Artigo publicado pela :
Revista Internacional de Espiritismo:
Junho de 1954 - Número 5.
Dentro
da definição que lhe deu Allan Kardec, o Espiritismo tem, ao mesmo
tempo, um aspecto geral, como filosofia espiritualista, e os aspectos
particulares, que são inerentes a seu caráter e sua organização. Quem o
diz é o próprio Allan Kardec, na Introdução de O Livro dos Espíritos, ao
ensinar que “todo espírita é espiritualista, mas nem todo
espiritualista é espírita”. Realmente, há muitos espiritualistas que,
embora admitam o fenômeno de além-túmulo, não aceitam os postulados do
Espiritismo. São espiritualistas, mas, na realidade, não são espíritas.
Estas noções iniciais são muito conhecidas dos adeptos do Espiritismo,
mas a verdade é que muitas pessoas julgam mal o Espiritismo, exatamente
porque não conhecem as noções elementares da Doutrina. Daí, portanto, a
necessidade, não mais para os espíritas, mas para o elemento leigo, de
certos rudimentos indispensáveis a respeito do Espiritismo, sua
definição, seu caráter, seus métodos, suas conseqüências.
O fenômeno, como se sabe, é o ponto de partida, tanto do Espiritismo,
como de todas as escolas e correntes que se preocupam com o além-túmulo.
É de notar-se, porém, que nem todos os que se dedicam à experimentação
mediúnica entram nas indagações de ordem filosófica. Sob este ponto de
vista, é claro que o Espiritismo ultrapassa a experimentação pura e
simples, porque, além de tratar, também, da origem do fenômeno, tira
conseqüências morais de grande influência, tanto na vida particular,
como na vida social. Justamente por isso, foi que Allan Kardec definiu o
Espiritismo como uma ciência que trata da origem e do destino dos
espíritos, assim como de suas relações com o mundo terreno.
Aí estão, implicitamente, os três pontos básicos: a origem e o destino
dos espíritos são questões transcendentais, de alta filosofia; a relação
dos espíritos com o mundo terreno é assunto da ciência experimental,
porque são os fenômenos que provam essas relações; o aspecto moral,
porém, é fundamental para o Espiritismo. De que serve a experimentação
apenas como assunto de curiosidade? De que serve entrar em comunicações
com os espíritos ou provocar fenômenos, sem tirar desses fenômenos o que
é essencial para o refinamento dos costumes, para a reforma interior do
homem?
Para muita gente, Espiritismo é apenas fenômeno; mas quem conhece um
pouco da Doutrina sabe muito bem que não é assim. Para certas escolas,
por exemplo, o fenômeno é o fim, ao passo que para o Espiritismo o
fenômeno é um meio. Mas, meio de quê? Meio de aperfeiçoamento, elemento
de convicção para a aceitação da vida futura e, conseqüentemente,
caminho para a crença em Deus.
Enquanto certos experimentadores levam anos e anos observando e
provocando fenômenos, sem tirar conclusão alguma acerca dos altos e
importantes problemas da vida futura e do destino humano, o
experimentador espírita, quando bem orientado pela Doutrina, parte do
fenômeno, sobe à indagação dos porquês, que é o terreno da filosofia e,
depois, faz as necessárias aplicações à vida prática, isto é, ao
comportamento do homem, às atitudes privadas e públicas, aos padrões de
moralidade que a condição de espírita exige em qualquer situação. A não
ser assim, a experimentação, por si só, é assunto simplesmente de
curiosidade.
Deolindo Amorim.
Texto retirado do site- Irmã Clara.
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