Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
Mostrando postagens com marcador Justiça Divina. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Justiça Divina. Mostrar todas as postagens

sábado, 17 de novembro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Espíritos Sofredores" parte 8

François Riquier

Era um velho celibatário, avarento e muito popular, falecido em C..., em 1857, legando aos parentes colaterais considerável fortuna. Em tempo fora locador de uma inquilina, que mais tarde o esquecera completamente, ignorando até se ainda, ou não, vivia. Em 1862, uma filha desta senhora, sujeita a crises de catalepsia seguidas de espontâneo sono magnético e também bom médium escrevente, viu, num desses sonos, o Sr. Riquier, o qual, assegurava, pretendia dirigir-se à sua mãe.
Passados alguns dias, uma vez que se manifestara espontaneamente confirmando aquele intuito, entretiveram com ele a seguinte conversação:
- P. Que pretendeis de nós?
- R. O dinheiro do qual se apossaram, os miseráveis, a fim de o repartirem! Venderam fazendas, casas, tudo para se locupletarem! Desbarataram meus bens como se não mais me pertencessem. Fazei que se me faça justiça, já que a mim me não ouvem, e não quero presenciar infâmias tais. Dizem que eu era usurário, e guardaram-me o cobre. Por que não mo querem restituir? Acharão que foi mal ganho?
- P. Mas vós estais morto, meu caro senhor, e não tendes mais necessidade alguma de dinheiro. Implorai a Deus para vos conceder uma nova existência de pobreza a fim de expiardes a usura desta última.
- R. Não, eu não poderei viver na pobreza. Preciso do meu dinheiro, sem o qual não posso viver. Demais, não preciso de outra existência, porque vivo estou atualmente.
- P. (Foi-lhe feita a seguinte pergunta no intuito de chamá-lo à realidade.) Sofreis?
- R. Oh! sim. Sofro piores torturas que as da mais cruel enfermidade, pois é minha alma quem as padece. Tendo sempre em mente a iniquidade de uma vida que foi para muitos motivo de escândalos, tenho a consciência de ser um miserável indigno de piedade, mas o meu sofrimento é tão grande que mister se faz me auxiliem a sair desta situação deplorável.
- P. Oraremos por vós.
- R. Obrigado! Orai para que eu esqueça os meus bens terrenos, sem o que não poderei arrepender-me. Adeus e obrigado. François Riquier, Rue de la Charité nº 14.
É curioso ver-se este Espírito indicar a moradia como se estivesse vivo.
A senhora deu-se pressa em verificá-la e ficou muito surpreendida por ver que era justamente a última casa que Riquier habitara. Eis como, após cinco anos, ainda ele não se considerava morto, antes experimentava a ansiedade, bem cruel para um usurário, de ver os bens partilhados pelos herdeiros. A evocação, provocada indu-bitavelmente por qualquer Espírito bom, teve por fim fazer-lhe compreender o seu estado e predispô-lo ao arrependimento.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A Criança no Mundo Espiritual


LUCY DIAS RAMOS
“Por morte da criança, readquire o Espírito, imediatamente, o seu precedente vigor?
R. – “Assim tem que ser, pois que se vê desembaraçado de seu invólucro corporal. Entretanto, não readquire a anterior lucidez, senão quando se tenha completamente separado daquele envoltório, isto é, quando mais nenhum laço exista entre ele e o corpo”. (“O Livro dos Espíritos”, de
Allan Kardec, questão 381, 80. Ed. FEB.)

Após a partida para o mundo espiritual dos seres que amamos e com os quais convivemos, ficamos indagando de seu posicionamento nessa nova dimensão da vida e rogamos a Deus para que estejam protegidos e amparados.
Quando se trata de crianças desencarnadas a nossa preocupação cresce e entregamos à Providência Divina nossas súplicas redobradas de zelo e carinho pelos entes que partiram em tenra idade.
Outrora, a Teologia clássica afirmava que os inocentes, depois da morte, ficariam no limbo, uma região neutra, sem as agruras do inferno e sem as delícias do céu. O Espiritismo, através da Codificação Kardequiana, dá-nos explicações e respostas a algumas indagações, donde concluímos que o
Espírito retornaria à plenitude de sua forma física como adulto e à lucidez mental, tão logo se desfizesse dos elos que o ligassem ao corpo físico.
Hoje, ou mais recentemente, com as obras de André Luiz, psicografadas por Francisco Cândido Xavier, complementando as assertivas do Codificador, fica bem mais claro o entendimento desta questão.
No livro “Entre a Terra e o Céu”, capítulo IX, relata-nos André Luiz que a
região onde se encontra o Lar da Bênção possui parques, lares, colégios, hospitais destinados às crianças desencarnadas. Como as suas condições variam de acordo com a evolução espiritual, são também diversas as situações e locais em que se encontram nesta nova fase da vida.
No diálogo de Hilário e Irmã Blandina, no capítulo XI do livro referido, ela
explica:
“O nosso educandário guarda mais de duas mil crianças, mas, sob
os meus cuidados, permanecem apenas doze. Somos um grande
conjunto de lares, nos quais muitas almas femininas se reajustam
para a venerável missão da maternidade e conosco multidões de
meninos encontram abrigo para o desenvolvimento que lhes é
necessário, salientando-se que quase todos se destinam ao retorno
à Terra para a reintegração no aprendizado que lhes compete”.
A criança desencarnada terá, portanto, um período variável de
permanência no mundo espiritual e, muitas vezes, longo, para que possa
demonstrar crescimento mental e perispiritual, mas há exceções e isto ocorre,
conforme André Luiz:
“(...) quando a mente já desenvolveu certas qualidades aprimorandose
em mais altos degraus de sublimação espiritual e pode arrojar-se
de si mesma os elementos indispensáveis à composição de veículos
de exteriorização de que necessita em planos que lhe sejam
inferiores (...)”
Allan Kardec na Revista Espírita (agosto/1866) relata o caso da mãe que tendo perdido o filho de 7 anos e se tornado médium, após este acontecimento, teve o próprio filho como guia e transcreve neste artigo a mensagem que o Espírito da criança teria dado à mãe através da psicografia. Contudo, esta
mensagem reflete o pensamento de um adulto. Possivelmente o Espírito já elevado moralmente conseguia projetar de si mesmo os elementos indispensáveis à exteriorização de seu pensamento para se comunicar com a mãezinha saudosa. Poderia até se mostrar nas primeiras comunicações como criança e assim facilitar a identificação, entretanto, como guia serviria, tãosomente, de sua lucidez mental. Com certeza o Espírito desta criança era evoluído e já em vida demonstrava uma precocidade intelectual, explica Kardec.
É de grande importância, e requer extremados cuidados dos encarregados da guarda de crianças desencarnadas, seu desenvolvimento espiritual. Laura, mãe de Lísias, no livro “Nosso Lar” (cap. 20), de André Luiz, explica: “- Quando o Ministério do Auxílio me confia crianças ao lar, minhas
horas de serviço são contadas em dobro (...)”.
Entendemos pelas explicações dadas pelos benfeitores espirituais, em diversas obras espíritas, que após a desencarnação, se o Espírito da criança é evoluído e pode retomar seu vigor primitivo, ele agirá no mundo espiritual e junto daqueles que com ele se comuniquem, com a forma perispiritual de adulto,
principalmente se a ele estiver confiada a orientação de um médium ou de um grupo espírita. Logicamente isto poderá ocorrer após determinado tempo, regido por leis sábias e superiores do mundo espiritual.
Em determinadas circunstâncias, a criança desencarnada poderá se comunicar com familiares que buscam o Centro Espírita ou médiuns, para dar notícias, reconforto espiritual aos seus afetos e prova de sua sobrevivência.
Somente aqueles que já perderam um entre querido e recebem a dádiva de uma comunicação espiritual podem avaliar como é grande a Misericórdia de Deus, na concessão desse benefício. Mas estas comunicações são regidas por leis da comunicação mediúnica e exigem aptidão do médium, condições adequadas, merecimento de ambas as partes e estarão sempre resguardadas por Espíritos superiores que conduzem as crianças às reuniões mediúnicas. É importante enfatizar que a criança, mesmo estando em sofrimento no mundo espiritual, recolhida em hospitais ou lares que a protegem, nunca se apresentará em
reuniões mediúnicas perturbada, perdida ou aflita, necessitada de esclarecimento ou doutrinação como ocorre com um adulto.
Existem, ainda, grupos espíritas e médiuns videntes que, habitualmente, vêem Espíritos de crianças em reuniões mediúnicas. Segundo estes médiuns e dirigentes, estes Espíritos, não raras vezes, orientam, dão conselhos e dirigem as reuniões como mentores ou guias. Entretanto, sabemos que as leis morais
que regem o mundo dos Espíritos são mais rígidas, sábias e evoluídas que as humanas. Estabelecem-se na Terra condições e normas pela faixa etária de seus habitantes, delimitação de idade para o ingresso em escolas, assembléias religiosas, casas de lazer e entretenimento, hospitais e até mesmo para
freqüência às reuniões mediúnicas. O bom senso nos indica que no mundo espiritual não será diferente e as crianças cujos Espíritos estejam, ainda, na forma perispiritual infantil não poderão estar freqüentando reuniões mediúnicas na condição de guias nem de sofredores.
Outro aspecto a abordar é o da condição espiritual da criança desencarnada.
Confundimos, às vezes, as coisas e achamos que a morte prematura dá ao Espírito a condição de elevação moral. Não é bem assim. A grande maioria das crianças que retornam ao mundo espiritual traz a mente perturbada por indisciplinas e erros de outras vidas. Comenta André Luiz:
“(...) a lei é invariável, contudo, a criança desencarnada muitas vezes
é problema aflitivo. Quase sempre dispõe de afeiçoados que a
seguem, de perto, amparando-lhe o destino, entretanto tenho
observado milhares de meninos que, pela natureza das provações
em que se envolveram, sofrem muitíssimo, à espera de
oportunidades favoráveis para a aquisição dos valores de que
necessitam”.
Allan Kardec, na questão 199-a de “O Livro dos Espíritos”, comenta:
“Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado
normal de inocência. Não se vêem crianças dotadas dos piores
instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido
a educação? (...) As que se revelam viciosas, é porque seus
Espíritos muito pouco hão progredido. Sofrem então, por efeito
dessa falta de progresso, as conseqüências, não dos atos que
praticam na infância, mas dos de suas existências anteriores. Assim
é que a lei é uma só para todos e que todos são atingidos pela
justiça de Deus”.
Sofreram, portanto, aqui na Terra, os dolorosos processos de reajuste e no mundo espiritual, quando desencarnam, ainda crianças, de acordo com seu nível evolutivo.
Como nos esclarece Emmanuel:
“Ontem experimentavam na Esfera Espiritual os resultados da
delinqüência na luta humana... O horror do suicídio deliberado... O
remorso do crime oculto... Os frutos da crueldade... Reintegrados no
campo do espírito, guardavam na própria alma os tristes
remanescentes da conduta ominosa”. ("Vida em Vida”, psicografia de
Francisco Cândido Xavier, cap. 27, IDEAL, 1980).

Compreendemos que somente através de abençoadas reencarnações futuras serão estas mentes enfermas equilibradas e reajustadas, obtendo, assim, a cura de seus males. Vemos, então, que as crianças desencarnadas longe estão de se conduzirem com independência no mundo espiritual,
excetuando aquelas já em processo de equilíbrio e moralmente evoluídas, que
se governam a si mesmas, apresentando-se normalmente como adultas.
Se permanecem na forma infantil, dadas as condições de dependência espiritual, é porque não podem “desatar os laços que as aprisionam aos rígidos princípios que orientam o mundo das formas, e por isso, exijam longo tempo para se renovarem no justo desenvolvimento”. (André Luiz, obra citada).
Allan Kardec indaga na questão 197, de “O Livro dos Espíritos”:
“Poderá ser tão adiantado quanto o de um adulto o Espírito de uma
criança que morreu em tenra idade? R. – Algumas vezes o é muito
mais, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha vivido e
adquirido maior soma de experiência, sobretudo se progrediu”.
E concluímos: nestas condições ele se comunicará conosco com toda a lucidez mental e com toda a sua capacidade de servir, orientar e nos guiar pelos caminhos da vida. Quanto maior seu grau evolutivo e seu desenvolvimento intelectual, maior será seu poder mental para acionar as células de seu corpo
espiritual, apresentando-o como melhor lhe aprouver.

Reformador de julho de 1999

Livre-Arbítrio, Determinismo e Fatalismo

JUVANIR BORGES DE SOUZA

Ao tratar das leis morais, que abrangem tanto a vida do Espírito no
corpo quanto no estado livre, “O Livro dos Espíritos” lança luz sobre uma das
mais tormentosas questões filosóficas de todos os tempos.
Realmente, as mais antigas filosofias, assim como as religiões
tradicionais do Oriente e do Ocidente sempre encontraram dificuldades na
formulação de suas doutrinas, no que concerne ao entendimento da maneira de
agir do homem.
A liberdade, esse bem precioso de que goza o homem, pode ser tomada em seu sentido absoluto?
Mas, as circunstâncias da vida não estão a demonstrar que, em inúmeros
casos, parece imperar não a liberdade individual de decidir, mas um fatalismo evidente, inamovível?
O certo é que as escolas filosóficas e religiosas se perderam e se
confundiram em seus conceitos.
Era necessária a vinda do Consolador para esclarecer aparentes
contradições da lei natural, que deve ser entendida como um todo homogênio,
perfeito, só perceptível pelo homem quando conhecidas suas partes
componentes tais como as vidas sucessivas, o princípio da responsabilidade, a
destinação do Espírito imortal, a evolução dos seres e as demais leis morais.
A individualidade, criada simples e ignorante, goza do livre-arbítrio
desde sua criação. Mas sua liberdade encontra limitações na sua própria
ignorância das leis da vida.
A expansão de sua liberdade e da sua consciência vai ocorrendo
paulatinamente, na medida em que vai progredindo em conhecimento e em
aquisições morais.
Desse princípio resulta que o ser será tanto mais livre quanto mais sábio,
mais moralizado, mais evoluído.
Os mais brutalizados são também os mais sujeitos ao cativeiro da
ignorância.
A liberdade do homem é, pois, limitada pela sua própria condição, sendo
que “no pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois não há como
pôr-lhe peias. Pode-se-lhe deter o vôo, porém, não aniquilá-lo”, (“O Livro dos
Espíritos”, q. 833).
Há que se entender, entretanto, que a liberdade de pensar é limitada pelo
maior ou menor conhecimento e moralidade de cada ser.
Da liberdade de pensamento e de consciência resulta a liberdade de agir.
O livre-arbítrio, dom natural da alma desde sua criação, vai-se
expandindo com a evolução anímica.
No estado de encarnado é evidente que a matéria exerce influência sobre
o Espírito, mas essa influência não é absoluta. A responsabilidade final é
sempre do Espírito, esteja ele livre ou sob a influência material.
As inclinações para todas as modalidades de crimes e transgressões é,
pois, da alma e não do corpo, é manifestação da vontade individual, mesmo que
sob influência de outrem.
Esse esclarecimento da Doutrina Espírita contraria frontalmente a teoria
lombrosiana do criminoso nato, pelos característicos físicos de seu organismo,
hoje felizmente abandonada pelas modernas teorias criminais.
Há que se considerar ainda, em mundos materiais atrasados como o
nosso, as diversas aberrações das faculdades normais do homem, tais como a
loucura, as obsessões, o uso de drogas diversas, a embriaguez, os
constrangimentos como a escravidão e outros.
Aquele que se acha turbado por uma causa que influi poderosamente
sobre sua vontade, evidentemente que já não goza de plena liberdade de
decidir.
Mas a lei divina, justa e abrangente, distinguirá cada situação, suas
causas, os compromissos abraçados anteriormente, as circunstâncias
ocorrentes, para que nunca haja injustiças.
É comum, por exemplo, lançar-se a criatura ao uso de drogas e
entorpecentes, para que se encoraje na prática de crimes e transgressões
morais. A turbação da inteligência e dos sentidos não tira a responsabilidade de
quem assim procede, cuja decisão foi anterior ao uso das drogas.
Outras situações peculiares são a da loucura, ou a da fascinação, em que
o Espírito está subjugado, sem noção clara do que pratica. Essas circunstâncias
merecem tratamento diferenciado na lei divina para a determinação da
responsabilidade.
No estado de selvageria, como no estado de infância, há que se
considerar a liberdade de agir com o instinto, que acompanha o Espírito como
conquista anterior ao seu estado atual.
A lei natural considera as necessidades, a inteligência e o instinto na
determinação das responsabilidades, em cada hipótese.
A posição do indivíduo no meio social, as exigências da civilização, as
imposições das legislações humanas são outros fatores que influem sobre a
liberdade de agir do ser humano.
Em compensação, a lei divina, na sua amplitude e sabedoria, leva em
conta todas as circunstâncias ocorrentes e ainda o esforço individual para se
ajustar a ela.
O homem forja, pelo livre-arbítrio, os efeitos das causas que ele mesmo
prepara.
Ele tem liberdade para escolher o caminho do bem ou as realizações do
mal.
No imo de sua consciência ele sabe distinguir o bem e o mal.
Por isso, sua liberdade de escolha acarreta-lhe a responsabilidade das
conseqüências.
Esse princípio, que o Espiritismo tornou claro, além de profundamente
justo, derroga inúmeros ensinamentos equivocados das religiões tradicionais e
dogmáticas, mostrando-nos a justiça, a grandeza e a beleza das leis de Deus, a
Inteligência Suprema, o Criador de todas as coisas.
Em suma, o livre-arbítrio, dom divino do Criador, permite ao ser
consciente e responsável edificar seu destino, escolhendo os caminhos de sua
ascensão, até que, conhecendo a Verdade, estará integrado nela e liberto das
inferioridades.
Nas leis divinas, o livre-arbítrio conjuga-se harmoniosamente com o
determinismo.
Num e noutro sobrepões-se a lei do Amor para todo o Universo.
O Amor Soberano é, pois, determinismo universal, abrangendo toda a
criação.
Todas as leis morais que a Doutrina Espírita resume na Parte Terceira de
“O Livro dos Espíritos” são determinismos da Providência Divina.
Tornando-se cada vez mais livre à medida que mais evolui, é lógico
deduzir-se que nos primeiros estágios de evolução, quando o Espírito ainda é
atrasado, mau ou ignorante, predomina aí o determinismo em sua existência.
Todavia, torna-se necessário distinguir a subordinação da criatura no que
concerne ao mundo físico, aos fatos materiais, ao cumprimento de provas,
conservando-se livre no que diz respeito ao moral e às influências espirituais. No
campo moral predomina a liberdade de escolha.
O determinismo divino é sempre o Bem. O mal é oriundo das ações
humanas e dos Espíritos que contrariam essa lei.
A harmonização consiste no retorno à normalidade do Bem, através das
retificações dos desvios, que denominamos resgates.
Animais e homens em grau extremo de atraso, de selvageria, são seres
que, na Terra, agem sob o império do instinto, e, consequentemente, do
determinismo, diante da carência de liberdade.
O determinismo aparentemente inexplicável de certas expiações e
resgates na vida corporal – doenças incuráveis, deformidades genéticas,
paralisias cerebrais, síndrome de Down, cegueira, surdez congênita e outros
males que atingem milhões de seres – torna-se perfeitamente compreensível
quando conjugado com o livre-arbítrio do próprio Espírito que escolheu o resgate
doloroso, embora extremamente útil para ele, antes da reencarnação.
Aí temos exemplo claro de que se torna impraticável o entendimento do
determinismo e do livre-arbítrio sem o conhecimento de outros aspectos das leis
divinas, como a doutrina das vidas sucessivas, os dispositivos da lei de causa e
efeito, a lei do progresso, a lei de liberdade com responsabilidade.
No vasto campo de experiências e de provações da Terra, seus
habitantes estão sujeitos a erros, por mais inteligentes e evoluídos que sejam. O
importante, para cada um, é a corrigenda, tão logo se dê conta do desvio. O
procedimento daquele que erra, voluntária ou involuntariamente, enquadra-se
nas regas do determinismo divino e do determinismo humano.
A vida na Terra é transitória, embora repetida pela reencarnação. Ela
termina pelo fenômeno da transição, a que denominamos morte.
A morte não representa o fim do ser, mas apenas do corpo.
A morte do corpo é, pois, um determinismo da lei, que tem um momento
para acontecer.
Esse momento pode ser antecipado pela vontade do ser (uso de sua
liberdade), através do suicídio direto ou indireto.
Em casos especiais, quando há interesse e proveito para o próprio
Espírito, a lei permite a modificação do momento do retorno, sob medida que
escapa ao nosso atual entendimento. São as prorrogações da vida carnal.
Há, na vida de todos que habitam este orbe, fatos e acontecimentos
predeterminados que não podem ser evitados.
Antes da reencarnação o próprio Espírito optou por eles, em seu proveito
e usando de seu livre-arbítrio. É o determinismo conjugado à liberdade de
escolha.
Entretanto, o fatalismo absoluto, segundo o qual o homem não pode nada
mudar, sendo simples autômato, é que é mera ilusão, sem fundamento na lei
natural.
Não se pode, pois, confundir determinismo com fatalismo.
A liberdade individual é perfeitamente conciliável com a predeterminação
de acontecimentos futuros, com ou sem a cooperação do próprio ser.
Certas doutrinas religiosas, sem fundamentação na realidade, favorecem
a crença na fatalidade, no “tudo está escrito”, na espera dos acontecimentos. É
erro grave que o Espiritismo previne e retifica com as revelações novas.
Predestinação absoluta baseada em causa sobrenatural na fixação do
destino, bem assim a doutrina da graça divina em favor de determinadas almas
escolhidas são criações do homem que o reduzem a autômatos e rebaixam a
idéia do Deus infinitamente bom e justo. .

Reformador julho de 1999

As enfermidades espirituais

 Marta Antunes Moura

As enfermidades espirituais produzem  distúrbios ou lesões no corpo físico decorrentes de desarmonias
psíquicas originadas das condições pessoais do enfermo, da influência de entidade espiritual, ou por ação conjunta de ambos.
Podem ser consideradas como de baixa, média ou de alta gravidade.
As de baixa gravidade, mais fáceis de serem controladas, costumam surgir em momentos específicos
da vida, quando a pessoa passa por algum tipo de dificuldade: perdas afetivas ou materiais; doenças
físicas; insucesso profissional, entre outras. São situações em que as emoções afloram impetuosamente,
gerando diferentes tipos de somatizações: ansiedade, angústia, dores musculares, enxaqueca, distúrbios
na digestão (náuseas, cólicas, azia, má absorção alimentar etc.). Ocorrem
distúrbios do sono, da atenção e do controle emocional. Nessa situação, a prece representa um poderoso
instrumento de auxílio, pois eleva o padrão vibratório do necessitado.
A mudança vibratória permite que a assistência dos benfeitores espirituais favoreça o reajuste psíquico, emocional e físico. A pessoa recupera, então, as rédeas sobre si mesma, rompendo com as idéias
perturbadoras, próprias ou de outrem.
As doenças espirituais de média gravidade podem prolongar-se por anos a fio, mantendo-se dentro
de um mesmo padrão ou evoluindo para algo mais grave. Com o passar do tempo, podem apresentar
um quadro sintomatológico característico de um tipo específico de patologia: insônia persistente; gastrite
e ulceração gástrica; infecções microbianas repetidas; crises alérgicas costumeiras; dores musculares
penosas, formadoras de nódulos ou pontos de tensão; dificuldades respiratórias seguidas da desagradável
“falta de ar”; hipertensão; obesidade ou magreza; crises de enxaqueca prolongadas, não controláveis por
medicamentos; humor claramente afetado, oscilante entre crises de irritabilidade e impaciência incomuns
e momentos de indiferentismo e submissão emocionais; episódios depressivos repetidos seguidos
de euforia exagerada. Se não ocorre a desejável assistência espiritual em benefício do necessitado,
nessa fase da evolução da enfermidade, os doentes podem desenvolver comportamentos caracterizados,
sobretudo, por “manias” e pelo isolamento social. As idéias e os
desejos do enfermo ficam girando dentro de um círculo vicioso, conduzindo à criação de formas-
-pensamento, alimentadas pela vontade do próprio necessitado e pela dos Espíritos desencarnados, sintonizados nesta faixa de vibração.
As orientações espíritas, se aceitas e seguidas, proporcionam imenso conforto, podendo reduzir ou eliminar
o quadro geral de perturbações, sobretudo se associada às ações médicas e psicológicas. Assim, faz-se
necessário desenvolver persistente trabalho de renovação mental e comportamental da pessoa necessitada
de auxílio. A prece, o passe, a água fluidificada, o estudo do Evangelho no lar, a assistência espiritual
(atendimento e diálogo fraterno, freqüência às reuniões de explanação do Evangelho e de irradiações
espirituais), o estudo espírita, entre outros, representam instrumentos de auxílio e de renovação psíquica,
em geral disponibilizados pelas nossas Casas Espíritas.
As enfermidades espirituais, classificadas como graves, são encontradas em pessoas que revelam
perdas temporárias ou permanentes da consciência. A perda da consciência, lenta ou repentina, pode estar
associada a uma causa fisiológica (velhice) ou a uma patologia (lesões cerebrais de etiologias diversas).
Nessa situação, o enfermo vive períodos de alheamentos ou alienações mentais, alternados com outros
de lucidez. Esses períodos são particularmente difíceis, pois a pessoa passa a viver numa realidade
estranha e dolorosa, sobretudo quando o Espírito enfermo vê-se associado a outras mentes enfermas,
em processos de simbioses espirituais.
O doente requisita atendimento  médico especializado, no campo da psiquiatria. A fluidoterapia
espírita suaviza a manifestação da doença, auxiliando o tratamento médico. A assistência espiritual,
oferecida pela Casa Espírita, age como bálsamo, minorando o sofrimento dos encarnados – doente, familiares e amigos – e dos desencarnados envolvidos na problemática.
O atendimento ao perturbador espiritual nas reuniões de desobsessão, assim como as irradiações mentais
em benefício do obsessor e do obsidiado produzem resultados significativos, fundamentais ao processo
de libertação espiritual.
As enfermidades espirituais representam uma realidade, impossível de ser ignorada, sobretudo nos
tempos atuais, quando sabemos da existência de um alerta superior que nos aponta para a urgente necessidade de avaliarmos a nossa conduta moral, desenvolvendo ações e atitudes compatíveis com a Lei de Amor, Justiça e Caridade.
As enfermidades espirituais deixarão de existir, esclarecem-nos os benfeitores espirituais, quando nos
renovarmos para o bem. Nesse sentido, são oportunas as elucidações do Espírito André Luiz: “A enfermidade, como desarmonia espiritual (...) sobrevive no perispírito.
As moléstias conhecidas no mundo e outras que ainda escapam ao diagnósticohumano, por muito tempo
persistirão nas esferas torturadas da alma, conduzindo-nos ao reajuste.
A dor é o grande e abençoado remédio.
Reeduca-nos a atividade mental, reestruturando as peças de nossa instrumentação e polindo os
fulcros anímicos de que se vale a nossa inteligência para desenvolver- -se na jornada para a vida eterna.
Depois do poder de Deus, é a única força capaz de alterar o rumo de nossos pensamentos, compelindo-
-nos a indispensáveis modificações, com vistas ao Plano Divino, a nosso respeito, e de cuja execução não
poderemos fugir sem graves prejuízos para nós mesmos.”**XAVIER, Francisco Cândido. Entre a Terra e
o Céu, pelo Espírito André Luiz. 21. ed., Rio
de Janeiro: FEB, 2003, cap. 21, p. 174.

A subjugação
A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que
a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob
um verdadeiro jugo.
A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado
é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras
que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é uma
como fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais
e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente,
por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos
menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis,
simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo
nas ruas, nas portas, nas paredes.
Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais
ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo
e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido,
por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma
moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento.
Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica,
que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se
ajoelhar e beijar o chão nos lugares públicos e em presença da multidão.
Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações;
estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era,
porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a
sua vontade e com isso sofria horrivelmente.
Fonte: KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 72. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2004,
cap. XXIII, item 240, p. 309.

Revista O Reformador de junho de 2004

terça-feira, 13 de novembro de 2012

DEUS E O HOMEM

DEUS  E  O  HOMEM
 
Emmanuel
        
Deus criou a Terra, à maneira de um paraíso repleto de fontes e de flores para as criaturas em evolução.
O homem dilapidou-lhe a face, a pretexto de buscar recursos e cultivá-los para a própria alimentação.
Deus formou o solo do Planeta com incalculáveis tesouros.
O homem encontrou vestígios de semelhantes riquezas e bastou isso para escavar-lhe o corpo, apropriando-se das criações divinas e instalando antagonismos entre os próprios irmãos para transformá-las em objeto de cobiça e ambição desvairada
Deus levantou árvores, destinando-as à proteção da vida.
O Homem, no entanto, derrubou-as, não apenas a fim de aproveitá-las na edificação de moradias, segundo as finalidades que lhes foram assinaladas, mas simplesmente por bagatelas ou para complementar o espetáculo de pavorosos incêndios.
Deus inspirou a formação da dinamite para facilitar a construção de estradas que favorecessem o intercâmbio entre os povos.
O Homem, entretanto, empregou-a na fabricação de bombas para a destruição de comunidades indefesas.
Deus plasmou a beleza e a música, a arte e a ciência, da conjugação das quais nascesse a paz entre os seres.
O Homem inventou planos de hegemonia e fez a guerra que se alimenta com milhões de vidas, expulsando, vaidosamente, a paz do ambiente deles
Mesmos.
Quando observares a Terra, sofrendo agressões à natureza e estabelecendo a dominação da guerra, não incluas Deus em tuas indagações, porque já sabes de quem é a culpa.

Do livro Monte Acima. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

sábado, 27 de outubro de 2012

Qual o Futuro do Homem para Lá do Túmulo?


Rodolfo Calligaris
Malgrado todos os espiritualistas cristãos (considerados como tais os que concebem a alma como um ser moral distinto do corpo físico, ao qual sobrevive) apontem as Escrituras Sagradas como base dos princípios fundamentais de sua fé, várias e contraditórias são as suas teorias acerca dessa magna questão.
Na opinião de uns, a sorte das almas decide-se no próprio instante da morte. As "eleitas" vão imediatamente para o céu, e as "rejeitadas", para o inferno. Isso até o dia do juízo universal, ocasião em que voltarão a unir-se a seus corpos ressurretos, sem os quais (dizem) nem aquelas conseguem ser completamente felizes, nem estas podem ser convenientemente castigadas.
Segundo outra concepção, além do céu e do inferno, existiria uma estância intermediária: o purgatório, lugar de expiação para as almas que, não estando inteiramente livres do pecado, tenham algumas penas a descontar antes de serem recebidas no céu. Também para os partidários desta crença, haverá, no juízo universal, uma religação das almas a seus antigos corpos para que, juntos, recebam sua sentença de glória ou de condenação.
No entender de outros, ocorrendo à morte, as almas trespassadas perdem a consciência de tudo e ficam como que em sono profundo, até o evento do juízo. Somente nesse dia é que os justos ressuscitarão para a vida eterna, sendo que os considerados maus ou serão destruídos ou descerão para as regiões onde há choro e ranger de dentes.
Há ainda quem afirme que o céu já está lotado por um número certo de almas santificadas, não havendo lá mais vaga para ninguém. No final dos tempos, os que merecerem a graça da salvação, terão seu futuro "habitat" aqui mesmo na Terra, que, devidamente expurgada, transformar-se-á em delicioso paraíso.
Essas doutrinas só se põem inteiramente de acordo em um ponto. E' quando dogmatizam que o homem vive apenas uma vez (ainda que, em certos casos, por apenas alguns minutos), depois do que sua boa ou má sorte será definitivamente selada, sem que lhe seja possível, além sepultura, arrepender-se e emendar-se.
Ora, o que se vê neste mundo é que, do selvagem ao civilizado, os dons se evidenciam assaz desproporcionados, o mesmo acontecendo com o nível de moralidade. Nem mesmo ao nascerem, as criaturas se apresentam igualmente dotadas. Assim, se o futuro de cada ser, na eternidade, dependesse realmente de uma só vida corpórea, então Deus devera ensejar a todos as mesmas aptidões e oportunidades de instruir-se, assim como igualar a duração da existência humana, porquanto premiar uns com deleites infinitos e condenar outros a torturas atrozes para todo o sempre, sem lhes haver assegurado uniformidade de condições para merecerem este ou aquele destino, constituiria a mais tremenda injustiça.
Outrossim, se os mortos não pudessem, mesmo, arrepender-se de seus erros, nem tomar novas resoluções, qual a utilidade da pregação do Evangelho feita a eles pelo próprio Cristo, corno se lê em I S. Pedro, 4 :6?
A Doutrina Espírita responde à indagação que serve de título a estas linhas dizendo que, como filhos de Deus, criados à Sua imagem e semelhança, todos os homens se destinam à perfeição, o que vale dizer, à felicidade.
Através das vidas sucessivas, todos hão de assenhorear-se da Verdade e, de progresso em progresso, vir a "amar o próximo como a si mesmos", conquistando destarte o "reino do céu", que é um estado (retidão de consciência) e não propriamente um lugar.
Com tal destinação, a alma deve caminhar sempre para frente e para o alto, crescendo em ciência e em virtude, rumo à Razão Infinita e ao Supremo Bem.
Cada uma das existências terrestres ou nos milhares de mundos que pontilham o Universo, não é senão um episódio da grande vida imortal. Em cada uma delas, vencemos um pouco da ignorância e do egoísmo que há em nós, depuramo-nos, fortalecemo-nos intelectuais e moralmente, até que, por merecimento próprio, adquiramos o acesso aos planos superiores da espiritualidade, moradas de eterna beleza, sabedoria e amor!
Leitor amigo: não é esta a doutrina que melhor se coaduna com a majestade e os excelsos atributos do Criador?
(Revista Reformador de março de 1964)

sábado, 20 de outubro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Espíritos Sofredores" parte 3

AUGUSTE MICHEL
(Havre, março de 1863)
Era um moço rico, boêmio, gozando larga e exclusivamente
a vida material. Conquanto inteligente, o indiferentismo
pelas coisas sérias era-lhe o traço característico.
Sem maldade, antes bom que mau, fazia-se estimar
por seus companheiros de pândegas, sendo apontado na
sociedade por suas qualidades de homem mundano. Não
fez o bem, mas também não fez o mal. Faleceu em conseqüência
de uma queda da carruagem em que passeava.
Evocado alguns dias depois da morte por um médium que
indiretamente o conhecia, deu sucessivamente as seguintes
comunicações:
8 de março de 1863. — “Por enquanto apenas consegui
desprender-me e dificilmente vos posso falar. A queda que
me ocasionou a morte do corpo perturbou profundamente o
meu Espírito. Inquieta-me esta incerteza cruel do meu futuro.
O doloroso sofrimento corporal experimentado nada é comparativamente
a esta perturbação. Orai para que Deus me
perdoe. Oh! que dor! oh! graças, meu Deus! que dor! Adeus.”
18 de março. — “Já vim a vós, mas apenas pude falar
dificilmente. Presentemente, ainda mal me posso comunicar
convosco. Sois o único médium, ao qual posso pedir
preces para que a bondade de Deus me subtraia a esta
perturbação. Por que sofrer ainda, quando o corpo não mais
sofre? Por que existir sempre esta dor horrenda, esta angústia
terrível? Orai, oh! orai para que Deus me conceda
repouso... Oh! que cruel incerteza! Ainda estou ligado ao
corpo. Apenas com dificuldade posso ver onde devo encontrar-
me; meu corpo lá está, e por que também lá permaneço
sempre? Vinde orar sobre ele para que eu me desembarace
dessa prisão cruel... Deus me perdoará, espero. Vejo
os Espíritos que estão junto de vós e por eles posso falar-
-vos. Orai por mim.”
6 de abril. — “Sou eu quem vem pedir que oreis por
mim. Será preciso irdes ao lugar em que jaz meu corpo,
a fim de implorar do Onipotente que me acalme os
sofrimentos? Sofro! oh! se sofro! Ide a esse lugar — assim é
preciso — e dirigi ao Senhor uma prece para que me perdoe.
Vejo que poderei ficar mais tranqüilo, mas volto
incessantemente ao lugar em que depositaram o que me
pertencia.”
O médium, não dando importância ao pedido que lhe faziam
de orar sobre o túmulo, deixara de atender. Todavia, indo aí, mais
tarde, lá mesmo recebeu uma comunicação.
11 de maio. — “Aqui vos esperava. Aguardava que
viésseis ao lugar em que meu Espírito parece preso ao seu
invólucro, a fim de implorar ao Deus de misericórdia e bondade
acalmar os meus sofrimentos. Podeis beneficiar-me
com as vossas preces, não o esqueçais, eu vo-lo suplico.
Vejo quanto a minha vida foi contrária ao que deveria ser;
vejo as faltas cometidas.
“Fui no mundo um ser inútil; não fiz uso algum proveitoso
das minhas faculdades; a fortuna serviu apenas à satisfação
das minhas paixões, aos meus caprichos de luxo e
à minha vaidade; não pensei senão nos gozos do corpo, desprezando
os da alma e a própria alma. Descerá a misericórdia
de Deus até mim, pobre Espírito que sofre as conseqüências
das suas faltas terrenas? Orai para que Ele me
perdoe, libertando-me das dores que ainda me pungem.
Agradeço-vos o terdes vindo aqui orar por mim.”
8 de junho. — “Posso falar e agradeço a Deus que mo
faculta. Compreendi as minhas faltas e espero que Deus
me perdoe. Trilhai sempre na vida de conformidade com a
crença que vos alenta, porque ela vos reserva de futuro um
repouso que eu ainda não tenho. Obrigado pelas vossas
preces. Até outra vista.”
30 de julho. — “Presentemente sou menos infeliz, visto
não mais sentir a pesada cadeia que me jungia ao corpo.
Estou livre, enfim, mas ainda não expiei e preciso é que
repare o tempo perdido se eu não quiser prolongar os sofrimentos.
Espero que Deus, tendo em conta a sinceridade do
arrependimento, me conceda a graça do seu perdão. Pedi
ainda por mim, eu vo-lo suplico.
A insistência do Espírito, para que se orasse sobre o seu
túmulo, é uma particularidade notável, mas que tinha sua razão
de ser se levarmos em conta a tenacidade dos laços que ao corpo
o prendiam, à dificuldade do desprendimento, em conseqüência
da materialidade da sua existência. Compreende-se que, mais próxima,
a prece pudesse exercer uma espécie de ação magnética
mais poderosa no sentido de auxiliar o desprendimento. O costume
quase geral de orar junto aos cadáveres não provirá da intuição
inconsciente de um tal efeito? Nesse caso, a eficácia da prece
alcançaria um resultado simultaneamente moral e material.

sábado, 13 de outubro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Sofredores" parte 2

NOVEL
O Espírito dirige-se ao médium, que em vida o conhecera.
“Vou contar-te o meu sofrimento quando morri. Meu
Espírito, preso ao corpo por elos materiais, teve grande di-

ficuldade em desembaraçar-se — o que já foi, por si, uma
rude angústia.
A vida que eu deixava aos 21 anos era ainda tão vigorosa
que eu não podia crer na sua perda. Por isso procurava
o corpo, estava admirado, apavorado por me ver perdido
num turbilhão de sombras. Por fim, a consciência do meu
estado e a revelação das faltas cometidas, em todas as minhas
encarnações, feriram-me subitamente, enquanto uma
luz implacável me iluminava os mais secretos âmagos da
alma, que se sentia desnudada e logo possuída de vergonha
acabrunhante. Procurava fugir a essa influência interessando-
me pelos objetos que me cercavam, novos, mas
que, no entanto, já conhecia; os Espíritos luminosos, flutuando
no éter, davam-me a idéia de uma ventura a que eu
não podia aspirar; formas sombrias e desoladas, mergulhadas
umas em tedioso desespero; furiosas ou irônicas
outras, deslizavam em torno de mim ou por sobre a terra a
que me chumbava. Eu via agitarem-se os humanos cuja
ignorância invejava; toda uma ordem de sensações desconhecidas,
ou antes reencontradas, invadiram-me simultaneamente.
Como que arrastado por força irresistível, procurando
fugir à dor encarniçada, franqueava as distâncias,
os elementos, os obstáculos materiais, sem que as belezas
naturais nem os esplendores celestes pudessem calmar um
instante a dor acerba da consciência, nem o pavor causado
pela revelação da eternidade. Pode um mortal prejulgar as
torturas materiais pelos arrepios da carne; mas as vossas
frágeis dores, amenizadas pela esperança, atenuadas por
distrações ou mortas pelo esquecimento, não vos darão
nunca a idéia das angústias de uma alma que sofre sem
tréguas, sem esperança, sem arrependimento.
Decorrido um tempo cuja duração não posso precisar, invejando os eleitos
cujos esplendores entrevia, detestando os maus Espíritos
que me perseguiam com remoques, desprezando os
humanos cujas torpezas eu via, passei de profundo abatimento
a uma revolta insensata.
Chamaste-me finalmente, e pela primeira vez um sentimento
suave e terno me acalmou; escutei os ensinos que
te dão os teus guias, a verdade impôs-se-me, orei; Deus
ouviu-me, revelou-se-me por sua Clemência, como já se me
havia revelado por sua Justiça.
Novel.”

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Espíritos Sofredores"


Capitulo IV
Espíritos Sofredores
O Castigo
Exposição geral do estado dos culpados por ocasião da entrada no mundo dos Espíritos, ditada à Sociedade Espírita de Paris, em outubro de 1860.
"Depois da morte, os Espíritos endurecidos, egoístas e maus são logo tomados de uma dúvida cruel a respeito do seu destino, no presente e no futuro. Olham em torno de si e nada vêem que possa aproveitar ao exercício da sua maldade — o que os desespera, visto como o insulamento e a inércia são intoleráveis aos maus Espíritos.
Não levantam o olhar às moradas dos Espíritos elevados, consideram aquilo que os cerca e, então, compreendendo o abatimento dos Espíritos fracos e punidos, se agarrarão a eles como a uma presa, utilizando-se da lembrança de suas faltas passadas, que eles põem continuamente em ação pelos seus gestos ridículos.
Não lhes bastando esse motejo, atiram-se para a Terra como abutres famintos, procurando entre os homens uma alma que lhes dê fácil acesso às tentações. Encontrando-a, dela se apoderam exaltando-lhes a cobiça e procurando extinguir-lhe a fé em Deus, até que por fim, senhores de uma consciência e vendo segura a presa, estendem a tudo quanto se lhe aproxime a fatalidade do seu contágio.
O mau Espírito, no exercício da sua cólera, é quase feliz, sofrendo apenas nos momentos em que deixa de atuar, ou nos casos em que o bem triunfa do mal. Passam no entanto os séculos e, de repente, o mau Espírito pressente que as trevas acabarão por envolvê-lo; o círculo de ação se lhe restringe e a consciência, muda até então, faz-lhe sentir os acerados espinhos do remorso.
Inerte, arrastado no turbilhão, ele vagueia, como dizem as Escrituras, sentindo a pele arrepiar-se-lhe de terror. Não tarda, então, que um grande vácuo se faça nele e em torno dele: chega o momento em que deve expiar; a reencarnação aí está ameaçadora... e ele vê como num espelho as provações terríveis que o aguardam; quereria recuar, mas avança e, precipitado no abismo da vida, rola em sobressalto, até que o véu da ignorância lhe recaia nos olhos.
Vive, age, é ainda culpado, sentindo em si não sei que lembrança inquietadora, pressentimentos que o fazem tremer, sem recuar, porém, da senda do mal. Por fim extenuado de forças e de crimes, vai morrer. Estendido numa enxerga (ou num leito, que importa?!), o homem culpado sente, sob aparente imobilidade, resolver-se e viver dentro de si mesmo um mundo de esquecidas sensações. Fechadas as pupilas, ele vê um clarão que desponta, ouve estranhos sons; a alma, prestes a deixar o corpo, agita-se impaciente, enquanto as mãos crispadas tentam agarrar as cobertas... Quereria falar, gritar àqueles que o cercam: — Retenham-me! eu vejo o castigo! — Impossível! A morte sela-lhe os lábios esmaecidos, enquanto os assistentes dizem: Descansa em paz!
E contudo ele ouve, flutuando em torno do corpo que não deseja abandonar. Uma força misteriosa o atrai; vê e reconhece finalmente o que já vira. Espavorido, ei-lo que se lança no Espaço onde desejaria ocultar-se, e nada de abrigo, nada de repouso.
Retribuem-lhe outros Espíritos o mal que fez; castigado, confuso e escarnecido, por sua vez vagueia e vagueiará até que a divina luz o penetre e esclareça, mostrando-lhe o Deus vingador, o Deus triunfante de todo o mal, e ao qual não poderá apaziguar senão à força de expiação e gemidos.
Jorge."
Nunca se traçou quadro mais horrível e verdadeiro à sorte do mau: será ainda necessária a fantasmagoria das chamas e das torturas físicas?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

PENAS ETERNAS


"Haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende,
mais do que por noventa e nove justos que não necessitam
de arrependimento." (Lucas, 15:7)
Para melhor poder elucidar este tema, torna-se imperiosa a transcrição de alguns trechos do Velho e do Novo Testamentos:
Eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo. (João, 12:47)
Eu sou o bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas. (João, 10:11)
Vinde a mim todos os que estão sobrecarregados e oprimidos, e eu vos aliviareis.(Mateus, 11:28)
Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores. (Marcos, 2:17)
Porque qualquer que pede recebe; e quem busca, acha; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. (Lucas, 11:10)
Por mim mesmo juro, disse o Senhor Deus, que não quero a morte do ímpio, senão que ele se converta, que deixe o mau caminho e que viva. (Ezequiel, 33:11)
Conforme se depara das citações acima, os quatro evangelistas são unânimes na demonstração da amplitude do amor de Deus para com suas criaturas.
Os livros dos profetas, de forma idêntica, atestam o desvelo que Deus tem para com o gênero humano e a transcrição que fizemos acima, de um tópico do livro de Ezequiel, não deixa pairar qualquer dúvida sobre essa assertiva.
Se as religiões afirmam que o Cristo veio para salvar o mundo e chamar os pecadores, como conceber a validade de dogmas que conflitam com essas afirmações?
Como poderia se conceber um Pai que demonstra o mais efusivo amor para com suas criaturas, ao ponto de enviar Jesus Cristo para nos trazer uma mensagem de vida eterna, pagando no cimo do Calvário essa sua ousadia, tolerar em sua justiça a existência de penas eternas e irremissíveis?
A proclamação de Jesus de que há mais alegria no Céu por um pecador que se regenera do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento, representa o mais insofismável repúdio às suposições inconsistentes sobre a existência de seres devotados eternamente à prática do mal e de lugares circunscritos para a aplicação de penalidades sem remissão.
Como admitir a idéia de um Pai que situa seus filhos em vários planos de aprendizagem para, face ao menor deslize, condená-los, de forma inapelável, a um inferno tenebroso, chefiado por um arguto e despótico deus do mal, que faz perenemente afrontas ao Criador de todas as coisas? A justiça de Deus, em tais circunstâncias, seria defectível e facilmente sobrepujada pela justiça dos homens, a qual, em muitos casos, concede o sursis e dá aos réus a oportunidade de novos recomeços.
Se os pais terrenos, apesar de suas imperfeições, dão sempre a seus filhos o que há de melhor e, se estes transgridem suas ordenações não lhes negam a oportunidade de novas experiências, como negar a Deus, que é a expressão máxima de perfeição, a concessão de regalias equivalentes?
O Espiritismo, que surgiu na Terra com o objetivo primário de restaurar o autêntico Cristianismo, não pode jamais pactuar com doutrinas que apresentam um Deus unilateral, vingativo, rancoroso e despótico, em flagrante contraste com tudo aquilo que o Mestre Nazareno veio nos ensinar. O progresso humano não comporta mais postulados retrógrados que objetivem manter os homens acorrentados às férreas cadeias de dogmas esdrúxulos, verdadeiros resíduos de crenças antigas, que já não têm razão de existir.
Quando o apóstolo afirma que o amor cobre a multidão de pecados, é incisivo na demonstração de que qualquer falha pode ser remida pela prática das leis do amor. Isso anula os conceitos de penas eternas, de inferno habitado por legiões de seres que viveriam eternamente na prática do mal e que, persistentemente, atormentariam as almas que estivessem expiando nas chamas infernais o crime de terem sido fracas e sujeitas a quedas.
Jamais poderia Deus ter criado pigmeus para exigir deles obra de gigantes.
O Espírito do homem foi criado simples e ignorante, sendo situado nos vários planos de aprendizagem a fim de se despojar das imperfeições e, através dos séculos, ser guindado à situação de Espírito angelical. Se a sua natural fraqueza e imperfeição origina quedas repetidas, no desenrolar das reencarnações, não seria lógico o Criador não lhe conceder oportunidade de soerguimento e consentir a consumação de tão odienta condenação eterna.
O Espiritismo nos apresenta Deus em toda a sua magnitude, revestido dos seus verdadeiros atributos de Pai de amor e misericórdia, de justiça e de perdão. A Doutrina dos Espíritos não nega a penalidade futura, pelo contrário, confirma-a; o que, entretanto, não aceita é essa penalidade revestida de caráter eterno e a existência de inferno localizado.
Seja qual for a duração dessa penalidade transitória, ela terá um epilogo, próximo ou remoto. A alma humana tem sempre a oportuunidade de reencetar a marcha rumo à sublimação.
Por isso disse Jesus: Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.
Paulo A. Godoy
Livro: O Evangelho Pedi Licença

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

FAMÍLIA.





   Conceito - Grupamento de raça, de caracteres e gêneros semelhantes, resultado de agregações afins, a família, genericamente, representa o clã social ou de sintonia por identidade que reúne espécimes dentro da mesma classificação. Juridicamente, porém, a família se deriva da união de dois seres que se elegem para uma vida em comum, através de um contrato, dando origem à genitura da mesma espécie. Pequena república fundamental para o equilíbrio da grande república humana representada pela nação.
   A família tem suas próprias leis, que consubstanciam as regras de bom comportamento dentro do impositivo do respeito ético, recíproco entre os seus membros, favorável à perfeita harmonia que deve vigir sob o mesmo teto em que se agasalham os que se consorciam.
   Animal social, naturalmente monogâmico, o homem, na sua generalidade, somente se realiza quando comparte necessidades e aspirações na conjuntura elevada do lar.
   O lar, no entanto, não pode ser configurado como a edificação material, capaz de oferecer segurança e paz aos que aí se resguardam. A casa são a argamassa, os tijolos, a cobertura, os alicerces e os móveis, enquanto o lar são a renúncia e a dedicação, o silêncio e o zelo que se permitem àqueles que se vinculam pela eleição afetiva ou através do impositivo consangüíneo, decorrente da união.
   A família, em razão disso, é o grupo de espíritos normalmente necessitados, desajustados, em compromisso inadiável para a reparação, graças à contingência reencarnatória. Assim, famílias espirituais freqüentemente se reúnem na Terra em domicílios físicos diferentes, para as realizações nobilitastes com que sempre se viram a braços os construtores do Mundo. Retornam no mesmo grupo consangüíneo os espíritos afins, a cuja oportunidades as vezes preferem renunciar, de modo a concederem aos desafetos e rebeldes do passado o ensejo da necessária evolução, da qual fruirão após as renúncias ás demoradas  uniões do Mundo Espiritual...
   Modernamente, ante a precipitação dos conceitos que generalizam na vulgaridade os valores éticos, tem-se a impressão de que para a rude ameaça sobre a estabilidade da família. Mais do que nunca, porém, o conjunto doméstico deve se impor para a sobrevivência a benefício da soberania da própria humanidade.
   A família é mais do que o resultante genético... São os ideais, os sonhos, os anelos, as lutas e árduas tarefas, os sofrimentos e as aspirações, as tradições morais elevadas que se cimentam nos liames da concessão divina, no mesmo grupo doméstico onde medram as nobres expressões da elevação espiritual da Terra.
   Quando a família periclita, por esta ou aquela razão, sem dúvida a sociedade esta a um passo do malogro...
   Histórico - Graças ao instinto gregário, o homem, por exigência da preservação da vida, viu-se conduzindo à necessidade de cooperação recíproca, a fim de sobreviver em face das ásperas circunstâncias nos lugares onde foi colocado para evoluir. A união nas necessidades inspirou as soluções para os múltiploproblemas decorrentes do aparente desaparelhamento que fazia sofrer ao lutar contra os múltiplos fatores negativos que havia por bem superar.
   Formando os primitivos agrupamentos em semibarbárie, nasceram os pródomos das eleições afetivas, da defesa dos dependentes e submissos, surgindo os lampejos da aglutinação familial.
   Dos tempos primitivos aos da civilização da Antigüidade Oriental, os valores culturais impuseram lentamente as regras de comportamento em relação aos pais - representativos dos legisladores, Personificados nos anciãos; destes para os filhos - pela fragilidade e dependência que sempre inspiram; entre irmãos - pela convivência pacífica indispensável à fortaleza da espécie; ou reciprocamente entre os mais próximos, embora não subalternos ao mesmo teto, num desdobramento do próprio clã, ensaiando os passos na direção da família dilatada...
   A Grécia, aturdida pela hegemonia militar espartana, não considerou devidamente a união familial, o que motivou a sua destruição, ressalvada Atenas, que, não obstante amando a arte e a beleza, reservava ao Estado os deveres pertencentes à família, facultando-a sobreviver por tempo maior, mas não lobrigando atingir o programa  estético e superior a que se propuseram os seus excelentes filósofos.
   A Roma coube essa indeclinável tarefa, a princípio reservada ao patriciado, e depois, através de leis coordenadas pelo Senado, que alcançaram as classes agrícolas, militares, artísticas e a plebe, facultando direitos e deveres que, embora as hediondas e infelizes guerras, se foram fixando no substrato social e estabelecendo os convênios que o amor sancionou e fixou como técnica segura de dignificação do próprio homem, no conjunto da família.
   A idade Média, caracterizada pela supremacia da ignorância, desfigurou a família com o impositivo de serem doados os filhos à Igreja e ao suserano dominador, entibiando por séculos a marcha do espírito humano.
   Aos enciclopedistas foi reservada a grandiosa missão de, em estabelecendo os códigos dos direitos humanos, reestruturarem a família em bases de respeito para a felicidade das criaturas.
   Todavia, a dialética materialista e os modernos conceitos sensualistas, proscrevendo o matrimônio e prescrevendo o amor livre, voltam a investir contra a organização familial por meio de métodos aberrantes, transitórios, é certo, mas que não conseguirão, em absoluto, qualquer triunfo significativo.
   São da natureza humana a fidelidade, a cooperação e a fraternidade como pálidas manifestações do amor em desdobramento eficaz. Taís valores se agasalham, sem dúvida, no lar, no seio da família, onde se arregimentam forças morais e se caldeiam sentimentos na forja da convivência doméstica.
   Apesar de a poliandra haver gerado o matriarcado e a promiscuidade sexual feminina, a poligamia, elegendo o patriarcado, não foi de menos infelizes conseqüências.

 Segundo o eminente jurista suíço Bachofen, que procedeu a pesquisas históricas inigualáveis sobre o problema da poliandra, a mulher sentiu-se repugnada e vencida pela vulgaridade e abuso sexual, de cuja atitude surgiria o regime monogâmico, que ora é aceito por quase todos os povos da Terra.
   Conclusão - A família, todavia, para lograr a finalidade a que se destina, deve começar desde os primeiros arroubos da busca afetiva, em que as realizações morais devem sublevar às sensações sexuais de breve durabilidade.
   Quando os jovens se resolvem consorciar, impelidos pelas imposições carnais, a futura família já padece ameaça grave, porquanto, em nenhuma estrutura se fundamenta para resistir os naturais embates que a união a dois acarreta, no plano do ajustamento emocional e social, complicando-se, naturalmente, quando do surgimento da prole.
   Fala-se sobre a necessidade dos exames pré-nupciais, sem dúvida necessários, mas com lamentável descaso pela preparação psicológica dos futuros nubentes em relação aos encargos e às responsabilidades esponsalícias e familiares.
   A Doutrina Espírita, atualizando a lição evangélica, descortina na família esclarecida espiritualmente a Humanidade ditosa do futuro promissor.
   Sustentá-la nos ensinamentos do Cristo e nas Lições da reta conduta, apesar da loucura generalizada que irrompe em toda parte, é o mínimo dever de que ninguém se pode eximir.

                                     Joanna de Ângelis. (Divaldo P. Franco.)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Reflexões sobre a Moral Divina


CHRISTIANO TORCHI
Não é raro conhecermos pessoas que, apesar de viverem em condições adversas,
em ambientes viciosos, conseguem furtar-se às influências negativas do meio e se destacam
na sociedade como homens e mulheres dignos. Há outras que, mesmo depois de terem experimentado
uma vida de transgressões, crimes, prostituição e drogas, conseguem se recuperar, tornando-
se referência para muitos outros indivíduos. Esses exemplos de superação mostram do que o ser humano é capaz, quando tem fé.
No conhecido livro do escritor francês Victor Hugo (1802-1885),
Os Miseráveis, também retratado em filme, encontramos a história de um ex-presidiário (Jean Valjean)
que, ante um dilema moral, originado de um furto por ele praticado após ganhar a liberdade,
foi inocentado pela própria vítima, o caridoso bispo Charles Myriel, atitude que causou um
profundo impacto no ex-condenado, motivando-o, daí por diante, a se tornar um homem de
bem. Esta obra, embora seja um romance de ficção social, é inspirada na realidade e nos faz
refletir sobre a questão filosófica da moral, tratada em O Livro
dos Espíritos.(1)
A crença inata em um ser superior, comum a todos nós, sugere a existência de uma constituição
divina insculpida na alma. Toda vez que infringimos as leis naturais, um juízo secreto nos diz que
estamos no caminho errado. Dominados pelas paixões, nem sempre seguimos os ditames desse tribunal
interior, ficando sujeitos, depois, ao arrependimento, à expiação e à reparação dos erros cometidos.
Do ponto de vista espírita, “a moral é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o
mal.Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando faz tudo pelo bem de
todos, porque então cumpre a Lei de Deus”.(2) A infração das leis morais resulta numa sanção imposta
pela própria consciência, que se traduz no remorso, sem prejuízo da eventual condenação imposta
pela sociedade e suas instituições.
O bem e o mal estão relacionados ao comportamento humano ditado pelo livre-arbítrio, pois “a noção
de moralidade é inseparável da de liberdade”.(3) Procedendo
corretamente, o homem dá mostras de que sabe distinguir o bem do mal. O bem é tudo o que
é compatível com a lei de Deus e o mal é tudo aquilo que não se harmoniza
com ela. Em resumo: quando fazemos o bem, procedemos conforme a lei de Deus, e quando fazemos o mal estamos infringindo essa lei.
Nem todos, porém, se comprazem em fazer o bem, dependendo da evolução do indivíduo e dos
valores que cultua.
Quando o homem procura agir acertadamente, utilizando a razão e a reflexão, encontra meios de distinguir, por si mesmo, o que é bem do que é mal. Ainda que esteja sujeito a enganar- se, em vista de sua falibilidade, possui uma bússola que o guiará no caminho certo, que é o de colocar-se na posição do outro,
analisando o resultado de sua decisão: aprovaria eu o que estou fazendo ao próximo, se estivesse
no lugar dele?
Esse método de pôr-se no lugar do outro para medir a qualidade de nossos atos é bem eficiente,
quando nos habituamos a utilizá-lo, porque o metro de cada um está na lei natural, que estabelece
o limite de nossas próprias necessidades, razão por que experimentamos o sofrimento toda
vez que ultrapassamos essa fronteira. Por isso, se ouvíssemos mais a voz da consciência, estaríamos
a salvo de muitos males que atribuímos a fatores externos ou à Natureza.
Deus poderia, se quisesse, ter feito o Espírito pronto e acabado, mas o criou simples e ignorante,
dando-lhe, assim, a oportunidade de progredir pelo próprio esforço, para que tenha a ventura de chegar
ao cume da jornada e exclamar, satisfeito: eu venci!
Com o advento tanto do progresso e a consequente proliferação dos grupos sociais, caracterizados
por sua diversidade cultural, como também das novas necessidades criadas pela modernidade
e pelo avanço da tecnologia, somos tentados a pensar que a lei natural não é uma regra uniforme para a coletividade.
Todavia, este modo de raciocinar é equivocado, uma vez que a lei natural possui tantas gradações
quantas necessárias para cada tipo de situação, sem perder a unidade e a coerência, cabendo a
cada um distinguir as necessidades reais das artificiais ou convencionais.
A lei de Deus é a mesma para todos, independentemente da posição evolutiva do homem, que
tem a liberdade de praticar o bem ou o mal. A diferença que existe está no grau de responsabilidade,
como no caso do selvagem que, outrora, sob domínio dos instintos primitivos, considerava
normal alimentar-se de carne humana, a saber: o homem é tanto mais culpado quanto
melhor sabe o que faz. À medida que o Espírito adquire experiência, em sucessivas encarnações,
alcança estágios superiores que lhe permitem discernir melhor as coisas. Portanto, a responsabilidade
do ser humano é proporcional aos meios de que dispõe para diferenciar o bem do mal. Apesar disso, não se pode dizer que são menos repreensíveis as faltas que comete, embora decorrentes da posição que
ocupa na sociedade.
O mal desaparece à medida que a alma se depura. É então que, senhor de si, o homem se torna
mais culpado quando comete o mal, porque tem melhor compreensão
da existência deste. A culpa pelo mal praticado recai sobre quem deu causa a ele, porém,
aquele que foi compelido, levado ou induzido a praticar o mal por outrem, é menos culpado do que
aquele que lhe deu causa.
Outrossim, o fato de se achar num ambiente desfavorável ou nocivo à moral, devido às influências
dos vícios e dos crimes, não quer dizer que a criatura esteja isenta de culpa, se, deixando-se
levar por essas influências, também praticar o mal. Em primeiro lugar, porque dispõe de um instrumento
poderoso para superar as circunstâncias infelizes: a vontade.
Em segundo, porque, antes de encarnar, pode ter escolhido essa prova, submetendo-se à tentação
para ter o mérito da resistência.
De outras vezes, o Espírito renasce em um meio hostil com a missão de exercer influência positiva
sobre seus semelhantes, retardatários.
Por outro lado, aquele que,mesmo não praticando diretamente o mal, se aproveita da maldade feita
por outrem, age como se fosse o autor, isso porque talvez não tivesse coragem de cometê-lo,
mas, encontrando o mal feito, tira partido da situação, o que significa que o aprova e o teria praticado,
se pudesse ou tivesse ousadia para tanto. Enquanto Espíritos, quase todos nos equiparamos,
na Terra, a condenados em regime de liberdade condicional, sujeitos, graças à misericórdia divina, a diversas restrições que,
muitas vezes, nos são impostas para nos proteger das próprias fraquezas. Assim, podemos dizer
que muitos de nós só não praticamos o mal por falta de oportunidade, considerando que nem
sempre temos vontade forte o bastante para resistir a determinadas conjunturas, em virtude da
ausência de autocontrole.
O desejo de praticar o mal pode ser tão repreensível quanto o próprio mal, contudo, aquele
que resiste às tentações, com a finalidade de superar-se, tem grande mérito, sobretudo quando
depende apenas de sua vontade para tomar essa ou aquela decisão. Não basta, porém, que
deixe de praticar o mal. É preciso que faça o bem no limite de suas forças, pois cada um responderá
por todo mal que resulte de sua omissão em praticar o bem. Os Espíritos superiores são
taxativos em dizer que ninguém está impossibilitado de fazer o bem, independentemente de sua
posição, pois que todos os dias da existência nos oferecem oportunidades
de ajudar o próximo, ainda que seja por meio de uma singela oração.
O grande mérito de se fazer o bem reside na dificuldade que se tem de praticá-lo. Quanto maiores
forem os obstáculos para a realização do bem, maior é o merecimento daquele que o executa.
Contrário senso, não existe tanta valia em se fazer o bem sem esforço ou quando nada custa, como
no caso do afortunado que dá um pouco aos pobres do que lhe sobra em abundância. A parábola
do óbolo da viúva, contida em o Novo Testamento,4 retrata bem tal circunstância.
Finalizando, a essência da moral divina pode ser encontrada na
máxima do amor ao próximo, ensinada por Jesus, porque abarca todos os deveres que os homens
têm uns para com os outros, razão pela qual temos necessidade de vivenciar essa lei constantemente,
porquanto o bem é a lei suprema do Universo que nos conduz a Deus “e o mal será sempre representado por aquela triste vocação do bem unicamente para nós mesmos [...]”.(5)
Junho 2010 • Reformador


1-KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 629-646.
2-Idem, ibidem. Q. 629.
3-DENIS, Léon. O problema do ser, do destino
e da dor. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2009. P. 3, As potências da alma, item 22,
4-LUCAS, 21:1-4.
5-XAVIER, Francisco C. Ação e reação. 28.
ed. 2. reimp. Pelo Espírito André Luiz. Rio
de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 7, p. 110.