Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

terça-feira, 9 de julho de 2013

A carta de Herminio Miranda aos pesquisadores espíritas

A carta de Herminio Miranda aos pesquisadores espíritas PDF Imprimir E-mail
Escrito por Eliana Haddad   
herminio miranda 17-08-2005Logo na abertura do Encontro de Pesquisadores do Espiritismo, realizado em agosto de 2011, os participantes do evento tiveram uma grata surpresa: uma carta do grande pesquisador e escritor espírita Hermínio Miranda. Confiram na íntegra.

"AOS ESTUDANTES E PARTICIPANTES DO 7. ENCONTRO DA LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO
Meus jovens amigos e amigas de ontem, de hoje, de amanhã e de sempre:
Gostaria de estar pessoalmente aqui, para viver este momento com vocês. De certo modo, contudo, é bom que eu não esteja. Sou um sujeito emotivo e até a minha cardiopatia é tida pelos médicos como de natureza emocional. Como iria eu administrar minhas emoções, ao partilhá-las com vocês?
Alegra-me sobremodo ver vocês trabalhando na realização do impossível. Digo isto ao me lembrar de Sir Winston Churchill, que costumava dizer mais ou menos assim: "Difícil é aquilo que a gente pode fazer imediatamente. O impossível é que demora um pouco mais."
As leis divinas me concederam generosamente, tempo para realizar algumas impossibilidades pessoais, superando pretensos obstáculos e supostos limites, que misteriosamente desmaterializavam-se e me deixavam passar.
Foi assim que me tornei até um escritor. Imaginem só: eu, escritor!
Somente agora estou percebendo que os "impossíveis" começaram a acontecer, depois que tomei conhecimento da abençoada Doutrina dos Espíritos, nos idos de 1957.
De algum tempo para cá passei a perceber algo singular. Ou seja: como é que a gente assiste em certo nível de indiferença ao doloroso espetáculo do estrangulamento do processo evolutivo da humanidade pelos implacáveis punhos do materialismo dominante? É claro que, no decorrer de tal ditadura ideológica, avançamos consideravelmente nas badaladas e sofisticadas conquistas tecnológicas. Mas, não é a esse aspecto que me refiro. Desejamos mais do que isso, muito mais. E para toda a comunidade humana onde quer que ela esteja pelas dobras infinitas do espaço imenso.
Será que não podemos mudar – pacificamente e sem dores, pelo amor de Deus! --os modelos políticos, sociais, econômicos, religiosos e culturais? Claro que sim. Não apenas podemos, mas devemos mudá-los.Temos de mudá-los.
Vocês já estão trabalhando no projeto de reformatação do mundo em que vivemos e no qual, viveremos ainda, não sei quantas vidas. Estão levando para o autorizado foro de debates do meio acadêmico, a desprezada realidade de que não somos meros corpos físicos perecíveis, mas espíritos imortais, pré-existentes, sobreviventes e reencarnantes.
Convém lembrar, ainda, que, ao separar didaticamente o território das coisas materiais, do espaço reservado às imateriais, Mestre Aristóteles certamente não pretendeu demonizar a Metafísica. Quis apenas chamar a atenção para o fato de que esses vetores de conhecimento exigem abordagem e tratamento diferenciados e despreconceituosos de gente que se disponha honestamente a aprender com os fatos.
Decorridos mais de dois milênios, ainda ouvimos dizer que os componentes metafísicos da vida são, crendices e fantasias pré-científicas, indignas da atenção de intelectuais que se prezam. O que desejamos é presença de gente qualificada que nos ouça e ajude a retirar o estigma que pesa sobre realidade espiritual. O resto virá por acréscimo.
Parodiando o ex-Presidente Kennedy, não aspiremos ao que mundo pode fazer por nós, mas ao que podemos fazer pelo mundo.
Que Deus nos abençoe. E nos inspire sonhos como este, dado que, se não sonharmos, como é que nossos sonhos vão se realizar?
Eis o singelo recado do velho escriba.

Hermínio C. Miranda
Agosto de 2011"

O romance que já estava escrito

O romance que já estava escrito PDF Imprimir E-mail
Escrito por Herminio C. Miranda   
Há dois meses vínhamos trabalhando em nossas atividades mediúnicas, junto de determinada instituição espiritual, quando se manifestou uma entidade feminina, em pranto. Segundo apuramos depois, vinha de uma existência de irresponsabilidades e crimes contra a natureza humana. Fora uma bela mulher que usou seus encantos pessoais para escravizar pessoas aos seus caprichos e às suas ânsias. Os homens estendiam-lhe seus mantos para que ela passasse sobre eles, explicou. Levava-os ao desespero, ao alcoolismo e até a última degradação da sarjeta. Casamento? De forma alguma! Precisava gozar a vida.
Filhos? Nem pensar! Por isso, rejeitava-os sistematicamente quando ocorria qualquer gravidez, sempre indesejável e inoportuna.
Ao praticar quase uma dezena de abortos, estava convicta de livrar-se para sempre daquele desagradável “contratempo”. Ignorava que em cada gravidez estava presente um espírito reencarnante, interessado em viver e necessitado de uma existência na carne, a fim de realizar alguma tarefa essencial ao seu processo evolutivo.
Os pequenos fetos arrancados pela violência de seu belo corpo eram prontamente destruídos e logo esquecidos, mas os espíritos, não. Ficaram à sua espera no mundo espiritual para cobrar-lhe, um dia, o assassinato de que haviam sido vítimas.
Depois de muito penar pelos escuros planos da dor, fora recolhida pela instituição de que vínhamos cuidando e que começava a desarticular-se irremediavelmente, por causa do afastamento de seus dirigentes. Não que tivesse resolvido seus problemas pessoais, pelo contrário, dado que, longe de ter iniciado o resgate de suas antigas faltas, continuava a assumir mais responsabilidades ao cometer novos desatinos, pelos quais também teria de responder um dia. Pelo menos tinha, ali, certa “proteção”, a troco dos seus serviços, colaborando para que os objetivos desagregadores das sombras fossem eventualmente alcançados.
Desmantelada a comunidade, contudo, restaram a ela apenas duas opções:
assumir, finalmente, suas responsabilidades cármicas e enfrentar as dificuldades do resgate ou ficar novamente entregue às aflições e incertezas do que a Codificação Espírita caracteriza como estado de erraticidade.
Decidiu pelo trabalho da reconstrução de seu atormentado espírito, com todos os seus riscos e sofrimentos, carências e frustrações. Foi honesta conosco ao enfatizar que não era com alegria que resolvera aceitar a pesada carga. A palavra adequada para ela nem era aceitação. Se pudesse, tudo faria para livrar-se daquilo ou, pelo menos, atenuar um pouco o peso que, de repente, parecia ter desabado sobre ela, mas reconhecia, no fundo, que não tinha alternativa. O caminho era aquele mesmo; ela própria o escolhera, ao precipitar-se no abismo de suas paixões.
Teve, contudo, um gesto de grandeza, demonstrando que já começava nela o processo da regeneração. Referindo-se às inúmeras mulheres que continuam a praticar abortos sucessivos, sugeriu-nos:
_ Conta para elas essas coisas, conta. Conta o que está me esperando… Vai falar com elas aí! Vai, fala e escreve. Por que você não faz isso? Conta!
Fala!
Essa história é, portanto, um recado que estou transmitindo em nome e a pedido de alguém que sabe.”
“Esta história é, portanto, um recado que estou transmitindo em nome e a pedido de alguém que sabe. Ao conversar conosco, naquela noite, já há algum tempo se encontrava recolhida pelos trabalhadores do bem, a uma comunidade de recuperação. O diálogo que se lê, a seguir, é a fiel transcrição da nossa conversa. A primeira fala é dela, e estava em pranto logo que se manifestou.
_ Não me leva! Não me leva pra lá! Eu não quero ir! Eu não tenho onde ficar!
_ Tem sim. Todos nós estamos guardados em Deus. Todos temos para onde ir.
Ninguém será jogado fora.
_ Nunca tive nada de meu. Nunca tive pra onde ir. E agora, não quero ir para lá também. Não quero! Não quero ir pra lá pra nascer de novo… Que eu vou ganhar aí, no mundo?
_ Você vai ganhar aquilo que perdeu. As coisas que você fez errado, vai ter oportunidade de fazer de novo, de acertar. Vai ser recebida por pessoas que querem te ajudar…
_ Será que querem mesmo? Toda vida fui recebida por pessoas que queriam saber o que podiam tirar de mim.
_ Sim, mas havia alguma razão para que isso acontecesse dessa maneira, não é, minha filha? Você não acha que a pessoa que concordou em receber você como filha, quer ajudar? Você conhece a pessoa?
_ Não conheço, não. (Não é verdade isto, como veremos).
_ Você já sabe quem vai recebê-la?
_ Não sei quem vai, eu sei é que…
_ Talvez você não esteja compreendendo bem isso aí.
_ O que eu não estou compreendendo? Estou compreendendo agora…
_ Você não queria? Preferia continuar assim como está? É isso?
_ Não sei o que eu preferiria, não. Às vezes acho que vai ser bom nascer de novo… Você esquece… todo mundo te pega no colo porque você é um neném. Até você lembrar de novo, já descansou um bom tempo.
Refere-se, portanto, à terrível pressão das lembranças desagradáveis, dos remorsos dolorosos, das angústias do ser que se reconhece culpado e contempla, desalentado, a penosíssima tarefa da recuperação espiritual.
_ È que você tem muitas agonias no espírito – diz o doutrinador -, mas a Lei é generosa e pacificadora. Ela nos concede o esquecimento exatamente para que possamos recomeçar tudo de novo.
_ Às vezes eu acho que deveria ser bom, mas quando penso em tudo quanto vou ter que passar… que me disseram lá que eu vou ter que passar…
_ Pois é, minha irmã, mas a gente está devendo à Lei… É preciso passar por essas coisas para aprender. Você não acha? É preciso ter paciência. Você precisa aceitar isso. Se fôssemos perfeitos, bonzinhos, caridosos, não estaríamos passando por tantas coisas, não é? Você está lembrando de uma vida em que foi maltratada, foi espoliada, mas não se lembra das outras, quando foi a sua vez de espezinhar, de maltratar…
_ Eu não acho que fosse uma pessoa capaz de fazer isso. Eu não acho…
_ Por que você acha, então, que a Lei lhe pediu isso?
_ Não interessa a Lei de Deus! Interessa é o que vou ter de passar por isso e ponto final!
_ Sei, minha querida. Mas não é só. Interessa saber que você vai ficar boa.
Você não é uma pessoa má. Você não faria mais aquilo que fez.
_ Como é que você diz que eu fiz? Você sabe o que eu fiz?
_ Se você passou pelas coisas que passou, é porque devia.
_ Outra vez! Ter de viver de novo, ter que… aguentar tudo!
_ Você já conversou sobre isso com os nossos companheiros?
_ Já, já… Mais de uma vez.
_ E o que foi programado para você? Quais são seus planos a respeito dessa existência?
_ Eu não tenho planos, está entendendo? Não tenho muita escolha, não.
_ Sim, mas o que você vai fazer? Vai nascer pobre, com dificuldades, ou como será? Algum lar já deve estar programado para você.
_ É. Vou nascer numa família de uns dez filhos ou oito. Então minha mãe vai morrer e eu vou ter que criar esse bando de crianças! (Fala destacando certas palavras para dar-lhes ênfase especial).”
“_ Sim, mas isso não é uma oportunidade muito boa para você?
_ Não vou poder me casar porque estou criando irmãos. Não vou poder estudar porque estou criando irmãos. Não vou passear, não vou me divertir… Vou ficar dentro de casa cuidando de irmãos…
_ Sim, mas esses irmãos não são escolhidos ao acaso, não é? São seres ligados a você. São pessoas às quais você deve esse favor, esse compromisso, essa oportunidade. Em algum ponto de suas vidas passadas, você tirou alguma coisa delas.
_ Sabe? Desgraçada a mulher que não usa bem o sexo!
_ É. Isso é verdadeiro, sim. Você tem razão.
_ Desgraçada dela! Quer dizer, não vou casar, mas vou ter que sustentar criança, vou ter que tomar conta de crianças… Vou ter que ser mãe das crianças! Só porque fiz alguns abortinhos…
_ Só porque?…
_ Qual a mulher que não fez um aborto na vida?
_ Pois é, minha filha, mas você acha isso certo?
_ Eu, quando fiz, achava. Achava que era!
_ Hoje você não acha, mas o erro ficou lá, de alguma forma.
_ E eu que não dou para esse negócio de ser mãe! Você já imaginou?
_ Você terá que aprender, irmã.
_ Não dou pra isso. Eu nunca quis filho, justamente por causa disso.
_ É, mas a sua mãe teve você…
_ Aí foi problema dela. Ela quis… Eu não quis ter nenhum e não tive. Não tem escolha. Tem?
_ Tem a escolha e tem a responsabilidade também, não é?
_ Agora, não. Ou você aceita isso, ou então continua na vida que quiser.
Quer dizer… Eu não tenho mais a vida que eu quiser, porque onde eu estava com os meus amigos, não dá mais. Então você fica entre a cruz e a caldeirinha…
_ A não ser a penosa reencarnação que estava programada para ela, a única opção viável agora seria uma indefinida fase de agonias, vagando sem rumo pela vastidão dos mundos de desarmonia e de angústia, perseguida implacavelmente pelos adversários que a insensatez criou para ela. Ante tais perspectivas, ambas assustadoras e aflitivas, o mal menor ainda era a reencarnação que, sem ser compulsória, apresentava-se como única alternativa aceitável.
_ Eram seus amigos? Pergunta o doutrinador.
_ Eram, sim, meus amigos. Então, vou ter que ir, vou ter que nascer, vou ter que cuidar desse bando de crianças. Vou criar mesmo! Quando a mãe morrer, o último vai ser um bebê. Acabou de nascer, ela morre… E eu vou criar todo mundo. Você já viu?
_ Você não acha que é uma oportunidade de mostrar que sabe fazer alguma coisa? Quando você terminar essa existência, se houver cumprido direitinho suas tarefas, sua consciência estará em paz. Na próxima vida, depois dessa, você já não terá mais esses compromissos. Vai ter oportunidade de ser feliz, ter o seu marido, seu lar, sua casa… o que você desejar, enfim.
_ Você já imaginou que destino triste?
_ Sei, minha querida. Mas você poderia ter aceitado essas crianças quando tinha condições, e não quis, não é? Não precisava ser triste. Se eles tivessem sido seus filhos, naquela outra vida, você não teria tido grandes dificuldades. Você não dispunha de recursos? Na ocasião em que podia você não quis. Agora…
_ Sabe para onde vou ter que ir? Disseram que vou ter que ir para a Argentina, porque lá é que está o pessoal todo. Tenho que ir… E o pior é que vou ser uma moça bonita. Os homens vão querer casar comigo e eu não vou poder casar. Nenhum vai querer aceitar aquele bando de crianças.
_ Quem sabe não aparece um companheiro que queira?
_ Não! Está lá!… Não. Já sei que não vou. Já me disseram: “Você não vai casar. Se casar, vai complicar tudo!”
_ Então, veja bem. Você rejeitou essas crianças quando poderia tê-las aceito, com muito maior facilidade. Não quis. É direito seu…
_ É. Eu andei fazendo uns abortozinhos… Mas eu… não é porque eu não gostava; eu não podia ter filhos!
_ Como não podia?
_ Não podia… Eu não queria casar. Eu queria uma vida livre. Quer dizer…
_ Então, você escolheu, tomou uma decisão e a responsabilidade ficou.
_ Mas eu nunca achei que fosse uma coisa tão ruim assim.
_ Você não achou, mas a Lei sabe que era. E hoje você sabe que é tão grave que vai precisar fazer um sacrifício maior para se recompor.
_ Mas, então, por que… (para, hesita, pensa). Ah!, não. A moça disse lá. Eu
perguntei: “Então por que eu não caso e eles não vêm como meus filhos?” Eles me disseram que há uns tão revoltados comigo que nunca vingariam como filho.
Entende? Não iam conseguir. Eu também ia rejeitar e eles me rejeitariam e iria ser uma confusão danada! Então, vindo com outra mãe, eu vou ser irmã e isso é diferente.
_ É. Você vê como tudo é lógico e direitinho…
_ Que lógico? Sei lá… Não estou pensando nisso. Estou pensando no problema em si. É, podiam ser meus filhos, porque aí eu casava e teria alguém para me sustentar, para me dar uma vida melhor. Você já imaginou? Eu vou trabalhar que nem uma desesperada!
_ O trabalho não mata ninguém, minha irmã. Pelo contrário, ocupar as mãos com algum trabalho digno…
_ Não vou ocupar, não, vou esfolar…
_ Não importa. Depois que você abandonar esse corpo, seu espírito estará em paz, estará redimido, pelo menos quanto a esse aspecto.
_ Pois é, mas será que eu vou aguentar? E que vou ter que… Eu, uma criança ainda… Você imagina? Já estou vendo o drama todo na minha frente.
_ Mas, minha querida, não há outro caminho. É esse aí que você tem que aceitar. É por ali mesmo que você tem de passar. Você não quis passar da outra vez, que era mais fácil, vai passar agora que é difícil. É como se você tivesse de fazer uma caminhada com um belo dia de sol, e você não quis.
Agora vai fazer com chuva mesmo.
_ Eu disse pra eles: “Então porque não faz o seguinte: o meu futuro pai não casa com outra mulher, para ter uma madrasta para cuidar? E eu vou ajudar a cuidar das crianças…”
_ Isso não resolveria os problemas ali. Você tem de assumir a responsabilidade que rejeitou da outra vez…
_ Lavar, passar e ainda costurar a máquina!
_ Não é vexame nenhum isso aí…
_ Eu, uma escrava daquele bando de crianças…
_ Se você os tivesse aceitado da outra vez, eles iriam crescer e ajudar, quando você fosse mais velha. Iriam trabalhar… Talvez você terminasse a vida em perfeita paz e conforto.
_ Não sei, não. Por que a gente…
_ É. Você tem razão. Por que a gente erra, não é? Uma pena…
_ Não é porque a gente erra, não. Não estou dizendo isso. Meu deus do céu, como é que você fica? Você vai para o mundo, o mundo tem uma porção de coisas que são atraentes, que você quer. Você é uma mulher bonita, você… ué!
Você não tem que viver? A gente tem os instintos… Você tem que viver. Por que Deus criou essas coisas?
_ Está muito bem. Mas você pode exercer seus instintos, atender suas solicitações, mas não precisa matar ninguém, não é , minha irmã?
_ Que matei? Aborto não é matar ninguém!
_ É um assassinato. Não há diferença. A criatura não pode nem defender-se.
_ Engraçado! No meio disso tudo, desse bando de crianças… até me mostraram lá um  “retrato”, tem um menino… um só… que eu não vou ter problema com ele.
Ele gosta de mim. De onde ele gosta de mim, não sei. Ainda não apurei isso.
Ele gosta de mim. Então, dizem que ele pediu, ele quer vir… É o segundo irmão: eu, depois ele, porque assim ele vai ajudar.
_ Que bom! Já vai melhorar um pouco o sofrimento.
_ Ah, que nada! Acontece que ele está pedindo isso. É diferente. Eu, não: eu tenho que aceitar, contra a minha vontade. Porque, vou lhe falar com toda franqueza, se fosse para dizer “Você escolhe”, eu não ia, não. Não ia, porque tenho minhas dúvidas se vou aguentar um negócio desses. É um “negócio” muito pesado. Não estou acostumada com isso. Eu tive uma vida de princesa, de rainha, com todo mundo… Quer dizer, não fui princesa ou rainha, foi uma vida de princesa, de rainha, todo mundo fazendo o que eu queria, com os homens ali, botando a capa no chão pra eu pisar por cima e passar… Agora, de repente… Quer dizer, estou acostumada com isso… Nunca usei minhas mãos para lavar roupa. Agora, você já imaginou? Eu tenho que lavar roupa, com as minhas mãos! Com estas mãos aqui… Vou ter que ficar numa máquinam costurando. Vou ter que criar calos. Tudo por causa de irmão! Vou ter uma raiva danada deles! Tenho medo!
_ Se cometer tolice, você vai complicar-se ainda mais. Olhe que aí não vai ser mais caminhar na chuva, não; vai ser muito pior.
_ Por que isso? Será que você não “dava” um jeito? Você conhece eles lá (os nossos amigos espirituais). Você não pode pedir pra eles… “maneirar” um pouquinho o negócio pra mim? Vai lá, fala, pede… Diz que eu sou sua parenta, sua conhecida… qualquer coisa.
_ Você acha que eu vou chegar lá pregando mentira?
_ Mas você não diz que sou sua irmã? Então! Você podia ir lá falar…
“_ Minha filha, você sabe lá? Se fossem cobrar tudo mesmo, aí, sim, você não iria aguentar.
_ Mas você não acha que isso é demais?
_ Não. Não acho.
_ Puxa! Que você está pensando? São dez crianças! São nove porque eu sou o dez… Vou ser mãe de nove crianças.
_ Imagine se fossem 30 ou 40…
_ É, você é doido mesmo…
_ Imagine se você tivesse que nascer cega ou paralítica, ou surda…
_ Ah, pelo menos ia ter alguém que cuidasse de mim.
_ Não sei. Muita gente passa a vida toda cega, sem ter quem cuide. A solidão é uma coisa terrível, minha irmã. Afinal de contas, você vai ter uma família. Quando eles crescerem, mesmo que não te retribuam, vai haver um para te ajudar, amar e respeitar. Vai partilhar com você essas agonias todas. Mas, quem sabe, mesmo entre eles, os outros sete ou oito, alguns
pensem: “Essa irmã sacrificou-se. Eu não gostava dela, mas, afinal de contas, ela foi boa para a gente.”
_ Não está com jeito, não. Do jeito que eu vejo, vai ser tudo um bando de ingratos, que vão fazer de mim gato e sapato. Isso é que eu acho.
_ Se você usar sua inteligência, sua capacidade de amar, poderá transformá-los em seres que te amem.
_ E a minha vida de moça?
_ Isso é tão importante assim? Você teve uma vida de moça e não a utilizou corretamente. Você mesma disse aí, no princípio, que não usou bem os seus encantos. Usou-os para dominar, para corromper, enfim, para fazer tudo quanto veio à cabeça.
_ Isso tudo é tão complicado! Se a gente soubesse a confusão que dá, não faria certas coisas. Vou lhe contar, não faria mesmo!
_ Veja bem. Você sabe agora. Agora você está sabendo.
_ Pois é, mas agora que eu sei, é tarde. Vou ter que aguentar. E tem mais, eu não lhe falei. Vou ter um pai, não é? Mas esse pai vai ser um alcoólatra.
Disseram-me que, numa outra vida, eu fiz dele um alcoólatra. Ele teve um desgosto e deu de beber, beber… e acabou morto, numa sarjeta, por minha causa, porque se apaixonou por mim. Agora, que mulher pode ter culpa se um homem se apaixona por ela? Eu tenho culpa? Se amanhã você se apaixona por mim… Vamos ver. O que eu vou fazer? Você se apaixonou porque quis. Mas aí, deixa eu contar, pra você ver o quadro como é preto. Então, vou ter esse pai, que vai ser outra carga em cima de mim. Quer dizer, vou ter que ficar com o peso todo, porque ele vai chegar em casa bêbado. Vou ter que ajudar, vou ter que… Ó meu Deus! Parece coisa de novela, não parece? Parece história de folhetim. Se contar, ninguém acredita. E eu vou… Quer dizer… É um romance que já está escrito. Já foi escrito! Mostraram-me tudo lá. E um romance que já está escrito!

(Trecho do livro As mil faces da realidade espiritual, escrito por Herminio C. Miranda - Ed.CEAC)

Desencarna Herminio Miranda " Um grande Espírita nos deixa com legados "

Desencarna Herminio Miranda PDF Imprimir E-mail
Escrito por Eliana Haddad   
Ter, 09 de Julho de 2013 10:21
herminio mirandaDesencarnou nesta segunda- feira,  às 16 horas, o escritor e pesquisador espírita Hermínio Corrêa de Miranda. Seu corpo será velado a partir das 10h30 da  terça-feira, 9 de julho, e será sepultado  às 15 horas, no cemitério do Jardim-Parque da Saudade, em Paciência, Rio de Janeiro.
À Editora Correio Fraterno, Herminio deixa  um legado de obras extraordinárias - A Feira dos Casamentos (tradução), A dama da Noite, A irmã do Vizir, O exilado e As mãos de minha irmã, O que é o fenômeno mediúnico  e O que é o fenômeno anímico. Nosso imenso carinho  e gratidão a ele, que sempre nos extasiou com seu grande exemplo de trabalho, bom ânimo e amor pela doutrina dos espíritos.
Em maio do ano passado, Herminio enviou um e-mail ao jornal Correio Fraterno, sugerindo a publicação de uma das histórias  que os espíritos contaram, diante do "lamentável e funesto propósito do governo de legalizar o aborto em nosso país". O assunto acabou virando capa da edição 446. Incentivador da pesquisa e do estudo, em 2011, escreveu uma carta emocionante aos participantes do 7º Encontro da Liga dos Pesquisadores Espíritas, realizado em São Paulo.
No último contato por telefone com a redação do Correio Fraterno, há dois meses, quando acertávamos detalhes para edição de mais uma obra, Hermínio carinhosamente agradecia e dizia que gostaria de escrever muito mais. Falava sobre as naturais limitações da idade do corpo físico e mostrava a tranquilidade e resignação do verdadeiro cristão que aceita os percalços da vida, não desanima e confia sempre:
"...Deus sabe de mim!..." concluia ele.
É claro que sabe, grande Herminio. Que seu caminho continue a iluminar também as nossas estradas. Siga em paz! Saudades.

Um retrato do mercado editorial espírita

Um retrato do mercado editorial espírita PDF Imprimir E-mail
Escrito por Izabel Vitusso e Eliana Haddad   
richard simonetti 6
Com 53 livros publicados, Richard Simonetti, 77anos, nasceu em Bauru. Filho de duas tradicionais famílias de descendência italiana, conviveu desde cedo com atividades sociais. Sua mãe, Adélia, dirigiu por várias décadas uma oficina de costura, no Centro Espírita Amor e Caridade, atendendo migrantes e famílias pobres da região. Casado com Tânia Regina Simonetti, é pai de Graziela, Alexandre, Carolina e Giovana e avô de Rafaela. Com mais de dois milhões e duzentos mil exemplares vendidos, é membro da Academia Bauruense de Letras.
Simonetti foi funcionário do Banco do Brasil. Desde que se aposentou, em 1986, passou a se dedicar inteiramente às atividades espíritas, particularmente no Centro Espírita Amor e Caridade, ao qual está ligado desde a infância, que desenvolve importante trabalho no campo social – albergue, triagem de migrantes, atendimento à população de rua, creche, assistência familiar e cursos profissionalizantes – beneficiando anualmente cerca de 25 mil pessoas.
Expositor espírita nacional e internacional, com centenas de artigos publicados em jornais, revistas e portais, é de opinião que a imprensa espírita hoje está comportada “até demais”, nela faltando um espaço para críticas e resenhas literárias.
Em 1970, articulou o movimento inicial de instalação dos clubes do livro espírita no Brasil. E é justamente sobre esse mercado editorial que ele fala nessa entrevista. Acompanhe.
Como está o mercado do livro?
Há um problema sério: a concorrência. Há muita gente escrevendo, muitas editoras produzindo livros espíritas, não raro sem qualidade, sem conteúdo doutrinário, Médiuns psicografam algumas mensagens e entendem que devem ser publicadas, confundindo exercícios de psicografia com material para um livro.
Em sua opinião qual o maior desafio do mercado editorial espírita?
Sustentar a pureza doutrinária. Depois que Chico Xavier desencarnou “soltaram a tampa da revelação”. Médiuns transmitem fantasias sobre a vida espiritual, situando-as como desdobramentos do conhecimento espírita. Livros assim vendem bem, fazem mal ao movimento.
Por que o senhor acha que vendem tanto esses livros? É o pessoal que não sabe escolher ou é o que se está oferecendo a eles?
Falta de cultura doutrinária. Gostam de fantasia, principalmente quando romanceada. Aceita-se tudo sem a pergunta essencial: é compatível com a doutrina?
Como fazem a escolha de romances em seu centro?
Impossível analisar tudo o que é publicado. Um bom recurso é selecionar editoras sérias, que publicam livros observando o conteúdo doutrinário.
O senhor acha que essa situação de mercado é consequência apenas da parte comercial, de ser preciso ganhar dinheiro, ou pode ser um movimento das trevas?
Ingenuidade atribuir tudo às trevas. O problema maior é a falta de compromisso com a doutrina, superada pelo empenho de vender mais, ter mais associados, lucrar mais.
O senhor, como autor, presidente do Ceac, foi também o grande incentivador do clube do livro. Como avalia esse projeto hoje?
Em 1976 realizamos, sob os auspícios da USE-Bauru, um amplo movimento de divulgação do Clube do Livro Espírita. Conseguimos contabilizar perto de 200 CLEs. Hoje há um número bem maior, realizando o mais importante trabalho de divulgação do livro espírita. Os CLEs vendem muito.
Qual foi a dinâmica pensada para o funcionamento do clube?
O CLE é muito simples. Organiza-se uma lista de adesões. Em seguida é feita a compra do livro junto à editora, com distribuição ao associado que paga a mensalidade e recebe o seu exemplar. Quando fizemos a campanha de instalação do CLE o slogan era “O Ovo de Colombo” da divulgação espírita. Fizemos inclusive no Correio Fraterno. Muito simples, prático e objetivo.
A ideia era fazer um livro vendendo-o bem mais barato antes de ele sair para as distribuidoras, ganhando-se no volume das vendas, é isso?
Sim e, o mais importante: todos ganham. A editora, que publica mais livros, o CLE, que vende muito, e o leitor, que paga mais barato o livro.
Mas sabe-se que algumas pessoas não honram o compromisso de vender exclusivamente para clubes o que compram com grande desconto, e acabam prejudicando a própria dinâmica do mercado.
Normalmente não deve acontecer, porquanto um CLE costuma ter no mínimo 50 associados. Nenhuma livraria compra tantos livros de um mesmo título.
O que o senhor mudaria se tivesse que lançar o clube do livro hoje?
Tentaria mudar a mentalidade dos dirigentes de clube de livro. Hoje temos um problema sério. Para fazer publicar um romance, a editora vai desembolsar, por exemplo, cinco reais e cinquenta centavos. Os clubes cobram do associado cerca de vinte reais. Mas eles querem comprar da editora por no máximo 6,50. A editora vai receber um real de lucro bruto em cima do custo do livro, que não inclui o custo de manutenção da própria editora. Já escrevi sobre isso. É preocupante como os dirigentes de clube lidam com isso, interessados sempre no lucro. Muitos querem preço, o livro barato. E nem sempre estão preocupados com o conteúdo nem com a sobrevivência das editoras.
Há casos de trabalhadores em casas espíritas que, entusiastas na divulgação da doutrina, vendem livros em porta de centros pelo preço que conseguem nas distribuidoras, o que tem causado problemas com livrarias espíritas há muito estabelecidas nas cidades. Vale tudo em nome da divulgação?
Vender livros nas portas do centro até abaixo do preço de custo pode ser um belo ideal, mas não é compatível com o bom senso. É preciso cuidado para preservar as livrarias. Elas têm despesas, precisam de uma margem de lucro para se sustentar. Considere-se, ainda, que o leitor pode comprar apenas porque está barato. Será que irá ler?
Comenta-se que 60% das pessoas que assinam o clube de livro espírita não são espíritas, gostam de ler romance por prazer. O senhor tem alguma informação sobre isso?
Provavelmente isso acontece. Segundo o IBGE apenas 2% da população brasileira dizem-se espíritas. Certamente haverá muita gente associada ao CLE sem vinculação ao Espiritismo. Os CLEs fazem um excelente trabalho de divulgação entre os simpatizantes, mas seria conveniente uma dosagem quanto ao conteúdo, não ficando apenas em romances, que nem sempre são de conteúdo legitimamente espírita.
E sobre os temas abordados nos livros? O que poderia se fazer de novo em termos de conteúdo?
Pela minha experiência como escritor, acho que a literatura espírita deve ser clara, objetiva, agradável, bem-humorada. Procuro fazer isso, tanto que há pessoas usando os meus livros para fazer palestras e citações. Não há necessidade do uso de dicionário.
É fácil escrever fácil?
Mario Moacyr Porto diz que é fácil escrever difícil; difícil é escrever fácil. Posso escrever um artigo em rápidos minutos, mas é provável que o leitor tenha dificuldade para entender. É fundamental fazê-lo de forma objetiva, eliminar termos de difícil entendimento, demonstrar clareza de linguagem. Isso dá muito trabalho.
O público hoje compra muito mais os lançamentos e deixa de comprar os livros básicos, as obras subsidiárias, se assim podemos dizer, como Kardec, Emmanuel, Denis, Yvonne Pereira, Herculano. O que acontece?
As obras de Allan Kardec vendem bem. Outros autores talvez careçam de maior divulgação. Herculano Pires escreveu muitos livros, mas quase não os vemos, edições esgotadas. É um autor dos mais importantes.
O senhor acha que o público mudou ou continua precisando das mesmas coisas?
Há uma elevação do nível cultural do brasileiro. Natural que hoje se exija mais dos autores.
O que deve ter um bom romance espírita?
Deve ter história envolvente, que prenda a atenção, mas com temática legitimamente espírita que ofereça ao leitor subsídios para uma visão doutrinária da existência humana. Vemos isso na obra de André Luiz. Histórias que fluem bem, mas em cada página há algo para pensar.
Alguns editores têm se manifestado sobre a questão de livros, como o caso dos de Chico Xavier, que ainda não estão em domínio público, mas já estão sendo disponibilizados para serem baixados na internet. É esse o caminho para a divulgação?
Se não houver autorização do autor ou da editora, é uma desonestidade, incompatível com os princípios espíritas. Ressalte-se, porém, que esse movimento não tem grande repercussão. Ler em monitor de computador não é convidativo.(Por Izabel Vitusso e Eliana Haddad)

Entrevista publicada no jornal Correio Fraterno - edição 448 - novembro/dezembro 2012

Um encontro real entre nós dois

Um encontro real entre nós dois PDF Imprimir E-mail

De repente você se dá conta, como eu, de que acaba de ingressar no clube dos macróbios. No meu caso, 90 anos. E aí começa a perceber que o mundo não é mais aquele que você conheceu, especialmente não mais estão ali as pessoas que conheceu e amou. Quase todas desapareceram na invisibilidade. Bem sei que é uma ausência temporária, pois lá estão na dimensão espiritual à nossa espera para as emoções do reencontro. Mas que umas tantas delas deixam aberto em nós um espaço maior, isso também é verdade.
Para mim a ausência mais doída é a da querida dona Helena, minha mãe.
Talvez você se lembre que eu abri para ela um capítulo especial no livro Nossos filhos são espíritos.
Ela partiu para o outro lado da vida em 1960, aos 66 anos. Eu tinha 40.
Portanto, já se passaram cinquenta anos. Ao longo desse tempo, muita coisa aconteceu, claro. Cerca de trinta deles, participando de trabalhos mediúnicos. Duas vezes ela me enviou mensagens psicografadas e uma vez falei com ela através de médium de minha confiança. Ela me proporcionou evidências indiscutíveis, citando fatos dos quais só ela e eu sabíamos.
Recentemente – cerca de um ano ou dois – tive com ela um sonho do qual só me ficou na memória de vigília um episódio marcante. No sonho, ela veio ao meu encontro e ajoelhou-se a meus pés.  Recuperado da impactante perplexidade que a cena me suscitou, ajoelhei-me também diante dela e o trocamos um beijo saudoso, aqueles que somente ocorrem entre mãe e filho.
Bem, a historinha ainda não ficou aí concluída. Uma semana depois, recebi um e-mail de outra amiga, médium com a qual trabalhei num grupinho doméstico, do qual, entre outros queridos amigos e amigas, Deolindo Amorim sentava-se à minha esquerda e ela, à direita.
A amiga frequentava uma instituição espírita no Rio.
Dizia-me naquela carta inesperada que ao encerrarem-se os trabalhos mediúnicos da casa, aproximara-se dela uma entidade – que ela descreveu sumariamente, mas não da qual não guardara o nome. “Diga ao Herminio – pediu ela – que não foi somente um sonho. Houve um encontro real entre nós dois.”
A amiga médium, em conversa posterior comigo, ao telefone, acrescentou um detalhe que não mencionara no e-mail: o gesto dela se reportava à remota existência minha, aí pela Idade Média, quando eu lhe proporcionara a grande alegria, tornando-me sacerdote católico, sonho dela não realizado nesta vida.
Pois é, leitor/leitora.
Acho que não preciso falar de minha emoção ante esse recado.
Falo agora, porém, para encerrar esta narrativa, repetindo uma frase que usei certa vez e que assim diz:
“Se você perceber neste papel que está lendo, a marca de uma lágrima, não se preocupe. É minha.”

Artigo de Hermínio de Miranda
Site: Correio Fraterno

sábado, 6 de julho de 2013

Dissertação Sobre os Médiuns

XIII
Quando quiserdes receber as comunicações dos Espíritos bons, preparai-vos para essa graça através da concentração, das intenções puras e do desejo de praticar o bem em favor do progresso geral. Lembrai-vos de que o egoísmo sempre retarda a evolução. Lembrai-vos de que se Deus permite a alguns de vós receber o sopro de seus filhos que, por sua conduta, souberam merecer a ventura de compreender sua infinita bondade, é porque deseja, atendendo às nossas solicitações e tendo em conta as vossas boas intenções, conceder-vos os meios de avançar nesse caminho. Assim, pois, médiuns! Aproveitai essa faculdade que Deus vos concedeu. Tende fé na mansuetude de nosso Mestre. Ponde a caridade sempre em ação. Não deixeis jamais de praticar essa virtude sublime, bem como a tolerância. Que vossas ações estejam sempre em harmonia com a vossa consciência. É esse um meio certo de centuplicar vossa felicidade nesta vida passageira e de vos preparar uma existência mil vezes mais suave.
Que o médium que não se sinta com forças de preservar no ensino espírita se abstenha, pois não tornando proveitosa a luz que o esclareceu, será mais culpado e terá de espiar a sua cegueira.
PASCAL

Livro dos Médiuns : Cap. 31" Dissertações - Sobre os Médiuns item 13"
Allan Kardec- Tradutor: J.Herculano Pires

A Cólera

UM ESPÍRITO PROTETOR
Bordeaux, 1863

            9 – O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar, e a vos considerardes, ao contrário, de tal maneira acima de vossos irmãos, seja na finura de espírito, seja no tocante à posição social, seja ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e vos fere. E o que acontece, então? Entregai-vos à cólera.
            Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos brutos, fazendo-vos perder o sangue frio e a razão: procurai-a, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido. Não é acaso o orgulho ferido por uma contradita, que vos faz repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo a impaciência, causada pelas contrariedades, em geral pueris, decorre da importância atribuída à personalidade, perante a qual julgais que todos devem curvar-se.
            No seu frenesi, o homem colérico se volta contra tudo, à própria natureza bruta, aos objetos inanimados, que espedaça, por não o obedecerem. Ah!, se nesses momentos ele pudesse ver-se a sangue frio, teria horror de si mesmo ou se reconheceria ridículo! Que julgue por isso a impressão que deve causar aos outros. Ao menos pelo respeito a si mesmo, deveria esforçar-se, pois, para vencer essa tendência que o torna digno de piedade.
            Se pudesse pensar que a cólera nada resolve,que lhe altera a saúde, compromete a sua própria vida, veria que é ele mesmo a sua primeira vítima. Mas ainda há outra consideração que o deveria deter: o pensamento de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tiver coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer as criaturas que mais ama? E que mágoa mortal não sentiria se, num acesso de arrebatamento, cometesse um ato de que teria de recriminar-se por toda a vida!
            Em suma: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser suficiente para incitar os esforços por dominá-la. O espírita, aliás, é incitado por outro motivo: o de que ela é contrária à caridade e à humildade cristãs.       
*
HAHNEMANN
Paris, 1863
                                             
            10 – Segundo a idéia muito falsa de que não se pode reformar a própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se compraz voluntariamente, ou que para isso exigiriam muita perseverança. É assim, por exemplo, que o homem inclinado à cólera se desculpa quase sempre com o seu temperamento. Em vez de se considerar culpado, atribui a falta ao seu organismo, acusando assim a Deus pelos seus próprios defeitos. É ainda uma conseqüência do orgulho, que se encontra mesclado a todas as suas imperfeições.
            Não há dúvida que existem temperamentos que se prestam melhor aos atos de violência, como existem músculos mais flexíveis, que melhor se prestam a exercícios físicos. Não penseis, porém, que seja essa a causa fundamental da cólera, e acreditai que um Espírito pacífico, mesmo num corpo bilioso, será sempre pacífico, enquanto um Espírito violento, num corpo linfático, não seria mais dócil. Nesse caso, a violência apenas tomaria outro caráter. Não dispondo de um organismo apropriado à sua manifestação, a cólera seria concentrada, enquanto no caso contrário seria expansiva.
            O corpo não dá impulsos de cólera a quem não os tem, como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem que é deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nada tem com isso, mas pode modificar o que se relaciona com o Espírito, quando dispõe de uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam aos vossos olhos? Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer. De outra maneira, a lei do progresso não existiria para o homem.

Fonte: O Evangelho Segundo O Espiritismo. Cap. 9 Bem Aventurados Os Mansos e Pacíficos itens 9 e 10
Allan Kardec- Tradutor: João Herculano Pires

Conhecendo o Livro " O Céu e o Inferno " Suicidas- Parte 9

ANTOINE BELL

Era o caixa de uma casa bancária do Canadá e suicidou-se a 28 de fevereiro de 1865. Um dos nossos correspondentes, médico e farmacêutico residente na mesma cidade, deu-nos dele as informações que se seguem:
"Conhecia-o, havia perto de 20 anos, como homem pacato e chefe de numerosa família. De tempos a certa parte imaginou ter comprado um tóxico na minha farmácia, servindo-se dele para envenenar alguém. Muitas vezes vinha suplicar-me para lhe dizer a época de tal compra, tomado então de alucinações terríveis. Perdia o sono, lamentava-se, batia nos peitos. A família vivia em constante ansiedade das 4 da tarde às 9 da manhã, hora esta em que se dirigia para a casa bancária, onde, aliás, escriturava os seus livros com muita regularidade, sem que jamais cometesse um só erro. Habitualmente dizia sentir dentro de si um ente que o fazia desempenhar com acerto e ordem a sua contabilidade. Quando se afigurava convencido da extravagância das suas idéias, exclamava: - "Não; não; quereis iludir-me... lembro-me... é a verdade..."
A pedido desse amigo, foi ele evocado em Paris, a 17 de abril de 1865.
1. - Evocação. - R. Que pretendeis de mim? Sujeitar-me a um interrogatório? É inútil, tudo confessarei.
2. - Bem longe de nós o pensamento de vos afligir com perguntas indiscretas; desejamos saber apenas qual a vossa posição nesse mundo, bem como se poderemos ser-vos úteis... - R. Ah! Se for possível, ser-vos-ei extremamente grato. Tenho horror ao meu crime e sou muito infeliz!
3. - Temos a esperança de que as nossas preces atenuarão as vossas penas. Afigura-se-nos que vos achais em boas condições, visto como o arrependimento já vos assedia o coração - o que constitui um começo de reabilitação. Deus, infinitamente misericordioso, sempre tem piedade do pecador arrependido. Orai conosco. (Faz-se a prece pelos suicidas, a qual se encontra em O Evangelho segundo o Espiritismo.)
Agora, tende a bondade de nos dizer de quais crimes vos reconheceis culpado. Tal confissão, humildemente feita, ser-vos-á favorável.
- R. Deixai primeiro que vos agradeça por esta esperança que fizestes ralar no meu coração. Oh! há já bastante tempo que vivia numa cidade banhada pelo Mediterrâneo. Amava, então, uma bela moça que me correspondia; mas, pelo fato de ser pobre, fui repelido pela família. A minha eleita participou-me que desposaria o filho de um negociante cujas transações se estendiam para além de dois mares, e assim fui eu desprezado. Louco de dor, resolvi acabar com a vida, não sem deixar de assassinar o detestado rival, saciando o meu desejo de vingança. Repugnando-me os meios violentos, horrorizava-me a perpetração do crime, porém o meu ciúme a tudo sobrepujou. Na véspera do casamento, morria o meu rival envenenado, pelo meio que me pareceu mais fácil. Eis como se explicam as reminiscências do passado... Sim, eu já reencarnei, e preciso é que reencarne ainda... Oh! meu Deus, tende piedade das minhas lágrimas e da minha fraqueza!
4. - Deploramos essa infelicidade que retardou vosso progresso e sinceramente vos lamentamos; dado, porém, que vos arrependais, Deus se compadecerá de vós. Dizei-nos se chegastes a executar o vosso projeto de suicídio...
- R. Não; e confesso, para vergonha minha, que a esperança se me desabrochou novamente no coração, com o desejo de me aproveitar do crime já cometido. Traíram-me, porém, os remorsos e acabei por expiar, no último suplício, aquele meu desvario: enforquei-me.
5. - Na vossa última encarnação tínheis a consciência do mal praticado na penúltima?
- R. Nos últimos anos somente, e eis como: - eu era bom por natureza, e, depois de submetido, como todos os homicidas, ao tormento da visão perseverante da vítima, que me perseguia qual vivo remorso, dela me descartei depois de muitos anos, pelo meu arrependimento e pelas minhas preces. Recomecei outra existência - a última -que atravessei calmo e tímido. Tinha em mim como que vaga intuição da minha inata fraqueza, bem como da culpa anterior, cuja lembrança em estado latente conservara.
Mas um Espírito obsessor e vingativo, que não era outro senão o pai da minha vítima, facilmente se apoderou de mim e fez reviver no meu coração, como em mágico espelho, as lembranças do passado.
Alternadamente influenciado por ele e por meu gula, que me protegia, eu era o envenenador e ao mesmo tempo o pai de família angariando pelo trabalho o sustento dos filhos. Fascinado por esse demônio obsessor, deixei-me arrastar para o suicídio. Sou muito culpado realmente, porém menos do que se deliberasse por mim mesmo. Os suicidas da minha categoria, incapazes por sua fraqueza de resistir aos obsessores, são menos culpados e menos punidos do que os que abandonam a vida por efeito exclusivo da própria vontade.
Orai comigo para que o Espírito que tão fatalmente me obsidiou renuncie à sua vingança, e orai por mim para que adquira a energia, a força necessária para não ceder à prova do suicídio voluntário, prova a que serei submetido, dizem-me, na próxima encarnação.
Ao guia do médium: - Um Espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio?
- R. Certamente, pois a obsessão que, de si mesma, é já um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpabilidade. O homem dispõe sempre do seu livre-arbítrio e, conseguintemente, está em si o ceder ou resistir às sugestões a que o submetem.
Assim é que, sucumbindo, o faz sempre por assentimento da sua vontade. Quanto ao mais, o Espírito tem razão dizendo que a ação instigada por outrem é menos culposa e repreensível, do que quando voluntariamente cometida. Contudo, nem por isso se inocenta de culpa, visto como, afastando-se do caminho reto, mostra que o bem ainda não está vinculado ao seu coração.
6. - Como, apesar da prece e do arrependimento terem libertado esse Espírito da visão tormentosa da sua vitima, pôde ele ser atingido pela vingança de um obsessor na última encarnação?
- R. O arrependimento, bem o sabeis, é apenas a preliminar indispensável à reabilitação, mas não é o bastante para libertar o culpado de todas as penas. Deus não se contenta com promessas, sendo preciso a prova, por atos, do retorno ao bom caminho. Eis por que o Espírito é submetido a novas provações que o fortalecem, resultando-lhe um merecimento ainda maior quando delas sai triunfante.
O Espírito só arrosta com a perseguição dos maus, dos obsessores, enquanto estes o não encontram assaz forte para resistir-lhes. Encontrando resistência, eles o abandonam, certos da inutilidade dos seus esforços.
    Nota - Estes dois últimos exemplos mostram-nos a renovação da mesma prova em sucessivas encarnações, e por tanto tempo quanto o da sua ineficácia. Antoine BeIl patenteia-nos, enfim, o fato muito instrutivo do homem perseguido pela lembrança de um crime cometido em anterior existência, qual um remorso e um aviso. Vemos ainda por aí que todas as existências são solidárias entre si; que a justiça e bondade divinas se ostentam na faculdade ao homem conferida de progredir gradualmente, sem jamais privá-lo do resgate das faltas; que o culpado é punido pela própria falta, sendo essa punição, em vez de uma vingança de Deus, o meio empregado para fazê-lo progredir.

EADE - Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita - Livro 1 - Cristianismo e Espiritismo - Roteiro 15 - Módulo 2- As Epístolas de Paulo (2)



EADE - LIVRO I
ROTEIRO
15
Objetivos
Analisar os principais ensinos existentes nas epístolas destinadas
aos gálatas, aos efésios, aos filipenses e aos colossenses.
IDÉIAS PRINCIPAIS
CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
MÓDULO II - O CRISTIANISMO
Na epístola aos gálatas, Paulo faz uma súplica continuada e apaixonada sobre
as necessidades dos cristãos se manterem fiéis ao Evangelho.
Em efésios, o missivista evidencia preocupação de a comunidade cristã de
Éfeso não se deixar conduzir pelas idéias dos filósofos, artistas, retóricos e
historiadores contrárias aos ensinos evangélicos.
Na carta dirigida aos filipenses encontramos refletidos o amor e consideração
que o apóstolo dos gentios tinha pelos cristãos de Filipos, dedicados servidores
do Cristo.
A epístola de colossos recebe de Paulo alertas contra idéias estranhas, oriundas
das práticas pagãs, que poderiam contaminar a mensagem do Evangelho.
AS EPÍSTOLAS DE PAULO (2)
1. Epístola aos gálatas
Os gálatas viveram na Galácia, antiga província romana, região situada
no centro da Ásia Menor (atualmente, fica próxima de Ancara, na Turquia). A
Galácia original era formada de diversos povos e abrigava várias comunidades
cristãs primitivas. 1
Os gálatas originais eram celtas que, vindo da Europa central, tinham invadido a Ásia
Menor e se estabeleceram ali no século III a.C. Mas os soberanos da Galácia estenderam
seu poder sobre os territórios vizinhos, povoados por outros grupos étnicos; esses grupos
foram incluídos na província da Galácia e eram gálatas no sentido político, embora não
no sentido étnico. Alguns desses grupos pertenciam as cidades de Antioquia da Psídia,
Icônio, Listra e Derbe, que foram evangelizadas por Paulo e Barnabé por volta de 47
d.C. 2
Nessa carta, escrita, possivelmente, entre 48 e 55, foi enviada, em especial
às igrejas de Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe e, talvez, à Galácia
étnica. Paulo faz uma apaixonada súplica aos cristãos das diferentes igrejas
para que não se desviem do Evangelho. 3
Eles [...] estavam propensos a dar ouvidos a certos mestres que os exortavam a acrescentar
à sua fé em Cristo alguns traços característicos do Judaísmo, em particular a circuncisão.
Esses mestres tentavam também diminuir a autoridade de Paulo, insistindo em que ele
estava em dívida para como os líderes eclesiais de Jerusalém por sua delegação apostólica
e não tinham nenhum direito de desvia-los da prática [judaica] de Jerusalém. A epístola
pode ser lida contra o pano de fundo do ressugirmento do nacionalismo militante da
SUBSÍDIOS
MÓDULO II
Roteiro 15
EADE - Roteiro 15 - As epístolas de Paulo (2)
Judéia nos anos após 44 d.C. Esses militantes (que vieram a ser chamados de zelotes)
tratavam os judeus que confraternizavam com gentios como traidores. 3
1.1 - Síntese dos principais ensinos da epístola aos gálatas
A análise dos ensinamentos que se seguem deve considerar, sempre, a ação
dos zelotes que desejavam, por um lado, que os judeus convertidos voltassem ao
Judaísmo, e, por outro, desmoralizar a mensagem cristã e a Paulo, considerado
traidor por ter-se tornado cristão.
• Constância na fé cristã
“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à
graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, mas há alguns que
vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós
mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos
tenho anunciado, seja anátema. Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo
também vo-lo digo: se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já
recebestes, seja anátema. Porque persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou
procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria
servo de Cristo. Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi
anunciado não é segundo os homens, porque não o recebi, nem aprendi de
homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo. [...] Nós somos judeus por
natureza e não pecadores dentre os gentios. Sabendo que o homem não é justificado
pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em
Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei,
porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. Pois, se nós, que
procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados
pecadores, é, porventura, Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma.
[...] Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade,
a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já representado como crucificado?
Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou
pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito,
acabeis agora pela carne?” (Gl 1:8-12; 2:15-17; 3:1-4)
• Fidelidade ao Cristo
“É evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus, porque
o justo viverá da fé. Ora, a lei não é da fé, mas o homem que fizer estas coisas
por elas viverá. [...] De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir
a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados. Mas, depois que a fé veio, já
não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo
Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de
Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho
nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo,
então, sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa.” (Gl 3:
11-12, 22-29)
• O homem com o Cristo é livre
“Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis
a meter-vos debaixo do jugo da servidão. Eis que eu, Paulo, vos digo que, se
vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. [...] Porque nós,
pelo espírito da fé, aguardamos a esperança da justiça.Porque, em Jesus Cristo,
nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas, sim, a fé que
opera por caridade. [...]Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não
useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros
pela caridade. Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o
teu próximo como a ti mesmo. [...] Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra
essas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as
suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no
Espírito. (Gl 5: 1-2, 5-6, 13-14,22-25)
A carta aos gálatas sintetiza a necessidade de se manter fiel ao Cristo em
benefício do próprio progresso espiritual.
Um dos maiores desastres no caminho dos discípulos é a falsa compreensão com que
iniciam o esforço na região superior, marchando em sentido inverso para os círculos
da inferioridade. Dão, assim, a idéia de homens que partissem à procura de ouro,
contentando-se, em seguida, com a lama do charco. [...]Observamos enfermos que se
dirigem à espiritualidade elevada, alimentando nobres impulsos e tomados de preciosas
intenções; conseguida a cura, porém, refletem na melhor maneira de aplicarem as
vantagens obtidas na aquisição do dinheiro fácil. [...]Numerosos aprendizes persistem
nos trabalhos do bem; contudo, eis que aparecem horas menos favoráveis e se entregam,
inertes, ao desalento, reclamando prêmio aos minguados anos terrestres em que tentaram
servir na lavoura do Mestre Divino e plenamente despreocupados dos períodos
multimilenários em que temos sido servidos pelo Senhor. Tais anomalias espirituais que
perturbam consideravelmente o esforço dos discípulos procedem dos filtros venenosos
compostos pelos pruridos de recompensa. Trabalhemos, pois, contra a expectativa de
retribuição, a fim de que prossigamos na tarefa começada, em companhia da humildade,
portadora de luz imperecível. 11
2. Epístola aos efésios
Os efésios eram os habitantes de Éfeso, cidade situada na costa odidental da Ásia Menor,
atualmente pertencente á Turquia. Era [...] sede da comunidade cristã a que a Epístola aos
efésios é dirigida. Geralmente reconhecida como a primeira e a mais notável metrópole
da província romana da Ásia. Éfeso desempenhou um papel histórico no movimento do
Cristianismo desde a Palestina até Roma. Atos [dos Apóstolos] descreve Éfeso como o
ponto culminante da atividade missionária de Paulo, e foi de Éfeso que Paulo escreveu as
Epístolas aos coríntios. [...] Do período clássico ao bizantino, Éfeso exerceu hegemonia
na região jônica. Era famosa pelos seus filósofos, artistas, poetas, historiadores e retóricos.
[...]. Não admira que Paulo seja visto ensinando “todos os dias na escola de Tirano”, em
Éfeso, durante dois anos (Atos, 19:9), que João tenha, ao que se conta, escrito o Quarto
Evangelho em Éfeso, e que tenha sido o local da conversão de Justino Mártir, o primeiro
filósofo cristão. 4
À época da instalação do Cristianismo primitivo, Éfeso possuía cerca de
250 mil habitantes, constituindo-se um dos centros urbanos e comerciais que
mais rapidamente cresceram nos domínios romanos do Oriente. Segundo
Flávio Josefo, embora na cidade existisse uma expressiva comunidade judaica,
de onde saíram inúmeros cristãos convertidos, a cidade também era famosa
como centro de magia e taumaturgia. Havia inúmeros exorcitas, judeus e
gentílicos, como o famoso pagão Apolônio de Tiana. Existiam também, ali,
inúmeros templos e panteões, objeto de cultos e rituais aos deuses, sendo o
mais importante o templo consagrado à deusa Artemisa, que foi considerado
uma das sete maravilhas do mundo antigo. 4
A epístola aos efésios foi escrita entre os anos 61-63, quando Paulo estava
preso, possivelmente em Roma, e faz parte do grupo das cartas denominadas
“epístolas do cativeiro.” 4 (Ef 1:1; 3:1-13; 4:1; 6: 19-22)
A autenticidade dessa epístola é questionada. Em 1729, o teólogo inglês
Edward Evanson colocou publicamente, pela primeira vez, a questão. No século
dezenove, estudiosos alemães chegaram à mesma conclusão: a epistola
não era de Paulo. Este é o pensamento atual, mantido pela maioria dos pes252
quisadores.
A autoria da carta é atribuída a Onésimo, «[...] o escravo foragido mencionado
na epístola de Paulo a Filêmon, que é depois identificado também
com o bispo de Éfeso que usava o nome Onésimo [...].» 5
2.1 - Síntese dos principais ensinos da epístola aos efésios
• A salvação pela graça
Trata-se de pensamento, existente no capítulo dois da epístola, que contraria
a salvação pela fé, defendido por Paulo na epístola aos romanos e na aos
gálatas. Este deve ter sido um dos pontos que suscitaram dúvidas nos estudiosos.
O estilo e a linguagem são também diferentes (são de natureza mais teológica).
Analisemos a seguinte ordem de idéias: “E vos vivificou, estando vós mortos
em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste
mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera
nos filhos da desobediência; entre os quais todos nós também, antes, andávamos
nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e
éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é
riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando
nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela
graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos
lugares celestiais, em Cristo Jesus [...]. Porque pela graça sois salvos, por meio
da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.” (Ef 2: 1-6, 8)
• A unidade da fé no Cristo
“Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro tempo, éreis gentios na carne
e chamados incircuncisão pelos que, na carne, se chamam circuncisão feita
pela mão dos homens; que, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados
da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo
esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes
estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a nossa
paz, o qual de ambos os povos fez um [...] Rogo-vos, pois, eu, o preso do
Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com
toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos
outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da
paz: há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma
só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um
só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos. Mas a
graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.” (Ef 2:
11-14; 4: 1-7)
• Santidade dos costumes
“E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam
também os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento,
separados da vida de Deus, pela ignorância que há neles, pela
dureza do seu coração, os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram
à dissolução, para, com avidez, cometerem toda impureza. [...]Pelo que
deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos
membros uns dos outros. Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a
vossa ira. Não deis lugar ao diabo. Aquele que furtava não furte mais; antes,
trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir
com o que tiver necessidade. Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe,
mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a
ouvem.” (Ef 4:17-19, 25-29)
• A armadura de Deus
“No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.
Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra
as astutas ciladas do diabo [...]. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para
que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois,
firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da
justiça,e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo
o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados
do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que
é a palavra de Deus [...].” (Ef 6:10-11, 13-17)
A epístola aos efésios indica que os aprendizes do Evangelho devem procurar
levar uma vida simples e desprendida, vigiando os pensamentos e atos.
Cada criatura dá sempre notícias da própria origem espiritual. Os atos, palavras e pensamentos
constituem informações vivas da zona mental de que procedemos. Os filhos da
inquietude costumam abafar quem os ouve, em mantos escuros de aflição. Os rebentos
da tristeza espalham o nevoeiro do desânimo. Os cultivadores da irritação fulminam o
espírito da gentileza com os raios da cólera. Os portadores de interesses mesquinhos
ensombram a estrada em que transitam, estabelecendo escuro clima nas mentes alheias.
Os corações endurecidos geram nuvens de desconfiança, por onde passam. Os afeiçoados
à calúnia e à maledicência distribuem venenosos quinhões de trevas com que se
improvisam grandes males e grandes crimes.
Os cristãos, todavia, são filhos da luz. E a missão da luz é uniforme e insofismável. Beneficia
a todos sem distinção. Não formula exigências para dar. Afasta as sombras sem
alarde. Espalha alegria e revelação crescentes. Semeia renovadas esperanças. Esclarece,
ensina, ampara e irradia-se. 12
3. Epístola aos filipenses
Filipenses eram os habitantes de Filipos.
Importante [...] cidade da Macedônia oriental, na Grécia, sede da comunidade cristã
a que a Epístola de Paulo aos filipenses é dirigida. Após a batalha decisiva de 42 a .C.,
nas proximidades da cidade, o imperador Otaviano havia feito de Filipos uma colônia
romana e dado a seus cidadãos os direitos e privilégios dos que nasciam e viviam em
Roma. Segundo o relato de Atos, a igreja de Filipos começou assim: Paulo, em sua segunda
viagem missionária, deixou Ásia Menor pela Macedônia, foi a Filipos, pregou o
Evangelho; Lídia, uma mulher proeminente daquela região, e alguns outros se tornaram
cristãos. Ao que parece a igreja foi abrigada inicialmente na casa de Lídia. Apesar dos
seus começos modestos, cresceu e se tornou uma ativa comunidade cristã, desempenhando
importante papel no evangelismo, partilhando prontamente suas próprias posses
materiais, mesmo em meio a extrema pobreza, e enviando generosamente um dos seus
para ajudar Paulo em seu trabalho para auxiliá-lo quando estava na prisão. Paulo visitou
essa igreja em pelo menos três ocasiões [...]. 6
A epístola traz um apelo do apóstolo aos cristãos, pedindo-lhes «[...] que
vivam de maneira condigna do Evangelho, em unidade, harmonia e generosidade,
sem lamúrias nem queixas, mantendo sempre diante de si Jesus Cristo
como modelo supremo de toda ação moral [...].» 7
A epístola destaca as qualidades de Timóteo e Epafrodito, exemplos de
trabalhadores cristãos fiéis, prometendo enviá-los a Filipos. «[...] Adverte-os
contra evangelistas judeus ou judaizantes cujos ensinamentos e práticas são
contrários ao Evangelho [...].» 7
A autenticidade da epístola aos filipenses não é posta em dúvida. O que se
supõe é que, originalmente, existiu um conjunto de bilhetes ou três pequenas
cartas, posteriormente reunidos numa única epístola. 8
EADE - Roteiro 15 - As epístolas de Paulo (2)
A comunidade de Filipos devotava especial afeto ao apóstolo dos gentios,
cumpriram fielmente as suas orientações e o auxiliou, dentro das suas possibilidades,
quando caiu prisioneiro na Tessalônica e em Corinto. 7 Paulo lhes
escreve agradecendo o auxílio, recebido por intermédio de Epafrodito. (Fl 4,
10-20)
Filipenses faz parte do grupo das “epístolas do cativeiro”. Paulo se encontrava
prisioneiro quando a escreveu, não se sabe exatamente onde: em Roma,
em Cesaréia da Palestina ou em Éfeso. 7
A carta aos filipenses é de natureza pouco doutrinária. «[...] É uma efusão
do coração, uma troca de notícias, uma advertência contra os “maus operários”
que destroem alhures os trabalhos do Apóstolo e bem poderiam atacar
também os seus caros filipenses [...].» 8 A epístola destaca também o valor da
humildade. 8
3.1 - Síntese dos principais ensinos da epístola aos filipenses
• Exemplo de vivência do Evangelho
Os filipenses cristãos formavam uma comunidade pobre de bens materiais,
mas sinceramente devotada ao Evangelho. Os filipenses jamais esqueceram as
lições que lhes foram ensinadas por Paulo, auxiliando-o quando esteve preso
e, recebendo deste, os sentimentos de afeto e reconhecimento. Os filipenses
foram cristãos que souberam colocar em prática a vivência da caridade.
“Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo,
sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa
cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora. Tendo por certo isto
mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de
Jesus Cristo. Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho
em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas
minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho. Porque
Deus me é testemunha das saudades que de todos vós tenho, em entranhável
afeição de Jesus Cristo. E peço isto: que a vossa caridade aumente mais e mais
em ciência e em todo o conhecimento.” (Fl 1: 3-9)
• Exortação à perseverança, ao amor fraternal e à humildade
“Somente deveis portar-vos dignamente conforme o Evangelho de Cris-
EADE - Roteiro 15 - As epístolas de Paulo (2)
to, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que
estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo
pela fé do evangelho. [...] Nada façais por contenda ou por vanglória, mas
por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. [...] De
sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha
presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a
vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto
o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. Fazei todas as coisas sem
murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos
de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual
resplandeceis como astros no mundo; retendo a palavra da vida, para que, no
Dia de Cristo, possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão.”
(Fl 1: 27; 2: 3, 12-16)
• Cuidados contra os maus obreiros. Cultivo dos bens espirituais
“Resta, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor. Não me aborreço de
escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós. Guardai-vos dos cães,
guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão! [...] Irmãos, quanto
a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendome
das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim,
prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
[...] Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai
assim firmes no Senhor, amados. [...] Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra
vez digo: regozijai-vos. Seja a vossa eqüidade notória a todos os homens. Perto
está o Senhor. Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições
sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de
graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos
corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. Quanto ao mais, irmãos,
tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que
é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude,
e se há algum louvor, nisso pensai.” (Fl 3:1-2, 13-14; 4:1, 4-8)
A carta de Paulo aos filipenses atesta que estes representavam um exemplo
de cristão que absorveu o sentido espiritual do Evangelho: fora da caridade
não há salvação.
A caridade é, invariavelmente, sublime nas menores manifestações, todavia, inúmeras
pessoas muitas vezes procuram limitá-la, ocultando-lhe o espírito divino. Muitos aprendizes
crêem que praticá-la é apenas oferecer dádivas materiais aos necessitados de pão e
teto. Caridade, porém, representa muito mais que isso para os verdadeiros discípulos do
Evangelho. [...] Caridade essencial é intensificar o bem, sob todas as formas respeitáveis,
sem olvidarmos o imperativo de auto-sublimação para que outros se renovem para a
vida superior, compreendendo que é indispensável conjugar, no mesmo ritmo, os verbos
dar e saber.[...] Bondade e conhecimento, pão e luz, amparo e iluminação, sentimento
e consciência são arcos divinos que integram os círculos perfeitos da caridade. Não só
receber e dar, mas também ensinar e aprender. 13
4. Epístola aos colossenses
Paulo enviou três cartas às comunidades cristãs da província romana da
Ásia. Colossos foi uma delas, cidade localizada a aproximadamente duzentos
quilômetros de Éfeso.
Colossos localizava-se no oeste da Ásia Menor, ao sul do rio Meandro (atual Menderes),
6,4 km a leste de Denilzli na Turquia de hoje. Era uma cidade comercial até ser
incorporada pela vizinha Laodicéia, e abrigou a comunidade cristã a quem foi dirigida
a epístola aos colossenses. 9
Paulo teve contato com os colossenses a partir do seu trabalho missionário
em Éfeso (Atos dos Apóstolos, capítulo 19) e auxiliado por muitos companheiros,
através dos quais diversas igrejas cristãs foram erguidas na Ásia romana,
como as do Vale do Lico, da Laodicéia e de Hierápolis. As comunidades cristãs
fundadas nessas localidades dependeram do esforço de Epafras, dedicado
discípulo de Paulo, que o via como “leal ministro do Cristo.” 9
A epístola aos colossenses faz parte do grupo das “epístolas do cativeiro”.
Paulo estava na prisão (provavelmente em Roma) [...]. A epístola aos colossenses parece ter
sido escrita bastante cedo no período que Paulo estava na prisão, por volta de 60-61 a.C.
Epafras fizera uma visita a Paulo em Roma e o informara do estado das igrejas no vale do
Lico. Embora grande parte do relato fosse animador, uma característica inquietante era o
ensinamento atraente, mas falso recentemente introduzido na congregação; se não fosse
contido, subverteria o Evangelho e poria os colossenses numa servidão espiritual. 9
A dificuldade relatada por Epafras estava relacionada à idolatria e aos maus
costumes pagãos (liberalidade sexual), uma vez que as comunidades cristãs, da
região, eram basicamente constituídas de gentios convertidos.
Existem dúvidas se a carta aos colossenses é de autoria de Paulo. Alguns
estudiosos entendem que o estilo pesado e repetitivo não é o usualmente utilizado
pelo apóstolo. Há dúvidas também relacionadas a certas idéias teológicas,
principalmente as que fazem alusão ao corpo do Cristo, ao Cristo como cabeça
do corpo e à igreja universal. 8 São idéias semelhantes às divulgadas pelos
gnósticos no século II d.C. Outras idéias que são combatidas, pretensamente
por Paulo, estão relacionadas a conceitos essênicos, comuns entre os judeus
que seguiam os preceitos dos essênios (poderes celestes e cósmicos), seita
existente à época do Cristo. 10
4.1 - Síntese dos principais ensinos da epístola aos colossenses
• Exortação à espiritualidade e ao amor fraternal
“Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de
cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são
de cima e não nas que são da terra [...].Mortificai, pois, os vossos membros
que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o apetite desordenado, a
vil concupiscência e a avareza, que é idolatria [...]. Mas, agora, despojai-vos
também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras
torpes da vossa boca. Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do
velho homem com os seus feitos. [...] Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus,
santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade,
mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos
uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos
perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade,
que é o vínculo da perfeição.
E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um cor-po,
domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em
vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos
uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor
com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras,
fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. (Cl 3:
1-2, 5, 8-9, 12-17)
A carta dirigida à comunidade cristã de Colossos evidencia o amor fraternal,
o espírito de cooperação que deve reger as relações interpessoais.
É impossível qualquer ação de conjunto, sem base na tolerância. Aprendamos com
o Cristo. A queixa desfigura a dignidade do trabalho, retardando-lhe a execução. Indispensável
cultivar a renúncia aos pequenos desejos que nos são peculiares, a fim de
conquistarmos a capacidade de sacrifício, que nos estruturará a sublimação em mais altos
níveis. Para que o trabalho nos eleve, precisamos elevá-lo. Para que a tarefa nos ajude,
é imprescindível nos disponhamos a ajudá-la. Recordemos que o supremo orientador
das equipes de serviço cristão é sempre Jesus. Dentro delas, a nossa oportunidade de
algo fazer constitui só por si valioso prêmio. Esqueçamo-nos, assim, de todo o mal, para
construirmos todo o bem ao nosso alcance. E, para que possamos agir nessas normas, é
imperioso suportar-nos como irmãos, aprendendo com o Senhor, que nos tem tolerado
infinitamente. 14



REFERENCIAS
1. BIBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo:
Paulus, 2002. Item: Introdução às epístolas de São Paulo, p. 1960.
2. ______. p. 1961.
3. ______. p. 1962.
4. DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Vol. 1: As pessoas e os lugares. Organizado por
Bruce M. Metzger, Michael D. Coogan. Traduzido por Maria Luiza X. de
A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, Item: Colossos, p. 43.
5. ______. Item: Éfeso, p. 65.
6. ______. p. 66.
7. ______. Item: Filipos, p. 92-93.
8. ______. Item: Galácia, p. 95.
9. ______. p. 95-96.
10. ______. p. 96.
11.XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 35.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 163 (Aprendamos com Jesus), p. 397-
398.
12. ______. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 27.ed. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. 155 (Contra a insensatez), p. 325-326.
13. ______. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 25.ed. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. 116 (Não só), p. 263-264.
14. ______. Cap. 160 (Filhos da luz), p. 357-358.