CÓLERA
Hilário Silva
Antônio Sobreira, a caminho da garagem
onde mantinha pequena frota de caminhões, foi ver a mãezinha doente, que lhe
pediu, logo após rápidos instantes de conversa:
— Meu filho, tenha cuidado contra a
irritação. Em nossa reunião espírita de ontem à noite, nosso velho amigo
Silvério Barcas, desencarnou num ato de imprudência, conclamou a todos
trabalhassem contra a cólera. E você tem estado muito nervoso...
— Não se aflija, mãe — respondeu
sorrindo.
Entretanto, mal dera alguns passos na
rua, foi procurado por um motorista, que lhe disse:
— “Seu” Antônio, venha depressa. O
Avelino, seu irmão, atropelou o seu filho.
Indignado, Sobreira entrou no veículo,
como fera, e daí a minutos estava, de novo, à frente de casa.
Aglomerava-se o povo em torno de larga
mancha de sangue.
Avelino, o seu irmão, dirigiu-se para ele
e rogou, transtornado:
— Antônio, perdoe-me! Vinha passando em
marcha regular, quando o Antoninho atravessou... Foi questão de um segundo...
— Onde está meu filho? — gritou Sobreira.
Uma senhora logo afirmou que o menino
acidentado fora conduzido no colo materno para o hospital, junto de dois
médicos que haviam passado, momentos antes.
— Você pagará tudo — falou Sobreira, aos
berros para o irmão. — Arranjei o caminhão para você, a fim de matar a fome
de sua família, e você mata o meu filho?! Mas você hoje me pagará tudo...
E sem ouvir mais nada, avançou para o
pobre motorista, aos murros, deixando-o no chão com várias escoriações e
equimoses.
Em seguida, cego de fúria, toma o
automóvel, mas, atingindo o hospital, encontra na portaria a esposa
sorridente, com o filhinho feliz.
— Graças a Deus — diz ela ao esposo —,
nada aconteceu. Antoninho não teve um arranhão.
E o sangue no asfalto? — pergunta
Sobreira, varado de assombro e remorso.
Somente então veio a saber que o sangue
pertencia ao cachorro de estimação — o Totó, que acompanhava o menino, e que
os médicos que haviam atendido, de passagem, eram ambos veterinários.
Naquele instante, Sobreira, recordando as
palavras de sua mãe, não pôde sofrear as lágrimas de arrependimento...
Livro: “Almas em Desfile” Psicografia:
Francisco C. Xavier e Waldo Vieira Espírito: Hilário Silva
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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
CÓLERA: ''— Meu filho, tenha cuidado contra a irritação" // ..."Naquele instante, Sobreira, recordando as palavras de sua mãe, não pôde sofrear as lágrimas de arrependimento..."
Carta Paterna: (...)"Ah! meu filho quando a impaciência te visita o espírito, recorda que o monstro da ira indesejável te bate à porta do coração. E quando a ele te entregas, imprevidente, tuas conquistas mais elevadas tremem nos alicerces..."
.
CARTA PATERNA
CARTA PATERNA
Neio
Lúcio
Meu
filho, não tinhas razão em favor da cólera.
Vi,
perfeitamente, quando o velhinho se aproximou para servir-te.
Trazia um coração
amoroso e atento que não soubeste compreender.
Deste
uma ordem que o pobrezinho não ouviu tão bem, quanto desejavas. Repetiste-a e,
porque novamente te perguntasse qualquer coisa, proferiste palavras feias, que
lhe feriram as fibras mais íntimas.
Como
foste injusto!...
Quando
nasceste, o antigo servidor já vencera muitos invernos e servira a muita gente.
Enfraqueceram-se-lhe
os ouvidos, ante as imperiosas determinações alheias.
Nunca
refletiste na neblina que lhe enevoa o olhar? Adquiriu-a trabalhando à noite,
enquanto dormias, despreocupado.
Sabes
porque traz ele as pernas trêmulas? Devorou muitas léguas a pé, solucionando
problemas dos outros.
Irritas-te,
quando se demora a movimentar-se a teu mando. Contudo, exiges o automóvel para
a viagem de dois quilômetros.
Em
muitas ocasiões, queixas-te contra ele. É relaxado aos teus olhos, tem as mãos
descuidadas e a roupa não muito limpa. Entretanto, nunca imaginaste que o
apagado servidor jamais encontrou oportunidades iguais às que recebeste. Além
disto, não lhe oferecem o ensinamento amigo e nem tempo para cogitar das
próprias necessidades espirituais.
Reclamas
longos dias para examinar pequenina questão, referente ao teu bem-estar;
todavia, não lhes consagra nem mesmo uma hora por semana, ajudando-o a
refletir...
Respondes,
enfadado, quando o velho companheiro te pede alguns níqueis, mais não vacilas
em despender pequenas fortunas com amigos ociosos, em noitadas alegres, nas
quais te mergulhas em fantasioso contentamento.
Interrogas,
ingrato : – que fizeste do dinheiro que te dei?
Esqueces
que o servidor de fronte enrugada não dispôs de tempo e recurso para calcular,
com exatidão, os processos de ganhar além do necessário e não conseguiu ensejo
de ilustrar o raciocínio com o refinamento que caracteriza o teu.
Ah!
meu filho quando a impaciência te visita o espírito, recorda que o monstro da
ira indesejável te bate à porta do coração. E quando a ele te entregas,
imprevidente, tuas conquistas mais elevadas tremem nos alicerces. Chego a
desconhecer-te, porque a fúria dos elementos interiores te alteram a
individualidade aos meus olhos e eu não sei se passas à condição de criança ou
de demônio!...
Se
não podes conter, ainda, os movimentos impulsivos de sentimentos perturbadores,
chegado o instante do testemunho, cala-te e espera.
A
cólera nada edifica e nada restaura... apenas semeia desconfiança e temor, ao
redor de teus passos.
Não
ameaces com a voz, nem te insurjas contra ninguém.
É
provável que guardes alguma reclamação contra mim, teu pai, porque eu também
sou ainda humano. No entanto, filho, acima de nós ambos permanece o Pai
Supremo, e que seria de ti e de mim, se Deus, um dia, se encolerizasse contra
nós?
Do livro “alvorada Cristã”.Espírito de Neio Lúcio.
Psicografia de Francisco C. Xavier.
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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Do Livro A Genese " Sinais dos Tempos" parte 2 (final)
16. Com o pensamento
de que a atividade e a cooperação individuais na obra geral da
civilização são limitadas à vida presente, que antes a criatura nada
foi, e que depois nada será, que importa ao homem o progresso ulterior
da humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam melhor
governados, mais felizes, mais esclarecidos, melhores uns para com os
outros? Pois se ele não vai daí tirar nenhum fruto, esse progresso não é
perdido para ele? De que lhe serve trabalhar para os que virão depois
se jamais os conhecerá, se são seres novos que dali a pouco reentrarão
no nada, também eles? Sob o império da negação do futuro individual,
tudo se amesquinha forçosamente às acanhadas proporções do momento e da
personalidade.
Mas, ao contrário, que amplitude
dá ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade de seu ser
espiritual! Quê de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do
Criador, que esta lei segundo a qual a vida espiritual e a vida corporal
não são senão dois modos de existência que se alternam para a
concretização do progresso! Quê de mais justo e de mais consolador senão
a idéia dos mesmos seres progredindo sem cessar, a princípio através
das gerações do mesmo mundo, e em seguida, de um mundo para outro, até
atingir a perfeição sem solução de continuidade! Todas as ações têm
então uma finalidade, pois, trabalhando para todos, estamos trabalhando
para nós mesmos e reciprocamente; de sorte que nem o progresso
individual nem o progresso geral jamais são estéreis; aproveita às
gerações e às individualidades futuras, que não são senão as gerações e
as individualidades passadas, chegadas a um grau mais alto do
adiantamento.
17. A fraternidade deve ser a pedra angular da nova
ordem social; porém não há fraternidade real, sólida e efetiva, se não
for apoiada numa base inquebrantável; esta base, é a fé; não a fé em
tais ou quais dogmas particulares que mudam com os tempos ou os povos e
se apedrejam, pois quando se anatematizam alimentam o antagonismo; mas a
fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar; Deus, a
alma, o futuro, o progresso individual, indefinido, a perpetuidade das
relações entre os seres. Quando todos os homens se convencerem de que
Deus é o mesmo para todos; de injusto; que o mal vem dos homens e não
dele, hão de que este Deus, soberanamente justo e bom, nada pode querer
se encarar como filhos de um mesmo Pai, e estender-se-ão as mãos.
É esta fé que o Espiritismo proporciona e que de
agora em diante será o eixo sobre o qual se moverá o gênero humano,
quaisquer que sejam o modo de adoração e as crenças particulares.
18. O progresso intelectual realizado até hoje nas
mais vastas proporções é um grande passo, e marca a primeira fase da
humanidade; porém, sozinho, é impotente para regenerá-la; enquanto o
homem for dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizará sua
inteligência e seus conhecimentos para vantagem de suas paixões e seus
interesses pessoais; é por isso que ele os aplica ao aperfeiçoamento dos
meios de prejudicar os seus semelhantes, e os destruir.
19. Unicamente o progresso moral pode assegurar a
felicidade dos homens sobre a Terra pondo um freio às más paixões;
unicamente ele pode fazer reinar entre os homens a concórdia, a paz e a
fraternidade.
É ele que derrubará as barreiras dos povos, que fará
cair os preconceitos de casta e calar os antagonismos de seitas,
ensinando aos homens a se considerarem como irmãos chamados a se
auxiliar reciprocamente, e não a viver às expensas uns dos outros.
É anda o progresso moral, secundado aqui pelo
progresso da inteligência, que confundirá os homens numa mesma crença
estabelecida sobre verdades eternas, não sujeitas a discussão e por isso
mesmo aceitas por todos.
A unidade de crença será o liame mais possante, o
mais sólido fundamento da fraternidade universal, quebrada desde todo o
tempo pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias,
que fazem ver nos dissidentes, inimigos que se devem exortar, combater,
exterminar, em vez de irmãos a quem se deve amar.
20. Um tal estado de coisas supõe uma mudança no
sentimento das massas, um progresso geral que não se podia realizar
senão saindo do círculo das idéias estreitas e terra-a-terra, que
fomentam o egoísmo. Em diversas épocas, homens de elite têm procurado
impelir a humanidade nesta via; mas a humanidade, ainda demasiado jovem,
permaneceu surda, e seus ensinamentos foram como a boa semente lançada
sobre as pedras.
Hoje, a humanidade está madura para lançar suas
vistas mais alto que nunca, para assimilar idéias mais amplas e
compreender o que antes não pudera.
A geração que desaparece levará com ela seus
preconceitos e seus erros; a geração que se eleva, embebida numa fonte
mais purificada, imbuída de idéias mais sadias, imprimirá ao mundo o
movimento ascensional no sentido do progresso moral, que deve assinalar a
nova fase da humanidade.
21. Esta fase já se revela por sinais inequívocos,
por tentativas de reformas úteis, por idéias grandes e generosas que
vêem o dia e que começam a encontrar ecos. É assim que se vêem fundar
uma porção de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras,
sob o impulso e pela iniciativa de homens evidentemente predestinados à
obra da regeneração; que as leis penais se impregnam a cada dia de um
sentimento mais humano. Os preconceitos de raça se enfraquecem, os povos
começam a se encarar como membros de uma grande família; pela
uniformidade e facilidade dos meios de transação, suprimem-se as
barreiras que os dividiam; de todas as partes do mundo, reúnem-se
conclaves universais para os torneios pacíficos da inteligência.
Porém, falta a essas reformas uma base para se
desenvolver, se completar, se consolidar, uma predisposição moral mais
geral para frutificar e se fazer aceita pelas massas. Isto não deixa de
ser um sinal característico do tempo, o prelúdio do que se realizará em
mais larga escala, à medida que o terreno se torne mais propício.
22. Um sinal não menos característico do período em
que entramos, é a reação evidente que se opera no sentido das idéias
espiritualistas; uma repulsão instintiva se manifesta contra as idéias
materialistas. O espírito de incredulidade que se havia apoderado das
massas, ignorantes ou esclarecidas, e as fizera rejeitadas, com a forma,
o próprio fundo de todas as crenças, parece ter sido um sono do qual,
ao sair, se experimenta a necessidade de respirar um ar mais
vivificante. Involuntariamente, onde o vácuo se faz, procura-se alguma
coisa, um ponto de apoio, uma esperança.
23. Suponho que a maioria dos homens são imbuídos de
tais sentimentos, facilmente se podem figurar as modificações que os
mesmos trarão para as relações sociais: caridade, fraternidade,
benevolência para com todos, tolerância para todas as crenças, tal será a
sua divisa. É o objetivo para o qual se orientará a humanidade, o
objetivo de suas aspirações, de seus desejos, sem que ela saiba bem com
que meios os realizará; ela ensaia, ela tateia, mas é detida por
resistências ativas ou pela força da inércia dos preconceitos, das
crenças estacionárias e refratárias ao progresso. São resistências que
será preciso vencer, e isto será a obra da nova geração; se seguirmos o
curso atual das coisas, reconhecemos que tudo parece predestinado a lhe
abrir caminho; ela terá para si a dupla potência do número e das idéias,
e mais a experiência do passado.
24. A nova geração marchará pois, para a realização
de todas as idéias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento a
que houver chegado. Marchando o Espiritismo para o mesmo objetivo, e
realizando suas finalidades, ambos se encontrarão sobre o mesmo terreno.
Os homens de progresso encontrarão nas idéias espíritas uma possante
alavanca, e o Espiritismo encontrará nos homens novos, espíritos
predispostos a acolhê-lo. Neste estado de coisas, o que poderão fazer
aqueles que pretendessem se colocar em oposição?
Não é o Espiritismo que cria a renovação social, é a
madureza da humanidade que faz de tal renovação uma necessidade. Pela
sua potência moralizadora, por suas tendências progressivas, pela
amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abraça, o
Espiritismo, mais que qualquer outra doutrina, está apto a secundar o
movimento regenerador; por isso mesmo são contemporâneos. Ele veio no
momento em que podia ser mais útil, pois também para ele os tempos são
chegados; mais cedo, teria encontrado obstáculos insuperáveis; teria
sucumbido inevitavelmente, pois que os homens, satisfeitos com o que já
tinham, não experimentavam ainda a necessidade do que ele traz. Hoje,
nascido com o movimento das idéias que fermentam, encontra o terreno
preparado a recebê-lo; os espíritos, cansados da dúvida e da incerteza,
horrorizados com o abismo que se lhe abre à frente, o acolhem como uma
âncora de salvação e um supremo consolo.
26. O número dos retardatários ainda é sem dúvida
grande; mas o que podem eles contra a onda que sobe, senão atirar-lhe
algumas pedras? Essa onda é a geração que se levanta, ao passo que eles
somem com a geração que se retira cada dia a passos largos. Até então,
porém, defenderão o terreno passo a passo; há, portanto, luta
inevitável, mas desigual, pois é a do passado decrépito que cai em
farrapos, contra o futuro jovem; da estagnação contra o progresso; da
criatura contra a vontade de Deus, pois são chegados os tempos marcados.
Do Livro A Gênese " Sinais dos Tempos "Parte 1
Sinais dos Tempos
1. Os tempos marcados por Deus são chegados,
dizem-nos de todos os lados, em que grandes acontecimentos vão se
realizar para a regeneração da humanidade. Em que sentido se devem
entender essas palavras proféticas? Para os incrédulos, elas não têm
nenhuma importância; a seus olhos, tal não passa da expressão de uma
crença pueril e sem fundamento; para o maior número dos crentes, elas
têm qualquer coisa de místico e de sobrenatural, que lhes parece ser o
precursor do transtorno das leis da natureza. Essas duas interpretações
são igualmente errôneas: a primeira, em que ela implica a negação da
Providência; a segunda, em que essas palavras não anunciam a perturbação
das leis da natureza, mas sim o seu cumprimento.
2. Tudo é harmonia na criação; tudo revela uma
previdência que não se desmente nem nas menores coisas, nem nas maiores;
devemos pois, desde o início, afastar toda idéia de capricho,
inconciliável com a sabedoria divina; em segundo lugar, se nossa época é
marcada para a realização de certas coisas, é que elas têm sua razão de
ser na marcha do conjunto.
Isto posto, diremos que nosso globo, como tudo quanto
existe, está sujeito à lei do progresso. Progride fisicamente pela
transformação dos elementos que o compõem, e moralmente pela purificação
dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Estes dois
progressos se seguem e caminham paralelamente, pois a perfeição da
morada está relacionada com a do habitante. Fisicamente, o globo passou
por transformações, constatadas pela ciência, e que sucessivamente o
tornaram habitável por seres mais e mais aperfeiçoados; moralmente, a
humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral
e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que a melhoria do globo
se opera sob o império das forças materiais, os homens concorrem para
ela, pelos esforços de sua inteligência; saneiam as regiões insalubres,
tornam as comunicações mais fáceis e a terra mais produtiva.
Este duplo progresso de realiza de duas maneiras:
uma, lenta, gradual e insensível; a outra, por modificações mais
bruscas; cada uma delas resulta num movimento ascensional mais rápido, o
qual marca, com sinais nítidos, os períodos progressivos da humanidade.
Esses movimentos, subordinados nos pormenores ao livre-arbítrio dos
homens, são de alguma forma fatais em seu conjunto, pois são submetidos a
leis, como as que se operam na germinação, no crescimento e maturação
das plantas; é por isso que o movimento progressivo é algumas vezes
parcial, isto é, limitado a uma raça ou uma nação; outras vezes será
geral.
O progresso da humanidade se efetua pois, em virtude
de uma lei; ora, como todas as leis da natureza são a obra eterna da
sabedoria e da presciência divinas, tudo o que é efeito dessas leis é o
resultado da vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa,
mas de uma vontade imutável. Portanto, quando a humanidade está madura
para franquear um grau, pode-se dizer que os tempos marcados por Deus
chegaram, como se pode também dizer que em tal estação, são chegados os
tempos para a maturidade dos frutos e a colheita.
3. Da afirmação de que o movimento progressivo da
humanidade é inevitável, porque está na natureza, não se segue que Deus
seja indiferente ao mesmo, e que após haver estabelecido suas leis, haja
retornado à inação, deixando que as coisas se movam por si. Suas leis
são eternas e imutáveis, sem dúvida, mas porque sua própria vontade é
eterna e constante, e seu pensamento anima todas as coisas sem
interrupção; seu pensamento, que penetra tudo, é a força inteligente e
permanente que mantém tudo em harmonia; se este pensamento cessar de
agir um só instante, o Universo seria como um relógio sem o pêndulo
regulador. Deus vela pois, incessantemente, pela execução de suas leis, e
os Espíritos que povoam o espaço são seus ministros encarregados dos
detalhes, segundo as atribuições relativas ao seu grau de adiantamento.
4. O Universo é ao mesmo tempo um mecanismo
incomensurável, conduzido por um número não menos incomensurável de
inteligências, um imenso governo onde cada ser inteligente tem sua parte
de ação sob o olhar do soberano Mestre, cuja vontade única mantém a
unidade por toda a parte. Sob o império dessa vasta potência reguladora,
tudo se move, tudo funciona numa ordem perfeita; aquilo que nos parecem
perturbações, são os movimentos parciais e isolados, que só nos parecem
irregulares, porque nossa vista é circunscrita. Se pudéssemos abarcar o
conjunto, veríamos que tais irregularidades não são senão aparentes, e
que elas se harmonizam no todo.
5. A humanidade realizou até hoje incontestáveis
progressos; os homens, por sua inteligência, chegaram a resultados que
jamais atingiram, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do
bem-estar material; resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar; é o
de fazer reinar entre eles a caridade, a fraternidade e a solidariedade
para assegurar o bem-estar moral. Tal não lhes era possível, nem com
suas crenças, nem com suas instituições envelhecidas e superadas, restos
de uma outra era, boas numa certa época, suficientes para um estado
transitório, mas que, tendo dado o que comportavam, seriam hoje um ponto
de parada. Já não é mais somente o desenvolvimento da inteligência o
que os homens necessitam; é a elevação do sentimento, e por isso é
preciso destruir tudo quanto possa excitar neles o egoísmo e o orgulho.
Tal é o período no qual vamos entrar a partir de
agora, o qual marcará uma das fases principais da humanidade. Esta fase,
que se elabora neste momento, é o complemento necessário da etapa
precedente, como a idade viril é o complemento da juventude; ela poderia
pois ser prevista e predita com antecipação, e é por isso que se diz
que são chegados os tempos marcados por Deus.
6. Nesse tempo, não se trata de uma mudança parcial,
de uma renovação limitada a uma região, a um povo, a uma raça; é um
movimento universal que se opera no sentido do progresso moral. Uma nova
ordem de coisas tende a se estabelecer, e os homens que maior oposição
lhe fazem, trabalham nela contra sua vontade; a geração futura,
desembaraçada das escórias do velho mundo e formada por elementos mais
purificados, encontrar-se-á animada por idéias e sentimentos
completamente diversos dos que são adotados pela geração presente, que
se retira a passos de gigante. O velho mundo estará morto, e viverá na
História, como hoje acontece aos tempos da Idade Média, com seus
costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas.
Quanto ao mais, cada um sabe o quanto a ordem de
coisas atual ainda deixa a desejar; depois de ter de alguma sorte
esgotado o bem-estar material, que é o produto da inteligência, chega-se
a compreender que o complemento de tal bem-estar só se encontra no
desenvolvimento moral. Quanto mais se avança, mais se sente aquilo que
falta, sem que todavia seja possível ainda defini-lo claramente: é o
efeito do trabalho íntimo que se opera visando a regeneração; as pessoas
têm desejos, aspirações, que são como o pressentimento de um estado
melhor.
7. Porém uma mudança tão radical como a que se
elabora, não pode realizar-se sem comoção; há a luta inevitável entre as
idéias. De tal conflito nascerão forçosamente perturbações temporárias,
até que o terreno haja sido desobstruído e o equilíbrio restabelecido. É
pois da luta das idéias que surgirão os graves acontecimentos
anunciados e não de cataclismos ou catástrofes puramente materiais. Os
cataclismos gerais eram a conseqüência do estado de formação da terra;
hoje não são as entranhas do globo que se agitam, são as da humanidade.
8. Se a Terra não tem
mais a temer os cataclismos gerais, não estará, menos por isso,
submetida a revoluções periódicas cujas causas são explicadas, do ponto
de vista científico, nas seguintes instruções dadas por dois eminentes
Espíritos (1):
"Cada corpo celeste, além das leis simples que
presidem à divisão dos dias e das noites, das estações, etc., passa por
revoluções que levam milhares de séculos para sua perfeita realização,
mas que, como as revoluções mais breves, passam por todos os períodos,
desde o nascimento até um máximo de efeito, depois do qual há um
decréscimo até o limite inferior, para recomeçar em seguida a percorrer
as mesmas fases.
"O homem não abarca senão as fases de duração
relativamente curta, e das quais ele pode constatar a periodicidade;
porém há outras que compreendem longas gerações de seres, e mesmo de
sucessões de raças, cujos efeitos, por conseguinte, têm para ele as
aparências de novidade e de espontaneidade, ao passo que, se seu olhar
pudesse alcançar alguns milhares de séculos atrás, veria, entre estes
mesmos efeitos e suas causas, uma correlação da qual nem sequer
suspeita. Tais períodos, que confundem a imaginação dos humanos devido a
sua relativa extensão, não são entretanto senão instantes na duração
eterna.
"Em um mesmo sistema planetário todos os corpos que
dele dependem reagem uns sobre os outros; todas as influências físicas
dali são solidárias, e não há um só dos efeitos que vós designais sob o
nome de grandes perturbações, que não seja a conseqüência do componente
de influências de todo esse sistema.
"Vou mais longe: digo que os sistemas planetários
reagem uns sobre os outros, em razão da proximidade ou do afastamento
que resulta de seus movimentos de translação através dos miríades de
sistemas que compõem nossa nebulosa. Vou mais longe ainda: digo que
nossa nebulosa, que é como um arquipélago na imensidade, tendo também
seu movimento de translação através dos miríades de nebulosas, sofre a
influência daquelas das quais se aproxima.
"Assim, as nebulosas reagem sobre as nebulosas, os
sistemas reagem sobre os sistemas, como os planetas reagem sobre os
planetas, como os elementos de cada planeta reagem uns sobre os outros, e
assim de aproximação em aproximação até o átomo; daí, em cada mundo, as
revoluções locais ou gerais, que não parecem perturbações senão em
relação à brevidade da vida, a qual não permite ver senão os efeitos
parciais.
"A matéria orgânica não poderia escapar a tais
influências; as perturbações que ela sofre podem portanto alterar o
estado físico dos seres viventes, e determinar algumas moléstias, como
todos os flagelos, são para a inteligência humana um estimulante que a
impele, por necessidade, à pesquisa dos meios de combatê-las, e à
descoberta das leis da natureza.
"Porém a matéria orgânica reage por sua vez sobre o
Espírito; este, por seu contato e ligação íntima com os elementos
materiais, sofre também influências que modificam suas disposições, sem
entretanto obstar ao seu livre-arbítrio, excitando ou moderando sua
atividade, e, por isso mesmo, contribuem para o seu desenvolvimento. A
movimentação que se manifesta por vezes em toda uma população, entre os
homens de uma mesma raça, não é coisa fortuita, nem o resultado de um
capricho; tem sua causa nas leis da natureza. Essa efervescência, a
princípio inconsciente, que não passa de um vago desejo, uma aspiração
indefinida de qualquer coisa melhor, uma necessidade de mudança,
traduz-se por uma surda agitação, depois por atos que desfecham
revoluções sociais, as quais, crede bem, também têm sua periodicidade,
como as revoluções físicas, pois tudo se encadeia. Se a vista espiritual
não fosse limitada pelo véu da matéria, veríeis as correntes fluídicas
que, à semelhança de milhares de fios condutores, entrelaçam as coisas
do mundo espiritual e do mundo material.
"Quando se diz que a humanidade chegou a um período
de transformação, e que a terra deve se elevar na hierarquia dos mundos,
não vede nestas palavras nada de místico, mas, ao contrário, o
cumprimento de uma das grandes leis fatais do Universo, contra as quais
se quebra a má vontade humana." _ ARAGO.
9. "Sim, certamente, a humanidade se transforma como
já se transformou em outras épocas, e cada transformação é marcada por
uma crise que é, para o gênero humano, o que são as crises de
crescimento para os indivíduos; crises freqüentemente penosas,
dolorosas, que com elas arrastam as gerações e as instituições, mas
sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral.
"A humanidade terrestre, chegada a um desses períodos
de crescimento, está totalmente, já há quase um século, no trabalho da
transformação; é por isso que ela se agita de todos os lados, presa de
uma espécie de febre, e como que movida por uma força invisível até que
retorne seu assento sobre novas bases. Quem a ver então, a encontrará
bem mudada em seus costumes, seu caráter, suas leis, suas crenças, numa
palavra, em todo o seu estado social.
"Uma coisa que vos parecerá estranha, mas que nem por
isso deixa de ser rigorosa verdade, é que o mundo dos Espíritos que vos
rodeia sofre o contra-golpe de todas essas comoções que agitam o mundo
dos encarnados: digo mesmo que ele aí toma parte ativa. Isto nada tem de
surpreendente, para quem sabe que os Espíritos e a humanidade não
deixam de ser um todo; que eles dela saem, e nela devem reentrar; é,
pois, natural, que se interessem pelos movimentos que se operam entre os
homens. Tende pois certeza de que, quando uma revolução social se
realiza sobre a Terra, ela agita igualmente o mundo invisível; todas as
paixões boas e más ali são excitadas, como entre vós; uma invencível
agitação reina entre os Espíritos que ainda fazem parte de vosso mundo e
que aguardam o momento de ali reentrar.
"À agitação dos encarnados e dos desencarnados se
juntam, por vezes, e mesmo na maior parte dos casos, pois que tudo se
relaciona na natureza, às perturbações dos elementos físicos; dá-se,
então, por algum tempo, uma verdadeira confusão geral, que passa como um
furacão, depois do qual o céu volta a ser sereno, e a humanidade,
reconstituída sobre novas bases, imbuída de novas idéias, percorre nova
etapa de progresso.
"É no período que se abre que se verá florescer o
Espiritismo, e que produzirá seus frutos. É pois, para o futuro, mais
que para o presente, que vós trabalhais; contudo, era necessário que
tais trabalhos fossem preparados antecipadamente, pois eles preparam as
vias da regeneração pela unificação e a racionalidade das crenças.
Felizes aqueles que dele aproveitam desde hoje: isto será para eles um
outro passo e penas poupadas." _ Doutor BARRY.
(1)Extrato de duas comunicações dadas na Sociedade de
Paris, e publicadas na "Revue Spirite" de outubro de 1868, pág. 313.
São o corolário das de Galileu, referidas no capítulo VI, e um
complemento ao Capítulo IX, acerca das revoluções do globo.
10. Resulta do que
precede que, em conseqüência de seu movimento de translação através do
espaço, os corpos celestes exercem, uns sobre os outros, uma influência
maior ou menor, conforme sua aproximação e sua posição respectivas; que
essa influência pode ser causa de uma perturbação momentânea em seus
elementos constitutivos, e modificar as condições de vitalidade de seus
habitantes; que a regularidade dos movimentos deve resultar da volta
periódica das mesmas causas e dos mesmos efeitos; que se a duração de
certos períodos é bastante curta para ser apreciável pelos homens,
outras vêem passar gerações e raças que dela não se apercebem, e para as
quais o estado de coisas é normal; as gerações, ao contrário,
contemporâneas da transição, dela recebem o contra-golpe, e tudo lhes
parece afastar-se das leis ordinárias. Elas vêem uma causa sobrenatural,
maravilhosa, milagrosa, naquilo que na realidade nada é senão o
cumprimento das leis da natureza.
Se, pelo encadeamento e a solidariedade das causas e
dos efeitos, os períodos de renovações morais da humanidade coincidem,
como tudo leva a crer, com as revoluções físicas do globo, elas podem
ser acompanhadas ou precedidas de fenômenos naturais, insólitos para
aqueles que não estejam habituados, de meteoros que lhes parecem
estranhos, da recrudescência e intensificação desacostumadas, de
flagelos destruidores. Tais flagelos não são causa, nem presságios
sobrenaturais, mas sim uma conseqüência do movimento geral que se opera
no mundo físico e no mundo moral.
Ao predizer a era de renovação que devia abrir-se
para a humanidade e marcar o fim do velho mundo, Jesus pôde, pois, dizer
que ela seria assinalada por fenômenos extraordinários, tremores de
terra, flagelos diversos, sinais nos céus _ que não são outra coisa
senão meteoros, _ sem sair das leis naturais; mas o vulgo ignorante viu
nessas palavras o anúncio de fatos miraculosos. (1)
11. A previsão dos movimentos progressivos da
humanidade nada tem de surpreendente para os seres desmaterializados que
vêem o objetivo para o qual tendem todas as coisas, pois alguns deles
possuem o pensamento direto de Deus, e são os que julgam, nos movimentos
parciais, o tempo no qual se poderá realizar o movimento geral, como se
estima o tempo que necessitará uma árvore para frutificar, como os
astrônomos calculam a época de um fenômeno astronômico pelo tempo que um
astro leva para realizar sua revolução.
12. A humanidade é um ser coletivo no qual se operam
as mesmas revoluções morais que em cada ser individual, com esta
diferença: que umas se realizam de ano para ano, e as outras de século
em século. Se a seguirmos em suas evoluções através dos tempos, veremos a
vida das diversas raças marcada por períodos que dão a cada época uma
fisionomia particular.
13. A marcha progressiva da humanidade opera-se de
duas maneiras, como temos dito: uma gradual, lenta, insensível, se se
consideram as épocas próximas, que se traduz por melhorias sucessivas
nos costumes, nas leis, nos usos, e não se percebe senão à distância,
como as mudanças que as correntes d'água realizam na superfície do
globo; outra, por movimentos relativamente bruscos, rápidos, semelhantes
àqueles de uma torrente que rompe seus diques, que lhe fazem franquear
em alguns anos o espaço que levou séculos a percorrer. É então um
cataclismo moral que traga em alguns instantes as instituições do
passado, e ao qual sucede uma nova ordem de coisas que se assenta aos
poucos, à medida que a calma se restabelece e se torna definitiva.
A quem viver tempo bastante para abarcar as
apresentações da nova fase, parecerá que um mundo novo haja saído das
ruínas do antigo; o caráter, os costumes, os usos, tudo mudou; é que com
efeito surgiram homens novos, ou melhor, regenerados; as idéias
adotadas pela geração que se extingue deram lugar às idéias novas da
geração que se eleva.
14. A humanidade, tornada adulta, tem novas
necessidades, aspirações mais amplas, mais elevadas; ela compreende o
vazio das idéias nas quais foi acalentada, a insuficiência das suas
instituições, no tocante à sua felicidade; ela não encontra mais no
estado de coisas as satisfações legítimas cujo apelo sente; é por isso
que deixa o círculo infantil e se lança, impelida por uma força
irresistível, em direção a praias desconhecidas, à descoberta de novos
horizontes menos estreitos.
É a um desses períodos de transformação ou, se
quisermos, de crescimento moral, que chegou a humanidade. Da
adolescência ela passou à idade viril; o passado não pode mais bastar às
suas novas necessidades; ela não pode mais ser conduzida pelos mesmos
meios; ela não se prende mais a ilusões e prestígios: sua razão
amadurecida necessita de alimentos mais substanciais. O presente é por
demais efêmero; ela sente que seu destino é mais vasto e que a vida
corporal é demasiado restrita para a encerrar toda inteira; é por isso
que ela lança seus olhares no passado e no futuro, a fim de descobrir o
mistério de sua existência e daí extrair uma segurança consoladora.
E é no momento em que ela se encontra demasiado
acanhada em sua esfera material, onde a vida intelectual transborda,
onde o sentimento da espiritualidade se expande, que homens intitulados
filósofos esperam preencher o vácuo com as doutrinas do negativismo e do
materialismo! Estranha aberração! Estes mesmos homens que pretendem
empurrá-la para a frente esforçam-se por circunscreve-la no círculo
estreito da matéria de onde ela aspira sair; eles lhe barram o aspecto
da vida infinita, e lhe dizem, apontando-lhe o túmulo: Nec plus ultra!
15. Quem quer que haja meditado sobre o Espiritismo e
suas conseqüências, e não o circunscreve à produção de alguns
fenômenos, compreende que ele abre à humanidade uma via nova, e lhe
revela os horizontes do infinito; iniciando-o nos mistérios do mundo
invisível, mostra-lhe seu verdadeiro papel na criação, papel
perpetuamente ativo, tanto no estado espiritual como no estado corporal.
O homem não caminha mais como cego: sabe de onde vem, para onde vai e
porque está sobre a Terra. O futuro se mostra a ele na realidade,
desembaraçado dos preconceitos da ignorância e da superstição; não é
mais uma vaga esperança: é uma verdade palpável, tão certa para ele como
a sucessão do dia e da noite. Sabe que seu ser não é limitado a alguns
instantes de uma existência efêmera; que a vida espiritual não é
interrompida pela morte; que já viveu, que ainda reviverá, e que de tudo
que adquire em perfeição pelo trabalho, nada é perdido; encontra nas
suas existências anteriores a razão do que hoje é, e pode deduzir o que
ele será um dia, pelo que hoje faz.
(1) A terrível epidemia que, de 1866 a 1868, dizimou a
população da Ilha Maurícia, foi precedida por uma chuva tão
extraordinária e tão abundante de estrelas cadentes, em novembro de
1866, que seus habitantes ficaram aterrorizados. A partir desse momento a
doença, que grassava há alguns meses de modo benigno, tornou-se um
verdadeiro flagelo devastador. Sem dúvida houve um sinal no céu, e
talvez neste sentido se pode entender as estrelas caindo do céu, de que
fala o Evangelho, como um dos sinais dos tempos. (Pormenores sobre a
epidemia da Ilha Maurícia, "Revue Spirite" julho de 1867, pág. 208,
novembro de 1868, pág. 321).
Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Criminosos Arrependidos" parte 3
Benoist
(Bordéus, março de 1862)
Um Espírito apresenta-se espontaneamente ao médium sobre o nome de Benoist, dizendo ter morrido em 1704 e padecer horríveis sofrimentos.
1 . Que fostes na Terra?
R. Frade sem fé.
2. Foi a descrença a vossa única falta?
R. Só ela é bastante para acarretar outras.
3. Podereis dar-nos alguns pormenores acerca da vossa vida? Ser-vos-á levada em boa conta a sinceridade da confissão.
R. Pobre e indolente, ordenei-me para ter uma posição, sem pendor aliás para encargo dessa natureza. Inteligente, consegui essa posição; influente, abusei do meu poderio; vicioso, corrompi aqueles que tinha por missão salvar; cruel, persegui aqueles que me pareciam querer verberar os meus excessos; os pacíficos foram por mim inquietados.
As torturas da fome de muitas vítimas eram extintas amiúde pela violência. Agora sofro todas as torturas do inferno e as vítimas me ateiam fogo que me devora. A luxúria e a fome insaciáveis perseguem-me; abrasa-me a sede os lábios escaldantes sem que uma gota caia neles como refrigério. Orai pelo meu Espírito.
4. As preces feitas pelos finados deverão ser atribuídas a vós como aos outros?
R. Acreditais que sejam edificantes e no entanto elas têm para mim o valor daquelas que eu simulava fazer. Não executei o meu trabalho e, assim, recebo o salário.
5. Nunca vos arrependestes?
R. Há muito tempo; mas ele só veio pelo sofrimento. E como fui surdo ao clamor de vítimas inocentes, o Senhor também é surdo aos meus clamores. Justiça!
6. Reconheceis a Justiça do Senhor; pois bem, confiai na sua bondade e socorrei-vos do auxílio dele.
R. Os demônios berram mais do que eu; seus gritos sufocam-me; enchem-me a boca de betume fervente!... Eu o fiz, grande... (O Espírito não pode escrever a palavra Deus).
7. Não estais suficientemente liberto das idéias terrenas de modo que essas torturas são todas morais?
R. Sofro-as... sinto-as... vejo os meus carrascos, que tem todos uma cara conhecida, um nome que repercute em meu cérebro.
8. Mas que poderia impelir-vos ao cometimento de tantas infâmias?
R. Os vícios de que me achava saturado, a brutalidade das paixões.
9. Nunca implorastes a assistência dos bons Espíritos para vos ajudarem a sair dessa contingência?
R. Apenas vejo os demônios do inferno.
10. Quando estáveis na Terra temíeis esses demônios?
R. Não, absolutamente, visto que só cria em o nada. Os prazeres a todo transe constituíam o meu culto. E, já que lhes consagrei a vida, as divindades do inferno não mais me abandonaram, nem abandonarão!
11. Então não lobrigais um termo para esses sofrimentos?
R. O infinito não tem termo.
12. Mas Deus é infinito na sua misericórdia e tudo pode ter um fim quando lhe aprouver.
R. Se Ele o quisesse!
13. Por que vos viestes inscrever aqui?
R. Não sei mesmo como, mas eu queria falar e gritar para que me aliviassem.
14. E esses demônios não vos impedem de escrever?
R. Não, mas conservam-se à minha frente, e esperam-me... Também por isso eu desejaria não terminar.
15. É a primeira vez que deste modo escreveis?
R. Sim.
P. E sabíeis que os Espíritos podiam assim aproximar-se dos homens?
R. Não.
P. Como pois o percebestes?
R. Não sei.
16. Que sensações experimentastes ao acercar-vos de mim?
R. Um como entorpecimento dos meus terrores.
17. Como vos apercebestes da vossa presença aqui?
R. Como quando se desperta de um sono.
18. Como procedestes para comunicar comigo?
R. Não posso compreender, mas tu também não sentiste?
19. Não se trata de mim, porém de vós... Procurai assegurar-vos do que fazeis enquanto eu escrevo.
R. És o meu pensamento em tudo, eis tudo.
20. Não tivestes pois o desejo de me fazer escrever?
R. Não, sou eu quem escreve e tu pensas por mim.
21. Procurai assegurar-vos do vosso estado, porque os bons Espíritos que vos cercam vos ajudarão.
R. Não, que os anjos não vêm ao inferno. Tu não estás só?
P. Vedes em torno.
R. Sinto que me auxiliam a atuar sobre ti... a tua mão obedece-me... não te toco, aliás, e seguro-te... Como? Não sei...
22. Implorai a assistência dos vossos protetores. Vamos pedir a ambos.
R. Queres deixar-me? Fica comigo, porque vão reapossar-se de mim. Eu te peço... Fica! Fica!...
23. Não posso demorar-me por mais tempo. Voltai diariamente para orarmos juntos e os bons Espíritos vos auxiliarão.
R. Sim, desejo o perdão. Orai por mim, que não posso fazê-lo.
(O Guia do médium) — Coragem, meu filho, porque lhe será concedido o que pedes, se bem que longe esteja ainda o fim da expiação. As atrocidades por ele cometidas não têm número nem conta e maior é a sua culpa porque possuía inteligência, instrução e luzes para guiar-se. Tendo falido com conhecimento de causa, mais terríveis lhe são os sofrimentos, os quais, não obstante, se suavizarão com o auxílio e o exemplo da prece, de modo que lhes possa ver o fim, confortado pela esperança. Deus o vê no caminho do arrependimento e já lhe concedeu a graça de poder comunicar-se a fim de ser encorajado e confortado.
Pensa nele muitas vezes, pois nós te o entregamos para fortalecer-se nas boas resoluções que lhe poderão advir dos teus conselhos. Ao seu arrependimento sucederá o desejo da reparação, e pedirá então uma nova existência para praticar o bem como compensação do mal praticado. Quando Deus estiver satisfeito a respeito dele e o vir resoluto e firme, far-lhe-á entrever as divinas luzes que o hão de conduzir à salvação, recebendo-o no Seu seio como pai ao filho pródigo. Tem fé e nós te ajudaremos a completar o teu trabalho.
Paulino.
Colocamos este Espírito entre os criminosos, posto que não atingido pela justiça humana, porque o crime se contém nos atos e não no castigo infligido pelos homens. O mesmo se dá com o que se segue.
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