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terça-feira, 13 de novembro de 2012

No Limiar do Amanhã/A busca da Verdade



A busca da Verdade
Herculano Pires

“Professor, considero o Espiritismo uma tentativa ingênua de racionalizar a Religião. As transmissões não são racionais. São realizações emocionais, para ajudarem o homem a suportar a vida. Como o senhor me responderia a isto?”
Respondo que continua em vigor o seu preconceito. O senhor está tratando com preconceito o problema religioso. Quem lhe disse que se chegou à conclusão, do ponto de vista científico e religioso, de que a religião seja isto, apenas um problema emocional? Não. O senhor conhece, por exemplo, a posição pragmática de William James, nos Estados Unidos, no tocante às religiões? O senhor sabe que ele encarou as religiões sob o ponto de vista racional e didático e chegou à conclusão de que a Religião tem uma finalidade prática, muito importante, na vida humana?
O senhor sabe que Augusto Comte, o grande filósofo do Positivismo, que fez a sua filosofia baseada inteiramente no estado subjetivo da ciência, acabou criando aquilo que ele chamou a religião da humanidade? Sabe que no Rio de Janeiro existem centros positivistas, onde o senhor pode assistir às cerimônias religiosas? Que Augusto Comte confirmou a existência da Metafísica baseando-se nas experiências concretas e positivas? Que para ele as religiões não tratavam de um Deus imaterial, abstrato, mas daquilo que ele chamava a Deusa, que é a própria humanidade, o culto da humanidade?
A religião não tem apenas um sentido emocional, mas também um sentido de busca da verdade. A religião faz parte do campo do conhecimento. No tocante ao Espiritismo, nós consideramos o seu conhecimento, no sentido geral, em três campos, três grandes províncias, por assim dizer, que são: a Ciência, a Filosofia e a Religião. As ligações entre esses campos do conhecimento são ligações praticamente genéticas. Por que? Porque sempre a Ciência nasce da experiência do homem, no contato com a natureza, da sua procura em conhecer a realidade das coisas, em descobrir as leis que as governam e servir-se delas, para poder utilizar-se delas.
A Ciência dá os dados sobre a realidade. Esses dados vão levar o homem a formular um conceito da natureza, a criar uma concepção do mundo, da vida. Essa concepção do mundo é a Filosofia. Então, a Ciência nasce da experiência humana na Terra. A Filosofia nasce das conquistas da Ciência. Essas conquistas se projetam na concepção do mundo formal, que é a Filosofia, e permitem que o homem tenha um comportamento adequado àquilo que ele considera ser o mundo, na feição moral. Mas a moral mostra que o homem não é um ser efêmero, como nos parece, pela sua aparência material. Assim, o ser, que sobrevive após a morte, nos leva, naturalmente, à Religião. A Religião é, então, a busca da verdade, da mesma forma que a Ciência, da mesma forma que a Filosofia. Cada uma testa e estrutura o seu conhecimento; cada uma no seu campo. Todas elas exercem, em conjunto, uma função, que é a busca da verdade.
O senhor se engana, portanto, ao considerar a Religião como apenas um campo da emoção. O senhor fala isso por causa da fé. Mas é preciso lembrar que Allan Kardec fez a crítica da fé e chegou à conclusão de que a fé verdadeira é a fé que se ilumina, à luz da razão.

No Limiar do amanhã /A evolução do Espírito




“Se existem mundos melhores do que este, por que vivemos aqui: Deus tem os seus privilegiados, que vivem em mundos melhores?”
O senhor está encarando o problema dentro de uma concepção estreitamente humana, que respeita, inclusive, o condicionamento social em que nós vivemos. Não. Deus não é um chefe político. Deus não é um administrador de empresas, que possa ter os seus privilegiados. Deus é a suprema inteligência do Universo, causa primária de todas as coisas. Ele é o Criador. Ele impulsiona na sua criação o desenvolvimento de todas as criaturas num mesmo e único sentido.
Nós todos temos de evoluir, de progredir. Mas se aqui estamos na Terra e outras criaturas habitam mundos superiores, é porque ainda não atingimos, na nossa evolução, a condição necessária para habitar esses mundos mais elevados. A vida é uma ascensão contínua. Bastaria isso para nos mostrar a sua grandeza e a grandeza do poder de Deus. Nós subimos, desde os planos inferiores da criação, através da evolução, e quando chegamos ao homem nós partimos para o mundo superior, o que no Espiritismo chamamos de angelitude, quer dizer, o plano dos anjos.
Os anjos não são mais do que homens evoluídos. São Espíritos humanos depurados, aperfeiçoados, que se desprenderam dos planos inferiores da criação e conseguiram desenvolver as suas potencialidades internas, a sua inteligência, a sua afetividade, a sua vontade, num plano extremamente superior, extremamente elevado.
As religiões os chamam de anjos, mas para nós, espíritas, esses anjos são os Espíritos puros, que já desenvolveram os seus mais elevados sentimentos. Na proporção em que os Espíritos se elevam, eles passam a habitar mundos superiores. Mas ninguém está privado de habitar esses mundos. Todos caminhamos para lá.
– 0 –
“Por que temos que renascer neste mundo? Não progrediremos melhor nos planos espirituais onde, segundo o Espiritismo, tudo é melhor?”
A evolução é um progresso contínuo. Nós temos que conceber o problema não apenas através da nossa concepção humana das coisas. Precisamos ir um pouco além. Precisamos compreender que estamos lidando com um processo universal, cósmico, e que todo o Cosmo está implicado nesse processo. Assim, quando estamos aqui na Terra, passando por uma evolução necessária, é porque o nosso Espírito, dotado de potências que ainda não foram desenvolvidas, precisa, na vida terrena, dos choques da vida material, do contato, ainda, com as condições dos reinos inferiores, de que ele partiu.
O senhor pode ler na Bíblia aquele trecho alegórico, bastante importante, que diz assim: “Deus fez o homem do barro e da terra”. Ora, esta expressão nos coloca diante de uma verdade que o Espiritismo comprova pela experiência. Deus tira o Espírito humano do princípio inteligente do Universo, que é um motivo de organização e de estruturação de todas as formas da matéria, desde o reino mineral até o reino hominal. Assim sendo, esse princípio inteligente tem potências que vão sendo desenvolvidas, através desses reinos. Portanto, se ainda estamos aqui na Terra é porque não estamos em condições, não poderíamos viver num mundo superior, onde nossa inteligência e nossa sensibilidade não estariam em condições de se relacionarem com as coisas circundantes. Não teríamos sensibilidade para captarmos as sutilezas desse mundo, para percebermos as coisas que nele existem e para convivermos com os seus habitantes. É por isso que continuamos a nos preparar na Terra até que atinjamos a condição necessária para subirmos a mundos elevados.

No Limiar do Amanhã-Programa de Rádio onde Herculano Pires era o apresentador, respondendo dúvidas sobre a doutrina espírita.



Fluido e fluído

“Meu caro professor, tenho ouvido oradores espíritas – até de renome – confundirem a pronúncia fluido, que designa substâncias líquidas ou gasosas, com a pronúncia fluído, do verbo fluir. Afinal, por que esta confusão?”
A pronúncia correta é “flúido”, (mas sem o acento); não é fluído, como muita gente diz. A palavra fluído vem do verbo fluir, ao passo que a palavra fluido (onde a letra “u” é a vogal tônica), sem acento, é adjetivo referente às substâncias líquidas ou gasosas.
Para melhor esclarecimento, recorremos ao Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira:
FLUIDO (do latim fluidu) adj.: 1) fluídico: 2) diz-se das substâncias líquidas ou gasosas; 3) que corre ou se expande à maneira de um líquido ou gás; fluente; 4) frouxo, mole, flácido. Ex.: carnes fluídicas; 5) suave, brando. Ex.: movimentos fluídicos; 6) espontâneo, fácil, corrente, fluente. Ex.: linguagem fluídica; 7) corpo que, em repouso e em contato com outros, exerce apenas forças normais às superfícies de contato; 8) corpo (líquido ou gasoso) que toma a forma do recipiente em que está colocado. Ex.: o ar e a água são fluidos. Fluido ideal: aquele em que a viscosidade é nula.
FLUIR (do latim fluere) Verbo intransitivo. 1) correr em estado líquido; manar. Ex.: “e a suave, musical tagarelice / da água murmura a fluir do manancial...”; 2) correr com abundância; manar. Ex.: um filete de sangue fluía-lhe do canto da boca entreaberta; 3) provir, proceder, derivar. Ex.: as coisas fluem de Deus.
MANAR (do latim “manare”): Verter incessantemente e / ou em abundância. Ex.: a fonte manava de uma água límpida.

Prefácio .Um convite para ler Herculano




O meu amigo Altamirando foi, como sempre, muito feliz na tarefa que realiza na divulgação do Espiritismo, quando resolveu organizar um livro com os programas de rádio de Herculano Pires, realizados na Rádio Mulher, de São Paulo.
Alguns indivíduos possuem as gravações dos programas de Herculano; Altamirando soube aproveitá-las publicando-as neste livro que constitui, como ele mesmo escreve, um presente magnífico. A Doutrina Espírita aparece sintetizada nas respostas inteligentes e inspiradas do professor Herculano às perguntas bem formuladas.
“O metro que melhor mediu Kardec”, como fala Emmanuel, através da mediunidade de Chico Xavier, mostra o porquê dessa afirmação do amigo espiritual, quando explica à luz da razão a síntese do processo do conhecimento, o Espiritismo; em um dos programas o professor fala sobre o conceito de perfeição, explicando como o Pai nos criou perfeitos na essência, destinados a nos expressarmos na “angelitude”, através do progresso conseguido após várias encarnações.
A apresentação de Deus, através da resposta à pergunta “se Deus seria estático (porque perfeito) ou não”, é completa. Herculano analisa filosoficamente o que é a perfeição, permitindo-nos a compreensão do conceito esclarecedor. É a incompreensão dos conceitos, diz Herculano, que causa tão grande confusão sobre o que é o Espiritismo, entre os próprios espíritas, e a dificuldade para entenderem a doutrina como o triângulo divino de Emmanuel, “Ciência, Filosofia e Religião”. Herculano nos lembra ainda Jesus: “sois deuses, sois luzes”. O irmão mais velho, Jesus, já nos apresenta como criaturas luminosas. Herculano encerra a resposta lindamente, lembrando Zoroastro: “A única imagem possível na Terra (de Deus) é a do fogo. O fogo nunca está parado, não é estático. O fogo se renova através de suas labaredas...”. Herculano diz: “Deus é um dinamismo constante. Não poderia ser, portanto, estático de maneira alguma...”. Que segurança, clareza, objetividade, a do mestre em Filosofia, José Herculano Pires.
Nos vários programas, Herculano explica Deus e reúne as suas reflexões sobre o Criador em um livro importantíssimo, Concepção Existencial de Deus. Belíssimo o capítulo sobre a força do pensamento e as explicações sobre essa “energia física, mas de tipo desconhecido, porque nenhuma barreira física consegue impedi-la”. Nesse ponto Rhine não concorda com Ransiliev e diz que o pensamento é extrafísico. Herculano mostra a importância da fé raciocinada, explica o valor da prece como o pensamento positivo que “atrai para o indivíduo as melhoras imediatas”, como nos explica O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Deus está presente em nossa consciência e em nosso coração. Ele nos ouve, está dentro de nós. Basta dirigirmos uma prece a Ele e conseguimos realmente nos comunicarmos com o Pai Criador”. A nossa fé aumenta através das explicações de Herculano.
Altamirando, através deste livro, convida-nos a ler Herculano para dilatarmos o nosso respeito ao trabalho do grande mestre de Lyon, Allan Kardec.
São Paulo, 20 de janeiro de 2001
Heloísa Pires

Atendimento Fraterno parte 4

Cap.3
PROBLEMAS DE PERSONALIDADE
Suely Caldas Schubert
É muito importante para o Atendimento Fraterno que o atendente conheça
algumas noções básicas (ainda que bem simples) acerca dos problemas de
personalidade, a fim de evitar-se o equívoco, diante de certos casos,
considerados como processos obsessivos quando, na realidade, expressam
conflitos, desajustes, traumas, transtornos psíquicos, enfim, que têm como
origem o próprio indivíduo, que é um Espírito enfermo, digamos assim.
É propício o esclarecimento de Jorge Andréa a respeito:
“Essas estruturas doentes, do Espírito ou da individualidade, imprimem nas
células nervosas desvios metabólicos a refletirem uma intensa gama de
personalidades doentias, conseqüência de autênticas respostas cármicas.”
A palavra personalidade deriva de “persona”, palavra latina que significa máscara.
Designava antigamente a máscara usada no teatro por um ator.
Modernamente, define-se personalidade como o conjunto das
características intelectivas, afetivas e volitivas que constituem o modo de ser e
de sentir de uma pessoa.
A personalidade resulta de uma interação social. ou seja, do
relacionamento do indivíduo com as pessoas que constituem os grupos sociais
de que faz parte: lar, escola, trabalho, lazer.
Em sentido mais amplo pode-se dizer que a personalidade de uma pessoa
forma-se a partir de uma conjugação de fatores genéticos, pela educação que
lhe é transmitida, pelo contexto histórico em que vive, pela interação social, etc.
Em Psicologia há um conjunto muito vasto das Teorias da Personalidade,
com uma diversidade muito grande de pontos de vista.
Quando desejamos a solução de um problema, o primeiro passo é buscar
a sua causa, a sua origem. Qual a origem dos problemas de personalidade?
Segundo Rollo May, a origem “é uma falta de ajustamento das tensões dentro
da personalidade.”

O processo de ajustamento das tensões ocorre continuadamente, por isto
a personalidade nunca é estática. E viva, dinâmica, em constante mutação.
Como ocorrem essas tensões? Sempre que uma pessoa experimente um
sentimento de que “deve” fazer isso ou aquilo, ou um sentimento de
inferioridade, de triunfo ou desespero, as tensôes de sua personalidade estão
sofrendo um processo de reajustamento. Por exemplo: lendo
um livro ou ouvindo uma palestra toda idéia que nos atraia a atenção e nos
convide a uma reflexão mais profunda provoca um novo ajustamento das
tensões em nossa personalidade.
Portanto, estabilidade ou equilíbrio da personalidade não significa que ela
deva tornar-se estática. Em verdade, viver é ajustar-se, continuamente, a
novas experiências de cada dia.
Para Rollo May, a característica básica da personalidade é a liberdade. Ele
afirma que existem quatro princípios essenciais para a personalidade humana:
liberdade, individualidade, integração social e tensão religiosa. “
Infere-se, pois, que a falta de ajustamento das tensões pode ocasionar
conflitos a manifestar-se sob variadas formas e sintomas, desde a timidez,
excessivo acanhamento, medo de relacionar-se com as pessoas, ansiedade,
angústia, fobias, depressão, até desaguar nos transtornos psíquicos como as
neuroses ou, em casos mais graves, como a esquizofrenia, as psicoses, etc.
Essa dificuldade de ajustamento às injunções do dia-a-dia acarreta um
conflito íntimo prejudicando o relacionamento com o meio social em que o
indivíduo está inserido e, não raro, pode alcançar até mesmo as pessoas mais
íntimas de sua convivência.
Portanto, existe neurose quando os conflitos não podem ser trabalhados,
superados, tornando-se desproporcionais à capacidade do indivíduo de lidar
com eles. Em decorrência, surgem os mecanismos de defesa neuróticos, que
são situações que a pessoaengendra tentando disfarçar ou fugir de seus
problemas interiores. Essa fuga passa por uma vasta gama de subterfúgios,
como os vícios, por exemplo, que
constituem supostas válvulas de escape, ou o fechar-se em si mesmo,
tentando evitar o confronto com as tensões naturais da vida.
Jorge Andréa elucida:
“Devemos considerar, como personalidade desviada, as condições
dinâmicas que atingem o caráter e cuja intensidade ou grau modificarão a
conduta e conseqüentemente a vida social. Desse modo, estarão enqüadrados
os indivíduos que destoam da média, apresentando tanto agressividade
exagerada como passividade extrema, os desvios sexuais, os alcoólatras, e
uma série de disfunções da personalidade. Geralmente são individuos que
acham que suas reações são mais desencadeadas pelo meio em que vivem do
que partindo deles próprios.”
O ajustamento, a estrutura da personalidade, faz-se pela interação dos
componentes bio-psico-sócio-espirituais.
Esses problemas de origem cármica, cujas causas estão no Espírito
endividado perante as Leis Divinas, encontram nos esclarecimentos da
Doutrina Espírita os recursos terapêuticos imprescindíveis para que alcancem a
própria libertação.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Mensagem de Emmanuel sobre Kardec


Lembrando o Codificador da Doutrina Espírita é imperioso estejamos alerta em nossos deveres fundamentais. Convençamos-nos de que é necessário:
Sentir Kardec;
Estudar Kardec;
Anotar Kardec;
Meditar Kardec;
Analisar Kardec;
Comentar Kardec;
Interpretar Kardec;
Cultivar Kardec;
Ensinar Kardec e
Divulgar Kardec.
Que é preciso cristianizar a humanidade é afirmação que não padece dúvida; entretanto, cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negação.
EMMANUEL
Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier
"Reformador", março de 1961, FEB.

O Exemplo é o mais poderoso agente de propagação

Revista Espírita, junho de 1869
(SOCIEDADE DE PARIS, SESSÃO DE 30 DE ABRIL DE 1869)
Venho esta noite, meus amigos, falar-vos por alguns instantes. Na ultima sessão não respondi; estava ocupado alhures. Nossos trabalhos como Espíritos são muito mais extensos do que podeis supor e os instrumentos de nossos pensamentos nem sempre estão disponíveis. Tenho ainda alguns conselhos a dar-vos sobre a marcha que deveis seguir perante o publico, com o fito de fazer progredir a obra a que devotei minha vida corporal, e cujo aperfeiçoamento acompanho na erraticidade.
O que vos aconselho antes de mais nada e sobretudo, e a tolerância, a afeição, a simpatia de uns para com os outros e também para com os incrédulos.
Quando vedes um cego na rua, vosso primeiro sentimento e a compaixão. Que assim seja também para os vossos irmãos cujos olhos estão fechados e velados pelas trevas da ignorância ou da incredulidade. Lamentai-os, em vez de os censurar. Por vossa doçura, mostrai vossa resignação para suportar os males desta vida, vossa humildade em meio as satisfações, vantagens e alegrias que Deus vos envia; mostrai que há em vos um principio superior, uma alma obediente a lei, a uma verdade também superior: o Espiritismo.
As brochuras, os jornais, os livros, as publicações de toda a espécie são meios poderosos de introduzir a luz por toda a parte, mas o mais seguro, o mais intimo e o mais accessível a todos e o exemplo da caridade, a doçura e o amor.
Agradeço a Sociedade por ajudar aos verdadeiros infortúnios que lhe são indicados. Eis o bom Espiritismo, eis a verdadeira fraternidade. Ser irmãos: e ter os mesmos interesses, os mesmos pensamentos, o mesmo coração!
Espíritas, sois todos irmãos na mais santa acepção do termo. Pedindo que vos ameis uns aos outros, limito-me a lembrar a divina palavra daquele que, há mil e oitocentos anos, pela primeira vez trouxe a Terra o germe da igualdade. Segui a sua lei: ela e a vossa. Nada mais fiz do que tornar mais palpáveis alguns de seus ensinamentos. Obscuro operário daquele mestre, daquele Espírito superior emanado da fonte de luz, refleti essa luz como o verme luzidio reflete a claridade de uma estrela. Mas a estrela brilha nos céus e o verme luzidio brilha na terra, nas trevas. Tal e a diferença.
Continuai as tradições que vos deixei ao partir.
Que o mais perfeito acordo, a maior simpatia, a mais sincera abnegação reinem no seio da Comissão. Espero que ela saiba cumprir com honra, fidelidade e consciência o mandato que lhe e confiado.
Ah ! quando todos os homens compreenderem tudo o que encerram as palavras amor e caridade, na Terra não haverá mais soldados nem inimigos; só haverá irmãos; não haverá mais olhares torvos e irritados; só haverá frontes inclinadas para Deus!
Ate logo, caros amigos, e ainda obrigado, em nome daquele que não esquece o copo d'água e o óbolo da viúva.
Allan Kardec
(Transcrito da Revista Espirita de 1869, publicada pela EDICEL, traducao de Julio Abreu Filho)

O mal do medo


Revista Espírita, outubro de 1858
Problema fisiológico dirigido ao Espírito de São Luís, na sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, de 14 de setembro de 1858.
Leu-se no Moniteur de 26 de novembro de 1857:
"Comunicam-nos o fato seguinte, que vem confirmar as observações já feitas sobre a influência do medo.
"O senhor doutor F... entrou ontem em sua casa depois de fazer algumas visitas aos seus clientes. No seu percurso lhe haviam entregue, como amostra, uma garrafa de excelente rum, autenticamente vindo da Jamaica. O doutor esqueceu na viatura a preciosa garrafa. Mas, algumas horas mais tarde, lembrou-se desse esquecimento e procurou a restituição, onde declarou ao chefe da estação que deixou em um de seus cupês uma garrafa de um veneno muito violento, e o exorta a prevenir os cocheiros para darem a maior atenção em não fazerem uso desse líquido mortal.
"O doutor F... entrara apenas em seu apartamento, quando vieram preveni-lo, a toda pressa, que três cocheiros da estação vizinha sofriam horríveis dores nas entranhas. Teve que se esforçar muito para tranqüilizá-los e persuadi-los de que haviam bebido excelente rum, e que sua indelicadeza não poderia ter conseqüências mais graves além de uma suspensão, infligida imediatamente aos culpados."
1. - São Luís poderia nos dar uma explicação fisiológica dessa transformação das propriedades de uma substância inofensiva? Sabemos que, pela ação magnética, essa transformação pode ocorrer; mas no fato relatado acima, não houve emissão de fluido magnético; só a imaginação atuou e não a vontade.
R. - Vosso raciocínio é muito justo com respeito à imaginação. Mas os Espíritos malignos que levaram esses homens a cometerem esse ato de indelicadeza, fizeram passar no sangue, na matéria, um calafrio de medo que poderíeis chamar calafrio magnético, o qual estende os nervos e causa um frio em certas regiões do corpo. Ora, sabeis que todo frio nas regiões abdominais pode produzir eólicas. É, pois, um meio de punição que, ao mesmo tempo, leva os Espíritos que fizeram cometer o furto, a rirem às custas daqueles que fizeram pecar. Mas, em todos os casos, não se segue a morte: não há senão uma lição para os culpados e prazer para os Espíritos levianos. Também se apressam em recomeçar todas as vezes que a ocasião se lhes apresente; procuram-na mesmo para sua satisfação. Podemos evitar isso (falo por vós), em nos elevando para Deus por pensamentos menos materiais do que aqueles que ocupam o espírito desses homens. Os Espíritos malignos gostam de rir; mantendo-vos em guarda: tal que crê dizer uma coisa agradável diante das pessoas que o cercam, aquele que diverte uma sociedade por seus gracejos ou seus atos, se engana freqüentemente, e mesmo muito freqüentemente, quando crê que tudo isso vem de si. Os Espíritos levianos que o cercam se identificam com ele mesmo e, freqüentemente, alternativamente o enganam sobre seus próprios pensamentos, assim como aqueles que o escutam. Credes, nesse caso, ter pela frente um homem de espírito, ao passo que, com mais freqüência, não é senão um ignorante. Descei em vós mesmos, e julgareis as minhas palavras. Os Espíritos superiores não são, por isso, inimigos da alegria; algumas vezes gostam de rir também para vos ser mais agradáveis; mas cada coisa em seu tempo.
Nota. Dizendo que no fato reportado não havia emissão de fluido magnético talvez estivéssemos inteiramente na verdade. Arriscaremos aqui uma suposição. Sabe-se, como o dissemos, qual transformação das propriedades da matéria pode-se operar pela ação do fluido magnético dirigido pelo pensamento. Ora, não se poderia admitir que, pelo pensamento do médico que quisesse fazer crer na existência de um tóxico, e dar aos gatunos as angústias do envenenamento, ocorrera, embora à distância, uma espécie de magnetização do líquido que teria adquirido novas propriedades, cuja ação encontrar-se-ia corroborada pelo estado moral dos indivíduos, tornados mais impressionáveis pelo medo. Essa teoria não destruiria a de São Luís quanto à intervenção em semelhante circunstância; sabemos que os Espíritos agem fisicamente por meios físicos; podem, pois, se servirem, para cumprirem seus desígnios, daqueles que provocam, ou que nós mesmos lhes fornecemos com o nosso desconhecimento.

Os Talismãs - Medalha cabalística


Revista Espírita, setembro de 1858
O senhor M... havia comprado de um quinquilheiro uma medalha que lhe pareceu notável pela sua singularidade. Ela é do tamanho de uma moeda de cinco libras. Seu aspecto é argênteo, embora um pouco cor de chumbo. Nas duas faces estão gravados uma multidão de sinais, entre os quais se notam os dos planetas, círculos entrelaçados, um triângulo, palavras ininteligíveis e iniciais em caracteres vulgares; além de outros caracteres bizarros tendo qualquer coisa de árabe, tudo disposto de um modo cabalístico no gênero dos livros de mágicos.
O senhor M..., tendo interrogado a senhorita J..., médium sonâmbula, quanto a essa medalha, respondeu-lhe que era composta de sete metais, que pertenceram a Cazotte, e tinha um poder particular para atrair os Espíritos e facilitar as evocações. O senhor de Caudenberg, autor de uma relação de comunicações que teve, disse ele, como médium, com a Virgem Maria, disse-lhe que era uma coisa má, própria para atrair os demônios. A senhorita de Guldenstube, médium, irmã do barão de Guldenstube, autor de uma obra sobre a Pneumatografia ou escrita direta, disse-lhe que ela tinha uma virtude magnética e poderia provocar o sonambulismo.
Pouco satisfeito com essas respostas contraditórias, o senhor de M... apresentou-nos essa medalha, pedindo a nossa opinião pessoal a respeito, e nos rogando igualmente interrogarmos um Espírito superior sobre seu valor real, do ponto de vista da influência que pode ter. Eis nossa resposta:
Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento, e não por objetos materiais que não têm nenhum poder sobre eles. Os Espíritos superiores, em todos os tempos, condenaram o emprego de sinais e de formas cabalísticas, e todo Espírito que lhes atribui uma virtude qualquer, ou que pretenda dar talismãs que aparentem a magia, revela, com isso, sua inferioridade, esteja agindo de boa fé ou por ignorância, em conseqüência de antigos preconceitos terrestres dos quais estejam imbuídos, seja porque queira conscientemente divertir-se com a credulidade, como Espírito zombeteiro. Os sinais cabalísticos, quando não são pura fantasia, são símbolos que lembram as crenças supersticiosas quanto à virtude de certas coisas, como os números, os planetas, e sua concordância com os metais, crenças nascidas nos tempos da ignorância, e que repousam sobre erros manifestos, dos quais a ciência fez justiça mostrando o que eram os pretensos sete planetas, sete metais, etc. A forma mística e ininteligível desses emblemas tinha por objetivo impor ao vulgo ver o maravilhoso naquilo que não compreendia. Quem estudou a natureza dos Espíritos, não pode admitir racionalmente, sobre eles, a influência de formas convencionais, nem de substâncias misturadas em certas proporções; isso seria renovar as práticas da caldeira dos feiticeiros, de gato preto, de galinha preta e outros feitiços. Não ocorre o mesmo com um objeto magnetizado que, como se sabe, tem o poder de provocar o sonambulismo ou certos fenômenos nervosos sobre a economia; mas, então, a virtude desse objeto reside unicamente no fluido do qual está momentaneamente impregnado e que se transmite, assim, por via mediata, e não em sua forma, em sua cor, nem sobretudo nos sinais com os quais pode estar sobrecarregado.
Um Espírito pode dizer Traçai tal sinal, e a esse sinal reconhecerei que chamais e virei; mas nesse caso o sinal traçado não é senão a expressão do pensamento; é uma evocação traduzida de um modo material; ora, os Espíritos, qualquer que seja sua natureza, não têm necessidade de semelhantes meios para se comunicarem; os Espíritos superiores não os empregam nunca; os Espíritos inferiores podem fazê-lo tendo em vista fascinar a imaginação de pessoas crédulas, que querem ter sob sua dependência. Regra geral: todo Espírito que liga mais importância à forma do que ao fundo é inferior, e não merece nenhuma confiança, ainda mesmo se, de tempo em tempo, disser algumas coisas boas; porque essas boas coisas podem ser um meio de sedução.
Tal era o nosso pensamento a respeito dos talismãs em geral, como meio de relações com os Espíritos. Vale dizer que ele se aplica igualmente àqueles que a superstição emprega como preservativos de doenças ou de acidentes.
Contudo, para a edificação do possuidor da medalha, e para melhor aprofundar a questão, na sessão da Sociedade, do dia 17 de julho de 1858, pedimos ao Espírito de São Luís, que consente comunicar conosco todas as vezes que se trata de nossa instrução, que nos desse a sua opinião a respeito. Interrogado sobre o valor dessa medalha, eis a sua resposta:
"Fizestes bem em não admitir que os objetos materiais possam ter uma virtude qualquer sobre as manifestações, seja para provocá-las, seja para impedi-las. Bem freqüentemente, dissemos que as manifestações eram espontâneas, e que finalmente, jamais nos recusamos em responder à vossa chamada. Por que pensais que possamos ser obrigados a obedecer a uma coisa fabricada por humanos?
P. - Com qual objetivo essa medalha foi feita? - R. Foi feita com o objetivo de chamar a atenção das pessoas que nela quisessem crer; mas não foi senão pelos magnetizadores que ela pôde ser feita com a intenção de magnetizar para adormecer uma pessoa. Os sinais não são senão coisas de fantasia.
P. - Diz-se que ela pertenceu a Cazotte; poderíamos evocá-lo, a fim de termos algumas informações dele a esse respeito? - R. Não é necessário; preferivelmente, ocupai-vos de coisas mais sérias.