Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
Mostrando postagens com marcador Caridade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Caridade. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Trabalho Maior na Casa Espírita:"A evangelização das criaturas constitui a função mais importante dentro do centro espírita..."

Trabalho Maior na Casa Espírita

"Urge, contudo, que os espiritistas, esclarecidos no Evangelho, procurem compreender a feição educativa dos postulados doutrinários, reconhecendo que o trabalho imediato dos tempos modernos é o da iluminação interior do homem, melhorando-se-lhe os valores do coração e da consciência. "
Emmanuel
O Consolador", Francisco Cândido Xavier, questão n. 255, cap. V - "Evolução", Editora FEB

A missão primordial do Espiritismo é a melhoria moral da Humanidade.

A evangelização das criaturas constitui a função mais importante dentro do centro espírita. Com este entendimento, cabe aos trabalhadores espíritas colocarem o Evangelho como instrução básica e fonte de iluminação de si mesmos, visando primeiramente: sua transformação moral, sua renovação íntima, seu aprimoramento do coração, sua educação cristã dos hábitos, seu desenvolvimento dos sentimentos de caridade e fraternidade, antes de se entregarem às tarefas de divulgação junto ao povo.

Todo espírita atuante, mormente os dirigentes, os expositores doutrinários, os explicadores do Evangelho, os evangelizadores da criança, os samaritanos abnegados da caridade nas atividades de assistência e os cooperadores na divulgação doutrinária necessitam refletir, seriamente, quanto à finalidade do Evangelho no mundo.

Inadiável ao espírita educar-se no Evangelho, transformando sua vida para melhores padrões de espiritualidade superior. Reformados em Jesus Cristo, possamos ensinar e iluminar, esclarecer e compreender, trabalhar e servir, objetivando a elevação da moral e do caráter das pessoas que adentram a casa espírita - a grande oficina do Bem na educação das almas.

Cultuemos Kardec e Jesus no santuário da consciência e do coração. Esta tarefa individual de kardequização do raciocínio e cristianização dos sentimentos em nós não é conquista muito fácil, pois demanda muita força de vontade e esforço perseverante para aprender e desenvolver-se nas linhas mestras do Evangelho de Luz Eterna.

Kardec é o mestre maior do pensamento lógico, do conhecimento doutrinário e dos tesouros inestimáveis da fé raciocinada.

Jesus é o mestre por excelência dos corações. Ofertou-nos, em seu Evangelho de tesouros celestes, os fundamentos do amor universal, as normas de boa conduta, as regras para correção de nossos defeitos, os princípios fraternais das boas maneiras, as disciplinas de aprimoramento dos sentimentos e os processos profundos de reeducação da alma, de modo livre e consciente.

Casa espírita é lar cristão dos trabalhadores de boa vontade, cujo Comandante Supremo é Jesus. E escola sublime das almas, é oficina abençoada do Bem Eterno e hospital atencioso aos espíritos atormentados.

Quem chega à casa espírita, pedindo apoio, não é mais um elemento, nem mais um adepto, nem mais um paciente, nem mais um doente, nem mais um cliente, nem mais um contribuinte financeiro, nem mais uma pessoa pobre: é, especialmente e acima de tudo, um irmão que Jesus enviou aos nossos corações, esperando a migalha do amor.

Toda movimentação de amor, verdade e luz na casa espírita, mais cedo ou mais tarde, provocará o despertar do espírito humano, por mais descrente e embrutecido seja, favorecendo suas necessidades de renovação e reforma íntima perante o Evangelho.

Batismo para Salvar-se."...devemos procurar fazer tudo quanto Jesus fez, e não praticar tudo o que com Ele fizeram os homens ..."



* Se vocês, espíritas, não são batizados, como é que poderão salvar-se?

Esta pergunta me foi feita por um amigo em cama. Já houve quem me dissesse que o espírita deve batizar-se, sim, porque até Jesus o foi. A esta pessoa, baseando-me numa argumentação do médium e orador espírita José Raul Teixeira, respondi que, de fato, João Batista batizou Jesus nas águas do Jordão; no entanto, Jesus a ninguém batizou. Demais, os espíritos devemos procurar fazer tudo quanto Jesus fez, e não praticar tudo o que com Ele fizeram os homens porque, senão, neste descompassado, dentro em breve estaremos pregando um nosso semelhante qualquer numa cruz com uma coroa de espinhos.!

Outros alegam que o batismo evita que se morra pagão. Ouvi muito esta afirmativa quando eu era criança. Aproveito a oportunidade para explicar que a palavra pagão vem do Latim paganus e não designava, cm absoluto, o morador do Pagus, não. Quem informa é o ilustre catedrático paulista Silveira Bueno, católico convicto. Designava aquele que, para não servir na milícia romana, fugia das cidades, ia residir nos campos longe de Roma. Quando o Cristianismo triunfou com a aliança dos líderes políticos com os líderes religiosos, ao tempo de Constantino, século III depois de Cristo, deu-se à palavra paganus uma nova semântica', um novo significado. Desde então pagão seria todo aquele que não desejasse servir nas milícias celestiais, quer dizer, todo aquele que não quisesse pertencer ao Catolicismo.

O batismo é um ritual muito mais antigo do que comumente se pensa. Vem dos povos mais antigos, dos gregos, dos egípcios, dos hindus. As religiões tradicionalistas, ainda hoje, às panas do século XXI, insistem em conservá-lo, no que nada temos que ver. É um direito que elas têm e não seremos nós, os espíritas, que iremos cercear o livre-arbítrio de quem quer que seja, desde que não haja prejuízo alheio. Só que a Doutrina Espírita pura e simplesmente dispensa este ritual. Ou qualquer outro ritual também como preces especiais, casamentos religiosos, oferendas ou coisas do gênero. Perdão se me torno repetitivo, porém penso como Napoleão, segundo o qual a mais importante figura da retórica é a repetição.

O meu missivista, como ia dizendo, indagava como é que o espirita iria salvar-se pois que não fora batizado. A ele remeti longa cama. E porque talvez algum leitor amigo se defronte com esta mesma questão, atrevo-me sumariar a resposta enviada a ele. Devemos sempre fazer o devido esclarecimento espírita dos assuntos que nos são apresentados.

Bem, pessoalmente, para usar de sinceridade, eu não aprecio esta palavra salvação, não. Prefiro a expressão redenção ou libertação espiritual .Salvação, a meu ver, no que posso até estar errado, porque sou míope para longe e para perto, seria o oposto de perdição. Como não aceito a idéia de que Deus, definido por Jesus como Amor, deixe perder-se para sempre um só de seus filhos, dou preferência à redenção ou libertação espiritual. Mesmo porque Jesus declarou: Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará João, Cap. 8 vens. 32).

O que liberta a criatura do sofrimento, decorrente da violação às leis divinas, é a prática genuína e desinteressada do Bem. É a vivência espontânea da Fraternidade. É a vontade ardente de ver no semelhante um seu irmão voltando ao proscêncio terrestre para progredir, daí ser merecedor de melhores demonstrações de estima e consideração.

Nesse contexto, cabem duas palavras acerca do preconceito. Do preconceito racial, por exemplo. Determinado confrade fez um teste com um grupo de espíritas. Cada um dos componentes daquela brincadeira deveria fechar os olhos e imaginar-se sendo assaltado. Depois diria que emoção sentiu se fosse realidade o assalto. O leitor amigo poderá dizer qual foi a cor do assaltante imaginado pelos confrades espíritas envolvidos naquela experiência brejeira, porém muito significativa !

O que liberta a criatura é a Caridade, que, segundo uma definição do Irmão X, escrevendo pelo médium Chico Xavier, é servir sem descanso, é cooperar espontaneamente nas boas obras da comunidade, sem aguardar o convite ou o agradecimento dos outros, é não incomodar aquele que trabalha, é suportar sem revolta as (imitações alheias, auxiliando o próximo a supera-las.

O que liberta a criatura da ignorância é a paciente leitura de livros que nos dizem porque vivemos, para onde iremos depois da morte do corpo fisico (se é que ele morra, pois em verdade até ele simplesmente se transforma), de onde viemos ames do berço. Contudo, não basta a leitura. É necessária a sua reflexão. Impõe-se a vivência dos seus ensinos. Pois como já reconhecia Daudet, quanta gente há, em cuja biblioteca, poder-se-ia escrever "para uso externo", como nas garrafas das farmácias. Quer dizer, ler por ler simplesmente não vale a pena. Mister se faz modificar o comportamento, ampliar o horizonte cultural, aprofundar a análise do porquê da vida e sobretudo, repito, vivenciar o que os bons livros nos ensinam em termos de crescimento moral e espiritual.

O que liberta a criatura de suas imperfeições é o seu desejo de despojar-se de seus vícios morais como a inveja, a cobiça, o ciúme, a ira et caterva, forcejando por ser mais paciente, mais humilde, mais prudente, mais humano diante das dores alheias, mais tolerante diante das falhas da outra pessoa, sem cair na alienação dizendo amém a tudo e a todos, com esta atitude muito cômoda concordando com erronias que não podem de jeito nenhum contar com a nossa anuência.

O que liberta a criatura não é o batismo que recebeu em criança ou já adulto ao aceitar esta ou aquela solta religiosa. Não. O que liberta a criatura de seus erros do passado e de suas limitações anuais é este esforço diuturno de observar, na vida diária, tudo quanto o Cristo nos ensinou através da força do exemplo ! ...

Celso Martins

Mensagem de Deolindo Amorim alerta sobre a necessidade do trabalho social :"se há pessoas padecendo a falta do pão, como manter-se indiferente ao fato e não socorrer o irmão?" ..."Suavizemos suas dores, sim; e, sobretudo, sejamos exemplos de esforço e dedicação..."


PDF Imprimir E-mail
Qui, 19 de Janeiro de 2012 10:12
deolindo3
Todo movimento social, político e religioso, embora fundamentado em ideias universais, é influenciado e em boa dose determinado pelo contexto em que se realiza. Com o espiritismo se deu e se dá algo semelhante, desde o primeiro momento.
Estava nos planos do Espírito da Verdade atribuir, à doutrina espírita, um caráter de tríplice aspecto, fundamental para a realização da sua proposta renovadora. De um lado, o exercício da capacidade investigativa, que nos fizesse utilizar as ferramentas da ciência para comprovação da imortalidade da alma e de suas consequências. De outro, a capacidade reflexiva, de modo que as grandes interrogações da filosofia nos conduzissem ao encontro de nós mesmos e do outro na construção de um projeto evolutivo. Por fim, a busca pela transcendência do “aqui e agora”, representada pela busca de Deus, a que uma religião pura nos conduz, uma religião isenta de dogmas, de rituais e de quaisquer outras exterioridades. Assim, ciência, filosofia e religião se conjugam num tripé que sustenta e dinamiza todo o conhecimento e toda a prática doutrinária.
Partindo-se da ideia inicial, a França do século XIX era o cenário mais propício para a sistematização dos três aspectos referidos. Primeiro, porque o fazer científico galopava velozmente em seu solo, graças às propostas de Augusto Comte, Francis Bacon e de outros teóricos de renome. Segundo, porque a capacidade de abstração e reflexão sempre foram marcas daquela nação. Terceiro, porque, apesar de tudo, as Revoluções de 1830 e 1848 de tal forma fragilizaram a economia e os projetos sociais daquele povo a ponto de impeli-los ao exercício da fraternidade e da beneficência, caminhos que, conduzindo-nos ao outro, fatalmente nos conduziria a Deus. Era inevitável, portanto, sob esses aspectos, que o Consolador, para ser consolidado como tal, surgisse em solo francês.
Compreendendo essa dinâmica, fácil é entender o que se deu com a doutrina espírita quando transportada para o Brasil. O contexto de sua chegada, bem como da sua consolidação, nos revela o encontro com uma população pobre e carente das luzes do raciocínio. A elite intelectual da época, rica e escravocrata, jamais suportaria as ideias da reencarnação e da igualdade entre escravos e senhores, muito menos a noção de solidariedade que deve existir entre as diversas camadas sociais.
Como suportar, também, uma lei de causa e efeito que nos vincula, inexoravelmente, às consequências de tudo o que fazemos, dizemos ou pensamos? Como conciliar uma doutrina de responsabilidade com os desmandos, a arrogância e a prepotência de uma elite viciada e corrompida pelo poder?
Embora melhor assimilada e compreendida por inteligências notáveis, foi no coração da gente simples, pobre e desesperançada que a doutrina espírita encontrou eco mais forte. Foi ali, onde a dor deixava pegadas profundas, que o Consolador fincou raízes e medrou, vistosamente.
Uma decorrência natural desse desenrolar foi o fortalecimento dos trabalhos sociais. Era preciso, para além do alimento da alma, saciar a fome, amenizar a miséria, minorar as diferenças materiais e tornar menos doloroso todo aquele processo de marginalização e aviltamento em que o fim da escravidão e a indiferença política lançavam milhares de pessoas.
O trabalho social foi, e ainda é, portanto, o meio pelo qual o espiritismo conseguiu se fixar em nossas terras. Graças a ele, a teoria da igualdade pôde ceder espaço à prática da caridade, exercitando homens e mulheres no ato da doação de si mesmos.
As possíveis distorções havidas nessas práticas, desde então, não são creditáveis à doutrina, mas às nossas próprias limitações. Somos nós que, ainda presos a antigos atavismos, costumamos perder o foco e seguir propostas indevidas.
Por vezes, esquecemos que a fome não existe para que a saciemos, para que sejamos caridosos. Ela é decorrente da ausência de políticas públicas adequadas que resolvam o problema da miséria e restitua as pessoas a sua condição de dignidade. Sua erradicação, com acerto, é de inteira responsabilidade das autoridades constituídas. Contudo, se há pessoas padecendo a falta do pão, como manter-se indiferente ao fato e não socorrer o irmão?
O trabalho social continua sendo a nossa ponte principal com o outro e com Deus, no contexto atual. Muito mais do que de discussões estéreis e de disputas intestinas, necessitamos trabalhar pelo outro, cedendo ao sentimento de solidariedade que deve mover os nossos corações.
Suavizemos suas dores, sim; e, sobretudo, sejamos exemplos de esforço e dedicação. Assim agindo, nosso trabalho, para além da fome física, será capaz de despertar consciência para a verdadeira vivência do evangelho.

Texto enviado pelo médium Pedro Camilo e de autoria atribuída ao jornalista Deolindo Amorim. A mensagem foi recebida em Votuporanga, BA, em 24 de outubro de 2010

Fonte: Site Correio Fraterno

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

NÃO ESTÁS LONGE DO REINO DE DEUS


"E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus." (Marcos, 12:34)
Após ter tido uma disputa com alguns saduceus sobre a ressurreição, aproximou-se de Jesus um escriba e lhe fez a seguinte pergunta: "Qual é o primeiro de todos os mandamentos?'

O Mestre, então, lhe respondeu: o primeiro de todos os mandamentos é: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor."
"Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes."

O escriba, tomando a palavra, lhe disse: "Muito bem, Mestre, e como verdade disseste que há um só Deus, que não há outros, além dele. E amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo com a si mesmo é mais do que todos os holocaustos, todos os sacrifícios."

E Jesus, vendo que ele havia respondido sabiamente, disse-lhe: "Não estás longe do Reino de Deus."

O evangelista Mateus, discorrendo sobre o mesmo ensinamento (22:34-40), afirma que o Mestre corroborou, ainda mais, enfaticamente, o ensino supra, quando asseverou: "Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas." O que implica em afirmar que todas as leis estabelecidas anteriormente e todas as prescrições emanadas dos antigos profetas giravam em torno destes dois mandamentos principais: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo."

A Humanidade já foi presenteada com três Revelações básicas: a primeira personificada em Moisés, que se constituiu no princípio sobre o qual se assentaria, mais tarde, a segunda. A segunda, trazida por Jesus Cristo, consagrou toda a parte divina e moral da primeira, derrogando tudo o que tinha caráter transitório, que á havia sido superado no tempo e no espaço, evidenciando, em síntese, que nenhuma instituição religiosa poderia prevalecer, se não estivesse alicerçada sobre as leis do amor.
A terceira, cumprida com o advento da Doutrina Espírita, consubstancia todos os ensinamentos de Jesus, em cuja base granítica se assentou, com o objetivo de conduzir a Humanidade a seus nobilitantes objetivos, através do aprimoramento moral, da reforma intima e da assimilação e vivência dos postulados evangélicos, que gravitam em torno da aplicação das leis do amor, sem nenhuma limitação.

"Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo", eis a súmula de tudo o que constitui a preocupação máxima dos antigos profetas, que Jesus Cristo deixou bem caracterizada nas páginas dos Evangelhos, sendo, atualmente, uma das normas fundamentais incorporadas à Doutrina Espírita.

O escriba em apreço, conflitando com o modo de pensar da maioria dos doutores da lei de sua época, foi bastante categórico: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo vale mais que todos os holocaustos, todos os sacrifícios."

Aqui é conveniente analisar estas últimas palavras: "vale mais que todos os holocaustos, todos os sacrifícios". E evidente que o escriba não se referia ao sacrifício praticado, com desprendimento, em favor do próximo, o qual é altamente meritório aos olhos de Deus. Ele se referia aos sanguinolentos sacrifícios de animais e mesmo de criaturas humanas, como eram comumente praticados naquela época, e em tempos ainda mais remotos.

Jesus, vendo nele um homem de mente arejada, livre dos entraves, dos preconceitos e da observância de vãs tradições, sentenciou-lhe: "Não estás longe do Reino de Deus."

A Doutrina Espírita consagra o princípio de que os atos exteriores, nos quais os corações não tomam parte, são nulos em si mesmos, que somente o ato bom e generoso, praticado com desprendimento e fundamentado na caridade em sua mais sublime expressão, pode aureolar uma religião e fazer com que ela realmente oriente os seus prosélitos, na senda verdadeira da auto-reforma, assimilando as normas sadias da prática do amor e, desta forma, se encaminhando para Deus.

Qual o método mais eficiente para se aquilatar, quando se está perto ou longe do Reino de Deus? Tudo indica que o simples fato de portar um rótulo religioso não é o bastante. Crer em Deus, ou depositar fé em seu poder, também não é indicação segura de se estar aproximando dele.

Se uma pessoa praticar a caridade com desprendimento e desinteresse, amando o seu próximo como a si mesma, perdoando aos seus inimigos, fazendo tudo isso espontaneamente, como um impulso íntimo partido do fundo de seu coração, poderá ter a certeza de que se está aproximando cada vez mais do Criador.

Ao tempo de Moisés, o povo acreditava que determinada observância de formalidades religiosas mantinha aplacada a "fúria" de Jeová. Quando Jesus esteve entre nós, ainda se defrontou com resquícios dessas crenças, e os homens ainda mantinham apego a numerosas tradições inócuas, muito pouco fazendo em favor do seu aprimoramento moral e espiritual.

O Espiritismo recomenda que não se deve dar nenhum apreço aos meros formalismos exteriores, que sempre se constituíram no apanágio daqueles que preferem uma religião fácil, capaz de conduzi-los ao Céu com o dispêndio de pouco esforço e sem os pesados encargos oriundos de uma vida bem vivida, duma vivência nos moldes balizados nos Evangelhos de Jesus Cristo, cumprindo assim, com fidelidade a vontade de Deus.
Paulo A. Godoy
Casos Controvertidos do Evangelho

sábado, 15 de dezembro de 2012

O Aprendiz Desapontado:..."- O primeiro caminho para o Céu é a obediência e, o segundo, é o trabalho..."

O Aprendiz Desapontado
Um menino que desejava ardentemente residir no Céu, numa
bonita manhã, quando se encontrava no campo, em companhia de
um burro, recebeu a visita de um Bom Espírito.
Reconheceu, depressa, o emissário de Cima, pelo sorriso bondoso
e pela veste resplandecente.
O rapazelho gritou:
- Mensageiro de Jesus, quero o paraíso! Que fazer para chegar até
lá?!
O Espírito respondeu com gentileza:
- O primeiro caminho para o Céu é a obediência e, o segundo, é o
trabalho.
O pequeno, que não parecia muito diligente, ficou pensativo.
O enviado de Deus então disse:
- Venho a este campo, a fim de auxiliar a Natureza que tanto nos
dá.
- o menino ficou pensativo. E o Espírito convidou:
- Queres ajudar-me a limpar o chão, carregando estas pedras para
o fosso vizinho?
O menino respondeu:
- Não posso.
O emissário celeste se dirigiu ao burro:- Você quer ajudar-me?
O animal pacientemente,transportou tudo.
O Espírito passou a dar ordens: - Abramos um caminho.
- Eu não! Disse o menino.
- Ajudarei... prontificou-se o burro.
-Vamos mover o arado. Sugeriu o Espírito.
-Safa! Não quero nada , disse o menino.
-Eu ajudo... apresentou-se o burro
Durante a sementeira, o pequeno repousava e o burro trabalhava.
Abriram um filete de água.
O jovem, cheio de saúde e de leveza, permanecia amuado,
choramingando sem razão.
No fim do dia, o campo estava lindo.
Canteiros bem desenhados surgiam ao centro, ladeados por fios
de água benfeitora.
As árvores pareciam orgulhosas de proteger os canteiros. O vento
parecia um sopro divino no matagal.
A Lua espalhou intensa claridade.
O Espírito abraçou o obediente animal.
- Deus abençoe sua contribuição, meu amigo, disse o Espírito.
O menino viu que o mensageiro se punha de volta, gritou,
ansioso:
- Espírito querido, quero seguir contigo, quero ir para o Céu!...
O emissário divino respondeu, porém:
- O paraíso não foi feito para gente preguiçosa.
E o emissário informou:
Se você deseja encontrá-lo, aprende primeiramente a obedecer
com o burro que soube ser disciplinado e educado também.
E assim esclarecendo subiu para as estrelas, deixando o rapazinho
desapontado, mas disposto a mudar de vida.

A Vida Fala.
Néio Lúcio/Chico Xavier

O Poder Da Gentileza:..."O exemplo é mais vigoroso que a argumentação. A gentileza está revestida, em toda parte, de glorioso poder."

O Poder Da Gentileza
Eminente professor negro, interessado em fundar uma escola num
bairro pobre, onde centenas de crianças desamparadas cresciam
sem o benefício das letras, foi recebido pelo prefeito da cidade.
O prefeito ouvir-lhe o plano e disse-lhe:
- A lei e a bondade nem sempre podem estar juntas. Organize uma
casa e autorizaremos a providência.
O benfeitor dos meninos desprotegidos considerou:
- Mas doutor, não dispomos de recursos... Que fazer?
- De qualquer modo, cabe-nos amparar os pequenos analfabetos.
Diante de sua figura humilde, o prefeito disse:
- O senhor não pode intervir na administração.
O professor muito triste, retirou-se e passou a tarde e a noite
daquele sábado, pensando, pensando...
Domingo, muito cedo saiu a passear, sob as grandes árvores, na
direção de antigo mercado.
Ia comentando, na oração silenciosa:
- Meu Deus como agir? Não receberemos um pouso para as
criancinhas, Senhor?
Absorvido na meditação, atingiu o mercado e entrou.
O movimento era enorme. Muitas compras. Muita gente.
Certa senhora, de apresentação distinta, aproximou-se dele e
tomando-o por servidor vulgar, de mãos desocupadas e cabeça
vazia, exclamou:
- Meu velho, venha cá.
O professor acompanhou-a sem vacilar.
À frente dum saco enorme, em que se amontoavam mais de trinta
quilos de verdura, a matrona recomendou:
- Traga-me esta encomenda.
Colocou ele o fardo às costas e seguiu-a.
Caminharam seguramente uns quinhentos metros e penetraram
elegante vivenda, onde a senhora voltou a solicitar:
- Tenho visitas hoje. Poderá ajudar-me no serviço geral?
- Perfeitamente – respondeu o interpelado -, dê suas ordens.
Ela indicou pequeno pátio e determinou-lhe a preparação de meio
metro de lenha para o fogão.
Empunhando o machado, o educador, com esforço, rachou
algumas toras.
Em seguida, foi chamado para retificar a chaminé. Consertou-a
com sacrifício da própria roupa.
Sujo de pó escuro, da cabeça aos pés, recebeu ordens de buscar
um peru assado. Pôs-se a caminho, trazendo o grande prato em
pouco tempo. Logo mais, atirou-se à limpeza de extenso recinto
em que se efetuaria lauto almoço.
Nas primeiras horas da tarde, sete pessoas davam entrada no
fidalgo domicílio. Entre elas, relacionava-se o prefeito que anotou
a presença do visitante da véspera, apresentado ao seu gabinete
por autoridades respeitáveis.
Reservadamente, indagou sua irmã, que era a dona da casa,
quanto ao novo conhecimento, conversando ambos na surdina.
Ao fim do dia, a matrona distinta e autoritária, com visível
desapontamento, veio ao servo improvisado e pediu o preço dos
trabalhos.
- Não pense nisto – respondeu com sinceridade -, tive muito
prazer em ser-lhe útil.
No dia imediato, contudo, a dama da véspera procurou-o, na sua
casa modesta em que se hospedava e, depois de rogar-lhe
desculpas, anunciou-lhe a concessão de amplo edifício, destinado
à escola que pretendia estabelecer. As crianças usariam o
patrimônio à vontade e o prefeito autorizaria a providência com
satisfação.
O professor teve os olhos úmidos a alegria e o reconhecimento... e
agradecendo e beijou-lhe as mãos, respeitoso.
A bondade dele vencera os impedimentos legais.
O exemplo é mais vigoroso que a argumentação.
A gentileza está revestida, em toda parte, de glorioso poder.

Livro : A Vida Fala
Néio Lúcio/ Chico Xavier

domingo, 9 de dezembro de 2012

...A abnegação, em toda a parte, é sempre uma estrela sublime. Basta mostrar-se para que todos gravitemos em torno de sua luz...Cap. 16 Débito Alviado .

16 - DÉBITO ALIVIADO
Ação e Reação André Luiz /Chico Xavier

Em nossos estudos da lei de causa e efeito, não nos esqueceremos de Adelino
Correia, o irmão da fraternidade pura.
Na véspera de belo acontecimento que nos permitiremos narrar, visitamo-lo em
companhia de Silas, que no-lo apresentou nas atividades de um templo espírita-cristão.
Ouvimo-lo em preciosos comentários do Evangelho, sob o influxo de
iluminados instrutores, dos quais assimilava as correntes mentais com a docilidade
confiante de um homem profundamente habituado à oração.
Falara com mestria, arrancando-nos lágrimas pela emotividade com que nos
tangia as fibras mais íntimas. Singelamente trajado, denotava a condição do trabalhador
em experiências difíceis. Mas o estágio de prova a que parecia enredar-se era mais
amplo. Adelino revelava longa faixa de eczema na pele à mostra. Certa porção da
cabeça, os ouvidos e muitos pontos da face exibiam placas vermelhas, sobre as quais se
formavam diminutas vesículas de sangue, ao passo que as demais regiões da epiderme
surgiam gretadas, evidenciando uma afecção cutânea largamente cronicificada. Além
disso, acanhado e tristonho, indicava tormentos ocultos a lhe dominarem a mente.
Contudo, trazia nos olhos, maravilhosamente lúcidos, a marca da humildade. Vários
amigos espirituais assistiam-no, atentos.
Doce velhinha desencarnada abeirou-se de nós e, demonstrando gozar da
intimidade do orientador de nossas excursões, falou-lhe, afetuosa:
- Assistente amigo, venho rogar-lhe socorro em benefício da saúde de nosso
Adelino. Noto-o mais incomodado, ultimamente, pela dor das feridas não cicatrizadas...
- Sim, sim... - respondeu Silas, cordialmente - o caso dele merece de todos nós
especial carinho.
- Porque pensa ele nas necessidades dos outros, sem refletir nas necessidades
próprias... - acrescentou a anciã, comovida.
O assessor de Druso prosseguiu, com carinho:
- Dois de nossos médicos o vêm assistindo atenciosamente, quando se encontra
ausente do vaso físico por influência do sono.
E, afagando-lhe a cabeça:
- Esteja tranqüila. Correia, em breve, estará plenamente restaurado.
Os múltiplos serviços da casa desdobravam-se, eficientes, e Adelino, dentro
deles, atraía-nos a atenção pela segurança espiritual com que se conduzia.
Cercado pelas vibrações radiantes dos seus pensamentos, centralizados no santo
objetivo do bem, afigurava-se-nos um companheiro vestido de luz.
Alguns instantes após o afastamento da velhinha, apareceu-nos simpático rapaz,
igualmente já desenfaixado da matéria física, que, depois de saudar-nos, rogou,
reverente, ao nosso orientador:
- Peço vênia para solicitar-lhe valioso obséquio... – Fale sem receio.
E o jovem recém-chegado explicou, de olhos úmidos:
- Meu caro Assistente, sei que o nosso Adelino vem atravessando certa crise
financeira... Pelo muito que auxilia os outros, descura-se das suas próprias necessidades.
Pelo amparo que ele oferece constantemente à minha pobre mãe encarnada, insisto no
apoio de sua amizade para que seja favorecido. Ainda na semana passada, ouvindo as
súplicas de minha genitora viúva, em grande penúria para atender ao tratamento de dois
dos meus manos enfermos, procurei-o, em lágrimas, transmitindo-lhe apelos mentais
para que nos protegesse e, sem qualquer vacilação, acreditando obedecer aos seus
impulsos, visitou-nos a casa, entregando à minha sofredora mãezinha a importância de
que necessitava... ó meu Assistente, rogo-lhe por amor a Jesus!... Não deixe em
dificuldade quem tanto nos auxilia!...
Silas acolheu a petição com risonha benevolência e disse:
- Descansemos. Adelino permanece na rede de simpatia fraternal que teceu para
o asilo de si mesmo. Incumbem-se muitos amigos de supri-lo com os recursos
indispensáveis ao fiel desempenho da tarefa a que se dedicou
. As circunstâncias na luta
material harmonizar-se-ão em favor dele, atendendo-lhe aos méritos conquistados.
Efetivamente, o serviço espontâneo na afetuosa defesa do amigo que ali
enxergávamos, prestativo e confiante, era um tema de amizade e gratidão a estudar.
- Dir-se-ia - observou Hilário, intrigado - que todos os tarefeiros, em trânsito
nesta casa, são devedores do irmão sob nossa vista...
- Sim - aprovou Silas, paciente -, os créditos de Adelino são realmente enormes,
não obstante os débitos a que ainda está preso
... Cultiva, no entanto, a ventura de
substancializar a fé e o conhecimento superior que os Mensageiros de Jesus lhe confiam
em obras de genuíno amor fraternal, a lhe granjearem larga soma de reconhecimento.
Logo após, o mentor amigo recomendou-nos aproveitar os minutos em atuação
fraternal, no instituto evangélico em que nos abrigávamos, até que pudéssemos tomar
contacto mais amplo com o servidor, cuja existência atual se desdobrava sob os
auspícios da Mansão que nos patrocinava os estudos.
Em face da simpatia que Adelino despertava igualmente em nós, acercamo-nos
dele, a fim de ofertar-lhe, de algum modo, o contingente de nossas forças, na
movimentação dos passes magnéticos que passara agora a administrar, em favor de
alguns enfermos.

Era curioso pensar que nós mesmos, no primeiro encontro fortuito, nos
sentíamos prontos a partilhar-lhe as tarefas, tão-somente atraídos por sua irradiante
bondade.
A abnegação, em toda a parte, é sempre uma estrela sublime. Basta mostrar-se
para que todos gravitemos em torno de sua luz.

Findo o serviço da noite, Silas e nós acompanhamo-lo ao reduto doméstico.
Esperava-o, no limiar, a genitora que, evidentemente, ultrapassava os sessenta
de idade.
Silas deu-se pressa em no-la apresentar, explicando:
- É nossa irmã Leontina, carinhosa mãe de Correia, mãe e amiga a tutelar-lhe a
existência.
Reparando na avançada madureza do amigo que nos tomava a atenção, meu
colega indagou:
- Adelino não é casado?
- Sim, nosso irmão é casado, mas não conta com a presença da esposa.
A resposta dava-nos a entender que o companheiro atravessava provas perante
as quais nos cabia respeitosa discrição.
E, enquanto mãe e filho se entregavam a doce entendimento, Silas fez-nos
penetrar em aposento próximo.
Junto á porta de entrada, alinhavam-se três leitos, ocupados por outras tantas
criancinhas.
Loura menina de seus nove a dez anos presumíveis, ao lado de dois petizes de
escura tez, recordava a Branca de Neve entre dois anões.
Todos dormiam, placidamente.
Afagando a boneca viva, o Assistente informou:
- Esta é Marisa, a filhinha de Correia, de quem a mãezinha se distanciou em
definitivo, há seis anos.
Designando, em seguida, os dois meninos de cor, aduziu:
- E estes pequeninos são Mário e Raul, dois enjeitados que Adelino abraçou por
filhos do coração.
Ação e Reação André Luiz
Hilário e eu, adivinhando as aflições ocultas que decerto enxameavam na
existência do chefe da casa, silenciávamos, de propósito, em reverente expectativa.
Entendendo-nos a atitude, Silas passou a falar-nos mais longamente, aclarando:
- Para exaltar o santificante esforço de um amigo, a fim de estudarmos juntos
um processo de dívida aliviada, permitimo-nos algo dizer em torno do passado recente
do companheiro que visitamos, agora empenhado ao labor do seu resgate.
Qual se quisesse centralizar os recursos da memória, emudeceu por instantes e,
finalmente, continuou:
- Em meados do século precedente, Adelino era filho bastardo de um jovem
muito rico que o recebeu das mãos da genitora escrava, que desencarnou ao trazê-lo à
luz. Martim Gaspar, o moço afazendado que lhe foi o pai solteiro, era homem de
coração enrijecido, muito cedo acostumado ao orgulho tiranizante, em face da incúria
do lar em que nascera. Abusava das donzelas cativas a seu talante e, em muitas
ocasiões, vendeu-as com os próprios filhos recém-natos para lhes não ouvir os choros e
petitórios. Temido na casa grande da qual se fizera absoluto senhor, por morte do velho
pai, que, em vão, buscara tardiamente controlar-lhe os instintos, sabia usar o tronco e o
chicote, sem qualquer compaixão. Era execrado pela maioria dos servos e bajulado de
quantos lhe obtinham os favores, a troco de lisonja servil. Entretanto, para o filho
Martim - o mesmo Adelino de agora -, a sua ternura e dedicação não mostravam
limites. Inexplicavelmente para ele mesmo, amava-o com desvelado enternecimento, a
ponto de providenciar-lhe educação esmerada na própria fazenda. Entre pai e filho
estabeleceram-se, dessa forma, os mais santos laços afetivos. Eram companheiros
inseparáveis nos jogos e nos estudos, no serviço e na caça. Foi assim que Gaspar, não
obstante cruel para com os outros rebentos da própria carne, nas senzalas sofredoras,
não hesitou em legitimá-lo como filho, perante as autoridades do tempo, tornando-o
partícipe de seu nome e de sua herança. Pai e filho contavam, respectivamente,
quarenta e três e vinte e um anos de idade, quando Gaspar, embora solteirão
amadurecido, resolveu casar-se, em grande metrópole, desposando Maria Emília,
leviana jovem de vinte primaveras que, trazida à grande casa rural, desenvolveu sobre o
enteado estranha fascinação. Martim, extremamente amado pelo genitor, atraído agora
para os encantos femininos da madrasta, passou a experimentar torturantes conflitos
sentimentais. Ele, que se julgava o melhor amigo de Gaspar, entrou a detestá-lo. Não lhe
tolerava a posse sobre a mulher que desejava, sabendo-se por ela ardentemente querido,
porquanto Maria Emília, pretextando essa ou aquela necessidade, sabia isolá-lo em
viagens diversas, nas quais lhe exacerbava a afeição juvenil. Ambos souberam furtar-se
a qualquer desconfiança e, totalmente entregue à paixão que o requestava, o jovem
Martim, desprevenido, planejou o medonho parricídio em que se enliçou, desventurado.
Sabendo o genitor acamado, em tratamento do fígado enfermo, tomou a cooperação de
dois capatazes da sua inteira confiança, Antônio e Lucidio, igualmente verdugos de
meninas cativas, e, certa noite, administrou-lhe uma poção entorpecente, com
aprovação da madrasta... Tão logo se pôs o doente a dormir, coadjuvado pelos dois
cúmplices que odiavam o patrão, espalhou substâncias resinosas no leito paterno,
simulando, logo após, o incêndio no qual o mísero Gaspar, em horríveis padecimentos,
se ausentou do corpo. Conduzido o pai ao sepulcro e apoderando-se-lhe dos haveres,
tentou a felicidade ao pé de Maria Emília; todavia, o genitor desencarnado, a inflamarse
em cólera, envolveu-o em nuvens de fluidos inflamados, contra os quais o infeliz
não possuía defesa... Apegando-se ao afeto da companheira, Martim procurou
anestesiar a consciência e esquecer... esquecer... Confiou a fazenda aos cuidados de
ambos os cúmplices do tenebroso delito e, arrimando-se à companhia da mulher,
demandou à Europa, em busca de repouso e distração. Tudo, porém, debalde... Ao fim
de cinco anos de resistência, tombou integralmente vencido, sob o jugo do Espírito
paternal que o cercava, incessantemente, apesar de invisível. Abriu-se-lhe a pele em
chaga, como se chamas ocultas o requeimassem. Circunscrito ao leito de dor e
constantemente empolgado pelo remorso, recapitulava mentalmente a morte do
genitor, em urros de martírio selvagem... Não sabia, desse modo, senão chorar, gritando
a esmo o arrependimento de que se via possuído, no que foi interpretado à conta de
louco pela própria companheira, que se dava pressa em reconhecer-lhe a suposta
alienação mental, de modo a inocentar-se perante os amigos e servidores. Foi algemado
a semelhante suplício que Martim recebeu escárnio e abandono, dentro do próprio
círculo doméstico, vindo a expirar em tremenda flagelação. Martim Gaspar, o genitor
assassinado, aguardou-o no túmulo, arrastando-o para as sombras infernais, onde passou
a exercer pavorosa vingança... O desditoso filho desencarnado sofreu terríveis
humilhações e indescritíveis tormentos, durante onze anos sucessivos, em cárceres de
treva, até que, amparado por Mensageiros de Jesus, que lhe promoveram o resgate,
ingressou em nosso instituto, ao que fui informado, em lamentável situação. Tendo
entrado em sintonia com o genitor, sequioso de vindita, através das brechas mentais do
remorso e do arrependimento tardio, foi hipnotizado por gênios perversos, que o fizeram
sentir-se dominado de chamas torturantes.
Fixada a imaginação dele em semelhante
quadro de angústia, o próprio Martim nutria com o pensamento culposo as labaredas em
que se torturava sem consumir-se, até que foi convenientemente aliviado e socorrido por
nossos instrutores, através de recursos magnéticos que lhe sanaram o doloroso
desequilíbrio. Devotou-se, então, depois de melhorado, aos serviços mais duros de
nossa organização, conquistando com o tempo apreciáveis lauréis que lhe valeram a
volta à esfera humana, com o direito de iniciar o pagamento da larga dívida em que se
onerou, desavisado. Cultuando a prece com a renovação do mundo íntimo, renasceu de
espírito inclinado à fé religiosa, ardente e operante, encontrando no Espiritismo com
Jesus, ao influxo dos amigos desencarnados que o assistem, precioso campo de
fortalecimento moral e trabalho
digno, no qual tem sabido estender, com louvável
aproveitamento das horas, o seu raio de ação no estudo edificante e na caridade pura,
atraindo em seu favor as mais amplas simpatias, por parte de irmãos encarnados e
desencarnados, que lhe devem generosidade e carinho. Atirado a imensas dificuldades
materiais, desde cedo cresceu órfão de pai, de vez que não valorizou no passado a
ternura paterna, lutando com extrema pobreza e com enfermidade constante...
Custodiado, porém, por benfeitores da nossa Mansão, foi conduzido a um templo
espírita, ainda muito jovem, onde, submetido a tratamento da epiderme esfogueada,
entrou no conhecimento de nossa Renovadora Doutrina... A leitura dos princípios
espíritas, ao sol do Evangelho do Senhor, constituiu para ele recordações naturais dos
ensinamentos assimilados em nossa casa, antes da reencarnação. Desde aí, aceitou
nobremente a responsabilidade de viver e buscou, acima de tudo, aplicar a si próprio as
diretrizes regeneradoras da fé que abraça.
Disciplinou-se. Rendeu sincero preito às suas obrigações e, não obstante os
entraves orgânicos, muito moço se dedicou às representações comerciais, de cujos
labores retira os abençoados recursos que sabe repartir com necessitados numerosos,
reservando para si tão-somente o indispensável. Não é um rico da Terra, na acepção do
conceito, mas um trabalhador da fraternidade que sabe dar o próprio coração naquilo
que distribui.
Trilhando o caminho da simplicidade e da renúncia edificante, modificou as
impressões de muitos dos companheiros de outro tempo, que, nas baixas camadas da
sombra, se lhe haviam transformado em perseguidores e desafetos, obsessores esses
que, em lhe observando os exemplos novos, se sentiam moralmente desarmados para os
conflitos que se propunham manter. É assim que não deixa de ressarcir as suas culpas,
sofrendo-lhes o gravame em si mesmo.

Entretanto, pelos valores que entesoura, devotado ao bem alheio, resgata o
pretérito com o alívio possível, ganhando tempo e adquirindo novas bênçãos. Ajudando
aos outros, desbasta, dia a dia, o montante dos seus débitos, de vez que a Misericórdia
do Pai Celestial permite que os nossos credores atenuem o rigor da cobrança, sempre
que nos vejam oferecendo ao próximo necessitado aquilo que lhes devemos...
Silas confiou-se a pausa breve, mas Hilário, tanto quanto eu fascinado por sua
exposição clara e sensata, rogou, sedento de ensino:
- Continue, Assistente. Esta lição viva ilumina-nos de esperança... Como se
explica estar Adelino ganhando tempo?
Nosso amigo sorriu e acrescentou:
- Correia, que não merecia a ventura do lar tranqüilo por haver arruinado o lar
paterno, casou-se e padeceu o abandono da companheira que lhe não entendeu o
coração.
Avançando para a terna Marisa que dormia, acentuou:
- Assim, pela vida útil a que se consagra e pela caridade incessante que passou a
exercer, atraiu para junto de si, como filha da sua carne, a antiga madrasta que desviou
dos braços paternais, hoje reencarnada junto dele para reeducar-se ao calor de seus
exemplos nobres, guardando a dor de saber-se filha de pobre mulher que renegou o
tálamo conjugal, tanto quanto ela mesma o menosprezou no passado recente. Mas... não
é apenas essa a vantagem de Adelino...
Silas pousou levemente a destra nos pequenos que ressonavam e prosseguiu:
- Dedicando-se de alma e corpo à sua renovação com o Cristo, nosso amigo
recolheu como filhos adotivos os dois cúmplices do parricídio tremendo, os antigos
capatazes Antônio e Lucídio, que, abusando de humildes donzelas escravizadas, de
quem furtavam os filhinhos para exterminar ou vender, não encontraram senão o alcoice
por berço, vindo para o círculo afetivo do companheiro de outro tempo, no sangue
africano que tanto enxovalharam, de modo a lhe receberem o amparo moral à reforma
precisa.
Enquanto nos edificávamos com o precioso ensinamento, Silas observou:
- Como é fácil de reconhecer, nosso irmão, através da responsabilidade espíritacristã,
corretamente sentida e vivida, conquistou a felicidade de reencontrar os laços do
pretérito criminoso para o necessário reajuste, ao passo que, se houvesse desertado da
luta pela irreflexão da companheira ou se tivesse cerrado a porta do coração a dois
meninos infelizes, teria adiado para futuros séculos o nobre trabalho que está fazendo
agora...
Dispúnhamo-nos a formular novas indagações, mas Correia despedira-se da
mãezinha e viera ocupar um leito modesto, não longe das crianças.
Demonstrando hábitos respeitáveis, sentou-se em prece.
Foi quando Silas, recomendando-nos cooperação, abeirou-se dele e aplicou-lhe
passes magnéticos, esclarecendo-nos, logo após:
- Ainda pela utilidade que sabe imprimir aos seus dias, Adelino mereceu a
limitação da enfermidade congenial de que é portador. Tendo sofrido, por longo tempo,
o trauma perispirítico do remorso, por haver incendiado o corpo do próprio pai, nutriu
em si mesmo estranhas labaredas mentais que, como já lhes disse, o castigaram
intensamente além-túmulo... Renasceu, por isso, com a epiderme atormentada por
vibrações calcinantes que, desde cedo, se lhe expressaram na nova forma física por
eczema de mau caráter... Semelhante moléstia, em face da dívida em que se empenhou,
deveria cobrir-lhe todo o corpo, durante muitos e angustiosos lustros de sofrimento
mas, pelos méritos que ele vai adquirindo, a enfermidade não tomou proporções que o
impeçam de aprender e trabalhar, porquanto granjeou a ventura de continuar a servir,
pelo seu impulso espontâneo na plantação constante do bem.
A essa altura, talvez porque o dono da casa se dispusesse ao refúgio dos
travesseiros, o Assistente convidou-nos à retirada.
De volta à Mansão, prosseguiu nosso amável mentor tecendo brilhantes
comentários em torno do "amor que cobre a multidão dos pecados", como ensinou o
Apóstolo, quando Hilário, interpretando-me as indagações, considerou de improviso:
- Assistente, com uma elucidação assim tão clara, é justo aspiremos a saber
determinadas minudências que a ela digam respeito. Poderemos, acaso, inteirar-nos
quanto à situação de Martim Gaspar, o genitor que padeceu o martírio do fogo em sua
carne?
Porque Silas se detivesse em silêncio, meu colega continuou:
- Terá ciência do trabalho renovador de Adelino? Devotar-lhe-á, ainda,
menosprezo e ódio?
- Martim Gaspar - respondeu por fim o interlocutor -, infatigável que era na
violência, foi igualmente tocado pelos exemplos de nosso amigo. Observando-lhe a
transformação, abandonou as companhias indesejáveis a que se adaptara e rogou asilo,
em nosso instituto, vai para alguns anos, onde aceitou severas disciplinas...
- E onde se encontra agora? - insistiu Hilário, ansioso - porventura será
permitido vê-lo, para anotar-lhe as alterações?
Nesse instante, porém, varávamos a entrada do santuário de nossas obrigações,
e Silas, sem mais possibilidades de alongar-se, afagou os ombros de nosso
companheiro, dizendo:
- Acalme-se, Hilário. É possível estejamos de regresso ao assunto em breves
horas.
Despedimo-nos, conservando as anotações, à maneira de estudo interrompido,
aguardando seqüência.
No dia seguinte, porém, grata surpresa visitou-nos o coração.
Quando o relógio anunciou alta noite na extensa faixa planetária em que se
mantinha o nosso domicílio, o Assistente veio buscar-nos, prestimoso.
Demandaríamos à esfera carnal, mas, naquela hora, em companhia de Druso, o
orientador da instituição.
Regozijamo-nos, embora curiosos.
Era a primeira vez que viajaríamos junto ao grande mentor que nos conquistara
a mais ampla reverência. E, se é verdade que o privilégio nos alegrava, ao mesmo tempo
indagávamos do motivo pelo qual se ausentaria ele da casa que não lhe dispensava a
presença.
Entretanto, não houve oportunidade para longas divagações.
Em companhia de Druso, que se fazia seguir por Silas, por duas das irmãs
altamente responsáveis em serviços da Mansão e por nós outros, utilizamo-nos do meio
mais rápido para a excursão, cujo objetivo desconhecíamos, porquanto a maior
autoridade nos trabalhos normais do instituto decerto não disporia de tempo para uma
viagem que não fosse a mais curta possível.
Grande era o meu desejo de provocar o verbo do Assistente para a conversação
educativa em torno do problema que abordáramos na noite anterior; todavia, a presença
de Druso como que nos inibia a disposição de ferir qualquer tema que não partisse dele
mesmo, cuja dignidade não nos privava da expressão livre, mas nos infundia incoercível
respeito.
Foi assim que no trajeto ligeiro lhe ouvimos a conceituação oportuna e sábia,
em torno de múltiplas questões de justiça e trabalho, admirando-lhe, cada vez mais, a
cultura e a benevolência.
Espantado, no entanto, reconheci que a nossa equipe estacionou à porta do lar
de Adelino, que deixáramos na véspera.
Dois auxiliares que conhecíamos de perto esperavam-nos no limiar.
Depois de recíprocas saudações, um deles avançou para Druso e anunciou,
reverente:
- Diretor, o pequenino recém-nato estará conosco, dentro de meia hora.
O grande mentor agradeceu e convidou-nos a acompanhá-lo.
Na paisagem doméstica que nos era familiar, o relógio marcava duas horas e
vinte minutos da madrugada.
Atônitos, seguimos o orientador que tomara a vanguarda, penetrando o
aposento em que Adelino, ao que nos foi permitido supor, começava a dormir.
Druso acariciou-lhe a fronte por momentos e vimos Correia erguer-se do corpo
de carne, qual se fora movido por alavancas magnéticas poderosas, caindo nos braços
do grande orientador, à maneira de criança enternecida e feliz.
- Meu amigo - disse-lhe Druso, entre grave e terno -, chegou a hora do
reencontro...
Correia começou a chorar, aterrorizado, sem conseguir desenfaixar-se-lhe dos
braços acolhedores.
- Oremos juntos - acrescentou o bondoso amigo.
E, levantando os olhos para o Alto, sob nossa profunda atenção, Druso
suplicou:
- "Deus de Bondade, Pai de Infinito Amor, que criaste o tempo como incansável
guardião de nossas almas destinadas ao Teu seio, fortalece-nos para a renovação
necessária!... e Tu, que nos conheces os crimes e deserções, concede-nos a bênção das
dores e das horas para redimi-los, unge-nos com o entendimento de Tuas leis, para que
não repilamos as oportunidades do resgate!”
“Emprestaste-nos os tesouros do trabalho e do sofrimento, como favores de Tua
misericórdia, para que nos consagremos à reabilitação dolorosa, mas justa...”
“Nós, os prisioneiros da culpa, somos também operários de nossa libertação, ao
bafejo de Teu carinho.”
"Ó Pai, infunde-nos coragem para que nossas fraquezas sejam esquecidas,
inflama em nosso espírito o entusiasmo santo do bem, para que o mal não nos apague os
bons propósitos, e conduze-nos pelo carreiro da renunciação para que a nossa memória
não se aparte de Ti!...”
"Que possamos orar como Jesus, o Divino Mestre que nos enviaste aos
corações, a fim de que nos rendamos, de todo, aos Teus desígnios!...”
Depois de leve pausa, repetiu em pranto a prece dominical:
- "Pai Nosso, que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome. Venha a nós o
Teu reino. Faça-se a Tua vontade, assim na Terra como nos Céus. O pão nosso de cada
dia dá-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos
devedores. Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo mal, porque Teus são o
reino, o poder e a glória para sempre. Assim seja.”
Quando a sua voz emudeceu, profunda emotividade exercia sobre nós
inexpressável domínio.
Reconduzido ao veículo carnal, Adelino acordou em copiosas lágrimas...
Reconhecia-se-lhe o júbilo intimo, se bem não pudesse guardar a consciência
integral da comunhão conosco.
Ação e Reação André Luiz
Findos alguns minutos de expectação, que transcorreram céleres, escutamos lá
fora o choro convulso de uma criança tenra...
Enlaçado por Druso, o dono da casa ausentou-se do leito e, incontinenti, abriu a
porta que comunicava o interior com a calçada externa, em cujas lajes, vigiado por
amigos da Mansão, pobre recém-nato vagia aflitivamente.
Tomado de surpresa, Correia ajoelhou-se, enquanto o grande orientador lhe
dizia com segurança:
- Adelino, eis o pai ofendido que, enjeitado pelo coração materno que ainda não
mereceu, vem ao encontro do filho regenerado!
Correia não lhe ouviu a palavra, na acústica da carne, mas registrou-a no templo
mental, como apelo do amor celeste que lhe trazia ao coração mais uma criança
abandonada e infeliz... Tomado de alegria, para ele inexplicável, abraçou o pequerrucho
com espontâneo gesto de amor e, após conchegá-lo de encontro ao peito, voltou para
dentro, gritando jubiloso:
- Meu filho!... meu filho!...
Silas, entre Hilário e eu, comunicou-nos, emocionado:
- Martim Gaspar retorna à experiência física, asilando-se nos braços do filho
que o desprezou.
Não tivemos, contudo, qualquer ensejo a mais dilatada conversação. Druso,
enxugando as lágrimas, advertiu-nos em voz alta, qual se estivesse falando para si
mesmo:
- Oxalá, quando estivermos de novo em pleno nevoeiro da carne, possamos,
também nós, abrir o coração ao excelso amor de Jesus, para que não venhamos a falir
nas provas necessárias!...
E havia tanto recolhimento e tanta angústia naquele olhar que nos habituara ao
mais doce enternecimento e ao mais profundo respeito que, de volta à Mansão, nenhum
de nós ousou quebrar-lhe o doloroso e expressivo silêncio.

4 PERFIL DO ATENDENTE FRATERNO-" Atendimento Fraterno Parte 5"


Equipe do Projeto
Uma descoberta importante feita por profissionais da Psicologia foi que a
eficácia da ajuda possível de ser prestada a alguém por um terapeuta não
depende tanto da escola psicológica a que o mesmo está vinculado mas,
sobretudo, a valores subjetivos relacionados com o seu comportamento —
diríamos, seu carisma, o amor que irradia — que o torna uma pessoa dotada
de qualidades inter-pessoais relevantes e qualidades intímas (força interior)
que o credenciam para o trabalho.
Em sendo uma pessoa tolerante (sem ser conivente), expressará um
respeito e uma aceitação incondicionais em relação ao ajudado, separando
sempre o ser, o Espírito, da problemática que o inquieta, que deverá ser vista
como um jugo, um acessório incômodo que a personalidade assumiu e,
portanto, temporário, que nada tem a ver com aquele ser de humanas paixões,
mas de essência divina, que lhe cabe amar com todas as veras de seu sentimento.
De posse dessa compreensão terá facilidade em ser autêntico (sem ser
grosseiro), pois no espaço do Atendimento Fraterno não há campo para
dissimulação da parte de quem atende, que deverá expressar sentimentos com
sinceridade e interesse real de ajudar. Quando dizemos sinceridade, não
estamos aconselhando que a pretexto de ser real, se deixe de guardar as
conveniências e o bom tom.
O atendente fraterno será sempre uma pessoa comedida e discreta,
dosando aquela informação cujo teor integral o ajudado não teria ainda
condições de suportar. Somente assim ele inspirará confiança e perceberá
adequadamente os sentimentos e emoções do outro a quem ajuda, recebendo
a inspiração dos bons Espíritos e transformando aquela vivência confusa e
deformada da pessoa a quem atende em algo compreensível e passível de
renovação.
É um dos objetivos do Atendimento Fraterno levar o atendido a essa
compreensão de si mesmo (ainda que em níveis superficiais, no início) para
que ele atendido — seja capaz de flexibilizar suas crenças pouco racionais e
lógicas e alterar os seus valores, a forma de ver a vida e a própria situação,
tornando-se mais otimista, para, a partir daí, fazer uma programação de vida,
traçar um roteiro evolutivo que envolva a superação das dificuldades na
ocasião apresentadas.
Não cabe ao atendente fraterno passar receitas prontas, encaminhar
soluções que saiam exclusivamente de sua cabeça. É preciso a adesão, a “cumplicidade”
do atendido, que deverá
estar disposto a assumir a rédea da própria vida. Bom mesmo será quando o
ajudado tomar a orientação que recebe (discretamente) como uma descoberta
sua, porque, nesse caso, ele se aplicará com mais energia ao esforço pela
superação de obstáculos. Voltaremos a esse assunto mais adiante, no capítulo
seguinte.
É da responsabilidade da Direção da Casa estabelecer o perfil ideal do
atendente fraterno, que será passado ao Coordenador do serviço que, por sua
vez, se incumbirá de organizar um processo seletivo capaz de identificar esses
valores humanos e incorporá-los ao trabalho.
Digamos que um perfil apropriado englobaria duas ordens de requisitos: os
humanos básicos e os de natureza doutrinária.
Entre os primeiros alinham-se as seguintes qualidades: saber ajudar-se, ou
seja, a pessoa já ter uma equação de vida bem delineada; interesse fraternal
por outras pessoas, que sintetizaremos com a expressão: gostar de gente; bom
repertório de conhecimentos, não apenas do ponto de vista informativo mas
também vivencial; hábito de oração e de estudo — oração para mantê-lo na
sintonia com os bons Espíritos, e estudo para mantê-lo atualizado e em
condição de compreender as pessoas; ser pessoa moralizada, ou seja, estar
conscientemente vivendo mais em função da essência — o Espírito — que da
aparência — a vida transitória do corpo e dos prazeres —; eqüanimidade,
ponderação, equilíbrio emocional, paciência e segurança, que constituem um
leque de conquistas emocionais e psíquicas que o capacitam a lidar

com situações desafiadoras.
Entre os requisitos doutrinários ou relacionados com a vivência espírita
incluiríamos: integração nas atividades do Centro e conhecimento da sua
estrutura de funcionamento; familiaridade com o Evangelho de Jesus;
conhecimento da Doutrina Espírita — obras básicas da Codificação e obras
complementares sobre mediunidade e obsessão/desobsessão, especialmente
as de André Luiz e de Manoel Philomeno de Miranda; obras sobre educação e
comportamento humano — e, por fim, competência para aplicar passes.

No primeiro grupo de requisitos, os referentes às qualidades humanas,
inúmeras outras além das apresentadas poderiam ser aventadas. Em verdade,
toda e qualquer qualidade humana soma para a eficiência do atendimento. A
nossa intenção não é, nem poderia ser, esgotálas, mas levantar o rol das
principais, segundo nossa óptica.
Algumas qualidades e requisitos não foram inclui-dos por estarem
relacionados com o próprio crescimento do atendente na tarefa e que se
adquirem com a prática. Entre estes está a empatia que é o sentir dentro, ou
seja profundamente, a sensibilidade para intuir ou perceber a experiência do
outro. Este tema será objeto de um estudo mais detalhado no capítulo 7.
O Atendimento Fraterno, conquanto seja uma atividade que requer dos
atendentes a posse de habilidades interpessoais, na dinâmica da Casa Espírita
assume um caráter eminentemente inspirativo, em que atendentes e atendidos
são auxiliados pelos bons Espíritos que se vinculam
à tarefa, os primeiros, recebendo intuições quanto à natureza dos problemas
enfocados e as sugestões a serem fornecidas para a solução dos mesmos e os
segundos, recebendo o apoio emocional indispensável, a fim de que tenham
confiança para se desvelarem.

Livro: Atendimento Fraterno ( Divaldo) - Projeto Manoel Philomeno de Miranda

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O PROGRAMA DO SENHOR

01 - O PROGRAMA DO SENHOR
A frente da turba faminta, Jesus multiplicou os pães e os peixes, atendendo à necessidade
dos circunstantes.
O fenômeno maravilhara.
O povo jazia entre o êxtase e o júbilo intraduzíveis.
Fora quinhoado por um sinal do Céu, maior que os de Moisés e Josué.
Frêmito de admiração e assombro dominava a massa compacta.
Relacionavam-se, ali, pessoas procedentes das regiões mais diversas.
Além dos peregrinos, em grande número, que se adensavam habitualmente em torno do
Senhor, buscando consolação e cura, mercadores da Iduméia, negociantes da Síria,
soldados romanos e cameleiros do deserto ali se congregavam em multidão, na qual se
destacavam as exclamações das mulheres e o choro das criancinhas.
O povo, convenientemente sentado na relva, recebia, com interjeições gratulatórias, o
saboroso pão que resultara do milagre sublime.
Água pura em grandes bilhas era servida, após o substancioso repasto, pelas mãos robustas
e felizes dos apóstolos.
E Jesus, após renovar as promessas do Reino de Deus, de semblante melancólico e sereno
contemplava os seguidores, da eminência do monte.
Semelhava-se, realmente, a um príncipe, materializado, de súbito, na Terra, pela suavidade
que lhe transparecia da fronte excelsa, tocada pelo vento que soprava, de leve...
Expressões de júbilo eram ouvidas, aqui e ali.
Não fornecera Ele provas de inexcedível poder? não era o maior de todos os profetas? não
seria o libertador da raça escolhida?
Recolhiam os discípulos a sobra abundante do inesperado banquete, quando Malebel,
espadaúdo assessor da Justiça em Jerusalém, acercou-se do Mestre e clamou para a
multidão haver encontrado o restaurador de Israel. Esclareceu que conviria receber-lhe as
determinações, desde aquela hora inesquecível, e os ouvintes reergueram-se, à pressa,
engrossando fileiras, ao redor do Messias Nazareno.
Jesus, em silêncio, esperou que alguém lhe endereçasse a palavra e, efetivamente, Malebel
não se fez rogado.
– Senhor – indagou, exultante –, és, em verdade, o arauto do novo Reino?
– Sim – respondeu o Cristo, sem, titubear.
– Em que alicerces será estabelecida a nova ordem? – prosseguiu o oficial do Sinédrio,
dilatando o diálogo.

– Em obrigações de trabalho para todos.
O interlocutor esfregou o sobrecenho com a mão direita, evidentemente inquieto, e
continuou:
– Instituir-se-á, porém, uma organização hierárquica?
– Como não? – acentuou o Mestre, sorrindo.
– Qual a função dos melhores?
– Melhorar os piores.
– E a ocupação dos mais inteligentes?
– Instruir os ignorantes.
– Senhor, e os bons? Que farão os homens bons, dentro do novo sistema?
Ajudarão aos maus, á fim de que estes se façam igualmente bons.
– E o encargo dos ricos?
– Amparar os mais pobres para que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.
– Mestre – tornou Malebel, desapontado –, quem ditará semelhantes normas?
– O amor pelo sacrifício, que florescerá em obras de paz no caminho de todos.
– E quem fiscalizará o funcionamento do novo regime?
– A compreensão da responsabilidade em cada um de nós.
– Senhor, como tudo isto é estranho! – considerou o noviço, alarmado – desejarás dizer que
o Reino diferente prescindirá de palácios, exércitos, prisões, impostos e castigos?

– Sim – aclarou Jesus, abertamente –, dispensará tudo isso e reclamará o espírito de
renúncia, de serviço, de humildade, de paciência, de fraternidade, de sinceridade e,
sobretudo, do amor de que somos credores, uns para com os outros, e a nossa vitória
permanecerá muito mais na ação incessante do bem com o desprendimento da posse, na
esfera de cada um, que nos próprios fundamentos da Justiça, até agora conhecidos no
mundo.

Nesse instante, justamente quando os doentes e os aleijados, os pobres e os aflitos desciam
da colina tomados de intenso júbilo, Malebel, o destacado funcionário de Jerusalém, exibindo
terrível máscara de sarcasmo na fisionomia dantes respeitosa, voltou as costas ao Senhor, e,
acompanhado por algumas centenas de pessoas bem situadas na vida, deu-se pressa em
retirar-se, proferindo frases de insulto e zombaria...
O milagre dos pães fora rapidamente esquecido, dando a entender que a memória funciona
dificilmente nos estômagos cheios
, e, se Jesus não quis perder o contacto com a multidão,
naquela hora célebre, foi obrigado a descer também
.

Livro: Pontos e Contos /Irmão X por Francisco Candido Xavier

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

(...)Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos nossos apelos, em face da Lei de Moisés. A Lei é humana; o Evangelho é divino. Moisés é o condutor; O Cristo, o Salvador....

Trecho do Livro Paulo e Estevão  ditado por Emmanuel e psicografado por Chico Xavier.

...O moço, magro e pálido, em cuja assistência os mais infelizes julgavam
encontrar um desdobramento do amor do Cristo, orou em voz alta suplicando
para si e para a assembléia a inspiração do Todo-Poderoso. Em seguida, abriu
um livro em forma de rolo e leu uma passagem das anotações de Mateus:
— Mas, ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; e, indo, pregai
dizendo: é chegado o reino dos Céus. (1)
Estevão ergueu alto os olhos serenos e fulgurantes, e, sem se perturbar
com a presença de Saulo e dos seus numerosos amigos, começou a falar mais
ou menos nestes termos, com voz clara e vibrante:
— “Meus caros, eis que chegados são os tempos em que o Pastor vem
reunir as ovelhas em torno do seu zelo sem limites. éramos escravos das
imposições pelos raciocínios, mas hoje somos livres pelo Evangelho do Cristo
Jesus. Nossa raça guardou, de épocas imemoriais, a luz do Tabernáculo e
Deus nos enviou seu Filho sem mácula. Onde estão, em Israel, os que ainda
não ouviram as mensagens da Boa Nova? Onde os que ainda não se
felicitaram com as alegrias da nova fé? Deus enviou sua resposta divina aos
nossos anseios milenários, a revelação dos Céus aclara os nossos caminhos.
Consoante as promessas da profecia de todos quantos choraram e sofreram
por amor ao Eterno, o Emissário Divino veio até ao antro de nossas dores
amargas e justas, para iluminar a noite de nossas almas impenitentes, para
que se nos desdobrassem os horizontes da redenção. O Messias atendeu aos
problemas angustiosos da criatura humana, com a solução do amor que redime
todos os seres e purifica todos os pecados. Mestre do trabalho e da perfeita
alegria da vida, suas bênçãos representam nossa herança. Moisés foi a porta,
o Cristo é a chave. Com a coroa do martírio adquiriu, para nós outros, a láurea
imortal da salvação. éramos cativos do erro, mas seu sangue nos libertou. Na
vida e na morte, nas
(1) Mateus, capítulo 10º, versículos 6 e 7. — (Nota de Emmanuel.)
alegrias de Caná, como nas angústias do Calvário, pelo que fez e por tudo que
deixou de fazer em sua gloriosa passagem pela Terra, Ele é o Filho de Deus
iluminando o caminho.
“Acima de todas as cogitações humanas, fora de todos os atritos das
ambições terrestres, seu reino de paz e luz esplende na consciência das almas
redimidas.
“Ó Israel! tu que esperaste por tantos séculos, tuas angústias e dolorosas
experiências não foram vãs!... Enquanto outros povos se debatiam nos
interesses inferiores, cercando os falsos ídolos de falsa adoração e
promovendo, simultaneamente, as guerras de extermínio com requintes de
perversidade, tu, Israel, esperaste o Deus justo. Carregaste os grilhões da
impiedade humana, na desolação e no deserto; converteste em cânticos de
esperança as ignomínias do cativeiro; sofreste o opróbrio dos poderosos da
Terra; viste os teus varões e as tuas mulheres, os teus jovens e as tuas
crianças exterminados sob o guante das perseguições, mas nunca descreste
da justiça dos Céus! Como o Salmista, afirmaste com teu heroismo que o amor
e a misericórdia vibram em todos os teus dias! Choraste no caminho longo dos
séculos, com as tuas amarguras e feridas. Como Job, viveste da tua fé,
subjugada pelas algemas do mundo, mas já recebeste o sagrado depósito de
Jeová — O Deus Único!... Oh! esperanças eternas de Jerusalém, cantai de
júbilo, regozijai-vos, embora não tivéssemos sido fiéis inteiramente à
compreensão, por conduzir o Cordeiro Amado aos braços da cruz. Suas
chagas, todavia, nos compraram para o céu, com o alto preço do sacrifício
supremo!...
“Isaías o contemplou, vergado ao peso de nossas iniqüidades, florescendo
na aridez dos nossos corações, qual flor do céu num solo adusto, mas, revelou
também, que, desde a hora da sua extrema renúncia, na morte infamante, a
sagrada causa divina prosperaria para sempre em suas mãos.
“Amados, onde andarão aquelas ovelhas que não souberam ou não
puderam esperar?
Procuremo-las para o Cristo, como dracmas perdidas do seu desvelado
amor!
Anunciemos a todos os desesperançados as glórias e os júbilos do seu
reino de paz e de amor imortal!...
“A Lei nos retinha no espírito de nação, sem conseguir apagar de nossa
alma o desejo humano de supremacia na Terra. Muitos de nossa raça hão
esperado um príncipe dominador, que penetrasse em triunfo a cidade santa,
com os troféus sangrentos de uma batalha de ruína e morte; que nos fizesse
empunhar um cetro odioso de força e tirania. Mas o Cristo nos libertou para
sempre. Filho de Deus e emissário da sua glória, seu maior mandamento
confirma Moisés, quando recomenda o amor a Deus acima de todas as coisas,
de todo o coração e entendimento, acrescentando, no mais formoso decreto
divino, que nos amemos uns aos outros, como Ele próprio nos amou.
“Seu reino é o da consciência reta e do coração purificado ao serviço de
Deus. Suas portas constituem o maravilhoso caminho da redenção espiritual,
abertas de par em par aos filhos de todas as nações.
“Seus discípulos amados virão de todos os quadrantes. Fora de suas luzes
haverá sempre tempestade para o viajor vacilante da Terra que, sem o Cristo,
cairá vencido nas batalhas infrutuosas e destruidoras das melhores energias do
coração. Somente o seu Evangelho confere paz e liberdade. Ë o tesouro do
mundo. Em sua glória sublime os justos encontrarão a coroa de triunfo, os
infortunados o consolo, os tristes a fortaleza do bom ânimo, os pecadores a
senda redentora dos resgates misericordiosos.
“É verdade que o não havíamos compreendido. No grande testemunho, os
homens não entenderam sua divina humildade, e os mais afeiçoados o
abandonaram. Suas chagas clamaram pela nossa indiferença criminosa.
Ninguém poderá eximir-se dessa culpa, visto sermos todos herdeiros das suas
dádivas celestiais. Onde todos gozam do benefício, ninguém pode fugir à
responsabilidade. Essa a razão por que respondemos pelo crime do Calvário.
Mas, suas feridas foram a nossa luz, seus martírios o mais ardente apelo
de amor, seu exemplo o roteiro aberto para o bem sublime e imortal.
“Vinde, pois, comungar conosco à mesa do banquete divino! Não mais as
festas do pão putrescível, mas o eterno alimento da alegria e da vida... Não
mais o vinho que fermenta, mas o néctar confortante da alma, diluído nos
perfumes do amor imortal.
“O Cristo é a substância da nossa liberdade. Dia virá em que o seu reino
abrangerá os filhos do Oriente e do Ocidente, num amplexo de fraternidade e
de luz. Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos
nossos apelos, em face da Lei de Moisés. A Lei é humana; o Evangelho é
divino. Moisés é o condutor; O Cristo, o Salvador. Os profetas foram mordomos
fiéis; Jesus, porém, é o Senhor da Vinha. Com a Lei, éramos servos; com o
Evangelho, somos filhos livres de um Pai amoroso e justo!...”
Nesse ínterim, Estevão sustou a palavra que lhe fluía harmoniosa e
vibrante dos lábios, inspirada nos mais puros sentimentos. Os ouvintes de
todos os matizes não conseguiram ocultar o assombro, ante os seus conceitos
de vigorosas revelações. A multidão embevecera-se com os princípios
expostos. Os mendigos, ali aglomerados, endereçavam ao pregador um sorriso
de aprovação, bem significativo de jubilosas esperanças. João fixava nele os
olhos enternecidos, identificando, mais uma vez, no seu verbo ardente, a
mensagem evangélica interpretada por um discípulo dileto do Mestre
inesquecível, nunca ausente dos que se reúnem em seu nome.
Saulo de Tarso, emotivo por temperamento, fundia-se na onda de
admiração geral; mas, altamente surpreendido, verificou a diferença entre a Lei
e o Evangelho anunciado por aqueles homens estranhos, que a sua
mentalidade não podia compreender. Analisou, de relance, o perigo que os
novos ensinos acarretavam para o judaísmo dominante. Revoltara-se com a
prédica ouvida, nada obstante a sua ressonância de misteriosa beleza. Ao seu
raciocínio, impunha-se eliminar a confusão que se esboçava, a propósito de
Moisés. A Lei era uma e única. Aquele Cristo que culminou na derrota, entre
dois ladrões, surgia a seus olhos como um mistificador indigno de qualquer
consideração. A vitória de Estevão na consciência popular, qual a verificava
naquele instante, causava-lhe indignação. Aqueles galileus poderiam ser
piedosos, mas não deixavam de ser criminosos pela subversão dos princípios
invioláveis da raça.
O orador preparava-se para retomar a palavra, momentaneamente
interrompida e aguardada com expectação de júbilo geral, quando o jovem
doutor se levantou ousadamente e exclamou, quase colérico, frisando os
conceitos com evidente ironia.
— “Piedosos galileus, onde o senso de vossas doutrinas estranhas e
absurdas? Como ousais proclamar a falsa supremacia de um nazareno
obscuro sobre Moisés, na própria Jerusalém onde se decidem os destinos das
tribos de Israel invencível? Quem era esse Cristo? Não foi um simples
carpinteiro ?“
Ao orgulhoso entono da inesperada apóstrofe, houve no ambiente um tal ou
qual retraimento de temor, mas, dos desvalidos da sorte, para quem a
mensagem do Cristo era o alimento supremo, partiu para Estevão um olhar de
defesa e jubiloso entusiasmo. Os Apóstolos da Galiléia não conseguiam
dissimular seu receio. Tiago estava lívido. Os amigos de Saulo notaram-lhe a
máscara escarninha. O pregador também empalidecera, mas revelava no olhar
resoluto o mesmo traço de imperturbável serenidade. Fitando o doutor da Lei, o
primeiro homem da cidade que se atrevera a perturbar o esforço generoso do
evangelismo, sem trair a seiva de amor que lhe desbordava do coração, fez ver
a Saulo a sinceridade das suas palavras e a nobreza dos seus pensamentos. E
antes que os companheiros voltassem a si da surpresa que os assomara, com
admirável presença de espírito, indiferente à impressão do temor coletivo,
obtemperou:
— “Ainda bem que o Messias fora carpinteiro: porque, nesse caso, a
Humanidade já não ficaria sem abrigo. Ele era, de fato, o Abrigo da paz e da
esperança! Nunca mais andaremos ao léu das tempestades nem na esteira
dos raciocínios quiméricos de quantos vivem pelo cálculo, sem a claridade do
sentimento.”
A resposta concisa, desassombrada, desconcertou o futuro rabino,
habituado a triunfar nas esferas mais cultas, em todas as justas da palavra.
Enérgico, ruborizado, evidenciando cólera profunda, mordeu os lábios num
gesto que lhe era peculiar e acrescentou com voz dominadora:
— Aonde iremos com semelhantes excessos de interpretação, em torno
de um mistificador vulgar, que o Sinédrio puniu com a flagelação e a morte?
Que dizer de um Salvador que não conseguiu salvar-se a si mesmo? Emissário
revestido de celestes poderes, como não evitou a humilhação da sentença
infamante? O Deus dos exércitos, que seqüestrou a nação privilegiada ao
cativeiro, que a guiou através do deserto abrindo-lhe a passagem do mar; que
lhe saciou a fome com o maná divino e, por amor, transformou a rocha
impassível em fonte de água viva, não teria meios, outros, de assinalar o seu
enviado senão com uma cruz de martírio, entre malfeitores comuns? Tendes,
nesta casa, a glória do Senhor Supremo, assim barateada? Todos os doutores
do Templo conhecem a história do impostor que celebrizais com a simplicidade
da vossa ignorância! Não vacilais em rebaixar nossos próprios valores,
apresentando um Messias dilacerado e sangrento, sob os apupos do povo .....
Lançais vergonha sobre Israel e desejais fundar um novo reino? Seria justo
dardes a conhecer, inteiramente, a nós outros, o móvel das vossas fábulas
piedosas.”
Estabelecida uma pausa na sua objurgatória, o orador voltou a falar com
dignidade:
— Amigo, bem se dizia que o Mestre chegaria ao mundo para confusão de
muitos em Israel. Toda a história edificante do nosso povo é um documento da
revelação de Deus. No entanto, não vedes nos efeitos maravilhosos com que a
Providência guiou as tribos hebréias, no passado, a manifestação do carinho
extremo de um Pai desejoso de construir o futuro espiritual de crianças
queridas do seu coração? Com o correr do tempo, observamos que a
mentalidade infantil enseja mais vastos princípios educativos, O que ontem era
carinho, é hoje energia oriunda das grandes expressões amorosas da alma. O
que ontem era bonança e verdor, para nutrição da sublime esperança, hoje
pode ser tempestade, para dar segurança e resistência. Antigamente, éramos
meninos até no trato com a revelação; agora, porém, os varões e as mulheres
de Israel atingiram a condição de adultos no conhecimento, O Filho de Deus
trouxe a luz da verdade aos homens, ensinando-lhes a misteriosa beleza da
vida, com o seu engrandecimento pela renúncia. Sua glória resumiu-se em
amar-nos, como Deus nos ama.
Por essa mesma razão, Ele ainda não foi compreendido. Acaso
poderíamos aguardar um salvador de acordo com os nossos propósitos
inferiores? Os profetas afirmam que as estradas de Deus podem não ser os
caminhos que desejamos, e que os seus pensamentos nem sempre se
poderão harmonizar com os nossos. Que dizermos de um Messias que
empunhasse o cetro no mundo, disputando com os príncipes da iniqüidade um
galardão de triunfos sangrentos?
Porventura a Terra já não estará farta de batalhas e cadáveres?
Perguntemos a um general romano quanto lhe custou o domínio da aldeia mais
57
obscura; consultemos a lista negra dos triunfadores, segundo as nossas idéias
errôneas da vida. Israel jamais poderia esperar um Messias a exibir-se num
carro de glórias magnificentes do plano material, suscetível de tombar no
primeiro resvaladouro do caminho. Essas expressões transitórias pertencem ao
cenário efêmero, no qual a púrpura mais fulgurante volta ao pó. Ao contrário de
todos os que pretenderam ensinar a virtude, repousando na satisfação dos
próprios sentidos, Jesus executou sua tarefa entre os mais simples ou mais
desventuradoS, onde, muitas vezes, se encontram as manifestações do Pai,
que educa, através da esperança insatisfeita e das dores que trabalham, do
berço ao túmulo, a existência humana. O Cristo edificou, entre nós, seu reino
de amor e paz, sobre alicerces divinos. Sua exemplificação está projetada na
alma humana, com luz eterna! Quem dê nós, então, compreendendo tudo isso,
poderá identificar no Emissário de Deus um príncipe belicoso? Não! O
Evangelho é amor em sua expressão mais sublime. O Mestre deixou-se imolar
transmitindo-nos o exemplo da redenção pelo amor mais puro. Pastor do
imenso rebanho, Ele não quer se perca uma só de suas ovelhas bem-amadas,
nem determina a morte do pecador, O Cristo é vida, e a salvação que nos
trouxe está na sagrada oportunidade da nossa elevação, como filhos de Deus,
exercendo os seus gloriosos ensinamentos.”
Depois de uma pausa, o doutor da Lei já se erguia para revidar, quando
Estevão continuou:
— “E agora, irmãos, peço vênia para concluir minhas palavras. Se não vos
falei como desejáveis, falei como o Evangelho nos aconselha, argüindo a mim
próprio na íntima condenação de meus grandes defeitos. Que a bênção do
Cristo seja com todos vós.
Antes que pudesse abandonar a tribuna para confundir-se com a multidão,
o futuro rabino levantou-se de chofre e observou enraivecido:
— Exijo a continuação da arenga! Que o pregador espere, pois não
terminei o que preciso dizer.
Estevão replicou serenamente:
— Não poderei discutir.
— Por quê? — perguntou Saulo irritadíssimo. — Estais intimado a
prosseguir.
— Amigo — elucidou o interpelado calmamente —‘o Cristo aconselhou que
devemos dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Se tendes
alguma acusação legal contra mim, exponde-a sem receio e vos obedecerei;
mas, no que pertence a Deus, só a Ele compete argüir-me.
Tão alto espírito de resolução e serenidade, quase desconcertou o doutor
do Sinédrio; compreendendo, porém, que a impulsividade somente poderia
prejudicar-lhe a clareza do pensamento, acrescentou mais calmo, apesar do
tom imperioso que deixava transparecer toda a sua energia:
— Mas eu preciso elucidar os erros desta casa. Necessito perguntar e
haveis de responder-me.
— No tocante ao Evangelho — replicou Estevão —. já vos ofereci os
elementos de que podia dispor, esclarecendo o que tenho ao meu alcance.
Quanto ao mais, este templo humilde é construção de fé e não de justas
casuísticas. Jesus teve a preocupação de recomendar a seus discípulos que
fugissem do fermento das discussões e das discórdias. Eis por que não será
lícito perdermos tempo em contendas inúteis, quando o trabalho do Cristo
reclama o nosso esforço.
— Sempre o Cristo! sempre o impostor! — trovejou Saulo, carrancudo. —
Minha autoridade é insultada pelo vosso fanatismo, neste recinto de miséria e
de ignorância.
Mistificadores, rejeitais as possibilidades de esclarecimento que vos
ofereço; galileus incultos, não quereis considerar o meu nobre cartel de
desafio. Saberei vingar a Lei de Moisés, da qual se tripudia. Recusais a
intimativa, mas não podereis fugir ao meu desforço.
Aprendereis a amar a verdade e a honrar Jerusalém, renunciando ao
nazareno insolente, que pagou na cruz os criminosos desvarios. Recorrerei ao
Sinédrio para vos julgar e punir. O Sinédrio tem autoridade para desfazer
vossas condenáveis alucinações.
Assim concluindo, parecia possesso de fúria. Mas nem assim logrou
perturbar o pregador, que lhe respondeu de ânimo sereno:
— Amigo, o Sinédrio tem mil meios de me fazer chorar, mas não lhe
reconheço poderes para obrigar-me a renunciar ao amor de Jesus-Cristo ....

Texto retirado do Capítulo 5 " Pregação"

Caridade Ocasional


GERALDO GOULART
É praxe comentar-se, nas reuniões públicas ocorridas em dezembro, nas
Casas Espíritas, que, a despeito do forte apelo comercial que envolve as
festividades natalinas e, mesmo que o 25 de dezembro não venha a ser o dia
efetivo do nascimento do Senhor na Terra, o Natal congrega pessoas, renova
sentimentos, enseja a anunciação de novos roteiros na vida e induz as criaturas
à prática de uma caridade da qual se mantiveram afastadas durante o ano. Isso
porque a Humanidade se permite contagiar pelas vibrações do que se
convencionou chamar como sendo a “data máxima da Cristandade”. Assim,
dezembro é um mês de muitas cores e luzes, de troca de presentes e
mensagens, de sorrisos e abraços fraternos.
Alguns expositores e dirigentes espíritas lembram, com proficiência, às
suas assembléias, que o “espírito natalino” deve ser constante, a cada dia, já
que em todos os dias é patente o Amor e a Presença do Cristo em nós. E que —
dizem mais — a fome, a necessidade, a aflição e o abandono são presenças
diárias e quase permanentes no dia-a-dia de algumas pessoas, tais como: a
população carente de rua, os menores de idade e os idosos asilados (e exilados
do carinho familiar), os internos em colônias prisionais e de tratamento de
doenças infecto-contagiosas. Isso faz parte do mundo real!
Não obstante as preciosas advertências, que todos os fins de ano
ouvimos repetidas, constata--se, ainda assim, grande afluxo de recursos e
pessoas dispostas a ajudar apenas em dezembro. Algumas Instituições que
movimentam mantimentos para auxílio às famílias carentes em suas
comunidades e que, ao longo do ano, mensalmente renovam pedidos de alguns
quilos de mantimentos para fechar a Campanha, vêem-se com armários
abarrotados naquele mês. Outras, com atividade de manutenção de crianças
pobres, nesse mesmo mês são visitadas por pessoas que lhes despejam
dezenas de brinquedos por criança mantida. Nesse universo de Casas
identificamos algumas que mantêm uma distribuição mensal ou quinzenal de
sopa à população de rua. E que acontece? Em dezembro, inevitável, triplica o
número das pessoas que saem naquelas caravanas da Caridade. Mas, dois
terços compostos de presenças eventuais que trazem, consigo, roupas novas,
presentes devidamente embrulhados em papéis multicoloridos, brinquedos, etc.
Seria de louvar-se, se não fossem ocasionais...
Cabe aqui uma pergunta impertinente: qual “espírito” patrocina essa motivação,
o natalino ou o do décimo-terceiro? Se fosse o primeiro, é evidente que
ela, a motivação, não se restringiria a dezembro. Seria repetida em janeiro,
fevereiro, março... refazendo o Natal a cada mês, como exortado pelas mensagens
espíritas. Se for o segundo, é razoável que, no mínimo, promovamos
“campanhas natalinas mensais” para lembrar àquelas consciências que ficam
anestesiadas ao longo do ano, uma vez que a Caridade não possui data fixa no
calendário como os demais eventos: Férias, Carnaval, Outono, Páscoa, Inverno,
Festas Juninas e Primavera, Independência, Proclamação da República, Verão,
Natal, Ano-Novo.
Acostumados que estamos às comemorações anuais, que tal facearmos
cada dia como um Novo Ano em que nos compromissemos a promover o Bem
ao próximo? Se doarmos, num dia um quilo de qualquer gênero alimentício, no
17
outro, um calçado; no terceiro, uma peça de roupa; no quarto, a palavra de
reconforto e esperança, ou um abraço impregnado de fé; no quinto, um afago a
uma criança, um doente, um idoso... e assim por diante, deixaremos de ser
“caridosos de ocasião” para converter-nos em plantonistas da Caridade diária.


Revista O Reformador dezembro de 1999

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

I- Remorsos e arrependimentos.


Estou feliz por vos ver todos reunidos pela mesma fé e o amor de Deus Todo-poderoso, nosso divino senhor. Possa ele sempre vos guiar num bom caminho, vos cumular com seus benefícios, o que fará se vos tornar dignos disso.
Amai-vos sempre uns aos outros como irmãos; prestai-vos um apoio mútuo, e que o amor ao próximo não seja para vós uma palavra vazia de sentido.
Lembrai-vos de que a caridade é a mais bela das virtudes, e que, de todas, é a mais agradável a Deus; não somente essa caridade que dá um óbolo aos infelizes, mas aquela que vos faz compadecer de nossos irmãos infelizes; que vos faz partilhar suas dores morais, aliviar os fardos que os oprimem, a fim de lhes tornar a dor menos viva e a vida mais fácil.
Lembrai-vos de que o arrependimento sincero obtém o perdão de todas as faltas, tanto a bondade de Deus é grande, o remorso nada tem de comum com o arrependimento. O remorso, meus irmãos, é já o prelúdio do castigo; o arrependimento, a caridade, a fé, vos conduzirão às felicidades reservadas aos bons Espíritos.
Ouvireis a palavra de um Espírito superior, bem amado de Deus; recolhei-vos, e abri vosso coração às lições que ele vos dará.
UM ANJO GUARDIÃO.

Revista Espírita 1860 - Maio

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Brandos e Pacíficos


A azáfama do dia cedera lugar a terna e suave tranqüilidade. As atividades fatigantes alongaram-se até as primeiras horas da noite, que se recamara de astros alvinitentes. Os últimos corações atendidos, à margem do lago, após a formosa pregação do entardecer, demandaram os seus sítios facultando que eles, a seu turno, volvessem à casa de Simão.
Depois do repasto simples, o Mestre acercou-se da praia em companhia do apóstolo afeiçoado e, porque o percebesse tristonho, interrogou com amabilidade:

Que aflição tisna a serenidade da tua face, Simão, encobrindo-a com o véu de singular tristeza?

Havia na indagação carinhoso interesse e bondade indisfarçável.

Convidado diretamente à conversação renovadora, o velho pescador contestou com expressiva entonação de voz, na qual se destacava a modulação da amargura:

- Cansaço, Senhor. Sinto-me muitas vezes descoroçoado, no ministério abraçado... Não fosse por ti...

Não conseguiu concluir a frase. As lágrimas represadas irromperam afogando o trabalhador devotado em penosa agonia. E como o silêncio se fizesse espontâneo, ante o oscular da noite que os acalentava em festival de esperança, o companheiro, sentindo-se compreendido e, passado o volume inicial da emotividade descontrolada, prosseguiu:

- Não ignoro a própria inferioridade e sei que teu amor me convocou à boa nova a fim de que me renovasse para a luz e pudesse crescer na direção do amor de nosso Pai. Todavia, deparo-me a cada instante com dificuldades que me dilaceram os sentimentos, inquietando-me a alma.

Ante o olhar dúlcido e interrogativo do Amigo discreto adiu:

- É verdade que devemos perdoar todas as ofensas, no entanto, como suportar a agressividade que nos fere, quando pretende admoestar e que humilha, quando promete ajudar?

- Guardando a paz do coração - redargüiu o divino Benfeitor.

- Todavia - revidou o discípulo sensibilizado -, como conservar a paz, estando sitiado pela hipocrisia de uns, pela suspeita pertinaz de outros, sob o olhar severo das pessoas que sabemos em pior situação do que a nossa?

- Mantendo a brandura no julgamento - respondeu o Senhor.

- Concordo que a mansuetude é medicamento eficaz - redargüiu Pedro -, não obstante, não seria de esperarmos que os companheiros afeiçoados à luz nova também a exercitassem por sua vez? Quando a dúvida sobre nossas atitudes parte de estranhos, quando a suspeição vem de fora da grei, quando a agressividade nos chega dos inimigos da fé, podemos manter a brandura e a paz íntimas. Entrementes, sofrer as dificuldades apresentadas por aqueles que nos dizem amar, tomando parte no banquete do Evangelho, convém consideremos ser muito mais difícil e grave o cometimento...

Percebendo a angústia que se apossara do servo querido, o Mestre, paciente e judicioso, explicou:

- Antes de esperarmos atitudes salutares do próximo, cabe-nos o dever de oferecê-las. Porque alguém seja enfermo pertinaz e recalcitrante no erro, impedindo que a luz renovadora do bem o penetre e sare, não nos podemos permitir o seu contágio danoso, nem nos é lícito cercear-lhe a oportunidade de buscar a saúde. Certamente, dói-nos mais a impiedade de julgamento que parte do amigo e fere mais a descortesia de quem nos é conhecido. Ignoramos, porém, o seu grau de padecimento interior e a sua situação tormentosa. Nem todos os que nos abraçam fazem-no por amor, bem o sabemos... Há os que, incapazes de amar, duvidam do amor do próximo; os que mantendo vida e atitudes dúbias descrêem da retidão alheia; os que tropeçando e tombando descuram de melhorar a estrada para os que vêm atrás... Necessário compreendê-los todos e amá-los, sem exigir que sejam melhores ou piores, convivendo sob o bombardeio do azedume deles sem nos tornar-nos displicentes para com os nossos deveres ou amargos em relação aos outros...

- Ante a impossibilidade de suportá-los -sindicou o pescador com sinceridade -, sem correr o perigo de os detestar, não seria melhor que os evitássemos, distanciando-nos deles?

- Não, Simão - esclareceu Jesus. - Deixar o enfermo entregue a si mesmo será condená-lo à morte; abandonar o revel significa torná-lo pior... Antes de outra atitude é necessário que nos pacifiquemos intimamente, a fim de que a brandura se exteriorize do nosso coração em forma de bênção.

“Na legislação da montanha foi estabelecido que são bem-aventurados os brandos e pacíficos...

“A bem-aventurança é o galardão maior. Para consegui-lo é indispensável o sacrifício, a renúncia, a vitória sobre o amor-próprio, o triunfo sobre as paixões.

“Amar aos bons é dever de retribuição, mas servir e amar aos que nos menosprezam e de nós duvidam é caridade para eles e felicidade para nós próprios.”

Como o céu continuasse em cintilações incomparáveis e o canto do mar embalasse a noite em triunfo, o Mestre silenciou como a aspirar as blandícias da Natureza.

O discípulo, desanuviado e confiante, com os olhos em fulgurações, pensando nos júbilos futuros do Evangelho, repetiu quase num monólogo, recordando o Sermão da Montanha:

“Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra.

“Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.”

E deixou-se penetrar pela tranqüilidade, em clima de elevadas reflexões.


Autor: Amélia Rodrigues

Psicografia de Divaldo Franco


Não Merecem


Guarde-se do mal e defenda-se dele com a realização do bem operante. O mal não merece consideração.
Há muito que fazer, valorizando a oportunidade de serviço que surge inesperada.
A intriga não merece a atenção dos seus ouvidos.
A injúria não merece o respeito da sua preocupação.
A ingratidão não merece o zelo da sua aflição.
O ultraje não merece o seu revide verbalista.
A mentira não merece a interrupção das suas nobres tarefas.
A exasperação não merece o seu sofrimento.
A perseguição gratuita não merece a sua solicitude.
A maledicência não merece o alto-falante da sua garganta.
A inveja não merece o tempo de que você necessita para o trabalho nobre.

Os maus não merecem a sua inquietação.

Entregue-os ao tempo benfazejo.

Abra os braços ao dever, firme-se no solo do serviço, abrace-se à cruz da responsabilidade, recordando o madeiro onde expirou o Cristo e, em perfeita magnitude, desafie a fúria do mal.

O lídimo cristão é fiel servidor.


Você tem somente um amo a quem prestará contas: Jesus!


Preocupado com o que deve fazer, não pare a escutar os que não têm o que fazer ou nada querem fazer.

Transformando-se em antena viva da inspiração superior, registre o ensinamento evangélico do amor, no coração, viva-o na ação e prossiga sem medo.

Você sabe que em toda seara existem abelhas diligentes e marimbondos destruidores. Também, não ignora “que os maus por si mesmos se destroem”, como afirma a sabedoria popular.



Identifique no obstáculo o ensejo iluminativo e não se detenha.


Por essa razão, enquanto a ventania açoita, guarde a sua fé robusta e, sem dar atenção ao mal, esteja acautelado, porque, não descendo às ondas mentais dos maus, você paira inatingível nas vibrações superiores das Altas Potências da Vida. Doe amor e, assim, faça o bem, para que não venha “a responder por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem”.




Autor: Marco Prisco

Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Legado Kardequiano