Irmão X
Ante os enigmas da mediunidade
entre os homens, você pergunta, espantadiço: “Não dispõem os Espíritos
Benevolentes e Sábios de recursos suficientes para impedir o abuso e a má fé?
Estaremos sempre à mercê de médiuns infelizes, capazes de amplo comércio com as
forças da sombra, a tisnarem de lodo o serviço nobre dos medianeiros honestos?
Por que não instituir o estudo metódico da Doutrina Espírita nos templos de
nossa fé, plasmando-se o caráter do instrumento mediúnico, antes de guinda-lo à
publicidade?”
Suas inquirições realmente
chegam a comover pela sinceridade em que se expressam;no entanto, meu caro,
respondemos com a mesma clareza que os amigos desencarnados não escravizam as
faculdades dos companheiros que permanecem no mundo.
Somente as entidades
inferiores avocam para si o privilégio da posse temporária sobre as
inteligências enfermiças, nos tristes processos da obsessão. Entrosadas entre
si, partilham, na Terra, a loucura e a delinqüência, provocando, onde passam, os
mais estranhos sentimentos, que variam do ridículo à compaixão.
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Todavia, entre os que
despertaram para a responsabilidade, a governança tem o seu justo limite.
Os instrutores espirituais,
qual acontece aos professores da escola comum, esclarecem e auxiliam sem
constranger aos que lhes recebem assistência e bondade, encaminhando-os para a
educação sem, contudo, violentar-lhes o livre arbítrio.
Do que posso deduzir, pelos
estudos a que me consagro presentemente, milhares de tarefeiros da mediunidade
foram conduzidos à Esfera Humana, durante o primeiro século do Espiritismo,
todos eles munidos de honrosas designações de trabalho, em diversos países do
Globo. Doutrinadores, materializadores, escreventes, assistentes, enfermeiros e
condutores de opinião receberam preciosos títulos mediúnicos, renascendo na
coletividade terrestre com a missão de servi-la, à feição de operários da luz;
entretanto, raros atingiram o objetivo a que se propunham.
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Muitos desertaram, receando as
preocupações do caminho; outros se distraíram excessivamente com as fascinações
marginais; alguns esqueceram a conta que lhes seria pedida no Plano Divino,
colocando-se na disputa ao poder humano; e alguns outros, ainda, preferiram
acomodar-se a propostas menos dignas, descansando em felicidades ilusórias do
mundo, como se pudessem fugir à sacudidela da morte.
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Partilhando as energias e os
recursos dos Espíritos Benevolentes que os sustentavam, assim como pupilos
amparados pelo prestígio e pela bolsa dos benfeitores que lhes estendem proteção
e carinho, supuzeram-se donos de possibilidades que lhes não pertenciam e,
superestimando o próprio valor, entregaram-se a aventuras particulares, nas
quais se iniciaram em dolorosas experiências, quando não se afundaram em
escabrosos precipícios de frustração.
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Nessas circunstâncias, o
médium está sempre na posição de criatura que sacou valioso empréstimo no Banco
da Bondade Divina com determinada finalidade, gastando o dinheiro a benefício
próprio, com agravo dos próprios débitos.
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E, como a administração de
qualquer instituto bancário não pode interferir na consciência dos seus
devedores, sob pena de coartar-lhes a ação, também a Espiritualidade não
subtraíra de nenhum modo, a iniciativa dos espíritos que se reencarnaram, com
esse ou aquele mandato específico, porquanto, é da Lei que a colheita
corresponda à espécie da plantação.
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No entanto, o último tópico de
seus apontamentos merece anotação especial. Efetivamente, compete às
organizações espíritas indiscutível responsabilidade na formação e observação
dos médiuns, com mais ampla tarefa na divulgação doutrinária. Isso, porque a
mediunidade, interpretada no ponto de vista de sintonia, só por si não constitui
galardão. Há médiuns de todo feitio, inclusive aqueles que, por força de seu
próprio passado, ainda suportam pesada influência das sombras, esperando que a
Doutrina Espírita lhes envolva o campo mental na bênção de sua luz, a fim de que
possam executar as próprias obrigações.
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Ainda aqui, todavia, não
podemos compelir os irmãos de ideal, nos variados setores de nossa edificação, a
proceder nesse ou naquele padrão de conduta, de vez que os princípios do
Espiritismo são claros para nós todos.
De qualquer modo, porém, não
se atenha ao desânimo.
Cada noite é a introdução de
nova manhã.
De uma verdade inconteste,
podemos guardar absoluta convicção, e essa verdade é a de que Jesus não nos
abandona em razão de nossas fraquezas, de que a Doutrina Espírita continuará
brilhando sempre por chave de luz do Evangelho, acima de quaisquer desacertos
humanos, e de que todos nós, seja onde for, receberemos sempre da vida, de
acordo com as próprias obras.
Livro – Histórias e
Anotações – Francisco Cândido Xavier – Irmão X
Digitado por – Valeria
Guida
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