O
CÁLICE DA AMARGURA
"Prostrou-se
sobre o seu rosto, orando e dizendo:
Meu pai; se é possível,
passe de mim este cálice" todavia, não seja feito como eu
quero, mas como tu
quiseres." (Mateus, 26:39)
Afirma
o evangelista Mateus que Jesus Cristo formulou veemente rogativa a Deus no sentido
de passar dele a necessidade de tragar o cálice de amargura, simbolizado
no sacrifício que se cumpriria no alto do Calvário. Após
repetir a sua prece por trê vezes consecutivas, não houve um deferimento
favorável, e o drama da crucificação se cumpriu em todos
os detalhes.
O
Mestre, que havia preceituado: "Pedi e dar-se-vos-á, buscai e achareis
e batei e abrir-se-vos-á" ali estava advogando o cancelamento do
martírio na cruz, entretanto não deixou de condicionar a sua vontade
à soberana vontade de Deus. Nos desígnios do Pai o sacrifício
do Calvário era um imperativo, sem o qual a doutrina que o Mestre viera
trazer, não triunfaria na face da Terra, ao ponto de, em três séculos
apenas, causar a derrocada do Paganismo, solapando as precárias bases
em que se fundamentava a religião dos povos mais poderosos da Terra.
Devemos
nos lembrar que todos nós, em maior ou menor escala, temos um Calvário
em nossa vida, por isso tanto em relação a nós o Criador
não modifica a cada instante os desideratos superiores. Muitas das rogativas
que erguemos não são aceitas porque assumimos compromissos espirituais
importantes antes da nossa encarnação terrena, e se modificando
o curso da nossa vida ao sabor da nossa vontade, é óbvio que ocorreria
uma estagnação e dificilmente colimaríamos o nosso aprimoramento
espiritual.
O
advento de Jesus Cristo na Terra indubitavelmente exigiu intensa preparação
espiritual, principalmente nos séculos que antecederam a sua integração
no ambiente terreno. Se João Batista foi o seu precursor imediato, lembremo-nos
de que muitos profetas de Israel também cooperaram para a sua vinda,
fornecendo detalhes minuciosos sobre a sua inconfundível personalidade
e esboçando, em linhas gerais, a razão primária da sua
missão no seio da Humanidade.
A
tarefa desenvolvida entre nós por Jesus Cristo não foi mera caminhada
pelas estradas da Galiléia. Não foi também uma peregrinação
com o objetivo de curar alguns paralíticos, restaurar a vista a alguns
cegos, limpar alguns leprosos ou expelir alguns maus Espíritos. O advento
de Jesus foi algo sublime demais, pois ele trouxe para a Humanidade uma mensagem
de vida eterna, uma doutrina suscetível de impulsionar o gênero
humano para os seus verdadeiros objetivos, um código
de moral que serviria de fundamento para a reforma moral dos indivíduos.
O Messias veio para curar os doentes da alma e levantar aqueles que estão
alquebrados pelas tribulações da vida terrena. Veio também
para convocar aqueles que malbaratam os "alores que Deus, por excesso de
misericórdia, lhes concedeu, despertando-os de uma inércia incompatível
com a necessidade de reforma interior.
Se
a missão desempenhada por Jesus Cristo demanda séculos de preparação,
devemos também convir que a tarefa de muitos Espíritos que encarnam
na Terra, também exige preparação, planejamento e sobretudo
obedecem a desígnios superiores, previamente estabelecidos.
Deste
modo, podemos afirmar que nem todos os nossos apelos dirigidos ao Alto podem
ser atendidos, uma vez que qualquer desvio em nossa vida poderá representar
séculos de retardamento. A satisfação dos nossos desejos
representaria postergação de fatores que são imprescindíveis
à nossa reforma espiritual.
Sendo
a Terra uma imensa escola, na qual os nossos Espíritos se aprimoram,
despojando-se de suas imperfeições, é lógico que
deveremos assimilar todas as lições que nos são propiciadas
pois, se protelarmos o nosso aprendizado, além de adiarmos nossa evolução,
estaremos também contribuindo para o atravancamento do progresso espiritual
da Humanidade, causando o retardamento no advento de uma nova era, quando o
mundo será mai, espiritualizado, mais moralizado e sobretudo mais evangelizado.
Paulo
A. Godoy