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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Por que Perdoar?


JOSÉ SIQUARA DA ROCHA
É comum ouvir-se dizer: - “Não perdôo!” – Ou então: “Perdôo, mas não
esqueço!”
Perdoar com restrições não é perdoar. O perdão deve ser, tem quer ser
total, pleno, sem reservas. O perdão faz bem ao psiquismo, ao físico e à alma de
quem perdoa.
Quando uma pessoa diz que perdoa mas não esquece, está guardando
mágoa e estabelecendo uma condição de sofrimento psíquico-físico e até para a
própria alma, porque esta se conserva cativa a uma vibração negativa.
Quando Pedro perguntou ao Mestre quantas vezes devia perdoar, se até
sete vezes, a resposta foi incisiva:
- “Não sete vezes mas setenta vezes sete”, querendo portanto dizer que
devemos perdoar sempre.
O perdão tem valor ético e místico para quem perdoa, porque com esse ato
ou atitude nós nos libertamos – certamente perdão de verdade, não só de
palavras, mas com sentimento, com amor! – de enorme carga negativa de ódio,
mágoa, suspeição, preconceito, contra quem quer que seja.
Quando temos um pensamento, uma atitude positiva, beneficiamos a nós
mesmos em primeiro lugar. Quando pensamos ou agimos contrariamente, já
prejudicamos inicialmente a nós mesmos, porque já sofremos a ação inicial da
nossa própria vibração negativa.
Quando perdoamos de verdade estamos nos beneficiando, mesmo que
não nos tenha sido solicitado esse perdão, porque aliviados daquela carga
terrível, o que não importa dizer que quem foi perdoado passe de imediato a uma
situação de beatitude, de isenção de culpa. O perdoado não recai de imediato em
estado de pureza.
O perdão, como diz Hermínio C. Miranda em “Cristianismo – a mensagem
esquecida”, p. 145, “não nos repõe em estado de pureza instantânea por um
passe de mágica ou graça divina; ele apenas – e já é muito – nos coloca de novo
na trilha e diz: - ‘Agora você vai e repare o mal que praticou’.

E diz ainda: “O corolário do perdão não é pois a beatificação súbita da
alma, que fica pronta para ir para o céu, é a oportunidade renovada para o
trabalho retificador”.
(Grifo nosso)
O perdoado pode não ter solicitado esse perdão, e a sua culpa continua...
se houver.
Quando, porém, ele se conscientiza do erro, pelo remorso ou pela
conclusão simples e lógica de que errou, pelo reconhecimento do erro, sente a
necessidade de repará-lo. Então aí vai enfrentar a tarefa da reparação, vai ao
trabalho da retificação que lhe exigirá providências saneadoras na pratica do bem,
do amor. Haverá o domínio do egoísmo, do orgulho e a expressão da humildade
sem humilhação, numa demonstração de equilíbrio interior. Em última análise,
portanto, nós em verdade não perdoamos o erro, a falta de alguém. Ninguém tem
essa condição de perdoar. Quando dizemos perdoar e em verdade perdoamos,
apenas, como ficou dito, nos libertamos de uma carga negativa de ódio, de
mágoa, de preconceitos ou suspeição.
Sabemos que, em face da sua justiça ser infinita, nem Deus perdoa no
sentido como entendemos o perdão. Ele simplesmente, em face de sua infinita
misericórdia, nos dá as oportunidades necessárias para que, com a reparação
devida, perdoemos a nós mesmos.
Cada um, portanto, perdoa a si mesmo quando, no esforço constante da
renovação, da reparação, da volta ao caminho direcional para a Verdade, para o
Amor, atinge a meta da reposição, de retificação para o seu reequilíbrio, para a
rearmonização com a Lei do Amor, desrespeitada pelo seu negativo agir.
Na consideração dos atributos da Divindade Criadora, vamos nos fixar na
sua infinita Justiça. Segundo a concepção dos homens, a justiça é cega e por isso
a representam de olhos vendados, para que ela não se deixe influenciar e seja
inflexível no seu julgar. Essa é a justiça dos homens, que é incapaz de procurar,
de conhecer a Verdade para então exarar o seu julgamento, a sua sentença. E
por isso mesmo são do conhecimento de todos nós as injustiças sem conta,
cometidas em nome da Justiça.
Com a divina justiça não acontece assim; ela não tem uma venda nos olhos
mas, na sua onipresença e na sua oniconsciência, tudo conhece, tudo vê, tudo
sabe. É então absolutamente imparcial, não condenando nem perdoando.
No uso do seu livre-arbítrio e da sua relativa liberdade, os Espíritos
cumprem ou não as divinas leis e, neste último caso, como culpados, têm de
arrostar as conseqüências, chegar à conscientização de seu erro e, de motopróprio,
tentar o equilíbrio, a rearmonização, procurando desfazer, compensar,
zerar o seu débito. Desaparecida a causa, cessa o efeito totalmente.
A justiça infinita de Deus aí não interfere, mas se faz presente a sua infinita
misericórdia, segundo a qual o Espírito culposo, em erro, tem todas as
oportunidades para essa volta às origens.
Volta às origens sim, porque sendo todos filhos de Deus, têm de exibir a
sua origem divina, e esse foi o grande empenho de Jesus na sua caminhada entre
nós.
Por isso é que a Lei que regula as nossas ações, atendendo à infinita
justiça do Pai, a Lei de Causa e Efeito não é boa nem má. Ela “anota” os
procedimentos de cada um e a sua ação acompanha a todos os Espíritos, que
são levados mais cedo ou mais tarde à senda da ordem, do equilíbrio, após os
desatinos cometidos no uso do seu livre-arbítrio.
A reparação, devendo ser completa, é no entanto freqüentemente atenuada
em face da misericórdia do Pai, atendendo às modificações operadas no sentir e
no agir de cada um.
A Lei de Causa e Efeito não funciona, portanto, como a Lei de Talião, do
dente por dente, olho por olho.
A conscientização do erro, o desejo e o propósito de emenda e reparação,
a prece, a prática da caridade na vivência do Amor, são condições capazes de
atenuar, como ficou dito, o cumprimento rigoroso da Lei.
Como diz ainda Hermínio Miranda, “as leis atuam independentemente da
nossa vontade ou crença na sua eficácia, e o perdão está implícito no
cumprimento das leis divinas”.

É preciso então estarmos inclinados ao perdão, lembrando sempre as
palavras de Jesus: “Quando te baterem numa face, mostra-lhes também a outra.
Quando te obrigarem a caminhar mil passos, anda também, com eles dois mil.
Quando te tornarem a capa, entrega-lhes também a camisa. Não resistais ao
mal!”

Vale lembrar ainda as palavras da segunda parte da oração ensinada pelo
Mestre aos seus discípulos, conhecida como a “Oração Dominical” ou “Pai
Nosso”: - “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos (...)” Se em
verdade não aprendemos a perdoar, como seremos perdoados?!
A imensa maioria dos que se dizem cristãos repete essas palavras sem a
necessária consciência do que está a dizer, da sua gravidade.
Deus, portanto, como ficou dito, não perdoa. Nós é que deveremos
entender que perdoamos a nós mesmos, quando nos conscientizamos de nossas
culpas e as reparamos com a prática, a vivência do Amor.

Ele também não castiga por que, Amor Infinito, não quer que qualquer das
suas criaturas sofra. Nós castigamos a nós mesmos quando descumprimos as
Suas divinas leis. .

Revista o Reformador Maio de 1999

Pão da Vida *


O mar da Galiléia é um lago de expressiva proporção, que a
generosidade do rio Jordão espalhou na imensa fenda abaixo do nível do
Mediterrâneo com pouco mais de duzentos metros.
Antigamente era muito piscoso. Nas suas margens floresciam aldeias e
cidades que se tornaram famosas, e se beneficiavam do seu clima agradável.
Em volta, as suas terras aráveis produziam legumes e frutas; ali pastavam
os animais e as vinhas eram exuberantes.
Ao tempo de Jesus, suas águas chegaram a receber milhares de pequenas
embarcações.
Também chamado de Tiberíades ou lago de Genesaré, foi cenário de
momentos culminantes na história do Cristianismo.
Em sua orla espraiavam-se as cidades de Cafarnaum, Betsaida,
Tiberíades, Magdala, Dalmanuta...
Em uma montanha próxima Ele entoou o Canto de libertação das criaturas,
em inolvidável sermão; pelas suas praias Ele caminhou curando, consolando,
apontando rumos.
Suas gentes simples – os galileus – normalmente, pescadores e
agricultores, conviveram com Ele, acompanharam-nO, foram por Ele amadas e O
amaram a seu modo, dentro dos seus limites.
A revolução que Ele pretendia não era percebida pela massa, que tinha
fome de justiça, de verdade, mas sempre mais de pães e de peixes...
Do outro lado, acima das escarpas rochosas, erguia-se a decápole – parte
das dez cidades gregas erigidas antes, e então decadentes, com exceção de
Gadara, que se celebrizaria em razão do obsesso que Ele curara.
Jesus amava aquela região, aquele povo, onde mais se demorou após
iniciar a Sua vida pública, quando os Seus O rejeitaram...
Incapazes de penetrar no conteúdo profundo da Sua mensagem, seguiam
o Mensageiro dominados por interesses imediatistas.
Ambicionavam o reino dos Céus, porém, viviam na Terra, sofriam-lhe as
injunções e carências, padeciam desconforto.
Ele representava-lhes o Libertador. Suas palavras os sensibilizavam, porém
as Suas ações os deslumbravam e os atraíam cada vez mais.
Já não eram alguns que O seguiam, e sim verdadeiras multidões com suas
chagas, agitações e problemas.
Com essa volumosa massa, Ele atravessou o mar e foi ensinar na outra
margem do alto de um monte.
Ali, percebendo a fome daqueles que O acompanhavam nutriu-os com
pães e peixes fartamente, deixando-os felizes, porque de estômagos satisfeitos.
Logo após volveu em silêncio a Cafarnaum com os doze.
Os acompanhantes, atendidos nas necessidades imediatas, não
perceberam a Sua ausência, porque, naqueles momentos, não mais
necessitavam dEle.
Só no dia seguinte perceberam que Ele se fora.
Outra vez, sentindo carência, volveram a Cafarnaum a busca-lO algo
contrafeitos, por não O terem em mãos para o socorro contínuo aos seus
caprichos.
Quando O encontraram, interrogaram-nO com uma quase exigência de
justificação por tê-los deixado:
- Rabi, quando chegaste aqui?
Não se tratava de zelo, de cuidado pelo Amigo, mas de reprimenda, de
cobrança indireta.
O Mestre fitou-os, compungido, e respondeu-lhes com severidade:
- ...Procurais-me, porque comestes dos pães e ficastes saciados.
Fez uma pausa e prosseguiu:
- Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida
eterna, e que o filho do Homem vos dará...
De um para o outro dia haviam alterado o comportamento.
Viram os enfermos recuperarem-se ao influxo do Seu poder; alimentaramse
em excesso; beneficiaram-se da Sua presença. No entanto, à hora da decisão
de se transformarem para melhor, de se permitirem permear pela Sua palavra,
apelavam para os textos antigos convenientes, que permitiam fugir das novas
responsabilidades, indagando sobre novos sinais, recordando Moisés no deserto,
o maná que descera do Céu...
Não se davam conta de que tudo provinha de Deus, e que eles haviam
comido, às vesperas, um alimento da mesma procedência, que lhes dava vida,
porém que saciava só por breve prazo.
O mundo, as criaturas desejam refestelar-se na abundância de fora, no
desperdício, e não se recordam, nessas horas, da escassez e dos outros
esfaimados, esquecidos, em sofrimentos.
Desejam pão e prazer, conforto e ociosidade.
Cansam-se, quando os têm e fogem para a insatisfação, a revolta, a perda
de objetivos da vida.
Sucede que a duração do corpo é sempre muito breve, a dos seus
adereços menor, e a das suas imposições mais rápida... Por isso, a vida real,
aquela que permanece sobre as cinzas das ilusões vencidas, é a do ser imortal.
Jesus veio demonstrar a imortalidade, dar significado à existência física do
ser, não como fim, antes como meio para ser alcançada a plenificação.
Aferradas, todavia, aos sentidos grosseiros, as pessoas somente pensam
no momento em que se encontram – embora lhe percebam a fugacidade – longe
das aspirações transcendentes, as de longo, perene curso.
Aquela época difere desta pela face exterior, pelas conquistas da
inteligência, que trouxeram outros valores para serem cultivados, outras metas
para serem alcançadas. No entanto, o ser moral, o ser interior parece-se muito
com aqueles que o acompanhavam... Mesmo esses que dizem nEle crer e O
seguem.
- Eu sou o pão da vida – exclamou Jesus – o que vem a mim jamais terá
fome e o que acredita em mim jamais terá sede...
Os circunstantes, em face desta declaração robusta, sem eufemismos,
entreolharam-se, duvidaram, não sabendo o que fazer.
Enquanto se alimentavam e sorriam, a vida lhes parecia tranqüila, desde
que houvesse quem os abarrotasse, a fim de que, sem preocupação nem esforço,
pudessem banquetear-se sempre mais.
Tomar, porém, da charrua para conseguir a própria alimentação mudava
totalmente a paisagem do júbilo, que se tisnava ante as responsabilidades
surgidas.
O esforço pessoal constitui sinal de valor moral e o suor do sacrifício
umedece a massa que prepara o pão da vida, que mata a fome em definitivo.
O ser, inundado pelo ideal, tem a sua sede de luz e de paz saciada através
das conquistas valiosas das paisagens íntimas antes sob tormentas
desesperadoras.
O Mestre jamais negaceou, nunca se escusou.
Todas as suas asseverações foram claras, destituídas de disfarces ou
ocultas em símbolos complexos.
Falando a linguagem de todos os tempos, a verdade, nunca se Lhe notou
dubiedade, insegurança.
Não havia promessas vãs nos Seus discursos, nem alento para as atitudes
frívolas. Inteiriço, sempre igual na proposta, na discussão e na conclusão, a Sua
era uma linguagem lapidar, inimitável, jamais superada.
O texto do passado tem sabor de atualidade, hoje apresentado.
Compadeceu-se do caído, mas não se apiedou do erro.
Apoiou o doente, no entanto verberou pela libertação da doença.
Amparou o pecador, todavia exprobou o pecado.
Ajudou o vencido, porém conclamou-o ao soerguimento íntimo e à vitória
sobre si mesmo.
Não acusou, não condenou, nem anuiu com o crime, a devassidão, a
promiscuidade moral.
Pão da vida, Ele é saúde integral, alimento de sabor eterno.
Os galileus não poderiam, naquela época, entendê-lO.
O mesmo ocorre com os modernos fariseus que hoje O depreciam, que O
subestimam e que, presunçosos, se escondem nas catilinárias de palavras
rebuscadas em sofismas bem urdidos, em falsas ciências, para não se
transformarem moralmente, enquanto, jactanciosos, marcham para o túmulo
inexoravelmente, onde despertarão para a realidade...
Jesus é o pão da vida perene.
Aqueles que souberem alimentar-se dEle, nutrir-se-ão e viverão na paz de
consciência e na realização espiritual. .
AMÉLIA RODRIGUES
__________
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 14 de julho de 1995, em
Paramirim – Bahia.)
Revista o Reformador Maio de 1999

Mundos Transitórios


PAULO DE TARSO SÃO THIAGO
“Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que lhes
podem servir de habitação temporária, espécies de bivaques, de campos onde
descansem de uma demasiado longa erraticidade (...)” (“O Livro dos Espíritos”, de Allan
Kardec. Parte 2ª. Cap. VI Q-234)

A Astronomia e a Astrofísica, a partir sobretudo da descoberta e do
aperfeiçoamento do telescópio ótico, do radiotelescópio e do telescópio orbital,
com o apoio das hipóteses e teorias da moderna Física, têm permitido ao homem
uma visão assaz abrangente do Cosmo.
Embora um sem-número de incógnitas e interrogações permaneçam sem
solução definitiva, já são do conhecimento da Ciência os processos de formação e
evolução das estrelas, a estrutura e composição em larga escala das galáxias e
do espaço intergalático, a existência, possivelmente como regra, de sistemas
planetários, os mecanismos de produção de energia em escala universal. Seres
humanos orbitaram a Terra em satélites artificiais ou caminharam na superfície da
Lua e sondas espaciais exploraram o sistema solar, além de Plutão, enviando aos
laboratórios informações a respeito da superfície e da atmosfera dos planetas.
Um dos objetivos mais intensamente perseguidos pelos cosmologistas é a
detecção de formas de vida orgânica fora da Terra. Esforços têm sido feitos nesse
sentido, sem sucesso até o momento. Para a Ciência, portanto, até prova em
contrário, o nosso planeta é o único que detém o fenômeno da vida e a
Humanidade está só no Universo.
A lógica filosófica, contudo, rejeita este posicionamento, por considerá-lo
absurdo, em face do que se conhece da constituição do Cosmo. Se assim fora, a
vida na Terra seria o resultado de uma ocorrência, cuja probabilidade é ínfima,
num processo aleatório cego. A crença num Criador rechaça a hipótese da
aleatoriedade e nos leva a admitir um propósito em toda a dinâmica da vida na
Terra e no Universo. A esse respeito, a Ciência é carente de dados e se omite e a
Filosofia a contradiz, através da especulação e da lógica corrente.
Para sanar a contradição, recorremos então à Revelação, que trouxe novas
luzes à questão. Referimo-nos à Terceira Revelação, à Doutrina Espírita,
codificada por Allan Kardec e divulgada ao mundo, a partir de 1857, através das
obras básicas, e ampliada posteriormente, nos últimos cento e quarenta anos, por
uma vasta literatura espírita.
As questões 55 a 58 de “O Livro dos Espíritos” abordam, ainda que sem
muitos detalhes, a problemática da vida fora do nosso planeta. Em resposta à
pergunta 55 (“São habitados todos os globos que se movem no espaço?”),
formulada pelo Codificador, os Espíritos Superiores dão a seguinte resposta:
“Sim e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em
bondade e em perfeição. Entretanto, há homens que se têm por espíritos muito fortes e
que imaginam pertencer a este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais.
Orgulho e vaidade! Julgam que só para eles criou Deus o Universo”.
Resposta admirável e que inspira credibilidade, porque isenta de rodeios e
de expressões rebuscadas. É positiva e direta, não deixando espaço para
dúvidas. Afirma de forma peremptória que a vida e a inteligência não são
exclusividade da Terra, mas se espalham nos incontáveis mundos disseminados
pelo Universo infinito.
Em “A Gênese”, obra que compõe o pentateuco kardequiano, nas questões
53 a 61, do capítulo VI, que correspondem aos tópicos A Vida Universal e
Diversidade dos Mundos, tecem-se considerações mais detalhadas sobre o
assunto, reafirmando a pluralidade dos mundos habitados.
O “Evangelho segundo o Espiritismo” dedica um capítulo inteiro (cap. III) à
questão, sob o título: Há muitas moradas na casa de meu Pai, expressão retirada
do Novo Testamento, do seguinte trecho:
“Não se turbe o vosso coração. – Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas
moradas na casa de meu Pai, se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para
vos preparar o lugar. – Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar,
voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais”.
(João, 14;1-3).
As muitas moradas a que se referia Jesus são os mundos materiais que
rolam pelo espaço. Em sua diversidade, abrigam seres de variadas estruturas e
formas, todos eles em processo evolutivo incessante, e que buscam, consciente
ou inconscientemente, o aperfeiçoamento espiritual.
Na esfera dessa transcendental questão, há um tópico interessante,
curioso e pouco abordado na literatura espírita ou não-espírita. Trata-se de
Mundos transitórios, enfeixado nas questões 234 a 236 de “O Livro dos Espíritos”.
O trecho em epígrafe é parte da resposta à pergunta 234, formulada pelo
Codificador. Da análise do tópico em discussão, pode-se elaborar a seguinte
sinopse a respeito, acrescentando-se algumas conclusões racionais:
·  Os chamados mundos transitórios são orbes – planetas, satélites, algumas
categorias de estrelas – que, apesar de não albergarem seres orgânicos, por
suas condições físicas impróprias, constituem-se estações de repouso a
Espíritos errantes.
·  A Lua, por exemplo, é um forte candidato a mundo transitório, por sua completa
esterilidade, no que concerne à vida orgânica. A Terra já o teria sido, durante o
período de sua formação, conforma afirmam os Espíritos Reveladores nas
alíneas d e e, da questão 236. É possível que alguns planetas do sistema solar
também o sejam presentemente, a exemplo de Vênus e Mercúrio.
·  Os Espíritos errantes que se demoram em mundo transitórios aí permanecem
temporariamente. Embora estagiem em regime, digamos assim, de repouso
mental, porque afastados das lides reencarnatórias e dos sofrimentos e
embates impostos pela condição ordinária de erraticidade, eles podem evoluir,
principalmente na vertente intelectual, pois encontram subsídios e o campo
apropriado para o aprendizado.
·  Por serem destituídos de corpo orgânico-material, os Espíritos errantes que
“habitam” os mundos transitórios podem deixá-lo livremente, no momento que
lhes aprouver, temporária ou definitivamente. Segundo a sua condição
evolutiva, seus “vôos” podem ser maiores ou menores. Ficam restritos a
paragens próximas ou podem percorrer o espaço sideral, em visita a estrelas e
galáxias.
·  A condição de mundo transitório é temporária, sendo um estágio no processo
de transformação e evolução do orbe.
Segundo as teorias científicas mais aceitas atualmente, a Lua é um orbe
“morto”, porque já não apresenta qualquer condição de albergar vida orgânica.

Não há água, pelo menos sob forma líquida e gasosa, e nem atmosfera. No
passado, ela teria sido um astro “vivo”, e a sua morte, a resultante do processo
evolutivo natural e inexorável.
As estrelas com massa aproximadamente igual à do Sol, um pouco maior
ou menor, seguem um caminho evolutivo que as conduz, em seu estágio final, ao
que os astrônomos chamam de anãs brancas. São astros densos, quentes e de
baixa luminosidade. Por terem consumido todo o combustível nuclear,
responsável pela produção de energia, sofreram colapso gravitacional, reduzindose
a 1% do seu raio original. A aceleração da gravidade à sua superfície é muito
elevada e a pressão atmosférica, imensa.
As estrelas de nêutrons são o estágio final de estrelas de massa três a
quatro vezes superior à do Sol. Ao se esgotar o combustível nuclear, elas sofrem
colapso gravitacional, reduzindo seu diâmetro a poucos quilômetros e atingindo
densidades em torno a 10 elevada a 14a. potência de g/cm3, ou seja, cem trilhões
de vezes maior do que a da água destilada. Seu núcleo é composto
principalmente de nêutrons, partículas que normalmente fazem parte do núcleo
atômico. A força de gravidade na superfície de uma estrela de nêutrons é tão
intensa que um ser humano seria literalmente esmagado. Nenhum ser vivo
poderia portanto sobreviver a semelhante condição.
Estrelas suficientemente maciças, de massa várias vezes maior que a do
Sol, podem ter um destino ainda mais extraordinário que as estrelas de nêutrons.
Ao sofrerem colapso gravitacional, devido ao esgotamento do combustível
nuclear, a pressão atinge patamares inimagináveis, determinando reversão no
sentido do movimento da matéria. Há então brusca expansão, à semelhança de
uma enorme explosão. Grande quantidade de energia é produzida. Elas se
tornam extraordinariamente luminosas e são conhecidas pela curiosa
denominação de supernovas. Por ocasião da explosão, uma parte da matéria que
as constitui é lançada no espaço e a porção remanescente, que ainda é
considerável, passa a se contrair incessantemente, atingindo uma densidade
superior à das estrelas de nêutrons. A gravidade em sua superfície é de tal ordem
que dela nem mesmo a luz é capaz de escapar. Esses objetos são conhecidos
como buracos negros, por que são invisíveis à observação ótica. Os astrônomos
suspeitam que a maioria das galáxias contém em seu centro um tal objeto. A
Física moderna define um buraco negro como “uma região do espaço-tempo
intensamente curva que consiste numa singularidade cercada por um horizonte de
eventos”.
Anãs brancas, estrelas de nêutrons e buracos negros são fortes candidatos
a mundos transitórios.
Os Espíritos desencarnados são destituídos de corpo material e por isso
não sofrem ação da gravidade e nem são susceptíveis à pressão atmosférica ou a
quaisquer outros fatores de ordem física.
A título de esclarecimento e para que não restem dúvidas na mente do
leitor, a condição de erraticidade é o estado em que se encontram os Espíritos
desencarnados, nos intervalos entre as existências corporais. Significa isto que os
Espíritos errantes ainda não atingiram uma posição evolutiva que lhes permita
dispensar o processo encarnatório.
Deus, em Sua infinita sabedoria, planejou o Universo e instituiu leis, de
forma que nada seja ou se torne inútil. As coisas e os seres transformam-se
continuamente, seguindo o seu destino. Porém, não há nenhum momento ou
estágio nesse processo de transformação que não tenha o seu nicho ou sua
função. Tudo contribui de alguma maneira para o concerto universal.
Revista O Reformador fevereiro de 1999

Fraternidade


JUVANIR BORGES DE SOUZA
A Mensagem do Cristo de Deus dirigida às Humanidades, que se
sucedem e se renovam, é um apelo permanente à fraternidade entre todos os
homens – irmãos, amigos, ou inimigos.
“Amai-vos uns aos outros”; “Ama ao próximo como a ti mesmo”; “Ama ao
teu inimigo”; “Faça aos outros o que gostarias que te fizessem” – são fórmulas
com fulcro no amor, no entendimento, na compreensão, na fraternidade,
ensinadas e repetidas sucessivamente nos Evangelhos.
O Consolador, prometido e enviado pelo Mestre Incomparável, que já se
encontra entre os homens, reproduz e enfatiza os mesmos ensinamentos,
procurando despertar as almas para as fontes do Bem que todas possuem em
desenvolvimento ou em gérmen.
As vidas que se sucedem, para a ascensão contínua de cada ser espiritual,
são repetidas oportunidades que a Providência Divina oferece para o aprendizado
do amor fraterno entre as criaturas.
Aqueles que já despertaram e reconheceram a necessidade da vivência do
“maior dos mandamentos”- o amor a Deus e ao próximo – tornam-se não somente
os praticantes, mas também os auxiliares da obra divina da implantação da
fraternidade legítima entre os homens.
A tarefa que compete a cada ser realizar em si mesmo resume-se em
expandir seus conhecimentos e aprender a amar, exercitando esse sentimento,
que se desdobra em múltiplas formas no relacionamento com o Criador, com os
semelhantes e com a Natureza.
Todo o esforço, todo o trabalho do Espírito, ligado à matéria ou em estado
livre, constitui o carreiro da evolução, no qual o ser desenvolve a sabedoria e o
senso do Amor e da justiça, que resumem toda a Lei.
A fraternidade é decorrência natural da prática dessa Lei universal.
Dentre os homens, aqueles que, impelidos por idéias, religiões e filosofias
reconhecem o Ser Supremo e suas leis, constróem uma consciência esclarecida
pelo sentimento de amor e justiça. Suas vidas tornam-se exemplos de
fraternidade, de solidariedade e de serviço ao próximo.
O Consolador, a Doutrina dos Espíritos, é um manancial permanente onde
os aprendizes das verdades eternas aperfeiçoam seus conhecimentos e sua
consciência, reeducam-se, renovam-se intimamente, compreendem o porquê da
vida, das desigualdades, do sofrimento, da morte e das transformações.
Na medida em que o adepto espírita aplica sua vontade e determinação em
vivência dos princípios morais e espirituais que abraçou, ele se eleva, domina as
paixões e vicissitudes, que identifica em sua personalidade, renova-se, evolui,
identifica-se com sua verdadeira natureza que, mesmo em conjunção com a
matéria, é essencialmente espiritual.
Na trilha do Cristo e de seus ensinamentos, os trabalhadores da Nova
Revelação, especialmente os que constituíram a falange do Espírito da Verdade e
os que, nos dias atuais, apoiam e incentivam a propagação do Espiritismo no
mundo, dão ênfase especial à necessidade da fraternidade no relacionamento
entre seus seguidores.
Todos os que chegam às fileiras do Consolador despertam de um estado
de consciência anterior influenciado por religiões dogmáticas, ou por filosofias
limitativas, ou pelo materialismo incongruente, ou por uma indiferença
comprometedora quanto ao próprio destino.
Na realidade, são influências de determinado estado de ignorância em que
se encontra o Espírito, cerceando seu desenvolvimento e melhor compreensão de
sua própria natureza e destino.
Esse estágio de ignorância não é um mal em si mesmo, mas uma condição
transitória, superável pelo advento de novos conhecimentos e pela aceitação de
realidades que se tornam patentes.
A evolução é feita pela substituição contínua de conhecimentos e
sentimentos por outros superiores, concordantes coma lei divina.
Uma Doutrina Superior, como a dos Espíritos, em consonância com as
verdades e realidades, isenta dos prejuízos das paixões e interesses humanos,
porque tem origem divina, auxilia de forma decisiva o progresso daqueles que a
aceitam e a praticam com sinceridade.
Ela vem em socorro de todos os que estão à procura de um novo estágio
evolutivo, saturados e inconformados com dogmas impróprios, superados pelas
luzes dos novos conhecimentos.
É o Consolador prometido por Jesus, para repor as coisas nos seus
devidos lugares, retificando entendimentos e interpretações e trazendo novas
idéias, informações e experiências para os homens.
Aceitando a Nova Revelação o homem sente-se como que liberto de liames
de um longo passado de ignorância e de insatisfação. Reconhece ter chegado a
um novo estágio evolutivo, em um terreno favorável ao desenvolvimento de ideais
que o encaminham para o Alto, com a segurança que as leis divinas proporcionam
aos que as praticam.
Nesse despertar para a luz, as reações de cada ser variam de
conformidade com os próprios valores individuais.
Há os que se sentem felizes e libertos, transformando suas vidas e
dominando as vicissitudes e os óbices com vontade e determinação. Tornam-se
servidores conscientes, espíritas sinceros, trabalhadores dedicados da Grande
Causa, nas mais variadas atividades a que se dedicam: oradores, escritores,
dirigentes, médiuns, evangelizadores, obreiros da assistência espiritual e material.
Outros esforçam-se por se modificarem, conscientes de que precisam
dominar ora o egoísmo, ora a vaidade, ora o personalismo que identificam em
suas individualidades. Travam luta interior consigo mesmos, das quais nem
sempre saem vencedores imediatamente. Em todo caso, a lei natural e a Doutrina
Consoladora oferecem tempo indeterminado para a reforma interior, aguardando
que os esforços de cada um produzam seus efeitos, nesta ou noutra vida.
Há, também, os que se entusiasmam com os princípios edificantes, que
lhes descortinam uma nova realidade, nesta e na vida futura, mas que temem
romper com suas antigas concepções religiosas ou filosóficas, dominados que
são por preconceitos arraigados.
Perdem a oportunidade preciosa que lhe oferece o conhecimento espírita
de uma renovação consciente e proveitosa, preferindo o comodismo a que se
afeiçoaram por séculos.
As ilusões, as miragens e as quimeras próprias de um mundo material de
expiações e provas, como o nosso, exercem poderosa influência sobre as almas,
mesmo sobre as que já vislumbram novos horizontes. Daí a dificuldade da
divulgação das idéias novas superiores e da sua vivência pelos que as aceitam.

Muitos não têm ainda a capacidade de entender e absorver as verdades da
Nova Revelação. Suas inteligências se comprazem no que aprenderam antes, em
conceitos e preconceitos seculares cristalizados de tal forma em seus
entendimentos que se torna inviável removê-los pela razão e pela evidência de
um valor novo. Nesses casos há que se confiar na Providência Divina, que tem
muitos meios para fazer chegar a essas almas as verdades superiores: a dor,
novas reencarnações, novos meios de reeducação, reencontro com novas
oportunidades.
*
Compete a nós, espíritas, que nos sentimos beneficiados pelo
conhecimento da Nova Luz, antes de tudo vivenciar os seus ensinos. Mas
cumpre-nos também levar essa luz aos nossos semelhantes, companheiros de
jornada de diferentes condições individuais.
Divulgar a Doutrina Espírita é, pois, nosso dever, como forma de praticar a
caridade moral do esclarecimento.
Mas é preciso não confundir o dever moral do esclarecimento e da
exemplificação com as imposições, o fanatismo, o desrespeito à pessoa humana,
grandes erros em que incorrem, ainda hoje, fanáticos de diferentes denominações
religiosas.
O Espiritismo é doutrina de amor e de compreensão. Não podemos forçar o
entendimento de quem não tem condições de aceitar seus princípios, como, por
exemplo, a lei das reencarnações, a lei de causa e efeito, a distinção entre Deus,
o Criador de todas as coisas, e Jesus, o Cristo, seu enviado, questões que,
entendidas espontaneamente, conduzem ao sólido terreno de todo o acervo
doutrinário.
Não podemos esquecer que, ao lado do amor ao próximo, como regra de
comportamento, estão também o dever de respeito à liberdade da pessoa
humana, que não devemos violar, sob pena de repetir erros do passado.
O sentimento de fraternidade para com os nossos semelhantes quaisquer
sejam suas condições individuais, conduz-nos com segurança à prática do que
preconiza a Doutrina Espírita, aos seus princípios morais.
É a vivência dos ensinos de Jesus resumidos no grande mandamento do
amor ao próximo como a si mesmo, que não exclui ninguém, nem mesmo os
inimigos.
A fraternidade liga entre si todos os seres, e nesse aspecto, confunde-se
com a solidariedade, já que todos os Espíritos são criaturas do mesmo Criador,
têm o mesmo destino e são regidos pelas mesmas leis.
Não é por outro motivo que os Espíritos Superiores, a serviço do Cristo,
exortam continuamente ao Movimento Espírita, vale dizer a todos os que se unem
sob a égide do Consolador, a cultivarem a fraternidade, a se entenderem como
irmãos.
Como assinala Emmanuel (“O Consolador”, item 349 – FEB), a fraternidade
é a lei da assistência mútua e da solidariedade comum, sem a qual todo
progresso, no planeta, seria praticamente impossível.
Bezerra de Menezes, o incansável trabalhador das hostes espiritistas,
inconfundível batalhador da união fraternal de todos os espíritas, por ocasião da
inauguração da primeira construção da sede da Federação em Brasília,
conclamava a todos à fraternidade, nestes termos:

“Estamos enchendo a nossa Casa com o espírito de amor e com a luz do Espírito
Redivivo, para albergar no seio generoso da fraternidade os que virão depois de nós,
sedentos de luz, necessitados de paz”. (Médium Divaldo P. Franco – REFORMADOR de
junho de 1967 – grifos nossos).
E o Espírito da Verdade, em “O Evangelho segundo o Espiritismo” - Os
Obreiros do Senhor -, assim convoca os trabalhadores dedicados à obra
grandiosa de transformação da Humanidade:
“Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar,
encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: ”Vinde a mim, vós que sois bons
servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias,
a fim de que daí não viesse dano para a obra!” Mas, ai daqueles que, por efeito das suas
dissensões, houverem retardado a hora da colheita (...)”. (Grifos nossos)
O desafio que os espíritas, “os trabalhadores da última hora”, que têm os
esclarecimentos e os conhecimentos mais belos e generosos que vieram à Terra,
têm diante de si mesmos é o de assimilá-los e pô-los em prática em seu
Movimento.Revista O Reformador Fevereiro de 1999

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Allan Kardec e as Classificações


JOSÉ JORGE
Allan Kardec esclarece, em “O Livro dos Espíritos” (questão 100, 2º
parágrafo), que “qualquer classificação exige método, análise e conhecimento
aprofundado do assunto” e todas essas qualidades nós as constatamos no
Codificador, quando ele trata, panoramicamente, da Doutrina Espírita.
Assim, encontramos em Allan Kardec as mais diversas Classificações,
necessárias a uma visão global do Espiritismo sob os seguintes aspectos:
-  Comunicações,
-  Reuniões,
-  Espíritos,
-  Mundos,
-  Médiuns e
-  Espíritas.
Das Comunicações (“O Livro dos Médiuns”, nº 133):
Grosseiras, Frívolas, Sérias e Instrutivas.
Das Reuniões (“O Livro dos Médiuns, nº 324):
Frívolas, Experimentais e Instrutivas.
Dos Espíritos (“O Livro dos Espíritos”, questões 100 a 113):
-  Escala Espírita, em dez classes e três ordens.
Dos Mundos (“O Evangelho segundo o Espiritismo” – Cap. III, nº 3 a 5 e
8):
-  Primitivos, Expiação e Provas, Regeneração, Ditosos e Celestes ou
Divinos.
Dos Médiuns – Cerca de 80 variedades, em “O Livro dos Médiuns”.
(Consulta: “Ilustrações Doutrinárias” – 1º volume – Edição do C. E. Léon
Denis – Rio de Janeiro – 1997, págs. 67 a 80).
Dos Espíritas –
Foi aí que Allan Kardec se esmerou, pois, em todas as suas obras, ele
não se esqueceu de lembrar as várias classes de adeptos do Espiritismo e quais
as qualidades do lídimo espiritista.
A seguir, citaremos os devidos passos, onde ele a esse assunto se
refere:
Em “O Livro dos Espíritos” – Conclusão VII, primeiro parágrafo (1857).
Em “O que é o Espiritismo”- Cap. I, 3º Diálogo, Parte Final (1859).
Em “O Livro dos Médiuns”- Do Método, nº 28 (1861).
Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”- Cap. XVII, nº 4 (1864).
Em “O Céu e o Inferno”- O Passamento, nº 14 (1865).
Em “A Gênese”- Cap. XVIII, nº 18 (1868)
Em “Obras Póstumas”- 2ª Parte, Ensino Espírita (1890).
REFORMADOR EDIÇÃO INTERNET
REFORMADOR 16
Sem dúvida alguma, a mais séria das classificações se encontra em “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”- Cap. XVIII, nº 4:
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação
moral e pelos esforços que emprega para domar suas
inclinações más”.
É que, conforme o Codificador declara em “O Livro dos Espíritos”-
Conclusão V:
“Por meio do Espiritismo, a Humanidade tem que entrar numa
nova fase, a do progresso moral que lhe é conseqüência
inevitável.” .

Revista O Reformador junho de 1999

Caridade Ocasional


GERALDO GOULART
É praxe comentar-se, nas reuniões públicas ocorridas em dezembro, nas
Casas Espíritas, que, a despeito do forte apelo comercial que envolve as
festividades natalinas e, mesmo que o 25 de dezembro não venha a ser o dia
efetivo do nascimento do Senhor na Terra, o Natal congrega pessoas, renova
sentimentos, enseja a anunciação de novos roteiros na vida e induz as criaturas
à prática de uma caridade da qual se mantiveram afastadas durante o ano. Isso
porque a Humanidade se permite contagiar pelas vibrações do que se
convencionou chamar como sendo a “data máxima da Cristandade”. Assim,
dezembro é um mês de muitas cores e luzes, de troca de presentes e
mensagens, de sorrisos e abraços fraternos.
Alguns expositores e dirigentes espíritas lembram, com proficiência, às
suas assembléias, que o “espírito natalino” deve ser constante, a cada dia, já
que em todos os dias é patente o Amor e a Presença do Cristo em nós. E que —
dizem mais — a fome, a necessidade, a aflição e o abandono são presenças
diárias e quase permanentes no dia-a-dia de algumas pessoas, tais como: a
população carente de rua, os menores de idade e os idosos asilados (e exilados
do carinho familiar), os internos em colônias prisionais e de tratamento de
doenças infecto-contagiosas. Isso faz parte do mundo real!
Não obstante as preciosas advertências, que todos os fins de ano
ouvimos repetidas, constata--se, ainda assim, grande afluxo de recursos e
pessoas dispostas a ajudar apenas em dezembro. Algumas Instituições que
movimentam mantimentos para auxílio às famílias carentes em suas
comunidades e que, ao longo do ano, mensalmente renovam pedidos de alguns
quilos de mantimentos para fechar a Campanha, vêem-se com armários
abarrotados naquele mês. Outras, com atividade de manutenção de crianças
pobres, nesse mesmo mês são visitadas por pessoas que lhes despejam
dezenas de brinquedos por criança mantida. Nesse universo de Casas
identificamos algumas que mantêm uma distribuição mensal ou quinzenal de
sopa à população de rua. E que acontece? Em dezembro, inevitável, triplica o
número das pessoas que saem naquelas caravanas da Caridade. Mas, dois
terços compostos de presenças eventuais que trazem, consigo, roupas novas,
presentes devidamente embrulhados em papéis multicoloridos, brinquedos, etc.
Seria de louvar-se, se não fossem ocasionais...
Cabe aqui uma pergunta impertinente: qual “espírito” patrocina essa motivação,
o natalino ou o do décimo-terceiro? Se fosse o primeiro, é evidente que
ela, a motivação, não se restringiria a dezembro. Seria repetida em janeiro,
fevereiro, março... refazendo o Natal a cada mês, como exortado pelas mensagens
espíritas. Se for o segundo, é razoável que, no mínimo, promovamos
“campanhas natalinas mensais” para lembrar àquelas consciências que ficam
anestesiadas ao longo do ano, uma vez que a Caridade não possui data fixa no
calendário como os demais eventos: Férias, Carnaval, Outono, Páscoa, Inverno,
Festas Juninas e Primavera, Independência, Proclamação da República, Verão,
Natal, Ano-Novo.
Acostumados que estamos às comemorações anuais, que tal facearmos
cada dia como um Novo Ano em que nos compromissemos a promover o Bem
ao próximo? Se doarmos, num dia um quilo de qualquer gênero alimentício, no
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outro, um calçado; no terceiro, uma peça de roupa; no quarto, a palavra de
reconforto e esperança, ou um abraço impregnado de fé; no quinto, um afago a
uma criança, um doente, um idoso... e assim por diante, deixaremos de ser
“caridosos de ocasião” para converter-nos em plantonistas da Caridade diária.


Revista O Reformador dezembro de 1999

União dos Espíritos


Neste momento grave de transformações da sociedade, qual é o nosso
contributo? O Senhor já veio ter conosco! Quando nos resolveremos a ir em
definitivo para o encontro com o Senhor? Até hoje a sua voz chega-nos de
quebrada em quebrada, conclamando-nos ao encontro com a verdade.
...E, calcetas temos sido. Detemo-nos na retaguarda, apoiados a
bengalas desculpistas, procurando as soluções da ilusão e da mentira, tentando
evadir-nos da responsabilidade.
Com Allan Kardec, não temos outra alternativa, senão apoiar a razão no
amor e deixar que o raciocínio frio se aqueça com o sentimento de amor
profundo, para que a sabedoria se nos instale na existência transitória do corpo
ou no Espírito eterno.
Meus filhos, Jesus conta conosco tanto quanto temos contado com Ele.
Ontem Ele nos ofereceu o testemunho da Sua vida e não nos pede agora o
holocausto de sangue nas garras das feras, nas estreitas arenas dos circos
romanos. Mas, inevitavelmente, aquele que O encontrou terá que enfrentar as
feras íntimas, capitaneadas pelo egoísmo, esse terrível adversário da evolução,
e os seus famanazes descendentes, que são os impedimentos ao processo de
integração.
As feras já não estarão fora. Deverão ser domadas no mundo íntimo. É
provável que não sejamos compreendidos, nem o propósito é este.
Aqueles que receberam na Terra o prêmio, o troféu, o aplauso, já estão
condecorados. Mas aqueles que passaram incompreendidos e foram fiéis até o
fim, esses encontrarão a plenitude, a felicidade. Este é o passo avançado para
que se dê a unificação dos espíritas, depois da união dos espíritos. E a
divulgação será mais pelos atos do que pelas palavras.
O mundo está cansado de oradores flamívomos e arrebatados, mas
carente de pessoas que vivam a lição que pretendem transmitir. Falamos tanto
de amor! Amemos porém aqueles que nos hostilizam; não esperemos que todos
estejam de acordo conosco. Compreendamos aqueles que no não
compreendem e nos tornam a marcha mais difícil, todavia mais gloriosa.
Não nos preocupemos, porque o Senhor da Seara está vigilante. Ele
cuida do grão que cai sobre a pedra e da ave do céu que o vai comer, mas
também do grão generoso que o solo ubérrimo recebe e devolve em mil grãos
para cada um.
Segui, encorajai-vos, espíritas, amando cada vez mais e alegrando-nos
porque ainda estamos nos dias heróicos do testemunho, e quando as
dificuldades são intestinas, quando as lições mais próximas e dilaceradoras de
nossos sentimentos têm o significado mais profundo. Em dias próximos
passados, também nós experimentamos acrimônia, acusação, agressão e amor;
porque a harmonia do todo é resultado da integração de suas partes.
Conhecemos a difícil estrada da unificação e é por isso que suplicamos
ao Senhor, depois de nos haver enviado o vaso escolhido para que pudesse
receber as vozes dos céus e legá-las para todas as épocas, nos ensejasse
estes dias de heroísmo e abnegação.
Não vos aflijais. Sede fiéis até o fim. Meio século significa um marco
expressivo, mas o Mestre nos espera desde antes que nós fôssemos, e há dois
mil anos diretamente vela por nós, mandando-nos Seus embaixadores, para que
despertemos para a vida.
Filhos da alma: amai, servi, passai adiante. O defensor da nossa honra é
Jesus. O servo que se justifica e que se defende perante o mundo, certamente
não confia no Senhor, que o contratou para a Sua seara. Avançai, semeai luz,
ponde estrelas na noite. Enxugai o pranto que verte volumoso dos olhos do
mundo, cicatrizai feridas e sede, em todo e qualquer instante, o amigo dos que
não têm amigos na Terra e o irmão dos desafortunados de caminho.
Em nome dos Espíritos-espíritas, levemos a nossa mensagem de solidariedade
e de amor.
Na condição de servidor humílimo e paternal de sempre,
BEZERRA
(Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, na
Sessão de Encerramento do 1º Congresso Espírita Brasileiro, em 3-10-99.)Revista Reformador de 1999/Dezembro

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

“Se alguém me Servir, meu Pai o Honrará”


Rodolfo Calligaris
“Em verdade, em verdade vos digo: se grão de trigo que cai na terra não morrer, ficará só;
mas, se ele morrer, produzirá muito fruto.
Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna.
Se alguém me quiser servir, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo.
Se alguém me servir, meu Pai o honrará”.
(João, 12:24-26.)
Há que se distinguirem no homem duas coisas bem diferentes: a individualidade e a personalidade.
Individualidade é a centelha emanada de Deus, cujo destino é evoluir do átomo ao infinito.
Personalidade é o conjunto de elementos psicossomáticos que caracterizam a pessoa, ou cada uma das encarnações da centelha espiritual.
A individualidade permanece para todo o sempre, é imortal; a personalidade dura apenas a existência corpórea, do nascimento à morte.
A personalidade é, por assim dizer, apenas um capítulo da história do ser; a individualidade é a obra em elaboração, à qual se vão acrescentando sempre novos capítulos. Em cada permanência na Terra, cumpre-nos adquirir as experiências que ela pode ensejar ao desenvolvimento de nosso Espírito, preparando-nos pouco a pouco para a escalada a planos a vez mais altanados.
Lamentavelmente, apesar de quase todos dizermos espiritualistas e apregoarmos nossa fé na vida eterna, poucos nos conduzimos de conformidade com tais convicções.
O que vemos, por toda a parte, é um desinteresse generalizado pelas questões espirituais e um apego total, absoluto, às coisas materiais. É uma negligência completa pelo que diz respeito ­à edificação da individualidade, enquanto tudo se sacrifica ao comprazimento da personalidade. ­
Ao invés de envidarmos sérios esforços no sentido de «sermos» hoje um pouco melhores que fomos ontem, pois que desse desenvolvimento espiritual é que há de resultar a nossa felicidade no dia de amanhã, cuidamos apenas “ter” mais dinheiro, mais fama, mais prestigio social, esquecendo-nos de que estas coisas, gratas à nossa personalidade, não constituem ­patrimônio efetivamente nosso, não nos acompanharão além da sepultura e, pois, de nada valerão na esfera da espiritualidade.
Por afeiçoar-nos em demasia à “vida neste mundo”, que passa, célere, para encerrar-se melancolicamente sob sete palmos de chão, deixamos ­de cultivar as virtudes cristãs, tesouro que a traça não corrói, o ladrão não rouba e a ferrugem não desgasta» — única moeda capaz de assegurar-nos o ingresso nas regiões ditosas do Mundo Maior.
Como diz o texto evangélico em tela, se o grão de trigo não morrer, isto é, não se desfizer da camada cortical que encerra o embrião, não germinará e conseqüentemente não poderá multiplicar-se.
Semelhantemente, para que nossa individualidade logre repontar, crescer e produzir maravilhosos frutos de altruísmo, mister se faz seja rompida a casca grossa do personalismo egoísta que a envolve.
Para consegui-lo, um só meio existe: seguir o exemplo do Mestre incomparável, entregando-nos a uma vivência de abnegação, exercitando-nos nas tarefas de auxílio ao próximo.
Amando e servindo nossos irmãos em humanidade, estaremos amando e servindo ao Cristo, pois, conforme sua afirmação, cada vez que assistimos a um desses “pequeninos” é a ele próprio que o fazemos.
Quem se ache empenhado nesse trabalho, continue, persevere. Embora o mundo o ignore ou não lhe reconheça os méritos, no devido tempo “o Pai celestial o honrará”.
(Revista Reformador de março de 1966)

Justiça Humana e Justiça Divina


Rodolfo Calligaris
O capítulo II da Constituição Brasileira, que trata “dos direitos e das garantias individuais”, em seu art. 141, § 30 e 31, consagra dois princípios altamente humanitários, que vale a pena analisar e comparar com dois dogmas fundamentais das igrejas ditas cristãs.
Reza o citado § 30: “Nenhuma pena passará da pessoa do delinqüente.”
Isto quer dizer que no Brasil, como de resto em todos os países civilizados do mundo, qualquer pena (punição que o Estado impõe ao delinqüente ou contraventor, por motivo de crime ou contravenção que tenha cometido, com a finalidade de exemplá-lo e evitar a prática de novas infrações) só poderá recair sobre o culpado, não podendo, em hipótese alguma, alcançar outra(s) pessoa(s).
Exemplifiquemos: se um indivíduo cometer um crime, pelo qual seja sentenciado a uns tantos anos de prisão celular, mas venha a escapulir, sem que as autoridades policiais consigam apanhá-lo, ou faleça antes de haver cumprido toda a pena, não pode o Estado trancafiar um seu parente (filho, neto, etc.) para que cumpra ou resgate o final do castigo imposto a ele, criminoso.
Aliás, se o fizesse, passaria a si mesmo um atestado de despotismo e provocaria os mais veementes protestos, pois repugna às consciências esclarecidas admitir que “o inocente pague pelo pecador”.
Essa noção de intransferibilidade de méritos e deméritos, já a tinham os profetas do Velho Testamento. O cap. 18 de Ezequiel, v. g., versa exclusivamente esse ponto. Ali se diz que se um homem for bom e obrar conforme a equidade e a justiça, mas venha a ter algum filho ladrão, que derrame sangue ou cometa outras faltas abomináveis, este terá que arcar com as conseqüências de seus delitos, de nada lhe valendo as boas qualidades paternas.
Da mesma sorte, se um homem não guardar os preceitos divinos, se for um grande pecador, mas o filho “não fizer coisas semelhantes às que ele obrou”, não responderá pelos desacertos do pai. E conclui (v. 20):
“A alma que pecar, essa morrerá: o filho não carregará com a iniqüidade do pai, e o pai não carregará com a iniqüidade do filho; a justiça do justo será sobre ele, e a impiedade do ímpio será sobre ele.”
Claríssimo, pois não?
No entanto, tomando por base uma alegoria do Gênesis (cap. 3), cuja interpretação foge ao objetivo deste trabalho, — a Teologia engendrou e vem sustentando, através dos séculos, o dogma do “pecado original”, segundo o qual todos os homens, gerações pós gerações, inclusive aqueles que virão a nascer daqui a séculos ou milênios, são atingidos inexoravelmente por uma falta que não é sua!
Ora, mesmo que a referida alegoria bíblica (tentação de Eva e queda do homem) fosse um fato histórico, real, que culpa teríamos nós outros, da desobediência praticada por “nossos primeiros pais” num passado cuja ancianidade remonta à noite dos tempos?
Se a responsabilidade pessoal é princípio aceito universalmente; se nenhum Código Penal do mundo admite que se puna alguém por um crime praticado por seus ancestrais; como poderia Deus castigar-nos por algo de que não fomos participantes, ou melhor, que teria ocorrido quando nem sequer existíamos?
Não é possível!
Se Deus nos criasse, mesmo, com esse estigma, expondo-nos, conseqüentemente, às muitas misérias da alma e do corpo, por causa do erro de outrem, então a Justiça Divina seria menos perfeita que a justiça humana, posto que esta, como vimos, não permite tal aberração.
Como é óbvio, o Criador hão pode deixar de ser soberanamente justo e bom, pois sem esses atributos não seria Deus. E como o dogma do “pecado original” não se coaduna com a Bondade e a Justiça Divinas, não há como fugir à conclusão, de que é falso e insustentável, sendo cada um responsável apenas pelos seus próprios atos, e não pelos deslizes de’ seus avoengos, ainda que eles se chamem Adão e Eva...
(Revista Reformador de abril de 1965)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Livre-Arbítrio, Determinismo e Fatalismo

JUVANIR BORGES DE SOUZA

Ao tratar das leis morais, que abrangem tanto a vida do Espírito no
corpo quanto no estado livre, “O Livro dos Espíritos” lança luz sobre uma das
mais tormentosas questões filosóficas de todos os tempos.
Realmente, as mais antigas filosofias, assim como as religiões
tradicionais do Oriente e do Ocidente sempre encontraram dificuldades na
formulação de suas doutrinas, no que concerne ao entendimento da maneira de
agir do homem.
A liberdade, esse bem precioso de que goza o homem, pode ser tomada em seu sentido absoluto?
Mas, as circunstâncias da vida não estão a demonstrar que, em inúmeros
casos, parece imperar não a liberdade individual de decidir, mas um fatalismo evidente, inamovível?
O certo é que as escolas filosóficas e religiosas se perderam e se
confundiram em seus conceitos.
Era necessária a vinda do Consolador para esclarecer aparentes
contradições da lei natural, que deve ser entendida como um todo homogênio,
perfeito, só perceptível pelo homem quando conhecidas suas partes
componentes tais como as vidas sucessivas, o princípio da responsabilidade, a
destinação do Espírito imortal, a evolução dos seres e as demais leis morais.
A individualidade, criada simples e ignorante, goza do livre-arbítrio
desde sua criação. Mas sua liberdade encontra limitações na sua própria
ignorância das leis da vida.
A expansão de sua liberdade e da sua consciência vai ocorrendo
paulatinamente, na medida em que vai progredindo em conhecimento e em
aquisições morais.
Desse princípio resulta que o ser será tanto mais livre quanto mais sábio,
mais moralizado, mais evoluído.
Os mais brutalizados são também os mais sujeitos ao cativeiro da
ignorância.
A liberdade do homem é, pois, limitada pela sua própria condição, sendo
que “no pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois não há como
pôr-lhe peias. Pode-se-lhe deter o vôo, porém, não aniquilá-lo”, (“O Livro dos
Espíritos”, q. 833).
Há que se entender, entretanto, que a liberdade de pensar é limitada pelo
maior ou menor conhecimento e moralidade de cada ser.
Da liberdade de pensamento e de consciência resulta a liberdade de agir.
O livre-arbítrio, dom natural da alma desde sua criação, vai-se
expandindo com a evolução anímica.
No estado de encarnado é evidente que a matéria exerce influência sobre
o Espírito, mas essa influência não é absoluta. A responsabilidade final é
sempre do Espírito, esteja ele livre ou sob a influência material.
As inclinações para todas as modalidades de crimes e transgressões é,
pois, da alma e não do corpo, é manifestação da vontade individual, mesmo que
sob influência de outrem.
Esse esclarecimento da Doutrina Espírita contraria frontalmente a teoria
lombrosiana do criminoso nato, pelos característicos físicos de seu organismo,
hoje felizmente abandonada pelas modernas teorias criminais.
Há que se considerar ainda, em mundos materiais atrasados como o
nosso, as diversas aberrações das faculdades normais do homem, tais como a
loucura, as obsessões, o uso de drogas diversas, a embriaguez, os
constrangimentos como a escravidão e outros.
Aquele que se acha turbado por uma causa que influi poderosamente
sobre sua vontade, evidentemente que já não goza de plena liberdade de
decidir.
Mas a lei divina, justa e abrangente, distinguirá cada situação, suas
causas, os compromissos abraçados anteriormente, as circunstâncias
ocorrentes, para que nunca haja injustiças.
É comum, por exemplo, lançar-se a criatura ao uso de drogas e
entorpecentes, para que se encoraje na prática de crimes e transgressões
morais. A turbação da inteligência e dos sentidos não tira a responsabilidade de
quem assim procede, cuja decisão foi anterior ao uso das drogas.
Outras situações peculiares são a da loucura, ou a da fascinação, em que
o Espírito está subjugado, sem noção clara do que pratica. Essas circunstâncias
merecem tratamento diferenciado na lei divina para a determinação da
responsabilidade.
No estado de selvageria, como no estado de infância, há que se
considerar a liberdade de agir com o instinto, que acompanha o Espírito como
conquista anterior ao seu estado atual.
A lei natural considera as necessidades, a inteligência e o instinto na
determinação das responsabilidades, em cada hipótese.
A posição do indivíduo no meio social, as exigências da civilização, as
imposições das legislações humanas são outros fatores que influem sobre a
liberdade de agir do ser humano.
Em compensação, a lei divina, na sua amplitude e sabedoria, leva em
conta todas as circunstâncias ocorrentes e ainda o esforço individual para se
ajustar a ela.
O homem forja, pelo livre-arbítrio, os efeitos das causas que ele mesmo
prepara.
Ele tem liberdade para escolher o caminho do bem ou as realizações do
mal.
No imo de sua consciência ele sabe distinguir o bem e o mal.
Por isso, sua liberdade de escolha acarreta-lhe a responsabilidade das
conseqüências.
Esse princípio, que o Espiritismo tornou claro, além de profundamente
justo, derroga inúmeros ensinamentos equivocados das religiões tradicionais e
dogmáticas, mostrando-nos a justiça, a grandeza e a beleza das leis de Deus, a
Inteligência Suprema, o Criador de todas as coisas.
Em suma, o livre-arbítrio, dom divino do Criador, permite ao ser
consciente e responsável edificar seu destino, escolhendo os caminhos de sua
ascensão, até que, conhecendo a Verdade, estará integrado nela e liberto das
inferioridades.
Nas leis divinas, o livre-arbítrio conjuga-se harmoniosamente com o
determinismo.
Num e noutro sobrepões-se a lei do Amor para todo o Universo.
O Amor Soberano é, pois, determinismo universal, abrangendo toda a
criação.
Todas as leis morais que a Doutrina Espírita resume na Parte Terceira de
“O Livro dos Espíritos” são determinismos da Providência Divina.
Tornando-se cada vez mais livre à medida que mais evolui, é lógico
deduzir-se que nos primeiros estágios de evolução, quando o Espírito ainda é
atrasado, mau ou ignorante, predomina aí o determinismo em sua existência.
Todavia, torna-se necessário distinguir a subordinação da criatura no que
concerne ao mundo físico, aos fatos materiais, ao cumprimento de provas,
conservando-se livre no que diz respeito ao moral e às influências espirituais. No
campo moral predomina a liberdade de escolha.
O determinismo divino é sempre o Bem. O mal é oriundo das ações
humanas e dos Espíritos que contrariam essa lei.
A harmonização consiste no retorno à normalidade do Bem, através das
retificações dos desvios, que denominamos resgates.
Animais e homens em grau extremo de atraso, de selvageria, são seres
que, na Terra, agem sob o império do instinto, e, consequentemente, do
determinismo, diante da carência de liberdade.
O determinismo aparentemente inexplicável de certas expiações e
resgates na vida corporal – doenças incuráveis, deformidades genéticas,
paralisias cerebrais, síndrome de Down, cegueira, surdez congênita e outros
males que atingem milhões de seres – torna-se perfeitamente compreensível
quando conjugado com o livre-arbítrio do próprio Espírito que escolheu o resgate
doloroso, embora extremamente útil para ele, antes da reencarnação.
Aí temos exemplo claro de que se torna impraticável o entendimento do
determinismo e do livre-arbítrio sem o conhecimento de outros aspectos das leis
divinas, como a doutrina das vidas sucessivas, os dispositivos da lei de causa e
efeito, a lei do progresso, a lei de liberdade com responsabilidade.
No vasto campo de experiências e de provações da Terra, seus
habitantes estão sujeitos a erros, por mais inteligentes e evoluídos que sejam. O
importante, para cada um, é a corrigenda, tão logo se dê conta do desvio. O
procedimento daquele que erra, voluntária ou involuntariamente, enquadra-se
nas regas do determinismo divino e do determinismo humano.
A vida na Terra é transitória, embora repetida pela reencarnação. Ela
termina pelo fenômeno da transição, a que denominamos morte.
A morte não representa o fim do ser, mas apenas do corpo.
A morte do corpo é, pois, um determinismo da lei, que tem um momento
para acontecer.
Esse momento pode ser antecipado pela vontade do ser (uso de sua
liberdade), através do suicídio direto ou indireto.
Em casos especiais, quando há interesse e proveito para o próprio
Espírito, a lei permite a modificação do momento do retorno, sob medida que
escapa ao nosso atual entendimento. São as prorrogações da vida carnal.
Há, na vida de todos que habitam este orbe, fatos e acontecimentos
predeterminados que não podem ser evitados.
Antes da reencarnação o próprio Espírito optou por eles, em seu proveito
e usando de seu livre-arbítrio. É o determinismo conjugado à liberdade de
escolha.
Entretanto, o fatalismo absoluto, segundo o qual o homem não pode nada
mudar, sendo simples autômato, é que é mera ilusão, sem fundamento na lei
natural.
Não se pode, pois, confundir determinismo com fatalismo.
A liberdade individual é perfeitamente conciliável com a predeterminação
de acontecimentos futuros, com ou sem a cooperação do próprio ser.
Certas doutrinas religiosas, sem fundamentação na realidade, favorecem
a crença na fatalidade, no “tudo está escrito”, na espera dos acontecimentos. É
erro grave que o Espiritismo previne e retifica com as revelações novas.
Predestinação absoluta baseada em causa sobrenatural na fixação do
destino, bem assim a doutrina da graça divina em favor de determinadas almas
escolhidas são criações do homem que o reduzem a autômatos e rebaixam a
idéia do Deus infinitamente bom e justo. .

Reformador julho de 1999

As enfermidades espirituais

 Marta Antunes Moura

As enfermidades espirituais produzem  distúrbios ou lesões no corpo físico decorrentes de desarmonias
psíquicas originadas das condições pessoais do enfermo, da influência de entidade espiritual, ou por ação conjunta de ambos.
Podem ser consideradas como de baixa, média ou de alta gravidade.
As de baixa gravidade, mais fáceis de serem controladas, costumam surgir em momentos específicos
da vida, quando a pessoa passa por algum tipo de dificuldade: perdas afetivas ou materiais; doenças
físicas; insucesso profissional, entre outras. São situações em que as emoções afloram impetuosamente,
gerando diferentes tipos de somatizações: ansiedade, angústia, dores musculares, enxaqueca, distúrbios
na digestão (náuseas, cólicas, azia, má absorção alimentar etc.). Ocorrem
distúrbios do sono, da atenção e do controle emocional. Nessa situação, a prece representa um poderoso
instrumento de auxílio, pois eleva o padrão vibratório do necessitado.
A mudança vibratória permite que a assistência dos benfeitores espirituais favoreça o reajuste psíquico, emocional e físico. A pessoa recupera, então, as rédeas sobre si mesma, rompendo com as idéias
perturbadoras, próprias ou de outrem.
As doenças espirituais de média gravidade podem prolongar-se por anos a fio, mantendo-se dentro
de um mesmo padrão ou evoluindo para algo mais grave. Com o passar do tempo, podem apresentar
um quadro sintomatológico característico de um tipo específico de patologia: insônia persistente; gastrite
e ulceração gástrica; infecções microbianas repetidas; crises alérgicas costumeiras; dores musculares
penosas, formadoras de nódulos ou pontos de tensão; dificuldades respiratórias seguidas da desagradável
“falta de ar”; hipertensão; obesidade ou magreza; crises de enxaqueca prolongadas, não controláveis por
medicamentos; humor claramente afetado, oscilante entre crises de irritabilidade e impaciência incomuns
e momentos de indiferentismo e submissão emocionais; episódios depressivos repetidos seguidos
de euforia exagerada. Se não ocorre a desejável assistência espiritual em benefício do necessitado,
nessa fase da evolução da enfermidade, os doentes podem desenvolver comportamentos caracterizados,
sobretudo, por “manias” e pelo isolamento social. As idéias e os
desejos do enfermo ficam girando dentro de um círculo vicioso, conduzindo à criação de formas-
-pensamento, alimentadas pela vontade do próprio necessitado e pela dos Espíritos desencarnados, sintonizados nesta faixa de vibração.
As orientações espíritas, se aceitas e seguidas, proporcionam imenso conforto, podendo reduzir ou eliminar
o quadro geral de perturbações, sobretudo se associada às ações médicas e psicológicas. Assim, faz-se
necessário desenvolver persistente trabalho de renovação mental e comportamental da pessoa necessitada
de auxílio. A prece, o passe, a água fluidificada, o estudo do Evangelho no lar, a assistência espiritual
(atendimento e diálogo fraterno, freqüência às reuniões de explanação do Evangelho e de irradiações
espirituais), o estudo espírita, entre outros, representam instrumentos de auxílio e de renovação psíquica,
em geral disponibilizados pelas nossas Casas Espíritas.
As enfermidades espirituais, classificadas como graves, são encontradas em pessoas que revelam
perdas temporárias ou permanentes da consciência. A perda da consciência, lenta ou repentina, pode estar
associada a uma causa fisiológica (velhice) ou a uma patologia (lesões cerebrais de etiologias diversas).
Nessa situação, o enfermo vive períodos de alheamentos ou alienações mentais, alternados com outros
de lucidez. Esses períodos são particularmente difíceis, pois a pessoa passa a viver numa realidade
estranha e dolorosa, sobretudo quando o Espírito enfermo vê-se associado a outras mentes enfermas,
em processos de simbioses espirituais.
O doente requisita atendimento  médico especializado, no campo da psiquiatria. A fluidoterapia
espírita suaviza a manifestação da doença, auxiliando o tratamento médico. A assistência espiritual,
oferecida pela Casa Espírita, age como bálsamo, minorando o sofrimento dos encarnados – doente, familiares e amigos – e dos desencarnados envolvidos na problemática.
O atendimento ao perturbador espiritual nas reuniões de desobsessão, assim como as irradiações mentais
em benefício do obsessor e do obsidiado produzem resultados significativos, fundamentais ao processo
de libertação espiritual.
As enfermidades espirituais representam uma realidade, impossível de ser ignorada, sobretudo nos
tempos atuais, quando sabemos da existência de um alerta superior que nos aponta para a urgente necessidade de avaliarmos a nossa conduta moral, desenvolvendo ações e atitudes compatíveis com a Lei de Amor, Justiça e Caridade.
As enfermidades espirituais deixarão de existir, esclarecem-nos os benfeitores espirituais, quando nos
renovarmos para o bem. Nesse sentido, são oportunas as elucidações do Espírito André Luiz: “A enfermidade, como desarmonia espiritual (...) sobrevive no perispírito.
As moléstias conhecidas no mundo e outras que ainda escapam ao diagnósticohumano, por muito tempo
persistirão nas esferas torturadas da alma, conduzindo-nos ao reajuste.
A dor é o grande e abençoado remédio.
Reeduca-nos a atividade mental, reestruturando as peças de nossa instrumentação e polindo os
fulcros anímicos de que se vale a nossa inteligência para desenvolver- -se na jornada para a vida eterna.
Depois do poder de Deus, é a única força capaz de alterar o rumo de nossos pensamentos, compelindo-
-nos a indispensáveis modificações, com vistas ao Plano Divino, a nosso respeito, e de cuja execução não
poderemos fugir sem graves prejuízos para nós mesmos.”**XAVIER, Francisco Cândido. Entre a Terra e
o Céu, pelo Espírito André Luiz. 21. ed., Rio
de Janeiro: FEB, 2003, cap. 21, p. 174.

A subjugação
A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que
a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob
um verdadeiro jugo.
A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado
é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras
que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é uma
como fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais
e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente,
por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos
menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis,
simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo
nas ruas, nas portas, nas paredes.
Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais
ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo
e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido,
por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma
moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento.
Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica,
que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se
ajoelhar e beijar o chão nos lugares públicos e em presença da multidão.
Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações;
estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era,
porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a
sua vontade e com isso sofria horrivelmente.
Fonte: KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 72. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2004,
cap. XXIII, item 240, p. 309.

Revista O Reformador de junho de 2004

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

“Se alguém me Servir, meu Pai o Honrará”


Rodolfo Calligaris
“Em verdade, em verdade vos digo: se grão de trigo que cai na terra não morrer, ficará só;
mas, se ele morrer, produzirá muito fruto.
Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna.
Se alguém me quiser servir, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo.
Se alguém me servir, meu Pai o honrará”.
(João, 12:24-26.)
Há que se distinguirem no homem duas coisas bem diferentes: a individualidade e a personalidade.
Individualidade é a centelha emanada de Deus, cujo destino é evoluir do átomo ao infinito.
Personalidade é o conjunto de elementos psicossomáticos que caracterizam a pessoa, ou cada uma das encarnações da centelha espiritual.
A individualidade permanece para todo o sempre, é imortal; a personalidade dura apenas a existência corpórea, do nascimento à morte.
A personalidade é, por assim dizer, apenas um capítulo da história do ser; a individualidade é a obra em elaboração, à qual se vão acrescentando sempre novos capítulos. Em cada permanência na Terra, cumpre-nos adquirir as experiências que ela pode ensejar ao desenvolvimento de nosso Espírito, preparando-nos pouco a pouco para a escalada a planos a vez mais altanados.
Lamentavelmente, apesar de quase todos dizermos espiritualistas e apregoarmos nossa fé na vida eterna, poucos nos conduzimos de conformidade com tais convicções.
O que vemos, por toda a parte, é um desinteresse generalizado pelas questões espirituais e um apego total, absoluto, às coisas materiais. É uma negligência completa pelo que diz respeito ­à edificação da individualidade, enquanto tudo se sacrifica ao comprazimento da personalidade. ­
Ao invés de envidarmos sérios esforços no sentido de «sermos» hoje um pouco melhores que fomos ontem, pois que desse desenvolvimento espiritual é que há de resultar a nossa felicidade no dia de amanhã, cuidamos apenas “ter” mais dinheiro, mais fama, mais prestigio social, esquecendo-nos de que estas coisas, gratas à nossa personalidade, não constituem ­patrimônio efetivamente nosso, não nos acompanharão além da sepultura e, pois, de nada valerão na esfera da espiritualidade.
Por afeiçoar-nos em demasia à “vida neste mundo”, que passa, célere, para encerrar-se melancolicamente sob sete palmos de chão, deixamos ­de cultivar as virtudes cristãs, tesouro que a traça não corrói, o ladrão não rouba e a ferrugem não desgasta» — única moeda capaz de assegurar-nos o ingresso nas regiões ditosas do Mundo Maior.
Como diz o texto evangélico em tela, se o grão de trigo não morrer, isto é, não se desfizer da camada cortical que encerra o embrião, não germinará e conseqüentemente não poderá multiplicar-se.
Semelhantemente, para que nossa individualidade logre repontar, crescer e produzir maravilhosos frutos de altruísmo, mister se faz seja rompida a casca grossa do personalismo egoísta que a envolve.
Para consegui-lo, um só meio existe: seguir o exemplo do Mestre incomparável, entregando-nos a uma vivência de abnegação, exercitando-nos nas tarefas de auxílio ao próximo.
Amando e servindo nossos irmãos em humanidade, estaremos amando e servindo ao Cristo, pois, conforme sua afirmação, cada vez que assistimos a um desses “pequeninos” é a ele próprio que o fazemos.
Quem se ache empenhado nesse trabalho, continue, persevere. Embora o mundo o ignore ou não lhe reconheça os méritos, no devido tempo “o Pai celestial o honrará”.
(Revista Reformador de março de 1966)

sábado, 3 de novembro de 2012

EXERCITANDO O EVANGELHO A PORTA PARA A VIDA


Inaldo Lacerda Lima
“Entrai pela porta estreita, pois que larga é a porta e espaçoso o caminho
que levam à perdição. “ Jesus. (MATEUS, 7:13.)
Abrimos as sagradas Escrituras, desde o Gênesis ao Apocalipse, e
encontramos efetivamente um vasto repositório de profundos ensinamentos,
ameaças e advertências. Mas encontramos, também, relatos e poemas que,
sinceramente, nunca saberemos por que ali foram colocados, o que deixamos
por conta dos estudiosos e pesquisadores.
Para o professor, ex-padre e filósofo brasileiro Humberto Rohden, que
estudou profundamente a Bíblia e nos brindou com uma magnífica tradução do
texto original grego, com as variantes da Vulgata, do Novo Testamento.
Costumava ele dizer, entre amigos: o Antigo Testamento é letra morta,
ultrapassada, e guarda apenas um valor histórico indispensável ao
conhecimento e à cultura.
Assim nos falou ele, certa feita, na cidade de João Pessoa, no hotel de
Da. Rosália, em que se hospedara e onde o fomos encontrar numa roda de
religiosos e intelectuais da época. No dia anterior, 19 de julho de 1955, proferira
ele magnífica conferência na sede da Federação Espírita Paraibana. E foram as
palavras e conceitos do Prof. Rohden que nos encorajaram, então, a uma leitura
completa do Velho e do Novo Testamentos, como, ainda, a leitura de todos os
livros do já famoso filósofo.
Na continuidade de nossos estudos espíritas, fizemos a leitura meditativa
de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, das obras publicadas até agora pelo
sapiente Espírito Emmanuel, o estudo criterioso dos clássicos e a leitura sempre
repetida de “Os Quatros Evangelhos”. (Edição FEB).
Diante, portanto, de todo esse manancial maravilhoso de estudo,
pesquisas e reflexões formamos a convicção plena e inamovível de que o
Evangelho trazido a este planeta por Jesus, seu Governador e Guia, é
realmente a porta para a vida. Suas palavras são inconfundíveis e de uma
seriedade que toca o Infinito: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém
vem ao Pai senão por mim” (João, 14, v.6).
É insofismável a maneira de falar do Cristo, seja nas narrações dos
evangelistas que estiveram ao seu lado no apostolado, seja nas que nos foram
oferecidas por Lucas e Marcos. É o que nos leva a considerar perdoável a
confusão de clérigos, pastores e teólogos em considerá-lo o próprio Deus.
Já tentamos fazer comparações entre a linguagem do Cristo e tudo o
mais que se contém nas letras do Antigo Testamento. Não há comparação
possível de sua maneira de expressar-se com a de qualquer profeta da Bíblia,
nem mesmo com João Batista, “que era o maior dentre os que de mulher
fossem nascidos!...”
E o que destaca o Cristo, o que o torna diferente? A sua autoridade! que
levou Nicodemos a admirar-se tanto: “Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo
da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se
Deus não for com ele (João, 3, v.2).
Era a autoridade de Jesus que o tornava diferente, especial e, sobretudo,
respeitado e temido. Respeitado pelos simples e sofredores, temido pelos falsos
sacerdotes, fariseus e escribas.
O Cristo nos veio a mando do Pai trazer a porta para a vida àqueles que,
para isso, se colocaram em condições, procurando seguir os seus ensinos,
adaptando-se a um novo modo de ser. Sua missão não era impor, mas lançar a
semente na alma da Humanidade, e teria que aguardar que ela fecundasse e
produzisse frutos. É o que nos revela a parábola do semeador (Marcos, 4: 1-20):
somente uma pequena parte cairia em terra boa.
A sementeira é o mundo e envolve diversas épocas. No caso do
Cristianismo, já lá se vão vinte séculos, o que nos confirma que a evolução é
processo lento que se manifesta na ordem física e espiritual, requerendo no
homem aprendizagem por amadurecimento e reforma moral por experiência e
conscientização, até atingir um estado satisfatório de depuração e
aperfeiçoamento.
Consoante ilações que nos permite tirar o Espiritismo, o período de
expiações e provas parece provir de eras remotas até os nossos dias. E quando
a seara já se encontrava próxima da hora da colheita, eis que nos envia o
Espírito de Verdade ou Consolador que ele prometera.
Sabendo o plenipotenciário divino que o Espiritismo não seria aceito por
todos, mormente por aqueles que amadurecidos já se encontravam para
compreendê-lo, mas que relutariam porque presos a dogmas e princípios
inconsistentes, fez com que uma parte ¾ a semente caída em terreno bom! ¾
não por privilégio, mas por maturação psíquica, assumisse com humildade (e só
vale com humildade) a função ou papel de trabalhadores da última hora, e
franqueou-lhes a porta para a vida à luz do Evangelho. São indubitavelmente os
espíritas que alcançaram certa condição de associar à prática da Doutrina-luz a
humildade.
A porta para a vida são os ensinamentos que nos trouxe da parte do Pai
e em função dos quais foi sacrificado pelos homens que detinham o poder. O
poder dos homens, pelo qual eles se perdem, é sempre recheado de vaidade e
orgulho, atributos da alma imperfeita, que fecundam enquanto existe o egoísmo
que os desfigura e escraviza.
O período de mundo primitivo foi o mais longo da História, pois deve ter
envolvido a integração do homem na Natureza, sua preparação para a vida
social em agrupamentos instáveis, infância e adolescência.
O novo período que se seguirá a partir do final deste milênio poderá ser o
da regeneração da Humanidade nas pessoas daqueles que, aqui, num orbe em
renovação, mereçam permanecer.
O dragão, representado pela treva das paixões, da ignorância e do ódio,
deverá ser lançado no abismo por mil anos, conforme nos previne o Apocalipse
em seu capítulo XX, versículo 2. Reiniciar-se-á, então, o reinado do Evangelho,
com a herança da Terra aos bem-aventurados do Sermão da Montanha.
Eis aí, companheiros e irmãos, exercitandos do Evangelho, a porta que
está sendo adentrada pelos que aceitamos permanecer fiéis a serviço do
Senhor, na conformidade do capítulo XX de “O Evangelho segundo o
Espiritismo” a que nos temos referido bastante em outras partes deste estudo.
Atentemos nos conceitos aqui transcritos desse profético e sublimado
capítulo XX da terceira obra da Codificação. Não os comentaremos. Deixemos
isso aos cuidados de nossos leitores.
Assegura-nos o Espírito Constantino (Bordéus, 1863):
“Bons espíritas, meus bem-amados, sois todos obreiros da última hora.”
Revela-nos o Espírito Henri Heine (Paris, 1863):
“(...) e, finalmente, pelos espíritas. Estes, que por último vieram, foram
anunciados e preditos desde a aurora do advento do Messias e receberão a
mesma recompensa. Que digo? recompensa maior.”
Adverte-nos, carinhosamente, o Espírito Erasto (Paris, 1863):
“(...) novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes
superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos
Espíritos. (...)
Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo!... sois os escolhidos de Deus! Ide
e pregai a palavra divina. (...)”
“Marcha, pois, avante, falange imponente pela tua fé! Diante de ti os
grandes batalhões dos incrédulos se dissiparão (...).”
Finalmente, eis como nos fala o Espírito de Verdade (Paris, 1862):
“Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a
transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no
campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! (...)
Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões, houverem retardado a
hora da colheita, pois a tempestade virá e eles serão levados no turbilhão! “
Antes de concluirmos esta penúltima parte destas reflexões pedagógicas
em torno de uma porta para a vida superior, meditemos ainda sobre algumas
sentenças do Espírito de Verdade dirigidas aos espíritas, destacando esta que
todo trabalhador da seara conhece e sabe de cor (capítulo VI da referida obra):
“Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o
segundo.”
Mais adiante, na mensagem seguinte (Paris, 1861):
“(...) Vossas almas, porém, não estão esquecidas; e eu, o jardineiro
divino, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos.”
E, na última mensagem (Havre, 1863):
“Tomai, pois, por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegação,
e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a
humildade vos impõem.”
Dissemos que nos isentaríamos de qualquer comentário a esses
pensamentos de tão elevados emissários de Deus. Mas não podemos sopitar o
desejo de uma indagação, uma apenas:
Que é que torna tão difícil para os espíritas, em sua generalidade, a
unificação que há tanto tempo, desde Allan Kardec, o mundo maior nos
pede?
Escreve o Codificador Allan Kardec, já no final do item 4 do capítulo XVII
de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, essas palavras grifadas por ele
mesmo:
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e
pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”
Pedagogicamente, empregar esforços para domar nossas inclinações
más é não dar reforço àqueles hábitos que nos têm conduzido a fracassos
senão a quedas desastrosas no caminho de nosso progresso ou
aperfeiçoamento moral.
Para isso e nisso o Evangelho constitui realmente a porta segura de
nossa redenção. Estudá-lo em profundidade e aplicá-lo em todas as ocasiões
em que pesarem contra nós as forças impulsivas do hábito malsão, é recurso
verdadeiramente superior e infalível.
Para que o espírita seja realmente obreiro de que o Cristo de Deus deva
utilizar-se em favor de sua obra, é indispensável que se mantenha integrado no
Bem numa interação fecunda de devotamento e abnegação com os Espíritos
Superiores, conforme nos conclama o Espírito de Verdade.
Para isso, preciso é abster-se o espírita consciente de todo e qualquer
estado de mágoa ou ressentimento contra quem quer que seja, ou estará pela
própria consciência impedido de penetrar a porta que conduz à vida espiritual
superior. Não há meio termo. Se meio termo houvesse, as vozes do Céu no-lo
demonstrariam. Por sua vez, o tempo urge, ele que esteve à nossa disposição
por séculos e séculos.
Cumpre-nos agradecer a atenção que os bondosos e pacientes leitores
nos dispensaram durante a leitura desses trabalhos que, num esforço de
pesquisas e reflexões, à luz do Evangelho, inspirado nos sentimos em oferecerlhes...

DÚVIDAS


Richard Simonetti
- Se o passista não está bem joga coisa ruim sobre quem recebe o passe?
- Explicando que nossos males e dificuldades representam o pagamento de dívidas, o princípio da
reencarnação não faz a gente desistir de lutar para melhorar de vida?
- Se a Doutrina Espírita é do século passado, como podem os espíritas dizer que os discípulos de
Jesus aceitavam a reencarnação?
- Encontrarei meus familiares quando morrer?
- Japonês pode reencarnar como negro africano?
- O Mundo vai acabar em 2000?
- Há um horário certo para nos comunicarmos com nosso anjo de guarda?
- Que oração devo usar para fazer as pazes com meu namorado?
- Por que os espíritas evocam os Espíritos, contrariando a proibição de Moisés?
- Como podemos encontrar nossa alma gêmea?
- O demônio se manifesta no Centro Espírita?
- As pessoas más reencarnam como animais?
Selecionei estas perguntas dentre centenas, formuladas pelo público, no Centro Espírita, em reuniões
onde se oferece essa possibilidade.
Diga-se de passagem que esse pinga-fogo é muito oportuno. Desde que tenhamos alguém em
condições de responder, os resultados são excelentes. Há maior interesse e as pessoas podem desfazer
suas dúvidas. É mais produtivo que as palestras, onde nem sempre o expositor aborda o que realmente
interessa aos ouvintes.
Mas o que ressalta na amostragem apresentada é a pouca familiaridade com a Doutrina Espírita por
parte daqueles que comparecem às reuniões públicas.
Trata-se de algo perfeitamente compreensível.
A grande maioria é composta de adeptos de outras religiões que procuram cura para seus males e
solução para seus problemas, encaminhados por amigo ou familiar.
Comportam-se exatamente como quem vai a um hospital. Estão ali para tratamento, sem intenção de
estabelecer vínculos.
Alguns acabam por interessar-se, tornam-se assíduos, estudam a Doutrina e se integram no Centro.
Muitos seguem seu caminho, atendendo a dois fatores:
Sararam.
Afastam-se porque não precisam mais de tratamento.
Não sararam.
Afastam-se porque desejam encontrar um Centro “mais forte” ou algo semelhante.
Seguem também porque não foram suficientemente motivados. Não lhes passaram uma mensagem
atraente, esclarecedora, com conteúdo capaz de despertar e sustentar o desejo de aprender.
Há carência de expositores espíritas eficientes, mesmo porque não temos especialistas que vivam
desse trabalho.
O expositor espírita é aquele cidadão de boa vontade que faz malabarismos para participar do Centro
e ao mesmo tempo atender seus compromissos familiares e profissionais.
E há um problema adicional, que envolve companheiros mais bem dotados intelectualmente, com uma
atividade profissional que lhes exigiu o desenvolvimento de valores culturais. Não raro encasquetam de
estudar nas reuniões públicas livros da Codificação ou complementares que devem ser reservados a grupos
de estudo metodizado.
Há expositores que abordam as novidades no setor literário sobre esoterismo, psicologia, terapias
alternativas, auto-ajuda, anjo e quejando... É tudo muito interessante, mas não tem nada a ver com uma
reunião pública de Espiritismo, onde as pessoas devem receber noções elementares da Doutrina. Nelas,
freqüentadas por neófitos, gente que está chegando, que não sabe nada de Espiritismo, o ideal seria
comentar “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
REFORMADOR EDIÇÃO INTERNET
9 REFORMADOR, SETEMBRO, 1997
Ninguém aprende a ler sem conhecer o elementar - as letras do alfabeto.
“O Livro dos Espíritos” é o bê-á-bá do Espiritismo. Eu não diria a primeira leitura, porque poucas
pessoas têm familiaridade com os livros. Quem não está habituado a compulsá-los terá dificuldades. Mas, da
mesma forma que a professora não entrega o manual de alfabetização à criança iletrada ler, mas trata de
usá-lo para ensinar seus pupilos, o expositor tem nessa síntese filosófica da Doutrina todo um precioso
roteiro para seus comentários.
Isso não implica, obviamente, não recomendar a leitura de “O Livro dos Espíritos” ou outra obra básica
aos iniciantes. Mas é preciso cuidado. Segundo pesquisas, apenas 10% da população brasileira lê um livro
anualmente. Quem pouco lê terá dificuldade com os livros de Kardec. Não são compêndios impenetráveis
aos não iniciados, mas foram escritos no século passado, em linguagem que dificilmente motivará quem não
está habituado a excursionar pelo mundo encantado dos livros.
Preferível oferecer, num primeiro momento, obras mais simples, que envolvam histórias, romances,
mensagens, que facilitam a atenção. A literatura fabulosa de Chico Xavier é pródiga em livros dessa
natureza.
Quanto a “O Evangelho segundo o Espiritismo”, é aquela indispensável base moral, o remédio de que
mais carecem as pessoas, já que seus males são decorrentes do comportamento irregular, distanciado das
normas do bem viver explicitadas em suas páginas.
Muitos vêem nessa obra básica uma espécie de amuleto que deve estar sempre à mão nos
momentos difíceis, para leituras mágicas capazes de atrair a proteção divina e resolver os problemas. As
pessoas não entenderam ainda que sua magia está no roteiro que nos oferece, consagrando a moral de
Jesus como o mais legítimo recurso de renovação e de solução de nossos problemas.
O comentário das lições de Jesus, à luz de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, em reuniões
públicas, produz palestras consoladoras e atraentes, que motivam o ouvinte e o ajudam a superar suas
dúvidas.
Um recado final para os companheiros que fazem uso da palavra nas reuniões públicas:
As pessoas que comparecem em busca de cura para seus males não têm “cabeça” para fixar a
atenção por muito tempo, em face de seus problemas e perturbações.
As palestras, por isso, enfocando “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho segundo o Espiritismo”,
devem ser breves, no máximo 25 minutos, num somatório de 50 para toda a reunião, enxertando-se histórias
e fatos do dia-a-dia, que prendem a atenção e permitem ao ouvinte entender os conceitos doutrinários e
aplicá-los à própria vida.
Se desenvolvermos nosso trabalho com a eficiência de quem se prepara convenientemente, então
nossos ouvintes, que num primeiro momento procuraram um hospital no Centro Espírita, descobrirão,
encantados, que ele é uma abençoada escola de espiritualidade.

Reformador de 1997 mes de Setembro

domingo, 28 de outubro de 2012

Da Psicologia Transpessoal à Psicologia Espiritual de Joanna de Ângelis


SUELY CALDAS SCHUBERT
"(Os Espíritos) tornam inteligíveis e patentes verdades que haviam sido
ensinadas sob a forma alegórica. E, justamente com a moral, trazem-nos a
definição dos mais abstratos problemas da psicologia." Allan Kardec. ("O Livro
dos Espíritos", Conclusão VIII.)
O momento atual é, essencialmente, o das questões psicológicas, a tal
ponto que os estudiosos e pesquisadores desse atraente campo estão voltados
para um esforço conjunto de se fazer um mapeamento do psiquismo humano, do
cérebro e seus meandros e a sua fantástica potencialidade. Estuda-se a mente
desde as suas reações a partir do feto até os doentes terminais em idade
avançada ou não, e também nas experiências de quase morte (EQM). Há um
novo entendimento, uma nova visão e uma constante busca desde que tais
especialistas concluíram que existe algo mais além do cérebro.
Foi assim que no final da década de 60 surgiu a Psicologia Transpessoal,
como resultado dessas pesquisas, abrindo-se, então, perspectivas ilimitadas e
cada vez mais surpreendentes para os que se dedicam a tais estudos.
Exatamente porque começam a perceber e desvendar os domínios do Espírito
imortal.
Esse grupo de pesquisadores, liderados por Abraham Maslow, Stanislav
Grof, Roberto Assagioli, Roger Walsh e, mais recentemente, Fritjof Capra, Ken
Wilber e outros, investiga as possibilidades de manifestação e expansão da
mente, admitindo e incorporando aos seus estudos desde as práticas mais
primitivas até as mais sofisticadas que englobam fatos mediúnicos e anímicos, e
até mesmo casos de possessões espirituais, assinalados na história dos povos,
tanto no Oriente quanto no Ocidente.
Por diferentes caminhos, através da regressão de memória que a hipnose
terapêutica enseja, outros resultados são alcançados - como a comprovação da
reencarnação, por exemplo, fato que por si só revoluciona todas as teorias e
paradigmas vigentes. O campo dessas pesquisas é ilimitado.
Parafraseando o Codificador, diremos: “Ergue-se o véu” e começa-se a
desvendar os arcanos do Espírito.
A mente do homem encarnado descobre que a mente do Espírito
desencarnado subsiste e prossegue além de todas as coisas. Estas evidências,
deixadas ao longo dos milênios no rastro luminoso dos fatos mediúnicos, estão
sendo, finalmente, percebidas e admitidas pela ciência moderna.
São extraordinários os caminhos humanos e os recursos dos Espíritos
Superiores para ensejarem aos cientistas atuais essas conquistas que levarão a
Humanidade a uma nova era: a Era do Espírito.
Notável também observamos que Allan Kardec, percebendo a importância
das questões psicológicas, e que os Espíritos Superiores estavam trazendo “a
definição dos mais abstratos problemas da psicologia”, colocou como subtítulo da
Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos.
Estas considerações levam-nos a um pensamento de Calderaro, extraído
da obra de André Luiz “No Mundo Maior”: “O homem, para auxiliar o presente, é
obrigado a viver no futuro da raça”.
Esta foi sempre a realidade dos grandes vultos da Humanidade.
A Doutrina Espírita, tendo sido elaborada e transmitida pelos Espíritos da
Falange do Espírito de Verdade, é, sob este aspecto, uma Revelação, mas
simultaneamente apresenta em seus fundamentos a contribuição do homem, na
pessoa de Allan Kardec, o nobre Codificador. Assim, é um repositório de verdades
eternas, e por isso mesmo, intemporais. O Mestre lionês, correspondendo à
altura, pontifica como expressivo exemplo dos que vivem adiante do seu tempo.
Tal é a razão de os ensinamentos da Doutrina dos Espíritos chegarem até nós
como se tivessem sido transmitidos no momento atual.
A Espiritualidade Superior, atenta e pressente, não cessa de renovar as
lições imortais, acompanhando o progresso humano e mais do que isto:
motivando-o através da intuição, trazendo contribuições atualizadas e, em
especial, visando os tempos futuros, preparando o homem para uma nova era.
Nesta linha de raciocínio é imprescindível ressaltar a notável contribuição
da Mentora Espiritual Joanna de Ângelis, que através da psicografia de Divaldo
Pereira Franco tem sinalizado para a Humanidade os rumos seguros para
alcançar a paz e a felicidade.
Há dez anos ele inovou, apresentando uma proposta diferente: os temas
psicológicos. Quando em suas reencarnações de que temos conhecimento,
Joanna sempre esteve adiante do seu tempo, e, atualmente, na Espiritualidade
Superior, ela propõe ao ser humano, aturdido e sofredor, uma viagem em busca
de si mesmo contando com a segura e fiel participação de seu médium, Divaldo
Franco, através do qual ela transmite à Terra o seu pensamento de invulgar
brilhantismo e elevação.
Com sua percuciente visão espiritual, Joanna de Ângelis envereda pelos
labirintos da mente humana, estudando suas reações e potencialidades e
confrontando as conquistas mais recentes da Psicologia Transpessoal com a
diretriz espírita, a qual, apresentando o ser humano como Espírito imortal, que
antecede ao berço e prossegue além do túmulo, transcende o que até agora foi
alcançado pelos pesquisadores terrenos.
Conforme ela própria esclarece “tentamos colocar pontes entre os
mecanismos das psicologias humanista e transpessoal com a Doutrina Espírita,
que as ilumina e completa, assim cooperando de alguma forma com aqueles que
se empenham na busca interior, no autodescobrimento”.¹
__________
A Espiritualidade Superior, atenta e presente, não cessa de renovar as
lições imortais, acompanhando o progresso humano”
__________
“Plenitude”, “Momentos de Consciência”, “O Homem Integral”,
“Autodescobrimento”, “O Ser Consciente”, e o mais recente “Vida: Desafios e
Soluções", são as obras que, especificamente, apresentam a visão psicológica da
Mentora de Divaldo, sempre embasada na Doutrina e nos ensinamentos de
Jesus, a quem ela denomina de Terapeuta Superior.
Temos como sofrimento, rotina, ansiedade, medo, solidão, neuroses,
fobias, mitos, problemas sexuais, arquétipos, vícios mentais, o inconsciente, o
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despertar da consciência, a conquista de si mesmo e muitos outros, e a
conseqüente abordagem dos eminentes pesquisadores do passado e da
atualidade, desfilam nas páginas desses livros e evidenciam, de imediato, ao
leitor, no confronto com a diretriz espírita e com a própria contribuição pessoal
que ela apresenta, a superioridade destes conceitos, respostas, explicações e
caminhos.
Como de hábito, realçando o Espiritismo, ela afirma: “O Espiritismo, por sua
vez, sintetizando diversas correntes de pensamento psicológico e estudando o
homem na sua condição de Espírito eterno, apresenta a proposta de um
comportamento filosófico idealista, imortalista, auxiliando-o na equação dos seus
problemas, sem violência e com base na reencarnação, apontando-lhe os rumos
felizes que deve seguir”.²
Em verdade, o Espiritismo é o grande desconhecido.
Temos que admitir que somente um ínfima minoria teve, até agora,
conhecimento de sua existência, daí a importância dessas obras específicas de
Joanna, escritas de tal forma que o leitor não espírita tem condições de apreender
essa transcendência, seja pela argumentação lógica seja pela visão
reencarnacionista e espiritual que a tudo modifica e suplanta.
Esta notável contribuição de Joanna de Ângelis, para um amplo
entendimento dos problemas psicológicos, denota, uma vez mais, a sua
preocupação em ajudar o ser humano a despertar do sono hibernal dos milênios,
propelindo-o para cogitações superiores, motivando-o a buscar a felicidade
através da conquista de si mesmo. Tudo isto mais não é que a proposta de Santo
Agostinho, conforme a questão 919 de “O Livro dos Espíritos”, quando concita o
homem ao autoconhecimento, que a autora espiritual apresenta num discurso
atualizado e ao gosto de nossa época.
Isto é VIVER NO FUTURO DA RAÇA.
__________
1. FRANCO, Divaldo P. Autodescobrimento, pelo Espírito Joanna de Ângelis, 2ª ed.
LEAL, 1996, Salvador (BA) p.13.
2. FRANCO, Divaldo P. O Homem Integral, pelo Espírito Joanna de Ângelis; 2ª ed. LEAL,
1996, Salvador (BA) p.9.

Reformador de julho de 1998