Crueldade |
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Escrito por hammed |
A auto-crueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões.
De todas as violências que padecemos, as que fazemos contra
nós mesmos são as que mais nos fazem sofrer. Nessa crueldade, não se
derrama sangue, somente se constroem cercas e cercas, que passam a nos
sufocar e a nos afligir por dentro.
Montaigne, célebre filósofo francês do século XVI,
escreveu: “A covardia é mãe da crueldade”. Realmente, é assim que se
inicia nossa auto-agressão. Em razão de nossa fragilidade interior e de
nossos sentimentos de inferioridade, aparece o temor, que nos impede de
expressar nossas mais íntimas convicções, dificultando-nos falar, pensar
e agir com espontaneidade ou descontração.
A auto-crueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas
as opressões. Além de vir adornada de fictícias virtudes, recebe também
os aplausos e as considerações de muitas pessoas, mas, mesmo assim,
continua delimitando e esmagando brutalmente. Essa atmosfera virtuosa
que envolve os que buscam ser sempre admirados e aceitos deve-se ao
papel que representam incessantemente de satisfazer e de contentar a
todos, em quaisquer circunstâncias. Buscam contínuos elogios,
colecionando reverências e sorrisos forçados, mas pagam por isso um
preço muito alto: vivem distantes de si mesmos.
A causa básica do “auto-tormento” consiste em algo muito
simples: viver a própria vida nos termos estabelecidos pela aprovação
alheia.
A timidez pode ser considerada uma auto-crueldade. O
acanhado vigia-se e, ao mesmo tempo, vigia os outros, vivendo numa
auto-prisão. Em razão de ser aceito por todos, ele não defende sua
vontade, mas sim a vontade das pessoas. Pensa que há algo de errado com
ele, não desenvolve a autoconfiança e, continuamente, se esconde por
inibição.
Pensar e agir, defendendo nosso íntimo e nossos direitos
inatos e, definindo nossas perspectivas pessoais, sem subtrair os
direitos dos outros, é a imunização contra a auto-crueldade.
Para vivermos bem com nós mesmos, é preciso estabelecer
padrões de auto-respeito, aprendendo a dizer “não sei”, “não
compreendo”, “não concordo” e “não me importo”.
As criaturas que procuram bajulação e exaltação
martirizam-se para não cometer erros, pois a censura, a depreciação e a
desestima é o que mais as atemorizam. Esquecem-se de que os erros são
significativas formas de aprendizagem das coisas. É muito compreensível
falarmos à lógica numa tomada de decisão, ou mudarmos de idéia no meio
do caminho; no entanto, quando errarmos, será preciso que assumamos a
responsabilidade pelos nossos desencontros e desacertos e apreendamos o
ensinamento da lição vivenciada.
Quem busca consenso, crédito e popularidade não julgam seus
comportamentos por si mesmo, mas procura, ansiosamente, as palmas dos
outros, oferecendo inúmeras razões para que suas atitudes sejam
totalmente consideradas.
Vivendo e seguindo seus próprios passos, poderá
inicialmente encontrar dificuldades momentâneas, mas, com o tempo, será
recompensado com um enorme bem-estar e uma integral segurança da alma.
Estar alheio ou sair de si mesmo, na ânsia de ser amado por
todos aqueles que consideram modelos importantes, será uma meta
alienada e inatingível. O único modo de alcançar a felicidade é viver,
particularmente, a própria vida.
A fixação que temos de olhar o que os outros acham ou
acreditam, sem possuirmos a real consciência do que queremos, podemos,
sentimos, pensamos e almejamos, é o que promove a destruição em nossa
vida interior, ou seja, o esfacelamento da própria unidade como seres
humanos e, por conseqüência, nossa unidade com a vida que está em tudo e
em todos.
Consultam Kardec os Obreiros do Bem: “A obrigação de respeitar os direitos alheios tira ao homem o de pertencer-se a si mesmo?” E eles responderam: “De modo algum, porquanto este é um direito que lhe vem da Natureza”.
“Pertencer-se a si mesmo”, conforme nos asseveram os
Espíritos, é exercer a liberdade de não precisar conciliar as opiniões
dos homens e de livrar-se das amarras da tirania social, da escravidão
do convencionalismo religioso, das vulgaridades do consumismo, da
constrição de ser dependente, enfim, do medo do que dirão os outros.
A solução para a auto-crueldade será a nossa tomada de consciência de que temos a liberdade por “direito que vem da Natureza”.
Contudo, de quase nada nos servirá a liberdade exterior, se não
cultivarmos uma autonomia interior, porque quem está internamente entre
grilhões e amarras jamais poderá pensar e agir livremente.
Espírito: HAMMED
Médium: Francisco do Espírito Santo Neto – As dores da alma.
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