Pode o Espiritismo
explicar a misteriosa figura do apóstolo Paulo? A súbita conversão do fogoso
perseguidor, nas portas de Damasco, reveste-se, aparentemente, das características
do milagre. Sua atividade posterior é considerada por muitos como superior à do
próprio Cristo, na implantação do Evangelho. Chega-se a dizer que o
Cristianismo é obra de Paulo e não do Cristo. Há, também, quem veja em Paulo
uma espécie de reformador do Cristianismo, sustentando a existência de
divergências profundas entre o Evangelho e as Epístolas do apóstolo dos
gentios.
A mente humana é
cheia de escaninhos sombrios e, às vezes, se apresenta como caprichoso
labirinto. O Espiritismo é inteiramente contrário a essas teorias disparatadas.
A conversão de Paulo não se deu por acaso, nem da maneira brusca por que
costumam apresentá-la. “Tudo se encadeia no Universo”, diz O Livro dos Espíritos. Houve, também, um encadeamento de causas e
efeitos na vida de Paulo, para levá-lo ao encontro do Cristo, na Estrada de
Damasco. Os interessados no esclarecimento desse problema encontrarão amplos
esclarecimentos na obra Paulo e Estêvão,
de Emmanuel, psicografada por Chico Xavier, que acaba de ser lançada em oitava
edição, pela Livraria da Federação Espírita Brasileira.
Não se trata de um
romance, como geralmente se pensa, mas de uma biografia romanceada, de uma
reconstituição da vida de Paulo, abrangendo aspectos fundamentais da época
heróica de expansão do Cristianismo; as fontes da conversão de Paulo na sua
própria dedicação a Moisés. Emmanuel não se serve da bibliografia terrena para
essa reconstituição, mas das “tradições do mundo espiritual”. Vemos, então, que
Gamaliel, mestre de Paulo, que devia suceder o mestre no Sinédrio, foi também
um convertido. E duas figuras praticamente desconhecidas dos investigadores da
História cristã, o pregador Estêvão e sua irmã Abigail, que foi noiva do jovem
Saulo de Tarso, representam papel decisivo na preparação do seu espírito para o
encontro com o Cristo.
As lutas de Saulo,
após a conversão, são longas e dolorosas. Mas a sua inteligência poderosa e a
sua profunda sinceridade, levam-no a compreender o Cristianismo como ninguém
ainda pudera fazê-lo. Os que vêem diferenças entre Paulo e o Cristo, fazem
confusão entre as interpretações parciais da mensagem cristã, espalhadas no
mundo, e a interpretação legítima e total do apóstolo dos gentios. Paulo nada
acrescentou, nem teve a mais leve pretensão de modificar o Cristianismo. Sua
principal virtude, nas lides cristãs, é a fidelidade a Cristo, opondo-se até mesmo
aos erros judaizantes dos apóstolos que haviam convivido com o Messias.
Paulo e Estêvão é uma obra que justificaria, sozinha, a
existência e o apostolado mediúnico de Chico Xavier, na atualidade. Mas não é
livro para ser lido como romance, com interesse apenas pelos lances românticos
do enredo. É livro para ser estudado, para ser lido e meditado. Na bibliografia
mediúnica mundial talvez não exista nenhum livro de maior importância do que
esse. Os leitores que ainda não o conhecem devem aproveitar a oportunidade
desta oitava edição, que completa sessenta e cinco milheiros de exemplares,
lançados em nosso país, fora as traduções que correm o mundo.
O Mistério do Bem e do Mal
Herculano Pires
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