01 - OS VÍCIOS
"Entre
os vícios, qual o que podemos considerar radical?- Já o dissemos
muitas vezes: o egoísmo. Dele se deriva todo o mal Estudai todos os vícios
e vereis que no fundo de todos existe egoísmo. Por mais que luteis contra
eles, não chegareis a extirpá-los enquanto não os atacardes
pela raiz, enquanto não lhes houverdes destruído a causa. Que
todos os vossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra
a verdadeira chaga da sociedade. Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição
moral, deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo,
porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o
amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades. " (Allan
Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capitulo XII. Perfeição
Moral. Pergunta 913.)
Vamos ao encontro de alguns dos condicionamentos e dependências os seres
humanos apresentam mais comumente. Certamente o conhecimento desses vícios
nos colocará em confronto com eles e nos dará ensejo a uma aferição
de como estamos situados os homens em geral. Ninguém, na nossa sociedade,
é criticado, ou rejeitado, pelo fato de fumar, beber, jogar, comer bem
ou ter suas aventuras sexuais. Tudo isso já foi até mesmo consagrado
como natural e, portanto, aceito amplamente como "costumes da época".
Estamos
alheios aos perigos e às consequências que os citados hábitos
nos acarretam. Além disso, os meios de comunicação estão
abertos, sem restrições, à propaganda envolvente e maciça
que induz a humanidade ao fumo, ao álcool, ao jogo, à gula e ao
sexo. É inacreditável como a sociedade parece se deixar mansamente
conduzir, sem a menor reação coletiva, a tão perniciosos
incentivos, difundidos por todos os meios.
Em alguns países já há restrições à
propaganda de bebidas alcoólicas e de marcas de cigarros, o que representa
alguma reação a esses produtos de consumo. No entanto, são
igualmente produtos de consumo as revistas e os filmes que exploram o uso indiscriminado
das funções sexuais e estimulam o erotismo, produtos esses que
se constituem em agentes contaminadores do comportamento moral do homem, que
nos induzem ao viciamento das idéias pelo desejo de satisfações
ilusórias, fragmentando a resistência ao prazer inconsistente e
enfraquecendo os laços das uniões conjugais bem formadas.
Os chamados "hotéis de alta rotatividade" multiplicam-se nos
arredores das capitais brasileiras, comprovando a crescente onda da "liberdade
sexual", resultado da enganosa suposição de que todas as
nossas insatisfações possam ser solucionadas apenas por atos sexuais.
Deixamos de abordar aqui o problema dos tóxicos, que são disseminados
principalmente entre os jovens, levando-os às mais trágicas e
dolorosas experiências, enquanto enriquecem as secretas organizações
que manipulam o submundo dos traficantes. Explorados são os moços,
precisamente no que diz respeito aos seus desajustes e carências, iludidos
por aqueles aproveitadores que os enganam, oferecendo soluções
fáceis, acorrentando-os em processos difíceis de recuperação.
Outro entorpecente e agente enganoso do homem é o jogo. O que se tem
arrecadado das loterias demonstra o nível de preocupação
do nosso trabalhador, que busca fora de si a sorte e o enriquecimento rápido.
Ficam a imaginar em detalhes o que seria feito com o dinheiro ganho, centralizando
nele a razão principal do que se pode pretender na vida. Mais sonhos
e quimeras que apenas alimentam as consciências inadvertidas, desconhecedoras
de que as dificuldades existem para desenvolver as potencialidades do nosso
espírito, a capacidade de lutar e vencer com esforço próprio.
Raramente encontramos campanhas ou propagandas esclarecedoras dos malefícios
do fumo, do álcool, do jogo, da gula, dos abusos do sexo e dos prejuízos
do tóxico.
Condicionada como está a tantos vícios, de que modo entrará
a humanidade na nova fase do progresso moral preceituada por Kardec?
É impraticável conciliar aquele ensinamento com a enorme propagação
dos vícios, que envolve cada vez mais as criaturas de todas as idades,
incentivando os prazeres individuais sem qualquer senso de responsabilidade
e nenhuma preocupação com suas consequências. Parece-nos
sensato que deveríamos esperar exatamente o contrário, isto é,
a crescente valorização dos homens pelos exemplos no bem e nas
atitudes nobres, compatíveis com um clima de respeito ao próximo,
de solidariedade humana, de zelo ao patrimônio orgânico e ao manancial
de energias procriadoras que detemos.
Numa análise realista, para mudar os rumos da humanidade nesses dias
em que pouco se entende da natureza espiritual do homem e da sua destinação
além-túmulo, é de se esperar grandes transformações.
Mas de que forma? Será que esse desejado progresso moral cairá
dos céus sem qualquer esforço nosso? É evidente que será
edificado pelos homens de boa vontade, pelos trabalhadores das últimas
horas, pelos poucos escolhidos dos que possam restar dos muitos já chamados,
pelos Aprendizes do Evangelho que resistirem ao mal e souberem enfrentar não
mais as feras e as fogueiras dos circos romanos, porém as feras dos próprios
instintos animais e o fogo da agressividade que precisamos atenuar, controlar
e transformar.
E para superarmos os defeitos mais enraizados no nosso espírito precisamos
fortalecer a nossa vontade, iniciando com a luta por eliminar os vícios
mais comuns. Ninguém conseguirá vencer essa batalha se não
estiver se preparando para enfrentá-la. Essa condição,
no entanto, não se consegue sem trabalho, sem testemunho da vontade aplicada.
É, sem dúvida, conquista individual que se pode progressivamente
cultivar.
A - A IMAGINAÇÃO NOS VÍCIOS
A criatividade representa, no ser inteligente, um dos seus mais importantes
atributos. Pela imaginação penetramos nos mais insondáveis
terrenos das idéias. Dirigimos vôos ao infinito, descobrimos os
véus no mundo da física, da Química, da Anatomia, da Fisiologia,
fazemos evoluir as Ciências, criamos as invenções, desenvolvemos
as artes e constatamos o espírito. Essa imaginação, por
outro lado, tem sido mal conduzida pelo homem, tanto de modo consciente quanto
por desejos inconscientes, levando-o a muitos dissabores, contrariedades, sofrimentos
e outras consequências graves.
A capacidade mental do homem está condicionada ao alcance da sua imaginação
e ao uso que dela faz no seu mundo íntimo. A faculdade de pensar apresenta
uma característica dinâmica, que nos proporciona, pelas experiências
acumuladas, a percepção sempre mais ampla da nossa realidade interior
e do mundo que nos cerca, num crescente evoluir. Desse modo, as nossas experiências,
em todas as áreas, servem de referência para novas e constantes
mudanças. Nunca regredimos. Quando muito, momentaneamente estacionamos
em alguns aspectos particulares, mas nos demais campos de aprendizagem realizamos
avanços. É como num ziguezague mais ou menos tortuoso que vamos
caminhando na nossa trajetória evolutiva, porém sempre na direção
do tempo, que jamais se altera no sentido do seu avanço.
O homem, pela sua imaginação, cria as suas carências, envolve-se
nos prazeres, absorve-se nas sensações e perde-se pelos torvelinhos
do interesse pessoal. Cristaliza-se, por tempos, nos vícios que a sua
própria inteligência criou, necessidades da sua condição
inferior, que ainda se compraz nos instintos, reflexos da animalidade atuante
em todos nós encarnados. O ser pensante sabe os males que lhe causam
o fumo, o álcool, o jogo, a gula, os abusos do sexo, os entorpecentes,
embora proporcionem instantes de fictício prazer e preenchimento daquelas
necessidades que a sua mente plasmou.
Tornam-se, então, hábitos repetitivos, condicionamentos que comodamente
aceitamos muitas vezes sem quaisquer reações contrárias.
Quem conseguiria justificar com razões evidentes as necessidades de fumar,
de beber, de jogar, de comer demasiado, e da prática livre do sexo? O
organismo humano se adapta às cargas dos tóxicos ingeridos e o
psiquismo fixa-se nas sensações. Na falta delas, o próprio
organismo passa a exigir, em forma de dependências, as doses tóxicas
ou as cargas emocionais às quais se habituara, e a criatura não
consegue mais libertar-se; fica viciada. Sente-se, então, incapaz de
agir e prossegue sem esforço, contaminando o corpo e a alma, escravizando-se
inapelavelmente aos horrores do desequilíbrio e da enfermidade.
Transfere da vida presente para a subsequente certos reflexos ou impregnações
magnéticas que o perispírito guarda pelas imantações
recebidas do próprio corpo físico e do campo mental que lhe são
peculiares. As predisposições e as tendências se transportam,
de alguma forma, para a nova experiência corpórea e, nessas oportunidades
de libertação que nos são oferecidas, muitas vezes sucumbimos
aos mesmos vícios do passado distante. Admitimos, à luz do Espiritismo,
um componente reencarnatório nos vícios, o que de certa forma
esclarece os casos crônicos e patológicos provocados pelo fumo,
álcool, gula, jogo e pelas aberrações sexuais. Raramente
estamos sozinhos nos vícios. Contamos também com as companhias
daqueles que se servem dos mesmos males, tanto encarnados como desencarnados,
em maior ou menor intensidade de sintonia, funcionando como fator de indução
à prática dos vícios que ambos usufruem.
Muitas vezes podemos querer deixar tal ou qual vício, mas aquelas companhias
nos sugestionam, persuadem e induzem. Como "amigos" do nosso convívio,
apelam diretamente, convencendo-nos e arrastando-nos. Como entidades espirituais,
agem hipnoticamente no campo da imaginação, transmitindo as ondas
magnéticas envolventes das sensações e desejos que juntos
alimentamos. Desse modo, ao iniciar o trabalho de extirpar os vícios,
podemos estar dentro de um processo em que os três componentes abordados
se verifiquem, ou seja: a própria imaginação e o organismo
condicionados, a tendência reencarnatória e a persuasão
das companhias visíveis e invisíveis.
B - A TENTAÇÃO NOS VÍCIOS
A somatória dos três componentes citados apresenta-se ao nosso
intimo sob a forma de tentações. Interpretamos
as tentações como sendo as manifestações de desejos
veementes, de impulsos incontidos, a busca desesperada de prazeres ou necessidades
que sabemos serem prejudiciais, mas que não estamos suficientemente fortes
para conter. As tentações podem surgir em algumas circunstâncias
como pela primeira vez, e podem repetir-se por muitas vezes, naqueles estados
de ansiedade em que somos irresistivelmente impulsionados a cometer engimos
para satisfazer desejos. As primeiras tentações estão,
quase sempre, mescladas com a curiosidade, com o desejo de experimentar o desconhecido.
Nesses casos, a influência dos já experimentados é, na maioria
das vezes, o meio desencadeante dos vícios.
Alguém
nos leva a praticá-los pela primeira vez quando assim cedemos às
primeiras tentações. Esse procedimento é comum nos fumantes,
nos alcoólatras, nos jogadores de azar, nos drogados, nos masturbadores.
É a imitação que dá origem ao hábito, costume
ou vício. Devemos considerar que todos nós somos tentados aos
vícios e a muitos outros comprometimentos morais. Podemos ceder às
tentações, mas a partir dos primeiros resultados colhidos nas
experiências praticadas podemos nos firmar no propósito de não
repeti-las e de não chegarmos à condição de viciados.
Há também incontáveis ocasiões em que as tentações
nem chegam a nos provocar, porque simplesmente não encontram eco dentro
de nós. Isto é, já atingimos um nível de amadurecimento
ou de consciência em que já não nos sintonizamos mais com
aquelas categorias de envolvimentos ou de atrações. Não
sentimos necessidade de experimentar o que possam nos sugerir; já nos
libertamos, de alguma forma.
C - QUAL O NOSSO OBJETIVO?
Indiscutivelmente, todos nós colhemos, no sofrimento, os frutos amargos
dos vícios, cedo ou tarde. Aí, na maioria, as criaturas despertam
e começam a luta pela sua própria libertação. Não
precisamos, porém, chegar às últimas consequências
dos vícios para iniciar o trabalho de auto-descondicionamento. Podemos
ganhar um tempo precioso e deliberadamente propormo-nos o esforço de
extirpá-los de nós mesmos. É uma questão de ponderar
com inteligência e colocar a imaginação a serviço
da construção de nós mesmos. Esse é o nosso objetivo:
compreender razoavelmente as características dos vícios e buscar
os meios para eliminá-los.
Perguntamos: O que o amigo leitor acha que é fundamental em qualquer
processo de conquista individual? É o querer? É a vontade posta
em prática?É a ação concretizando o ideal?
Primeiro, perguntemos a nós mesmos se queremos deixar mesmo de fumar,
de beber, de jogar, e se desejamos controlar a gula, o sexo.
E por quê? Temos razões para isso? O que nos motiva a iniciar esse
combate? Será apenas para sermos bonzinhos? Ou teremos razões
mais profundas? É claro que sabemos as respostas. O que ainda nos impede
de assumirmos novas posições é o apego às coisas
materiais, aos interesses pessoais, que visam a satisfazer os nossos sentidos
físicos, digamos periféricos, ainda grosseiros e animais, indicativos
de imperfeições. É uma questão de opção
pessoal, livre e disposta a mudanças. A vontade própria poderá
ser desenvolvida, até com pouco esforço; não será
esse o problema para a nossa escolha. A questão é decidir e comprometer-se
consigo mesmo a ir em frente.
Comecemos, então, por eliminar os vícios mais comuns, aqueles
já citados, de conhecimento amplo e de uso social, que apresentaremos
detalhadamente nos capítulos seguintes. Coloquemo-nos em posição
de renunciar aos enganosos prazeres que os mesmos possam estar nos oferecendo
e lutemos! Lutemos com todo o nosso empenho e não voltemos atrás!
D - FAÇA SUA AVALIAÇÃO INDIVIDUAL
1. Sente-se irresistivelmente condicionado a algum vício?
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2. Sofre as consequências maléficas que os
mesmos provocam?
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3. Já tentou libertar-se voluntariamente de algum
desses vícios?
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4. Analise como começou neles e conclua:
— Por livre desejo?
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- Por sugestão de alguém?
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5. Quando tentado a experimentar algum dos vícios
sociais, cede facilmente?
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6 -. Percebe, por vezes, a sua imaginação
articulando sensações que o satisfazem ao alimentá-las?
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7
- Já pensou que esse tipo de imaginação nos predispõe
a cometê-las?
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8
- Tem dificuldades em afastar da mente os devaneios e os pensamentos ligados
a prazeres íntimos?
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9
- Já chegou a compreender a necessidade de eliminar os vícios?
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10
- Acha que poderá com o próprio esforço deles se libertar?
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Ney
P. Peres