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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Mapeando os males do egoísmo

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)
 
 




O egoísmo só será superado quando o indivíduo buscar entender a sua realidade eminentemente espiritual
Decorridos 155 anos da publicação da primeira edição de O Livro dos Espíritos, marco inicial da era do Espírito imortal ou da imortalidade da alma, os mentores espirituais desse mundo têm apontado o egoísmo – assunto que sempre merece cuidadosa reflexão de nossa parte – como o maior entrave ao progresso humano. Nesse sentido, nos comentários referentes à pergunta nº 917 da citada obra, Allan Kardec concluiu que “O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes [...]”. O Codificador inferiu também que destruir uma e desenvolver a outra deve ser o objetivo de toda a criatura humana que almeja a felicidade – tanto quanto se é possível alcançá-la neste planeta – agora e no futuro.       
Basicamente, o egoísmo deriva da forte influência das coisas da matéria em nossa personalidade; por isso, é difícil eliminá-lo, mas não impossível. Explicitando mais os seus malefícios, Chico Xavier, já na condição de Espírito desencarnado, na obra que leva, aliás, o seu nome (psicografia de Carlos A. Bacelli), ponderou que “Todos os males que assolam a humanidade derivam do egoísmo; é ele o grande responsável pelos preconceitos de toda espécie – o orgulho racial, o fanatismo religioso, a ambição do poder: é ele que fomenta as guerras de extermínio, a subjugação de um povo por outro, o desequilíbrio que assola as mentes que articulam os atentados terroristas...”.
Infelizmente, nesse início de milênio, a civilização humana ainda se pauta, de maneira inequívoca, pelo comportamento egoístico, considerando que:
  • A pobreza e a desigualdade ocupam o primeiro lugar na hierarquia dos principais problemas da humanidade, segundo Koffi Annan, ex-Secretário Geral das Nações Unidas;
  • 1,4 bilhão de pessoas ainda vivem com menos de US$ 1,25 por dia;
  • 1,75 bilhão de pessoas vivem em situação de pobreza multidimensional, conceito elástico que abarca privações nas áreas da saúde, oportunidades econômicas, educação e padrões de vida;
  • 925 milhões sofrem de fome crônica;
  • 2,6 bilhões de pessoas não têm acesso a condições decentes de saneamento e 884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável;
  • 828 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento vivem em favelas, sem infraestruturas básicas ou inadequadas, tais como estradas, abastecimento de água encanada e eletricidade ou esgotos;
  • 796 milhões de adultos são analfabetos;
  • 8,8 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade morrem anualmente devido a problemas de saúde evitáveis;
  • Cerca de 75% da população não está coberta por sistemas de seguridade social adequados;
  • 150 milhões de pessoas sofrem anualmente catástrofes financeiras e 100 milhões são empurradas para níveis abaixo da linha de pobreza, quando obrigadas a pagar pelos serviços de saúde.
Paulo de Tarso não condena nem demoniza o dinheiro 
Vale acrescentar ainda que, de acordo com os dados do Ministério do Trabalho & Emprego, foram resgatados 41.451 trabalhadores no Brasil entre 1995 e 2011 encontrados em situação análoga à de escravo. Pior ainda: persistem os sinais convincentes de que tal abominação ainda esteja presente no território nacional. Subjacente a grande parte dos males acima descritos, está o notório e excessivo apego ao dinheiro como forma veemente de manifestação egoística. Prova dificílima para o Espírito que, se não bem aproveitada, pode levá-lo ao abismo. Por isso, Paulo de Tarso com acerto asseverou: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (I Timóteo, 6: 10).
Notem que Paulo não condena, abomina ou demoniza o dinheiro. Como pessoa inteligente, ele certamente sabia da importância desse elemento material para o adequado funcionamento das sociedades humanas. Ainda hoje precisamos ardentemente do       papel-moeda para o nosso sustento, preservação e equilíbrio econômico mundial. De fato, estamos ainda muito longe de vivermos numa economia baseada, por exemplo, no bônus-hora. Mas é previsível que à medida que avançarmos nas coisas do espírito, menos relevância o dinheiro terá em nossas vidas.
Tecendo outras relevantes considerações, o Espírito Emmanuel, na obra Caminho, Verdade e Vida (psicografia de Francisco C. Xavier), enfatiza, por sua vez, que o dinheiro que conquistamos pelos caminhos retos, abençoado pela claridade divina, é um amigo que nos busca a orientação sadia e a utilização humanitária. Mas o sábio mentor adverte igualmente: “Responderás a Deus pelas diretrizes que lhe deres e ai de ti se materializas essa força benéfica no sombrio edifício da iniquidade”.
Desse modo, possuir o dinheiro, em si, não é algo negativo; no entanto, as finalidades para as quais o direcionamos impactarão fortemente o nosso futuro. Por isso, o Espírito Emmanuel, em O Evangelho segundo o Espiritismo, observa que: “O egoísmo, chaga da humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem [...]”. Afinal, a maioria de nós traz em si, de maneira muito nítida ainda, essa nódoa. O próprio estilo de vida que adotamos – consumista e eminentemente voltado para a aquisição e o acúmulo de bens materiais em detrimento dos bens espirituais (virtudes) – favorece, como abordamos antes, o comportamento egoístico. 
Há pessoas incapazes de sacrificar-se pelo próximo 
Emmanuel esclarece a necessidade de “[...] Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo terreno. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens”. Emmanuel conclui o seu elevado pensamento externando o seguinte: “É... por essa lepra que se deve atribuir o fato de não haver ainda o cristianismo desempenhado por completo a sua missão [...]”. Desafortunadamente, continuamos a não entender que devemos nos empenhar para gerar bem-estar para todos e não apenas para alguns grupos.
Por fim, ele nos conclama a expulsarmos o egoísmo da Terra para que ela possa ascender na hierarquia dos mundos. Mas a condição sine qua non para que tal objetivo seja alcançado é expulsarmos esse sentimento pernicioso de nossos corações. Depreende-se, assim, que este é o único caminho para alcançarmos a maturidade espiritual.
O Espírito Irmão José, na obra Vigiai e Orai (psicografia de Carlos A. Bacelli), aborda outros aspectos inerentes ao sentimento de egoísmo que merecem igualmente reflexão de todos nós. Segundo esse sábio mentor, “Existem pessoas que não são capazes de sacrificar-se por ninguém”. De fato, é imperioso reconhecer que, às vezes, tais pessoas estão sob o nosso teto na condição de filho(a), marido ou esposa, ou até mesmo como mãe ou pai espalhando energias malsãs. “Não são capazes de deixar de ir a uma festa, para atender um amigo”, pondera o citado mentor. Seguindo essa linha de raciocínio, diríamos que as pessoas portadoras de tal perfil raramente saem da sua zona de conforto e, quando o fazem, estão claramente imbuídas de mau humor ou de interesse pessoal. Aliás, é altamente desagradável constatar que muitos pacientes internados em hospitais com doenças graves ficam sem visitas ou aguardam até um ano pela passagem de parentes.
Irmão José observa ainda que essas pessoas são incapazes de renunciar aos seus interesses (geralmente mesquinhos e egocêntricos), de rever uma posição, de algo compartilhar e até mesmo de considerar o outro como extensão delas próprias. Por terem a mente obnubilada não conseguem vislumbrar a obrigação moral de que devemos fazer aos outros o que, fundamentalmente, desejamos para nós próprios.
De maneira geral, o egoísmo pode ser considerado como um vício. É o vício de olhar só para si, para os próprios interesses pessoais; essencialmente, é a atitude viciosa de se importar apenas consigo mesmo e ninguém mais. A propósito, vemos na atualidade jovens viciados roubando coisas de valor de seus próprios lares – agindo egoisticamente por causa da drogadição – sem se importar com a dor e decepção que geram e nem com as consequências das suas loucuras. 
A prática do bem é essencial à nossa sanidade mental 
A análise do egoísmo também comporta uma faceta coletiva. As onipresentes greves de funcionários das companhias de Metrô, ônibus, trens, hospitais e segurança públicas são alguns exemplos insofismáveis da indiferença humana. Explorando um pouco mais os pensamentos do Irmão José, ele afirma que os egoístas são os primeiros “a se valerem da generosidade alheia”. Mais ainda: “Transvestem-se de humildade, mas se rebelam quando não são atendidos de imediato”. Paradoxalmente, “Esperam dos outros o que nunca deram a ninguém”. Desse modo, esclarece com muita propriedade o Espírito Chico Xavier que só através do nosso contato com a dor dos semelhantes para não sucumbirmos às nossas insanas crises narcisísticas.  E arremata, por fim, que: “A prática do bem aos semelhantes é essencial à nossa sanidade mental”.
Cremos que vale relembrar uma passagem contida na obra Dias Venturosos do Espírito Amélia Rodrigues (psicografia de Divaldo P. Franco) que traz o pensamento do próprio Cristo acerca de tão complexo assunto. Os ensinamentos são magnificamente claros e atualizados dado que o egoísmo é endêmico. Buscaremos apresentar um pequeno resumo da lição e recomendamos ao leitor interessado em colher mais informações que as busque na luminosa obra. Posto isto, lembra a mentora do além-túmulo que naquele dia – aliás, como sempre acontecia – o sermão do mestre havia atraído imensa multidão e a “Sua mensagem carregada de ternura e de esperança convidava essencialmente os ouvintes à transformação moral”.
Os pedidos de socorro eram inúmeros e os pedintes não demonstravam atenção para o visível cansaço e desgaste do Mestre inesquecível. Aliás, Amélia Rodrigues observa com precisão que “Na sua cegueira e desconcerto moral, as criaturas nunca veem as dores dos outros, suas dificuldades e problemas, diante dos próprios desafios”. Infelizmente, tal quadro não foi dissipado haja vista que os centros espíritas recebem enorme quantidade de pessoas nesse estado d’alma. E acrescenta ainda ela: “A ânsia de os solucionar torna-as indiferentes aos testemunhos silenciosos e afligentes que vergastam aqueles a quem recorrem, sem a menor consideração”.
Jesus, no entanto, atendera a todos com atenção e compaixão “até o momento em que Simão Pedro o resgatou da massa informe e insaciável”. Decorrido um intervalo para descanso e alimentação, na habitual reunião noturna de estudos, Simão, sob o efeito de um desagradável encontro que tivera com antigo desafeto que outrora o caluniara, e sentindo-se ainda magoado e ressentido, indagou-lhe – motivado por sincero desejo de aprender – como proceder diante dos que nos prejudicam e perturbam...  
O egoísmo é responsável por males incontáveis 
Jesus, solícito, respondeu-lhe com bondade: “Simão, os verdadeiros adversários do homem não se encontram fora dele, porém em seu mundo íntimo, perseguindo e inquietando-o sem termo [...]”.
Buscando obter mais esclarecimentos, perguntou-lhe ainda Simão quais eram os inimigos íntimos que carregamos dentro de nós. O Mestre foi extremamente didático ao explicar que: “Há três inimigos ferozes no imo do ser humano, que respondem por todas as misérias que assolam a sociedade, dilacerando os tecidos sutis da alma. Trata-se do egoísmo, do orgulho e da ignorância”. Tal diagnóstico ainda prevalece, pois vemos as terríveis consequências desses elementos produzindo sofrimento e aflição diariamente.
Continuando os seus ensinamentos, Jesus aduziu o seguinte:
“O egoísmo é algoz impiedoso, que junge a sua vítima ao eito da escravidão, tornando-a infeliz.
Graças a ele predominam os preconceitos sociais, as dificuldades econômicas, os problemas de relacionamento humano... Qual uma moléstia devoradora, se instala nos sentimentos e os estrangula com a força da própria loucura.
O egoísmo é responsável por males incontáveis que devastam a humanidade. O egoísta somente pensa em si, a nada nem a ninguém respeita na sanha de amealhar exclusivamente em benefício próprio, a tudo quanto ambiciona. Faz-se avaro e perverso, porque transita insensível às necessidades alheias.
Por sua vez, o orgulho é tóxico que cega e destrói os valores morais do indivíduo, levando-o a desconsiderar as demais criaturas que o cercam. Acreditando-se excepcional e portador de valores que pensa possuir subestima tudo para sobressair onde se encontra, exibindo a fragilidade moral e as distonias nervosas de que se torna vítima indefesa.
A ignorância igualmente escraviza e torna o ser déspota, indiferente a tudo quanto não lhe diz respeito diretamente, esquecido de que todas as pessoas são membros importantes e interdependentes do organismo social”. 
Ao egoísmo se deve sobrepor a solidariedade  
Pedro desejando aprender mais perguntou ao Messias como extirpar tais males da alma e quais antídotos poderiam ser usados para eliminá-los. E Jesus ofereceu-lhe a seguinte sublime orientação:
“Ao egoísmo se deve sobrepor a solidariedade, que abre os braços à gentileza e ao altruísmo.
O coração generoso é rico de dádivas. Quanto mais as reparte, mais possui, porque se multiplicam com celeridade.
A solidariedade anula a solidão e amplia o círculo de auxílios mútuos, dignificando o ser que se eleva emocionalmente, engrandecendo a vida e a humanidade.
O orgulho cede ante a humildade, que dimensiona a pessoa com a medida exata, descobrindo-lhe o significado, a sua realidade [...].
Sem a humildade o homem se rebela, porque não reconhece a fraqueza que lhe é peculiar, nem se dá conta, conscientemente, de que logo mais será desatrelado do carro orgânico, nivelando-se a todos os demais no vaso sepulcral...
À ignorância facultam-se o conhecimento e o dileto filho do sentimento maior, que é hálito do Pai vivificando tudo e todos, origem e finalidade do Universo: o amor!
[...]
A vitória real é sempre sobre si mesmo, nas províncias da alma.
O perdão às ofensas, o respeito ao direito alheio, a beneficência e a bondade são os filhos diletos do amor-conhecimento que voa em luz com asas de caridade, tornando o mundo melhor e todos os seres felizes”.
Após as profundas elucidações, Jesus silenciou. Em seguida, pôs-se a caminhar, enquanto os demais companheiros caíam em profunda meditação. Portanto, nós espíritas deveríamos nos considerar imensamente felizes por dispor de obras como aquela acima referenciada que traz esclarecimentos e informações da fonte mais pura. Concluindo, o egoísmo só será superado quando o indivíduo buscar entender a sua realidade eminentemente espiritual. O nosso modesto conselho é para que busquemos extirpar esse mal que carregamos em nós de eras incontáveis para nos credenciarmos à felicidade eterna. 
 
Bibliografia: 
Baccelli, C. A. (Pelo Espírito Irmão José). Vigiai e orai. 4ª edição. Uberaba: Editora Vitória, 2002, p. 169-170
Baccelli, C.A. (Pelo Espírito Francisco Cândido Xavier). O Espírito de Chico Xavier. 2ª edição. Uberaba: Liv. Espírita Edições “Pedro e Paulo”, 2004, p. 29, 122-123.
Franco, Divaldo P. (Pelo Espírito Amélia Rodrigues). (2009). Dias venturosos. 3ª edição. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada Editora, Cap. 15, p. 91-96.
Kardec, A. O Evangelho segundo o Espiritismo.  79ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1980, Cap. XI, p. 197-198.
Kardec, A. O  Livro dos Espíritos. 58ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1983, p. 422.
Leite, F. Famílias “esquecem” idosos em hospitais. Folha de São Paulo, São Paulo, 30 abr. 2006. Folha Cotidiano, p. C1.  
Ministério do Trabalho e Emprego. Trabalho Escravo no Brasil em Retrospectiva: Referências para estudos e pesquisas. p. 7, janeiro 2012.
Disponível em: http://portal.mte.gov.br
Acesso em 8 mai 2012.
Organização Internacional do Trabalho, (2011). Piso de Proteção Social para uma Globalização Equitativa e Inclusiva. Quadro 1 - A extensão do desafio social global, p. 22.
Disponível em: http://www.oit.org.br
Acessado em 28 mar 2012.
Xavier, F.C. (Pelo Espírito Emmanuel). Caminho, verdade e vida. 7ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1978, Cap. 57, p. 129-130.

Fonte: Revista eletrônica O Consolador

domingo, 16 de dezembro de 2012

Considerando a Obsessão

Manoel Philomeno de Miranda (espírito)
Com etiologia muito complexa, a alienação por obsessão continua sendo um dos mais terríveis flagícios para a Humanidade.
Não significando a morte o fim da vida, antes o inicio de nova expressão de comportamento, em que o ser eterno retorna ao Mundo Espiritual donde veio, a desencarnação liberta a consciência que jazia agrilhoada aos liames carnais, ora desarticulando, ora ampliando as percepções que melhor se fixaram nos painéis da mente, fazendo que o ser, agora livre do corpo físico, se revincule ou não aos sítios, pessoas ou aspirações que sustentou durante a vilegiatura carnal.
O amor, por constituir alta aspiração do Espírito, mantêm-no em comunhão com os objetivos superiores que lhe representam sustento e estímulo, na marcha do progresso. Assim, também, o ódio e todo o seu séqüito de paixões decorrentes do egoísmo e do orgulho, reatam os que romperam os grilhões da carne àqueles que foram motivo das suas aflições e angústias, especialmente se se permitiram guardar as idéias e reações negativas equivalentes.
Sutilmente a princípio, em delicado processo de hipnose, a idéia obsidente penetra a mente do futuro hóspede que, desguardado das reservas morais necessárias à manutenção de superior padrão vibratório, começa a dar guarida ao pensamento infeliz, incorporando-o às próprias concepções e traumas que vêm do passado, através de cujo comportamento cede lugar à manifestação ingrata e dominadora da alienação obsessiva.
Vezes outras, através do processo da agressividade violenta, com que a indução obsessiva desorganiza os registros mentais da alma encarnada, produz-se o doloroso e lamentável domínio que se transforma em subjugação de longo curso.
Noutras oportunidades, inspirando sentimentos nefastos, latentes ou não no paciente desavisado, os desencarnados em desdita nele instalam o seu baixo teor vibratório, logrando produzir variadas distonias psíquicas e emocionais, que o atormentam e desgovernam, graças à inditosa dependência em que passa a exaurir-se, a expensas da vontade escravizante do hóspede que o encarcera e aflige...
Pululam por toda parte os vinculados gravemente às Entidades perturbadoras do Mundo Espiritual inferior.
Obsidiados, desse modo, sim, somos quase todos nós, em demorado trânsito pelas faixas das fixações tormentosas do passado, donde vimos para as sintonias superiores que buscamos.
Muito maior, portanto, do que se supõe, é o número dos que padecem de obsessões, na Terra.
Lamentavelmente, esse grande flagelo espiritual que se abate sobre os homens, e não apenas sobre eles, já que existem problemas obsessivos de várias expressões, como os de um encarnado sobre outro, de um desencarnado sobre outro, de um encarnado sobre um desencarnado e, genericamente, deste sobre aquele, não tem merecido dos cientistas nem dos religiosos o cuidado, o estudo, o tratamento que exige.
Antes, vinculados a preconceitos injustificáveis, os cientistas e religiosos se entregavam à indiferença, quando não à perseguição sistemática aos portadores de obsessões, acreditando que, ao destruírem as vítimas de tão grave enfermidade, aniquilavam a ignorada causa do problema...
Aliás, ainda hoje, a situação. é idêntica, variando, apenas, na forma de encarar a questão.
Mesmo as modernas Ciências, que se preocupam em conhecer profundamente a psique humana, colocam, a priori, os problemas obsessivos à margem, situando-os em posições muito simplistas, já que os seus pesquisadores se encontram atados a raciocínios e conclusões de fisiologistas e psicólogos do século passado, que se diziam livres de qualquer vinculação com a alma...
Repontam, é verdade, aqui e ali, esforços individuais, tentando formular respostas claras e objetivas às tormentosas interrogações da afligente quão severa problemática, logrando admitir a possibilidade da interferência da mente desencarnada sobre o deambulante do escafandro orgânico.
Terapêutica salutar, porém, para a magna questão, é a Doutrina Espírita. Não apenas como profilaxia, mas, ainda, como terapêutica eficiente, por assentar as suas lições e postulados nos sublimes ensinamentos de Jesus-Cristo, com toda a justiça cognominado “O Senhor dos Espíritos”, graças à sua ascendência, várias vezes demonstrada, ante as Entidades ignorantes, perturbadoras e obsessoras.
A Allan Kardec, o ínclito Codificador do Espiritismo, coube a tarefa de aprofundar sondas e bisturis no organismo e na etiologia das alienações por obsessão, projetando luz, meridiana sobre a intricada enfermidade da alma. Kardec não somente estudou a problemática obsessiva, como também ofereceu medidas profiláticas e terapêutica salutar, firmado na informação dos Espíritos Superiores, na vivência com os obsidiados, como pela observação profunda e meticulosa com que elaborou verdadeiros tratados de Higiene Mental, que são as obras do Pentateuco Espírita, esse incomparável monólito de luz, que inaugurou era nova para a Ciência, para a Filosofia, tornando-se o Espiritismo a Religião do homem integral, da criatura ansiosa por religação com o seu Criador.
Diante de qualquer expressão em que se apresentem as alienações por obsessão ou em que se manifestem suas seqüelas, mergulhemos a mente e o coração no organismo da Doutrina Espírita, e, procurando auxiliar o paciente encarnado a desfazer-se do jugo constrangedor, não olvidemos o paciente desencarnado, igualmente infeliz, momentaneamente transformado em perseguidor ignorante, embora se dizendo consciente, mas sofrendo, de alguma forma, pungentes dores morais.
Concitemos o encarnado à reformulação de idéias e hábitos, à oração e ao serviço, porquanto, através do exercício da caridade, conseguirá, sensibilizar o temporário algoz, que o libertará, ou granjeará títulos de enobrecimento, armando-se de amor e equilíbrio para prosseguir em paz, jornada a fora.
... E em qualquer circunstância procuremos em Jesus, Mestre e Guia de todos nós, o amparo e a proteção, entregando-nos a Ele através da prece e da ação edificante, porque somente por meio do amor o homem será salvo, já que o amor é a alma da caridade.
Obsessões e obsidiados são as grandes chagas morais dos tumultuados dias da atualidade. Todavia, a Doutrina Espírita, trazendo de volta a mensagem do Senhor, em espírito e verdade, é o portal de luz por onde todos transitaremos no rumo da felicidade real que nos aguarda, quando desejemos alcançá-la.
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão pública da noite do dia 13-11-1976, no Centro, Espírita “Caminho da Redenção”, em Salvador, Bahia).
Reformador – maio de 1977

As Obsessões nos Evangelhos

Paulo Alves de Godoy
"E quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando repouso; e, não o encontrando, diz: Tornarei para minha casa, aonde sai.
E chegando, acha-a varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele entrando, habitam ali, e o último estado desse homem é pior do que o primeiro."
Lucas,11:24-26"
As páginas dos Evangelhos estão repletas de passagens as obsessões espirituais, sobejamente abordadas nas obras básicas do espiritismo.
Os versículos evangélicos que ensinam esta página, são decisivos da convocação dessa assertiva, representando uma ilustração típica feita por Jesus-Cristo sobre os casos de obsessão: Um espírito obsessor foi afastado de um homem e levado para o umbral ou para um plano espiritual compatível com seu estado vibratório. Andando por lá e não achando consolo, decidiu-se a voltar para as proximidades da criatura de quem foi afastado. Ali chegando, notou com surpresa, que o antigo perseguido não havia se moralizado, não havia tomado nova diretriz e permanecia distanciado do Bem, deixando, como decorrência, a porta aberta para a volta do perseguidor. Este, por sua vez, não contentou em voltar sozinho; foi e arranjou sete espíritos piores do que ele. Sob a influência dessa legião do mal, o estado do antigo perseguido se agravou, tornando-se muito pior do que antes.
É questão pacífica que todos os seres humanos, quando encarnam, assumem encargos para com a justiça Divina e, para que tenham sucesso no novo aprendizado torna-se imperioso que levem uma vida pautada nos moldes rígidos da moral e do equilíbrio desincumbindo-se, pelo menos parcialmente, daquilo que se comprometeram realizar.
A falta de satisfação dos compromissos assumidos, acarreta enfermidades que são autênticos avisos salutares para o espírito encarnado. De um modo geral, essas advertências se traduzem em perseguições espirituais sob a forma de obsessão, que persiste, diminui de intensidade ou cessa completamente, dependendo do rumo que o obsediado emprestar à sua vida.
Se o antigo perseguido decide-se a persistir na senda do erro, mergulhando-se na imoralidade, estará abrindo de par em par, as portas para a volta do obsessor, que retorna com fúria desdobrada, trazendo em sua companhia outros espíritos inferiores que passam a formar uma "legião", cuja ação nefasta faz com que a situação do obsediado se torne muito pior do que antes.
O homem, assoberbado por cogitações de ordem puramente material, esquece-se dos seus deveres mais fundamentais no campo da espiritualização, enveredando por caminhos dúbios que levam ao descalabro moral e fazem com que se torne dócil instrumento de espíritos que brilham pela falta de escrúpulo, não trepidando em contribuir decididamente para que seu perseguido se chafurde no lamaçal do erro e dos vícios.
Nos Evangelhos deparamos com a narração de vários casos de obsessões espirituais:
Em Lucas, 8:2, observamos que "algumas mulheres foram curadas de espíritos malignos e enfermidades, dentre elas Maria Madalena, de quem o Mestre expeliu sete espíritos imundos";
Marcos, 5:7-9, relata que um homem gadareno vivia assediado por espíritos obsessores. Quando Jesus se aproximou dele, passou a clamar com grande voz: "que tenho eu contigo, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? conjuro-te por Deus que não me atormentes." O Mestre, após ordenar que o espírito imundo saísse do homem, perguntou-lhe: "Qual é o teu nome? E ele respondeu, dizendo: Legião é o meu nome; porque somos muitos.
Segundo a descrição de Lucas, 9:38-42, um homem que tinha um filho atormentado por espírito maligno, dirigindo-se ao Messias, pediu: "Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que tenho. Eis que um espírito o toma, e de repente clama, e o despedaça, até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado. E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, e não o puderam. E Jesus, respondendo, disse: ö geração incrédula e perversa! até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei? Traze-me cá o teu filho. E quando vinha chegando, o espírito o derribou e convulsionou; porém Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino."
Existem muitos outros casos nos Evangelhos, tais como o do servo do centurião, da filha da mulher cananéia, da mulher paralítica, descrita em Lucas 13:10-17, sem falar no assedio dos espíritos inferiores no sentido de que os apóstolos Pedro e Paulo fossem frustrados em suas missões, conforme narrações contidas em Lucas, 22:31-34:
Disse Jesus a Pedro: "Simão, Simão, os espíritos das trevas vos pediram para vos cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos."
E na II Epístola aos Coríntios, 12:7-8, quando Paulo afirma: "E para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de "satanás" para me esbofetear, a fim de me não exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim."
Os casos de Maria Madalena e do Possesso Gadareno se enquadram melhor no ensinamento que serve de tópico para está página. é obvio que Madalena para ter chegado ao ponto de ter sete espíritos obsessores atormentando-a como autêntica legião, deve ter passado pelas fases mais brandas da obsessão, quando o obsediado recebe toda a sorte de advertências e amparo espirituais ( É a fase quando o espírito imundo tem saído, anda por lugares secos, buscando repouso). Dando de ombros a esses avisos salutares, o obsediado entra na fase mais aguda (quando o espírito achando a casa varrida e adornada, vai e leva consigo outros espíritos piores do que ele).
O Clarim Nº 15 de novembro de 1971

Os "obsessores", gente como a gente."(...)Creio que é em Emmanuel que a gente lê que o ódio é o amor que enlouqueceu.."

Os "obsessores", gente como a gente

Hermínio C. Miranda
Qualquer abordagem à complexa problemática da obsessão deve começar, a meu ver, com uma atitude preliminar de humildade e amor fraterno. Ainda que isto possa parecer mera pregação com um toque de falsa modéstia, não é nada disto. A humildade constitui ingrediente indispensável a qualquer tarefa de natureza mediúnica, dado que é ainda bastante limitado o conhecimento dessa preciosa faculdade humana. Temos de nos apresentar diante da tarefa com a honesta intenção de aprender com o seu exercício, ainda que, paradoxalmente, munidos de todo o conhecimento teórico que for possível adquirir previamente. Quando a gente pensa que já sabe tudo sobre mediunidade, eis que ela se revela sob aspectos que ainda não tínhamos percebido ou apresenta facetas desconhecidas e aparentemente inexplicáveis. É como se cada sessão tivesse uma espécie de individualidade diferente de todas as demais, ainda que semelhante em suas características básicas. tal como as pessoas, ou seja, tão iguais umas com às outras e, ao mesmo tempo, tão diferentes.
E por falar em pessoas, vamos colocar a segunda preliminar, a de que o trato com a obsessão deve ser iluminado pelo amor fraterno. Por uma razão tão simples e óbvia que parece infantil, mas que se põe como de vital importância para o bom êxito do trabalho pretendido, ou seja, a de que os espíritos são gente como a gente. E gente que sofre e que, portanto, precisa de compreensão e paciência. São pessoas em conflito consigo mesmas e, portanto, com outros, com o mundo, com a vida , com Deus e com o próprio amor. Creio que é em Emmanuel que a gente lê que o ódio é o amor que enlouqueceu.. É verdade e tanto é verdade que mesmo este amor enlouquecido ainda é amor; como temos tido oportunidade de observar tantas vezes.
Lembro-me de um caso desses em que foi por esse caminho que encontrei o acesso que buscava ao coração do manifestante enfurecido daquela noite. Sua desesperada indignação dirigia-se a uma mulher que, aparentemente, manipulara impiedosamente suas emoções no passado. Chegara para ele a hora da vingança e ele a exercia com toda a força de seu ódio, tentando convencer-se de que o fazia com o maior dos prazeres. Agora, sim, tinha-a em seu poder! Sustentava-se no rancor secular e era isso mesmo que ele dizia. Sem aquele ódio, não seria nada nem ninguém, pois aquilo acabara constituindo a razão de ser de sua existência. Em situações como essa, o ódio e o ilusório prazer da vingança funcionam como biombos atrás dos quais a gente esconde, pelo menos por algum tempo, as próprias frustrações e procura abafar a voz incorruptível da consciência. Enquanto procuramos cobrar faltas cometidas contra nós, esquecemos dos nossos crimes e afrontas à lei divina.
Esse era o cenário e esse era o drama que tínhamos diante de nós. Que estava ele na posição de um obsessor, estava. Não se importa se assim o considerássemos. A vingança, no seu entender, era direito que ninguém poderia contestar-lhe. "Ela não errou? A lei não diz que somos todos responsáveis pelos atos que praticados? E não diz mais que quem fere com a espada, com a espada será ferido? Esta aí no seu evangelho!", dizem os vitoriosos. "Ela é uma peste. Você nem imagina como aquela mulher é ruim! E agora que estou aqui, cobrando minha parte, vem vocês com peninha dela! E sabe de uma coisa? Não se meta nisso não. O caso é comigo. Deixa que eu resolvo!"
Esse é o tom. Como fazê-lo mudar, não apenas o discurso, mas o procedimento, a maneira de avaliar a situação e de redirecionar suas emoções em tumulto? E perguntam, às vezes: "Você não acha que eu tenho razão?" Até que sim, se examinarmos o problema na estreiteza do seu contexto pessoal. É compreensível o rancor, gerado por uma dolorosa decepção com a pessoa em quem confiou e à qual entregou seu próprio coração e até sua vida. Mas esse espaço mental é exíguo demais para se colocarem todos os dados do problema. A vida não é uma só, a lei não é punitiva, mas educativa, e, acima de tudo, não há sofrimento inocente, a não ser nos grandes lances do devotamento ao próximo, nas tarefas missionárias. Por outro lado, se a lei permite ou tolera a vingança, embora não a aprove jamais, é porque aquele que erra se expõe à correção. Os obsessores mais experientes, sabem que somente conseguem cobrar aquilo que têm como crédito pessoal, precisamente porque, segundo ensinou o Cristo, o "pecador se torna escravo do pecado" e não sai de lá enquanto não pagar até o último centavo, ou seja, enquanto restar um reclamo na sua própria consciência. Não é preciso que ninguém cobre, mesmo porque a dívida é com a lei, representada em cada um de nós no silêncio da intimidade, mas o vingador não quer saber de tais sutilezas.
Todo aquele que se expõe ao duro retorno do reajuste pode estar certo de haver-se atritado com alei anteriormente. A conclusão lógica e inescapável é a de que, quando o nosso querido passou pelo dissabor de uma traição ou do abandono, estava na fase de retorno, na sofrida simetria de seus equívocos anteriores. Isto, porém, nunca estamos prontos para admitir quando nos encontramos na dolorosa postura do obsessor. Achamos, então, que esta é a nossa vez. Que perdão, nada! Sempre que perdoei me dei mal, costumam dizer. Vence, no mundo, aquele que grita, impõe e domina, não o que abaixa cabeça e marca a si mesmo com o carimbo da covardia.
Em suma: o nosso querido obsessor não era diferente de nenhum de nós, ainda prisioneiros de paixões milenares que repercutem e ecoam de século em século e vão aos milênios. É um ser humano, uma pessoa, gente como a gente. O que ele deseja, embora nunca o admita espontaneamente, é que tenhamos paciência para ouvi-lo, compreendê-lo, cuidar da sua dor, ainda que, conscientemente, também não a reconheça. Por isso após todo o seu catártico destampatório, ele se mostrava convicto de estar coberto de razão e, por isso, vitorioso no seu valente debate com o grupo. Só nesse ponto, contudo, tinha alguma condição para nos ouvir. Até então fora dono absoluto da palavra, dos argumentos, da indignação, da situação, enfim. Ele perseguia a moça porque queria e porque podia fazê-lo e estamos conversados.
Estava, portanto, dando a conversa por encerrada e pronto para retomar logo sua tarefa de ficar à espreita da sua vítima, como o gato que vigia o rato, no preciso e curioso dizer de Kardec.
É nesses momentos, contudo, que a inspiração parece funcionar melhor e, por isso, nosso doutrinador comentou, como quem apenas dá conta de um fato óbvio por si mesmo: "Isto tudo quer dizer, então, que você ainda a ama, não é? Recuperado do momentâneo aturdimento, ele teve a honestidade e a bravura de reconhecer que sim, ainda a amava, a despeito de tudo. Tínhamos chegado, afinal, ao seu coração, ao âmago da sua angústia, ao núcleo de suas dores e até de suas esperanças. E mais uma vez tínhamos diante de nós não um implacável obsessor convencido do seu legítimo direito de cobrar uma falta cometida contra si mesmo, mas um ser humano igualzinho a nós, sofrido, solitário, perdido na sua dor, mas principalmente, no seu ódio que, afinal de contas, não passava de um grande e inesquecível amor enlouquecido. Pois não é isso mesmo que aconteceu com a gente? Ou já aconteceu? Não é um irmão(ou irmã) que ali está ansioso, na secreta esperança de que consigamos, afinal, convencê-lo de que ele ainda a ama? Por isso sempre digo a eles , e a mim também, que amar é um estranho verbo, porque não tem passado. Você não diz que amou alguém. Se amou mesmo, de verdade, então continua amando. Mário de Andrade dizia que amar é verbo intransitivo e tinha razão, mas é também defectivo, porque não se conjuga em tempo passado. O amor é para sempre. Por isso, também dizia Edgar Cayce que o amor não é possessivo, ele apenas é. Claro, ele é da essência de Deus e, portanto, do ser, isto é, de todos nós. E ser é verbo e é substantivo.
Foi por essas e outras que acabei descobrindo que o amor é também da essência da tarefa dita desobsessão e que prefiro conceituar como diálogo com atormentados companheiros de jornada evolutiva que, eventualmente, estejam vivendo dolorosos papéis de obsessor. Quem não se sentir em condições pessoais de ver no chamado obsessor uma pessoa humana como a gente mesmo, então deve dedicar-se a outra tarefa no grupo. A seara é imensa, não falta trabalho para ninguém. Já alertava o Cristo, ao seu tempo, que era necessário orar para que o Pai mandasse mais obreiros, sempre escassos e insuficientes. Com a sua deslumbrante lucidez, Paulo explicou para a posteridade as inúmeras tarefas à nossa disposição em qualquer grupamento humano que se propõe a servir ao próximo. É só ler, para recordar, os capítulos 12, 13, 14 da sua Primeira Epístola aos Coríntios, e que constituem o primeiro "Livro dos Médiuns" do cristianismo. Aqueles que desejarem devotar-se ao trabalho gratificante da desobsessão que leiam de maneira especial, demorada e meditada, o capítulo 13, no qual o tema tratado é o da caridade, ou seja, o amor atuante.
Por tudo isso e mais o que não ficou dito, entendo que , na tarefa chamada de desobsessão, o ingrediente básico é o amor, que sempre saberá como encontrar o que dizer ao ser humano que temos diante de nós na mesa mediúnica. Doutrinação é palavra inadequada para caracterizar esse trabalho. Que teria eu a ensinar ao companheiro ou à companheira que comparece ao grupo mediúnico? Não há como ensinar pontos doutrinários teóricos a quem está vivendo a realidade, que conhecemos mais pelo estudo do que pela vivência. Eis porque costumo dizer que muito pouco ou quase nada tenho ensinado às pessoas desencarnadas que comparecem aos nossos trabalhos mediúnicos. Em compensação, devo a todos eles ensinamentos preciosos, recortados diretamente das páginas pulsantes da vida. E por isso, nunca saberia expressar toda a minha gratidão pela oportunidade que me foi concedida de trabalhar junto dos queridos "obsessores".

Entrevista com Divaldo Franco - Segunda parte



O Consolador – Em suas viagens pelos continentes, qual foi a situação que mais marcou sua vida?
As situações que mais me marcaram nas diferentes viagens ao exterior foi sempre poder constatar que nunca nos encontramos a sós. Em momentos muito difíceis em países onde o Espiritismo era totalmente desconhecido, não falando o idioma local, sempre fui inspirado a tomar as decisões acertadas, equacionadas as dificuldades momentâneas que me constituíam desafios. Jamais me faltou esse concurso dos Espíritos superiores, que me proporcionaram divulgar a Doutrina Espírita com dignidade nos mais variados pontos do planeta, deixando sempre marcas positivas, espaços abertos para os que chegaram ou se apresentarão depois.

O Consolador – Temos visto muitas prá-ticas nas casas espíritas que causam depen-dência entre os freqüentadores e trabalha-dores, com hábitos desnecessários e muitas vezes místicos. A tolerância fraternal nos so-licita compreender o estágio de instituições e confrades, uma vez que nós mesmos dela também temos necessidade. Devemos dizer a esses companheiros sobre a inutilidade de algumas práticas que possamos presenciar ou nos dedicarmos simplesmente a divulgar o correto Espiritismo?
Acredito que ambas as formas estão corretas. No entanto, considero que o amor que devemos dedicar à Doutrina esteja acima das conveniências decorrentes das amizades e escrúpulos na abordagem das dificuldades que permeiam o nosso Movimento. Não raro, tais comportamentos inadequados que notamos em diversas casas espíritas são frutos da ignorância, do atavismo ancestral herdado de outras religiões, que são incorporadas às práticas espíritas. Desse modo, conversando com lealdade e em particular com os diretores da instituição, a nós nos cumpre o dever de orientar corretamente, apresentando a pulcritude do Espiritismo, de forma que sejam eliminados esses comportamentos doentios.

Como existem também aqueles indivíduos que se acreditam portadores do conhecimento integral e não aceitam a contribuição dos outros, ajamos conforme nos recomenda a consciência espírita, sem nos preocuparmos com as reações que venham a ocorrer. Como a nossa preocupação não deve ser a de agradar, mas a de esclarecer espiriticamente as criaturas, não receemos em ser leais à Codificação, mesmo quando tenhamos que pagar o ônus da incompreensão dos menos preparados doutrinariamente...

O Consolador – Muitos centros incen-tivam estudos intensos sobre romances e outras obras ditas como complementares em detrimento das obras da Codificação espírita. Que conseqüências doutrinárias esse comportamento poderá acarretar?
O dever básico do centro espírita é divulgar a doutrina conforme no-la ofereceu o egrégio Codificador nas obras básicas e na Revista Espírita entre janeiro de 1858 a março de 1869. O estudo do Espiritismo deve ser realizado nas obras fundamentais. Aquelas que são complementares, por mais respeitáveis que se apresentam, são confirmações e ampliações das obras básicas nas quais se alicerça a Doutrina Espírita.

Como estudar romances, ditos espíritas, sem o conhecimento do Espiritismo, ou mergulhar o pensamento no desdobramento de propostas que são ignoradas na sua estrutura inicial?

Espiritizar os indivíduos, afirma-me o Espírito Joanna de Ângelis, é a tarefa de todos aqueles que divulgam o Espiritismo, especialmente na instituição que lhe ostenta o nome.

O Consolador – Doutrina religiosa, sem dogmas propriamente ditos, sem liturgia, sem símbolos, sem sacerdócio organizado e sem rituais, ao contrário de quase todas as demais religiões, como entender a prática ou adoção de rituais no centro espírita?
A presença de quaisquer práticas ritualísticas no centro espírita desfigura-lhe a condição de fidelidade à Doutrina. Sendo o Espiritismo a religião cósmica do amor, não existem justificativas para quaisquer comportamentos supersticiosos e vinculados a outros credos, pois que proporciona a ligação da criatura com o Criador sem a necessidade de intermediários humanos ou circunstanciais, de pessoas ou de ritos extravagantes e desnecessários.

O Consolador – Considerando-se que o Espiritismo é uma religião eminentemente educadora e que o Espírito reencarna para aperfeiçoar-se, você não acha que as atividades que visam à evangelização da criança não têm recebido o apoio na proporção da importância da tarefa?
É de lamentar essa constatação em inúmeros centros espíritas. Acreditam os seus diretores que são imortais no corpo, sem a preocupação de preparar as novas gerações para os substituírem, tanto quanto trabalhar a criança, a fim de produzir uma sociedade feliz, sem vícios nem conflitos, que o Espiritismo dirime e equilibra.

Esse infeliz comportamento traduz a ignorância em torno da educação, que mereceu do insigne Allan Kardec, o nobre educador, páginas de relevante beleza.

Educar a criança de hoje, é dever inadiável, a fim de não se ter que punir o cidadão do futuro, conforme o pensamento de nobre filósofo grego...

O Consolador – Nota-se que há no meio espírita um verdadeiro movimento ico-noclasta que tem tachado pejorativamente de conservadores, de donos da verdade e de censores todos aqueles que se preocupam com a manutenção do nível de equilíbrio, de sobriedade, de fidelidade doutrinária. Será que esse movimento mundial de ques-tionamento de padrões éticos, que surgiu nas últimas décadas do século XX, está chegando ao Movimento Espírita?
Vivemos o momento da grande transição e é natural que ocorram fenômenos dessa natureza, especialmente quando se trata da preservação dos valores ético-morais da sociedade. O tédio emocional decorrente da exaustão dos sentidos no gozo da inutilidade e das paixões subalternas rebela-se contra tudo quanto invita à reflexão, à preservação do bom, do nobre, do belo, convidando à rebelião, às mudanças, na busca de novos estímulos para a sobrevivência daqueles que se lhe fazem vítimas.

O Espiritismo é doutrina grave e profunda, que não se adapta às novidades com que muitos desejam mascará-lo, de modo a permanecerem na futilidade e no sensacionalismo.

Aqueles espíritas sérios que zelam pela preservação dos valores doutrinários sobreviverão aos modismos, porque a Doutrina permanecerá conforme a recebemos de Allan Kardec e dos nobres Espíritos que a Codificaram e a desdobraram através dos anos.

O Consolador – Um fato bem peculiar em grande parte da Europa é a existência de Grupos Espíritas fundados e mantidos por brasileiros, cujos trabalhadores e freqüentadores são em sua maioria brasileiros. Poucos grupos conseguiram despertar nos europeus a vontade de aprender mais sobre a Doutrina Espírita, no seu tríplice aspecto. O que está faltando?
Acredito que essa é a fase inicial, decorrência natural da dificuldade de alguns grupos ainda não realizarem atividades no idioma do país em que se encontram. Por outro lado, a falta de livros traduzidos para os diversos idiomas – e que vem sendo solucionado pelo CEI com muita eficiência – também contribui para o desinteresse dos nacionais.

Esse esforço dos brasileiros é valioso sob todos os aspectos considerados: sustenta-lhes a fé, ajuda o seu próximo e oferece oportunidade de conhecer o Espiritismo àquele que, por acaso, se venha a interessar.

Esse fenômeno ocorreu também com o Cristianismo em Roma, convém lembrar. Ademais, conheço excelentes grupos na Europa que estão encontrando ressonância entre os nascidos nos países em que se encontram fixados. Aguardemos, confiantes, auxiliando esses admiráveis desbravadores.

O Consolador – Como conseguir estreitar mais estes laços e, por conseguinte, contar com a participação dos europeus nas atividades espíritas?
A questão é delicada, especialmente em se considerando que o Espiritismo não é doutrina que impõe, mas que expõe. O europeu, em geral, exceção aos da Península Ibérica, onde o Movimento espírita encontra-se muito bem organizado e difundido, sofreu muitas guerras, experimentou muitas dificuldades, cansou-se da fé religiosa que lhe foi oferecida e vive um período de agnosticismo, senão de materialismo, em alguns disfarçado em postura religiosa vazia de religiosidade...

Com os esforços que vêm sendo envidados pelas sociedades que estão conseguindo registros oficiais e do CEI, confiamos que haverá mais estreitamento entre os brasileiros e os europeus que simpatizam com o Espiritismo.

O Consolador – Quando gostamos muito de uma coisa, é natural que queiramos compartilhá-la. Por que evitarmos o proselitismo, se estamos plenamente convencidos de que o Espiritismo seria tão benéfico e consolador para todos?
O proselitismo, conforme vem sendo praticado por diversas seitas e doutrinas de variadas denominações, tem sido mais prejudicial do que útil, porque faz adeptos inconscientes, fanáticos, presunçosos...

O Espiritismo não deverá realizar esse tipo de divulgação, arrastando multidões para as suas fileiras, considerando os diversos níveis psicológicos de consciência em que se situam os indivíduos, o que não permite uma aglutinação na horizontal dos interesses.

É válida a tentativa de elucidar e conquistar novos adeptos, isto porém se dará no momento quando houver maior amadurecimento espiritual e moral dos indivíduos, após saturar-se das paixões dissolventes a que se aferram.

O Consolador – A todo instante somos colocados diante de situações que exigem nossa imediata avaliação e inevitável julgamento. Que fazer, no âmbito profissional ou familiar, para adotar o princípio cristão sem correr o risco de falharmos por omissão?
Como nos encontramos na Terra, torna-se inevitável que participemos dignamente das imposições vigentes no mundo, avaliando e julgando. Tenhamos como exemplo as autoridades que devem exercer as suas funções, os chefes de setores, os responsáveis por atividades que abrangem grupos humanos e sociais...

O não julgar a que se refere o Evangelho constitui uma advertência a não pensarmos mal dos outros, a não concluirmos apressadamente quando não conhecemos os fatos, a não atirarmos pedras em nosso próximo. Dispondo porém, de argumentos, de informações e dados, é-nos concedido o direito de avaliar e de julgar de maneira equilibrada, contribuindo para a regularização do que esteja errado, a fim de ser corrigido.

Não podemos concordar com tudo, o que nos pode empurrar para uma postura hipócrita, pusilânime ou conivente com o erro...

O Consolador – Qual o melhor caminho para que desenvolvamos dentro de nós o amor cristão pelo próximo, a bondade espontânea no coração e foquemos nossas vidas mais pelos caminhos da solidariedade, essa virtude ainda tão esquecida?
Confesso não conhecer esse melhor caminho. Na minha experiência de uma longa existência e como decorrência da convivência com os Espíritos amigos aprendi a compreender o meu próximo, tentando ser melhor, mesmo que, com dificuldades, permitindo que os outros pensem de mim o que lhes aprouver, enquanto estarei procurando pensar o melhor de todos... Tenho aprendido a não revidar o mal com o mal, e embora sabendo que tenho inimigos – em ambos os planos da Vida – luto para não ser inimigo de ninguém, e venho buscando cumprir com o dever com que sou honrado na atual reencarnação.

O Consolador – Há um ano, quando comemorávamos 150 anos de existência de O Livro dos Espíritos, foi lançada esta Revista, redigida especialmente para circular na internet. Passados doze meses, que avaliação você faz da criação da revista e da importância da internet na difusão do Espiritismo no globo em que vivemos?
Recordo-me com imenso júbilo da planificação do primeiro número da nossa cara Revista eletrônica e acompanhei o seu processo de crescimento e de qualidade, graças à cooperação de novos articulistas, entrevistados e a segura direção dos caros Astolfo e José Carlos.

A internet, como tudo que o homem toca e corrompe infelizmente, tornou-se veículo de informações incorretas, de agressões, de desmoralizações, de infâmias, de degradação e de crime... mas também de grandiosas realizações que dignificam o gênero humano e preparam a sociedade para dias mais belos e mais felizes.

Nesse sentido, a Revista vem realizando o seu papel de difundir o Espiritismo com elegância, nunca se permitindo vulgaridade, qualquer tipo de arrogância ou de combate inútil, fiel aos postulados da Codificação, o que me faz recordar os excelentes artigos da Revue Spirite, fundada e dirigida por Allan Kardec até a data da sua desencarnação – 31/03/1869 – cujo sesquicentenário comemoramos desde janeiro próximo passado.

Penso que se Allan Kardec estivesse reencarnado, nestes dias, utilizar-se-ia da internet com a mesma nobreza com que recorreu à imprensa do seu tempo na divulgação e defesa do Espiritismo diante dos seus naturais adversários.

Parabéns à Revista eletrônica, aos seus diretores e a todos os seus cooperadores.
Fonte: Jornal Mundo Espírita - Agosto/2008


 

sábado, 15 de dezembro de 2012

O Aprendiz Desapontado:..."- O primeiro caminho para o Céu é a obediência e, o segundo, é o trabalho..."

O Aprendiz Desapontado
Um menino que desejava ardentemente residir no Céu, numa
bonita manhã, quando se encontrava no campo, em companhia de
um burro, recebeu a visita de um Bom Espírito.
Reconheceu, depressa, o emissário de Cima, pelo sorriso bondoso
e pela veste resplandecente.
O rapazelho gritou:
- Mensageiro de Jesus, quero o paraíso! Que fazer para chegar até
lá?!
O Espírito respondeu com gentileza:
- O primeiro caminho para o Céu é a obediência e, o segundo, é o
trabalho.
O pequeno, que não parecia muito diligente, ficou pensativo.
O enviado de Deus então disse:
- Venho a este campo, a fim de auxiliar a Natureza que tanto nos
dá.
- o menino ficou pensativo. E o Espírito convidou:
- Queres ajudar-me a limpar o chão, carregando estas pedras para
o fosso vizinho?
O menino respondeu:
- Não posso.
O emissário celeste se dirigiu ao burro:- Você quer ajudar-me?
O animal pacientemente,transportou tudo.
O Espírito passou a dar ordens: - Abramos um caminho.
- Eu não! Disse o menino.
- Ajudarei... prontificou-se o burro.
-Vamos mover o arado. Sugeriu o Espírito.
-Safa! Não quero nada , disse o menino.
-Eu ajudo... apresentou-se o burro
Durante a sementeira, o pequeno repousava e o burro trabalhava.
Abriram um filete de água.
O jovem, cheio de saúde e de leveza, permanecia amuado,
choramingando sem razão.
No fim do dia, o campo estava lindo.
Canteiros bem desenhados surgiam ao centro, ladeados por fios
de água benfeitora.
As árvores pareciam orgulhosas de proteger os canteiros. O vento
parecia um sopro divino no matagal.
A Lua espalhou intensa claridade.
O Espírito abraçou o obediente animal.
- Deus abençoe sua contribuição, meu amigo, disse o Espírito.
O menino viu que o mensageiro se punha de volta, gritou,
ansioso:
- Espírito querido, quero seguir contigo, quero ir para o Céu!...
O emissário divino respondeu, porém:
- O paraíso não foi feito para gente preguiçosa.
E o emissário informou:
Se você deseja encontrá-lo, aprende primeiramente a obedecer
com o burro que soube ser disciplinado e educado também.
E assim esclarecendo subiu para as estrelas, deixando o rapazinho
desapontado, mas disposto a mudar de vida.

A Vida Fala.
Néio Lúcio/Chico Xavier

O Poder Da Gentileza:..."O exemplo é mais vigoroso que a argumentação. A gentileza está revestida, em toda parte, de glorioso poder."

O Poder Da Gentileza
Eminente professor negro, interessado em fundar uma escola num
bairro pobre, onde centenas de crianças desamparadas cresciam
sem o benefício das letras, foi recebido pelo prefeito da cidade.
O prefeito ouvir-lhe o plano e disse-lhe:
- A lei e a bondade nem sempre podem estar juntas. Organize uma
casa e autorizaremos a providência.
O benfeitor dos meninos desprotegidos considerou:
- Mas doutor, não dispomos de recursos... Que fazer?
- De qualquer modo, cabe-nos amparar os pequenos analfabetos.
Diante de sua figura humilde, o prefeito disse:
- O senhor não pode intervir na administração.
O professor muito triste, retirou-se e passou a tarde e a noite
daquele sábado, pensando, pensando...
Domingo, muito cedo saiu a passear, sob as grandes árvores, na
direção de antigo mercado.
Ia comentando, na oração silenciosa:
- Meu Deus como agir? Não receberemos um pouso para as
criancinhas, Senhor?
Absorvido na meditação, atingiu o mercado e entrou.
O movimento era enorme. Muitas compras. Muita gente.
Certa senhora, de apresentação distinta, aproximou-se dele e
tomando-o por servidor vulgar, de mãos desocupadas e cabeça
vazia, exclamou:
- Meu velho, venha cá.
O professor acompanhou-a sem vacilar.
À frente dum saco enorme, em que se amontoavam mais de trinta
quilos de verdura, a matrona recomendou:
- Traga-me esta encomenda.
Colocou ele o fardo às costas e seguiu-a.
Caminharam seguramente uns quinhentos metros e penetraram
elegante vivenda, onde a senhora voltou a solicitar:
- Tenho visitas hoje. Poderá ajudar-me no serviço geral?
- Perfeitamente – respondeu o interpelado -, dê suas ordens.
Ela indicou pequeno pátio e determinou-lhe a preparação de meio
metro de lenha para o fogão.
Empunhando o machado, o educador, com esforço, rachou
algumas toras.
Em seguida, foi chamado para retificar a chaminé. Consertou-a
com sacrifício da própria roupa.
Sujo de pó escuro, da cabeça aos pés, recebeu ordens de buscar
um peru assado. Pôs-se a caminho, trazendo o grande prato em
pouco tempo. Logo mais, atirou-se à limpeza de extenso recinto
em que se efetuaria lauto almoço.
Nas primeiras horas da tarde, sete pessoas davam entrada no
fidalgo domicílio. Entre elas, relacionava-se o prefeito que anotou
a presença do visitante da véspera, apresentado ao seu gabinete
por autoridades respeitáveis.
Reservadamente, indagou sua irmã, que era a dona da casa,
quanto ao novo conhecimento, conversando ambos na surdina.
Ao fim do dia, a matrona distinta e autoritária, com visível
desapontamento, veio ao servo improvisado e pediu o preço dos
trabalhos.
- Não pense nisto – respondeu com sinceridade -, tive muito
prazer em ser-lhe útil.
No dia imediato, contudo, a dama da véspera procurou-o, na sua
casa modesta em que se hospedava e, depois de rogar-lhe
desculpas, anunciou-lhe a concessão de amplo edifício, destinado
à escola que pretendia estabelecer. As crianças usariam o
patrimônio à vontade e o prefeito autorizaria a providência com
satisfação.
O professor teve os olhos úmidos a alegria e o reconhecimento... e
agradecendo e beijou-lhe as mãos, respeitoso.
A bondade dele vencera os impedimentos legais.
O exemplo é mais vigoroso que a argumentação.
A gentileza está revestida, em toda parte, de glorioso poder.

Livro : A Vida Fala
Néio Lúcio/ Chico Xavier

A TENTAÇÃO DO REPOUSO


Num campo de lavoura, grande quantidade de vermes desejava destruir
um velho arado de madeira, muito trabalhador, que lhes perturbava os planos
e, em razão disso, certa ocasião se reuniram ao redor dele e começaram a
dizer:
— Por que não cuidas de ti? Estás doente e cansado...
— Afinal, todos nós precisamos de algum repouso ...
— Liberta-te do jugo terrível do lavrador!
— Pobre máquina! A quantos martírios te submetes!...
O arado escutou... escutou... e acabou acreditando.
Ele, que era tão corajoso, que nem sentia o mais leve incômodo nas mais
duras obrigações, começou a queixar-se do frio da chuva, do calor do Sol, da
aspereza das pedras e da umidade do chão.
Tanto clamou e chorou, implorando descanso, que o antigo companheiro
concedeu-lhe alguns dias de folga, a um canto do milharal.
Quando os vermes o viram parado, aproximaram-se em massa, atacandoo
sem compaixão.
Em poucos dias, apodreceram-no, crivando-o de manchas, de feridas e de
buracos.
O arado gemia e suspirava pelo socorro do lavrador, sonhando com o
regresso às tarefas alegres e iluminadas do campo...
Mas, era tarde.
Quando o prestimoso amigo voltou para utilizá-lo, era simplesmente um
traste inútil.
A história do arado é um aviso para nós todos.
A tentação do repouso é das mais perigosas, porque, depois da
ignorância, a preguiça é a fonte escura de todos os males.
Jamais olvidemos que o trabalho é o dom divino que Deus nos confiou
para a defesa de nossa alegria e para a conservação de nossa própria saúde.

O PROBLEMA DA TENTAÇÃO


O educador, em aula, tentava explicar aos meninos que o móvel das
tentações reside em nós mesmos; contudo, como os aprendizes mostravam
muita dificuldade para compreender, ele se fez acompanhar pelos alunos até
ao grande pátio do colégio.
Ai chegando, mandou trazer uma bela espiga de milho e perguntou aos
rapazes:
— Qual de vocês desejaria devorar esta espiga tal como está?
Os jovens sorriram, zombeteiramente, e um deles exclamou:
— Ora vejam!... quem se animaria a comer milho cru?
O professor então mandou vir à presença deles um dos cavalos que
serviam à escola, instalou alguns obstáculos à frente do animal e colocou a
espiga ao dispor dele, sobre pequena mesa.
O grande eqüino saltou, lépido, os impedimentos e avançou, guloso, para
o bocado.
O professor benevolente e amigo esclareceu, então, bondosamente, ante
os alunos surpreendidos:
— A tentação nos procura, segundo os sentimentos que trazemos no
campo íntimo. Quando cedemos a alguma fascinação indigna, é que a nossa
vontade permanece fraca, diante dos nossos desejos inferiores. As forças que
nos tentam correspondem aos nossos próprios impulsos. Não podemos imaginar
ou querer aquilo que desconhecemos. Por esse motivo, necessitamos
vigiar o cérebro e o coração, a fim de selecionarmos as sugestões que nos
visitam o pensamento.
E, terminando, afirmou:
— As situações boas ou más, fora de nós, são iguais aos propósitos bons
ou maus que trazemos conosco.

Meimei/Chico Xavier
Livro : Pai Nosso

O EFEITO DA CÓLERA


Um velho judeu, de alma torturada por pesados remorsos, chegou, certo
dia, aos pés de Jesus, e confessou-lhe estranhos pecados.
Valendo-se da autoridade que detinha no passado, havia despojado
vários amigos de suas terras e bens, arremessando-os à ruína total e
reduzindo-lhes as famílias a doloroso cativeiro. Com maldade premeditada,
semeara em muitos corações o desespero, a aflição e a morte.
Achava-se, desse modo, enfermo, aflito e perturbado... Médicos não lhe
solucionavam os problemas, cujas raízes se perdiam nos profundos labirintos
da consciência dilacerada.
O Mestre Divino, porém, ali mesmo, na casa de Simão Pedro, onde se
encontrava, orou pelo doente e, em seguida, lhe disse:
— Vai em paz e não peques mais.
O ancião notou que uma onda de vida nova lhe penetrara o corpo,
sentiu-se curado, e saiu, rendendo graças a Deus.
Parecia plenamente feliz, quando, ao atravessar a extensa fila dos
sofredores que esperavam pelo Cristo, um pobre mendigo, sem querer, pisoulhe
num dos calos que trazia nos pés.
O enfermo restaurado soltou um grito terrível e atacou o mendigo a
bengaladas.
Estabeleceu-se grande tumulto.
Jesus veio à rua apaziguar os ânimos.
Contemplando a vítima em sangue, abeirou-se
do ofensor e falou:
— Depois de receberes o perdão, em nome de Deus, para tantas faltas,
não pudeste desculpar a ligeira precipitação de um companheiro mais desventurado
que tu?
O velho judeu, agora muito pálido, pôs as mãos sobre o peito e bradou
para o Cristo:
— Mestre, socorre-me!... Sinto-me desfalecer de novo... Que será isto?
Mas, Jesus apenas respondeu, muito triste:
- Isso, meu irmão, é o ódio e a cólera que outra vez chamaste ao próprio
coração.
E, ainda hoje, isso acontece a muitos que, por falta de paciência e de
amor, adquirem amargura, perturbação e enfermidade.

Meimei/Chico Xavier.
Livro :Pai Nosso