da fé viva, não relegue teu irmão à descrença ou à tortura mental.
     Quando pedires luz, não condenes teu companheiro à perturbação nas trevas.
     Quando solicitares a bênção da esperança, não espalhes o fel da desilusão.
     Quando implorares socorro, não olvides a assistência que deves aos mais necessitados.
     Quando rogares consolação, não veicules o desespero à margem do caminho.
     Quando pedires perdão, desculpa os que te ofendem.
     Quando suplicares justiça, em favor da própria segurança, não te descuides da harmonia de todos que precisas assegurar ao preço de tua renunciação e de tua humildade, a benefício dos que te cercam.
     Se reclamares pela claridade da paz, não entendas a sombra da discórdia; se pedires compreensão, não critiques; se aguardares concurso do Céu, não menosprezes a colaboração que o mundo te pede à boa vontade.
     Assim como fizeres aos outros, assim será feito a ti mesmo.
     Segundo plantares, colherás.
     Não olvides, assim, que a Vontade do Senhor é também a Lei Eterna e que tudo te responderá na vida, conforme os teus próprios apelos.
     Vai, pois, e, orando, perdoa e ajuda sempre!...
     Foi então que o aprendiz, reconhecendo que não basta simplesmente pedir para receber a felicidade, passou a construí-la através do serviço à felicidade dos outros, compreendendo, por fim, que somente pelo trabalho incessante no bem poderia orar em perfeita comunhão com a Bondade de Deus.
 
LIVRO ANTOLOGIA MEDIÚNICA DO NATAL - Psicografia: Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos

COMUNHÃO COM DEUS




Irmão X - Humberto de Campos
As elucidações do Mestre, relativamente à oração, sempre encontravam nos discípulos certa perplexidade, quase que invariavelmente em virtude das idéias novas que continham, acerca da concepção de Deus como Pai carinhoso e amigo. Aquela necessidade de comunhão com o seu amor, que Jesus não se cansava de salientar, lhes aparecia como problema obscuro, que o homem do mundo não conseguiria realizar.
A esse tempo, os essênios constituíam um agrupamento de estudiosos das ciências da alma, caracterizando as suas atividades de modo diferente, porque sem públicas manifestações de seus princípios. Desejoso de satisfazer à curiosidade própria, João procurou conhecer-lhes, de perto, os pontos de vista, em matéria das relações da comunidade com Deus e, certo dia, procurou o Senhor, de modo a ouvi-lo mais amplamente sobre as dúvidas que lhe atormentavam o coração:
- Mestre - disse ele, solícito -, tenho desejado sinceramente compreender os meus deveres atinentes à oração, mas sinto que minh’alma está tomada de certas hesitações. Anseio por esta comunhão perene com o Pai; todavia, as idéias mais antagônicas se opõem aos meus desejos. Ainda agora, manifestando meu pensamento, acerca de minhas necessidades espirituais, a um amigo que se instrui com os essênios, asseverou-me ele que necessito compreender que toda edificação espiritual se deve processar num plano oculto. Mas, suas observações me confundiram ainda mais. Como poderei entender isso? Devo, então, ocultar o que haja de mais santo em meu coração?
O Messias, arrancado de suas meditações, respondeu com brandura:
- João, todas as dúvidas que te assaltam se verificam pelo motivo de não haveres compreendido, até agora, que cada criatura tem um santuário no próprio espírito, onde a sabedoria e o amor de Deus se manifestam, através das vozes da consciência. Os essênios levam muito longe a teoria do labor oculto, pois, antes de tudo, precisamos considerar que a verdade e o bem devem ser patrimônio de toda a Humanidade em comum. No entanto, o que é indispensável é saber dar a cada criatura, de acordo com as suas necessidades próprias. Nesse ponto, estão muito certos quanto ao zelo que os caracteriza, porque os ungüentos reservados a um ferido não se ofertam ao faminto que precisa de pão. Também eu tenho afirmado que não poderei ensinar tudo o que desejara aos meus discípulos, sendo compelido a reservar outras lições do Evangelho do Reino para o futuro, quando a magnanimidade divina permitir que a voz do Consolador se faça ouvir entre os homens sequiosos de conhecimento. Não tens observado o número de vezes em que necessito recorrer a parábolas para que a revelação não ofusque o entendimento geral? No que se refere à comunhão de nossas almas com Deus, não me esqueci de recomendar que cada espírito ore no segredo do seu íntimo, no silêncio de suas esperanças e aspirações mais sagradas. É que cada criatura deve estabelecer o seu próprio caminho para mais alto, erguendo em si mesma o santuário divino da fé e da confiança, onde interprete sempre a vontade de Deus, com respeito ao seu destino. A comunhão da criatura com o Criador é, portanto, um imperativo da existência e a prece é o luminoso caminho entre o coração humano e o Pai de infinita bondade.
O apóstolo escutou as observações do Mestre, parecendo meditar austeramente. Entretanto, obtemperou:
- Mas, a oração deve ser louvor ou súplica?
Ao que Jesus respondeu com bondade:
- Por prece devemos interpretar todo ato de relação entre o homem e Deus. Devido a isso mesmo, como expressão de agradecimento ou de rogativa, a oração é sempre um esforço da criatura em face da Providência Divina. Os que apenas suplicam podem ser ignorantes, os que louvam podem ser somente preguiçosos. Todo aquele, porém, que trabalha pelo bem, com as suas mãos e com o seu pensamento, esse é o filho que aprendeu a orar, na exaltação ou na rogativa, porque em todas as circunstâncias será fiel a Deus, consciente de que a vontade do Pai é mais justa e sábia do que a sua própria.
- E como ser leal a Deus, na oração? - interrogou o apóstolo, evidenciando as suas dificuldades intelectuais. - A prece já não representa em si mesma um sinal de confiança?
Jesus contemplou-o com a sua serenidade imperturbável e retrucou:
- Será que também tu não entendes? Não obstante a confiança expressa na oração e a fé tributada à providência superior, é preciso colocar acima delas a certeza de que os desígnios celestiais são mais sábios e misericordiosos do que o capricho próprio; é necessário que cada um se una ao Pai, comungando com a sua vontade generosa e justa, ainda que seja contrariado em determinadas ocasiões. Em suma, é imprescindível que sejamos de Deus. Quanto às lições dessa fidelidade, observemos a própria natureza, em suas manifestações mais simples. Dentro dela, agem as leis de Deus e devemos reconhecer que todas essas leis correspondem à sua amorosa sabedoria, constituindo-se suas servas fiéis, no trabalho universal. Já ouviste falar, alguma vez, que o Sol se afastou do céu, cansado da paisagem escura da Terra, alegando a necessidade de repousar? A pretexto de indispensável repouso, teriam as águas privado o globo de seus benefícios, em certos anos? Por desagradável que seja em suas características, a tempestade jamais deixou de limpar as atmosferas. Apesar das lamentações dos que não suportam a umidade, a chuva não deixa de fecundar a terra! João, é preciso aprender com as leis da natureza a fidelidade a Deus! Quem as acompanha, no mundo, planta e colhe com abundância. Observar a lealdade para com o Pai é semear e atingir as mais formosas searas da alma no infinito. Vê, pois, que todo o problema da oração está em edificarmos o reino do céu entre os sentimentos de nosso íntimo, compreendendo que os atributos divinos se encontram também em nós.
O apóstolo guardou aqueles esclarecimentos, cheio de boa vontade no sentido de alcançar a sua perfeita compreensão.
- Mestre - confessou, respeitoso -, vossas elucidações abrem uma estrada nova para minh’alma; contudo, eu vos peço, com a sinceridade da minha afeição, me ensineis, na primeira oportunidade, como deverei entender que Deus está igualmente em nós.
O Messias fixou nele o olhar translúcido e, deixando perceber que não poderia ser mais explícito com o recurso das palavras, disse apenas:
- Eu to prometo.
A conversação que vimos de narrar verificara-se nas cercanias de Jerusalém, numa das ausências eventuais do Mestre do círculo bem-amado de sua família espiritual em Cafarnaum.
No dia seguinte, Jesus e João demandaram Jericó, a fim de atender ao programa de viagem organizado pelo primeiro.
Na excursão a pé, ambos se entretinham em admirar as poucas belezas do caminho, escassamente favorecido pela Natureza. A paisagem era árida e as árvores existentes apresentavam as frondes recurvadas, entremostrando a pobreza da região, que não lhes incentivava o desenvolvimento.
Não longe de uma pequena herdade, o Mestre e o apóstolo encontraram um rude lavrador, cavando grande poço à beira do caminho. Bagas de suor lhe desciam da fronte; mas, seus braços fortes iam e vinham à terra, na ânsia de procurar o líquido precioso.
Ante aquele quadro, Jesus estacionou com o discípulo, a pretexto de breve descanso, e, revelando o interesse que aquele esforço lhe despertava, perguntou ao trabalhador:
- Amigo, que fazes?
- Busco a água que nos falta - redargüiu com um sorriso o interpelado.
- A chuva é assim tão escassa nestas paragens? - tornou Jesus, evidenciando afetuoso cuidado.
- Sim, nas proximidades de Jericó, ultimamente, a chuva se vem tornando uma verdadeira graça de Deus.
O homem do campo prosseguiu no seu trabalho exaustivo; mas, apontando para ele, o Messias disse a João, em tom amigo:
Este quadro da Natureza é bastante singelo; porém, é na simplicidade que encontramos os símbolos mais puros. Observa, João, que este homem compreende que sem a chuva não haveria mananciais na Terra; mas, não pára em seu esforço, procurando o reservatório que a Providência Divina armazenou no subsolo. A imagem é pálida; todavia, chega para compreenderes como Deus reside também em nós. Dentro do símbolo, temos de entender a chuva como o favor de sua misericórdia, sem o qual nada possuiríamos. Esta paisagem deserta de Jericó pode representar a alma humana, vazia de sentimentos santificadores. Este trabalhador simboliza o cristão ativo, cavando junto dos caminhos áridos, muitas vezes com sacrifício, suor e lágrimas, para encontrar a luz divina em seu coração. E a água é o símbolo mais perfeito da essência de Deus, que tanto está nos céus como na Terra.
O discípulo guardou aquelas palavras, sabendo que realizara uma aquisição de claridades imorredouras. Contemplou o grande poço, onde a água clara começava a surgir, depois de imenso esforço do humilde trabalhador que a procurava desde muitos dias, e teve nítida compreensão do que constituía a necessária comunhão com Deus. Experimentando indefinível júbilo no coração, tomou das mãos do Messias e as osculou, com a alegria do seu espírito alvoroçado. Confortado, como alguém que vencera grande combate íntimo, João sentiu que finalmente compreendera."

Do livro Boa Nova. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

  


domingo, 12 de agosto de 2012

O MISTÉRIO DE PAULO


Pode o Espiritismo explicar a misteriosa figura do apóstolo Paulo? A súbita conversão do fogoso perseguidor, nas portas de Damasco, reveste-se, aparentemente, das características do milagre. Sua atividade posterior é considerada por muitos como superior à do próprio Cristo, na implantação do Evangelho. Chega-se a dizer que o Cristianismo é obra de Paulo e não do Cristo. Há, também, quem veja em Paulo uma espécie de reformador do Cristianismo, sustentando a existência de divergências profundas entre o Evangelho e as Epístolas do apóstolo dos gentios.

A mente humana é cheia de escaninhos sombrios e, às vezes, se apresenta como caprichoso labirinto. O Espiritismo é inteiramente contrário a essas teorias disparatadas. A conversão de Paulo não se deu por acaso, nem da maneira brusca por que costumam apresentá-la. “Tudo se encadeia no Universo”, diz O Livro dos Espíritos. Houve, também, um encadeamento de causas e efeitos na vida de Paulo, para levá-lo ao encontro do Cristo, na Estrada de Damasco. Os interessados no esclarecimento desse problema encontrarão amplos esclarecimentos na obra Paulo e Estêvão, de Emmanuel, psicografada por Chico Xavier, que acaba de ser lançada em oitava edição, pela Livraria da Federação Espírita Brasileira.

Não se trata de um romance, como geralmente se pensa, mas de uma biografia romanceada, de uma reconstituição da vida de Paulo, abrangendo aspectos fundamentais da época heróica de expansão do Cristianismo; as fontes da conversão de Paulo na sua própria dedicação a Moisés. Emmanuel não se serve da bibliografia terrena para essa reconstituição, mas das “tradições do mundo espiritual”. Vemos, então, que Gamaliel, mestre de Paulo, que devia suceder o mestre no Sinédrio, foi também um convertido. E duas figuras praticamente desconhecidas dos investigadores da História cristã, o pregador Estêvão e sua irmã Abigail, que foi noiva do jovem Saulo de Tarso, representam papel decisivo na preparação do seu espírito para o encontro com o Cristo.

As lutas de Saulo, após a conversão, são longas e dolorosas. Mas a sua inteligência poderosa e a sua profunda sinceridade, levam-no a compreender o Cristianismo como ninguém ainda pudera fazê-lo. Os que vêem diferenças entre Paulo e o Cristo, fazem confusão entre as interpretações parciais da mensagem cristã, espalhadas no mundo, e a interpretação legítima e total do apóstolo dos gentios. Paulo nada acrescentou, nem teve a mais leve pretensão de modificar o Cristianismo. Sua principal virtude, nas lides cristãs, é a fidelidade a Cristo, opondo-se até mesmo aos erros judaizantes dos apóstolos que haviam convivido com o Messias.

Paulo e Estêvão é uma obra que justificaria, sozinha, a existência e o apostolado mediúnico de Chico Xavier, na atualidade. Mas não é livro para ser lido como romance, com interesse apenas pelos lances românticos do enredo. É livro para ser estudado, para ser lido e meditado. Na bibliografia mediúnica mundial talvez não exista nenhum livro de maior importância do que esse. Os leitores que ainda não o conhecem devem aproveitar a oportunidade desta oitava edição, que completa sessenta e cinco milheiros de exemplares, lançados em nosso país, fora as traduções que correm o mundo.

O Mistério do Bem e do Mal
Herculano Pires

Queria primeiro o acréscimo, para depois procurar o Reino


Contradições entre teoria e prática doutrinária
– Quando se entende somente para os outros
– Uma lição mediúnica.
Miranda, velho amigo estudioso da doutrina do Consolador e pregador apreciado, uma dia me confessou: “Há muito que entro no Evangelho, mas o Evangelho não entra em mim. Por incrível que pareça, quanto mais o leio, quanto mais me absorvo nele, menos o sigo. Não sou mau, nem viciado em coisa alguma, nada faço contra ninguém. Mas sou áspero, irritadiço, não tolero ofensas e não entendo como se possa procurar primeiro o Reino de Deus, quando a Terra, diariamente, exige tanto de mim”.
Respondi-lhe que nós todos somos assim. Todos temos os nossos defeitos, as nossas deficiências de compreensão. Mas isso é natural, e não tem importância, desde que lutemos para nos corrigir. Se fôssemos perfeitos não estaríamos aqui, nem precisaríamos do Espiritismo. Estaríamos em mundo melhor, em plano superior, na companhia daqueles que, para as várias religiões, são os eleitos. Lembrei-lhe o que dizia Kardec: “O verdadeiro espírita se conhece pela sua transformação moral.” Kardec não exigia a perfeição, mas o avanço constante rumo a ela.
Miranda ouviu atentamente, com um pequeno volume do Evangelho nas mãos. Concordou, em parte. Mas logo acrescentou: “E se me esforço, mas não consigo melhorar-me? Já pensaste nisso? No drama do espírita que deseja melhorar e não consegue? Volto a insistir no caso do Reino de Deus. Como posso pensar nele, com a conta do empório no bolso e o ordenado já gasto? Essa é uma imperfeição que não venço. Sou obrigado a mentir, a trapacear, para resolver a situação.”
Perguntei-lhe se já havia examinado bem o conteúdo do ensino evangélico a que se referia. Respondeu que sim. Perguntei-lhe, então, o que entendia pelo Reino de Deus. Disse que entendia ser o reino da pureza, da verdade e do amor. Buscá-lo, pois, seria portar-se de acordo com esses princípios. Mas, como ser puro, se precisava mentir e trapacear? Como ser verdadeiro, se precisava simular? Como cultivar o amor, se os semelhantes o ofendiam, censuravam-no impiedosamente, amarguravam-no? Baixou a fronte, pensativo, rodando nas mãos o volumezinho do Evangelho, como uma coisa inútil. Suspirou e exclamou, num desabafo: “Acho que o melhor é deixar de falar na doutrina. E fazer como se diz por aí: fé em Deus e unha no próximo!”
Procurei, ainda, consolá-lo por mil maneiras. Inútil. Miranda estava amargurado consigo mesmo, revoltado. Mas à noite, aparentemente por acaso, encontramo-nos com um médium amigo. Conversa vai, conversa vem, resolvemos fazer uma prece em conjunto, para ajudar o Miranda. E mal a terminávamos, uma entidade amiga se incorporava no médium, dirigindo-se ao companheiro, desolado:
– Miranda, você não quer buscar o Reino de Deus e a sua justiça? Pois então, meu irmão, busque o outro.
– Que outro? perguntou Miranda, assustado.
– O do Diabo e a sua injustiça.
– Mas o Diabo não existe – objetou Miranda – É uma invencionice, uma interpretação errada dos textos. Chamas de diabo os espíritos imperfeitos, como eu, que andam trapaceando por aí.
– Pois então, Miranda, continue no seu Reino e na sua injustiça. Ninguém o obriga a buscar o Reino de Deus.
Miranda não se conteve. Lágrimas ardentes lhe correram pelo rosto. Disse-me, depois que, no momento, todo o absurdo da sua atitude lhe surgira de inopino aos olhos da alma. Então a entidade amiga, compassiva, disse-lhe:
– Como vê, Miranda, meu irmão, não há outro caminho. Mancando ou não, você tem mesmo é de seguir por aí. Em vez de mentir, confesse humildemente aos credores a verdade da sua situação. Em vez de trapacear, procure fazer negócios sérios. A princípio, vai ser um pouco difícil, porque o seu passado é um tanto escuro. Mas, insista no caminho reto, e será ajudado. Ponha o pé no Reino de Deus, e o acréscimo começará a aparecer. Até agora, você tem falado do que entendeu. Agora, ponha em prática o entendimento, e fale do que experimentou.
Ao sairmos da reunião, Miranda mostrava um semblante mais tranqüilo. E, em breve, se abriu conosco, num desabafo salutar:
– É verdade, amigos, tenho falado do que entendi, mas não tenho praticado. Nunca fui insincero nas minhas pregações. Mas acontece que eu ensinava os outros, e eu mesmo não aprendia. Curioso! Eu desejava o acréscimo, sem buscar o Reino! De agora em diante vou fazer o contrário. E os Espíritos me ajudarão.

O criminoso é nosso próximo, como o melhor entre os homens

Aspectos anticristãos do problema da pena de morte
– Uma lição do pastor Stanley Jones – Elisabeth de França
e sua comunicação sobre o problema dos criminosos.
As discussões sobre a pena de morte revelam a falta de compreensão cristã dos problemas humanos em nosso tempo. E essa falta é tanto mais alarmante quando vemos representantes de igrejas cristãs e de correntes espiritualistas defenderem e postularem, de público, a instituição da pena capital em nosso país. Por mais que se alegue a defesa da sociedade, da ordem, da segurança das famílias, a verdade é que o Cristianismo, quer pelo ensino, ou pelo exemplo do Cristo, não autoriza a adoção dessa medida brutal e violenta. E, caso a autorizasse, estaria em contradição consigo mesmo.
O Espiritismo, na sua feição de restabelecimento da pureza inicial dos princípios cristãos, não admite a pena de morte. Por essa atitude clara, definida, além de se manter coerente com a essência dos ensinos de Jesus, mantém-se, também, fiel a si mesmo no plano filosófico. Porque a verdade é a seguinte: quer se encare o Espiritismo no seu aspecto religioso, ou no seu aspecto filosófico ou, ainda, no científico, a doutrina se apresenta coerente, una, homogênea, baseada sempre nos sólidos alicerces dos princípios cristãos.
Admitir a pena de morte é negar a capacidade de recuperação e regeneração da criatura humana. Negar essa capacidade é admitir a falência da ação de Deus no mundo, é admitir a contradição e o absurdo no processo da vida. Para o espírita seria, ainda, negar a eficiência da lei de evolução. Entretanto, a história do mundo nos mostra que os erros humanos são corrigíveis e que os maiores criminosos são suscetíveis de regeneração. Aqui mesmo, em nosso país, não temos o exemplo de grandes cangaceiros que se transformaram em homens de bem?
Alguns espíritas, levados pelo horror de certos crimes, e sobretudo influenciados pela falsa argumentação dos defensores da pena de morte, chegam às vezes a admiti-lo. Se pensassem, porém, nos princípios fundamentais da doutrina, jamais a admitiriam. Se aceitamos que os espíritos foram criados por Deus para a perfeição, e que esta se realiza através das vicissitudes e experiências da alma, como podemos aceitar a idéia de interromper a vida de uma criatura, em nome dos interesses da sociedade? E o que é a sociedade, senão o meio formado por essas próprias experiências, o meio em que essas experiências se desenvolvem, propiciando a uns o esclarecimento e mantendo outros nas trevas da ignorância e da crueldade?
Um grande pastor protestante, Stanley Jones, ensina que devemos ver em cada criatura humana um ser pelo qual o Cristo deu a vida. Essa é uma lição realmente cristã. Se meditarmos nela, veremos o absurdo dos que pretendem tirar a vida a um criminoso, pelo qual o Cristo morreu. Mas, na pena de morte não há somente o absurdo da violência social contra o criminoso, filho e produto da própria sociedade. Há também o absurdo da oficialização do homicídio, que passa a ser uma instituição, produzindo no país uma nova e horripilante classe social: a dos funcionários do crime. Esses funcionários, como acentuou Victor Hugo, seriam os assassinos oficiais, punindo friamente, com a morte burocrática, os infelizes que, no desespero de suas paixões ou no desequilíbrio profundo de sua crueldade mórbida, praticarem crimes.
Kardec incluiu, em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XI, uma comunicação mediúnica de Elizabeth de França, que termina com estas belas palavras, ao tratar do criminoso: “O arrependimento pode comover seu coração, se pedirdes com fé. É vosso próximo, como o melhor entre os homens. Sua alma, transviada e rebelde, foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar. Ajudai-o, pois, a sair do lodaçal, e rogai por ele”. Como vemos, a lei do amor transparece em cada uma destas palavras, acordando-nos para o verdadeiro sentido das responsabilidades sociais em face dos criminosos.

O Mistério do Bem e do Mal
Herculano Pires

Necessidade do estudo de Kardec para discernimento doutrinário


Confusões intencionais e não-intencionais, lançadas nos meios espíritas – O problema umbandista – Mensagens de Ramatis.
Há muitas confusões, feitas intencionalmente ou não, entre o Espiritismo e numerosas formas de crendice popular, inclusive as formas de sincretismo religioso afro-brasileiro, hoje largamente difundidas. Adversários da doutrina espírita costumam fazer intencionalmente essas confusões, com o fim de afastar do Espiritismo as pessoas cultas. Por outro lado, alguns espíritas mal-orientados, que não conhecem a própria doutrina, colaboram nesse trabalho de confusão, admitindo como doutrinárias as mais estranhas manifestações mediúnicas e as mais evidentes mistificações.
Alguns leitores se mostram justamente alarmados com a larga aceitação que vêm tendo, em certos meios doutrinários, práticas de Umbanda e comunicações de Ramatis. E nos escrevem a respeito, pedindo uma palavra nossa sobre esses assuntos. Na verdade, já escrevemos numerosas crônicas tratando da necessidade de vigilância nos meios espíritas, de maior e mais seguro conhecimento dos nossos princípios, e apontando os perigos decorrentes do entusiasmo fácil, da aceitação apressada de certas inovações. Mas, para atender às solicitações, voltaremos hoje ao assunto.
Kardec dizia, como muita razão, que os adeptos demasiado entusiastas são mais perigosos para a doutrina do que os próprios adversários. Porque estes, combatendo o que não conhecem, evidenciam a própria fraqueza e contribuem para o esclarecimento do povo, enquanto os adeptos de entusiasmo fácil comprometem a causa. O que estamos vendo hoje, no meio espírita brasileiro, não é mais do que a confirmação dessa assertiva do codificador. Espíritas demasiado entusiastas estão sempre prontos a receber qualquer “nova revelação” que lhes seja oferecida e a divulgá-la sofregamente, como verdades incontestáveis. Que diferença entre o equilíbrio e a ponderação de Kardec e essa afoiteza inútil e prejudicial!
No tocante à Umbanda, já dissemos aqui, numerosas vezes, que se trata de uma forma de sincretismo religioso, ou seja, de mistura de religiões e cultos, com a qual o Espiritismo nada tem a ver. As formas de sincretismo religioso são, praticamente, as nebulosas sociais de que nascem as novas religiões. A Umbanda já superou a fase inicial de nebulosa, estando agora em plena fase de condensação. É por isso que ela de difunde com mais intensidade. Já se pode dizer que é uma nova religião, formada com elementos das crenças africanas e indígenas, misturados a crenças e formas de culto do catolicismo e do islamismo em franco desenvolvimento entre nós. O Espiritismo não participou da sua formação, embora os nossos sociólogos, em geral, exatamente por desconhecerem o Espiritismo, digam o contrário, pois confundem o mediunismo primitivo, de origem africana e indígena, com os princípios de uma doutrina moderna. Nós, espíritas, devemos respeitar na Umbanda uma religião nascente, mas não podemos admitir confusões entre as suas práticas sincréticas e as práticas espíritas.
Quando às mensagens de Ramatis, também já tivemos ocasião de declarar que se trata de mensagens mediúnicas a serem examinadas. De nossa parte, consideramo-las como mensagens confusas, dogmáticas, vazadas na linguagem típica dos espíritos pseudo-sábios, a que Kardec se refere na escala espírita de O Livro dos Espíritos. Cheias de afirmações absurdas e até mesmo contraditórias, essas mensagens revelam uma fonte que devia ser encarada com menos entusiasmo e com mais cautela pelos espíritas. Em geral, nossos confrades se entusiasmam com “as novas revelações” aparentemente contidas nas mesmas, esquecendo-se de passá-las, como aconselhava Kardec, pelo crivo da razão.
O que temos de aconselhar a todos, pelo menos a todos os que nos consultam a respeito, é mais leitura e mais estudo de Kardec, e menos atenção a espíritos que tudo sabem e a tudo respondem com tanta facilidade, usando sempre uma linguagem envolvente, em que nem todos sabem dividir a verdade do erro. “O Espiritismo”, dizia Cairbar Schutel, “é uma questão de bom-senso”. Procuremos andar de maneira sensata, na aceitação de mensagens mediúnicas.

Livro: O mistério do Bem e do Mal
Herculano Pires