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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Uma verdadeira poesia evangélica

O Excelso Canto


Os simples, excluídos, pobres, famintos de paz e amor, misturavam-se, uniam-se em busca da mesma Palavra.

Subiram a Montanha.

Jesus estava no topo.

A montanha, sua grandeza especial é o símbolo: Jesus desce aos homens no profundo abismo e resgata o homem, conduzindo-os sobre escarpas lacerantes até Deus.

Os homens, na sua subida devem esquecer-se das querelas emocionais e viver o díptico: subir-descer.

Jesus observa a multidão subindo o monte. Ali Ele fez o Poema Maior:

- Bem aventurados os pobres de espírito.

- Bem aventurados os que choram.

- Bem aventurados os mansos.

A Terra é testemunha do Poema.

- Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça.

- Bem aventurados os misericordiosos.

- Bem aventurados os limpos de coração.

Verão à Deus!

- Bem aventurados os pacificadores.

Clarear as mentes.

- Bem aventurados os que são perseguidos por causa do Reino dos Céus.

Dar o direito de errar e o dever de não persistir no erro.

Perdoar e pedir perdão.

Jesus continua:

"...Sois o sal da Terra.

"Sois a luz do mundo...

"Não cuideis que vim destruir a Lei...

"Ide reconciliar com vossos irmãos...

"Não cometais adultério, nem escandalizeis...

"Não jureis...

"Não resistais ao mal...

"Amai ao vosso próximo, aos vossos inimigos...

"Sede perfeitos...

"Orai assim: Pai Nosso que estais nos céus...

"Não ajunteis tesouros na Terra"

É quase noite e os astros são testemunhas deste concerto.

É a carta magnífica dos ensinamentos puros que nos levarão à Deus, hoje e sempre.

E o Poema prossegue vibrante:

..."Ninguém pode servir a dois senhores...

"Olhai os lírios dos campos e as aves do céu...
Buscai primeiro o Reino dos Céus e sua justiça...

"Não julgueis...

"Pedi e dar-se-vos-á..."

"Buscais e encontrareis...

"Batei e abrir-se-vos-á...

"Entrai pela porta estreita...

"Acautelai-vos contra os falsos profetas..."

Um grande silêncio se abate sobre a montanha.

Não muito longe, o amanhã convidará todos aqueles ouvintes ao testemunho em postes e presídios, entre feras, nos campos de batalha do mundo, nos sórdidos pavimentos da aflição, como herdeiros legítimos do Reino de Deus.

Amélia Rodrigues
Primícias do Reino

O Semeador por Amélia Rodrigues

Semente de Luz e Vida


Manhã de Sol. Jesus sai para semear e colher.

Respira fundo e lembra-se da Terra inculta.

"Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho."

"...E vieram as aves e comeram-na..."

O Reino dos Céus é semelhante.

O homem bom semeou a boa semente na boa terra; e cresceram trigo e joio. O joio em molhos foi queimado e o trigo ensacado foi posto no celeiro.

O grão de mostarda é o menos de todos, no entanto, cresce e a planta se torna grandiosa. As aves nela se alojam...

O fermento insignificante leveda a massa toda...

O tesouro que um homem encontrou é tão valioso que tudo quanto possuia vendeu, para tê-lo seu. Outro homem descobriu uma pérola de incomparável valor, e de tudo se desfez para consegui-la...

"Outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante. Vindo o Sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz..."

O pai disse ao filho: vem trabalhar em minha vinha.
- Não quero! - mas, arrependendo-se, foi.
Chamado o outro filho, este respondeu:
- Vou! - mas não deu importância.

Dez eram ao todo. Cinco eram noivas loucas. Gastaram o óleo e ficaram sem luz. Ao chegarem os noivos...

- Eu sei que és severo. Amedrontado, enterrei o seu talento, o que me confiastes.
- Mau servo, tomem quanto tem e dêem-no a quem já o tem.

"...Outra caiu entre espinhos e os espinhos crescera, e sufocaram-na..."
Quem põe uma candeia acessa sob o alqueire ou escondida?

Respondeu-lhe o enfático doutor da Lei:
"Aquele que usou de misericórdia com ele".
Vai e faze o mesmo. Este é o teu próximo...

Nunca te sentes nos primeiros lugares, sem que tenha sido mandado pelo teu anfitrião...

"...E outra caiu em boa terra e deu fruto: uma sem, outro a sessenta e outro a trinta..."

Era uma vez...
Um credor tinha dois devedores e como ambos não lhe pudessem pagar...

Bem aventurados aqueles servos, os quais, quando o senhor vier, achar vigiando...

- Pai, pequei contra o céu e perante a ti, não sou digno de ser chamado teu filho...
- Trazei o melhor vestido e vesti-o, este meu filho estava morto e vive: tinha se perdido e foi achado.

"Havia um homem rico, a quem depois de morto, Pai Abraão disse..."
"Estes, os últimos, são os primeiros e os primeiros serão os últimos..."
"Quem tem ouvidos, ouça..."

Ele falava por parábolas.
"Se a nossa fé for do tamanho de um grão de mostarda..."
Parábolas, verdades nas alegorias.

A semente é luz da vida.
Vida na semente.
Luz na Vida.

O Bom Pastor dá a vida pela suas ovelhas.

Parábolas e espírito de vida.
Vida nas parábolas.
Aos seus, aos discípulos, Ele as explicava.

O semeador repousa.
"O reino dos céus está dentro de vós...
"Vóis sois deuses...
"Buscais primeiro o reino...
"Quando eu for erguido, atrairei todos a mim".

O semeador foi erguido... numa cruz.
Caminho para a vida - o semeador.
Caminho até a porta - o semeador.
A cruz das renúncias e sacrifícios - ponte entre os abismos: o "eu" e "ele", o próximo.

O semeador espera.
Ele saiu para ensinar por parábolas.
A semente é a palavra para quem busca a Verdade.
A Verdade é a Vida.
O semeador saiu a semear.

Amélia Rodrigues
Primícias do Reino

sábado, 1 de novembro de 2014

Alvíssaras de Alegrias

Alvíssaras de Alegrias

Os costumes promíscuos, frutos das guerras e dos ódios incessantes, geraram o desvario das massas.

Sem qualquer apoio ou perspectiva de melhorias, o povo consumido pelo desespero estava mergulhado na treva e não mais vivia, apenas sobrevivendo cada dia, cada hora, sem projeto algum para o futuro.

De um lado, a falsa religiosidade, preocupada mais com a aparência do que com o profundo conteúdo espiritual, caracterizava-se pelo formalismo pusilânime, enquanto as necessidades asfixiantes do povo armavam-no de ódio e de ferocidade.

Os infelizes cansados das injustiças, que já haviam criado no passado o partido dos zelotes, daqueles que buscavam preservar os códigos ancestrais, violentados pelos romanos, agora abriam uma ala para os que desejavam desforço, cometendo hediondos crimes, mesmo à luz do dia, contra os seus contemporâneos infiéis...

Israel encontrava-se desestruturado, contorcendo-se entre as garras férreas da águia romana, da sordidez dos seus governantes ignóbeis e da indiferença dos poderosos que adquiriam direito à comodidade a peso de ouro.

As pessoas, antes sonhadoras e gentis, que aguardavam o Messias, transformaram-se na multidão aturdida e desenfreada nas suas paixões, que se atiravam sobre o espólio das gerações vencidas.

Apesar de tudo, pairava uma psicosfera de ternura como ligeira brisa que carreasse aromas suaves e leve expectativa de alegria no ar.

Sem saberem compreender o que sucedia, muitos infelizes ainda confiavam em Deus e humildes trabalhadores honravam os seus deveres.

Ocorre que a Terra estava sob tênues claridades do Céu que anunciavam a eliminação das sombras.

Sempre surgiam sonhadores que afirmavam a chegada do justiceiro e se armavam, sendo logo vencidos, dizimados, sem qualquer compaixão, pelos dominadores.

Naqueles dias, subitamente as aragens da esperança começaram a cantar nos corações expectantes.

Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo. No entanto, desde o momento quando o Batista anunciou que aquela era a hora do arrependimento e da renovação, algo realmente começou a suceder.

Desde as terras de Betfagé, às margens frescas do Jordão, e dali à aridez do deserto e ao mar Morto, visitando as pradarias e ultrapassando as montanhas, alguma ocorrência especial alterava a paisagem humana...

Roma estava acostumada àquele povo tumultuado e rebelde, teimoso e bulhento, silenciando as suas contínuas revoltas com banhos de sangue...

Na Galileia singela, as labutas do mar sofreram modificação desde quando Ele abriu a Sua boca e clareou a noite das almas com o verbo de luz.

Ele era simples e puro como o lírio do campo e despido de atavios como uma espada nua.

Quem O tivesse visto e ouvido não conseguiria ser mais o mesmo, nem olvidar aquele momento, aguardando os longes tempos para O entender e O seguir, caso não dispusesse de resistências morais para fazê-lo a partir daquele instante.

A Sua palavra penetrava o cerne do ser como o perfume do nardo que impregna a superfície que acaricia.

Era natural que, onde aparecesse, a patética do sofrimento também se apresentasse.

Sucediam-se como ondas eriçadas pelo vento, as multidões que desejavam o seu contato, o seu benefício, a dúlcida carícia do seu terno olhar, que diminuía o fogo das aflições.

Preocupados com o corpo, nem sempre O ouviam realmente, anelando apenas por escutar a interrogação: - Que queres que eu te faça?

Ele não viera exatamente para ser remendão de corpos despedaçados, mas fazia-se necessário que O vissem agir em nome de Deus, que recuperasse aquelas formas orgânicas que iriam perecer depois, a fim de que tivessem despertada a fé na imortalidade.

Bem poucos desejavam realmente receber o pão da vida e a água que dessedenta para sempre, embriagando-se na perene luz do conhecimento que é o suporte vigoroso para a fé inabalável.

Mas a Sua fama crescia na razão direta dos Seus feitos, da Sua incomparável bondade, da Sua compaixão.

Ninguém jamais amara daquela maneira, falara com aquele tom de voz, convivera com os deserdados do mundo com a mesma naturalidade...

Os fariseus souberam que Ele silenciara os saduceus e, tomados de cólera, que é o recurso dos pigmeus morais diante dos gigantes espirituais, buscaram-nO, e um sacerdote pusilânime, para O tentar, perguntou-lhe:

- Qual o mandamento maior, aquele que devemos seguir?

A luz penetrante dos Seus olhos desnudou o hipócrita, enquanto docemente respondeu:

- Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, acima de todas as coisas.

O atormentado fariseu de sentimentos corroídos pela inveja redarguiu:

-Isto sabemos nós. Como porém, amar ao que não se vê, não se compreende, não se sente?

Num relampaguear de emoção, Ele aduziu:

- Amando ao próximo como a si mesmo, assim sintetizando toda a Lei e todos os profetas.

O soez inquiridor, porém, não queria a verdade, mas a discussão inútil com o sarcasmo no qual era mestre.

Voltou, então, a interrogar:

- Que é amar ao próximo? Como fazê-lo, sendo ele um estranho?

Houve um silêncio profundo, prenunciador da sinfonia da gentileza:

- O próximo – esclareceu com ternura – são todos os seres humanos, filhos do Único Pai, sem distinção de classe ou de cor, de credo ou de raça.

- Ante a impossibilidade de amar-se ao Pai, que transcende a qualquer entendimento, respeitar-lhe os filhos que lhe conduzem a herança e caminham ao nosso lado.

Amá-lo, implica em considerá-lo irmão, compreendendo-lhe as necessidades e buscando supri-las, dispensando-lhe carinho e tolerância e fazendo-lhe tudo quanto gostaria de receber de outrem.

Quando o amor se exterioriza do coração, o Pai alberga ambos, aquele que ama e aqueloutro que lhe frui o afeto, na sua incomparável alegria.

O amor ergue, quando o outro tomba, compadece-se, quando defronta o erro, acompanha o solitário, ajudando-o, e enriquece de ternura todos aqueles que abraça, por maior que seja ao carência que os devasta.

No amor ao próximo, que é o eu no outro, a vida estua e a paz repousa no coração.

Não é necessário ver para amar, bastando compreender que ninguém jamais se realiza a sós, nem se completa se não der um sentido de solidariedade à existência...

Doces melodias e vozes inarticuladas cantavam na pauta grandiosa da Natureza.

Logo após, completou:

-Então, não existirão inimigos, porque todos aqueles que se prazer'>comprazerem nessa infeliz condição serão também amados.

As alvíssaras de luz e alegrias do Reino dos Céus rompiam a noite dos tempos de então para todos os tempos do futuro.


Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia, em 5 de agosto de 2013. Do site: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=379

domingo, 21 de setembro de 2014

PERDÃO RADICAL

PERDÃO RADICAL


As sublimes lições não paravam de iluminar as consciências dos discípulos interessados no conhecimento da Verdade.

Cada momento em companhia do Mestre amado revestia-se de um aprendizado inolvidável.

Jamais houvera alguém que pudesse, como Ele o fazia, cantar a beleza da sabedoria com a linguagem singela de um lírio alvinitente em pleno chavascal.

As Suas palavras eram como pérolas reluzentes que formavam colares luminosos na consciência dos ouvintes.

Ele nunca se repetia. Com as mesmas palavras entretecia variações incomuns em torno dos temas do cotidiano, oferecendo soluções simples, às vezes, profundas, com a mesma naturalidade com que se referia ao Pai, o Seu Abba.

Ressoavam nos refolhos das almas o canto incomparável do Sermão da Montanha, que se lhes tornara o novo norte para o avanço no rumo da augusta plenitude.

Cada bem-aventurança era portadora de um novo conteúdo, como sendo a diretriz soberana do amor em relação ao futuro da Humanidade.

Ninguém ficava à margem, nenhum sentimento era esquecido e a fonte de inexaurível sabedoria continuava a fluir a água lustral dos ensinamentos imortais.

Ele parecia ter pressa de preparar os amigos, embora não fosse apressado.

Eram tantas as necessidades humanas que não era possível desperdiçar o tempo em cogitações da banalidade e emprego das horas em pequenezes habituais do comportamento.

Mais de uma vez Ele falara sobre a emoção do amor e a bênção do perdão, sendo porém enfático em todas elas.

O perdão é sempre melhor para aquele que o concede.

Para que não ficasse esquecido entre as preocupações que assaltavam os amigos, na sua labuta diária, Ele voltava ao tema com novas composições.

Já lhes dissera que se fazia indispensável perdoar setenta vezes sete vezes, o que significava perdoar incessante, ininterruptamente...

Naquela oportunidade ímpar, complementou o ensinamento, referindo-se à conduta pessoal de cada criatura:

Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta...

... Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao guarda e sejas lançado na prisão.

Em verdade, vos digo que de maneira nenhuma saireis dali enquanto não pagardes o último ceitil. (*)

Tratava-se da aplicação da misericórdia nos relacionamentos, de modo a manter-se a consciência de paz.

Nesse sentido, a compaixão em relação aos erros alheios assumia papel de preponderância, mas os amigos aturdidos compreendiam que lhes era muito difícil a mudança de conduta, habituados ao desforço em relação àqueles que os prejudicavam.

Assim pensando, após a exposição do Senhor, Tiago perguntou-Lhe, recordando-se da severidade da Lei Antiga:

Como é possível, Mestre, permitir-se que o agressor fique impune, após a prática do seu ato perverso?

O Iluminado olhou-o com imensa ternura, por saber que ele era cumpridor dos deveres, severo em relação a si mesmo, portanto, exigente no que diz respeito ao comportamento dos outros e compreendeu-lhe a inquietação.

Após um breve silêncio, ante o zimbório celeste, recamado de estrelas que lucilavam ao longe, respondeu benigno:

As águas do rio limpam as margens e o leito por onde correm, transformando e decompondo o lixo e a imundície em rico adubo mais adiante, levados pela correnteza.

Assim também o amor de misericórdia transforma a agressão em bênção para a vítima, auxiliando o inimigo a purificar-se, ao largo do percurso evolutivo.

Quando se perdoa, isto não implica anuência com o erro, com o crime, com o descalabro do outro. Não se trata de desconhecer a atitude infeliz, mas objetiva não retaliar o outro, não aguardar oportunidade para nele desforçar-se.

Não devolver o mal que se sofre é o início do ato de perdoar. Compreender, porém, que o outro, o agressor, é infeliz, que ele se compraz em malsinar porque é atormentado, constitui a melhor reflexão para o perdão radical, o perdão sem reservas.

Ninguém tem o direito de oferecer ao Pai suas orações e dádivas de devotamento, se tem fechado o coração para o seu próximo, aquele que, na sua desdita, derrama fel sobre os outros e cobre a senda que percorrerá no futuro com os espinhos da própria insanidade.

Ter adversário é fenômeno normal na trajetória de todas as criaturas, no entanto, deve-se evitar ser-lhe também inamistoso, igualando-se em fraqueza moral e desdita interior. Quem assim se comporta também sofrerá julgamento da autoridade, a quem seja apresentada queixa, e essa poderá exigir-lhe o ressarcimento do mal até o último e mínimo ultraje.

É o que ocorre com qualquer ofensor ou ofendido magoado. É obrigado a refazer o caminho sob a jurisdição divina, até quitar-se de todas as mazelas e débitos morais.

O interrogante, no entanto, insistiu:

Como então fica a justiça diante daquele que lhe desrespeita os códigos austeros?

O Amigo compassivo compreendeu a inquietação do companheiro e elucidou:

A questão da justiça não pertence ao ofendido, mas aos legisladores que aplicarão a penalidade corretora que se enquadre nos códigos legais. E quando isso não ocorre, a sabedoria divina impõe-se ao calceta, que carrega na consciência o delito, fazendo-o ressarcir os danos com a sua cooperação ou sofrendo os efeitos do mal que praticou, imputando-se sofrimentos reparadores. Ninguém consegue fugir à consciência indefinidamente, porque sempre há um despertar para a realidade transcendental.

Mas, Mestre, nesse caso, todos os crimes de qualquer porte devem ser perdoados e esquecidos? - Instou, inquieto,

Serenamente, Jesus retorquiu:

Não há crime imperdoável. Há, sim, mágoas exageradas. Quem não tem condutas reprocháveis ao longo da existência, por mais austero seja em relação a si mesmo, observando os Códigos da justiça e da religião? Quantas vezes, em momentos de infelicidade e de ira, pessoas boas e generosas, devotadas ao Pai e ao dever, rebelam-se e agem incorretamente? Será justo desconhecer-lhes toda uma trajetória de dignidade por um momento de alucinação, de torpor mental pela ira asselvajada que lhe tomou a consciência?

É necessário, portanto, perdoar-se todas as formas de agressão, entregando-as ao amor do Pai Incomparável, a tomar nas mãos a lei e a justiça, aplicando-as conforme o desconforto de que se é objeto.

Assim fazendo, torna-se digno de também ser perdoado.

Esse é o sublime comportamento do amor, em forma de benignidade para com o próximo, o irmão da retaguarda evolutiva.

Depois do silêncio que se abateu natural, no círculo de amigos, Ele adiu gentilmente:

Convém recordar-se, igualmente, que todos necessitam do perdão para as suas ações infelizes, desse modo, devendo perdoar-se, purificar a mente, permitir-se o direito de errar, compreendendo a sua humanidade e fraqueza, mas não permanecendo no deslize moral nem se comprazendo em ficar na situação a que foi arrojado.

O autoperdão é conquista do amor que se renova e compreende que se está em processo de renovação e de autoiluminação.

Assim, portanto, rogando-se ao Pai perdão pelos próprios delitos, amplia-se o pensamento e alcança-se o agressor digno de ser perdoado também.

A noite prosseguia rica de suaves perfumes e incrustada dos diamantes estelares, registrou a lição imorredoura do perdão a todas as ofensas.



pelo Espírito Amélia Rodrigues - Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no lar de Armandine e Dominique Chéron, na manhã de 5 de junho de 2014, em Vitry-sur-Seine, França. Do site: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=369.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Gratidão Infinita

Gratidão Infinita

Recordo-me, mãezinha, de algumas das noites em que me encontrando enferma você velava pela minha saúde, demorando-se insone e preocupada.
Toda vez quando eu despertava, após ligeiro sono produzido pela febre, o seu rosto sorridente e os seus olhos fixos em mim, ofereciam-me segurança e proporcionavam-me paz.
Naqueles dias eu não entendia exatamente o que se passava, mas a sua presença constante era para mim a felicidade que sempre almejava.
Os anos foram se acumulando e eu, ao adquirir a experiência do conhecimento, passei a compreendê-la, a amá-la profundamente, em razão de todos os sacrifícios silenciosos que você sempre realizava.
A sua vida passou a girar em torno da minha, devotando-se sempre e renunciando sempre, a fim de que nada me faltasse, fosse do ponto de vista material ou, principalmente, moral e espiritual.
Os seus exemplos de dignidade enriqueceram-me o coração e a mente, ensinando-me a melhor conduta a manter em todos os meus dias, havendo resultado em uma existência feliz.
Sem o seu amparo e a sua fé generosa e firme na Divindade, eu não teria conseguido edificar-me interiormente, e me encontraria assinalada por inúmeros conflitos que o seu carinho diluiu no nascedouro.
Sua presença em minha existência é tão forte e significativa que a revejo em mil acontecimentos do dia a dia mas, sobretudo, na forma como você me ajudou a amadurecer psicologicamente, a fim de preservar a minha liberdade, movimentando-me na construção moral edificante que você me proporcionou.
Observo a sociedade em desalinho, na atualidade, os descalabros que tomam conta da família e da comunidade, e constato que todo esse fenômeno começa no lar, especialmente naquele no qual o anjo maternal foi relegado a plano secundário. seja porque não soube ou não quis cumprir com a missão para a qual veio à Terra, ou porque filhos difíceis e espiritualmente enfermos desertaram dos compromissos assinalados pela educação doméstica.
Você conseguiu o milagre de ser generosa e severa, amiga e confidente, sem pieguismo nem censuras descabidas, mãe e mestra bondosa e sábia.
Não é fácil reunir tantas qualidades morais em uma só pessoa, mas as mães abnegadas logram possuir e aplicar esses tesouros sublimes na educação dos filhos.
Nunca poderei retribuir-lhe parte sequer de tudo quanto me ofertou, mas cabe-me o dever de ser fiel à verdade e preservar a honra acima de quaisquer vantagens enganosas, não a decepcionando em momento algum, porque foi dessa maneira que você viveu e me aparelhou para os enfrentamentos do processo da evolução.
Abençoo-lhe a memória e comovo-me ao recordar os momentos que vivemos juntas, nossos diálogos edificantes e nossos momentos de preocupações assim como os de sorrisos.
Sabendo-a no país da imortalidade triunfante, desejo expressar-lhe o meu carinho filial, suplicando à Mãe Santíssima de Jesus que a tenha entre as Suas beneficiadas pelo amor, fazendo parte da corte dos anjos que a auxiliam no socorro à Humanidade.
Mãezinha querida!
Por sua vez, abençoe a filha que a ama e lhe é profundamente reconhecida.
 
Amélia Rodrigues.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na tarde de 29
de abril de 2014, na Mansão do Caminho, em Salvador, Bahia.
Em 26.5.2014.

Fonte:http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php

domingo, 30 de março de 2014

Iluminação de Consciências"(...)O Filho do Homem, por isso mesmo, não é um remendão irresponsável, que sobre tecidos velhos e gastos costura pedaços novos, danificando mais a parte rasgada com um dilaceramento maior. A mensagem do Reino, mais do que uma promessa para o futuro, é uma realidade para o presente...."

Iluminação de Consciências

Natanael Ben Elias, o paralítico de Cafarnaum, acabara de ser completamente curado por Jesus, voltando a andar.

Todos estavam em festa, exceto o Mestre, que meditava seriamente.

Simão, buscando romper o silêncio de Jesus, então pergunta:

Por que dizes que não Te compreendemos, Rabi? Estamos todos tão felizes!

Simão, neste momento, enquanto consideras o Reino de Deus pelo que viste, Natanael, com alegria infantil, comenta o acontecimento entre amigos embriagados e mulheres infelizes.

Outros que recobraram o ânimo ou recuperaram a voz, entre exclamações de contentamento, precipitam-se nos despenhadeiros da insensatez, acarretando novos desequilíbrios, desta vez, irreversíveis.

Não creias que a Boa Nova traga alegrias superficiais, dessas que o desencanto e o sofrimento facilmente apagam.

O Filho do Homem, por isso mesmo, não é um remendão irresponsável, que sobre tecidos velhos e gastos costura pedaços novos, danificando mais a parte rasgada com um dilaceramento maior.

A mensagem do Reino, mais do que uma promessa para o futuro, é uma realidade para o presente.

Penetra o íntimo e dignifica, desvelando os painéis da vida em deslumbrantes cores...

Eu sei, porém, que Me não podeis entender, tu e eles, por enquanto. E assim será por algum tempo.

Mais tarde, quando a dor produzir amadurecimento maior nos Espíritos, Eu enviarei alguém em Meu nome para dar prosseguimento ao serviço de iluminação de consciências.

As sepulturas quebrarão o silêncio que guardam e vozes, em toda parte, clamarão, lecionando esperanças sob os auspícios de mil consolações.

Séculos se passaram depois destes dizeres preciosos.

A dor amadureceu muitos corações desnorteados, e novamente a Humanidade suplicou a Jesus pela cura de suas mazelas.

Os sepulcros foram rompidos. O silêncio dos aparentemente mortos foi quebrado, e os descobrimos vivos, imortais e reluzentes.

Sim, as estrelas caíram dos céus. Estrelas de primeira grandeza espiritual se uniram em uma constelação admirável, e voltaram seu feixe de luz poderoso para aTerra.

Os Espíritos falaram, ensinaram, provaram que a vida futura prometida por Jesus é real.

A iluminação de consciências, proposta por Jesus, ganhou uma dimensão nova e maior.

A mensagem do Cristo se faz novamente presente como uma proposta para o presente, para a renovação imediata, urgente.

Na grande transição que o planeta atravessa, são eles, os Missionários do Mestre, que semeiam a verdade em todos os povos.

O amor volta a tomar seu lugar de evidência, nas propostas elevadas que são apresentadas aqui e acolá.

Atiramos as roupas velhas no tempo, e vestimos a roupagem do ESPIRITISMO, entendendo que a vida do Espírito, esta sim, é a verdadeira.

O Consolador - o Espiritismo - já está entre nós... Escutemo-Lo!

Do livro: Primícias do Reino, Médium: Divaldo Franco
Amélia Rodrigues
http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=6050

Brandos e Pacíficos "...Antes de outra atitude é necessário que nos pacifiquemos intimamente, a fim de que a brandura se exteriorize do nosso coração em forma de bênção....

Brandos e Pacíficos


A azáfama do dia cedera lugar a terna e suave tranqüilidade. As atividades fatigantes alongaram-se até as primeiras horas da noite, que se recamara de astros alvinitentes. Os últimos corações atendidos, à margem do lago, após a formosa pregação do entardecer, demandaram os seus sítios facultando que eles, a seu turno, volvessem à casa de Simão.

Depois do repasto simples, o Mestre acercou-se da praia em companhia do apóstolo afeiçoado e, porque o percebesse tristonho, interrogou com amabilidade:

- Que aflição tisna a serenidade da tua face, Simão, encobrindo-a com o véu de singular tristeza?

Havia na indagação carinhoso interesse e bondade indisfarçável.

Convidado diretamente à conversação renovadora, o velho pescador contestou com expressiva entonação de voz, na qual se destacava a modulação da amargura:

- Cansaço, Senhor. Sinto-me muitas vezes descoroçoado, no ministério abraçado... Não fosse por ti...

Não conseguiu concluir a frase. As lágrimas represadas irromperam afogando o trabalhador devotado em penosa agonia. E como o silêncio se fizesse espontâneo, ante o oscular da noite que os acalentava em festival de esperança, o companheiro, sentindo-se compreendido e, passado o volume inicial da emotividade descontrolada, prosseguiu:

- Não ignoro a própria inferioridade e sei que teu amor me convocou à boa nova a fim de que me renovasse para a luz e pudesse crescer na direção do amor de nosso Pai. Todavia, deparo-me a cada instante com dificuldades que me dilaceram os sentimentos, inquietando-me a alma.

Ante o olhar dúlcido e interrogativo do Amigo discreto adiu:

- É verdade que devemos perdoar todas as ofensas, no entanto, como suportar a agressividade que nos fere, quando pretende admoestar e que humilha, quando promete ajudar?

- Guardando a paz do coração - redargüiu o divino Benfeitor.

- Todavia - revidou o discípulo sensibilizado -, como conservar a paz, estando sitiado pela hipocrisia de uns, pela suspeita pertinaz de outros, sob o olhar severo das pessoas que sabemos em pior situação do que a nossa?

- Mantendo a brandura no julgamento - respondeu o Senhor.

- Concordo que a mansuetude é medicamento eficaz - redargüiu Pedro - , não obstante, não seria de esperarmos que os companheiros afeiçoados à luz nova também a exercitassem por sua vez? Quando a dúvida sobre nossas atitudes parte de estranhos, quando a suspeição vem de fora da grei, quando a agressividade nos chega dos inimigos da fé, podemos manter a brandura e a paz íntimas. Entrementes, sofrer as dificuldades apresentadas por aqueles que nos dizem amar, tomando parte no banquete do Evangelho, convém consideremos ser muito mais difícil e grave o cometimento...

Percebendo a angústia que se apossara do servo querido, o Mestre, paciente e judicioso, explicou:

- Antes de esperarmos atitudes salutares do próximo, cabe-nos o dever de oferecê-las. Porque alguém seja enfermo pertinaz e recalcitrante no erro, impedindo que a luz renovadora do bem o penetre e sare, não nos podemos permitir o seu contágio danoso, nem nos é lícito cercear-lhe a oportunidade de buscar a saúde. Certamente, dói-nos mais a impiedade de julgamento que parte do amigo e fere mais a descortesia de quem nos é conhecido. Ignoramos, porém, o seu grau de padecimento interior e a sua situação tormentosa. Nem todos os que nos abraçam fazem-no por amor, bem o sabemos... Há os que, incapazes de amar, duvidam do amor do próximo; os que mantendo vida e atitudes dúbias descrêem da retidão alheia; os que tropeçando e tombando descuram de melhorar a estrada para os que vêm atrás... Necessário compreendê-los todos e amá-los, sem exigir que sejam melhores ou piores, convivendo sob o bombardeio do azedume deles sem nos tornar-nos displicentes para com os nossos deveres ou amargos em relação aos outros...

- Ante a impossibilidade de suportá-los -sindicou o pescador com sinceridade -, sem correr o perigo de os detestar, não seria melhor que os evitássemos, distanciando-nos deles?

- Não, Simão - esclareceu Jesus. - Deixar o enfermo entregue a si mesmo será condená-lo à morte; abandonar o revel significa torná-lo pior... Antes de outra atitude é necessário que nos pacifiquemos intimamente, a fim de que a brandura se exteriorize do nosso coração em forma de bênção.

“Na legislação da montanha foi estabelecido que são bem-aventurados os brandos e pacíficos...

“A bem-aventurança é o galardão maior. Para consegui-lo é indispensável o sacrifício, a renúncia, a vitória sobre o amor-próprio, o triunfo sobre as paixões.

“Amar aos bons é dever de retribuição, mas servir e amar aos que nos menosprezam e de nós duvidam é caridade para eles e felicidade para nós próprios.”

Como o céu continuasse em cintilações incomparáveis e o canto do mar embalasse a noite em triunfo, o Mestre silenciou como a aspirar as blandícias da Natureza.

O discípulo, desanuviado e confiante, com os olhos em fulgurações, pensando nos júbilos futuros do Evangelho, repetiu quase num monólogo, recordando o Sermão da Montanha:

“Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra.

“Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.”

E deixou-se penetrar pela tranqüilidade, em clima de elevadas reflexões.


Amélia Rodrigues

Psicografia de Divaldo Pereira Franco

Fonte: Blog Manancial de Luz

sábado, 1 de março de 2014

Renascimentos Libertadores

Renascimentos Libertadores (*) 
 
As anêmonas em flor padeciam a constrição do calor  e murchavam, deixando
manchas coloridas sobre o verde desbotado das ramagens ressequidas.
 
 O dia amanhecera morno e a tórrida Judéia de solo calcionado, como o coração dosseus habitantes, prenunciava calor sufocante.
 
Eles haviam chegado da Galiléia, em marcha tranqüila, passando pela povoações e casarios esquecidos dos administradores, nos quais paravam para adquirir alimentos e conversar com os aldeões. 
 
Para aquelas gentes simples e sofridas das regiões remotas das cidades grandiosas,o contato com Jesus significava uma primavera formosa explodindo luz e harmoniana acústica das suas almas. Ademais, por onde Ele passava, mesmo que não se fizessem necessárias as curas ostensivas, ou que não ocorressem de forma pujante, permaneciam suaves aragens de paz e todos se sentiam reconfortados, tocados no recessos do ser. 
 
Quem era Aquele homem que sensibilizava as multidões atraindo crianças
ingênuas ao regaço, anciãos ao acolhimento, enfermos à misericórdia, loucos e
obsessos à paz e as próprias condições difíceis da Natureza a uma alteração
perceptível para melhor? 
 
-Interrogavam-se todos quantos lhe sentiam a aura ir radiante de amor.
Inevitavelmente permaneciam atraídos e mesmo quando não O podiam seguir, em
razão das circunstâncias do momento, jamais O esqueciam, aguardando que Ele
voltasse entre hinos de júbilo interno e esperanças renovadoras. 
 
A Sua palavra cálida adquiria musicalidade especial de acordo com as ocasiões e
ocorrências, tendo modulações próprias para cada momento, penetrando na
acústica da alma de forma inesquecível.
É muito difícil conceber-se, na atualidade tumultua da da sociedade, o significado
da presença de Jesus e o convívio com Ele, em razão dos novos padrões
comportamentais e dos interesses em jogo de paixões agressivas e asselvajadas. 
 
Entretanto, numa pausa para reflexão, numa silenciosa busca interior, num
tranqüilo de espera, pode-se ter uma idéia do grandioso significado da convivência pessoal com Ele.
Isto porque, as motivações sociais e econômicas do momento terrestre são muito
tormentosas e as conquistas parecem sem sentido após conseguidas, não
preenchendo os vazios do coração , que prosseguem inquieto, aguardando. 
 
Aqueles eram diferentes, sim. Não obstante, as criaturas eram muito semelhantes
às atuais, em razão das suas necessidades espirituais que se apresentavam como angústias para imediato atendimento, face ao desconhecimento das Leis soberanas da vida, que estavam restritas aos impositivos da intolerância e às descabidas exigências políticas.O ser humano sentia-se relativamente feliz quando podia desfrutar dos jogos da ilusória ribalta dos prestígios econômicos, sociais epolíticos, cujas vantagens sempre deixavam um gosto azinhavrado dedecomposição. 
 
Sem uma visão profunda do significado da existência, sem uma psicologia pessoal
mais lúcida, após as mentirosas vitórias sentia-se frustrado, atirando-se nos fossos
da promiscuidade moral ou nas rampas da perversidade guerreira, quando
esmagava outros e consumia nas chamas da crueldade seus bens, seus animais,
seus descendentes, que eram reduzidos à ínfima condição de escravos. 
 
A esperança de um libertador pairava em todas as pessoas de Israel, que desejava,
por outro lado, tornar-se uma Nação escravizadora, em revanche contra todos
aqueles outros povos que a afligiram. Não era um anseio justo e nobre para a
conquista da liberdade, mas uma ambição de vingança.
Surge Jesus e os olhos ansiosos das massas voltam-se para Ele com variados anelos
que se diversificam desde as necessidades orgânicas, às ambições guerreiras, às
alucinadas questões de supremacia de raça e de religião, esses pensamentos
permanentes adversários do processo de evolução do espírito humano. 
 
A Sua, no entretanto, era outra missão: libertar o indivíduo de si mesmo, da
inferioridade que lhe predomina no caráter e nos sentimentos. É natural, portanto,
que não fosse compreendido, sequer por aqueles que estavam ao Seu lado, já que
os interesses em pauta eram tão divergentes. 
 
A harmonia das Suas lições iam cantando uma sinfonia de esperança nos corações
e a música do seu conteúdo lentamente fixava-se na memória dos companheiros de
ministério, que ainda não haviam dado conta da magnitude do empreendimento. As
revelações faziam-se lentamente, e como suave calor amadurece os frutos, assim
Ele necessitava preparar os seres para o entendimento. 
 
Desse modo, após o formidando fenômeno da multiplicação dos pães e dos peixes,
e após orar, interrogou os amigos que estavam a Seu lado, sem a presença de estranhos no convívio íntimo:
- Quem dizem as multidões que sou?
Tomados de surpresa com o inesperado da interrogação, Ele, que jamais indagava,
por conhecer a profundeza dos sentimentos humanos e a época em que estava,
responderam-lhe, quase em uníssono, vários deles:-João Batista - ; outros, - Elias
 - ; outros, - um dos antigos profetas ressuscitados.
Houve um silêncio quebrado levemente pela harmonias ambientais. Após alguns
instantes, Ele indagou sem rebuços:
-E vós, quem dizeis que eu sou?
A pergunta pairava no ar, quando Simão Pedro, tomando de súbita inspiração
respondeu, emocionado:
-O Messias de Deus. 
O dia avançava e, substituindo o perfume das flores que emurcheciam, o ar parado
aumentando de temperatura impunha a necessidade de avançarem, margeando os
caminhos ásperos nos quais algumas árvores frondosas, sicômoros, figueiras,
tamareiras exuberantes ofereciam abrigo ao Sol inclemente.
O processo da reencarnação é o único que se coaduna com  a justiça de Deus,
oferecendo a todos as mesmas oportunidades de evolução, mediante as quais,
enriquece os Espíritos com as conquistas nobres do pensamento e da emoção,
depurando-se dos atavismos infelizes que neles predominam como decorrência das
experiências primitivas.
Graças a essa lei de causa e efeito , cada um é responsável pelas ocorrências do seu
deambular, tendo a liberdade de agir e a responsabilidade pelas conseqüências da
sua escolha.
O Filho do Homem, porém, iria sofrer sem nenhuma necessidade ou impositivo de
evolução, exclusivamente para dar testemunho de que a dor não tem caráter
punitivo, mas também funciona nos culpados, culpado que Ele não era, como
recurso de autopurificação.
A Sua, era, portanto, uma dadivosa lição do amor e de encorajamento para todos
quantos atravessariam os portais da existência planetária tentando a conquista do
infinito.
______________
(*) Lucas: 9 - 18 a 21.
Nota da autora espiritual.
 
Livro : Até O Fim dos Tempos-
Amélia Rodrigues

domingo, 16 de fevereiro de 2014

De retorno – Amélia Rodrigues


De retorno – Amélia Rodrigues

Amorável Jesus:
Estamos de retorno.
Ontem, nesse passado sempre presente, ouvimos-Te nas paisagens formosas da gentil Galileia e fascinamo-nos com os Teus sublimes ensinamentos.
Tocados sinceramente no coração, resolvemos seguir-Te à distância através dos tempos, vivendo e cantando a Tua mensagem libertadora.
No entanto, o mundo que enfrentamos não era semelhante às praias formosas e calmas de Cafarnaum e deixamo-nos vencer pelas ondas encapeladas, pelo tumulto das nossas paixões não apaziguadas, afogando-nos lamentavelmente.
Durante largo período em que procuramos retornar ao Teu rebanho de amor, somente complicamos a conduta, cada vez afundando mais nas águas revoltas do desespero íntimo.
Sentíamos saudades de Ti e não conseguíamos decodificar corretamente. Por isso, fugíamos de nós mesmos, buscando fora o que somente é possível encontrar no interior dos sentimentos profundos.
Enquanto nos ensinavas correr para o deserto, para acalmar a febre das paixões primitivas, atirávamo-nos nas labaredas dos incêndios morais em gozos alucinantes.
Largo tempo transcorreu desde aqueles dias inolvidáveis.
Mas Tu não desististe de nós e nos trouxeste às regiões calmantes do Teu coração.
Retornamos na condição do homem que foi assaltado na descida de Jerusalém para Jericó e socorrido pelo samaritano.
Com a alma em frangalhos, recebemos o bálsamo e o carinho da misericórdia do Céu em Teu nome e nos erguemos.
Agora estamos de volta à Tua barca e ouvimos-Te outra vez cantando os hinos de eterna beleza de que se enriquecem os nossos corações.
As baladas das bem-aventuranças comovem-nos de maneira muito especial e os Teus convites de afeto e alegria de viver e de servir, dão-nos resistência para vencermos o mal interno e acompanhar-Te na áspera subida e permanência na perversa e imensa Jerusalém da sociedade contemporânea.
O mundo estertora e desejamos acalmá-lo, iniciando a revolução da paz no próprio coração e alongando-a pelas terras desérticas das vidas estioladas mediante as chuvas de gentilezas e amizades, evocando-Te as atitudes e repetindo-as.
Continuamos ouvindo o Teu poema de luz e de liberdade total, com a musicalidade sublime do amor que nos enriquece e plenifica.
Direciona o Teu olhar para nós e acolhe-nos novamente, sorrindo, como se estivesses a dizer:
- Sejam bem-vindos, filhos diletos de meu Pai!
...E acolhe-nos.
Amélia Rodrigues.
Página psicografada por Divaldo Pereira Franco, na manhã de 30 de
janeiro de 2014, em Jerusalém, Israel.
Em 11.2.2014

terça-feira, 2 de julho de 2013

Mãos Mirradas

Mãos Mirradas

Enquanto a balada do Evangelho derramava alegrias nas mentes ingênuas e nos corações sofridos das massas, as multidões se acotovelavam e se empurravam para vê-lO, tocá-lO, estarem perto dEle.
Todos aqueles que tinham dificuldades e problemas viam em Jesus o Seu libertador, e nEle depositavam sua confiança, sua ansiedade. Ele passeava o olhar compassivo, e em todos infundia ânimo e esperança, confortando-os com ou sem palavras através da radiação irradiação do Seu psiquismo e da Sua ternura incomparáveis.
Simultaneamente porém, a noite que predominava nos corações dos opressores e governantes impiedosos, dos dominadores de um dia, dos religiosos presunçosos e ricos de inveja, dos cobiçosos, de todos aqueles que somente desfrutavam de primazias e honras, temendo perdê-las, preparava o caldo de cultura do ódio, para infamá-lO, para O pegarem em alguma contradição, cujas armadilhas estabeleciam com cinismo e sofismas bem urdidos.
Mas Jesus os conhecia e se fazia inalcançável às suas tricas farisaicas hediondas e venais. Aumentava o número daqueles que se beneficiavam com o Seu socorro e crescia a onda que se propunha afogá-lO nas suas águas torvas e iníquas. * A sinagoga era lugar de orações e recitativos da Lei, de unção, de companheirismo... mas também de encontros para a sordidez e a vingança, para a sedição e a perversidade.
Ali se refugiavam o orgulho e a presunção, que a governavam, ditando regras de bom proceder para o povo necessitado. Entre eles, os que se permitiam todos os privilégios, tornavam-se conhecidos as suas mesquinharias e fraquezas, os seus comportamentos vis e perturbadores, que sabiam disfarçar diante daqueles que os ouviam e respeitavam, embora eles não se respeitassem a si mesmos, pois que se isso ocorresse, impor-se-iam outra conduta moral.
Assim sendo, como sempre que Lhe era possível o fazia, Jesus entrou de novo numa sinagoga. Havia ali um homem que tinha a mão paralisada. * A multidão que ora O seguia já não era somente de galileus e de sírios, mas também de judeus, de Jerusalém, de Tiro, de muitas partes, atraída pelo Seu verbo e pela Sua força de libertação.
Lá fora, na paisagem irisada de luz, as anêmonas balouçavam nas hastes frágeis e violetas miúdas derramavam perfume nos rios do vento que o conduz por toda parte. A astúcia dos seus adversários esperava que Ele se propusesse a curar no sábado, a fim de terem motivo para prendê-lO por desacato à Lei que estabelecia o repouso nesse dia.
O Mestre conhecia-lhes a intimidade dos sentimentos ultrizes e a vileza moral em que se debatiam. Por isso mesmo, não os temia, antes compadecia-se da sua miséria espiritual. Jesus disse ao homem que tinha a mão mirrada: - Levanta-te! Vem para o meio. Convidar para o centro é dignificar o ser humano, que vive atirado na margem, ignorado, desrespeitado e esquecido. Essa é uma forma de restituir a identidade de criatura que merece respeito e carinho.
Ante o espanto natural e a possibilidade de Ele ferir os costumes legais, ouviram-nO interrogar: - Que é permitido no dia de Sábado, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar um ser vivo ou matá-lo? cadinho purificador. Transformam-se em testes de resistência para os homens e mulheres que anelam pelo mundo melhor e se doam a essa causa. São duros de coração, que não se enternece, nem se comove. O órgão vibra e impulsiona o sangue, mas nada tem a ver com a emotividade, com os sentimentos de beleza e de fraternidade. Terminam por tornar-se carcereiros de si mesmos, enjaulando-se nas celas da indiferença que os entorpece e mata.
Jesus os defrontará com mais assiduidade, porém, sem atribuir-lhes qualquer significado ou considerar-lhes a distinção que se permitem, aumentando neles o ódio e a perseguição. Eles passam e a vida os esquece, mas não se olvidam de como agiram, de como são e do quanto necessitam para a reedificação. Há muitas mãos mirradas na sociedade dos dias atuais. Perderam a função superior e estiolaram as fibras que as constituem no jogo apetitoso dos interesses inferiores. Encontram-se no centro dos grupos, experimentam destaque, mas não são atuantes no bem nem na compaixão para receber os que eles mesmos expulsaram do seu convívio e ficaram na marginalidade.
Agora constituem o grupo dos antigos fariseus e herodianos, que sempre a usavam para perseguir e matar. Trouxeram-na internamente mirrada, embora o exterior seja normal e atraente. Estão imobilizadas no cimento em que se encarceraram, aguardando Jesus, para chamá-los ao meio e curá-los.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Nem Prata, Nem Ouro, Mas ..."Não tenho prata nem ouro para te dar — esclareceu o Apóstolo — mas o que eu tenho dou-te: em nome de Jesus, o Nazareno, anda!..."

Nem Prata, Nem Ouro, Mas ...

Pairavam, na memória dos discípulos de Jesus, o doce encantamento das experiências ao Seu lado e as cruas quão dilacerantes cenas da Tragédia.
Reconfortados pela Sua ressurreição, cantavam-lhes nas almas as festivas reminiscências dos reencontros com o Amigo redivivo, em exuberante vitalidade, que nunca mais desapareceria das suas existências.
O palco imenso da rude e ingrata Jerusalém, onde se desenrolaram os acontecimentos quase inexplicáveis que o Gólgota exibira em hediondez e o túmulo não silenciara em sombras, agora era novo cenário, no qual ocorrências diferentes e multiplicadas aconteciam.
As notícias do retorno do Mestre produziram diferentes reações, como seriam de esperar-se: alegria e curiosidade nas massas, medo e perversidade nos culpados.
Desejando silenciar a Voz da Verdade, tomaram-na mais potente; pretendendo matar o Cantor, fizeram-nO mais vivo e objetivando anular-Lhe a mensagem abriram mais amplo espaço para fazê-lA ouvida.
Uma sucessão de eventos ditosos impediu que o esquecimento geral sepultasse a melodia de libertação do Conquistador Celeste, o que sacudia continuamente a opinião nas praças e assustava os habitantes soezes dos palácios e dominadores do Templo.
Jesus prosseguia vivo na memória geral e atuante em toda parte.
Fora visto em diferentes lugares, e os testemunhos eram insuspeitos.
Uma aragem perfumada espraiava-se pelas diferentes regiões e nelas Ele retomava, dialogando, cumprindo o anúncio da sobrevivência.
Ninguém, nem nada pudera detê-lO.
O ódio, que envilece, também cega; igualmente intoxica, e alucina.
O assassinato do Justo não bastara para os criminosos, que, desejando fazê-lO um traidor, criaram um mártir, planejando maculá-lO, desnudaram-Lhe a pureza, e crendo aniquilá-lo, abriram-Lhe as portas fantásticas da imortalidade com que confirmava todos os ditos e feitos.
A orgulhosa e fria Jerusalém fora erguida com pompa, e o seu Templo, sobre o monte Moriá, constituía o máximo da glória de Israel, que se ufanava do Deus único, embora subjugada pela águia romana, em cujas garras o mundo conhecido se debatia e estertorava.
A política vil e a ganância arbitrária se misturavam nas disputas governamentais dos poderes civil e militar, entregues aos romanos, e religioso, nas mãos hábeis dos sacerdotes, na sua maioria, inescrupulosos.
O poder e a miséria mesclavam-se, trocavam de lugar, qual ocorre ainda hoje.
Os átrios e a entrada do Templo suntuoso, desafiador, majestoso e extravagante nas ornamentações com que Salomão o engrandecera, após a sua construção por Zorobabel, e posterior destruição, permaneciam repletos de miséria: a moral — dos cambistas e vendedores; a mental — dos alucinados; a orgânica — dos enfermos; a econômica —dos pobres; a ociosa — dos desocupados e aventureiros.
No seu interior, entre liturgias e cerimoniais, a face gelada da religião formal confundia o temor a Deus e o ódio aos romanos, a indiferença pelas criaturas e a astúcia para manter o domínio sobre as consciências adormecidas.
Os perfumes rituais exalavam dos incensórios e trípodes espalhados por todos os lados, confundindo-se com a sudorese do poviléu e suas chagas abertas.
O país, porém, e a cidade, acorriam com a assiduidade exigida aos cultos que ali se celebravam, conforme o calendário estabelecido. Além dos dias festivos, que celebravam o cativeiro ou a libertação, o sofrimento no deserto ou as concessões divinas, também se apresentavam os ofícios habituais expostos pela Lei.
Foi num dia comum, igual a outro qualquer, ante as atividades da cidade febril e a monotonia da realização religiosa, que Pedro e João, dando prosseguimento à obediência exigida pela Tradição, subiram ao Templo para a oração da hora nona.
Esfervilhavam nas suas mentes as recordações de Jesus e a sinfonia das Suas palavras marcava os movimentos e o pulsar dos sentidos e do coração.
Os infelizes desfilavam suas misérias e as dores exibiam suas exulcerações.
Quase à Porta Formosa, rica de adornos, entrada especial para o interior das imponentes edificações do Templo, um coxo de nascença que era trazido ali para mendigar, vendo que eles iam entrar, implorou-lhes que lhe dessem esmola.
A esmola sempre foi um recurso da indignidade humana, que afronta aquele que a recebe e toma mesquinho quem a oferta.
Jesus subverteu-a, oferecendo o amor que dignifica e que liberta.
Pedro, recordando-se do Divino Médico e Benfeitor, tomado de compaixão, disse ao solicitante:
— Olha para nós.
Supondo que ia receber as migalhas habituais, o mendigo dirigiu-lhe o olhar e foi surpreendido com a dádiva incomum: — Não tenho prata nem ouro para te dar — esclareceu o Apóstolo — mas o que eu tenho dou-te: em nome de Jesus, o Nazareno, anda!
­Aconteceu muito rápido. Relâmpago que fere a noite escura e cinde-a, os fatos atropelaram-se para espanto geral.
Tomando-o pela mão direita o levantou; logo os seus pés e artelhos se firmaram; e, dando um salto, pôs-se de pé e começou a andar.
Ato contínuo, cantando louvores, ele entrou no Templo com os dois, andando e exaltando Deus.
Como era natural, a estupefação tomou conta das pessoas, que conheciam o pedinte da Porta Formosa, agora recuperado. Tomadas de espanto, acorreram a informar-se do acontecido.
Instaurava-se em definitivo o amanhecer da Nova Era.
O arrependido das negações erguia-se para demonstrar que o amor é a terapia por excelência e a misericórdia é a companheira que balsamiza todas as chagas da vida e do coração.
A Humanidade possui prata e ouro em abundância e misérias morais em quantidade.
Poucos distribuem esses valores e perdem-se entre os celerados, os carentes morais do mundo.
Alguns se liberam dessa escravidão e repartem um pouco.
Os verdadeiros cristãos, no entanto, que não possuem os tesouros que se gastam, se roubam, se perdem, despertam disputas e paixões, oferecem o que têm, distendem e promovem a criatura, impulsionando-a para a felicidade, para caminhar por si mesma no rumo da libertação.
Não doam coisas — doam-se.
Não possuem moedas, mas amor.
—Nem prata, nem ouro, mas...

Amélia Rodrigues
Divaldo Franco

Multidão de Sofrimentos (...)"A multidão representava as enfermidades e mazelas que Lhe era conduzidas pelos magotes humanos, assinalados pela dor"....

Multidão de Sofrimentos

Sempre estava Jesus cercado pela multidão. Entardecia...
A multidão representava as enfermidades e mazelas que Lhe era conduzidas pelos magotes humanos, assinalados pela dor.
Em todos os tempos, o sofrimento é a cobrança do pretérito culposo dos atormentados em lapidação benéfica para a própria redenção, em clima de urgência.
A lepra, ingrata e hedionda, procede do Espírito que exterioriza a degenerescência dos tecidos sutis, exsudando as misérias íntimas na faina incessante da purificação. Assim a cegueira e a surdez, a paralisia e a mudez, o câncer e tantos suplícios expressam o limite imposto ao devedor na faculdade cujo uso foi mal aplicado, fazendo o ser calceta em si mesmo, carente de imediata reparação.
A falta do órgão ou membro, a desarmonia da faculdade ou função que representam sempre a cobrança que chega em forma de controle e educação, predispondo o ser para a liberdade.
E como a dor tem sido a característica da vida humana, Jesus estava sempre cercado pela multidão.
Eram os atormentados de ontem, ora envergando as marcas e manchas do passado, na condição de atormentados atuais, buscando, sequiosos, a água lustral do Evangelho do Reino, para lavarem as imundícies da imperfeição.
Cercado pela multidão, Ele abria os braços e descerrava os lábios, socorrendo e falando ...
A voz modulada em musicalidade divina derramava lições de vida em urgente profilaxia, de modo a que todo aquele que pudesse recuperar-se não tornasse aos erros transatos, a fim de não se acumpliciar com o crime, do que decorrem sempre mais graves e danosos compromissos. E as mãos misericordiosas libertavam das amarras limitadas do padecimento, facultando agilidade e os meios de crescimento superior aos beneficiados.
A multidão buscava-O sempre ansiosa...
Dos Seus lábios recolhia pérolas em luz, gemas em claridade incomparável para iluminar a senda de percalços e pedrouços. E das Suas mãos recebia o vigor em dádivas de saúde, que renovavam as peças gastas e os implementos orgânicos em desconcerto, produzindo o refazimento e a paz.
Amava-O a multidão; ao menos necessitava d’Ele avidamente e O seguia.
Começava o ministério entre expectativas e ansiedades.
Quantas vezes Israel tivera outros profetas.
Procediam de todos os rincões e se caracterizavam, não raro, pela severidade e aspereza dos conceitos que, semelhante a látego em brasa punitiva, azorragavam com doestos e ameaçavam com longas e penosas correções.
Há pouco escutara-se a Voz do Batista e a sua figura austera derramava o verbo abrasador, conclamando ao arrependimento e ao aproveitamento da hora, antes que se fizesse tarde.
Ele, porém, Aquele suave Rabi, era a mansuetude e a abnegação. Quando o semblante se Lhe fazia grave, a meiguice e a dor exteriorizavam todo o Seu amor e ao mesmo tempo refletiam as Suas esperanças, penetrando no porvir, em cujo curso incessante dos tempos o homem encontraria a paz ...
Era o mês de Nisan. A tarde caía suave e calma.
A notícia da cura da sogra de Simão, cuja febre repreendida pelos Seus lábios se evadira, atraía a multidão dos necessitados.
Carreados por ventos brandos, aromas sutis balsamizavam a tarde em festa de luz.
A praia amiga, referta de esperanças, suspirando nos corações ansiosos dos homens, ali representava todos os tempos; o ontem e o amanhã da dor perseguindo a paz ...
Ele aproximou-se e começou a curar.
Luz Divina em sombra densa, Sua aura reativava as forças fracas, recompondo os desgastes e desalinhos dos infelizes.
O espetáculo da alegria espontânea explodindo, comovia, e a reconstrução da saúde ante o olhar esgazeado de surpresa dos comensais do sofrimento, a rearticulação das faculdades psíquicas dos antes atormentados, os Espíritos imundos expulsos pelo Seu magnetismo fascinavam e, num crescendo, avolumavam-se as emoções à Sua volta...*
As vozes estremunhadas dos obsessores desligados das vítimas, gritavam:
- Tu és o filho de Deus.
Ele, porém, sereno e pulcro, respondia:
- Eu vos proíbo de falar. Afastai-vos daqui ...
- No desabrochar natural das alegrias, uma pausa fez-se espontânea durante o sublime repasto da esperança. Ele, então, falou com eloqüência e magnitude:
- Todos os males promanam do Espírito. Tende tento!
“O Espírito é a fonte gentil e abundante onde nascem a enfermidade e a saúde, o destino e o porvir de cada ser, conforme se acumulam nas nascentes os atos que padronizam as futuras necessidades. Enquanto o homem não mergulhar na intimidade dos seus problemas para solucioná-los à luz da razão e do amor, não conseguirá o lenitivo da harmonia.
“Sois ‘o sal da Terra’. O valor dele é mantido enquanto conserva o sabor.
“Sois a luz” da oportunidade, enquanto marchardes espargindo bênçãos e distribuindo esperanças.
“Deus, Nosso Pai, é o Criador, mas o homem, ascendendo, é o autor da sua dita ou desgraça.
“Inutilmente buscareis fora a saúde se não a mantiverdes retida no âmago do Espírito, cuja perda se transforma em incessante aflição e maior tormento.
“A saúde, a seu turno, é oportunidade de evolução e de responsabilidade para com a vida.
“Buscai antes o amor e fazei todo o bem possível, para vos conservardes em paz. O amor é a candeia acesa e o bem é o combustível que a mantém.
“Pacificai-vos para que vos conduzais em espírito de sabedoria, fazendo longos e proveitosos os vossos dias de júbilo na Terra e felizes, mais tarde, nos Céus.”
Clara manhã. Sua presença apagava a noite, sugando-a com beijos de luminosidade libertadora. E por onde andava, lá estava a multidão aflita e Ele prosseguia, disseminando a saúde, por ser um excelente mensageiro da Vida.
Ao longe o sol declinava, caindo além dos montes, adornando a paisagem de ouro fulgurante no ar, e todos, tocados pela Sua misericórdia, os antes aflitos, debandaram na direção do lar, deixando a meditar, em profundo recolhimento, sob o fulgor das primeiras estrelas, o Filho do Altíssimo...

(*) Lucas 5:40-41 – Nota da Autora Espiritual.
Amélia Rodrigues

quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Mancebo Rico

O momento era de profunda significação. Sabia, por estranha intuição, que um dia defrontaria a Realidade, e a encontrava agora (*).
     No ar abafado do entardecer serenavam as ânsias da Natureza.
     Doces perfumes evolavam de miúdas flores derramadas nos flancos do aclive. As águas transparentes cantavam melodias ignotas, deslizando sobre o leito de pedras arredondadas.
     O apelo pairava vibrando em derredor: - “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me”.
     Aquela voz penetrava como um punhal afiado e impregnava qual perfume de nardo.
     Havia um magnetismo inconfundível naqueles olhos severos e profundos como duas estrelas engastadas na face pálida do amanhecer.
     Tinha sede de paz.
     Embora repousasse em leito de madeiras preciosas incrustado de ébano e lápis-lazúli, se banqueteasse em repastos opíparos, cuidasse do corpo com massagens de óleos e ungüentos raros, envolvendo-o em tecidos de linho leve, e suas arcas estivessem abarrotadas de gemas e ouro, sabia-se infeliz, sentia-se infeliz. Faltava-lhe algo que não se consegue facilmente.
     Hesitava, no entanto.
     Sua vivenda era luxuosa, seus pertences valiosos e vazio o seu coração.
     Conquanto a juventude cantasse alegrias e festas em convites constantes ao prazer no corpo ágil e vigoroso, acalentava melhores aspirações, se disputava a posse total da paz. Era mais do que um tormento essa necessidade. Não que desejasse a tranqüilidade aparatosa dos fariseus ou o repouso entorpecente dos mercadores opulentos, nem a serenidade enganosa dos cambistas abastecidos ou a senectude vitoriosa dos conquistadores em aposentadoria compulsória. Buscava integração harmoniosa, mas não sabia em quê.
     Confragia-se e angustiava-se,  ignorando as nascentes da melancolia renitente que lhe dissipava sonhos e esperanças sob guante de inenarrável amargura.
     Buscava as competições em Cesaréia, todavia ignorava se essa busca representava uma realização ou fuga.
     Agora, pela primeira vez, sentia-se arrebatado.
     A meiguice e a ordem daquela voz, enunciada por aquele Homem, ecoavam como cascatas em desalinho nos abismos do espírito.
     Interiormente gritava: “Irei contigo, Senhor, mas...”
     Hesitava, sim, e a hora não comportava dubiedades.
     Uma roseira de flores rubras, que abraçava os ramos do arvoredo próximo, sacudida pelo vento, desgarrou-se e as pétalas da cor de sangue caíram-lhe aos pés, junto dEle, no alpendre, como sinais...
     Donde O conhecia? – indagava, a medo , procurando recordar-se, com indizível esforço mental.
     Tudo àquela hora era importante; mais do que isso: vital!
     Ao vê-Lo, de longe, era como se reencontrasse um amigo, um Celeste Amigo.
     Quando os seus descansaram nos olhos d’Ele, sentiu-se desnudado, o coração em descontrole sob violenta pulsação. Emoções inusitadas vibravam no seu ser, como jamais acontecera anteriormente. Desejou arrojar-se ao solo, esmagado por indômita constrição no peito.
     Percebeu que o Estranho sorriu, como se o esperasse, como se o amasse, poderia afirmá-lo...
     O tempo corria célere galopante as horas fugidias.
     Seus lábios se afiguravam selados, e frio impertinente gelava-lhe as mãos.
     Lutava por quebrar aquele torpor que o imobilizava.
     Retalhos de luar tímido prateavam nuvens soltas no firmamento, bordando de luz oliveiras altivas e loendros em flor.
     – Permite-me primeiro – conseguiu articular, vencendo a emoção que o transfigurava – competir em Cesaréia, logo mais, disputando para Israel os triunfos dos jogos...
     – Não posso esperar. O Reino dos Céus começa hoje e agora para o teu espírito. Não há tempo a perder.
     – Aguardei muito essa ocasião e ela se avizinha, com a chegada do período das competições... Exercitei-me, contratei escravos que me adestraram... aos partos comprei, por uma fortuna, duas parelhas de fogosos  cavalos... os jogos estão próximos...
     – Renuncia, e segue-me!
     Quem era Ele, que assim lhe falava? Que poder exercia sobre sua vontade?!  Por qual sortilégio o dominava?!... Gostaria de fugi ou deixar-se arrastar;  estava perturbado; ignorada sofreguidão o aniquilava...
     A horizontalidade das aflições humanas contemplava a verticalidade da sublimação divina; o cotidiano deparava com o infinito; o vale fitava o abismo das alturas e se perdia na imensidão.
     O homem e o Filho do Homem se defrontavam.
     O diálogo parecia impossível, reduzindo-se a um monólogo atormentante para o moço diante daquele Homem.
     Vencendo irresistível temor, continuou o príncipe afortunado:
     –  Não receio dar o que possuo: dinheiro, ouro, gemas, títulos, se possível, pois sei que estes se gastam mui facilmente, mas...
     –  ...Dá-me a ti próprio e eu te oferecerei a ventura sem limite.
     Que alto prêmio! Que pesado tributo! – pensou desanimado.
     Era muito jovem e muitos confiavam nele. Possivelmente Israel lucraria com os seus lauréis e triunfos. Príncipe,  tinha pela frente as avenidas do poder a que se afervorara, poder que no momento se destituía de qualquer valor.
     Os bens, poderia ofertá-los, sim. Porém a fortuna da juventude, os tesouros vibrantes da vaidade atendida e dos caprichos sustentados, as honras de família resguardadas pela tradição, os corifeus agradáveis e bajuladores, oh! seria necessário renunciar-se a isso tudo? – interrogava-se, inquieto.
     – Sim! – Respondeu-lhe, sem palavras, com os olhos fulgurantes.
     Sofria naqueles minutos a soma dos sofrimentos que experimentara a vida toda.
     O ar cantava leves murmúrios enquanto as tulipas do campo teciam um manto sutil, rescendendo aromas.
     O Rabi, em silencio, aguardava. E ele, em perplexidade, lancinava-se.
     O diálogo tornara-se realmente impossível.
     Subitamente, o príncipe de qualidade, num átimo de minuto, lembrou-se que amigos o aguardavam na cidade. Compromissos esperavam-no. Deveria debater os detalhes finais para a corrida na grande festa da semana entrante.
     Acionado por estranho vigor, que dele se apossou repentinamente, fitou o Messias sereno e triste, balbuciando com voz apagada:
     E saiu quase a correr.
***

     Sopravam os ventos frios que chegavam de longe, musicados pelo bulício das estrelas balouçantes.
     A terra estuava sob a gramínea orvalhada.
    O Mestre sentou-se e se encheu de profundo sofrimento.
     Era assim, sempre assim que Ele ficava após a deserção dos convidados ao Banquete da Luz. A expressão de mansuetude e perdão que lhe brilhava nos olhos mergulhava em lágrimas, agasalhada em leves tons de amargura.
     Assim O encontraram os discípulos. Interrogado, respondeu:
     –  “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas”!
***

     Uma semana depois Cesaréia era a capital do ócio, do prazer.
     Situada ao norte da planície de Sarom e a 30 quilômetros ao sul do Monte Carnelo, foi embelezada por Herodes que, no local, mandou erguer grande porto de mar, caracterizado por colossal quebra-mar enriquecendo-a com imponente Templo onde se levantava descomunal estátua do imperador.
     Esse porto valioso sobre o Mediterrâneo era importante escoadouro de Israel e porta de entrada marítima onde atracavam embarcações de toda parte.
     As vilas ajardinadas debruçavam-se sobre as encostas pardacentas da cidade, exibindo estilos arquitetônicos variados.
     Pelo seu clima agradável, tornara-se residência oficial dos procuradores romanos, em Israel.
     Tamareiras onduladas pelo vento adornavam as ruas e odores exóticos misturavam-se no ar varrido pela maresia.
     Os festins de Cesáreia pretendiam rivalizar com os de Roma, atraindo aficionados até mesmo da Metrópole longínqua.
     Ao som alegre de trompas e fanfarras começavam as festas públicas.
     Competições de bigas abrem as corridas ante a aflição de judeus, romanos e gentios que deixaram sobre as mesas dos cambistas pesadas apostas nos seus ases.
     Gladiadores em combates simulados, tocadores de pífanos e flautas, alaúdes e címbalos, enchem os intervalos de som e cor.
     As quadrigas estão na linha de partida. Os fogosos corcéis, adquiridos aos partos, oriundos da Dalmácia, de Tiro, Sidon e da Arábia, empinam, lustrosos, ajaezados. Ao sinal disparam, sob estrondosa ovação.
     Chicotes vibram no ar, mãos firmes nas rédeas, os guias e condutores dão velocidade aos carros frágeis. A celeridade prende a respiração em todos os peitos.
     Numa manobra menos feliz, um carro vira e um corpo tomba na arena, despedaçado pelas patas velozes, em disparada.
     O moço rico sente as entranhas abertas, o suor e o sangue em pastas de lama, a respiração estertorada...
     Enquanto escravos precípites arrastam-no na pista, foge mentalmente à cena brutal que o esmaga, e entre as névoas que lhe sombreiam os olhos parece vê-LO.
     Silenciando os gritos na concha acústica tem a impressão de escutá-lo.
     –  Renuncia a ti mesmo, vem, e segue-ME.
     –  Amigo!...
     Dois braços o envolvem veludosos e transparentes.
     Apesar da face deformada e lavada pelas lágrimas, o suor e o sangue, ele dá a impressão de sorrir.
Pelo Espírito de Amélia Rodrigues – Primícias do Reino
(*) Mat. 19: 16 a 30
     Mar. 10: 17 a 31
     Luc.  18: 18 a 30
     (Nota da Autora espiritual)