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sábado, 25 de maio de 2013

Não Julgueis

NÃO JULGUEIS
Acaba de vir às nossas mãos um bem lançado artigo a propósito da sentença que ora nos serve de epígrafe.

Alega-se no aludido artigo que os espíritas, quando no conselho de sentença, costumam absolver sistematicamente os réus.

Ignoramos se realmente tem sido essa a norma de conduta dos espíritas no júri.
Quanto a nós, declaramos que, todas as vezes que servimos como juiz de fato, absolvemos, e disso não estamos arrependidos, por isso que entendemos, em consciência, que tais réus deviam ser absolvidos.

No entanto, não pretendemos firmar a doutrina da absolvição incondicional. Casos há em que, para evitar mal maior, seria lícito votar de modo a conservar o acusado recluso, dadas as suas condições de perigo para a segurança social.
Assim procedendo, não estaremos julgando, mas acautelando a coletividade da qual somos parte integrante.

Demais, que são os criminosos de toda a espécie senão anormais, desequilibrados, enfermos da alma, numa palavra?
Faça-se, portanto, com eles o que se faz com os doentes de moléstias infectuosas: segreguemo-los da sociedade a fim de evitar as consequências do mal.
Esta medida é razoável, é humana, não há mesmo outra a tomar, uma vez que se preste aos segregados a devida assistência reclamada pelas suas condições.

Não há direitos sem deveres. Se assiste à sociedade o direito de separar os doentes dos sãos, cumpre-lhe o dever inalienável de assisti-los convenientemente.

Não é o criminoso que se deve combater: é o crime em suas várias formas. A Medicina não combate o enfermo, mas a enfermidade, suas causas e origens.
Enquanto a questão não for encarada sob este prisma, o crime continuará a proliferar, perturbando a ordem e a paz da sociedade.

Julgar? Quem somos nós para julgar nossos irmãos, se todos somos réus no tribunal de nossas consciências? Fazê-lo em nome da sociedade?
Pois é a sociedade mesma, tal como está constituída, a responsável por grande número de crimes que em seu seio se cometem.
As piores doenças são fruto do ambiente. Quando o meio é miasmático e deletério, as enfermidades se alastram, tornando-se endêmicas.
Tal é a nossa sociedade. A recrudescência do crime é efeito da materialidade e da hipocrisia reinantes no século. A higiene social seria o melhor antídoto contra o vício e o crime.

O Código pelo qual se regem as nações, ditas civilizadas, precisa ser reformado: e sê-lo-á fatalmente. Inspirado no Direito Romano, o Código cogita exclusivamente da aplicação de penas, quando devera curar da higiene da alma.

É natural que se condene ao trabalho o homem afeito à ociosidade, empregando-se processos adequados ao caso, ainda que não deixemos de reconhecer que a mesma inércia e apatia sejam, a seu turno, formas de desequilíbrio psíqui¬co.
O homem normal ama o trabalho, não pode permanecer inativo. Como a ociosidade, todos os demais vícios são, no fundo, falhas de caráter, distúrbios de ordem moral.
Para corrigi-los, duas medidas se impõem: educação individual e saneamento do ambiente.

Cadeira elétrica, forca e guilhotina não resolvem o problema em questão, como atestam as estatísticas de criminalidade dos países onde aquelas penas vigoram.
Eliminar a vida física do criminoso não lhe modifica o caráter, não lhe altera numa linha sequer o nível moral. Não é ao corpo, é ao espírito que cabe a responsabilidade pelos atos delituosos.
Despertar-lhe a consciência, elevar o grau de sua sensibilidade moral, eis o único processo eficiente no tratamento de tais enfermidades. Este processo chama-se educação.

A sociedade viverá sempre às voltas com os delinquentes, enquanto não cumprir o dever que lhe assiste de educá-los. Até aqui, a sociedade, baseando-se no parecer de criminólogos materialistas, invoca apenas o direito de punir.

Por isso ela também vai sendo punida. Há de suportar as consequências do seu erro até que emende a mão. Aliás, já os prenúncios de uma reforma se vão fazendo sentir.

Resta ainda considerar que a única pena que resulta benéfica na regeneração dos criminosos é aquela que dimana naturalmente do próprio crime. Toda penalidade imposta de fora, com caráter de vindita, é contraproducente.
Avilta o moral dos fracos e exacerba o ânimo dos fortes; produz, por conseguinte, hipócritas, cínicos e revoltados. Não regenera: corrompe. Só a educação, equilibrando os poderes do espírito, produz resultado prático, eficiente e positivo.

O código materialista deve ceder lugar ao código espiritualista.
Este não cogitará de julgar e menos ainda de aplicar esta ou aquela pena como castigo, mas tratará da educação moral, não dessa moral caricata, para uso externo, vazada em moldes ritualísticos, mas da moral evangélica, da moral positiva que se funda nas leis naturais que regem os destinos do espírito.

O Espiritismo vem ensinar à Humanidade a reger-se, não mais pelo código romano, mas pelo código divino que reflete a indefectível justiça e a soberana vontade do Céu!

Vinicius
Livro Mestre da Educação

A Parábolas das Bodas. "(...)Jesus nada escreveu porque, de certo modo, escrever é estratificar, é petrificar a palavra na letra; e a palavra do Senhor é espírito e vida. Peçamos, pois, o auxílio dos mensageiros celestiais, incumbidos de reviver o divino Verbo em sua primitiva pureza, para que esse Verbo seja compreendido e assimilado por nós; roguemos que eles nos assistam e velem por nós fazendo-nos descobrir, através da letra que mata, o espírito que vivifica".(...)

A PARÁBOLA DAS BODAS

Palestra taquigrafada na Federação Espírita do Estado de São Paulo, em 4 de fevereiro de 1945.

Meus prezados Amigos e ouvintes. Graças ao Senhor, aqui estamos, reiniciando as nossas palestras domingueiras, (Vinícius foi o introdutor das Tertúlias Evangélicas, no horário dominical de 10:00 horas, que ainda hoje se"realizam na Federação Espírita do Estado de São Paulo),
as quais, como bem o sabeis, versam sempre sobre a palavra de Nosso Mestre, revivida em espírito e verdade.

Jesus nada escreveu porque, de certo modo, escrever é estratificar, é petrificar a palavra na letra; e a palavra do Senhor é espírito e vida. Peçamos, pois, o auxílio dos mensageiros celestiais, incumbidos de reviver o divino Verbo em sua primitiva pureza, para que esse Verbo seja compreendido e assimilado por nós; roguemos que eles nos assistam e velem por nós fazendo-nos descobrir, através da letra que mata, o espírito que vivifica.

Vamos comentar convosco a parábola das Bodas, notificada por dois evangelistas: Mateus e Lucas, respectivamente, nos capítulos 22 e 14. Ambos relatam a Parábola, cada um conforme os dados que coligiu, ou a impressão que teve no momento em que Jesus a proferiu. A letra tem para nós valor muito relativo. O que nos interessa é penetrar a moralidade, o ensinamento que essa semelhança encerra. É assim que os evangelistas a descrevem: "Então Jesus tomando a palavra, tornou a falar-lhes em parábolas, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho; e enviou os servos a chamar os convidados para as bodas; mas eles não quiseram vir.
Depois enviou novamente seus emissários, dizendo: Ide e dizei aos convidados que tenho o meu jantar preparado; os bois e os cevados estão mortos, e tudo já disposto para a festa. Porém, eles não fazendo caso, foram, uns para o seu campo, outros para o seu negócio. Muitos ultrajaram e maltrataram os servos, dando mesmo a morte a alguns deles. E o rei, tendo notícia do que se passara, encolerizou-se e, enviando os seus exércitos, exterminou aqueles homicidas e as suas cidades. Em seguida, falou de novo aos servos: As bodas, em realidade, estão preparadas, mas os convidados não se mostraram dignos. Ide, agora, às saídas dos caminhos, e convidai para o banquete a todos que encontrardes. E os servos, saindo, ajuntaram os que foram encontrando — coxos, cegos, aleijados e pobres; tanto bons como maus.
E assim ficou cheio o salão nupcial. Então o rei entrou para inspecionar os convivas, vendo entre eles um que não vestia a túnica nupcial. Chegando-se a ele, disse-lhe: Amigo, como entraste aqui sem as vestes nupciais? E ele emudeceu. Disse, então, o rei aos servos: Atai-o de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos". (Mateus 22 e Lucas 14).

Esta parábola, como, aliás, todos os ensinamentos do Mestre contidos no Evangelho, só pode ser entendida mediante a assistência dos Espíritos de Luz, incumbidos, como já dissemos, de reviver a santa palavra do Cristo de Deus. E, particularemnte, esta parábola, só será devidamente compreendida em nossos arraiais, isto é, dentro da esfera da Terceira Revelação. Não porque sejamos privilegiados; pois nas Leis Divinas não há privilégios; estes colidem com a Justiça, e a Justiça preside a todas as Leis que regem os nossos destinos. Se dizemos que esta parábola só pode ser interpretada em nosso setor, é porque os demais credos rejeitam a ação do plano espiritual, encastelando-se dentro dos seus dogmas, impedindo, dessarte, que a luz das revelações penetre seus entendimentos e seus corações, impossibilitando os nossos irmãos maiores, que sabem mais do que nós, de cumprirem sua tarefa no sentido de nos impelirem para a frente, na senda da evolução.

Para penetrarmos na moralidade desta singela historieta, devemos começar transportando tudo que nela se encontra, do plano material para o espiritual. Trata-se de uma festa promovida pelo rei para solenizar o himeneu de seu filho. Ora, é sabido que, simbolicamente, Jesus se apresenta como esposo ou noivo, e a sua igreja (comunhão de crentes) como esposa ou noiva. Os Evangelhos reportam-se a essa figura em vários capítulos. Pois — meus Amigos — o que está em jogo, são, realmente, os esponsais do Cordeiro de Deus. Tal consórcio se verifica mediante a comunhão da Igreja de Cristo militante na Terra com a sua Igreja triunfante, sediada nas esferas celestiais. Esse consórcio se dá em virtude e cumprimento da promessa seguinte: Eu vos enviarei o Espírito da Verdade, o Consolador, o Parácleto, para que permaneça convosco e vos revele novos conhecimentos à medida que puderdes comportá-los; e, ainda mais, para que vos lembre e rememore as minhas palavras.

Para que a promessa supracitada se concretize no plano terreno, opera-se a comunhão entre nós, encarnados, e os Espíritos do Senhor que são encarregados de nos trazerem novas revelações, prosseguindo, assim, a obra de nossa redenção, que é obra de educação. A palavra que os mensageiros divinos nos trazem é viva. Entretanto em comunhão conosco difundem a sua vida em nossa vida, o que importa na fusão da Igreja de Cristo que encontra nas paragens celestiais com a sua Igreja terrena, representada pelos que aqui se encontram em luta com os defeitos e imperfeições ainda não vencidos e domados. Essa a verdadeira Eucaristia, porque a Eucaristia de Amor. Mediante esse banquete espiritual é que nós recebemos o pão da Vida que nutre o Espírito. São os mensageiros ou servos do Senhor que nos trazem o pão que vem do céu para nutrimento das nossas almas. O Espírito precisa alimentar-se como sucede com o corpo.

Se é certo que o nosso físico definha por falta de alimento adequado à sua natureza, também a nossa alma fraqueja e sucumbe às tentações se não for convenientemente sustentada com o pão celeste. O rei, promotor do banquete, enviou seus servos, em primeiro lugar, às pessoas gradas, chamando-as para as bodas. Dirão, talvez, mas não há referências a pessoas gradas na semelhança? Notemos, no entanto, que se trata de um festim real, e, nesse caso, o convite deve ser dirigido à elite social. É natural que seja assim. Ademais, vemos no decorrer dos acontecimentos desenrolados no banquete, que, ulteriormente, o convite passou a perder o cunho primitivo, generalizando-se indistintamente, atingindo a toda classe de indivíduos. Portanto, no princípio, o convite teve, de fato, caráter selecionado. no entanto, reza a passagem, as pessoas gradas não se mostraram dignas, não se colocaram à altura da distinção de que foram alvo; antes, desdenharam, levando ao ridículo o convite real.

E, ainda fizeram mais: ultrajaram os servos, os perseguiram dando a morte a alguns deles. E, nessa atitude de hostilidade se mantiveram mesmo após a insistência com que o convite foi reiterado. Indignado, então, o rei chama os servos e lhes diz. Em verdade o banquete está preparado, o que quer dizer que os esponsais vão seguir o seu curso. A festa não pode ser suspensa nem adiada: Ide, pois, e convidai a quanto encontrardes pelas vielas, becos e escaninhos mais ínvios: coxos, cegos, aleijados, bons e maus. E, assim, o salão ficou repleto, pois essa era a vontade do rei.

Ora, o que estamos vendo em tudo isso? Parece-nos bem claro que o banquete é, de fato, a comunhão entre o céu e a Terra. Os fenômenos espíritas constituem o convite. Primeiramente foram chamados a observá-los os mais capazes, isto é, os intelectuais, os portadores de títulos e pergaminhos. Essas manifestações do além prefiguram o primeiro convite que vem sendo dirigido pela misericórdia do Pai celestial, que deseja dar provas que afetem os sentidos, que emocionem, sobre a sobrevivência do homem; provas que atestem, de modo concreto, a continuidade da vida depois da morte do corpo. Os casos de cura pelo Astral, são, positivamente muito interessantes e dignos de serem meditados.

Ainda agora, em Pindamonhangaba, fizeram uma apendicetomia em presença de pessoas insuspeitas, lavrando-se ata minuciosa do acontecimento preternatural. O paciente foi radiografado antes e depois de operado, tendo as chapas revelado o órgão enfermo e sua ablação respectiva. Este caso, que tanta celeuma tem levantado, não é virgem, não é o único. Muitos outros da mesma natureza se verificaram, aqui e acolá. O Interventor do Maranhão, tendo notícia do que se deu em Pinda, veio, pela imprensa, declarar que ele também havia sido, em tempo, operado pelos Espíritos. E não será isso um apelo dirigido aos médicos, aos que cultivam a ciência e a arte de curar? Não será um convite dizendo: Vinde observar o que se está dando no terreno da medicina? Não se trata de frioleira, mas de algo importante para o bem da humanidade sofredora.

O nosso Estádio já é pequeno para conter o avultado número de pessoas que ali vão assistir aos jogos de futebol. O caso em apreço, convenhamos, é mais importante, visto como se trata de enfermo operado por um agente espiritual, um cirurgião que habitou este mundo há muitos anos. Não será caso para atrair a atenção dos esculápios, merecendo meticulosa análise e perquirição? Mas, a grande maioria dos médicos continua negando o fato consumado com o testemunho de seus próprios colegas. Um fato é sempre um fato, ainda mesmo que não possamos explicá-lo em suas minúcias e particularidades. Por que a classe médica não aceita o convite endereçado? Por que não abre os olhos da razão para que, tendo diante de si um doente, saiba que esse enfermo é um Espírito encarnado, e não somente uma máquina? O corpo é máquina, sim, mas máquina divina, instrumento através do qual a alma realiza sua evolução.

A Autoridade Médica a quem compete zelar pelo bem e pela saúde do povo, sabedora do acontecimento, declarou a priori não dar crédito, de vez que a operação fora realizada no escuro. Tanto mais maravilhosa se torna, a nosso ver, essa intervenção, precisamente por ter sido levada a efeito no escuro. Como se explica realizar-se uma intervenção cirúrgica às escuras? A escuridão é dos homens, das suas vaidades e das suas presunções. Os Espíritos do Senhor agem em terreno sempre banhado pelas claridades divinas. Os letrados costumam fechar-se às advertências do céu tornando-se impermeáveis a tal gênero de solicitações, o que justifica plenamente as sábias palavras do Divino Mestre: Pai, graças te dou porque revelas as tuas maravilhas aos simples e pequeninos,e as escondes dos sábios e dos prudentes. Em verdade, Deus não esconde de quem quer que seja suas revelações. Ele é Pai, e todo pai tem interesse em que seus filhos participem dos bens paternos. São os homens que, na sua soberba, se tornam intangíveis às graças divinas.

Existem obras admiráveis, de arte, de filosofia, prosa e verso chegadas até nós mediante a faculdade mediúnica de Francisco Cândido Xavier; farta messe de literatura, de boa literatura, porque não se trata apenas de pirotecnia da palavra mas de literatura que fala à razão e ao coração da humanidade, enriquecem aja vultosa biblioteca espírita. Entre essas produções temos "PARNASO DE ALÉM TÚMULO" enfeixando vasta coleção de versos dos maiores poetas brasileiros e portugueses. Não será isso tudo um convite dirigido aos poetas, aos literatos e homens de letras? Mas, como os médicos, os literatos, a seu turno, salvo raras e honrosas exceções, desdenham e ridicularizam o convite, cobrindo de opróbrio os inofensivos servos que, obedecendo a seu Senhor, lhes vêm trazer a divina mensagem.
Que culpa tem o Chico Xavier de ser ocupado nesse trabalho? De servirem-se dele para proclamar, em voz alta e bom som, esta transcendente verdade: a alma é imortal! Quando o corpo tomba ao sopro da morte, a alma permanece incólume, indestrutível, imortal porque eterna! O médico continua sendo médico, o poeta sendo poeta, o literato sendo literato! Nada obstante, por ser o hífen entre os dois planos — o terreno e o sideral, Chico Xavier tem suportado humilhações e vilipêndios. Foi mesmo, há pouco tempo, chamado à barra dos tribunais através de rumoroso processo cujo eco ainda perdura e como ele, foram, em tempo, também perseguidos Ignacio Bittencourt no Rio de Janeiro e Eurípedes Barsanulfo em Sacramento, Estado de Minas. Os servos, portadores do convite, são, pois maltratados como diz a Parábola.

Provado fica, outrossim, que os componentes da elite social, os primeiros a serem convidados, não se mostraram dignos do banquete. Diante, portanto, dessa obstinação e desse pouco caso, o rei resolveu tornar o convite amplo, sem mais restrições, estendendo-o a todas as camadas. Não são mais os líderes da ciência, da filosofia, das artes e da religião, os únicos contemplados. Mistificadores, homens da má fé, macumbeiros estão em atividade, estão em cena. E o que dizem os homens decentes, que não quiseram comparecer ao banquete? Eles responsabilizam o Espiritismo pela existência dos charlatães e macumbeiros. Mas, o Espiritismo é tão responsável por isso, como a medicina é responsável pela tuberculose, pela lepra, pelo câncer e outras mazelas que flagelam a humanidade.
A medicina diagnostica aquelas enfermidades, aponta os seus perigos, procura estudar as causas que as determinam. Ora, é exatamente isso que faz o Espiritismo com relação às influências perniciosas, de caráter psíquico, atraídas pelo mau procedimento e leviandade dos homens. O Espiritismo chama a atenção dos intelectuais para a fenomenologia astral dizendo que tais fenômenos devem ser estudados cuidadosamente a fim de prevenir os distúrbios e as perturbaçães espirituais. Mas os homens da elite continuam rejeitando o convite, permanecendo encastelados em suas vaidades. Porém, a despeito disso, o banquete continua seguindo os seus trâmites. O salão está cheio, porque os convivas, como diz a Parábola, foram catados nos becos e vielas, sem atender à classe a que pertencem.
O que é preciso é que o salão fique lotado, e que todos venham a saber que o mundo espiritual influi sobre o material. Desprezada a Eucaristia de Amor, rejeitada a comunhão com os distribuidores do pão do Espírito, temos que nos ver às voltas com os fenômenos suportando seus efeitos, desde a simples atuação até a completa possessão. É preciso que seja assim. Pelo amor ou pela dor. Menosprezado o convite do amor, surge o convite da dor. A cada um será dado segundo as suas obras. Após a sala repleta, diz a passagem que o rei fez uma vistoria nos convivas, encontrando ali um que não trajava a túnica nupcial. Então interrogou-o: Amigo, como entraste aqui sem as vestes apropriadas a este ato? A túnica em apreço era indispensável e de rigoroso uso nos esponsais, sendo fornecida pelo próprio rei. O interpelado, compreendendo a culpa, emudeceu, nada alegando em sua defesa. O rei, prosseguindo, chama os servos e ordena: Atai esse homem de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.

Realmente, é o que estamos vendo na esfera do mediunismo. Quanta gente sem escrúpulos serve-se da mediunidade para explorar; quantos indivíduos sem consciência do que estão fazendo, servem-se das coisas espirituais para fins inconfessáveis? Todavia, não é para se estranhar, de vez que foram convidados os coxos, aleijados e cegos morais encontrados nos becos mais esconsos. Como, pois, não aparecer alguém despido da túnica nupcial?

Termina a Parábola, dizendo: Muito são os chamados, mas poucos os escolhidos. O convite consta de um simples apelo. Corre, à revelia nossa, como também a organização do banquete. O que ocorre por conta de cada um de nós é ser escolhido, ou ser recusado; é nos elevarmos às regiões da luz ou sermos lançados nas trevas exteriores onde há lágrimas e imprecações. Este capítulo é bastante significativo. Há muita gente atada de pés e mãos, isto é, que não sabe para onde vai nem o que está fazendo; há também os que perderam a noção das realidades da vida, e indagam como Pilatos: Que é a verdade? Tais perturbações e tais confusões recaem sobre os que blasfemam da Eucaristia de Amor, profanando os seus arcanos. Aquilo que o homem semeia isso mesmo colherá. Deus é Amor, mas é também Justiça; e a sua Justiça age concomitantemente com o seu Amor.

Repetimos: O Espiritismo não criou os Espíritos, nem a mediunidade, nem a comunhão entre os dois planos de vida — o terreno e o astral, de vez que tudo isso sempre existiu. A Terceira Revelação observa, estuda e aponta os fatos que se relacionam com os problemas espirituais; proclama a imortalidade da alma, não como simples teoria, mas como verdade incontestável porque demonstrada. Sua finalidade primordial não é curar as enfermidades do corpo, mas sim as do Espírito. Portanto, fazemos ponto dirigindo o seguinte apelo aos homens da elite: Senhores médicos: Os Espíritos não pretendem usurparmos o campo da medicina terrena. Continuai medicando os vossos doentes, estudando a causa da enfermidade, procurando, como é de vosso dever, minorar as dores físicas da humanidade.
No entanto, ousamos afirmar que, nos desempenho do vosso sagrado mister, muito mais e melhor fareis quando evoluirdes da escola materialista para a espiritualista. Os Espíritos do Senhor jamais serão vossos concorrentes. Podeis, antes, contar com o seu auxílio e com a Graça do Senhor desde que vos façais merecedores.

Senhores beletristas: Prossegui em vosso labor intelectual embelezando a palavra, acepilhando as frases, elevando sempre mais alto a magia do verbo. Os Espíritos de Luz não concorrerão convosco fazendo sombra à vossa glória e ao vosso mérito. Antes encontrareis nas regiões luminosas do Além a fonte perene das mais belas inspirações.

Senhores sacerdotes: Permanecei em vossos postos anunciando o reino dos céus; porém, ao fazê-lo, erguei os vossos olhos e elevai as vossas aspirações acima do reino da Terra. Lembrai-vos de que é preciso exemplificar, pois a geração atual já pensa, medita e julga. Anunciai o Deus de misericórdia que é também de justiça, e não os deuses particularistas que cumulam de bênçãos estes e proscrevem e condenam aqueles. Anunciai o Pai Nosso, isto é, o Pai da humildade, sem restrições nem privilégios odiosos; o Pai que coloca todos os seus filhos em perfeita igualdade de direitos e de deveres. Os Espíritos não se imiscuirão em vossa seara senão para vos despertar a razão e a consciência no que respeita à imortalidade da alma e à consequente responsabilidade que a acompanhará onde quer que ela esteja.

Vinícius

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A EUCARISTIA

A EUCARISTIA

"... Eu sou o pão vivo que desci do céu; se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. .. Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna... e permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que vive me enviou e eu também vivo pelo Pai, assim quem de mim se alimenta também viverá de mim... Isto vos escandaliza?.. . O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita: as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida..." — S. João, VI - 61 a 63.

As afirmativas acima transcritas, proferidas pelo Mestre e Senhor, causaram escândalo aos fariseus formalistas de outrora, constituindo, ainda neste século, pedra de tropeço para as várias formas vigentes de gentilidade.

Nada obstante, aquelas assertivas exprimem a maior e a mais transcendental revelação que, qual estrela de primeira grandeza, refulge no céu da espiritualidade.

O nosso corpo procede da terra, pois que resulta do alimento que ingerimos, da água que bebemos e do ar que respiramos. Tomamo-lo de empréstimo ao orbe que ora nos hospeda, e o restituiremos, quando daqui partirmos, de acordo com a sentença exarada no primeiro livro do Pentateuco: "Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris".

Toda a carne tem essa mesma origem, seja ela animal ou humana, da raça branca, preta ou amarela; da saxônica, judaica ou latina. Quanto, porém, ao Espírito, donde viemos? Como a matéria, tem a alma um só princípio, uma só gênese: Deus. Nele vivemos, nos movemos e existimos: porque dele somos geração — disse o grande apóstolo dos Gentios. Descobrir, pois, a linhagem divina em nós, cultivá-la, desenvolvê-la progressivamente — eis o alvo e o senso da Vida em sua mais sublime e excelente expressão.
Essa é a maravilhosa revelação que nos trouxe o Profeta de Nazaré. E, não só a anunciou, como a fez concreta em si própria, mostrando-nos ao vivo, através dos poderes espirituais enunciados, a divina natureza.

Filho de Deus é Jesus, e o são, a seu turno, todos os homens com a diferença que o Mestre conhece, sente e revela em sua vida a pulcra e santa estirpe, enquanto aqueles a ignoram de fato e de experiência, por isso que ainda a conservam em estado latente. Dessa ignorância resultam as dúvidas, os desatinos, a fraqueza, os erros e delitos em que os homens permanecem.
Sua conduta é dos que andam em trevas. As paixões os agitam, o egoísmo os conduz. E assim permanecerão até que comam a carne e bebam o sangue de Cristo, começando, então, a viver da vida que Ele vive, que é a vida que vem de Deus. Quem ingerir aquele alimento viverá eternamente, porquanto, vencendo a morte, não se encarcerará mais na prisão da carne.
O que nutre o corpo é o que é gerado da terra, e o que sustenta o Espírito é o que desce do céu. As necessidades do corpo se relacionam com o planeta, onde temporariamente permanecem. As do Espírito se harmonizam com o infinito, que o atrai e arrebata.

Sendo como é, uma só a fonte da Vida espiritual, que é eterna, a missão de Jesus é integrar-nos nessa fonte como Ele se acha integrado, conscientemente, percebendo, sentindo e gozando a plenitude da Vida. Quero que o meu gozo esteja em vós e o vosso gozo seja completo. Eu vim a este mundo para que tenhais vida, e vida em abundância.

Para compreendermos e assimilarmos, como discípulos, os ensinamentos do Mestre excelso, é preciso que dele nos aproximemos progressivamente, até que com Ele nos identifiquemos. Onde eu estou estará aquele que me serve. Já não sou eu mais quem vive: é Cristo que vive em mim, disse Paulo.

Da mesma sorte que se faz a transfusão de sangue para salvar o doente extenuado, prestes a sucumbir, assim também é necessário que se opere a transfusão da vida de Cristo em nós, para que possamos vencer a enfermidade moral que nos vexa, degrada e infelicita. Em verdade, em verdade vos digo que se não comerdes a carne e beberdes o sangue do Filho do homem, não tereis vida em vós. Só a vida de Cristo vertida na humanidade resolverá, de vez, todos os problemas sociais que vêm convulsionando o mundo através dos séculos, sem que até o presente encontrassem solução.

Eu sou a videira e o meu Pai é o viticultor; vós sois varas; aquele que permanece em mim, e no qual eu permaneço, dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer. É integral e perfeita a comunhão entre a videira e os sarmentos. Só assim estes frutificam, mercê da seiva que do tronco nele se transfunde. Da mesma sorte é mister que nossas relações com Cristo sejam cada vez mais íntimas e estreitas, para que possamos haurir do seu coração, escrínio insondável da graça, o amor que é a vida do Espírito, como o sangue é a vida do corpo, e a seiva é a vida da planta.

Em tal importa a Eucaristia em espírito e verdade. Simbólicas são as expressões com que Jesus no-la apresenta; todavia, na prática, não se trata de cerimônia, ritual ou símbolo, mas de realidade positiva, de potência espiritual incoercível que transformará o mundo no dia em que os homens a compreenderem, entrando em sintonização com ela.

A passagem acima comentada é a confirmação do que Jesus, mais tarde, no decurso da ceia pascal, disse aos se discípulos, com relação ao pão e ao vinho: Tomai e com este é o meu corpo, que é dado por vós. Empunhando e seguida o cálice acrescentou: Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós.

Vinícius

segunda-feira, 6 de maio de 2013

IGUALDADE "No seio das próprias religiões, cujo objetivo deveria ser unir e congraçar a família humana, apagando as causas de separação, é, infelizmente, onde mais prolifera o vírus da separatividade'(...)

IGUALDADE

A natureza, em suas manifestações eloquentes e inequívocas, ensina que todos os homens são iguais. Todos os que fazem parte da humanidade estão, de modo geral, sob o imperativo das leis que correspondem ao seu estado atual de evolução.

A necessidade de progredir e melhorar, ressarcindo o passado e aparando as arestas do caráter, explica a razão de ser da encarnação e reencarnação das almas neste orbe, onde ora nos encontramos.
A diferença entre os que aqui habitam é, exclusiva e unicamente, aquela que resulta do grau evolutivo de cada um, considerando todavia, que todos ainda se acham na dependência das aprendizagens relativas a este plano. A natureza, sujeitando os homens às mesmas necessidades e à contingência iniludível do nascimento e da morte, estabelece e assinala, de forma precisa e categórica, a igualdade humana.

O processo mediante o qual o homem surge no cenário terreno é o mesmo, não só no que respeita à sua espécie, como é, a seu turno, idêntico àquele que vigora em todo o reino animal. Os fenômenos fisiológicos que precedem e sucedem à encarnação são um só, envolvendo todos os seres desta esfera.
Concepção, período gestatório, nascimento e desenvolvimento, através da nutrição e assimilação. Seguem-se os trâmites naturais que se desenrolam do berço ao túmulo, obedecendo ao critério desa sentença de Kardec: Nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredindo sempre: tal é a lei.
Nada obstante, verifica-se na sociedade terrena o uso inveterado das seleções e dos privilégios, dividindo-se essa sociedade em classes, grupos e partidos, dentro dos quais surgem indivíduos que, à força de artifícios e paródias, pretendem, em vão, sobrepor-se às conjunturas a que se acham submetidos todos os mortais.
O prurido de supremacia e de exceções, fruto da vaidade, é, podemos dizer, o sentimento predominante em nosso meio. Daí as hierarquias, o títulos, as insígnias, as divisas, os distintivos e até as indumentárias especializadas.

No seio das próprias religiões, cujo objetivo deveria ser unir e congraçar a família humana, apagando as causas de separação, é, infelizmente, onde mais prolifera o vírus da separatividade. Os dogmas irredutíveis, em que se fundam, constituem verdadeiras pedras de tropeço na obra da confraternização dos Espíritos.
Os prepostos de deuses particularistas distribuem graças e favores aos que se submetem às suas injunções, e anátemas àqueles que querem digerir o pão da alma com a própria razão, como digerem, com o próprio estômago, o pão do corpo.

Certa vez, Jesus surpreendeu os apóstolos discutindo entre si qual deles seria o maior. Tomando, então, o excelso Mestre, ao acaso, uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: Aquele que receber esta criança, em meu nome, a mim me recebe; e quem me recebe não recebe a mim, mas ao Pai que me enviou.
Aquele, pois, dentre vós, que quiser ser grande, faça-se o servo de todos, porque o próprio Filho do homem não veio a este mundo para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate de muitos.

Neste passo, Jesus, deitou abaixo toda e qualquer pretensão de exclusividade no que respeita à sua representação no mundo. Apesar, porém, da clareza meridiana dessa advertência, ministrada mediante exemplificação tão positiva, ainda hoje, 20 séculos decorridos, os príncipes da igreja totalitária se obstinam em declarar-se os únicos e exclusivos representantes do Cristo de Deus!

A Terceira Revelação, proclamando a unidade do destino e a sujeição de todos às leis que regem a marcha evolutiva do Espírito, consoante a justiça do aforismo evangélico - A CADA UM SERÁ DADO SEGUNDO AS SUAS OBRAS- destrói o fermento das vaidades que desnorteiam e transviam os homens do verdadeiro senso da vida.
Ensinando, outrossim, que a origem dos seres é uma só e única, passando todos eles pelas etapas que unem as classes inferiores às superiores, como elos da mesma corrente, lança no coração do homem o germe da humildade, virtude esta sem a qual ninguém pode compreender nem perceber a lei soberana da IGUALDADE, que faz, não só da humanidade terrena, como de todas as humanidades que habitam as infinitas moradas da casa do Pai, uma só e única família.
Vinícius

domingo, 7 de abril de 2013

EVOLUÇÃO E EDUCAÇÃO ..."A diferença entre o sábio e o ignorante, o justo e o ímpio, o bom e o mau, procede de serem uns educados, outros, não...", "...A verdade não surge de fora como em geral se imagina: procede de nós mesmos. O reino de Deus (que é o da verdade) não se manifestará com expressões externas, por isso que o reino de Deus está dentro de vós. Educar é extrair do interior e não assimilar do exterior. É a verdade parcial, que está em nós, que se vai fundindo, gradativamente, com a verdade total que tudo abrange...."

EVOLUÇÃO E EDUCAÇÃO
Educar é tirar do interior.
Nada se pode tirar donde nada existe.
É possível desenvolver nossas potências anímicas, porque realmente elas existem no estado latente. A evolução resulta da involução. O que sobe da terra é o que desceu do céu.

A diferença entre o sábio e o ignorante, o justo e o ímpio, o bom e o mau, procede de serem uns educados, outros, não.
O sábio se tornou tal, exercitando com perseverança os seus poderes intelectuais. O justo alcançou santidade, cultivando com desvelo e carinho sua capacidade de sentir.
Foi de si próprios que eles desentranharam e desdobraram, pondo em evidência aquelas propriedades, de acordo com a sentença que o Divino Artífice insculpiu em suas obras: Crescei e, multiplicai.

A verdade não surge de fora como em geral se imagina: procede de nós mesmos.
O reino de Deus (que é o da verdade) não se manifestará com expressões externas, por isso que o reino de Deus está dentro de vós. Educar é extrair do interior e não assimilar do exterior.
É a verdade parcial, que está em nós, que se vai fundindo, gradativamente, com a verdade total que tudo abrange.
É a luz própria que bruxoleia em cada ser, que vai aumentando de intensidade, à medida que se aproxima do Foco Supremo, donde proveio.
É a vida de cada indivíduo que se aprofunda e se desdobra em possibilidades, quanto mais se identifica com a Fonte Perene da vida universal.
Eu vim a este mundo para terdes vida e vida em abundância.

O juízo que fazemos de tudo quanto os nossos sentidos apreendem no exterior está invariavelmente de acordo com as nossas condições interiores.
Vemos fora o reflexo do que temos dentro. Somos como a semente que traz seus poderes germinativos ocultos no âmago de si própria.
As influências externas servem apenas para despertá-los.
EDUCAR é envolver de dentro para fora, revelando, na forma perecível, a verdade, a luz e a vida imperecíveis e eternas, por isso que são as características de Deus, a cuja imagem e semelhança fomos criados.
Vinícius
Na Escola do Mestre

DEVER PATERNO ..."Educar é salvar. O Espiritismo é a religião da educação. Não há lugar para superstições, na trama urdida pelos postulados cristãos que o Espiritismo veio restaurar em toda a sua verdade...."


Duas verdades muito simples devem estar presentes na imaginação dos pais: de um saco vazio nada podemos tirar; de um terreno inculto, abandonado, nenhum bom grão podemos colher.

Estas duas asserções, banais em aparência, naturalmente servirão para lhes trazer à mente um fato de suma importância: a educação dos filhos.

Sim, se eles descurarem o cumprimento deste dever, chegará o dia em que debalde procurarão obter alguma coisa dos filhos. Estes lhe darão o que se pode tirar de um saco vazio ou aquilo que se pode colher de um terreno abandonado.

A autoridade paterna, elemento indispensável na orientação e direção da mocidade, não surge do vácuo nas ocasiões prementes das grandes necessidades, dos lances aflitivos em que ela é reclamada.
Se essa autoridade existe, apresenta-se, impõe-se, age, luta e consegue. Se não existe, é escusado apelar-se para ela, no paroxismo de qualquer aflição.
A autoridade paterna se desenvolve paulatinamente, como fruto da educação que os pais dão aos filhos, quando essa educação se funda na base sólida de exemplos dignos e elevados. Ela se desenvolve e frutifica como as plantas de valor.

Pretendê-las num dado momento, como façanha de prestidigitador, é ilusão que nenhum pai sensato deve alimentar.

Há exemplos, não contestados, de filhos bons e dignos, à revelia da influência doméstica, e outros que são maus, a despeito dos desvelos paternos; porém tais casos são exceções que não anulam a regra e, menos ainda, os deveres dos pais, no que concerne à formação do caráter de seus filhos.

Sabemos que nossos filhos são espíritos reencarnados, os quais semelhantemente ao vento, segundo disse Jesus ninguém sabe donde vêm.
É possível que sejam espíritos de sentimento e moral elevados; assim sendo, não nos darão maior trabalho: é a exceção. Caso contrário, como é de regra, trarão consigo defeitos, vícios e paixões, para cujo extermínio cumpre providenciarmos, empenhando todos os meios ao nosso alcance.
E isto se obtém, ministrando a educação cristã, firmada sobre os alicerces de exemplificações acordes com aquela doutrina.

Educar é salvar. O Espiritismo é a religião da educação. Não há lugar para superstições, na trama urdida pelos postulados cristãos que o Espiritismo veio restaurar em toda a sua verdade.

Eduquemo-nos, pois, e eduquemos nossos filhos. Um mau chefe de família nunca pode ser um bom espírita.

Vinícius

PELO AMOR E PELA DOR. ..."Não basta que uma nação haja acumulado milhões nas arcas do seu tesouro, dando ao seu povo conforto, bem estar e luxo. É necessário que se tenha em vista o padrão de vida geral, porque o mundo é uma unidade indivisível. Nunca se viu, no mesmo lar, filhos nababos ao lado de irmãos maltrapilhos e famintos. A Humanidade é a grande família de Deus, o Pai celestial que não distingue raças, nações, povos, credos, nem partidos"..

PELO AMOR E PELA DOR
"Não rogo somente por estes, mas por todos aqueles que crerem em mim por meio da tua palavra; a fim de que todos sejam um, e que, como tu, Pai, és em mim e eu em ti, também seja eles em nós...Eu lhes tenho dado a glória que tu me deste, para que sejam um, como nós somos um; eu neles e tu em mim, para que sejamos aperfeiçoados na unidade; e para que o mundo reconheça que tu me enviaste e que tu os amaste, como também amaste a mim". (Evangelho)
As palavras do insigne Condutor da Humanidade, acima transcritas, pronunciadas em forma de rogativa ao pai celestial, nas vésperas do seu sacrifício, são de palpitante atualidade, como, aliás, têm sido através de toda a era cristã. O característico inconfundível da verdade decorre do testemunho dos fatos que a corroboram em todas as emergências e conjunturas da vida.

Nesta época tumultuosa que ora o mundo atravessa, assinalada pelas mais cruenta, brutal e destruidora das guerras, envolvendo povos, nações, raças e continentes, que se entredevoram no paroxismo de uma luta de mútuo extermínio, — uma luz vai, pouco a pouco, surgindo da confusão e do caos reinantes. Essa luz, que emerge das trevas densas de um egoísmo feroz, destacando-se, qual longínqua estrela tremeluzente num céu carregado, de noite caliginosa, é a convicção a que os combatentes vão chegando de que o seus problemas jamais se resolverão pela força; de que é necessário enveredar por outro caminho, além daqueles até aqui palmilhados caminho esse nunca escolhido, por isso que julgado incapaz de conduzir ao porto e salvamento: a confraternização humana nos moldes do Cristianismo redivivo em espírito e verdade.
Os líderes das grandes nações aqueles cujos ombros pesam maiores responsabilidades, começam já a compreender que o mundo precisa ser renovado em seus fundamentos. O isolacionismo, como das ideologias que dimanam das três formas funestas de imperialismos - o político, religioso e o econômico — deve desaparecer do cenário terreno. A humanidade é uma só. Seus problemas, outrossim, são os mesmos; portanto, devem ser tratados e discutidos à luz meridiana, com o concurso de todos.

Nada de conchavos regionalistas, pactos e conluios secretos de um grupo de Estados contra outros grupos! A palavra internacional seja — sim, sim; não, não; pois tudo que vai além disto é de maligna procedência. Provado está, à saciedade, que o fermento da guerra se desenvolve no seio dos referidos imperalismos que, conjugados, constituem o fator daquela e de todas as demais calamidades que infelicitam a humanidade, tais como: o pauperismo, a desocupação, a enfermidade, a corrupção de costumes, o vício e o crime.

Não basta que uma nação haja acumulado milhões nas arcas do seu tesouro, dando ao seu povo conforto, bem estar e luxo. É necessário que se tenha em vista o padrão de vida geral, porque o mundo é uma unidade indivisível. Nunca se viu, no mesmo lar, filhos nababos ao lado de irmãos maltrapilhos e famintos. A Humanidade é a grande família de Deus, o Pai celestial que não distingue raças, nações, povos, credos, nem partidos.
Daí o apelo de Jesus: Não rogo somente por estes, isto é, por uma facção, mas também por todos os que crerem em mim, a fim de que todos sejam um, e que, como tu, Pai, és em mim e eu em ti, também sejam todos eles (os homens) em nós; para que assim o mundo creia que tu me enviaste.

O testemunho do Cristo, portanto, é a unidade. A confraternização dos povos será a prova provada do reino de Deus entre os homens. Até aqui, temos tido o inverso: o reino do demônio expresso no egoísmo desaçaimado, fomentando rivalidades, ciúmes, felonias, dolos e cobiças.

A Casa Grande, destacando-se na montanha, rodeada de míseros casebres de barro, perdeu o seu prestígio, disse, com muita propriedade, o eminente estadista americano Wendell Willkie. A interdependência em que se acham as nações é um fato, hoje, incontestável. Nenhuma delas, mesmo as que dispõem dos maiores recursos, pode viver isolada. O bastar-se a si mesmo é uma utopia que ninguém de bom senso leva a sério.
O mundo se tornou pequeno diante dos progressos de locomoção. Os mares não passam de simples lagos sobrevoados por aviões, pondo em contacto nações e continentes. O que se passa num quadrante do globo terráqueo é logo sabido e comentado em toda parte. Soou, pois, a hora da solidariedade.

Cumpre que se ponha, por acordo comum, as possibilidades e as oportunidades ao alcance de todos, indistintamente. Privilégios raciais, econômicos e religiosos; açambarcamentos, armamentismo, barreiras comerciais e diplomacias de raposa devem ser erradicados sem contemplação, como ervas daninhas e tóxicas, envenenadoras da humanidade.

Todos os homens são iguais, com idênticos direitos à liberdade de pensar e de agir, dentro das normas do respeito mútuo da fraternidade e da cooperação. Cumpre que se conduzam doravante como irmãos desejosos de se ajudar reciprocamente, e não mais como rivais que procuram combater-se e eliminar-se.

Só assim o mundo terá paz e os homens desfrutarão liberdade, vivendo a verdadeira vida humana em marcha para a vida eterna, que paira sobre as contingências do nascimento e da morte. Essa é a glória que tu me deste; para que todos os homens sejam um, como nós somos um. E o mundo, então, verá que tu me enviaste para isso, comprovando o teu amor à humanidade e a mim.
Os homens não quiseram atender ao Verbo Divino que se fez carne e habitou entre eles. Rejeitaram suas advertências prudentes e amoráveis, difundidas com carinho e afeto. Eis que hoje, esses mesmos homens - diante do ribombo dos canhões, do esfuziar das metralhadoras e do ronco sinistro dos aviões, a despejarem, das alturas bombas que dizimam cidades, espalhando a morte e ateando rubros incêndios- começam a entender o sentido profundo das velhas sentenças evangélicas:
"Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça; e tudo o mais vos será dado de graça e por acréscimo. Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra!"
Pelo amor e pela dor ! Esta acaba de lançar as bases sobre as quais, em breve, o amor construirá um mundo novo onde habite a justiça !
Vinícius
Na Escola do Mestre

domingo, 24 de março de 2013

REABILITAÇÃO DE UM CULPADO."...Lembremos por fim, que Jesus veio chamar os pecadores e não os justos. Por isso jamais se defendeu das injúrias e ataques dirigidos à sua pessoa. Contra outra espécie de traidores, ele se insurgiu: os traficantes da fé, os impostores que exploravam o alheio sentimento. A este exprobrou em termos enérgicos. Seu gesto de revolta se verificou, quando expulsava do templo os vendilhões, dirigindo-lhes a seguinte apóstrofe: Fizestes da casa de meu Pai, que é casa de oração, covil de salteadores. Para os algozes que o cravaram na cruz, assim como para a plebe ignara que, aparvalhada, assistia ao seu sacrifício, teve esta frase lapidar: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem...."


Depois de termos falado sobre a Justiça, pratiquemos um ato que a objetive. Tenhamos a precisa coragem moral de, arrostando preconceitos, propugnar pela reabilitação de um culpado, cujo delito, de há muito, foi devidamente reparado, mediante a consumação da justiça imanente, que reponta dos mesmos erros e delitos, como processo expurgador, conducente à regeneração.

Queremos nos referir 'coram populo' a Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos do Senhor. Bem sabemos que esse nome tem sido execrado, atravessando os séculos coberto de opróbrio e de ignomínia. Mas é precisamente por isso que, em nome da justiça e, particularmente, em nome do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, ousamos empreender esta tarefa, para o desempenho da qual imploramos o auxílio da luz que vem de cima.

Encaremos o crime de Judas com a devida calma, desapaixonadamente. Raciocinemos e argumentemos com o critério que a gravidade do caso requer. Comecemos levantando esta preliminar: Como foi Judas ter ao apostolado? Por solicitação própria? Não. Foi chamado, conforme peremptória declaração de Jesus, dirigida aos doze: Eu vos escolhi a vós; no entanto, um de vós é demônio. Daqui ressalta outro ponto importante. Jesus sabia que Judas ia cometer o ato delituoso ao qual se referiu por
ocasião da última páscoa, dizendo: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair.
E eles, entristecendo-se muito, começaram cada um a perguntar-lhe: Serei eu, Senhor? E Jesus retrucando, acrescentou: o que mete a mão no prato comigo, esse me trairá. Judas, então, disse: Porventura sou eu, Rabi? O Senhor retorquiu: — Tu o disseste. Em verdade, o Filho do homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele por quem o Filho do homem é traído! Bom seria a esse indivíduo, se não houvera nascido. De posse destes dados, extraídos dos Evangelhos, portanto dignos de fé, passemos à ordem dos argumentos.

Jesus veio à terra no desempenho de missão redentora. Para consumá-la se fazia mister tornar-se conhecido dos homens, através de exemplos vivos que testemunhassem o seu acrisolado amor pelos míseros pecadores, mostrando-lhes a estrada da salvação e conduzindo por ela, como guia, toda a humanidade. Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.

As velhas profecias vaticinaram os acontecimentos que haviam de se desenrolar no decurso da passagem do Filho de Deus por este orbe. Tudo estava previsto. Jesus se achava perfeitamente enfronhado do que o esperava. Marchou, todavia, resoluto e varonil ao encontro do sacrifício. Pai, afasta de mim este cálice; todavia faça-se a tua vontade, e não a minha.

Iniciando a ingente tarefa, Jesus começa reunindo os que deviam colaborar com Ele na obra da libertação humana. Chega-se a uns pescadores e, sem mais preâmbulos, vai dizendo assim: Acompanhem-me, pois, doravante, sereis pescadores de almas. E tais indivíduos, como que premidos por mola invisível, deixam seus barcos, redes e demais petrechos do ofício e seguem o Senhor. Da mesma forma, com relação a Mateus, portageiro da alfândega, que, abandonando o emprego, se põe ao lado dos demais escolhidos. Deste fato concluímos que aquelas pessoas tinham vindo a este mundo já comissionadas, já designadas a desempenhar certas incumbências junto ao Redentor da Humanidade. Do contrário é inexplicával a facilidade com que todos anuíram ao chamado que lhes foi dirigido por um homem desconhecido, com quem jamais haviam tido qualquer entendimento, e que viram pela primeira vez.
O compromisso, portanto, fora tomado antes, noutro plano da vida. Ora, Judas foi, a seu turno, solicitado a acompanhar Jesus. Anuiu, como os demais, ao chamamento. Veio, pois, a este mundo para fazer parte do ministério apostólico. Nesse caso, acode-nos à mente a seguinte consideração: se Judas ia fracassar desastrosamente, como fracassou, na qualidade de apóstolo; se as profecias previram o acontecimento; se, finalmente, Jesus estava ciente do desastre que esperava aquele discípulo, achando até que melhor fora ele não ter nascido, isto é, não ter vindo ao mundo, então por que o incluiu no apostolado? Não seria preferível afastá-lo, na hipótese de haver partido dele o desejo de participar da obra messiânica? Como, pois, se compreende ter sido ele chamado?
Não será lícito estranharmos semelhante procedimento por parte daquele que veio dar a vida pela redenção dos pecadores? Como, então, contribuir para a perdição precisamente de um dos seus escolhidos? Eis a questão que parece inextricável. Mas o Evangelho diz que não há nada encoberto que não seja descoberto, e nada oculto que não venha a ser revelado. Portanto, meditemos.

Jesus não podia consentir na perdição de Judas, ao incorporá-lo no colégio apostólico, prevendo a sua ruína. Atribuir-se ao Senhor semelhante cometimento seria rematada heresia. Há, portanto, uma razão que o levou a agir como agiu. Para descobri-la temos que, preliminarmente, estudar o caráter de Judas. Qualifiquemo-lo, tal como se faz aos réus. Judas, além de ambicioso, amigo do dinheiro, sumamente egoísta, era cínico. Este mal, quando empolga os Espíritos, os torna por assim dizer impermeáveis à luz, à verdade e a todas as sugestões e inspirações boas e salutares. Ficam impassíveis às emoções e às influências de ordem moral. Sua sensibilidade se embota, sua consciência se cauteriza, sua razão se obnubila.
Mergulhados na voragem da materialidade, só aspiram à satisfação dos apetites, debaixo dos seus múltiplos aspectos. Acovardados fogem das lutas, acocoram-se no comodismo, evitando tudo quanto possa perturbar-lhes o antegozo dos seus desejos e dos seus pendores inconfessáveis. Ficam, por assim dizer, cristalizados na esfera bastarda do sensualismo. E aí permaneceriam eternamente se o 'surge et ambula' não constituísse a lei soberana que rege o destino das criaturas de Deus. Sim, tal categoria de indivíduos ficaria estacionária se pudesse furtar-se à influência incoercível da evolução.
De repente, surge um imprevisto que os atira para a correnteza das provas. Então, como que arrastados pelas torrentes caudalosas de profundo rio, vão, sacudidos pelas ondas, batendo-se contra os rochedos ásperos e arestosos até que, precipitados no pélago das águas, ao rumor das quais despertam para a realidade, abrem os olhos para a luz, acordam-se-lhe a razão e a consciência, raiando a aurora de uma vida de reparação, era das reabilitações.

Eis aí o que sucedeu a Judas. Era necessário que essa alma fosse profundamente abalada, fosse sacudida até os seus fundamentos, suportasse um tremendo choque, passasse por um verdadeiro cataclismo, para que despertasse. Jesus não viu somente a queda de Iscariotes; viu também a sua redenção, após a prática do ato ignominoso. Por isso consentiu em incluí-lo no número dos apóstolos. Foi dura, foi tremenda a sua expiação, porém era esse o meio de chamá-lo à razão. Seu estado reclamava um drástico enérgico. Esse medicamento lhe foi propinado.

Cumpriu-se a Justiça, de cuja consumação emerge a misericórdia como seu complemento. Pela dor e pelo amor! Uma vez a lei satisfeita, soa a hora da graça. Lei e graça, justiça e misericórdia se entrelaçam na sábia urdidura da obra redentora do Espírito. Prossigamos, no entanto, no esclarecimento e justificação da nossa campanha em prol da reabilitação do grande delinquente. Judas foi tentado. Jesus o afirma, dizendo que Satanás o havia possuído. Se é certo que a influência da tentação não dirime o delito, contudo é inegável que constitui atenuante em favor do criminoso.
As circunstâncias atenuantes estão previstas até nos códigos terrenos, apesar das inúmeras lacunas de que eles se ressentem. A culpabilidade de Iscariotes deve ser julgada através dessa circunstância. O Tentador o dominou, agindo através dos dois principais defeitos do malsinado apóstolo: cinismo e grande apego ao dinheiro. Essas duas falhas acentuadas do seu caráter têm as suas raízes mergulhadas no egoísmo. Com dinheiro se compram prazeres e deleites que gratificam os sentidos. Com cinismo o indivíduo faz ouvidos de mercador aos protestos da consciência.
Que Judas se fascinava pelo dinheiro, di-lo claramente João Evangelista, reportando-se às suas ladroíces como tesoureiro da comunidade. Que era um cínico e simulador atesta-o eloquente o seu gesto, na última ceia, interrogando o Mestre sobre aquele que ia traí-lo metendo a mão no prato com Jesus, após este haver declarado que tal importaria o sinal denunciador daquele que o havia de trair. Os maus pendores facilitaram a tarefa do traidor ou talvez, dos Espíritos das trevas.

Consideremos, agora, outras particularidades dignas de meditação. A missão de Jesus não foi compreendida pelos homens do seu tempo, inclusive pelos próprios discípulos e apóstolos. Estes, só depois do dia de Pentecostes, é que a perceberam e assimilaram. Todos viam no Enviado celeste o libertador do povo de Deus das garras de César. Supunham que Jesus empregaria processos e meios miraculosos para vencer o despotismo romano, expulsando os invasores da Palestina. Aguardavam ansiosamente esse momento. A mente humana, acanhada e regionalista, não abarcava a grandiosidade da obra messiânica. Ninguém pensava na libertação do Espírito da servidão dos vícios e das paixões com sede na carne. Esta questão era demasiadamente transcendental para os homens daquele século.

Judas via em Jesus um místico, com poderes supranormais extraordinários, aguardando o momento oportuno para utilizá-los em favor do seu povo oprimido. Naturalmente, ao negociar com os sacerdotes judaicos a entrega de seu Mestre, Judas supunha que Ele jamais pereceria às mãos dos seus inimigos. Estaria, talvez, convencido de que, na ocasião azada, Jesus os destroçaria, manejando faculdades que tanto o distiguiam, e que Judas tanto invejava. Vários episódios teriam contribuído para alicerçar na mente do grande culpado aquela hipótese.
Ele presenciou o Senhor, quando os judeus tentaram aprisioná-lo. Estava habituado a vê-lo aparecer inesperadamente entre os discípulos e ausentar-se, sem que se soubesse para onde teria ido. No Jardim das Oliveiras, Jesus, apresentando-se aos beleguins romanos guiados pelo mesmo Judas, se transfigura diante deles, deixando irradiar a luz refulgente do seu Espírito. Diante deste fenômeno insólito, a soldadesca, aturdida e confusa, cai por terra. Estas ocorrências todas corroboraram o conceito de Iscariotes, animando-o a executar o plano que arquitetara.
Quando, porém, acompanhando com interesse a sucessão dos acontecimentos, viu que Jesus caminha para o suplício, sem opor embargos aos seus verdugos, e que, finalmente, sucumbiu no madeiro infamante. Judas estremeceu! Experimentou dentro de si o rugir duma tormenta, o desabar de um medonho e inconcebível furacão. O que se teria passado com ele, em tão trágico lance, a linguagem humana não possui expressões bastante para relatar. São desses transes que se imaginam, porém não se descrevem. Perpassou-lhe pela mente o quadro da sua vida ao lado do Mestre. Lembrou-se das palavras que ouvira dele; da sua bondade e doçura; da sua dedicação pelos sofredores; dos benefícios que espalhou por toda parte onde esteve; do caso da viúva de Naim cujo filho redivivo, restituído a mãe, transformou o seu pranto em alegria; e daquele filha voltar à vida, quando todos a consideravam morta; e, mais outro ainda, o de Lázaro, cujas irmãs e amigos pranteavam a morte, ressuscitado pelo Senhor e entregue ao afeto dos que o amavam. Essas maravilhas todas, de alta benemerência, e tudo o mais que observara 'de visu', acompanhando o Mestre em sua peregrinação terrena, se desenharam ao vivo no delírio febril da sua imaginação.

Sabe-se pela experiência dos que se encontram em perigo iminente de morte que nesses indivíduo se escoa em sua mente, que nestes instante, todo o passado do indivíduo se escoa em sua mente de um modo vertiginoso, porém perfeitamente compreensível. Todo o bem e todo o mal praticado, as conjunturas alegres ou tristes, os atos dignos ou inconfessáveis, tudo, enfim, num esforço rápido e vivo, é percebido e sentido naqueles fugazes momentos. Foi o que se teria verificado com o grande pecador. Sua alma então desperta; as cordas do seu sentimento habituadas à inação vibram agora desusada e descompassadamente. Lavram em seu interior as labaredas rubras do remorso. Sua razão, ora acordada, lhe mostra a vileza e a monstruosidade do seu crime. Judas se contorce no paroxismo da dor, no estertor horrendo da exprobração da consciência revivida, no tormento dantesco do criminoso vergado ao peso da condenação!

Judas enlouquece, Judas suicida-se! Detenhamo-nos aqui. Não tentemos avançar mais para dentro da sua dor, porque há dores cujo abismo causa vertigem aos que delas se aproximam. Descubramo-nos diante da sua grande, imensa e incomensurável tortura; deixemos que esta opere a sua obra de purificação. Executou-se a lei. A lei que pontifica no interior de cada homem, onde ele é juiz de si mesmo. Quanto tempo ficaria o espírito do grande delinquente no estado de desespero em que partiu deste mundo? Não sabemos. O importante é que ele se arrependeu. Deu, portanto, o primeiro passo no caminho da reparação. Após a Justiça consumada, soa, como já o dissemos, a hora da misericórdia.
À lei sucede a graça, Judas é um regenerado. Para afirmá-lo, nos baseamos na doutrina que nos foi revelada pela sua vítima. Jesus estendeu, de há muito, a sua destra benfazeja, amparando e acolhendo o apóstolo transviado. Perdoou-lhe, como perdoou a Pedro e a Paulo, que também pecaram. Todos, depois de suportarem a consequência dos erros praticados, se reabilitaram. Por que Judas não se teria reabilitado também? — Reabilitou-se, sim, no-lo diz o mesmo Jesus, através destes preceitos seus: Amai aos vosso inimigos. Fazei bem aos que vos fizerem mal. Orai pelos que vos perseguem e caluniam. Perdoai e sereis perdoados. Não julgueis, não condeneis. Com a medida com que medirdes, com essa sereis medidos. Quem predicou assim não podia abandonar um pecador que deu visíveis provas de contrição. Jesus é aquele cuja escola é Ele mesmo, cujas teorias são os seus exemplos, cujas doutrinas são a sua vida.
Portanto, é Ele quem nos dá autoridade para propugnarmos no sentido de apagar o estigma aviltante que envolve a memória de Judas. A gravidade da culpa depende da previsibilidade do evento criminoso. Ora, Judas não teve a previsão das consequências do delito que praticou. Só depois de consumado é que ele mediu o seus efeitos. Não cabe na mente do egoísta que alguém, dispondo de força excepcionais e singulares, deixe de utilizá-las em defesa própria. Renúncia e sacrifício são expressões que carecem de sentido para as mentalidades imbuídas do egoísmo.

Demais, cumpre acentuar ainda uma particularidade muito curiosa no ato pecaminoso de Iscariotes. O seu crime não foi propriamente de traição. Falta circunstância para que se capitule naquela rubrica: a circunstância da surpresa da vítima. Não pode haver traição, sem que se verifique o sobressalto, o inopinado, o imprevisto. Ora, Jesus, a vítima, estava a par de tudo, vinha acompanhando os passos de seu discípulo, ciente de toda a trama que ele urdira. Onde, pois, a traição?

É verdade que este pormenor não altera, do ponto de vista moral, a natureza do delito ora em apreço. Seja, porém, como for, o fato é que Judas resgatou a sua grande culpa no cadinho de uma imensa dor. As 30 moedas, preço de sua perfídia, ali fundidas, caíram, gota a gota, em seu atribulado coração.

Lembremos por fim, que Jesus veio chamar os pecadores e não os justos. Por isso jamais se defendeu das injúrias e ataques dirigidos à sua pessoa. Contra outra espécie de traidores, ele se insurgiu: os traficantes da fé, os impostores que exploravam o alheio sentimento. A este exprobrou em termos enérgicos. Seu gesto de revolta se verificou, quando expulsava do templo os vendilhões, dirigindo-lhes a seguinte apóstrofe: Fizestes da casa de meu Pai, que é casa de oração, covil de salteadores. Para os algozes que o cravaram na cruz, assim como para a plebe ignara que, aparvalhada, assistia ao seu sacrifício, teve esta frase lapidar: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Os pecadores confessos e contritos encontraram nele refúgio, consolo e salvação. Duas almas tiveram a primazia na obra de redenção consumada no Calvário: a primeira foi Dimas, o bom ladrão crucificado à direita do Cristo de Deus; a segunda foi Judas, o suicida, na demência do remorso.
Vinícius

sexta-feira, 15 de março de 2013

A IGREJA UNIVERSAL

A IGREJA UNIVERSAL
"Quem diz o povo ser o Filho do homem?" Responderam os discípulos: Uns dizem João Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou algum dos profetas que ressuscitou. E vós, quem dizeis que eu sou? Retruca Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és, Simão Bar-Jonas, pois que não foi a carne nem o sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro (rocha) e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do Hades não prevalecerão contra ela.
Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; e o que ligares sobre a terra será ligado nos céus; e o que desligares sobre a terra será desligado nos céus... Desde então começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que lhe era necessário ir a Jerusalém e padecer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitar no terceiro dia. Pedro, então, chamando-o aparte, começou a repreendê-lo, dizendo: Deus tal não permita, Senhor; isso de modo nenhum acontecerá. Mas Ele, voltando, disse a Pedro: Arreda de diante de mim, Satanás; tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens". — S. Mateus, cap. XVI, vs. 13 a 23.

Os homens, em geral, não tinham a respeito de Jesus e de sua missão uma idéia clara e verdadeira. Supunham-no um profeta dotado de poderes maravilhosos, para libertar Israel do domínio Romano. Os próprios discípulos alimentavam,
mais ou menos, esse mesmo conceito. Entretanto, era necessário que eles soubessem a verdade acerca do seu Mestre. Daí a interpelação de Jesus: "vós quem dizeis que eu sou?".

Pedro, médium, como aliás eram os demais apóstolos, cada qual, porém, com seu temperamento particular, retruca, impelido pelos agentes espirituais: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Em tal importava o que Jesus visara, isto é, que os discípulos tivessem conhecimento positivo de sua origem e de sua missão. Satisfeito, pois, com o resultado daquela revelação, da qual Pedro fora o instrumento, disse-lhe: "Bem-aventurado és, Simão Bar-Jonas, pois não foi a carne nem o sangue quem to revelou, mas meu pai que está nos céus. Eu também te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do Hades não prevalecerão contra ela, etc.".

Perguntamos, agora, nós: sobre que base ou fundamento Jesus prometeu edificar a sua igreja? É claro que foi sobre a revelação obtida através de Pedro, e não sobre este, com todas as suas fraquezas. Aquela atitude enérgica, assumida logo após pelo Mestre, quando Pedro, sempre como médium, procura dissuadi-lo do desempenho de sua missão, comprova nossa assertiva: — Sai de diante de mim. Satanás... — O Satanás não era Pedro, mas os elementos do espaço que o haviam tomado no momento. Ora, é óbvio que sobre os frágeis ombros humanos Jesus jamais pensou em apoiar as colunas da sua igreja. Prometeu, sim, solenemente, fundá-la sobre a revelação, isto é, sobre as verdades que as revelações anunciam através do mediunismo, ou profetismo, como então se dizia.
A Verdade é a rocha inabalável, contra a qual não prevalecem as forças do mal. As várias formas de mediunidade representam as chaves do reino dos céus, porque é mediante o seu concurso que se torna possível ao homem, chumbado à terra, penetrar os arcanos celestiais. É ainda a Verdade alcançada através das revelações, que liga ou desliga na terra como nos céus, visto que a Verdade é sempre a mesma, manifeste-se neste ou em qualquer outro plano da vida. Pedra ou rocha é símbolo da verdade revelada. Pedro foi, apenas, o intermediário humano da revelação do céu, no que respeita à pessoa inconfundível de Jesus, o Cristo de Deus.

É natural que os credos terrenos não vejam, ou não queiram ver, a realidade do que expomos. A revelação não pode constituir objeto de propriedade particular, como não se circunscreve a este ou àquele grupo de indivíduos, a esta ou àquela escola. A revelação é soberana, é livre, vem de cima, cai como o orvalho da manhã sobre os corações visados pelas Virtudes do Céu. A revelação é um fenômeno que se opera à revelia do homem, que não se acha adstrita às veleidades e aos interesses de classes e partidos religiosos.

Ela impera e reina acima dos homens, pairando sobre suas paixões. Daí por que, como o próprio Jesus, é a pedra rejeitada. Nada obstante, é sobre essa rocha que o Filho de Deus afirmou, de modo insofismável, erguer a sua igreja. É o que os fatos testemunham, conforme vamos provar cabalmente.

A palavra de Jesus não ficou em promessa: cumpriu-se já inteiramente. Edificarei a minha igreja. O verbo foi empregado no futuro. Se Ele se referisse a Pedro, a sua igreja teria sido fundada naquele momento mesmo. Mas só o foi posteriormente. Quando? Abra-se o livro dos Atos, cap. II, e veja-se o que contém:

"Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam os apóstolos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um ruído, como de impetuoso vento, que encheu toda a sala onde estavam sentados. E apareceram umas como línguas de fogo, as quais se distribuíram, para repousar sobre cada um deles; e todos ficaram cheios do Espírito e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.
Achavam-se em Jerusalém judeus, homens religiosos de todas as nações debaixo do céu: e quando, então, se ouviu o ruído, ajuntou-se ali a multidão e ficou pasmada, pois que cada um os ouviu falar na sua própria língua. E assim maravilhados e atônitos, perguntavam: Não são galileus estes homens? Como os ouvimos falar cada um na língua de nosso nascimento? partos, medos, elamitas e os naturais de mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Frigia, Pamfília, Egito, Líbia e Cirene; forasteiros, romanos, cretenses e arábes como estamos ouvindo falar em nossas línguas as coisas de Deus? Que quer isto dizer? Alguns, porém, zombando, diziam: Estão cheios de mosto (bêbados).

Mas Pedro, estando em pé, ao lado dos onze, tomou a palavra e disse: Homens da Judéia, todos os que vois achais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e prestai ouvidos às minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como supondes, visto que é a hora terceira (9 horas) do dia. Cumpre-nos o que dissera o profeta Joel: E acontecerá nos últimos, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre a carne; e vossos filhos e filhas profetizarão; vossos mancebos terão visões, e sonharão vossos anciãos.. . Israelitas, ouvi estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão a junto a vós com poderes, prodígios e sinais, que Deus fez por meio d'Ele entre vós, conforme vós mesmos sabeis, sendo Ele entregue pelo determinado concelho e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos iníquas; ao qual Deus ressuscitou, desatando os laços da morte, pois não era possível que fosse por ela retido... Exaltado, pois, pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito, derramou o que vedes e ouvis.Fique, pois, certa toda a casa de Israel de que a este Jesus, Deus o fez Senhor e Cristo.

Ouvindo eles estas palavras, compumgiram-se em seus corações e perguntaram a Pedro e aos apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes Pedro: arrependeis-vos e cada um de vós seja batizado em nome remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós é a promessa, e para todos os que estão longe, a quantos chamar o Senhor, nosso Deus. E com muitas outras palavras dava testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.

E os que, então, receberam a sua palavra foram batizados, e admitidas naquele dia quase três mil pessoas; e perseveravam na doutrina dos apóstolos partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor e muitos milagres eram feitos pelos apóstolos. E todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam as suas propriedades e bens e os repartiam por todos, conforme a necessidade de cada um. E diariamente, perseverando unânimes no templo e partindo pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E todos os dias acrescentava-lhes o Senhor os que se iam salvando".

Eis aí como se cumpriu a promessa que Jesus fizera a Pedro, de fundar a sua igreja sobre a revelação.
Esse mesmo apóstolo, sob ação mediúnica, tomou a palavra no meio dos seus companheiros de ministério, falando e exortando o povo. Este, influenciado pelas milícias celestes, sentiu-se profundamente tocado em seu coração, indagando: Que faremos, irmãos? Arrependei-vos, prosseguiu Pedro, e batizai-vos em nome de Jesus Cristo, pois, assim participareis também do dom do Espírito. Aqueles que sinceramente se achavam compungidos se apresentaram ao batismo, sendo, de início, admitidas na igreja cristã, recém-criada, quase três mil pessoas.
É de notar-se que a mediunidade poliglota aparece entre os apóstolos pela primeira vez. E porque essa e não outra modalidade qualquer? Para que a igreja cristã tivesse o caráter de universalidade que lhe é próprio e dela inseparável.

E não teria sido essa mesma falange de Espíritos de luz que, quase XX séculos depois, transmitiu a Kardec a 3ª. Revelação, condensada nas monumentais obras espíritas? Quem é o Espírito da Verdade, autor da vibrante e sensibilizadora mensagem dirigida ao compilador da Doutrina, reportando-se à ação das Virtudes do Céu que caem sobre a terra como estrelas refulgentes? Não será o Espiritismo o desdobramento natural do Cristianismo, tendo como apóstolos os Espíritos componentes daquela mesma milícia celestial que agiu no dia de Pentecostes, na fundação da igreja viva de Jesus Cristo, cuja sede está em toda parte onde se acharem congregados dois ou três corações em seu nome?

Quem tiver olhos de ver, veja.
Vinícius

terça-feira, 5 de março de 2013

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO
Mateus, reportando-se à individualidade do divino Enviado, tratou de sua genealogia terrena, partindo de Abraão, em ordem descendente, até José, contando 42 gerações.

Lucas refere-se às particularidades que rodearam o seu nascimento em Belém de Judá, num estábulo abandonado, tendo por berço tosca e rude manjedoura. Marcos apresenta o Mestre já em contacto com o Batista, iniciando sua missão exemplificadora.

João deixa de parte tudo quanto se liga à forma material com que o Messias se apresenta no cenário humano, para considerar o seu Espírito, isto é, o "ser" propriamente dito, sede da inteligência, do sentimento e de todas as faculdades psíquicas, dizendo: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus."

Verbo é a palavra por excelência, visto que enuncia a ação. Jesus é o Verbo paradigma por onde todos os verbos serão conjugados. E' o modelo, é o exemplo, é o caminho cujo percurso encerra o destino de toda a infinita criação. "Ninguém vai ao Pai senão por mim."
"Aos que crerem em seu nome, deu Ele o direita de se tornarem filhos de Deus; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne ou do homem, mas sim de Deus."

Como Ele, todos nós no princípio éramos o Verbo. A fonte única da vida é Deus. "N'Ele vivemos, nos movemos e existimos, porque d'Ele somos linhagem." A vida manifesta-se através da forma que encerra a luz. "Somos de ontem e ignoramos."
"Sei donde vim e para onde vou; vós, porém, não sabeis." Antes que tivéssemos consciência do que somos, já éramos. A alma é imortal, porque eterna. O "cogito, ergo sum" não constitui o início, mas, apenas, um dos marcos da evolução.

Assim como a criança é objeto de cuidados e desvelos antes de possuir noção de sua existência, antes mesmo de nascer, assim os seres já estão contidos no pensamento de Deus desde toda a eternidade.
"Vede as aves do céu que não semeiam nem ceifam; que não têm despensa nem celeiros; no entanto, o vosso Pai celestial as alimenta. Vede os lírios do campo, que não fiam nem tecem; nada obstante, vestem-se com mais pompa que os áulicos de Salomão ."

Não haveria evolução, se não houvesse previamente involução. O que sobe da Terra é o que desceu do Céu. O Criador e a criação coexistem, são eternos. "O Pai sempre agiu, nunca cessa de agir." Tudo é solidário no Universo; sóis, planetas e seres.
O geocentrismo e o antropocentrismo são nuvens que obscurecem os horizontes da verdade sobre a origem do homem e dos mundos.

A vida, na Terra, começou em certa substância gelatinosa que se encontra no seio do oceano. "Produzam as águas reptis de alma vivente e aves que voem sobre a Terra. Criados, pois, foram os grandes peixes e todos os animais que têm vida e movimento, os quais foram produzidos pelas águas, cada um segundo suas espécies, e todas as aves segundo o seu gênero."

Donde procederia essa alma vivente que, saindo das profundezas do mar, povoou o globo terráqueo de todos os seres que o habitam, da monera ao homem? Geração espontânea? Essa hipótese não figura mais no cartaz por ser destituída de critério e bom-senso.
João Evangelista responde ao quesito em apreço, numa linguagem transcendente, mas simples, como simples é toda verdade: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus."

Até hoje, vinte séculos decorridos, a Ciência não disse mais nem melhor.
Vinícius

NÃO SE TURBE O VOSSO CORAÇÃO

NÃO SE TURBE O VOSSO CORAÇÃO
"Não se turbe o vosso coração; crede em Deus, crede também em mim". - Evangelho
O coração humano vive inquieto e aflito, precisamente porque carece de fé, a virtude que gera e mantém a serenidade de espírito, a segurança inabalável, qualquer que seja a conjuntura em que nos encontremos.

Por isso, o médico do corpo e da alma preceitua o remédio que cura todas as tribulações: Crede em Deus, crede também em mim.

Crer em Jesus é crer na Vida, no testemunho positivo, concreto e real do Universo, desse Universo do qual fazemos parte integrante; é crer na infinita criação, nos mundos e nos sóis de todas as grandezas cujo número incontáveis; é crer, em suma nas realidades externas e internas, isto é, que nos cerca e na vida que palpita em nosso eu, onde fala a inteligência, onde se manifesta a vontade, onde vibra o sentimento.

Crer em Deus é crer no Enviado de Deus, naquele através de cujo verbo nos é dado conhecer a verdade e em cujos exemplos podemos perceber e sentir o reflexo do maior e do mais excelente dos atributos divinos — o amor; crer em Jesus é crer na imortalidade comprovada na sua ressurreição e na ressurreição de todos os que tombam ao golpe inexorável da morte; crer em Jesus é crer na máxima sublimidade da vida, expressa em sua consagração a prol do bem e da felicidade de outrem.

A fé, portanto, que o Mestre inculca a seus discípulos é aquela que se funda na aprovação de fatos incontestáveis, visíveis e palpáveis, que afetam os sentidos e a razão, as restritas possibilidades do homem e as imensas possibilidades do espírito.
Essa fé nos conduz ao caminho da verdadeira Vida em sua expansão infinita e em sua eterna manifestação.

Nessa infinita expansão da sua eterna manifestação, a Vida revela o seu objetivo, que consiste em conduzir a criatura ao Criador, mediante a Lei incoercível da evolução.

Semelhante fé, em realidade, redime o pecador, elevando, enobrecendo e santificando as almas.

Não se turbe, pois, o nosso coração. Conquistemos paz e serenidade, firmeza e perseverança, crendo em Deus e no seu Cristo, através das provas animadas e veementes que a Vida mesma nos proporciona.
Vinícus

EVOLUÇÃO E EDUCAÇÃO

EVOLUÇÃO E EDUCAÇÃO
Educar é tirar do interior.
Nada se pode tirar onde nada existe.
E' possível desenvolver nossas potências anímicas, porque realmente elas existem no estado latente.
A evolução resulta da involução. O que sobe da terra é o que desceu do céu.

A diferença entre o sábio e o ignorante, o justo e o ímpio, o bom e o mau, procede de serem, uns, educados, outros não. O sábio se tornou tal, exercitando com perseverança os seus poderes intelectuais.
O justo alcançou santidade cultivando com desvelo e carinho sua capacidade de sentir.
Foi de si próprios que eles desentranharam e desdobraram, pondo em evidência aquelas propriedades, de acordo com a sentença que o Divino Artífice insculpiu em suas obras: "Crescei e multiplicai".

A verdade não surge de fora, como em geral se imagina: procede de nós mesmos.
"O reino de Deus (que é o da verdade) não se manifestará com expressões externas, por isso que o reino de Deus está dentro de vós." Educar é extrair do interior e não assimilar do exterior.

E' a verdade parcial, que está em nós, que se vai fundindo gradativamente com a verdade total que tudo abrange.
E' a luz própria, que bruxuleia em cada ser, que vai aumentando de intensidade à medida que se aproxima do Foco Supremo, donde proveio.
E' a vida de cada indivíduo que se aprofunda e se desdobra em possibilidades quanto mais se identifica ele com a Fonte Perene da Vida Universal. "Eu vim a este mundo para terdes vida, e vida em abundância."

O juízo que fazemos de tudo quanto os nossos sentidos apreendem no exterior está invariavelmente de acordo com as nossas condições interiores.
Vemos fora o reflexo do que temos dentro. Somos como a semente que traz seus poderes germinativos ocultos no âmago de si própria. As influências externas servem apenas para despertá-los.

Educar é evolver de dentro para fora, revelando, na forma perecível, a verdade, a luz e a vida imperecíveis e eternas, por isso que são as características de Deus, a cuja imagem e semelhança fomos criados.
Vinícius