"E
nos últimos dias acontecerá, diz o Senhor, que do meu espírito
derramarei sobre toda carne; os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão,
vossos mancebos terão visões e os vossos velhos sonharão
sonhos". (Atos, 2:17)
No
dia de Pentecostes, Jerusalém estava repleta de forasteiros. Filhos da
Mesopotâmia, da Frigia, da Líbia, do Egito, cretenses, árabes,
partos e romanos se aglomeravam na praça extensa, quando os discípulos
humildes do Nazareno anunciaram a Boa Nova, atendendo a cada grupo da multidão
em seu idioma particular.
Uma
onda de surpresa e de alegria invadiu o espírito geral. Não faltaram
os cépticos, no divino concerto, atribuindo à loucura e à
embriaguez a revelação observada, Simão Pedro destaca-se
e esclarece que se trata da luz prometida pelos céus à escuridão
da carne.
Desde
esse dia, as claridades do Pentecostes jorraram sobre o mundo, incessantemente.
Até aí, os discípulos eram frágeis e indecisos,
mas, dessa hora em diante, quebram as influências do meio, curam os doentes,
levantam o espírito dos infortunados, falam aos reis da Terra em nome
do Senhor.
O
poder de Jesus se lhes comunicara às energias reduzidas. Estabelecera-se
a era da mediunidade, alicerce de todas as realizações do Cristianismo,
através dos séculos. Contra o seu influxo, trabalham, até
hoje, os prejuízos morais que avassalam os caminhos do homem, mas é
sobre a mediunidade, gloriosa luz dos céus oferecida às criaturas,
no Pentecostes, que se edificam as construções espirituais de
todas as comunicações sinceras da Doutrina do Cristo e é
ainda ela que, dilatada dos apóstolos ao círculo de todos os homens,
ressurge no Espíritismo cristão, como a alma imortal do Cristianismo
redivivo.
Emmanuel
DESENVOLVIMENTO:
(O CONSOLADOR):
Perg.
382 - Qual a verdadeira definição da mediunidade?
-
A mediunidade é aquela luz que seria derramada sobre toda carne e prometida
pelo Divino Mestre aos tempos do Consolador, atualmente em curso na Terra. A
missão mediúnica, se tem os seus percalços e as suas lutas
dolorosas, é uma das mais belas oportunidades de progresso e de redenção
concedidas por Deus aos seus filhos misérrimos. Sendo luz que brilha
na carne, a mediunidade é atributo do Espírito, patrimônio
da alma imortal, elemento renovador da posição moral da criatura
terrena, enriquecendo todos os seus valores no capítulo da virtude e
da inteligência, sempre que se encontre ligada por princípios evangélicos
na sua trajetória pela face do mundo.
Perg.
383 - É justo considerarmos todos os homens como médiuns?
-
Todos os homens têm o seu grau de mediunidade, nas mais variadas posições
evolutivas, e esse atributo do espírito representa, ainda, a alvorada
de novas percepções para o homem do futuro, quando, pelo avanço
da mentalidade do mundo, as criaturas humanas verão alargar-se a janela
acanhada dos seus cinco sentidos.
Na
atualidade, porém, temos de reconhecer que no campo imenso das potencialidades
psíquicas do homem existem os médiuns com tarefa definida, precursora
das novas aquisições humanas. É certo que essas tarefas
reclamam sacrifícios e se constituem, muitas vezes, de provações
ásperas; todavia, se o operário busca a substância evangélica
para a execução de seus deveres, é ele o trabalhador que
faz jus ao acréscimo de miserlcórdia prometido pelo Mestre a todos
os discípulos de boa-vontade.
Perg.
384 - Dever-se-á provocar o desenvolvimento da mediunidade?
-
Ninguém deverá forçar o desenvolvimento dessa ou daquela
faculdade, porque, nesse terreno, toda a espontaneidade é necessária;
observando-se, contudo, a floração mediúnica espontânea,
nas expressões mais simples, deve-se aceitar o evento com as melhores
disposições de trabalho e boa-vontade, seja essa possibilidade
psíquica a mais humilde de todas.
A
mediunidade não deve ser fruto de precipitação nesse ou
naquele setor da atividade doutrinária, porquanto, em tal assunto, toda
a espontaneidade é indispensável, considerando-se que as tarefas
mediúnicas são dirigidas pelos mentores do plano espiritual.
Perg.
385 - A mulher ou o homem, em particular, possuem disposições
especiais para o desenvolvimento mediúnico?
-
No capítulo do mediunismo não existem propriamente privilégios
para os que se encontram em determinada situação; porém,
vence nos seus labores quem detiver a maior porcentagem de sentimento. E a mulher,
pela evolução de sua sensibilidade em todos os climas e situações,
através dos tempos, está, na atualidade, em esfera superior à
do homem, para interpretar, com mais precisão e sentido de beleza, as
mensagens dos planos invisíveis.
Perg.
386 - Qual a mediunidade mais preciosa para o bom serviço à Doutrina?
-
Não existe mediunidade mais preciosa uma que a outra.
Qualquer
uma é campo aberto às mais belas realizações espirituais,
sendo justo que o médium, com a tarefa definida, se encha de espírito
missionário, com dedicação sincera e fraternidade pura,
para que o seu mandato não seja traído na improdutividade.
Perg.
387 - Qual a maior necessidade do médium?
-
A primeira necessidade do médium é evangelizar-se a si mesmo antes
de se entregar às grandes tarefas doutrinárias, pois, de outro
modo poderá esbarrar sempre com o fantasma do personalismo, em detrimento
de sua missão.
Perg.
388 - Nos trabalhos mediúnicos temos de considerar, igualmente, os imperativos
da especialização?
-
O homem do mundo, no círculo de obrigações que lhe competem
na vida, deverá sair da generalidade para produzir o útil e o
agradável, na esfera de suas possibilidades individuais.
Em
mediunidade, devemos submeter-nos aos mesmos princípios. O homem enciclopédico,
em faculdade, ainda não apareceu, senão em gérmen, nas
organizações geniais que raramente surgem na Terra, e temos de
considerar que a mediunidade somente agora começa a aparecer no conjunto
de atributos do homem transcendente.
A
especialização na tarefa mediúnica é mais que necessária
e somente de sua compreensão poderá nascer a harmonia na grande
obra de vulgarização da verdade a realizar.
Perg.
389 - A mediunidade pode ser retirada em deterrminadas circunstâncias
da vida?
-
Os atributos medianímicos são como os talentos do Evangelho. Se
o patrimônio divino é desviado de seus fins, o mau servo torna-se
indigno da confiança do Senhor da seara da verdade e do amor. Multiplicados
no bem, os talentos mediúnicos crescerão para Jesus, sob as bênçãos
divinas; todavia, se sofrem o insulto do egoísmo, do orgulho, da vaidade
ou da exploração inferior, podem deixar o intermediário
do invisível entre as sombras pesadas do estacionamento, nas mais dolorosas
perspectivas de expiação, em vista do acréscimo de seus
débitos irrefletidos.
Perg.
390 - É justo que um médium confie em si mesmo para a provocação
de fenômenos, organizando trabalhos especiais com o fim de converter os
descrentes?
-
Onde o médium em tão elevada condição de pureza
e merecimento, para contar com as suas próprias forças
na produção desse ou daquele fenômeno? Ninguém vale,
na Terra, senão pela expressão da misericórrdia divina
que o acompanha, e a sabedoria do plano superior conhece minuciosamente as necessidades
e méritos de cada um. A tentativa de tais trabalhos é um erro
grave. Um fenômeno não edifica a fé sincera, somente conseguida
pelo esforço e boa-vontade pessoal na meditação e no trabalho
interior. Os descrentes chegarão à Verdade, algum dia, e a Verdade
é Jesus. Anteciparmo-nos à ação do Mestre não
seria testemunho de confusão? Organizar sessões medianímicas
com o objetivo de arrebanhar prosélitos é agir com demasiada leviandade.
O que é santo e divino ficaria exposto aos julgamentos precipitados dos
mais ignorantes e ao assalto destruidor dos mais perversos, como se a Verdade
de Jesus fosse objeto de espetáculos, nos picadeiros de um circo.
Perg.
391 - Os irracionais possuem mediunidade?
-
Os irracionais não possuem faculdades mediúniicas propriamente
ditas. Contudo, têm percepções psíquicas embrionárias,
condizentes ao seu estado evolutivo, através das quais podem indiciar
as entidades deliberadamente perturbadoras, com fins inferiores, para estabelecer
a perplexidade naqueles que os acompanham, em determinadas circunstâncias.
PREPARAÇÃO
Perg.
392 - Pode contar um médium, de maneira absoluta, com os seus guias espirituais
dispensando os estudos?
-
Os mentores de um médium, por mais dedicados e evolvidos, não
lhe poderão tolher a vontade e nem lhe afastar o coração
das lutas indispensáveis da vida, em cujos benefícios todos os
homens resgatam o passado delituoso e obscuro, conquistando méritos novos.
O
médium tem obrigação de estudar muito, observar intensamente
e trabalhar em todos os instantes pela sua própria iluminação.
Somente desse modo poderá habilitar-se para o desempenho da tarefa que
lhe foi confiada, cooperando eficazmente com os Espíritos sinceros e
devotados ao bem e à verdade.
Se
um médium espera muito dos seus guias, é lícito que os
seus mentores espirituais muito esperem do seu esforço. E como todo progresso
humano, para ser continuado, não pode prescindir de suas bases já
edificadas no espaço e no tempo, o médium deve entregar-se ao
estudo, sempre que possível, criando o hábito de conviver com
o espírito luminoso e benéfico dos instrutores da Humanidade,
sob a égide de Jesus, sempre vivos no mundo, através dos seus
livros e da sua exemplificação.
O
costume de tudo aguardar de um guia pode transformar-se em vício detestável,
infirmando as possibilidades mais preciosas da alma. Chegando-se a esse desvirtuamento,
atinge-se o declive das mistificações e das extravagâncias
doutrinárias, tornando-se o médium preguiçoso e leviano
responsável pelo desvio de sua tarefa sagrada.
Perg.
393 - Como entender a obsessão? É prova inevitável, ou
acidente que se possa afastar facilmente, anulando-lhe os efeitos?
-
A obsessão é sempre uma prova, nunca um acontecimento eventual.
No seu exame, contudo, precisamos considerar os méritos da vítima
e a dispensa da misericórdia divina a todos os que sofrem.
Para
atenuar ou afastar os seus efeitos, é imprescindível o sentimento
do amor universal no coração daquele
que fala em nome de Jesus. Não bastarão as fórmulas doutrinárias.
É indispensável a dedicação, pela fraternidade mais
pura. Os que se entregam à tarefa da cura das obsessões precisam
ponderar, antes de tudo, a necessidade de iluminação interior
do médium perturbado, porquanto na sua educação espiritual
reside a própria cura. Se a execução desse esforço
não se efetua, tende cuidado, porque, então, os efeitos serão
extensivos a todos os centros de força orgânica e psíquica.
O obsidiado que entrega o corpo, sem resistência moral, às entidades
ignorantes e perturbadas, é como o artista que entregasse seu violino
precioso a um malfeitor, o qual, um dia, poderá renunciar à posse
do instrumento que lhe não pertence, deixando-o esfacelado, sem que o
legítimo, mas imprevidente dono, possa utilizá-lo nas finalidades
sagradas da vida.
Perg.
394 - Será sempre útil, para a cura de um obsidiado, a doutrinação
do Espírito perturbado, por parte de um espiritista convicto?
-
A cooperação do companheiro vale muito e faz sempre grande bem,
principalmente ao desencarnado; mas a cura completa do médium não
depende tão-só desse recurso, porque, se é fácil,
às vezes, o esclarecimento da entidade infeliz e sofredora, a doutrinação
do encarnado é a mais difícil de todas, visto requisitar os valores
do seu sentimento e da sua boa-vontade, sem o que a cura psíquica se
torna inexeqüível.
Perg.
395 - Pode a obsessão transformar-se em loucura? - Qualquer obsessão
pode transformar-se em loucura, não só quando a lei das provações
assim o exige, como também na hipótese de o obsidiado entregar-se
voluntariamente ao assédio das forças nocivas que o cercam, preferindo
esse gênero de experiências.
Perg.
396 - Tratando-se da necessidade de preparação para a tarefa mediúnica,
é justo acreditar-se na movimentação de fluidos maléficos
em prejuízo do próximo?
-
É o caso de vos perguntarmos se não haveis movimentado as energias
maléficas, no decurso da vida, contra a vossa própria felicidade.
Num
orbe como a Terra, onde a porcentagem de forças inferiores supera quase
que esmagadoramente os valores legítimos do bem, a movimentação
de fluidos maléficos é mais que natural; no entanto, urge ensinar
aos que operam, nesse campo de maldade, que os seus esforços efetuam
a sementeira infeliz, cujos espinhos, mais tarde, se voltarão contra
eles próprios, em amargurados choques de retorno, fazendo-se mister,
igualmente, educar as vítimas de hoje na verdadeira fé em Jesus,
de modo a compreenderem o problema dos méritos na tarefa do mundo.
A
aflição do presente pode ser um bem a expressar-se em conquistas
preciosas no futuro, e, se Deus permite a influência dessas energias inferiores,
em determinadas fases da existência terrestre, é que a medida tem
sua finalidade profunda, ao, serviço divino da regeneração
individual.
Perg.
397 - Por que razão alguns médiuns parecem sofrer com os fenômenos
da incorporação, enquanto outros manifestam o mesmo fenômeno,
naturalmente?
-
Nas expressões de mediunismo existem características inerentes
a cada intermediário entre os homens e os desencarnados; entretanto,
a falta de naturalidade do aparelho mediúnico, no instante de exercer
suas faculdades, é quase sempre resultante da falta de educação
psíquica.
Perg.
398 - É natural que, em plenas reuniões de estudo, os médiuns
se deixem influenciar por entidades perturbadoras que costumam quebrar o ritmo
de proveitosos e sinceros trabalhos de educação?
-
Tal interferência não é natural e deve ser muito estranhável
para todos os estudiosos de boa-vontade.
Se
o médium que se entregou à atuação nociva é
insciente dos seus deveres à luz dos ensinamentos doutrinários,
trata-se de um obsidiado que requer o máximo de contribuição
fraterna; mas, se o acontecimento se verifica através de companheiro
portador do conhecimento exato de suas obrigações, no círculo
de atividades da Doutrina, é justo responsabilizá-lo pela perturbação,
porque o fato, então, será oriundo da sua invigilância e
imprevidência, em relação aos deveres sagrados que competem
a cada um de nós, no esforço do bem e da verdade.
Perg.
399 - Quando a opinião irônica ou insultuosa ataca uma expressão
da verdade, no campo mediúnico, é justo buscarmos o apoio dos
Espíritos amigos para revidar?
Vossa
inquietação no mundo costuma conduzir-vos a muitos despautérios.
Semelhante
solicitação aos desencarnados seria um deles. Os valores de um
campo mediúnico triunfam por si mesmos, pela essência de amor e
de verdade, de consolação e de luz que contenham, e seria injustificável
convocar os Espíritos para discutir com os homens, quando já se
demasiam as polêmicas dos estudiosos humanos entre si.
Além
do mais, os que não aceitam a palavra sincera e fraternal dos mensageiros
do plano superior terão, igualmente, de buscar o túmulo algum
dia, e é inútil perder tempo com palavras, quando temos tanto
o que fazer no ambiente de nossas próprias edificações.
Perg.
400 - Poderá admitir-se que um médium se socorra de outro médium
para obter o amparo dos seus amigos espirituais?
-
É justo que um amigo se valha da estima fraternal de um companheiro de
crença, para assuntos de confiança íntima e recíproca,
mas, na função mediúnica, o portador dessa ou daquela faculdade
deve buscar em seu próprio valor o elemento de ligação
com os seus mentores do plano invisível, sendo contraproducente procurar
o amparo, nesse particular, fora das suas próprias possibilidades, porque,
de outro modo, seria repousar numa fé alheia, quando a fé precisa
partir do íntimo de cada um, no mecanismo da vida.
Além
do mais, cada médium possui a sua esfera de ação no ambiente
que lhe foi assinalado. Abandonar a própria confiança para valer-se
de outrem, seria sobrecarregar os ombros de um companheiro de luta, esquecendo
a cruz redentora que cada Espírito encarnado deverá carregar em
busca da claridade divina.
Perg.
401 - A mistificação sofrida por um médium significa ausência
de amparo dos mentores do plano espiritual?
-
A mistificação experimentada por um médium traz, sempre,
uma finalidade útil, que é a de afastá-la do amor-próprio,
da preguiça no estudo de suas necessidades próprias, da vaidade
pessoal ou dos excessos de confiança em si mesmo.
Os
fatos de mistificacão não ocorrem à revelia dos seus mentores
mais elevados, que, somente assim, o conduzem à vigilância precisa
e às realizações da humildade e da prudência no seu
mundo subjetivo.
APOSTOLADO
Perg.
402 - Seria justo aceitar remuneração financeira no exercício
da mediunidade?
-
Quando um médium se resolva a transformar suas faculdades em fonte de
renda material, será melhor esquecer suas possibilidades psíquicas
e não se aventurar pelo terreno delicado dos estudos espirituais.
A
remuneração financeira, no trato das questões profundas
da alma, estabelece um comércio criminoso, do qual o médium deverá
esperar no futuro os resgates mais dolorosos.
A
mediunidade não é ofício do mundo, e os Espíritos
esclarecidos, na verdade e no bem, conhecem, mais que os seus irmãos
da carne, as necessidades dos seus intermediários.
Perg.
403 - É razoável que os médiuns cogitem da solução
de assuntos materiais junto dos seus mentores do plano invisível?
-
Não se deve esquecer que o campo de atividades materiais é a escola
sagrada dos Espíritos incorporados no orbe terrestre. Se não é
possível aos amigos espirituais quebrarem a lei de liberdade própria
de seus irmãos, não é lícito que o médium
cogite da solução de problemas materiais junto dos Espíritos
amigos. O mundo é o caminho no qual a alma deve provar a experiência,
testemunhar a fé, desenvolver as tendências superiores, conhecer
o bem, aprender o melhor, enriquecer os dotes individuais.
O
médium que se arrisca a desviar suas faculdades psíquicas, para
o terreno da materialidade do mundo, está em marcha para as manifestações
grosseiras dos planos inferiores, onde poderá contrair os débitos
mais penosos.
Perg.
404 - Deve o médium sacrificar o cumprimento de suas obrigações
no trabalho cotidiano e no ambiente sagrado da família, em favor da propaganda
doutrinária?
-
O médium somente deve dar aos serviços da Doutrina a cota de tempo
de que possa dispor, entre os labores sagrados do pão de cada dia e o
cumprimento dos seus elevados deveres familiares.
A
execução dessas obrigações é sagrada e urge
não cair no declive das situações parasitárias,
ou do fanatismo religioso.
No
trabalho da verdade, Jesus caminha antes de qualquer esforço humano e
ninguém deve guardar a pretensão de converter alguém, quando
nas tarefas do mundo há sempre oportunidade para o preciso conhecimento
de si mesmo.
Que
médium algum se engane em tais perspectivas.
Antes
sofrer a incompreensão dos companheiros, que transigir com os princípios,
caindo na irresponsabilidade ou nas penosas dívidas de consciência.
Perg.
405 - Poder-se-á admitir que os espiritistas se valham de um apostolado
mediúnico, para solução de todas as dificuldades da vida?
-
O médium não deve ser sobrecarregado com exigências de seus
companheiros, relativamente às dificuldades da sorte. É justo
que seus irmãos se socorram das suas faculdades, em circunstâncias
excepcionais da existência, como nos casos de enfermidade e outros que
se lhe assemelhem. Todavia, cercar um médium de soliciitações
de toda natureza é desvirtuar a tarefa de um amigo, eliminando as suas
possibilidades mais preciosas e, além do mais, não se deverá
repetir no Espiritismo sincero a atitude mental dos católico-romanos,
que se abandonam junto à "imagem" de um "santo",
olvidando todos os valores do esforço próprio.
Os
núcleos espiritistas precisam considerar que em seus trabalhos há
quem os acompanhe do plano superior e que receberão sempre o concurso
espiritual de seus irmãos libertos da carne, dependendo a satisfação
desse ou daquele problema particular dos méritos de cada um. Proceder
em contrário, é eliminar o aparelho mediúnico, fornecendo
doloroso testemunho de incompreensão.
Perg.
406 - Quando um investigador busque valer-se dos serviços de um médium,
é justo que submeta o aparelho medianímico a toda sorte de experiência,
a fim de certificar-se dos seus pontos de vista?
-
Depende do caráter dessas mesmas experiências e, quaisquer que
elas sejam, o médium necessita de muito cuidado, porquanto, no caminho
das aquisições espirituais, cada investigador encontra o material
que procura. E quem se aproxima de uma fonte espiritual, tisnando-a com a má-fé
e a insinceridade, não pode, por certo, saciar a sede com uma água
pura.
Perg.
407 - Para que alguém se certifique da verdade do Espiritismo, bastará
recorrer a um bom médium?
-
Os estudiosos do Espiritismo, ainda sem convicção valorosa e séria
no terreno da fé, precisam reconhecer que em trabalhos dessa ordem não
basta o recurso de um bom médium. O medianeiro não fará
milagres dentro da natureza. Faz-se mister que o investigador, a par de uma
curiosidade sadia, possua valores morais imprescindíveis, como a sinceridade
e o amor do bem, servindo a uma existência reta e fértil de ações
puras.
Perg. 408 - Seria proveitosa a criação de associações
de auxílio material aos médiuns?
-
No Espiritismo é sempre de bom aviso evitar-se a consecução
de iniciativas tendentes a estabelecer uma nova classe sacerdotal no mundo.
Os
médiuns, nesse ou naquele setor da sociedade humana, devem o mesmo tributo
ao trabalho, à luta e ao sofrimento, indispensáveis à conquista
do agasalho e do pão material. Ao demais, temos de considerar, acima
de toda proteção precária do mundo, o amparo de Jesus aos
seus trabalhadores de boa-vontade. Toda expressão de sacrifício
sincero está eivada de luz divina, todo trabalho sincero é elevação
e toda dor é luz, quando suportada com serenidade e confiança
no Mestre dos mestres.
Perg.
409 - Como deverá proceder o médium sincero para a valorização
do seu apostolado?
-
O médium sincero necessita compreender que, antes de cogitar da doutrinação
dos Espíritos, ou de seus companheiros de luta na Terra, faz-se mister
a iluminação de si próprio pelo conhecimento, pelo cumprimennto
dos deveres mais elevados e pelo esforço de si mesmo na assimilação
perfeita dos princípios doutrinários.
No
desdobramento dessa tarefa, jamais deve descuidar-se da vigilância, buscando
aproveitar as possibilidades que Jesus lhe concedeu na edificação
do trabalho estável e útil. Não deve cultivar o sofrimento
pelas queixas descabidas e demasiadas e nem recorrer, a todo instante, à
assistência dos seus guias, como se perseverasse em manter uma atitude
de criança inexperiente.
O
estudo da Doutrina e, sobretudo, o cultivo da auto-evangelização
devem ser ininterruptos. O médium sincero sabe vigiar, fugindo da exploração
material ou sentimental, compreendendo, em todas as ocasiões, que o mais
necessitado de misericórdia é ele próprio, a fim de dar
pleno testemunho do seu apostolado.
Perg.
410 - Onde o maior escolho do apostolado mediúnico?
-
O primeiro inimigo do médium reside dentro dele mesmo. Freqüentemente
é o personalismo, é a ambição, a ignorância
ou a rebeldia no voluntário desconhecimento dos seus deveres à
luz do Evangelho, fatores de inferioridade moral que, não raro, o conduzem
à invigilância, à leviandade e à confusão
dos campos improdutivos.
Contra
esse inimigo é preciso movimentar as energias íntimas pelo estudo,
pelo cultivo da humildade, pela boa-vontade, com o melhor esforço de
auto-educação, à claridade do Evangelho.
O
segundo inimigo mais poderoso do apostolado mediúnico não reside
no campo das atividades contrárias à expansão da Doutrina,
mas no próprio seio das organizações espiritistas, constituindo-se
daquele que se convenceu quanto aos fenômenos, sem se converter ao Evangelho
pelo coração, trazendo para as fileiras do Consolador os seus
caprichos pessoais, as suas paixões inferiores, tendências nocivas,
opiniões cristalizadas no endurecimento do coração, sem
reconhecer a realidade de suas deficiências e a exigüidade dos seus
cabedais íntimos. Habituados ao estacionamento, esses irmãos infelizes
desdenham o esforço próprio - única estrada de edificação
definitiva e sincera - para recorrerem aos Espíritos amigos nas menores
dificuldades da vida, como se o apostolado mediúnico fosse uma cadeira
de cartomante. Incapazes do trabalho interior pela edificação
própria na fé e na confiança em Deus, dizem-se necessitados
de conforto. Se desatendidos em seus caprichos inferiores e nas suas questões
pessoais, estão sempre prontos para acusar e escarnecer. Falam da caridade,
humilhando todos os princípios fraternos; não conhecem outro interesse
além do que lhes lastreia o seu próprio egoísmo. São
irônicos, acusadores e procedem quase sempre como crianças levianas
e inquietas. Esses são também aqueles elementos da confusão,
que não penetram o templo de Jesus e nem permitem a entrada de seus irmãos.
Esse
gênero de inimigos do apostolado mediúnico é muito comum
e insistente nos seus processos de insinuação, sendo indispensável
que o missionário do bem e da luz se resguarde na prece e na vigilância.
E como a verdade deve sempre surgir no instante oportuno, para que o campo do
apostolado não se esterilize, faz-se imprescindível fugir deles.
Perg.
411 - Onde a luz definitiva para a vitória do apostolado mediúnico?
-
Essa claridade divina está no Evangelho de Jesus, com o qual o missionário
deve estar plenamente identificado para a realização sagrada da
sua tarefa. O médium sem Evangelho pode fornecer as mais elevadas informações
ao quadro das filosofias e ciências fragmentárias da Terra; pode
ser um profissional de nomeada, um agente de experiências do invisível,
mas não poderá ser um apóstolo pelo coração.
Só a aplicação com o Divino Mestre prepara no íntimo
do trabalhador a fibra da iluminação para o amor, e da resistência
contra as energias destruidoras, porque o médium evangelizado sabe cultivar
a humildade no amor ao trabalho de cada dia, na tolerância esclarecida,
no esforço educativo de si mesmo, na significação da vida,
sabendo, igualmente, levantar-se para a defesa da sua tarefa de amor, defendendo
a verdade sem transigir com os princípios no momento oportuno.
O
apostolado mediúnico, portanto, não se constitui tão-somente
da movimentação das energias psíquicas em suas expressões
fenomênicas e mecânicas, porque exige o trabalho e o sacrifício
do coração, onde a luz da comprovação e da referência
é a que nasce do entendimento e da aplicação com Jesus-Cristo.
Emmanuel
Livro : O Consolador