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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Princípio Vital


Subsídos do cap. 4 do Livro dos Espíritos " O Princípio Vital"
Princípio Vital

16. Ao afirmar-se que as plantas e os animais são formados dos mesmos princípios constitutivos que os minerais, é preciso compreender isso no sentido exclusivamente material: aliás, estamos aqui tratando apenas do corpo.
Sem falar do princípio inteligente, que é uma questão à parte, há na matéria orgânica um princípio especial, inapreciável e que ainda não pode ser definido: é o princípio vital. Esse princípio, que é ativo no ser vivente, é extinto no morto; nem por isso deixa ele de conferir à substância, as propriedades características que a distinguem das substâncias inorgânicas. A Química, que decompõe e recompõe a maior parte dos corpos inorgânicos, tem conseguido decompor os corpos orgânicos; porém jamais conseguiu reconstituir uma simples folha morta; isso nos traz uma prova evidente de que nos compostos há alguma coisa que não existe nos inorgânicos.
17. Será o princípio vital algo de distinto, que tenha uma existência própria? Ou por outra, para entrar no sistema de unidade do elemento gerador, não será um estado particular, uma das modificações do fluido cósmico universal que se torna princípio de vida, como também se apresenta sob a forma de luz, fogo, calor, eletricidade? É neste último sentido que a questão é resolvida pelas comunicações relatadas antes. (Cap. VI, `Uranografia geral').
Porém, qualquer que seja a opinião que seja formulada sobre a natureza do princípio vital, ele existe, pois seus efeitos são observados. Pode-se pois admitir logicamente que ao se formar, os seres orgânicos assimilaram o princípio vital que era necessário à sua finalidade; ou, se assim o quisermos dizer, tal princípio se desenvolveu pelo próprio efeito da combinação dos elementos, tal como se vê, sob o império de certas circunstâncias, desenvolver-se o calor, a luz, e a eletricidade.
18. O oxigênio, o hidrogênio, o azoto e o carbono, quando se combinam sem o princípio vital não formariam senão um mineral ou um composto inorgânico; o princípio vital, modificando a constituição molecular desse corpo, lhe dá propriedade especiais. Em vez de uma molécula mineral, temos uma molécula de matéria orgânica.
A atividade do princípio vital é mantida durante a vida, pela ação do conjunto de órgãos, como o calor é mantido pelo movimento de rotação de uma roda; quando isto cessa pela morte, o princípio vital se extingue, como o calor, quando a roda cessa de girar. Porém o efeito sobre o estado molecular do corpo, causado pelo princípio vital, subsiste depois da extinção desse princípio, como a carbonização da madeira persiste depois da extinção do calor. Na análise dos corpos orgânicos a Química recupera os elementos constitutivos: oxigênio, hidrogênio, azoto e carbono; porém ela não os pode reconstituir, porque não existindo mais a causa, ela não pode reproduzir o efeito, ao passo que pode reconstituir uma pedra.
19. Tomamos como comparação o calor desenvolvido pelo movimento de uma roda, porque se trata de um efeito vulgar, conhecido de todo o mundo, e mais fácil de compreender; porém teria sido mais exato dizer que, na combinação de elementos para formação dos corpos orgânicos, desenvolve-se eletricidade. Os corpos orgânicos seriam verdadeiras pilhas elétricas, que funcionam desde que tais pilhas estejam nas condições desejadas para que se produza a eletricidade: é a vida; ela se detém, quando cessam as condições: é a morte. Segundo este modo de encarar as coisas, o princípio vital não seria senão a espécie particular de eletricidade designada sob o nome de eletricidade animal, desprendida durante a vida pela ação dos órgãos, e dos quais a produção é paralisada na morte, pelo desaparecimento de tal ação.

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Livro  A Genese por Allan Kardec

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O Paraíso Perdido (1) "...Ao dizer a Adão que tirará seu sustento da terra, com o suor do seu rosto, Deus simboliza a obrigação do trabalho; porém, por que faz do trabalho uma punição? Que seria da inteligência do homem, se ele não a desenvolvesse pelo trabalho? Que seria da terra, se não fosse fecundada, transformada, amainada pelo trabalho inteligente do homem?..."


Subsídio para Estudo da questão 59 do livro dos Espíritos

O Paraíso Perdido
(1)
13. CAPÍTULO II _ 9. Ora, o Senhor Deus plantara desde o começo um jardim delicioso, no qual pôs o homem que ele formara. _ O Senhor Deus também fizera sair da terra toda espécie de árvores agradáveis à vista e cujos frutos eram agradáveis ao paladar e, no meio do paraíso, a árvore da vida, com a árvore da ciência do bem e do mal. (Ele fez sair, Jeová Eloim, da terra ("mim haadama") toda árvore agradável à vista e boa para comer-se e a árvore da vida ("vehetz hachayim") no meio do jardim e a árvore da ciência do bem e do mal).
15. O Senhor tomou, pois, o homem e o colocou no paraíso das delícias, a fim de que o cultivasse e guardasse. _ 16. Deu-lhe também esta ordem e lhe disse: Come de todas as árvores do paraíso. (Ele ordenou, Jeová Eloim, ao homem ("halhaadam") dizendo: De toda árvore do jardim podes comer). _ 17. Mas, não comas nunca o fruto da árvore da ciência do bem e do mal; portanto, logo que o comeres morrerás com toda a certeza. (E da árvore do bem e do mal "oumehetz hadaat tob vara") não comerás, pois que no dia em que dela comeres morrerás).
14. CAPÍTULO III _ 1. Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais que o Senhor Deus formara na Terra. E ela disse à mulher: Por que vos ordenou Deus que não comêsseis os frutos de todas as árvores do paraíso? (E a serpente ("nâhàsch") era mais astuta do que todos os animais terrestres que Jeová Eloim havia feito; ela disse à mulher ("el haischa"): Terá dito Eloim: Não comereis de nenhuma árvore do jardim?). 2. A mulher respondeu: Comemos dos frutos de todas as árvores que estão no paraíso. (Disse ela, a mulher, à serpente, do fruto ("miperi") das árvores do jardim podemos comer). _ 3. Mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do paraíso, Deus nos ordenou que não comêssemos dele e que não lhe tocássemos, para que não corramos o perigo de morrer. _ 4. A serpente replicou à mulher: Certamente não morrereis. _ 5. Mas, é que Deus sabe que, assim que houverdes comido desse fruto, vossos olhos se abrirão e sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal.
6. A mulher considerou, então, que o fruto daquela árvore era bom para comer; que era belo e agradável à vista. E, tomando dele, o comeu e o deu a seu marido, que também comeu. (Ela viu, a mulher, que ela era boa, a árvore como alimento, e que era desejável a árvore para compreender ("leaskil"), e tomou de seu fruto, etc.
8. E como ouvissem a voz do Senhor Deus, que passeava à tarde pelo jardim, quando sopra um vento brando, eles se retiraram para o meio das árvores do paraíso, a fim de se ocultarem de diante da sua face. _ 9. Então o Senhor Deus chamou Adão e lhe disse: Onde estás? _ 10. Adão lhe respondeu: Ouvi a tua voz no paraíso e tive medo, porque estava nu, essa a razão por que me escondi. _ 11. O Senhor lhe retrucou: E como soubeste que estavas nu, senão por que comeste o fruto da árvore da qual eu te proibi que comesses? _ 12. Adão lhe respondeu: A mulher que me deste por companheira me apresentou o fruto dessa árvore e eu dele comi. _ 13. O Senhor Deus disse à mulher: Por que fizeste isso? Ela respondeu: A serpente me enganou e eu comi desse fruto.
14. Então, o Senhor Deus disse à serpente: Por teres feito isso, serás maldita entre todos os animais e todas as bestas da terra; rojar-te-ás sobre o ventre e comerás a terra por todos os dias de tua vida. _ 15. Porei uma inimizade entre ti e a mulher, entre a sua raça e a tua. Ela te esmagará a cabeça e tu tentarás morder-lhe o calcanhar.
16. Deus disse também à mulher: Afligir-te-ei com muitos males durante a tua gravidez: darás à luz com dor; estarás sob a dominação de teu marido e ele te dominará.
17. Disse em seguida a Adão: Por haveres escutado a voz de tua mulher e haveres comido do fruto da árvore de que te proibi que comesses, a terra te será maldita por causa do que fizeste e só com muito trabalho tirarás dela com que te alimentes, durante toda a tua vida. _ 18. Ela te produzirá espinhos e sarças e te alimentarás com a erva da terra. _ 19. E comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra donde foste tirado, porque és pó e em pó te tornarás.
20. E Adão deu à sua mulher o nome de Eva, que significa a vida, porque ela era a mãe de todos os viventes.
21. O Senhor Deus também fez para Adão e sua mulher vestiduras de peles com que os cobriu.
22. E disse: Eis aí Adão feito um de nós, sabemos o bem e o mal. Impeçamos, pois, agora, que ele deite mão à árvore da vida, que também tome o seu fruto e que, comendo desse fruto, viva eternamente. (Ele disse, Jeová Eloim: Eis aí, o homem foi como um de nós para o conhecimento do bem e do mal; agora ele pode estender a mão e tomar da árvore do bem e do mal; agora ele pode estender a mão e tomar da árvore da vida ("veata pen ischlachyado velaakch mechetz hachanyim"); comerá dela e viverá eternamente).
(1) Paraíso, do latim "paradisus", do grego "paradeisos", jardim, vergel, lugar plantado de árvores. A palavra hebraica empregada na Gênese é "hagan", que tem a mesma significação.
Em seguida a alguns versículos damos a tradução literal do texto hebraico, o que torna mais fiel a explicação do pensamento primitivo. O sentido alegórico assim é ressaltado mais claramente.
O Paraíso Perdido
23. O Senhor Deus o fez sair do jardim de delícias, a fim de que fosse trabalhar no cultivo da terra donde ele fora tirado. _ 24. E, tendo-o expulsado, colocou querubins (1) diante do jardim de delícias, os quais faziam brilhar uma espada de fogo, para guardar o caminho que conduzia à árvore da vida.
(1) Do hebreu "cherub", "keroub", boi, "charab", lavrar; anjos do segundo coro da primeira hierarquia, os quais eram representados com quatro asas, quatro faces e pés de boi.
15. Sob uma imagem pueril e por vezes ridícula, se nos detivermos na forma, a alegoria esconde freqüentemente as maiores verdades. Haverá fábula mais absurda, à primeira vista, que a de Saturno, um deus que devorava pedras, tomando-as por seus filhos? Porém, ao mesmo tempo, que encontramos de mais profundamente filosófico e verdadeiro, que essa figura, se procurarmos seu sentido moral! Saturno é a personificação do tempo; sendo todas as coisas a obra do tempo, ele é o pai de tudo o que existe; mas também, tudo se destrói com o tempo. Saturno devorando as pedras é o emblema da destruição, pelo tempo dos corpos os mais duros que são seus filhos, pois que eles se formaram com o tempo. E quem escapa a essa destruição, segundo a mesma alegoria? Júpiter, o emblema da inteligência superior, do princípio espiritual que é indestrutível. Essa imagem é mesmo tão natural, que, na linguagem moderna, sem alusão à Fábula antiga, se diz de uma coisa deteriorada, que ela foi devorada pelo tempo, derruída, devastada pelo tempo.
Toda a mitologia pagã, na realidade, não passa de um vasto quadro alegórico dos diversos lados bons e maus da humanidade. Para os que procuram seu espírito, é um curso completo da mais alta filosofia tal como sucede com nossas fábulas modernas. O absurdo seria tomar a forma pelo fundo.
16. O mesmo sucede com a Gênese, onde é preciso enxergar as grandes verdades morais sob figuras materiais, as quais, tomadas ao pé da letra, seriam tão absurdas, como em nossas fábulas, se tomássemos ao pé da letra as cenas e os diálogos atribuídos aos animais.
Adão é a personificação da humanidade; sua falta individualiza a fraqueza do homem, no qual predominam os instintos materiais aos quais não sabe resistir. (1)
A árvore, como árvore da vida, é o emblema da vida espiritual; como árvore da ciência é a da consciência que o homem adquire, do bem e do mal, mediante o desenvolvimento de sua inteligência e do livre-arbítrio em virtude do qual ele escolhe entre os dois; marca o ponto em que a alma do homem, cessando de ser guiada somente por seus instintos, toma posse de sua liberdade e incorre na responsabilidade de seus atos.
O fruto da árvore é o emblema do objetivo dos desejos materiais do homem; é a alegoria da cobiça e da concupiscência; resume sob uma mesma imagem os motivos de arrastamento ao mal; comer o fruto é sucumbir à tentação. Ele cresce no meio do jardim das delícias para mostrar que a sedução está no meio dos prazeres, e fazer lembrar que se o homem concede preponderância aos gozos materiais, prende-se à terra e afasta-se de seu destino espiritual. (2)
A morte da qual foi ameaçado, para o caso de que ele afrontasse a proibição que lhe era feita, é uma advertência para as conseqüências inevitáveis, físicas e morais, que decorrem da violação das leis divinas que Deus gravou em sua consciência. É bem evidente que aqui não se trata da morte corporal, pois, que, depois de sua falta, Adão viveu ainda por muito tempo, mas sim da morte espiritual, ou em outras palavras, da perda dos bens que resultam do progresso moral, perda cuja expulsão do jardim de delícias é a imagem.
(1) Hoje é bem reconhecido que a palavra hebraica "haadam" não é um nome próprio, e que seu significado é: "o homem em geral, a humanidade", o que destrói toda a estrutura erguida sobre a personalidade de Adão.
(2) Em nenhum texto, o fruto é indicado como "a maçã"; esta palavra só se encontra nas versões infantis. A palavra do texto hebreu é "peri", que tem os mesmos significados que em francês, sem especificação da espécie, e talvez possa ser tomado no sentido material, moral, alegórico, em sentido próprio e figurado. Entre os Israelitas, não há interpretação obrigatória; quando uma palavra tem diversas significações, cada um a compreende como quiser, desde que a interpretação não seja contrária à gramática. A palavra "peri" tem sido traduzida pelo latim "matum", que se refere à maçã e a todas as espécies de frutos. É derivado do grego "mélon", particípio do verbo "mélo", interessar, tomar cuidado, atrair.


O Paraíso Perdido
17. Hoje, a serpente muito se distancia de personificar a astúcia; ela entra nesta narrativa, em relação à sua forma, mais do que a seu caráter; é uma alusão à perfídia dos maus conselhos que deslizam como a serpente, e dos quais, por esta razão, freqüentemente não desconfiamos. Ao demais, se a serpente, por haver enganado a mulher, foi condenada a arrastar-se sobre seu ventre, isso poderia significar que antes possuía pernas, e neste caso não se trataria de uma serpente. Por que, pois, impor à credulidade singela das crianças, como verdades, alegorias tão evidentes se, falseando suas apreciações, mais tarde se faz com que considerem a Bíblia como um tecido de fábulas absurdas?
Ademais, é preciso notar que a palavra hebraica "nâhâsch" traduzida pela palavra serpente, provém da radical "nâhâsch" que significa: fazer encantamentos, adivinhar as coisas escondidas, e pode significar: encantador, adivinho. Ela é encontrada com essa significação, no Gênesis, cap. XLIV, versículos 5 e 15, a propósito da taça que José fez esconder no saco de viagem de Benjamin: "A taça que haveis roubado é aquela na qual meu Senhor bebeu, e da qual ele se serve para adivinhar (nâhâsch (1)). _ Ignorais que não há ninguém que me iguale na ciência de adivinhar? (nâhâsch)" _ No Livro dos Números, Cap. XXIII, vers. 23: "Não há encantamentos (nâhâsch) em Jacó, nem adivinhos em Israel." Por conseguinte, a palavra nâhâsch tomou também o significado de serpente, réptil do qual os encantadores se serviam em seus ritos. Não é senão na versão dos Setenta, que a palavra "nâhâsch" foi traduzida por serpente; essa versão, segundo Hutcheson, apresenta o texto hebreu corrompido em muitas passagens: foi escrita em grego no II século antes da era cristã. As inexatidões dessa versão, sem dúvida, são relativas às modificações que a língua hebraica sofreu em tal lapso de tempo; pois o hebraico do tempo de Moisés já era então língua morta, que diferia do hebraico vulgar tanto quanto o grego antigo e o árabe literário do grego e do árabe moderno. (2).
É provável, pois, que Moisés tenha entendido, por sedutor da mulher, o desejo indiscreto de conhecer as coisas escondidas, suscitado pelo Espírito de adivinhação, o que está de acordo com o sentido primitivo da palavra "nâhâsch", adivinhar; e, por outro lado, com essas palavras: "Deus sabe que depois de comerdes deste fruto, vossos olhos serão abertos, e vós sereis como deuses. _ Ela viu, a mulher, que a árvore era desejável para compreender (léaskil), e ela tomou de seu fruto. "Não se deve esquecer que Moisés queria proibir, de entre os hebreus, a arte da adivinhação, usada entre os egípcios, como o prova sua proibição de interrogar os mortos, e o Espírito de Piton ("O Céu e o Inferno", segundo o Espiritismo, cap. XII).
18. A passagem onde se diz que: "O Senhor passeava pelo paraíso, depois do meio-dia, quando se elevava um vento brando, "é uma imagem ingênua e quase pueril, que a crítica não deixou de assinalar; mas nada tem que deva causar surpresa, se nos reportarmos à idéia que os hebreus dos tempos primitivos faziam da Divindade. Para essas inteligências frustradas, incapazes de conceber abstrações, Deus deveria revestir uma forma concreta e eles a relacionavam à humanidade como ao único ponto conhecido. Moisés lhes falava como a crianças por imagens sensíveis. No caso de que se trata, era a potência soberana personificada, como os pagãos o faziam, sob figuras alegóricas, com as virtudes, os vícios e as idéias abstratas. Mais tarde, os homens despojaram a idéia da forma, tal como o menino, tornado adulto, procura o senso moral nos contos que ouviu desde o berço. Portanto, é preciso considerar essa passagem como uma alegoria da Divindade supervisando ela mesma os objetos de sua criação. O grande rabino Wogue, assim o traduziu: "Ouviram a voz do Eterno Deus, percorrendo o jardim, do lado de onde vem o dia."
19. Se a falta de Adão fosse literalmente a de haver comido um fruto, ela não poderia, por sua natureza quase pueril, justificar o rigor com que foi atingida. Não se poderia tampouco admitir que o fato fosse aquele que geralmente se supõe; a menos que Deus, considerando tal fato como um crime irremissível, houvesse condenado a sua própria obra, pois que ele havia criado o homem para a propagação da espécie. Se Adão houvesse entendido assim a proibição de tocar no fruto da árvore e com ela se houvesse conformado escrupulosamente, onde estaria a Humanidade e que teria sido feito dos desígnios do Criador?
Deus não criara Adão e Eva para que permanecessem sós na Terra; e a prova está nas palavras que lhe são dirigidas imediatamente após sua formação, ainda quando estavam no paraíso terrestre:
"Deus os abençoou e lhes disse: Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a." (Cap. I, vers. 28). Pois que a multiplicação do homem era uma lei, desde o paraíso terrestre, sua expulsão não pode ter como causa o fato suposto.
O que deu crédito a essa suposição, é o sentimento de vergonha do qual Adão e Eva se sentiram tomados à vista de Deus, e que os levou a se esconderem. Porém essa mesma vergonha é uma figura de comparação: ela simboliza a confusão que todo culpado experimenta na presença daquele a quem ofendeu.
(1) Isso demonstraria que a mediunidade pelo copo d'água seria conhecida pelos egípcios? (Revue Spirite, junho de 1868, pág. 161).
(2) A palavra "nâhâsch" existia na língua egípcia, com o significado de negro, provavelmente porque os negros tinham o dom do encantamento e da adivinhação. É talvez por isso que as esfinges, de origem assíria, eram representadas com uma figura de negro.
O Paraíso Perdido
20. Qual é, pois, em definitivo, essa falta tão grande que pode atingir com a reprovação perpétua todos os descendentes daquele que a cometeu? Caim, o fratricida, não foi tratado tão severamente. Nenhum teólogo pode defini-la logicamente, pois todos, não abandonando a letra giraram num círculo vicioso.
Hoje, sabemos que tal falta não é um ato isolado, pessoal, de um indivíduo, mas encerra, sob um fato único, alegórico, o conjunto das prevaricações das quais se tornou culpada a humanidade ainda imperfeita da Terra e que se resumem nessas palavras: infração à lei de Deus. Eis porque a falta do primeiro homem, simbolizando a humanidade, é figurada por um ato de desobediência.
21. Ao dizer a Adão que tirará seu sustento da terra, com o suor do seu rosto, Deus simboliza a obrigação do trabalho; porém, por que faz do trabalho uma punição? Que seria da inteligência do homem, se ele não a desenvolvesse pelo trabalho? Que seria da terra, se não fosse fecundada, transformada, amainada pelo trabalho inteligente do homem?
Está dito: (Cap. II, vers. 5 e 7) "O Senhor Deus ainda não havia feito chover sobre a terra, e não havia ainda o homem para a trabalhar. O Senhor formou o homem com o limo da terra." Tais palavras, juntadas a estas: Enchei a terra, provam que o homem era, desde a sua origem, desti nado a ocupar toda a terra e a cultivá-la; e, por outro lado, que o paraíso não era um lugar circunscrito a um canto do globo. Se a cultura da terra devia ser uma conseqüência da falta de Adão, daí teria resultado que, se Adão não houvesse pecado, a terra teria ficado inculta, e as finalidades de Deus não se haveriam cumprido.
Por que diz ele à mulher que, devido a ela haver cometido a falta, daria à luz com dores? Como pode a dor do parto ser para ela um castigo, pois é uma conseqüência do organismo, e que tem sido provado fisiologicamente que ela é necessária? Como uma coisa que é segundo as leis da Natureza, pode ser uma punição? Isso os teólogos ainda não explicaram, e não poderão fazê-lo enquanto não saírem do ponto de vista em que se colocaram; e todavia essas palavras, que parecem ser tão contraditórias, podem ser justificadas.
22. Para iniciar, observemos que, se no momento da criação de Adão e Eva, sua alma tivesse sido tirada do nada, como alguns ensinam, deviam ser leigos em todas as coisas; não deviam saber o que é morrer. Desde que fossem os únicos sobre a Terra, enquanto viveram no paraíso terrestre, não tinham visto ninguém morrer; como, pois, teriam podido compreender em que consistia a ameaça de morte que Deus lhes fazia? Como teria Eva podido compreender que dar à luz com dor seria uma punição, pois, que, acabando de nascer para a vida, ela jamais tinha tido filhos, tanto mais que era a única mulher do mundo?
As palavras de Deus, pois, nenhum sentido deveriam ter para Adão e Eva. Apenas tirados do nada, não podiam saber, nem porque, nem como haviam saído dali; não deviam entender o Criador, nem a finalidade da proibição que lhes era feita. Sem nenhuma experiência das condições da vida, pecaram como crianças que agem sem discernimento, o que torna mais incompreensível ainda a terrível responsabilidade que Deus fez pesar sobre eles e sobre a humanidade inteira.
23. Aquilo que é um impasse para a teologia, o Espiritismo explica sem dificuldade, e de maneira racional, pela anterioridade da alma e a pluralidade das existências, lei sem a qual tudo é mistério e anomalia na vida do homem.
Com efeito, admitamos que Adão e Eva já houvessem vivido, e tudo se encontra justificado: Deus não lhes fala como a meninos, mas sim como a seres em estado de compreender,e que o compreendem, prova evidente de que têm uma aquisição anterior de conhecimento. Admitamos, ademais, que hajam vivido num mundo mais adiantado e menos material que o nosso, onde o trabalho do Espírito supria o trabalho do corpo; que por sua rebelião à lei de Deus, figurada pela desobediência, houvessem sido excluídos e exilados como punição sobre a Terra, onde o homem, por força da natureza do globo, está adstrito a um trabalho corporal; Deus teria razão em lhes dizer: "cultivareis a terra e dela tirareis vosso sustento, com o suor de vosso rosto;" e à mulher: "Dareis à luz com dor", pois esta é a condição deste mundo. (Cap. XI, ns. 31 e seguintes).
O paraíso terrestre, de que inutilmente se procuraram os traços sobre a Terra, era pois a figura do mundo feliz onde Adão havia vivido, ou antes, a raça dos Espíritos que ele personifica. A expulsão do paraíso marca o momento no qual tais Espíritos vieram encarnar-se entre os habitantes deste mundo, e a mudança de situação que daí decorreu. O anjo armado com espada flamejante, que defende a entrada do paraíso, simboliza a impossibilidade em que se encontram os Espíritos dos mundos inferiores de penetrar nos mundos superiores antes de o haver merecido, através de sua purificação. (Ver Cap. XIV, ns. 8 e seguintes).
24. Caim, (depois da morte de Abel) respondeu ao Senhor: _ Minha iniqüidade é demasiado grande para que eu possa obter perdão. Vós me expulsais hoje de cima da Terra, e eu me irei ocultar da vossa face. Irei fugitivo e vagabundo sobre a Terra, até que me encontre alguém que me mate. _ O Senhor lhe respondeu: _ Não, isto não acontecerá, pois quem quer que mate Caim, será por isso punido severamente. _ E o Senhor colocou um sinal sobre Caim, para que os que o encontrassem não o matassem.
Caim, tendo se retirado da face do Senhor, foi vagabundear sobre a Terra, e habitou a região oriental do Éden. Aí conheceu sua mulher; ela concebeu e deu à luz Enoque. Ele construiu ("vaïehi bônê", literalmente: ele estava construindo) uma cidade que denominou Henoch (Enoquia) do nome de seu filho. (Cap. IV, vers. 13 a 16).
25. Se nos prendermos à letra da Gênese, eis a que conseqüências chegamos: Adão e Eva estavam sozinhos no mundo após sua expulsão do paraíso terrestre; não foi senão depois que tiveram filhos, Caim e Abel. Ora, Caim tendo morto seu irmão e se retirado para outra região, não tornou a ver mais seu pai e sua mãe, os quais de novo ficaram sozinhos; não foi senão muito tempo depois, com a idade
de cento e trinta anos, que Adão teve um terceiro filho, chamado Seth. Depois do nascimento de Seth, viveu ainda, segundo a genealogia bíblica, oitocentos anos, e teve filhos e filhas.
Quando Caim veio se estabelecer no oriente do Éden, não havia na Terra senão três pessoas: seu pai e sua mãe, e de seu lado, ele sozinho. Entretanto, teve mulher e filho; quem poderia ser essa mulher, e onde poderia ele tê-la tomado? O texto hebreu diz: estava construindo uma cidade, e não, construiu, o que indica uma ação presente e não ulterior; porém uma cidade supõe habitantes, pois não é de se presumir que Caim a fizesse para si, sua mulher e seu filho, nem que ele a pudesse construir sozinho.
É, pois, forçoso inferir-se de tal relato, que a região era povoada; ora, não podia ser pelos descendentes de Adão, dos quais não havia outro senão Caim.
A presença de outros habitantes ressalta igualmente dessas palavras de Caim: "Serei fugitivo e vagabundo, e quem quer que me encontre me matará", e da resposta que Deus lhe deu. Por quem ele temeria ser morto, e qual seria o efeito do sinal que Deus colocou sobre ele, se não devesse encontrar ninguém? Se, pois, havia sobre a Terra outros homens além da família de Adão, é que ali já estavam antes dele; do que se conclui, com os elementos do próprio texto da Gênese, que Adão não é o primeiro, nem o único pai do gênero humano. (Cap. XI, nº 34). (1)
26. Para lançar luz sobre todas as partes da Gênese espiritual, foram necessários os conhecimentos que o Espiritismo trouxe, demonstrando as relações entre o princípio espiritual e o princípio material, a natureza da alma, sua criação no estado de simplicidade e ignorância, sua união com o corpo, sua marcha progressiva indefinida através de existências sucessivas, e através de mundos que são outros tantos degraus na via do aperfeiçoamento, seu gradual livramento da influência da matéria mediante o uso de seu livre-arbítrio, a causa de suas inclinações boas ou más, assim como de suas aptidões, o fenômeno do nascimento e da morte, o estado do Espírito na erraticidade, enfim, o futuro que é o prêmio de seus esforços para sua melhoria e de sua perseverança no bem.
Graças a esta luz, o homem sabe doravante de onde vem, para onde vai, porque está sobre a Terra e porque sofre; sabe que seu futuro está entre suas mãos, e que a duração de seu cativeiro aqui embaixo depende dele. A Gênese, tirada da alegoria estreita e mesquinha, lhe aparece grande e digna da majestade, da bondade e da justiça do Criador. Considerada sob esse ponto de vista, a Gênese confundirá a incredulidade e a vencerá.
(1) Não é nova esta concepção. La Peyrére, sábio teólogo do século XVII, em seu livro "Preadamitas", escrito em latim e publicado em 1655, tirou do texto original da Bíblia, alterado pelas traduções, a prova clara de que a Terra era povoada antes de Adão. Esta é a opinião atual de muitos eclesiásticos esclarecidos.

Livro Genese / Allan Kardec

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Doutrina dos Anjos Decaídos e do Paraíso Perdido (1)__"...A raça adâmica tem todos os caracteres de uma raça proscrita; os Espíritos que dela fazem parte foram exilados sobre a Terra, já povoada porém por homens primitivos, mergulhados na ignorância, e que eles têm por missão fazer progredir, trazendo-lhes as luzes de uma inteligência desenvolvida. Não será esse, com efeito, o papel que esta raça tem executado, até hoje? Sua superioridade intelectual prova que o mundo de onde saíram era mais adiantado que a Terra; porém, devendo aquele mundo entrar numa nova fase de progresso, e esses Espíritos, por via de sua obstinação, não tendo sabido se colocar à altura desse progresso, ali estariam deslocados, e teriam sido um entrave à marcha providencial das coisas; é por isso que eles foram excluídos, enquanto que outros mereceram substituí-los...."

Subsídios de Estudo para questão 59 do Livro dos Espíritos:

Doutrina dos Anjos Decaídos e do Paraíso Perdido
(1)
43. Os mundos progridem fisicamente pela elaboração da matéria, e normalmente pela purificação dos Espíritos que o habitam. A felicidade existe nele, em razão da predominância do bem sobre o mal, e a predominância do bem é o resultado do progresso moral dos Espíritos. O progresso intelectual não basta, pois que com a inteligência, eles podem fazer o mal. Logo que um mundo alcança um dos seus períodos de transformação que o deve fazer galgar a hierarquia, operam-se mutações em sua população encarnada e desencarnada; é então que se realizam as grandes emigrações e imigrações (ns. 34, 35). Aqueles que, apesar de sua inteligência e de seu saber, perseveraram no mal, em sua revolta contra Deus e suas leis, seriam a partir de então um entrave ao progresso moral ulterior, uma causa permanente de dificuldades ao repouso e felicidade dos bons; é por isso que são excluídos e enviados a mundos menos adiantados; lá eles aplicarão sua inteligência e a intuição de seus conhecimentos adquiridos, ao progresso daqueles em cujo meio são chamados a viver, ao mesmo tempo que expiarão, numa série de existências penosas e através de um duro trabalho, suas faltas passadas e seu endurecimento voluntário.
Que serão eles, no meio de tais povos, novos para eles, ainda na infância da barbárie, senão anjos ou Espíritos decaídos, enviados em expiação? A Terra da qual serão expulsos não será para eles um paraíso perdido? Ela não era, para esses degredados, um lugar de delícias, em comparação com o meio ingrato onde vão se encontrar relegados, durante milhares de séculos, até o dia em que terão merecido sua libertação? A vaga recordação intuitiva que conservarão, é para eles como uma miragem longínqua que os faz lembrar aquilo que perderam por sua falta.
44. Porém ao mesmo tempo que os maus partem do mundo que habitavam, são substituídos por Espíritos melhores, vindos talvez da erraticidade desse mesmo mundo ou de um mundo menos adiantado que deixaram por merecimento, e para os quais sua nova residência é uma recompensa. A população espiritual sendo assim renovada e purgada de seus piores elementos, no fim de algum tempo fará com que o estado moral do mundo se encontre melhorado.
Estas mudanças são algumas vezes parciais, isto é, limitadas a um povo, a uma raça; outras vezes, são gerais, quando o período de renovação chegou para o globo.
45. A raça adâmica tem todos os caracteres de uma raça proscrita; os Espíritos que dela fazem parte foram exilados sobre a Terra, já povoada porém por homens primitivos, mergulhados na ignorância, e que eles têm por missão fazer progredir, trazendo-lhes as luzes de uma inteligência desenvolvida. Não será esse, com efeito, o papel que esta raça tem executado, até hoje? Sua superioridade intelectual prova que o mundo de onde saíram era mais adiantado que a Terra; porém, devendo aquele mundo entrar numa nova fase de progresso, e esses Espíritos, por via de sua obstinação, não tendo sabido se colocar à altura desse progresso, ali estariam deslocados, e teriam sido um entrave à marcha providencial das coisas; é por isso que eles foram excluídos, enquanto que outros mereceram substituí-los.
Ao relegar essa raça sobre esta terra de labores e de sofrimentos, Deus teve razão de lhes dizer: "Tirarás teu alimento com o suor de teu rosto." Em sua mansuetude, prometeu-lhe que enviaria o Salvador, isto é, aquele que deveria clarear seu caminho pelo qual sairia deste lugar de misérias, deste inferno, e chegaria à felicidade dos eleitos. Este Salvador, ele o enviou na pessoa do Cristo, que ensinou a lei de amor e de caridade, desconhecida deles, e que devia ser a verdadeira âncora de salvação.
É igualmente com a finalidade de fazer progredir a humanidade num sentido determinado, que os Espíritos superiores, sem ter as qualidades do Cristo, se encarnam de tempos a tempos sobre a Terra, para ali realizar missões especiais que ao mesmo tempo resultam em seu progresso pessoal, se eles as executarem segundo as finalidades do Criador.
46. Sem a reencarnação, a missão do Cristo seria um contra-senso, assim como a promessa feita por Deus. Suponhamos, com efeito, que a alma de cada homem seja criada com o nascimento de seu corpo, e que ela nada faça senão aparecer e desaparecer sobre a Terra; não há nenhuma relação entre as que vieram desde Adão, até Jesus Cristo, nem entre aquelas que vieram depois; serão todas estranhas umas às outras. A promessa de um Salvador feita por Deus não poderia se aplicar aos descendentes de Adão, se suas almas não tivessem ainda sido criadas. Para que a missão do Cristo pudesse ligar-se às palavras de Deus, era preciso que tais palavras pudessem se aplicar às mesmas almas. Se essas almas forem novas, não podem ser manchadas pela falta do primeiro pai, o qual nada mais é senão o pai carnal, e não o pai espiritual; por outro modo Deus teria criado almas manchadas por uma falta que não podia recair sobre elas, pois ainda não existiam. A doutrina vulgar do pecado original implica, pois, a necessidade de uma relação entre as almas do tempo do Cristo com as do tempo de Adão, e por conseguinte, a reencarnação. Admiti que todas essas almas faziam parte da colônia de Espíritos exilados sobre a Terra no tempo de Adão, e que elas eram manchadas por vícios que as haviam excluído de um mundo melhor, e tereis a única interpretação racional do pecado original, pecado próprio de cada indivíduo, e não o resultado da responsabilidade da falta de outrem, que ele jamais terá conhecido; dizer que essas almas ou Espíritos renascem por diversas vezes sobre a Terra, na vida corporal, para progredir e se purificar; que o Cristo veio iluminar essas mesmas almas não somente por suas vidas passadas, mas também por suas vidas ulteriores, e somente assim vós dareis à sua missão uma finalidade real e séria, aceitável pela razão.
47. Um exemplo familiar, chocante por sua analogia, fará compreender melhor ainda os princípios que acabam de ser expostos:
A 24 de maio de 1861, a fragata Ifigênia chegou à Nova Caledônia trazendo uma companhia disciplinar composta de 191 homens. À sua chegada, o comandante da colônia lhes dirigiu uma ordem do dia assim concebida:
"Ao pordes os pés nesta terra longínqua, já sem dúvida compreendestes o papel que vos é reservado.
"A exemplo dos bravos soldados da marinha que servem sob vossas vistas, vós nos ajudareis a levar com brilho a bandeira da civilização, no meio das tribos selvagens da Nova Caledônia. Não é esta uma bela e nobre missão? À vós dirijo esta pergunta. Vós a preenchereis dignamente.
"Escutai a voz e os conselhos de vossos chefes. Estou à frente deles; que minhas palavras sejam bem compreendidas.
"A escolha de vosso comandante, de vossos oficiais, de vossos sub-oficiais e cabos é uma segura garantia de todos os esforços que serão tentados para fazer de vós, excelentes soldados; digo mais, para vos educar à altura de bons cidadãos e vos transformar em colonos honrados, se assim o quiserdes.
"Vossa disciplina é severa; ela assim deve ser. Colocada em nossas mãos, ela será firme e inflexível, sabei-o bem; igualmente, será justa e paternal, saberá distinguir o erro do vício e da degradação..."
Eis, pois, homens expulsos, por sua má conduta, de um país civilizado, e enviados, como castigo, a um país bárbaro.
(1) Quando, na "Revue Spirite", de janeiro de 1862, publicamos um artigo sobre a interpretação da doutrina dos anjos decaídos, não havíamos apresentado aquela teoria senão como uma hipótese, sem outra autoridade senão a de uma opinião pessoalmente controvertível, pois que, na época, nos faltavam elementos bastante completos para uma afirmação absoluta; nós a publicamos a título de ensaio, com a finalidade de provocar o exame do assunto, bem determinados a abandoná-lo ou a modificá-lo se para tal houvesse lugar. Hoje, essa teoria sofreu a prova do controle universal; não somente ela foi acolhida pela grande maioria dos Espíritos como a mais racional e a mais conforme à soberana justiça de Deus, como também ela foi confirmada pela generalidade das instruções dadas pelos Espíritos acerca do assunto. O mesmo sucedeu no que diz respeito à origem da raça adâmica.
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A Genese / Allan Kardec

Raça Adâmica."Segundo o ensino dos Espíritos, é uma dessas grandes imigrações, ou se assim o quisermos, uma dessas colônias de Espíritos, vindos de outra esfera, que deu nascimento à raça simbolizada na pessoa de Adão, a qual por essa razão é denominada raça adâmica..." , "...A doutrina que faz originar todo o gênero humano de uma só individualidade, após seis mil anos, não é admissível no estado atual dos conhecimentos. As principais considerações que a contradizem, deduzidas da ordem física e da ordem moral, se resumem nos pontos seguintes..."

Subsídios de Estudos da questão 49

Raça Adâmica

38. Segundo o ensino dos Espíritos, é uma dessas grandes imigrações, ou se assim o quisermos, uma dessas colônias de Espíritos, vindos de outra esfera, que deu nascimento à raça simbolizada na pessoa de Adão, a qual por essa razão é denominada raça adâmica. Quando ela aqui chegou, a Terra era povoada desde tempos imemoriais, como a América o era quando para ali foram os europeus.
A raça adâmica, mais adiantada que as que haviam precedido na Terra, é com efeito a mais inteligente; é ela que empurra todas as outras em direção ao progresso. A Gênese no-la mostra, desde seus primórdios, industriosa, apta às artes e às ciências, sem ter passado pela infância intelectual, o que não é próprio das raças primitivas, mas que concorda com a opinião de que ela se compunha de Espíritos que já haviam progredido. Tudo prova que ela não é antiga na Terra, e nada se opõe a que ela não tenha, aqui, senão alguns milhares de anos, o que não estaria em contradição nem com os fatos geológicos, nem com as observações antropológicas e tenderia, ao contrário, a confirmá-las.
39. A doutrina que faz originar todo o gênero humano de uma só individualidade, após seis mil anos, não é admissível no estado atual dos conhecimentos. As principais considerações que a contradizem, deduzidas da ordem física e da ordem moral, se resumem nos pontos seguintes.
Do ponto de vista fisiológico, certas raças apresentam tipos particulares característicos, que não permitem, atribuir-lhes uma origem comum. Há diferenças que não são evidentemente o efeito do clima, pois que os brancos se reproduzem no país dos negros sem se tornarem negros e reciprocamente. O ardor do sol tosta e escurece a epiderme, porém jamais transformou um branco num negro, nem lhe achatou o nariz, nem mudou a forma dos traços da fisionomia, nem tornou encarapinhados e lanosos, os cabelos compridos e sedosos. Hoje se sabe que a cor do negro provém de um tecido particular subcutâneo, distintivo dessa raça.
Por isso, é preciso considerar as raças negras, mongólicas, caucásicas, como tendo sua origem própria, tendo nascido simultaneamente ou sucessivamente em diferentes partes do globo; seus cruzamentos deram origem às raças mistas secundárias. Os caracteres fisiológicos das raças primitivas são o índice evidente de que elas provêm de tipos especiais. As mesmas considerações existem, pois, para o homem como para os animais, quanto à pluralidade das origens ou troncos. (Cap. X, nº 2 e segs.).
40. Adão e seus descendentes são representados na Gênese como homens essencialmente inteligentes, pois, que,desde sua segunda geração, constróem cidades, cultivam a terra, trabalham os metais. Seus progressos nas artes e nas ciências são rápidos e duradouros. Não se conceberia que tivessem, como descendentes, povos tão numerosos e tão atrasados, de inteligência tão rudimentar, que ainda em nossos dias ombreiam com a animalidade; que teriam perdido todos os traços e até a menor recordação tradicional daquilo que seus pais faziam. Uma diferença tão radical nas aptidões intelectuais e no desenvolvimento moral atestam, com não menos evidência, uma diferença de origem.
41. Independentemente dos fatos geológicos, a prova da existência do homem sobre a Terra antes da época fixada pela Gênese é tirada da população do globo.
Sem falar da cronologia chinesa, que remonta, segundo se diz, a trinta mil anos, documentos mais autênticos atestam que o Egito, a Índia e outros países eram povoados e florescentes, pelo menos três mil anos antes da era cristã; mil anos, portanto, depois da criação do primeiro homem, segundo a cronologia bíblica. Documentos e observações recentes não deixam nenhuma dúvida hoje sobre as correlações existentes entre a América e os antigos Egípcios; de onde é forçoso concluir que essas regiões já eram povoadas em tal época. Seria pois necessário admitir-se que em mil anos a posteridade de um só homem tivesse podido cobrir a maior parte da Terra; ora, uma tal fecundidade seria contrária a todas as leis antropológicas. (1)
42. A impossibilidade torna-se ainda mais evidente, se admitirmos com a Gênese, que o dilúvio destruiu todo o gênero humano, exceto Noé e sua família, a qual não era numerosa, no ano de 1656 do mundo, ou seja, 2344 anos antes da era cristã. Em realidade, pois, daquele patriarca é que dataria o povoamento do globo; ora, quando os hebreus se estabeleceram no Egito, 612 anos depois do dilúvio, já o Egito era um poderoso império que teria sido povoado, sem falar de outras regiões, pelo menos há seis séculos, pelos próprios descendentes de Noé _ o que não é admissível.
De passagem, observemos que os egípcios acolheram os hebreus como estrangeiros; seria de admirar que eles tivessem perdido a recordação de uma comunidade de origem tão próxima, quando conservaram religiosamente os monumentos de sua história.
Uma lógica rigorosa, corroborada pelos fatos, demonstra, pois, da maneira mais peremptória que o homem está sobre a Terra desde um tempo indeterminado, bem anterior à época indicada pelo Gênesis. Há, da mesma forma, uma diversidade de origens primitivas; pois, demonstrar a impossibilidade de uma proposição, é demonstrar a possibilidade contrária. Se a geologia descobrir traços autênticos da presença do homem antes do grande período diluviano, a demonstração será ainda mais absoluta.
(1) A exposição Universal de 1867 apresentou antigüidades do México, as quais não deixam nenhuma dúvida sobre as relações que os povos desse país tiveram com os antigos Egípcios. Leon Mechedin, numa notícia afixada no templo mexicano da Exposição, assim se exprimia: "É conveniente não publicar antes do tempo oportuno, as descobertas feitas, do ponto de vista da história dos homens, pela recente expedição científica do México; todavia, nada se opõe a que o público saiba, desde já, que a exploração feita assinalou a existência de um grande número de cidades apagadas pelo tempo, mas que a picareta e o incêndio podem tirar de sua mortalha. A escavações descobriram, por toda parte, três camadas de civilização que pareciam dar ao mundo americano uma antigüidade fabulosa."
É assim que, a cada dia, a ciência vem dar do desmentido dos fatos à doutrina que limita a 6000 anos a aparição do homem sobre a Terra, e pretende fazê-lo descender de uma única origem ou tronco.
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A Genese
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Cap. 3 A Raça Adâmica do Livro  A Caminho da Luz por Emmanuel
As raças adâmicas
O SISTEMA DE CAPELA
Nos mapas zodiacais, que os astrônomos terrestres compulsam em
seus estudos, observa-se desenhada uma grande estrela na Constelação
do Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela. Magnífico
sol entre os astros que nos são mais vizinhos, ela, na sua trajetória pelo
Infinito, faz-se acompanhar, igualmente, da sua família de mundos,
cantando as glórias divinas do Ilimitado. A sua luz gasta cerca de 42 anos
para chegar à face da Terra, considerando-se, desse modo, a regular
distância existente entre a Capela e o nosso planeta, já que a luz percorre
o espaço com a
34
EMMANUEL
velocidade aproximada de 300.000 quilômetros por segundo.
Quase todos os mundos que lhe são dependentes já se purificaram
física e moralmente, examinadas as condições de atraso moral da Terra,
onde o homem se reconforta com as vísceras dos seus irmãos inferiores,
como nas eras pré-históricas de sua existência, marcham uns contra os
outros ao som de hinos guerreiros, desconhecendo os mais comezinhos
princípios de fraternidade e pouco realizando em favor da extinção do
egoísmo, da vaidade, do seu infeliz orgulho.
UM MUNDO EM TRANSIÇÕES
Há muitos milênios, um dos orbes da Capela, que guarda muitas
afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus
extraordinários ciclos evolutivos.
As lutas finais de um longo aperfeiçoamento estavam delineadas,
como ora acontece convosco, relativamente às transições esperadas no
século XX, neste crepúsculo de civilização.
Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da
evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas
daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de
saneamento geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à
concórdia perpétua, para a edificação dos seus elevados trabalhos
As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos,
deliberam, então, localizar
35
A CAMINHO DA LUZ
aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra
longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do
seu ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionando,
simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores.
ESPÍRITOS EXILADOS NA TERRA
Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de
justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes.
Com a sua palavra sábia e compassiva, exortou essas almas
desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos deveres
de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas.
Mostrou-lhes os campos imensos de luta que se desdobravam na Terra,
envolvendo-as no halo bendito da sua misericórdia e da sua caridade sem
limites. Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os
sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração
cotidiana e a sua vinda no porvir.
Aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo
um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na
prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre;
andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura;
reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o
paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos não veriam
a suave luz da Capela, mas
36
EMMANUEL
trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa
misericórdia.
FIXAÇÃO DOS CARACTERES RACIAIS
Com o auxílio desses Espíritos degredados, naquelas eras
remotíssimas, as falanges do Cristo operavam ainda as últimas
experiências sobre os fluidos renovadores da vida, aperfeiçoando os
caracteres biológicos das raças humanas. A Natureza ainda era, para os
trabalhadores da espiritualidade, um campo vasto de experiências
infinitas; tanto assim que, se as observações do mendelismo fossem
transferidas àqueles milênios distantes, não se encontraria nenhuma
equação definitiva nos seus estudos de biologia. A moderna genética não
poderia fixar, como hoje, as expressões dos "genes", porquanto, no
laboratório das forças invisíveis, as células ainda sofriam longos
processos de acrisolamento, imprimindo-se-lhes elementos de astralidade,
consolidando-se-lhes as expressões definitivas, com vistas às
organizações do porvir.
Se a gênese do planeta se processara com a cooperação dos
milênios, a gênese das raças humanas requeria a contribuição do tempo,
até que se abandonasse a penosa e longa tarefa da sua fixação.
ORIGEM DAS RAÇAS BRANCAS
Aquelas almas aflitas e atormentadas reencarnaram,
proporcionalmente, nas regiões mais importantes, onde se haviam
localizado as tri37
A CAMINHO DA LUZ
bos e famílias primitivas, descendentes dos "primatas", a que nos
referimos ainda há pouco. Com a sua reencarnação no mundo terreno,
estabeleciam-se fatores definitivos na história etnológica dos seres.
Um grande acontecimento se verificara no planeta
É que, com essas entidades, nasceram no orbe os ascendentes das
raças brancas.
Em sua maioria, estabeleceram-se na Ásia, de onde atravessaram o
istmo de Suez para a África, na região do Egito, encaminhando-se
igualmente para a longínqua Atlântida, de que várias regiões da América
guardam assinalados vestígios.
Não obstante as lições recebidas da palavra sábia e mansa do
Cristo, os homens brancos olvidaram os seus sagrados compromissos.
Grande percentagem daqueles Espíritos rebeldes, com muitas
exceções, só puderam voltar ao país da luz e da verdade depois de muitos
séculos de sofrimentos expiatórios; outros, porém, infelizes e retrógrados,
permanecem ainda na Terra, nos dias que correm, contrariando a regra
geral, em virtude do seu elevado passivo de débitos clamorosos.
QUATRO GRANDES POVOS
As raças adâmicas guardavam vaga lembrança da sua situação
pregressa, tecendo o hino sagrado das reminiscências.
As tradições do paraíso perdido passaram de gerações a gerações,
até que ficassem arquivadas nas páginas da Bíblia.
38
EMMANUEL
Aqueles seres decaídos e degradados, a maneira de suas vidas
passadas no mundo distante da Capela, com o transcurso dos anos
reuniram-se em quatro grandes grupos que se fixaram depois nos povos
mais antigos, obedecendo às afinidades sentimentais e lingüísticas que os
associavam na constelação do Cocheiro. Unidos, novamente, na esteira do
Tempo, formaram desse modo o grupo dos árias, a civilização do Egito, o
povo de Israel e as castas da Índia.
Dos árias descende a maioria dos povos brancos da família indoeuropéia
nessa descendência, porém, é necessário incluir os latinos, os
celtas e os gregos, além dos germanos e dos eslavos.
As quatro grandes massas de degredados formaram os pródromos
de toda a organização das civilizações futuras, introduzindo os mais largos
benefícios no seio da raça amarela e da raça negra, que já existiam.
É de grande interesse o estudo de sua movimentação no curso da
História. Através dessa análise, é possível examinarem-se os defeitos e
virtudes que trouxeram do seu paraíso longínquo, bem como os
antagonismos e idiossincrasias peculiares a cada qual.
AS PROMESSAS DO CRISTO
Tendo ouvido a palavra do Divino Mestre antes de se estabelecerem
no mundo, as raças adâmicas, nos seus grupos insulados, guardaram a
reminiscência das promessas do Cristo, que, por sua vez, as fortaleceu no
seio das mas39
A CAMINHO DA LUZ
sas, enviando-lhes periodicamente os seus missionários e mensageiros.
Eis por que as epopéias do Evangelho foram previstas e cantadas
alguns milênios antes da vinda do Sublime Emissário.
Os enviados do Infinito falaram, na China milenária, da celeste figura
do Salvador, muitos séculos antes do advento de Jesus. Os iniciados do
Egito esperavam-no com as suas profecias. Na Pérsia, idealizaram a sua
trajetória, antevendo-lhe os passos nos caminhos do porvir; na Índia
védica, era conhecida quase toda a história evangélica, que o sol dos
milênios futuros iluminaria na região escabrosa da Palestina, e o povo de
Israel, durante muitos séculos, cantou-lhe as glórias divinas, na exaltação
do amor e da resignação, da piedade e do martírio, através da palavra de
seus profetas mais eminentes.
Uma secreta intuição iluminava o espírito divinatório das massas
populares.
Todos os povos O esperavam em seu seio acolhedor; todos O
queriam, localizando em seus caminhos a sua expressão sublime e
divinizada. Todavia, apesar de surgir um dia no mundo, como Alegria de
todos os tristes e Providência de todos os infortunados, à sombra do trono
de Jessé, o Filho de Deus em todas as circunstâncias seria o Verbo de Luz
e de Amor do Princípio, cuja genealogia se confunde na poeira dos sóis
que rolam no Infinito. (*)
__________
(*) Entre as considerações acima e as do capítulo precedente, devemos ponderar o
interstício de muitos séculos. Aliás, no que e refere à historicidade das raças adâmicas,
será justo meditarmos atentamente no
40
EMMANUEL
problema da fixação dos caracteres raciais. Apresentando o meu pensamento humilde,
procurei demonstrar as largas experiências que os operários do Invisível levaram a efeito,
sobre os complexos celulares, chegando a dizer da impossibilidade de qualquer cogitação
mendelista nessa época da evolução planetária. Aos prepostos de Jesus foi necessária
grande soma de tempo, no sentido de fixar o tipo humano.
Assim, pois, referindo-nos ao degredo dos emigrantes da Capela, devemos
esclarecer que, nessa ocasião, já o primata hominis se encontrava arregimentado em
tribos numerosas. Depois de grandes experiências, foi que as migrações do Pamir se
espalharam pelo orbe, obedecendo a sagrados roteiros, delineados nas Alturas.
Quanto ao fato de se verificar a reencarnação de Espíritos tão avançados em
conhecimentos, em corpos de raças primigênias, não deve causar repugnância ao
entendimento. Lembremo-nos de que um metal puro, como o ouro, por exemplo, não se
modifica pela circunstância de se apresentar em vaso imundo, ou disforme. Toda
oportunidade de realização do bem é sagrada. Quanto ao mais, que fazer com o
trabalhador desatento que estraçalha no mal todos os instrumentos perfeitos que lhe são
confiados? Seu direito, aos aparelhos mais preciosos, sofrerá solução de continuidade. A
educação generosa e justa ordenará a localização de seus esforços em maquinaria
imperfeita, até que saiba valorizar as preciosidades em mão. A todo tempo, a máquina
deve estar de acordo com as disposições do operário, para que o dever cumprido seja
caminho aberto a direitos novos.
Entre as raças negra e amarela, bem como entre os grandes agrupamentos
primitivos da Lemúria, da Atlântida e de outras regiões que ficaram imprecisas no acervo
de conhecimentos dos povos, os exilados da Capela trabalharam proficuamente,
adquirindo a provisão de amor para suas consciências ressequidas. Como vemos, não
houve retrocesso, mas providência justa de administração, segundo os méritos de cada
qual, no terreno do trabalho e do sofrimento para a redenção. - (Nota de Emmanuel.)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Do Livro A Genese " Sinais dos Tempos" parte 2 (final)

16. Com o pensamento de que a atividade e a cooperação individuais na obra geral da civilização são limitadas à vida presente, que antes a criatura nada foi, e que depois nada será, que importa ao homem o progresso ulterior da humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam melhor governados, mais felizes, mais esclarecidos, melhores uns para com os outros? Pois se ele não vai daí tirar nenhum fruto, esse progresso não é perdido para ele? De que lhe serve trabalhar para os que virão depois se jamais os conhecerá, se são seres novos que dali a pouco reentrarão no nada, também eles? Sob o império da negação do futuro individual, tudo se amesquinha forçosamente às acanhadas proporções do momento e da personalidade.
Mas, ao contrário, que amplitude dá ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade de seu ser espiritual! Quê de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do Criador, que esta lei segundo a qual a vida espiritual e a vida corporal não são senão dois modos de existência que se alternam para a concretização do progresso! Quê de mais justo e de mais consolador senão a idéia dos mesmos seres progredindo sem cessar, a princípio através das gerações do mesmo mundo, e em seguida, de um mundo para outro, até atingir a perfeição sem solução de continuidade! Todas as ações têm então uma finalidade, pois, trabalhando para todos, estamos trabalhando para nós mesmos e reciprocamente; de sorte que nem o progresso individual nem o progresso geral jamais são estéreis; aproveita às gerações e às individualidades futuras, que não são senão as gerações e as individualidades passadas, chegadas a um grau mais alto do adiantamento.
17. A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social; porém não há fraternidade real, sólida e efetiva, se não for apoiada numa base inquebrantável; esta base, é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares que mudam com os tempos ou os povos e se apedrejam, pois quando se anatematizam alimentam o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar; Deus, a alma, o futuro, o progresso individual, indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens se convencerem de que Deus é o mesmo para todos; de injusto; que o mal vem dos homens e não dele, hão de que este Deus, soberanamente justo e bom, nada pode querer se encarar como filhos de um mesmo Pai, e estender-se-ão as mãos.
É esta fé que o Espiritismo proporciona e que de agora em diante será o eixo sobre o qual se moverá o gênero humano, quaisquer que sejam o modo de adoração e as crenças particulares.
18. O progresso intelectual realizado até hoje nas mais vastas proporções é um grande passo, e marca a primeira fase da humanidade; porém, sozinho, é impotente para regenerá-la; enquanto o homem for dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos para vantagem de suas paixões e seus interesses pessoais; é por isso que ele os aplica ao aperfeiçoamento dos meios de prejudicar os seus semelhantes, e os destruir.
19. Unicamente o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens sobre a Terra pondo um freio às más paixões; unicamente ele pode fazer reinar entre os homens a concórdia, a paz e a fraternidade.
É ele que derrubará as barreiras dos povos, que fará cair os preconceitos de casta e calar os antagonismos de seitas, ensinando aos homens a se considerarem como irmãos chamados a se auxiliar reciprocamente, e não a viver às expensas uns dos outros.
É anda o progresso moral, secundado aqui pelo progresso da inteligência, que confundirá os homens numa mesma crença estabelecida sobre verdades eternas, não sujeitas a discussão e por isso mesmo aceitas por todos.
A unidade de crença será o liame mais possante, o mais sólido fundamento da fraternidade universal, quebrada desde todo o tempo pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem ver nos dissidentes, inimigos que se devem exortar, combater, exterminar, em vez de irmãos a quem se deve amar.
20. Um tal estado de coisas supõe uma mudança no sentimento das massas, um progresso geral que não se podia realizar senão saindo do círculo das idéias estreitas e terra-a-terra, que fomentam o egoísmo. Em diversas épocas, homens de elite têm procurado impelir a humanidade nesta via; mas a humanidade, ainda demasiado jovem, permaneceu surda, e seus ensinamentos foram como a boa semente lançada sobre as pedras.
Hoje, a humanidade está madura para lançar suas vistas mais alto que nunca, para assimilar idéias mais amplas e compreender o que antes não pudera.
A geração que desaparece levará com ela seus preconceitos e seus erros; a geração que se eleva, embebida numa fonte mais purificada, imbuída de idéias mais sadias, imprimirá ao mundo o movimento ascensional no sentido do progresso moral, que deve assinalar a nova fase da humanidade.
21. Esta fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis, por idéias grandes e generosas que vêem o dia e que começam a encontrar ecos. É assim que se vêem fundar uma porção de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o impulso e pela iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais se impregnam a cada dia de um sentimento mais humano. Os preconceitos de raça se enfraquecem, os povos começam a se encarar como membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios de transação, suprimem-se as barreiras que os dividiam; de todas as partes do mundo, reúnem-se conclaves universais para os torneios pacíficos da inteligência.
Porém, falta a essas reformas uma base para se desenvolver, se completar, se consolidar, uma predisposição moral mais geral para frutificar e se fazer aceita pelas massas. Isto não deixa de ser um sinal característico do tempo, o prelúdio do que se realizará em mais larga escala, à medida que o terreno se torne mais propício.
22. Um sinal não menos característico do período em que entramos, é a reação evidente que se opera no sentido das idéias espiritualistas; uma repulsão instintiva se manifesta contra as idéias materialistas. O espírito de incredulidade que se havia apoderado das massas, ignorantes ou esclarecidas, e as fizera rejeitadas, com a forma, o próprio fundo de todas as crenças, parece ter sido um sono do qual, ao sair, se experimenta a necessidade de respirar um ar mais vivificante. Involuntariamente, onde o vácuo se faz, procura-se alguma coisa, um ponto de apoio, uma esperança.
23. Suponho que a maioria dos homens são imbuídos de tais sentimentos, facilmente se podem figurar as modificações que os mesmos trarão para as relações sociais: caridade, fraternidade, benevolência para com todos, tolerância para todas as crenças, tal será a sua divisa. É o objetivo para o qual se orientará a humanidade, o objetivo de suas aspirações, de seus desejos, sem que ela saiba bem com que meios os realizará; ela ensaia, ela tateia, mas é detida por resistências ativas ou pela força da inércia dos preconceitos, das crenças estacionárias e refratárias ao progresso. São resistências que será preciso vencer, e isto será a obra da nova geração; se seguirmos o curso atual das coisas, reconhecemos que tudo parece predestinado a lhe abrir caminho; ela terá para si a dupla potência do número e das idéias, e mais a experiência do passado.
24. A nova geração marchará pois, para a realização de todas as idéias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento a que houver chegado. Marchando o Espiritismo para o mesmo objetivo, e realizando suas finalidades, ambos se encontrarão sobre o mesmo terreno. Os homens de progresso encontrarão nas idéias espíritas uma possante alavanca, e o Espiritismo encontrará nos homens novos, espíritos predispostos a acolhê-lo. Neste estado de coisas, o que poderão fazer aqueles que pretendessem se colocar em oposição?
Não é o Espiritismo que cria a renovação social, é a madureza da humanidade que faz de tal renovação uma necessidade. Pela sua potência moralizadora, por suas tendências progressivas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abraça, o Espiritismo, mais que qualquer outra doutrina, está apto a secundar o movimento regenerador; por isso mesmo são contemporâneos. Ele veio no momento em que podia ser mais útil, pois também para ele os tempos são chegados; mais cedo, teria encontrado obstáculos insuperáveis; teria sucumbido inevitavelmente, pois que os homens, satisfeitos com o que já tinham, não experimentavam ainda a necessidade do que ele traz. Hoje, nascido com o movimento das idéias que fermentam, encontra o terreno preparado a recebê-lo; os espíritos, cansados da dúvida e da incerteza, horrorizados com o abismo que se lhe abre à frente, o acolhem como uma âncora de salvação e um supremo consolo.
26. O número dos retardatários ainda é sem dúvida grande; mas o que podem eles contra a onda que sobe, senão atirar-lhe algumas pedras? Essa onda é a geração que se levanta, ao passo que eles somem com a geração que se retira cada dia a passos largos. Até então, porém, defenderão o terreno passo a passo; há, portanto, luta inevitável, mas desigual, pois é a do passado decrépito que cai em farrapos, contra o futuro jovem; da estagnação contra o progresso; da criatura contra a vontade de Deus, pois são chegados os tempos marcados.

Do Livro A Gênese " Sinais dos Tempos "Parte 1

Sinais dos Tempos
1. Os tempos marcados por Deus são chegados, dizem-nos de todos os lados, em que grandes acontecimentos vão se realizar para a regeneração da humanidade. Em que sentido se devem entender essas palavras proféticas? Para os incrédulos, elas não têm nenhuma importância; a seus olhos, tal não passa da expressão de uma crença pueril e sem fundamento; para o maior número dos crentes, elas têm qualquer coisa de místico e de sobrenatural, que lhes parece ser o precursor do transtorno das leis da natureza. Essas duas interpretações são igualmente errôneas: a primeira, em que ela implica a negação da Providência; a segunda, em que essas palavras não anunciam a perturbação das leis da natureza, mas sim o seu cumprimento.
2. Tudo é harmonia na criação; tudo revela uma previdência que não se desmente nem nas menores coisas, nem nas maiores; devemos pois, desde o início, afastar toda idéia de capricho, inconciliável com a sabedoria divina; em segundo lugar, se nossa época é marcada para a realização de certas coisas, é que elas têm sua razão de ser na marcha do conjunto.
Isto posto, diremos que nosso globo, como tudo quanto existe, está sujeito à lei do progresso. Progride fisicamente pela transformação dos elementos que o compõem, e moralmente pela purificação dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Estes dois progressos se seguem e caminham paralelamente, pois a perfeição da morada está relacionada com a do habitante. Fisicamente, o globo passou por transformações, constatadas pela ciência, e que sucessivamente o tornaram habitável por seres mais e mais aperfeiçoados; moralmente, a humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que a melhoria do globo se opera sob o império das forças materiais, os homens concorrem para ela, pelos esforços de sua inteligência; saneiam as regiões insalubres, tornam as comunicações mais fáceis e a terra mais produtiva.
Este duplo progresso de realiza de duas maneiras: uma, lenta, gradual e insensível; a outra, por modificações mais bruscas; cada uma delas resulta num movimento ascensional mais rápido, o qual marca, com sinais nítidos, os períodos progressivos da humanidade. Esses movimentos, subordinados nos pormenores ao livre-arbítrio dos homens, são de alguma forma fatais em seu conjunto, pois são submetidos a leis, como as que se operam na germinação, no crescimento e maturação das plantas; é por isso que o movimento progressivo é algumas vezes parcial, isto é, limitado a uma raça ou uma nação; outras vezes será geral.
O progresso da humanidade se efetua pois, em virtude de uma lei; ora, como todas as leis da natureza são a obra eterna da sabedoria e da presciência divinas, tudo o que é efeito dessas leis é o resultado da vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa, mas de uma vontade imutável. Portanto, quando a humanidade está madura para franquear um grau, pode-se dizer que os tempos marcados por Deus chegaram, como se pode também dizer que em tal estação, são chegados os tempos para a maturidade dos frutos e a colheita.
3. Da afirmação de que o movimento progressivo da humanidade é inevitável, porque está na natureza, não se segue que Deus seja indiferente ao mesmo, e que após haver estabelecido suas leis, haja retornado à inação, deixando que as coisas se movam por si. Suas leis são eternas e imutáveis, sem dúvida, mas porque sua própria vontade é eterna e constante, e seu pensamento anima todas as coisas sem interrupção; seu pensamento, que penetra tudo, é a força inteligente e permanente que mantém tudo em harmonia; se este pensamento cessar de agir um só instante, o Universo seria como um relógio sem o pêndulo regulador. Deus vela pois, incessantemente, pela execução de suas leis, e os Espíritos que povoam o espaço são seus ministros encarregados dos detalhes, segundo as atribuições relativas ao seu grau de adiantamento.
4. O Universo é ao mesmo tempo um mecanismo incomensurável, conduzido por um número não menos incomensurável de inteligências, um imenso governo onde cada ser inteligente tem sua parte de ação sob o olhar do soberano Mestre, cuja vontade única mantém a unidade por toda a parte. Sob o império dessa vasta potência reguladora, tudo se move, tudo funciona numa ordem perfeita; aquilo que nos parecem perturbações, são os movimentos parciais e isolados, que só nos parecem irregulares, porque nossa vista é circunscrita. Se pudéssemos abarcar o conjunto, veríamos que tais irregularidades não são senão aparentes, e que elas se harmonizam no todo.
5. A humanidade realizou até hoje incontestáveis progressos; os homens, por sua inteligência, chegaram a resultados que jamais atingiram, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material; resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar; é o de fazer reinar entre eles a caridade, a fraternidade e a solidariedade para assegurar o bem-estar moral. Tal não lhes era possível, nem com suas crenças, nem com suas instituições envelhecidas e superadas, restos de uma outra era, boas numa certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, tendo dado o que comportavam, seriam hoje um ponto de parada. Já não é mais somente o desenvolvimento da inteligência o que os homens necessitam; é a elevação do sentimento, e por isso é preciso destruir tudo quanto possa excitar neles o egoísmo e o orgulho.
Tal é o período no qual vamos entrar a partir de agora, o qual marcará uma das fases principais da humanidade. Esta fase, que se elabora neste momento, é o complemento necessário da etapa precedente, como a idade viril é o complemento da juventude; ela poderia pois ser prevista e predita com antecipação, e é por isso que se diz que são chegados os tempos marcados por Deus.
6. Nesse tempo, não se trata de uma mudança parcial, de uma renovação limitada a uma região, a um povo, a uma raça; é um movimento universal que se opera no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a se estabelecer, e os homens que maior oposição lhe fazem, trabalham nela contra sua vontade; a geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada por elementos mais purificados, encontrar-se-á animada por idéias e sentimentos completamente diversos dos que são adotados pela geração presente, que se retira a passos de gigante. O velho mundo estará morto, e viverá na História, como hoje acontece aos tempos da Idade Média, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas.
Quanto ao mais, cada um sabe o quanto a ordem de coisas atual ainda deixa a desejar; depois de ter de alguma sorte esgotado o bem-estar material, que é o produto da inteligência, chega-se a compreender que o complemento de tal bem-estar só se encontra no desenvolvimento moral. Quanto mais se avança, mais se sente aquilo que falta, sem que todavia seja possível ainda defini-lo claramente: é o efeito do trabalho íntimo que se opera visando a regeneração; as pessoas têm desejos, aspirações, que são como o pressentimento de um estado melhor.
7. Porém uma mudança tão radical como a que se elabora, não pode realizar-se sem comoção; há a luta inevitável entre as idéias. De tal conflito nascerão forçosamente perturbações temporárias, até que o terreno haja sido desobstruído e o equilíbrio restabelecido. É pois da luta das idéias que surgirão os graves acontecimentos anunciados e não de cataclismos ou catástrofes puramente materiais. Os cataclismos gerais eram a conseqüência do estado de formação da terra; hoje não são as entranhas do globo que se agitam, são as da humanidade.
8. Se a Terra não tem mais a temer os cataclismos gerais, não estará, menos por isso, submetida a revoluções periódicas cujas causas são explicadas, do ponto de vista científico, nas seguintes instruções dadas por dois eminentes Espíritos (1):
"Cada corpo celeste, além das leis simples que presidem à divisão dos dias e das noites, das estações, etc., passa por revoluções que levam milhares de séculos para sua perfeita realização, mas que, como as revoluções mais breves, passam por todos os períodos, desde o nascimento até um máximo de efeito, depois do qual há um decréscimo até o limite inferior, para recomeçar em seguida a percorrer as mesmas fases.
"O homem não abarca senão as fases de duração relativamente curta, e das quais ele pode constatar a periodicidade; porém há outras que compreendem longas gerações de seres, e mesmo de sucessões de raças, cujos efeitos, por conseguinte, têm para ele as aparências de novidade e de espontaneidade, ao passo que, se seu olhar pudesse alcançar alguns milhares de séculos atrás, veria, entre estes mesmos efeitos e suas causas, uma correlação da qual nem sequer suspeita. Tais períodos, que confundem a imaginação dos humanos devido a sua relativa extensão, não são entretanto senão instantes na duração eterna.
"Em um mesmo sistema planetário todos os corpos que dele dependem reagem uns sobre os outros; todas as influências físicas dali são solidárias, e não há um só dos efeitos que vós designais sob o nome de grandes perturbações, que não seja a conseqüência do componente de influências de todo esse sistema.
"Vou mais longe: digo que os sistemas planetários reagem uns sobre os outros, em razão da proximidade ou do afastamento que resulta de seus movimentos de translação através dos miríades de sistemas que compõem nossa nebulosa. Vou mais longe ainda: digo que nossa nebulosa, que é como um arquipélago na imensidade, tendo também seu movimento de translação através dos miríades de nebulosas, sofre a influência daquelas das quais se aproxima.
"Assim, as nebulosas reagem sobre as nebulosas, os sistemas reagem sobre os sistemas, como os planetas reagem sobre os planetas, como os elementos de cada planeta reagem uns sobre os outros, e assim de aproximação em aproximação até o átomo; daí, em cada mundo, as revoluções locais ou gerais, que não parecem perturbações senão em relação à brevidade da vida, a qual não permite ver senão os efeitos parciais.
"A matéria orgânica não poderia escapar a tais influências; as perturbações que ela sofre podem portanto alterar o estado físico dos seres viventes, e determinar algumas moléstias, como todos os flagelos, são para a inteligência humana um estimulante que a impele, por necessidade, à pesquisa dos meios de combatê-las, e à descoberta das leis da natureza.
"Porém a matéria orgânica reage por sua vez sobre o Espírito; este, por seu contato e ligação íntima com os elementos materiais, sofre também influências que modificam suas disposições, sem entretanto obstar ao seu livre-arbítrio, excitando ou moderando sua atividade, e, por isso mesmo, contribuem para o seu desenvolvimento. A movimentação que se manifesta por vezes em toda uma população, entre os homens de uma mesma raça, não é coisa fortuita, nem o resultado de um capricho; tem sua causa nas leis da natureza. Essa efervescência, a princípio inconsciente, que não passa de um vago desejo, uma aspiração indefinida de qualquer coisa melhor, uma necessidade de mudança, traduz-se por uma surda agitação, depois por atos que desfecham revoluções sociais, as quais, crede bem, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas, pois tudo se encadeia. Se a vista espiritual não fosse limitada pelo véu da matéria, veríeis as correntes fluídicas que, à semelhança de milhares de fios condutores, entrelaçam as coisas do mundo espiritual e do mundo material.
"Quando se diz que a humanidade chegou a um período de transformação, e que a terra deve se elevar na hierarquia dos mundos, não vede nestas palavras nada de místico, mas, ao contrário, o cumprimento de uma das grandes leis fatais do Universo, contra as quais se quebra a má vontade humana." _ ARAGO.
9. "Sim, certamente, a humanidade se transforma como já se transformou em outras épocas, e cada transformação é marcada por uma crise que é, para o gênero humano, o que são as crises de crescimento para os indivíduos; crises freqüentemente penosas, dolorosas, que com elas arrastam as gerações e as instituições, mas sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral.
"A humanidade terrestre, chegada a um desses períodos de crescimento, está totalmente, já há quase um século, no trabalho da transformação; é por isso que ela se agita de todos os lados, presa de uma espécie de febre, e como que movida por uma força invisível até que retorne seu assento sobre novas bases. Quem a ver então, a encontrará bem mudada em seus costumes, seu caráter, suas leis, suas crenças, numa palavra, em todo o seu estado social.
"Uma coisa que vos parecerá estranha, mas que nem por isso deixa de ser rigorosa verdade, é que o mundo dos Espíritos que vos rodeia sofre o contra-golpe de todas essas comoções que agitam o mundo dos encarnados: digo mesmo que ele aí toma parte ativa. Isto nada tem de surpreendente, para quem sabe que os Espíritos e a humanidade não deixam de ser um todo; que eles dela saem, e nela devem reentrar; é, pois, natural, que se interessem pelos movimentos que se operam entre os homens. Tende pois certeza de que, quando uma revolução social se realiza sobre a Terra, ela agita igualmente o mundo invisível; todas as paixões boas e más ali são excitadas, como entre vós; uma invencível agitação reina entre os Espíritos que ainda fazem parte de vosso mundo e que aguardam o momento de ali reentrar.
"À agitação dos encarnados e dos desencarnados se juntam, por vezes, e mesmo na maior parte dos casos, pois que tudo se relaciona na natureza, às perturbações dos elementos físicos; dá-se, então, por algum tempo, uma verdadeira confusão geral, que passa como um furacão, depois do qual o céu volta a ser sereno, e a humanidade, reconstituída sobre novas bases, imbuída de novas idéias, percorre nova etapa de progresso.
"É no período que se abre que se verá florescer o Espiritismo, e que produzirá seus frutos. É pois, para o futuro, mais que para o presente, que vós trabalhais; contudo, era necessário que tais trabalhos fossem preparados antecipadamente, pois eles preparam as vias da regeneração pela unificação e a racionalidade das crenças. Felizes aqueles que dele aproveitam desde hoje: isto será para eles um outro passo e penas poupadas." _ Doutor BARRY.
(1)Extrato de duas comunicações dadas na Sociedade de Paris, e publicadas na "Revue Spirite" de outubro de 1868, pág. 313. São o corolário das de Galileu, referidas no capítulo VI, e um complemento ao Capítulo IX, acerca das revoluções do globo.
10. Resulta do que precede que, em conseqüência de seu movimento de translação através do espaço, os corpos celestes exercem, uns sobre os outros, uma influência maior ou menor, conforme sua aproximação e sua posição respectivas; que essa influência pode ser causa de uma perturbação momentânea em seus elementos constitutivos, e modificar as condições de vitalidade de seus habitantes; que a regularidade dos movimentos deve resultar da volta periódica das mesmas causas e dos mesmos efeitos; que se a duração de certos períodos é bastante curta para ser apreciável pelos homens, outras vêem passar gerações e raças que dela não se apercebem, e para as quais o estado de coisas é normal; as gerações, ao contrário, contemporâneas da transição, dela recebem o contra-golpe, e tudo lhes parece afastar-se das leis ordinárias. Elas vêem uma causa sobrenatural, maravilhosa, milagrosa, naquilo que na realidade nada é senão o cumprimento das leis da natureza.
Se, pelo encadeamento e a solidariedade das causas e dos efeitos, os períodos de renovações morais da humanidade coincidem, como tudo leva a crer, com as revoluções físicas do globo, elas podem ser acompanhadas ou precedidas de fenômenos naturais, insólitos para aqueles que não estejam habituados, de meteoros que lhes parecem estranhos, da recrudescência e intensificação desacostumadas, de flagelos destruidores. Tais flagelos não são causa, nem presságios sobrenaturais, mas sim uma conseqüência do movimento geral que se opera no mundo físico e no mundo moral.
Ao predizer a era de renovação que devia abrir-se para a humanidade e marcar o fim do velho mundo, Jesus pôde, pois, dizer que ela seria assinalada por fenômenos extraordinários, tremores de terra, flagelos diversos, sinais nos céus _ que não são outra coisa senão meteoros, _ sem sair das leis naturais; mas o vulgo ignorante viu nessas palavras o anúncio de fatos miraculosos. (1)
11. A previsão dos movimentos progressivos da humanidade nada tem de surpreendente para os seres desmaterializados que vêem o objetivo para o qual tendem todas as coisas, pois alguns deles possuem o pensamento direto de Deus, e são os que julgam, nos movimentos parciais, o tempo no qual se poderá realizar o movimento geral, como se estima o tempo que necessitará uma árvore para frutificar, como os astrônomos calculam a época de um fenômeno astronômico pelo tempo que um astro leva para realizar sua revolução.
12. A humanidade é um ser coletivo no qual se operam as mesmas revoluções morais que em cada ser individual, com esta diferença: que umas se realizam de ano para ano, e as outras de século em século. Se a seguirmos em suas evoluções através dos tempos, veremos a vida das diversas raças marcada por períodos que dão a cada época uma fisionomia particular.
13. A marcha progressiva da humanidade opera-se de duas maneiras, como temos dito: uma gradual, lenta, insensível, se se consideram as épocas próximas, que se traduz por melhorias sucessivas nos costumes, nas leis, nos usos, e não se percebe senão à distância, como as mudanças que as correntes d'água realizam na superfície do globo; outra, por movimentos relativamente bruscos, rápidos, semelhantes àqueles de uma torrente que rompe seus diques, que lhe fazem franquear em alguns anos o espaço que levou séculos a percorrer. É então um cataclismo moral que traga em alguns instantes as instituições do passado, e ao qual sucede uma nova ordem de coisas que se assenta aos poucos, à medida que a calma se restabelece e se torna definitiva.
A quem viver tempo bastante para abarcar as apresentações da nova fase, parecerá que um mundo novo haja saído das ruínas do antigo; o caráter, os costumes, os usos, tudo mudou; é que com efeito surgiram homens novos, ou melhor, regenerados; as idéias adotadas pela geração que se extingue deram lugar às idéias novas da geração que se eleva.
14. A humanidade, tornada adulta, tem novas necessidades, aspirações mais amplas, mais elevadas; ela compreende o vazio das idéias nas quais foi acalentada, a insuficiência das suas instituições, no tocante à sua felicidade; ela não encontra mais no estado de coisas as satisfações legítimas cujo apelo sente; é por isso que deixa o círculo infantil e se lança, impelida por uma força irresistível, em direção a praias desconhecidas, à descoberta de novos horizontes menos estreitos.
É a um desses períodos de transformação ou, se quisermos, de crescimento moral, que chegou a humanidade. Da adolescência ela passou à idade viril; o passado não pode mais bastar às suas novas necessidades; ela não pode mais ser conduzida pelos mesmos meios; ela não se prende mais a ilusões e prestígios: sua razão amadurecida necessita de alimentos mais substanciais. O presente é por demais efêmero; ela sente que seu destino é mais vasto e que a vida corporal é demasiado restrita para a encerrar toda inteira; é por isso que ela lança seus olhares no passado e no futuro, a fim de descobrir o mistério de sua existência e daí extrair uma segurança consoladora.
E é no momento em que ela se encontra demasiado acanhada em sua esfera material, onde a vida intelectual transborda, onde o sentimento da espiritualidade se expande, que homens intitulados filósofos esperam preencher o vácuo com as doutrinas do negativismo e do materialismo! Estranha aberração! Estes mesmos homens que pretendem empurrá-la para a frente esforçam-se por circunscreve-la no círculo estreito da matéria de onde ela aspira sair; eles lhe barram o aspecto da vida infinita, e lhe dizem, apontando-lhe o túmulo: Nec plus ultra!
15. Quem quer que haja meditado sobre o Espiritismo e suas conseqüências, e não o circunscreve à produção de alguns fenômenos, compreende que ele abre à humanidade uma via nova, e lhe revela os horizontes do infinito; iniciando-o nos mistérios do mundo invisível, mostra-lhe seu verdadeiro papel na criação, papel perpetuamente ativo, tanto no estado espiritual como no estado corporal. O homem não caminha mais como cego: sabe de onde vem, para onde vai e porque está sobre a Terra. O futuro se mostra a ele na realidade, desembaraçado dos preconceitos da ignorância e da superstição; não é mais uma vaga esperança: é uma verdade palpável, tão certa para ele como a sucessão do dia e da noite. Sabe que seu ser não é limitado a alguns instantes de uma existência efêmera; que a vida espiritual não é interrompida pela morte; que já viveu, que ainda reviverá, e que de tudo que adquire em perfeição pelo trabalho, nada é perdido; encontra nas suas existências anteriores a razão do que hoje é, e pode deduzir o que ele será um dia, pelo que hoje faz.
(1) A terrível epidemia que, de 1866 a 1868, dizimou a população da Ilha Maurícia, foi precedida por uma chuva tão extraordinária e tão abundante de estrelas cadentes, em novembro de 1866, que seus habitantes ficaram aterrorizados. A partir desse momento a doença, que grassava há alguns meses de modo benigno, tornou-se um verdadeiro flagelo devastador. Sem dúvida houve um sinal no céu, e talvez neste sentido se pode entender as estrelas caindo do céu, de que fala o Evangelho, como um dos sinais dos tempos. (Pormenores sobre a epidemia da Ilha Maurícia, "Revue Spirite" julho de 1867, pág. 208, novembro de 1868, pág. 321).




sábado, 25 de agosto de 2012

" A Gênese" Cap 15 Curas - A perda de Sangue


Perda de Sangue
10. Então uma mulher, que havia doze anos sofria de uma hemorragia, _ a qual muito havia sofrido nas mãos de muitos médicos, e que, tendo consumido todos os seus bens, não havia recebido nenhum alívio, mas sempre se encontrava pior, _ tendo ouvido falar de Jesus, veio na multidão por detrás, e tocou suas vestes; pois ela dizia: Se eu puder ao menos tocar suas vestes, serei curada. _ No mesmo momento a fonte do sangue que ela perdia se secou, e ela sentiu em seu corpo que estava curada daquela moléstia.
E logo Jesus, conhecendo a virtude que havia saído dele, voltou-se para a multidão, e disse: Quem tocou minhas vestes? Seus discípulos lhe disseram: Vedes que a multidão vos comprime por todos os lados, e perguntais quem vos tocou? E ele olhava em toda a volta dele para ver quem o havia tocado.
Porém a mulher, que sabia o que se havia passado com ela, tomada de medo e pavor, veio atirar-se a seus pés, e lhe declarou toda a verdade. E Jesus lhe disse: Minha filha, tua fé te salvou; vai em paz, e fica curada de tua moléstia. (S. Marcos, cap. V, vers. de 25 a 34).
11. Estas palavras: "Conhecendo a virtude que havia saído dele, são significativas; elas exprimem o movimento fluídico que se operou de Jesus para a mulher doente; ambos sentiram a ação que acabava de se produzir. É notável que o efeito não foi provocado por um ato de vontade de Jesus; não houve magnetização, nem imposição de mãos. A irradiação fluídica normal foi suficiente para operar a cura.
Mas por que esta irradiação se dirigiu para aquela mulher, em vez de outras, pois Jesus não estava pensando nela, e se achava rodeado pela multidão?
A razão é bem simples. O fluido, sendo dado como matéria terapêutica, deve atingir a desordem orgânica para a reparar; pode ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador ou atraído pelo desejo ardente, a confiança, numa palavra, a fé do doente. Em relação à corrente fluídica, a primeira faz o efeito de uma bomba comprimida, e a segunda de uma bomba aspirante. Algumas vezes a simultaneidade dos dois efeitos é necessária, de outras vezes uma só basta; é o segundo caso que se positivou nesta circunstância.
Jesus tinha pois razão de dizer: "Tua fé te salvou." Compreende-se que aqui a fé não é a virtude mística, como certas pessoas entendem, mas uma verdadeira força atrativa, enquanto que aquele que não a tem opõe à corrente fluídica uma força repulsiva, ou pelo menos uma força de inércia que paralisa a ação. Assim sendo, compreende-se que de dois doentes atingidos do mesmo mal, estando na presença do curador, um possa ser curado e o outro não. Aí está um dos princípios mais importantes da medicina curadora e que explica, por uma causa muito natural, certas anomalias aparentes. (Cap. XIV, ns. 31, 32, 33).
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